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O AVIVAMENTO NO MINISTÉRIO DE PEDRO


A vida de Pedro é um exemplo de que não basta fazer companhia a Cristo, mas é preciso haver uma conversão para a mudança do caráter.

INTRODUÇÃO

-Na sequência do estudo do avivamento, estudaremos o ministério do apóstolo Pedro.

-A vida de Pedro é um exemplo de que não basta fazer companhia a Cristo, mas é preciso haver uma conversão para a mudança do caráter.

I – A BIOGRAFIA DE PEDRO (I) – SIMÃO, O PESCADOR DE PEIXES QUE SE TORNOU OUVINTE DE CRISTO

-O apóstolo Pedro, um dos doze, que tem proeminência na narrativa dos Evangelhos e na primeira parte do livro de Atos dos Apóstolos é, sem dúvida, um grande exemplo da mudança de caráter que Jesus faz na vida de todos quantos O aceitam como Senhor e Salvador de suas vidas.

-Pedro surge, pela vez primeira, nas Escrituras Sagradas, em Mt.4:18, quando nos é informado que seu nome era “Simão”, forma diminutiva de “Simeão” (em hebraico, “Shimon”), cujo significado é “Deus ouviu”, nome, aliás, do segundo filho de Jacó e Lia (ou Léia), onde se dá a explicação do significado deste nome(Gn.29:33).

-Simão era filho de Jonas, por isso chamado de “Barjonas”, palavra que, em aramaico, significa “filho de Jonas” (Mt.16:17), tendo tido o seu nome mudado por Jesus para “Pedro” (Mc.3:16; Jo.1:42), que significa “pedregulho”, “pedra pequena”, mesmo significado da palavra “Cefas” (Jo.1:42; I Co.15:5 eGl.2:9), que é a versão aramaica do nome “Pedro”, que é grego. Jonas, seu pai, deveria ser um pescador. Como bem explica o pastor Osmar José da Silva, “…os filhos de Jonas, André e Pedro, trabalhavam na pescaria como pai, embora tudo leva a crer que Simão tinha o seu barco próprio. A pesca era um dos negócios rentáveis naqueles dias; possuir barcos e redes para a indústria pesqueira não era para pessoas pobres e, portanto, estes homens eram considerados classe média alta; possuidores de suas casas próprias e viviam bem, para os padrões da época. A indústria da pesca era uma das mais importantes naqueles dias…” (Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade (São Paulo: s.e., 2001), v.6, p.22-3).

-Simão, como seu irmão André, era de Betsaida (Jo.1:44), cidade cujo nome significa “casa de pesca” ou“casa do pescador”, a revelar, portanto, a própria vocação da cidade, cidade esta que ficava à margem nordeste do mar da Galileia, situada perto de Cafarnaum, onde Pedro foi morar, pois ali era a sua casa (Mt.8:13,14).

Era casado, tanto que, já quando estava a pregar o Evangelho, se fazia acompanhar de sua mulher (I Co.9:5), além do que um dos primeiros milagres de Jesus, em Seu ministério público, foi o de curar a sogra de Pedro.

-O irmão de Simão, André, era discípulo de João Batista (Jo.1:37,40) e, quando este testificou que Jesus era o Messias, imediatamente passou a segui-l’O, tendo, então, ido ao encontro de seu irmão Pedro e lhe falado a respeito de Jesus, oportunidade em que o Senhor lhe mudou o nome. Isto nos revela que Pedro, assim como André, tinham uma preocupação com respeito ao reino de Deus, às coisas espirituais, dentro do clima surgido naquele tempo de ansiedade pela vinda do Messias, ante a opressão ocasionada pelo domínio romano, que havia se intensificado. Apesar de indoutos, de não terem frequentado as academias rabínicas, de terem se dedicado, ainda jovens, à pesca, eram homens que anelavam pela redenção de Israel.

-Apesar de Jesus ter mudado o nome de Pedro, este não O seguiu de imediato. Com efeito, depois desteencontro, que ocorreu em Betânia, da outra banda do Jordão, onde João batizava (Mt.3:13; Jo.1:28,35 — nãoconfundir com a aldeia de mesmo nome onde moravam Lázaro e suas irmãs), vemos que Jesus foi para aGalileia, mas Pedro não O seguiu, tendo retornado à pesca, assim como seu irmão André (Mt.4:18).

-Pedro só iria abandonar tudo e seguir a Cristo no episódio que os estudiosos da Bíblia chamam de “pescamaravilhosa”, descrito com minúcias em Lc.5:1-11, quando nos é informado que Jesus foi pregar no mar daGalileia e, como a multidão o apertava, entrou no barco de Simão e dali os ensinou. Depois da preleção,mandou que Pedro fosse para o mar alto e lançasse as redes para pescar, o que totalmente contrário à lógica,vez que haviam pescado a noite inteira e nada haviam apanhado. Entretanto, Simão, diante desta ordem doSenhor, que nem sequer pescador era, obedeceu e houve uma grande quantidade de peixes. Simão, então,prostrou-se diante do Senhor e pediu que Se ausentasse dele pois era ele um homem pecador. Jesus, porém,disse para que Simão não temesse e o chamou para que fosse, dali em diante, pescador de homens. Foi, então,que Pedro tudo deixou e passou a seguir o Senhor.

-Já aqui vemos que Pedro precisou de um sinal para compreender que deveria seguir a Cristo. Não forasuficiente o encontro que tivera em Betânia além do Jordão, que lhe tivesse sido mudado o nome. Pedromostra-se aqui como um típico representante dos “crentes da circuncisão”, pois, como bom judeu, movia-seatravés de sinais (I Co.1:22). Diante do sinal, porém, rende-se ao Senhor Jesus, o que não foi algo fácil paraum homem como Pedro, que, ao longo da narrativa dos Evangelhos, revela ser um homem impulsivo, violentoe que, assim agindo, demonstrava uma certa simpatia para com o partido dos zelotes, os radicais judeus queentendiam que a libertação de Israel deveria se dar pela revolta ao domínio romano.

-Pedro obedeceu ao Senhor Jesus. Lançou a rede sob a palavra de Cristo (Lc.5:5) e, ao ver o sinal da pescamaravilhosa, reconheceu o senhorio e a divindade de Jesus, tanto que se prostrou aos Seus pés e se confessouum pecador, incapaz de ter a companhia de Cristo, o Santo (Is.40:25; Os.11:9). Não há como seguir a Jesussem que se tenha a obediência à Palavra de Deus, a fé nesta mesma Palavra, a confissão dos pecados e oreconhecimento do senhorio e da divindade de Cristo Jesus. Já tivemos esta experiência?

OBS: O gesto de Pedro é um explícito reconhecimento da divindade de Cristo, máxime para quem simpatizava com os zelotes, como era o casode Simão, para quem, no dizer do historiador judeu, Flávio Josefo, “…há um só Deus, ao qual se deve reconhecer por senhor e rei; eles tem um amor pela liberdade, que não há tormentos que não sofram e não deixem sofrer as pessoas mais caras, antes que dar a quem que seja o nome de senhor e de mestre.…” (Antiguidades Judaicas XVIII, 2, 760. In: História dos hebreus. Trad. Vicente Pedroso, 1990, v.2, p.154). Dizemos que Simão era, no mínimo, simpatizante dos zelotes, porque se mostrou, ao longo da narrativa dos Evangelhos, uma pessoa que aceitava o uso da violência e vivia armado, assim como os zelotes.

-Mas, observemos o texto sagrado, Pedro abandonou tudo e seguiu a Cristo, mas não pediu perdão pelosseus pecados. Reconheceu-se pecador, viu em Jesus o Messias, mas não se arrependeu dos seus pecados, oque faria, apenas, depois de ter negado a Cristo, ocasião em que choraria amargamente e, então, se converteria(Lc.22:62). Por isso, já no final do Seu ministério terreno, Jesus, em um gesto surpreendente para nós, diz quePedro ainda precisava se converter (Lc.22:32).

-A conversão exige mais do que a obediência à Palavra, a confissão dos pecados e o reconhecimento dosenhorio e divindade do Senhor: exige arrependimento dos pecados. Sem o arrependimento, não há como

obter-se a salvação. Daí porque a pregação de Cristo ter sido a do arrependimento, antes de mais nada (Mc.1:15; Lc.5:32; At.5:31).

-Dos primeiros discípulos a ser chamado, Pedro também faria parte do chamado “círculo íntimo doSenhor”, as três “colunas” do colégio apostólico, como denominaria o apóstolo Paulo (Gl.2:9), os trêsdiscípulos que presenciaram os momentos mais profundos do ministério terreno de Cristo (Mc.5:37; Mc.9:2;14:33; Lc.8:51). Apesar desta “intimidade”, Pedro não passava de um “ouvinte” (outro significado do nome“Simão”), antes de se converter. Não podemos ser apenas ouvintes da Palavra do Senhor, pois isto éinsuficiente para que alcancemos a salvação (Tg.1:23,25). Devemos ser ouvintes e praticantes, cumpridoresde tudo quanto o Senhor nos ensinar.

-Mas, além de ter sido um dos três que desfrutavam de maior intimidade com o Senhor, Pedro, também, teveexperiências singulares no ministério terreno de Cristo, a ponto de, inclusive, se ter criado a falsa doutrina do“primado de Pedro”, em que, inclusive, está baseado o Romanismo. Pedro foi o discípulo a quem o Pai reveloua identidade de Jesus como Filho do Deus vivo (Mt.16:16,17), como também o que presenciou o milagre damoeda na boca do peixe para o pagamento das didracmas de Cristo e do próprio Pedro (Mt.17:27).

-Parece, então, ser até paradoxal que, no final de Seu ministério terreno, Jesus tivesse dito a Pedro que elenecessitaria se converter, diante de tantas experiências vividas ao longo daqueles mais de três anos nacompanhia do Mestre. Entretanto, esta era a realidade espiritual de Pedro: fazia companhia a Cristo, mas nãopassava de um “ouvinte”, ainda era “Simão” e não um “Pedro”, uma “pedra viva de Cristo” (I Pe.2:5), quepudesse oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus.

-Com efeito, vemos que, durante o ministério terreno de Jesus, Pedro era um discípulo que, ou se adiantava,ou se atrasava em relação à vontade do Senhor, numa oscilação de quem não tinha, ainda, se entregado aCristo, passado a não mais viver, mas a Cristo viver nele. Em vários episódios, vemos que Pedro está sempreem dissintonia com o Senhor.

-Logo no início de sua convivência com o Senhor, vemos Jesus entrando na casa de Pedro, em Cafarnaum,certamente para se alimentar, depois do culto sabatino na sinagoga (Mt.8:14-17; Mc.1:29-32; Lc.4:38-41). Asogra de Pedro, porém, estava ardendo em febre. Jesus foi ao encontro da sogra, tomou-a pela mão e a curou.Pedro nada fez, nem sequer pediu a Jesus que curasse sua sogra, o que parece ter sido feito pelos outros queacompanhavam a Jesus e isto depois de ter sarado a enfermidade do criado do centurião. Estava, pois, atrasado,aquém da vontade do Senhor.

-Mas, ainda na casa de Pedro, Jesus, depois de ter curado a muitos enfermos naquele mesmo dia, no diaseguinte, sendo ainda escuro, foi orar (Mc.2:36-39). Simão e os outros seguem-n’O, mas não para orar, maspara chamá-l’O, pois havia outros enfermos que haviam se dirigido até a casa da sogra de Pedro. Jesus, então,lhes diz que é necessário que ele vá pregar o Evangelho em outros lugares, não podendo ficar somente na casade Pedro. Mais uma vez, Pedro se encontrava aquém da vontade do Senhor.

-No episódio da tempestade no mar da Galileia em que Jesus anda por sobre as águas (Mt.14:22-36;Mc.6:45,46; Jo.6:15-21), vemos que Pedro, assim como os outros discípulos, primeiro achou que Jesus fosseum fantasma, mas, depois, quando Jesus Se identificou, Pedro foi mais ousado que todos os demais e pedeuma comprovação do dito de Cristo, pedindo que também se lhe fosse possível andar sobre as águas, o que éconcedido, mas, quando já andava sobre as águas, Pedro temeu os ventos, as ondas e a tempestade, começandoa afundar, tendo sido socorrido por Cristo e retornado, n’Ele segurando, ao barco. Pedro esteve aquém davontade do Senhor e depois foi para além da vontade de Cristo, sendo, depois, considerado um homem depouca fé pelo Senhor, em virtude de suas dúvidas. Atrasado ou adiantado, mas nunca no centro da vontade doSenhor.

-Esta é a situação daquele que, embora na companhia de Cristo, a ele ainda não se entregou, a ele ainda nãose rendeu, alguém que ainda não se converteu. Não se pode falar em avivamento para alguém assim, pois é

alguém que ainda não experimentou sequer a vida, quanto mais pode intensificá-la. Não nos iludamos, esta é a situação de muitos dos que cristãos se dizem ser na atualidade.

-Quando Jesus defende Seus discípulos perante os fariseus, porque eles não haviam lavado as mãos quandocomiam pão, Pedro pediu que o Senhor explicasse a parábola que contara a respeito dos fariseus (Mt.15:13-20; Mt.7:14-23). Jesus identificou nesta pergunta de Pedro mais uma incompreensão a respeito das coisas deDeus. Era mais uma demonstração de quem se encontrava fora de sintonia com a vontade do Senhor.

-Em Cesareia, então, temos uma relevante demonstração desta dissintonia do discípulo em relação ao seuMestre. Jesus perguntou aos discípulos quem dizia ser o Filho do homem e várias foram as respostas dadas.Pedro, porém, tomou a palavra e disse que Jesus era o Cristo, o Filho de Deus vivo (Mt.16:16). O próprioJesus testifica que Pedro havia tido esta revelação diretamente do Pai, pois era impossível que a mente humanachegasse a tal conclusão.

-Encontramos aqui Pedro como sendo, dos discípulos, o único que se pusera à inteira disposição de Deus parareceber tamanha revelação, revelação que permitiria que Jesus revelasse, em seguida, neste diálogo com Pedro,omistério que havia ficado oculto desde a fundação do mundo, que era a Igreja (Ef.3:3-6). Pedro chegava,assim, à estatura de um verdadeiro profeta (Am.3:7).

-No entanto, muito provavelmente naquele mesmo dia, Pedro mostraria que ainda estava fora da sintonia comoSenhor, apesar da revelação que lhe havia sido feita pelo Pai.

-Quando Jesus começou a dizer que importava que deveria morrer pelos nossos pecados, Pedro se deixouusar pelo próprio Satanás e tomou o Senhor à parte, repreendendo-O, querendo que tivesse compaixão d’Elepróprio.

-Jesus teve de mandar Satanás se retirar. O homem que havia sido o canal do Pai para a revelação dequem era o Cristo, servia-se, logo em seguida, de instrumento do inimigo. Como poderia ser istopossível? Simplesmente porque Pedro ainda não havia se convertido, guiava-se pela sua impulsividade,tanto que o diabo quis cirandar com ele (Lc.22:31) e não fosse a intercessão de Jesus, certamente teria perdidoa sua fé (Lc.22:32).

-O que percebemos aqui é que Pedro, apesar de ter sido levado por Jesus aos aspectos mais profundos do Seuministério terreno, continuava sendo um discípulo que ainda não havia se convertido, alguém que ainda nãohavia se disposto a estar no centro da vontade do Senhor.

-É elucidativo, aliás, que, na última páscoa, Pedro tenha escolhido se sentar num lugar mais distante de ondeestava Jesus, tanto que precisou fazer sinal a João, que estava com seu rosto inclinado no seio do Senhor, paraque se perguntasse ao Senhor quem era o traidor (Jo.13:24). Pedro mantinha-se distante de Cristo, apesar detoda a intimidade que se lhe dera (tanto que foram Pedro e João os organizadores de toda a páscoa – Lc.22:8).

-Precisamos estar no centro da vontade do Senhor, conhecer os Seus desejos (precisamente o que significa aposição física de João, que, reclinando-se no seio do Senhor, podia ouvir-Lhe o coração), a fim de que façamosa Sua vontade.

-É muito triste desfrutarmos da intimidade que Jesus se nos oferece para ver as Suas maravilhas, contemplaroSeu poder, mas não podermos descobrir qual é a Sua vontade, mantendo-nos distantes d’Ele, impedindo quevenha a nos vencer, a vencer o nosso “eu” e, assim, fazer com que sejamos Seus verdadeiros e convertidosdiscípulos.

-Enquanto não nos rendermos ao Senhor, não poderemos ser Seus genuínos e autênticos seguidores eestaremos sempre à mercê do inimigo, que quer nos “cirandar”, isto é, nos “peneirar” como trigo, destruindo-nos totalmente. Cuidado!

-Apesar de ser usado pelo diabo para tentar demover o Senhor de Sua missão, Pedro continuou a desfrutar dacompanhia de Jesus. Seis dias depois de ter tido a revelação de quem era Jesus, o discípulo, com Tiago e João,é levado pelo Senhor ao monte da transfiguração, onde pôde o futuro apóstolo ver a Jesus “tal como Ele é”,em glória, numa visão que marcaria para sempre a sua vida (cfr. II Pe.2:16-18).

-Contemplar a glória de Deus, como se observa, não é, também, prova de conversão. Pedro viu a Jesusglorificado, mas não era ainda convertido. Muitos verão a glória de Deus, o Seu poder, mas, lamentavelmente,por não terem se convertido, não entrarão no reino dos céus (Mt.7:22,23). Qual é a nossa situação?

-No episódio da transfiguração, mais uma vez, Pedro revela sua dissintonia com o Senhor. Quando Jesus Setransfigura, surgem para falar com Ele Elias e Moisés. Pedro, então, tomou a palavra (ou seja, entremeteu-senuma conversa em que não era parte, prova de que não tinha sabedoria – Pv.20:3), querendo construir trêstabernáculos no alto do monte, uma para Cristo, outra para Elias e uma outra para Moisés, pois entendia queolugar onde estavam era bom.

-Mais uma vez, Pedro estava totalmente fora dos propósitos divinos. Nem sequer se lembrara dos seusoutros nove companheiros, que haviam ficado ao pé do monte. Para falar a verdade, nem mesmo de si mesmoe de Tiago e de João, pois havia planejado armar apenas três tabernáculos, permanecendo ao léu.

-Pedro assemelhava-se a muitos “crentes” da atualidade, que não pensam nos outros, na necessidade daevangelização, mas querem apenas estar bem, ficar no “lugar bom”, mesmo que ao léu, mesmo que fora dospropósitos divinos. Em vez de falar, de entremeter-se nos assuntos espirituais, pensam apenas em “habitar”junto a “tabernáculos” a serem construídos por homens, como se o que vem do homem pudesse ter algumvalor para o que provém da glória divina.

-Quantos tomam a palavra e não querem sequer ouvir o que Jesus tem a nos dizer, seja através da lei(representada por Moisés), seja através dos profetas (representada por Elias), enfim, o que a Palavra tem a nosensinar. Querem antes “folguedos” que Palavra. Esta é uma atitude de quem não é convertido ainda. Cuidado!

-Diante de tamanha insensatez, o Pai Se manifesta e, restabelecendo a ordem das coisas, determina que o SeuFilho fosse ouvido (Mt.17:5). O segredo para o “ouvinte” (i.e., Simão) deixar de ser apenas ouvinte é passara “escutar o Filho em quem o Pai Se compraz”. “Escutar” significa “estar consciente do que está ouvindo”,“ficar atento para ouvir”. Entretanto, Pedro não sabia sequer o que estava a dizer (Lc.9:33). É muito melhorouvir do que oferecer sacrifícios de tolos (Ec.5:1), sendo através do ouvir que se obtém a fé salvadora(Rm.10:17).

-Precisamos ouvir o que Jesus tem a nos dizer, ou seja, precisamos ter contacto diuturno com a Palavra deDeus (Sl.1:1,2). Sem isto, não poderemos saber qual é a vontade de Deus para as nossas vidas. Muitos querem“tomar a palavra” na atualidade, mas não querem ouvir. Pedro não queria ouvir, queria apenas desfrutar da“habitação no bom lugar” e isto era insuficiente para construir uma vida espiritual verdadeira e profícua.

-Depois da experiência da transfiguração, Pedro tem uma outra experiência com Jesus, relacionada com asdidracmas (Mt.17:24-27), o imposto do templo (Ex.30:13; II Cr.24:9; Ne.10:32).

-Os cobradores do imposto vieram a Pedro e lhe perguntaram se Jesus pagava as didracmas. Pedro, que jáconhecia quem era Jesus, respondeu afirmativamente e foi ao encontro de Jesus que, antes que fosse cobradopor Pedro, mostrou ao Seu discípulo que Ele, Jesus, não precisaria pagar aquele tributo, pois era o Senhor detodas as coisas. No entanto, para que não houvesse escândalo, mandou que Pedro fosse ao mar, pescasse comanzol e tomasse uma moeda da boca do peixe que fisgasse, pagando não só o tributo do Senhor, mas o delepróprio.

-Pedro, impulsivo, foi e fez o que Jesus mandou, uma vez mais mostrando a sua obediência à Palavra doSenhor, apesar de toda a sua ilogicidade. Se bem percebermos o que Jesus disse, Pedro tinha todos os motivospara desconfiar ou, ao menos, debater com o Senhor o que se estava a exigir. Pescar com anzol no mar? Pegaruma moeda da boca de um peixe? Todavia, Pedro foi e fez o que se lhe mandou. Pedro era destemido, atirado,mas isto era insuficiente para servir a Cristo. Tanto assim é que o Senhor providenciou que também ele pagasseotributo, o que, certamente, não era de sua vontade fazer (mais um indício de sua simpatia pelos zelotes).

-Jesus, porém, ensinava o apóstolo a ser submisso às autoridades religiosas, lição que seria aprendida e, nofuturo, ensinada pelo próprio Pedro, inclusive com extensão à autoridade civil (cfr. I Pe.2:13-17). Pedro,portanto, por causa de suas convicções políticas, não aceitava se submeter à autoridade religiosa, mas foiobrigado a isto por uma ordem de Jesus. Mais uma vez, vemos como Pedro ainda estava aquém da rendiçãoincondicional a Cristo.

-A próxima experiência que vemos Pedro aprender é a que diz respeito ao perdão (Mt.18:21,22). Quando oSenhor Jesus falava sobre o pecado de um irmão, sobre a disciplina na Igreja, Pedro perguntou-Lhe sobre olimite do perdão, considerando que este limite seria, no máximo, o de sete vezes, defendido, então, pelos“escribas liberais” do seu tempo, com base em Pv.24:16.

-Entretanto, para surpresa de Pedro, Jesus afirmou que não era sete o limite do perdão, mas, sim, “setentavezes sete”, número que não corresponde literalmente a quatrocentos e noventa, mas que tem o significado de“sempre”, “sem limite”. Quantitativamente, portanto, percebe-se quanto Pedro estava ainda aquém do centroda vontade de Deus. A diferença era de “setenta vezes”.

-Uma das características dos “ouvintes” mas não convertidos é, precisamente, o limite que se pretendeimpor ao amor e à misericórdia divina. Os mais “liberais” sempre se encontram a “setenta vezes” dosparâmetros divinos.

-A próxima passagem do ministério terreno que envolve Pedro é a que diz respeito à indagação que fez depoisdo encontro de Jesus com o jovem rico, o chamado “mancebo de qualidade”. Depois de o jovem ter se recusadoa servir a Cristo e o Senhor ter condenado o amor às riquezas, Pedro perguntou a Jesus qual seria a recompensadaqueles que O servissem, já que haviam deixado tudo para O seguir (Mt.19:27-30; Mc.10:28-31; Lc.18:28-30).

-Notamos a insensibilidade espiritual de Pedro. Jesus acabara de dizer que quem amasse as riquezas, perderiaa sua salvação, que mais importante era servir a Jesus do que ter bens e posses neste mundo, mas Pedro quissaber qual era a sua recompensa por “ter deixado tudo”.

-A preocupação com as coisas desta vida quando se serve a Cristo é mais um sinal de que ainda não se estáconvertido. Pedro, ainda que “setenta vezes” distante dos parâmetros divinos, achava-se no “direito” de exigiralguma recompensa, vez que “havia deixado tudo para seguir a Jesus”. Assemelha-se, assim, a alguns“crentes” da atualidade, que se acham com “direitos” diante de Deus, que “exigem”, “decretam”,“determinam” coisas ao Senhor.

-Pobres pessoas são estas, pois, assim como o mancebo de qualidade, correm o risco de não ter a salvação.Afinal, Paulo nos ensina que quem espera em Cristo somente para esta vida é o mais miserável de todos oshomens (I Co.15:19). Cuidado!

-Diante desta pergunta de Pedro, o Senhor Jesus, que muito O amava, como ama a todos os ouvintes nãoconvertidos, fez-lhe a promessa de que julgaria as tribos de Israel durante o reino milenial de Cristo, mas que,também, aqueles que, depois dos doze, resolvesse seguir a Cristo, desfrutariam de bênçãos cem vezes maioresdo que os bens materiais que tivessem deixado, além de herdar a vida eterna. Para as preocupações das coisasdesta vida, Jesus traz a Pedro a realidade dos lugares celestiais em Cristo, onde já fomos abençoados com

todas as bênçãos espirituais (Ef.1:3). Uma lição que seria aprendida por Pedro e por ele, também, ensinada, depois de sua conversão (cfr. I Pe.1:3,4).

-Outra passagem do ministério de Cristo onde Pedro tem participação é o caso da figueira amaldiçoada quese secou (Mt.21:18-22; Mc.11:12-26), quando o Senhor dá a Pedro a lição da fé.

-Neste episódio, Jesus, ao procurar figos em uma figueira, embora não fosse tempo de figos, amaldiçoou-a.No dia seguinte, Pedro espantou-se ao ver que a figueira tinha secado conforme as palavras do Senhor. Diantedeste espanto, o Senhor disse a Pedro que ele deveria ter fé em Deus, a fim de que o que se pedisse a Deusfosse feito.

-Neste episódio, vemos como Pedro era, ainda, uma pessoa que necessitava de conversão, de crer em Deuspara que pudesse alcançar a salvação de sua alma. Maravilhara-se de que a figueira tivesse se secado, tendo,então, o Senhor mostrado que tudo é possível ao que crê, mas que a fé exige, antes de mais nada, o perdão dospecados.

-Quando o Senhor disse aos discípulos que todos se escandalizariam n’Ele, esta advertência foi objetada porPedro, que afirmou que jamais deixaria seu Mestre (Mt.26:31-35; Mc.14:27-31; Lc.22:31-34; Jo.13:36-38).Tratava-se de mais uma demonstração de que Pedro se guiava única e exclusivamente pelos seus desejos,pelos seus impulsos. Servia a Cristo “do seu jeito”, como tantos “crentes” da atualidade. Achava que suavalentia, sua disposição, seu destemor eram suficientes para servir a Cristo e, desta maneira, de modo algumpoderia deixar a Cristo nos instantes de dificuldade.

-Como Pedro estava equivocado. O próprio Jesus lhe diz que ele haveria de negá-lo três vez antes que o galocantasse duas vezes, palavras em que Pedro não acreditou, insistindo em devotar ao seu Mestre uma dedicaçãoe lealdade singulares e superiores a de todos os demais discípulos.

-Como Pedro estava enganado, pois não se serve a Deus por força ou violência, mas pelo Espírito Santo.Quem é nascido da carne, é carne; quem é nascido do Espírito, é espírito (Jo.3:6). Embora não tivesse aceitadode pronto a palavra de Cristo, ela foi bem aprendida, tanto que, anos mais tarde, seria ensinada pelo próprioPedro aos salvos (cfr. I Pe.1:20-25). Pedro mantinha sua recusa de se converter, achando que, por si só, poderiaservir a Cristo.

-Naquela mesma semana, Cristo lavou os pés dos discípulos, tendo Pedro, uma vez mais, mostrado estarfora do centro da vontade do Senhor (Jo.13:1-20). Não queria que o Senhor lavasse os seus pés, dizendoque isto era ilógico, pois era ele, o discípulo, quem deveria lavar os pés do Mestre, mas, diante da afirmaçãode Jesus de que, se não permitisse que Ele lavasse seus pés, não teria parte com Ele, Pedro, então, quis queJesus lhe desse um banho.

-Nada mais elucidativo do comportamento de Pedro nesta fase de sua vida: aquém e além do propósito doSenhor. Quantos não querem fazer o que Jesus lhes manda e, depois, exageram quando confrontados peloSenhor com a sua recusa? Entretanto, não há necessidade de “exageros”, pois quem está limpo pela Palavrade Deus sabe perfeitamente qual é a vontade do Senhor. Quem, porém, não foi transformado por esta Palavra,ou recusa fazer o que Deus quer ou, então, parte para “exageros” inadmissíveis, que não passam de puracarnalidade.

-Após a páscoa, onde, como vimos, Pedro se manteve distante de onde estava Jesus, o Senhor chama o Seu“círculo íntimo” para o Getsêmane (Mt.26:36-46; Mc.14:32-42; Lc.22:39-46; Jo.18:1).

-Pedro, Tiago e João vão fazer companhia a Jesus, que se distancia deles cerca de um tiro de pedra e começaa orar, uma oração extremamente angustiante, onde se inicia a solidão do Senhor na Sua tarefa singular desalvar a humanidade. Os discípulos não O acompanham em oração, dormem, pois estavam sobrecarregados.

-Ali Pedro já poderia ter percebido que, assim como os demais, não tinha podido velar nem uma hora com oSenhor, tanto que o Senhor Se dirigiu especificamente a Pedro, chamando-o de “Simão”, a fim de advertir-lhea sua igualdade com os demais (Mc.14:37), pois os fatos desmentiam todas as bravatas anunciadas por Pedroanteriormente. No entanto, sua carnalidade não lhe permitia ver que estava na mesma condição dos demais,que toda a sua valentia seria inútil.

-Jesus é o mesmo (Hb.13:8). Continua a advertir todos quantos d’Ele se aproximam, ainda que sem umagenuína conversão, a fim de que se arrependam dos seus pecados e aceitem a submissão ao Senhor. Jesus nãoSe cansa de lhes falar, através do Seu corpo místico, que é a Igreja, da necessidade que têm de nascer de novo,de aceitar o Seu jugo suave e Seu fardo leve, de renunciar a Si mesmos, tomar a Sua cruz, para que possamsegui-l’O e alcançar a salvação, que é o fim de nossa vida espiritual, de nossa fé (como ensinará Pedro – IPe.1:9). Queira o Senhor que, ao contrário de Pedro na oportunidade que estamos a tratar, despertemos dosono espiritual e possamos ser esclarecidos por Cristo (Ef.5:14).

-Segue-se, então, a prisão do Senhor no jardim. Pedro, como sempre, impetuoso, tenta livrar o Senhor usandoda violência. Corta a orelha do servo do sumo sacerdote, de nome Malco (Jo.18:10), revelando, mais uma vez,como estava fora da vontade de Deus. Jesus opera, então, o milagre de pôr a orelha de Malco no lugar e mandaque Pedro não mais usasse da espada.

-Tem início a mais importante experiência da vida de Pedro: a sua conversão. Jesus foi preso e levadoaté a casa de Anás. Assim como João, Pedro começa a seguir os passos de Jesus, mas, em mais umademonstração física de seu estado espiritual, segue-O de longe (Mt.26:58; Mc.14:54; Lc.22:54), tendo sidolevado para dentro da porta da casa por João (Jo.18:16). Este distanciamento físico de Pedro revelava quantoPedro estava longe, ainda, do Senhor Jesus, porque não era ainda convertido.

-Entretanto, Pedro havia estado com Jesus e foi prontamente reconhecido pelos criados do sumo sacerdote.A porteira reconheceu-lhe (Mt.26:69; Jo.18:17), tendo, então, Pedro negado Jesus pela primeira vez, dizendoque não era Seu discípulo. Uma outra criada o vê, depois que ele se dirigiu ao vestíbulo, reconhece-o, mas elenega a Cristo pela segunda vez (Mt.26:71,72), dizendo não conhecer “tal homem”. Pouco depois, não só um,mas vários que ali estavam, aquentando-se, como ele (Mc.14:67; Lc.22:55), denunciando o seu sotaquegalileu, começaram a falar que ele era discípulo de Jesus, mas ele, então, não só negou ser discípulo e conhecera Cristo, como começou a praguejar e a jurar neste sentido. Então, o galo cantou pela segunda vez e Pedro selembrou das palavras de Cristo, Cristo, aliás, que olhou para ele com um olhar penetrante (Lc.22:61).

-Após o segundo canto do galo, Pedro caiu em si. Viu que de nada valera seus esforços humanos para servira Cristo. A violência, a impetuosidade, o destemor, a ousadia haviam sido infrutíferos. No momento em quefoi apresentado à dificuldade, ao risco de vida, Pedro negara a Cristo, recorrendo inclusive a maldições ejuramentos. Vergonhosamente negava uma convivência de mais de três anos. Depois do olhar de Cristo, Pedrose retirou do local e chorou amargamente (Mt.26:75; Mc.14:72; Lc.22:62).

-Este choro amargo de Pedro foi importantíssimo para a sua vida espiritual. Era a tristeza segundo Deusque opera o arrependimento para a salvação (II Co.7:9,10). Pedro, pela primeira vez, não só reconheceu serpecador ou a soberania de Jesus, mas se arrependeu do que havia feito. Havia se arrependido e confiado emCristo, que, com um simples olhar, mantinha o caminho aberto para a reconciliação, disposição esta que fezquestão de reafirmar, já ressuscitado, na mensagem angelical às mulheres tornadas testemunhas de Seuressurgir (Mc.16:7). Chegara o dia da conversão de Pedro.

-Não há conversão sem que haja, antes, arrependimento de pecados e o arrependimento envolve dois aspectos:tristeza pelo que se cometeu e disposição de não mais repetir os erros, ou seja, mudança de mentalidade (apalavra grega “metanoia”, que é a palavra traduzida por arrependimento indica, precisamente, a mudança dementalidade). Somente há perdão de pecados se houver arrependimento. Não basta apenas a confissão nem atristeza pelo cometimento da falta. Se não houver a disposição de mudança, a “mudança de mentalidade”, não

teremos senão o remorso, a sinceridade, que é importante mas insuficiente para se alcançar a salvação (Hb.12:17). A conversão envolve, necessariamente, o arrependimento (Jr.31:19).

II – A BIOGRAFIA DE PEDRO (II) – PEDRO, O PESCADOR DE HOMENS, A PEDRA VIVA DE CRISTO QUE ABRIU AS PORTAS DO EVANGELHO A JUDEUS E GENTIOS

-Pedro havia se convertido a Cristo Jesus. Tendo chorado amargamente e sentido o perdão dos seus pecados,não se isola do grupo, como fizera Judas Iscariotes, que apenas tinha sentido remorso e não arrependimento.Está com os outros dez discípulos naqueles dias difíceis e sombrios após a morte do Senhor. Já era outro, poisnão incitou os companheiros a uma revolta ou a uma atitude precipitada, mas, juntamente com eles, trancara-se no cenáculo com medo dos judeus (Jo.20:19).

-Ao terceiro dia, as mulheres vão ao encontro dos discípulos e afirmam que Jesus ressuscitou. Pedro e Joãovão, então, ao sepulcro, para averiguar esta notícia. Pedro e João estão agora juntos, lado a lado, numa clarademonstração da mudança operada em Pedro (Jo.20:2-4).

-A propósito, foi precisamente Pedro quem teve a ousadia de entrar no sepulcro e ter uma ampla e completavisão de tudo o que ali havia. Sua ousadia, seu dinamismo agora estavam sendo utilizados sob a direção doEspírito de Deus, pois ele havia se convertido (Jo.20:6-10).

-Pedro, assim, demonstrou ter crido na mensagem angelical, que o incluíra entre os servos do Senhor. Nãomais se preocupara com a negação vergonhosa de três ou quatro dias antes, porque, quando nos convertemos,“…uma coisa fazemos, e é que, esquecendo-nos das coisas que atrás ficam e avançando para as que estãodiante de nós, prosseguimos para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.”(Fp.3:13,14 com alteração das formas verbais), pois, “se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisasvelhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (II Co.5:17).

-Ao contemplar os lençóis e o sepulcro vazio, Pedro retirou-se dali admirado consigo mesmo (Lc.24:12). Eraalguém que, a partir de então, meditava no que estava a ver, que não tinha pressa em tomar a palavra, umhomem que demonstrava sua mudança, sua transformação, sem que tivesse perdido o seu temperamento,temperamento que se encontrava, agora, sob o controle do Espírito, Espírito Santo que receberia naquelemesmo dia (Jo.20:22).

-Todavia, ainda Pedro teria uma outra demonstração de fraqueza, mesmo após a conversão. Depois que Jesushavia aparecido segunda vez aos discípulos no cenáculo, oportunidade em que a incredulidade de Tomé foralançada em rosto, não mais apareceu. Os dias foram se passando e Pedro desanimou. A ausência do Senhorfoi entendida por ele como sendo um abandono e, a despeito de ter sido chamado para ser um pescador dehomens, quis voltar a ser pescador de peixes e, rapidamente, dada sua impetuosidade e presença de espírito,conseguiu que os discípulos tudo abandonassem e voltassem para a vida da pesca, que havia sido deixada hámais de três anos (Jo.21:3).

-Pedro estava convertido, mas estava “mal acostumado”. O Senhor havia se apresentado miraculosamentedurante dois domingos e Pedro, dentro de sua impetuosidade, achava que tais aparições deveriam serfrequentes e contínuas. Como o Senhor não mais aparecera, Pedro desanimou e resolveu voltar à vida velha,ao modo antigo de viver. Estava convertido, mas ainda não estava maduro.

-Muitos são os “crentes” da atualidade que, apesar de terem tido uma real experiência com o Senhor, de seremconvertidos, ainda não alcançaram a maturidade espiritual, querendo que haja sinais e maravilhas a cadainstante, a cada momento. Correm atrás destes sinais e maravilhas, invertendo a ordem das coisas, pois ossinais e maravilhas é que devem seguir aos que creem e não o contrário (Mc.16:17). Quando milagres nãoacontecem, quando não há maravilhas extraordinárias (e a palavra “extraordinária” significa exatamente “algofora do normal”, algo que não se repete sempre), resolvem voltar à vida velha, ao pecado. Devemos esqueceras coisas que ficaram para trás e olhar para o alvo, que é a salvação das nossas almas (I Pe. 1:9).

-Pedro resolveu ir pescar, saindo, uma vez mais, do centro da vontade de Deus. Repetiu-se, então, aexperiência da pesca maravilhosa, que havia levado Pedro a deixar tudo por Jesus. Nada apanharam, mas, soba palavra de Cristo, fizeram uma nova pesca milagrosa. Mas, se não fosse por João, Pedro nem sequer teriapercebido que era o Senhor. Estava novamente cego e surdo para as coisas de Deus. É interessante notar quese encontrava nu ou quase que totalmente nu, tanto que, ao saber que se tratava do Senhor, cingiu-se com atúnica (Jo.21:7).

-Quando deixamos a direção de Deus, quando tencionamos voltar para a vida antiga, antes de nossa conversão,perdemos as vestes espirituais (Ap.3:18; II Co.5:1-3). Não nos iludamos: quem não estiver trajado de vestesespirituais, não herdará o reino de Deus (Ap.16:15).

-Pedro puxou a rede para a terra e ali estavam 153 grandes peixes, sem que a rede se rompesse. Era o fim dacarreira de pescador de peixes de Pedro. Na refeição, Jesus, então, Se dirige para Simão, filho de Jonas e, portrês vezes, pergunta-lhe se ele O amava. Era a aplicação da lei da semeadura. Pedro havia negado o Senhorpor três vezes, deveria confessá-l’O também por três vezes. Havia, também, voltado a ser pescador de peixes,mas deveria agora assumir, de vez, a sua condição de pescador de homens.

-Pedro agora era um outro homem. Não vemos mais a sua arrogância, a sua autossuficiência.Perguntado se amava a Cristo, na primeira e na segunda vez, responde que sim, mas, mais do que isto, que oSenhor sabia que ele O amava (Jo.21:15). Não era mais o “sabe-tudo”, o “valente”, o “repreendedor”, mas ohumilde servo de Jesus, a ovelha que é conhecida pelo seu pastor (Jo.10:14.27).

-Jesus, então, manda a Pedro que apascentasse os Seus cordeiros, a demonstrar que o obreiro não tem domíniosobre o rebanho, que é de Deus, lição que, muito bem aprendida por Pedro, foi depois por ele mesmo ensinadaà Igreja (I Pe.5:2,3).

OBS: Como é diferente, aliás, a lição de Jesus que Pedro tão bem aprendeu e ensinou com o que faz oRomanismo que põe os supostos “sucessores de Pedro” como monarcas absolutos e infalíveis…

-Por fim, na terceira pergunta, Pedro entristece-se pela insistência do Senhor, mas, em vez de repreender oMestre, como fizera anteriormente, de se exaltar, como tantas vezes procedeu, Pedro rende-seincondicionalmente a Jesus, dizendo que Ele sabia tudo. Era a renúncia incondicional de si mesmo, aautonegação, o passo que ainda faltava para que Pedro fosse usado poderosamente na obra de Deus.

-Ante tal confissão, Jesus diz a Pedro que ele envelheceria e que, assim como não faria mais a sua vontade,no sentido espiritual, no final de seus dias, também seria levado para onde não queria, sendo, também, ditoque haveria de morrer pelo Evangelho (Jo.21:18,19).

-Pedro, então, quis saber a respeito do destino de João, mas, numa clara demonstração de que não tinha“primado” entre os apóstolos, isto não lhe foi revelado.

-Jesus subiu aos céus e mandou que os discípulos aguardassem em Jerusalém o revestimento de poder paraque pudessem iniciar o trabalho de pregação do Evangelho a toda a criatura.

-Reunidos para orar e buscar o Senhor pelo tempo que fosse necessário, vemos Pedro se levantandoentre os discípulos e dirigindo a escolha de um substituto para Judas Iscariotes, oportunidade em que foiescolhido Matias, que passou a ser contado entre os doze apóstolos (At.1:15-26).

-Esta atitude de Pedro, porém, não parece ter tido a aprovação divina. O texto sagrado informa-nos que Matiaspassou a ser considerado apóstolo, sem afirmar que o Senhor o tivesse escolhido como tal, bem assim não háqualquer indicação de que houvesse a necessidade de se completar já o colégio apostólico ou que fossemnecessários doze apóstolos.

-Vemos, assim, que, mesmo entre convertidos, há decisões que são tomadas sem a prévia direção e orientaçãodo Espírito de Deus, cujas consequências podem ser funestas à obra do Senhor ou, simplesmente, indiferentesa ela, como parece ter sido o caso. Pedro parece que não tinha aprendido a lição de que não deveria se envolvernaquilo para o que não havia sido chamado ou não era de sua conta, como quando quis saber sobre o futurode João…

-No dia de Pentecostes, os discípulos são batizados com o Espírito Santo e o que faltava para que Pedrose tornasse o pescador de homens aconteceu.

-Revestido de poder, Pedro levanta-se entre os discípulos e prega à multidão que se aglomerara paraver o que se passava no cenáculo. Seu temperamento destemido, ousado e impulsivo, sob plenoenvolvimento e controle do Espírito Santo, abriu a porta do Evangelho para os judeus, sendo esta a “primeirachave” mencionada pelo Senhor em Mt.16:19.

-Quase três mil almas se converteram ao Senhor, tendo Pedro, em seu sermão, falado sobre o arrependimentodos pecados e a necessidade deste arrependimento para o perdão dos pecados (At.2:38-40). Pedro haviaexperimentado esta salvação e, revestido de poder, podia, agora, anunciá-la com toda a ousadia que lhe erainata.

-O destemido Pedro tornou-se um homem de oração. O revestimento de poder não foi um instanteesporádico de manifestação do poder de Deus na vida de Pedro. Ele passou a ter uma vida de oração.

-Aquele homem que não pudera velar nem uma hora com o Senhor no Getsêmane, era agora um homem queorava constantemente. Em At.3:12, vemos na companhia de João (como estão juntos agora…), indo ao templo,na hora da oração. Encontrou-se, então, com um coxo na porta Formosa do templo e ali, dizendo não terprata nem ouro, mas poder de Deus, curou aquele homem, o que causou um movimento intenso no templo,oportunidade para que Pedro pregasse outro sermão e quase cinco mil pessoas se convertessem a Jesus (At.3:1-4:4).

-Os sinais e maravilhas acompanham os verdadeiros e genuínos crentes, que se dedicam a uma vida desantificação, consagração, oração e meditação na Palavra de Deus.

-Não há sinais e maravilhas com emoções e desleixo espiritual. Para que o poder de Deus se manifeste, épreciso que haja renúncia por parte dos “crentes”, uma vida devocional intensa e ininterrupta.

-Hoje em dia, não há mais a manifestação do poder de Deus por causa da ausência desta preparação. Oscrentes não oram, não leem a Palavra de Deus, não se consagram e, depois, querem que o “poder de Deuscaia”. Os movimentos que surgem em locais quetais nada mais são que manifestações carnais, muitas vezesinduzidas por estratégias de neurolinguística e outras técnicas hipnóticas e de comunicação. Cuidado!

-Pedro e os demais discípulos, então, são levados ao Sinédrio, o mesmo tribunal que havia levado Jesus paraser condenado à morte. Mas Pedro agora está revestido de poder e é convertido, pronto a morrer pelo Senhor.Antes, uma simples criada abalara a sua opção por Cristo, mas agora nem mesmo o Sinédrio poderia calá-lo.

-Pedro pregou para os máximos intérpretes da lei judaica, que ficaram admirados com a sua pregação,sabendo que se tratava de homem sem letras e indouto. Quando instados a se calar, Pedro disse não ser justodeixar de falar o que tinham visto e ouvido. Era o destemor, a ousadia sob o controle do Espírito Santo.

-Diante de tamanha ousadia e poder de Deus, foram os discípulos soltos e, então, foram orar a Deus e o poderera tanto que o local onde estavam reunidos tremeu e todos foram cheios do Espírito Santo (At.4:5-31).

-Pedro é, então, usado pelo Espírito Santo em mais um dom espiritual: a palavra da ciência. O EspíritoSanto lhe revela a artimanha de Ananias e Safira, que morrem pela palavra do apóstolo, após terem se recusadoa dizer a verdade.

-Pedro mostra-se como um instrumento de Deus para a manutenção da santidade no meio do povo de Deus,trazendo temor em toda a igreja, prosseguindo a ser usado com sinais e maravilhas, a ponto de pessoas seremlevadas para as ruas a fim de que ao menos a sombra de Pedro pudesse cobri-las, num sinal de que, em algumavez, houve cura de enfermos por força da cobertura de sombra (At.5:1-16).

-Pedro, então, sentiu o peso do vitupério de Cristo: a perseguição. O Sinédrio e o sumo sacerdote lançarammão dos apóstolos e os prenderam. Milagrosamente, o anjo do Senhor abriu as portas da prisão e eles, então,voltaram a pregar.

-Levados de novo à presença das autoridades religiosas, foram admoestados a se calar, açoitados e, depois,se regozijaram de que fossem dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus, não cessando de ensinar e deanunciar a Jesus Cristo (At.5:17-42).

-A perseguição aumentou ainda mais. Estêvão foi morto e Saulo começou a liderar uma impiedosaperseguição aos crentes, que se dispersaram, com exceção dos apóstolos (At.8:1).

-O Evangelho é pregado em Samaria e Pedro, juntamente com João, vão até lá para averiguar otrabalho feito por Filipe (At.8:14). Pedro impôs as mãos sobre os crentes de Samaria e eles tambémreceberam o batismo com o Espírito Santo (At.8:17).

-Foi, então, Pedro tentado pela oferta de dinheiro. Simão, o mago, ofereceu-lhe dinheiro para ter o mesmopoder, mas Pedro mostra como deve se portar um autêntico e convertido servo do Senhor: rechaçou a ofertade dinheiro e denunciou a falta de comunhão de todos aqueles que não servem a Deus com um coração reto.

-Pedro, diante de um não convertido, revela que os não convertidos não têm parte no reino de Deus, aindaque se digam “crentes”. Pedro havia sido um destes, mas agora era um salvo remido no sangue de Jesus.Aleluia!

-Muitos pregadores e ensinadores da Palavra de Deus, que se converteram genuinamente, que foram batizadoscom o Espírito Santo, não têm resistido seja à perseguição, seja à oferta do dinheiro.

-Muitos, ao se defrontarem com a perseguição, desanimam, negam o Senhor, tentando, como se fez nopassado, retornar à Igreja depois que a perseguição cessa. São os “relapsi” dos dias do Império Romano, queaceitavam oferecer sacrifícios aos deuses pagãos, para não ser queimados na fogueira e, depois, vinham pedirperdão nas igrejas locais, quando a tempestade da perseguição acalmava. Jesus perdoa, é bem verdade, masdevemos ver se há frutos dignos de arrependimento, ou se apenas são não convertidos que querem levarvantagem.

-A oferta de dinheiro, então, tem sido uma praga nos dias hodiernos. Muitos grandes homens e mulheres deDeus, usados poderosamente por Deus, como foi Pedro, não resistem à simonia, que é a “compra ou vendailícita de coisas espirituais (como indulgências e sacramentos) ou temporais ligadas às espirituais (como osbenefícios eclesiásticos)”, “simonia”, aliás, que é palavra derivada precisamente de “Simão”, o mago. O amordo dinheiro desvia muitos da fé (I Tm.6:10) e é a causa do surgimento de tantos falsos mestres, como bemaprendeu Pedro (II Pe.2:3). Cuidado!

-Depois de ter pregado o Evangelho em aldeias de samaritanos (At.8:25), Pedro passou a ir visitar as igrejasque haviam se constituído em toda a Judeia, e Galileia, e Samaria (At.9:31,32), sendo este o principal motivopelo qual Paulo o denominou de “o apóstolo dos da circuncisão” (Gl.2:8), visto que Pedro era, sem dúvida,

um apóstolo dedicado a assistir as igrejas de judeus que haviam se convertido a Cristo. Pedro, assim, pelo que se verifica, assim como Paulo, exercia sua autoridade apostólica sem ter uma igreja para administrar.

OBS: Não é, pois, senão fantasia a afirmação de que Pedro tenha sido “bispo de Jerusalém” (jamais dirigiu a igreja de Jerusalém, que eradirigida por Tiago, irmão do Senhor, como se vê claramente em At.15) e, depois, “bispo de Antioquia”, o que é desmentido pelo fato de Paulo tratar a Pedro como “dos da circuncisão”, quando a igreja em Antioquia era composta de gentios, de onde Paulo e Barnabé foram mandados como missionários, jamais tendo Paulo mencionado que Pedro tenha sido “bispo” ali. Aliás, a passagem de Gl.2 torna-se incompreensível se Pedro fosse o“bispo” daquela igreja e, que, a partir do ano 42, tivesse sido “bispo de Roma”, cidade onde se duvida tenha estado alguma vez.

-Nestas suas viagens junto aos da circuncisão, Pedro continuou a ser usado por Deus com sinais emaravilhas. Eneias foi curado da sua paralisia (At.9:33,34) e muitos se converteram em Lida e em Sarona.Em Jope, Pedro é usado por Deus para ressuscitar Tabita ou Dorcas (At.9:39-42), tendo, então, ficado alimuitos dias.

-Era hora de Pedro abrir a porta do Evangelho aos gentios. Tratava-se de fazer Pedro ultrapassar a barreira daresistência cultural. Verdade que já pregara o Evangelho aos samaritanos, mas, apesar de ser um povo hostilaos judeus, de qualquer maneira, era um povo que tinha o sangue israelita. No entanto, como bom servo deCristo, alguém que agora estava no centro da vontade de Deus, Pedro deveria compreender que a salvação erapara toda a humanidade, inclusive para os gentios.

-Deus, então, de um modo todo especial, trabalha com Pedro para que possa ir até a casa de Cornélio, centuriãoromano, o primeiro gentio a ser salvo pela atuação da Igreja (At.10-11).

-Pedro estava na casa de Simão, o curtidor, em Jope e, perto da hora sexta, subiu ao terraço para orar. Notemoscomo um crente avivado jamais deixa de ter uma vida de oração. Pedro, que antes não conseguira orar umahora no jardim do Getsêmane, perto da hora do almoço, como visitante em uma casa, arruma um tempo paraorar. Que diferença!

-Enquanto orava, Pedro tem uma visão repetida três vezes em que se lhe mostram animais aparentementeimpuros, mas que foram purificados pelo próprio Senhor e que o Senhor mandou que ele os matasse e oscomesse, ao quel Pedro objetou, dizendo que nunca comera algo impuro, sendo, então, advertido que nãopoderia chamar de impuro o que Deus purificou.

-Logo depois desta visão, chegaram servos de Cornélio à sua procura e Pedro, ainda que relutantemente, vaia casa de Cornélio, onde prega o Evangelho. Jesus batiza Cornélio e os seus com o Espírito Santo e só, então,Pedro aceita batizá-los nas águas.

-Ao retornar a Jerusalém, Pedro é alvo de uma verdadeira “comissão” (prova de que não era nem nunca tinhasido “bispo” naquela igreja), quando se chega à conclusão de que a salvação também era para os gentios. Eraa “segunda chave” que o Senhor dera a Pedro em Mt.16:19, como o próprio Pedro reconhece em At.15:7.

-De volta a Jerusalém, Pedro sente, uma vez mais, o ardor da perseguição. Quem foi martirizado desta vezfoi Tiago, o companheiro do “círculo íntimo” do ministério terreno de Jesus, uma das “colunas” da igreja.

-Pedro é preso em seguida, mas vemos como era diferente este Pedro. Preso e pronto para ser morto, dormiatranquilamente na prisão (At.12:3-19), enquanto que, no passado, uma simples criada o fizera praguejar e jurarem falso. Como o Evangelho transforma as pessoas!

-Pedro foi acordado por um anjo e saiu da prisão, pensando tratar-se de um sonho. Já na rua é que percebeuque era realidade o seu livramento e foi para a casa de Maria, mãe de João Marcos (o autor do evangelhosegundo Marcos), onde os crentes estavam reunidos em oração em favor de Pedro e ali testificou do seulivramento. Partiu, então, para outro lugar, dizem as Escrituras, enquanto que Herodes e os soldados nãosabiam como explicar o ocorrido.

-A partir deste capítulo, o livro de Atos dos Apóstolos não mais se refere a Pedro, que cede seu lugar em anarrativa, feita por Lucas, a Paulo. O que sabemos de Pedro na Bíblia, a partir de então, é que esteve emAntioquia, visitando aquela igreja, quando entrou em conflito com Paulo, antes do concílio de Jerusalém,porque passou a evitar comer com os crentes gentios, por causa dos crentes judaizantes (Gl.2:11-14), umcomportamento recriminável e que vai contra a sinceridade que sempre caracterizara a vida e o ministério dePedro.

-Pedro, porém, não era mais o homem de dura cerviz do passado e, prova disso, é que foi um grandedefensor do trabalho de Paulo no concílio de Jerusalém (At.15:7-11), defesa que foi decisiva para que setomasse a decisão de não impor a lei de Moisés aos cristãos gentios.

-Pouco sabemos da vida de Pedro a partir de então. A sua primeira epístola é dirigida aos estrangeirosdispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia (I Pe.1:1), regiões situadas na área que hojecorresponde à Turquia, a demonstrar que tenha trabalhado nestas regiões, pregando o Evangelho.

-No final desta carta, Pedro afirmou que a igreja em Babilônia (onde havia uma grande colônia judaica)saudava os destinatários da carta (I Pe.5:13). Tudo nos leva a crer, portanto, que Pedro tenha exercido seuministério para o oriente, enquanto que Paulo tenha ido para o ocidente. A segunda carta de Pedro não trazqualquer informação a respeito de locais.

-Cedo surgiu uma tradição de que Pedro teria se deslocado para Roma e ali exercido seu ministério até sermartirizado, assim como Paulo, na primeira grande perseguição romana contra a Igreja, nos dias de Nero.

-Segundo esta mesma tradição, Pedro teria sido morto no monte Vaticano, em Roma, crucificado de cabeçapara baixo, já que não se achou digno de ter a mesma morte de Cristo. Em cima desta tradição, a Igreja Romanapretende se mostrar como o “corpo visível de Cristo” e a “única e verdadeira Igreja de Cristo”, o que foireafirmado recentemente pelo Vaticano, ao interpretar algumas disposições do Concílio Vaticano II quepareciam ter aquela Igreja alterado seu pensamento a respeito.

-No entanto, não há qualquer base escriturística para dizermos que Pedro tenha estado em Roma ou lá tenhamorrido. Dizer que a “Babilônia” de I Pe.5:13 é uma metáfora e significa “Roma” é ir muito além do texto.Além do mais, se Pedro foi “bispo de Roma”, como explicar que Paulo não o tenha mencionado na epístolaaos romanos? São evidentes sinais das Escrituras no sentido contrário da tradição, tradição, ademais, que estávinculada a falsas doutrinas e que, portanto, devem ser, no mínimo, postas sob suspeita pelos amantes daPalavra de Deus.

-Mais importante do que isto é que, nas suas duas epístolas, encontramos um Pedro que mostra ter aprendidotodas as lições ministradas pelo Senhor durante o Seu ministério terreno, como já pudemos ver ao longo dabiografia do apóstolo.

-Nestas duas cartas, Pedro mostra, claramente, que a Igreja deve se preocupar com a santidade, que seinicia com um genuíno e autêntico novo nascimento e que se prova mediante uma conduta exemplar, que deveter em Cristo o seu único e exclusivo exemplo, conduta esta que se revela tanto na igreja, como na família ena sociedade.

-Além do mais, a igreja, diz-nos Pedro, precisa estar atenta para tudo o que ocorre à sua volta, jamais seesquecendo da volta de Cristo, devendo, enquanto o Senhor não vem, dedicar-se ao crescimento na graça e noconhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, não se deixando levar pelos falsos mestres.

-Que ensino precioso e que deve estar sempre presente em nossas mentes e corações, se quisermos ter a mesma certeza que o apóstolo deixa, pouco antes de terminar a sua carta, ou seja, a de que “…devemos procurar fazer cada vez mais firme a nossa vocação e eleição, porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçaremos” (II Pe.1:10 com alteração das formas verbais).

- A biografia de Pedro mostra como se dá a conversão de uma pessoa a Cristo Jesus, como ela depende da conversão e que, como após a conversão, o revestimento de poder mantém a pessoa totalmente dedicada ao Senhor e pronta a realizar para Ele uma grande obra. Pedro é um exemplo a ser seguido e que não sejamos apenas ouvintes, mas pessoas convertidas a Jesus e que possam realizar, como Pedro, um grande ministério.

O AVIVAMENTO NA VIDA DA IGREJA

 


INTRODUÇÃO

-Na sequência do estudo sobre o avivamento, estudaremos hoje como se dá o avivamento na vida da Igreja.

-A Igreja somente executa sua tarefa se estiver avivada.

I – O AVIVAMENTO DA IGREJA É INDICADO NO DIA DE PENTECOSTES

-Na sequência do estudo sobre o avivamento, o chamado das Escrituras para o quebrantamento e o poder de Deus, estudaremos como se dá o avivamento na vida da Igreja.

-A Igreja, o grande mistério de Deus (Ef.3:4-6), revelado pelo Senhor Jesus (Mt.16:18), é “…a assembleia universal dos santos de todo os lugares e de todas as épocas, cujos nomes estão escritos nos céus (…) fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo (…) tendo a doutrina dos apóstolos por fundamento e Jesus a principal pedra de esquina (…) a coluna e firmeza da verdade. É a comunidade do Senhor…” (DFAD, XI, p.119).

-A Igreja é o povo formado pelo Senhor Jesus que deveria prosseguir a Sua obra na face da Terra durante o período conhecido como “dispensação da graça”, ou seja, o tempo em que Deus deixa à disposição do homem a Sua oferta salvadora, tendo já completado a obra salvífica prometida desde o dia mesmo da queda.

-Muito se discute quando nasceu a Igreja. Revelado o mistério pelo Senhor em Cesárea de Filipe, no exato instante em que o Pai revelou a Pedro que Jesus era o Cristo, o Filho do Deus vivo, era a Igreja, ainda, um povo que haveria de surgir, pois o Senhor Jesus foi claro ao disse que a edificaria, ou seja, não a tinha ainda edificado.

-Para que pudesse surgir a Igreja, mister se fazia que Jesus derramasse o Seu sangue na cruz do Calvário, pois é pelo Seu sangue que os que estavam longe se aproximam de Deus (Ef.2:13), pois é ele quem nos purifica de todo o pecado (I Jo.1:7), que nos tira o pecado (Jo.1:29) e, sem pecado, não há mais divisão entre nós e o Senhor (Is.59:2).

-Por isso, entendem muitos que a Igreja é concebida na própria cruz, simbolicamente quando o Senhor derrama Suas últimas gotas de sangue, que são seguidas de água, quando lancetado pelo soldado romano

(Jo.19:34), como que, como último Adão (I Co.15:45), de Seu lado surgisse a Sua mulher, que é a Igreja. A Igreja teria, então, tido o “seu corpo” como que formado naquela ocasião.

-Ressurreto, o Senhor teria, então, gerado a Igreja na tarde do domingo da ressurreição, ao soprar sobre os discípulos e lhes dar o Espírito Santo (Jo.20:19,22), que não lhes poderia ser dado antes que tivesse sido o Senhor glorificado (Jo.7:38,39).

-Já gerada e viva, no entanto ela só “nasceria”, seria revelada ao mundo no dia de Pentecostes, quando, então, iniciaria a sua tarefa de dar continuidade ao trabalho de Jesus, pois é Seu corpo (I Co.12:27).

-Observemos, de pronto, que a vida da Igreja começa no Calvário, quando o Senhor Jesus paga o preço dos nossos pecados e compra a nossa redenção. Não há como falar-se em Igreja viva se o Calvário não estiver presente, se não houver a fé no sacrifício vicário de Jesus na cruz.

-Não é por outro motivo que uma das ordenanças do Senhor para a Igreja é, precisamente, a comemoração de Seu sacrifício na ceia do Senhor, pois não podemos jamais nos esquecer que é o sacrifício de Cristo no Calvário que nos trouxe a salvação.

-Mas, além do sacrifício de Cristo, há a necessidade do recebimento do Espírito Santo. Quando cremos em Jesus, o Espírito Santo vem habitar em nós, somos selados pelo Espírito (Ef.1:13), tornamo-nos “morada de Deus no Espírito” (Ef.2:22), “templos do Espírito Santo” (I Co.6:19).

-É o Espírito Santo quem nos faz ter comunhão com o Senhor, que nos vivifica (Jo.6:63; II Co.3:6). Assim, não há como ficarmos vivos sem a presença do Espírito Santo, pois é a lei do Espírito da vida que nos livrado pecado e da morte em Cristo Jesus (Rm.8:2).

-A vida espiritual, possibilitada pelo sacrifício de Cristo, é mantida pela presença do Espírito Santo, o Vigário de Cristo, ou seja, Aquele que o Jesus mandou para ficar ao nosso lado em Seu lugar, que nos mantém em comunhão com o Senhor e libertos do pecado e da morte.

-Por isso mesmo, o Senhor mandou que os discípulos ficassem em Jerusalém até que do alto fossem revestidos de poder (Lc.24:49), para que, então, pudessem ser testemunhas de Cristo em todas as partes do planeta (At.1:8), tendo, assim, condições de poder dar continuidade à obra do Senhor na face da Terra.

-Assim, como o próprio Jesus foi cheio do Espírito Santo para poder exercer o Seu ministério no dia em que foi batizado por João no rio Jordão, revelando-se como o Cristo, assim, também, a Igreja só pode começar a realizar a obra para a qual foi enviada pelo Senhor no dia em que recebeu o Espírito Santo (Jo.20:21,22), quando é também cheia do Espírito Santo, o que ocorreu no dia de Pentecostes(At.2:4), revelando-se como o corpo de Cristo.

-A primeira observação que temos a fazer é que, no dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar (At.2:1), o lugar determinado pelo Senhor Jesus. Estavam em obediência ao Senhor Jesus, no lugar determinado por Ele (Lc.24:49). Não nos esqueçamos que o cenáculo foi o lugar designado pelo próprio Jesus para que ali Ele pudesse participar da última páscoa e da primeira ceia com Seus discípulos (Mc.14:12-15).

-Não há avivamento se não estivermos no lugar determinado pelo Senhor, se não estivermos em comunhão com Ele. Precisamos ter íntima comunhão com Jesus, Ele cear conosco e nós com Ele (Cf.Ap.3:20).

-Temos de ser obedientes ao Senhor Jesus, e esta obediência somente ocorre quando O amamos (Jo.14:21;15:14) e o segredo da permanência do amor de Deus em nós, que foi derramado pelo Espírito Santo em nossos corações (Rm.5:5), é guardarmos os Seus mandamentos (Jo.15:10).

-Mas, além de estar no mesmo lugar, no lugar determinado pelo Senhor, eles estavam reunidos, ou seja, estavam todos com o mesmo propósito, o mesmo objetivo, havia entre eles união. Os irmãos precisam viverem união, pois somente assim pode haver a plenitude do Espírito Santo (Sl.133:1,2). A comunhão com Deus e a comunhão entre os irmãos são os dois fatores que permitem a livre ação do Espírito Santo no meio do povo de Deus.

-É na união que temos a vida e a bênção para sempre (Sl.133:3). Não se pode falar em avivamento sem ques e tenha vida e a vida tem o seu lugar na união. O avivamento é a principal bênção que vem para a Igreja e o lugar para que a bênção venha e seja permanente é a união.

-Os discípulos estavam há dez ou sete dias em oração. Estavam no cenáculo perseverando em oração e súplicas (At.1:14). Não há condição para termos uma avivamento se não estivermos em oração, se não nos dedicarmos à vida de oração, à busca do poder de Deus. O verdadeiro servo de Jesus sabe que tem o dever deorar sempre e nunca desfalecer (Lv.18:1).

-Pelo que inferimos das Escrituras, Jesus deu a ordem para que os discípulos ficassem em Jerusalém para mais de quinhentos irmãos (Cf. I Co.15:6), mas o fato é que, sete ou dez dias depois, só estavam ali quase cento e vinte (Cf. At.1:15). Nem todos perseveraram em oração e súplicas, mas só os que perseveraram é quereceberam o revestimento de poder.

-Nos dias em que vivemos, é nítido o arrefecimento da vida de oração em muitos dos que cristãos se dizem ser e não é, portanto, surpreendente que o número de batizados no Espírito Santo tenha diminuído sensivelmente entre os se dizentes pentecostais. Urge voltarmos à perseverança da oração e súplicas!

-Outra circunstância interessante é que o revestimento de poder aconteceu “de repente”, ou seja, no tempo de Deus. O avivamento não pode ser programado pelos homens, é algo que vem do céu e, como Deus é atemporal, ocorre no “tempo de Deus”, não no tempo que queiramos ou pensemos.

-Hoje sabemos que o dia de Pentecostes era a data apropriada para o revestimento de poder, que a festa das semanas era tipo do derramamento do Espírito Santo, mas isto não era conhecido dos discípulos. Não tinha meles a mínima ideia de quando se daria o revestimento de poder, a não ser que isto ocorreria “não muito depois destes dias”, como disse o Senhor a eles (At.1:5).

-Eles tinham de se manter em oração e súplicas, no lugar determinado por Deus, em comunhão com o Senhor e com os irmãos para que recebessem a virtude do Espírito Santo. De igual maneira, temos de estar para receber a manifestação sobrenatural do Espírito, como também para sermos arrebatados pelo Senhor Jesus.

-“De repente” veio um som como de um vento veemente e veio do céu (At.2:2). O avivamento é algo quevem do céu, não é resultado de procedimentos humanos, de “estratégias”, “visões”, “revelações” ou“fórmulas” criadas pelos homens. Infelizmente, nos dias em que vivemos, não são poucos os “fabricantes deavivamento” que existem por aí, apenas enganando o povo e confundindo aqueles que têm o legítimo desejode intensificar as suas vidas espirituais.

-O avivamento trouxe a plenitude do Espírito Santo, que foi demonstrada mediante o falar em línguasestranhas, e, por isso mesmo, eles tiveram aquela visão de línguas repartidas como que de fogo que desciasobre cada um deles.

-Não há como termos um genuíno e autêntico avivamento se não houver o revestimento de poder, o batismono Espírito Santo, cuja evidência física é o falar em outras línguas, conforme concessão do próprio Espírito,sem a atuação do intelecto do que fala.

-Além da evidência do falar em outras línguas, temos que a mensagem que era ouvida pelos que foramatraídos por aquele barulho era sobre as grandezas de Deus. A atuação sobrenatural do Espírito Santo tem

como objetivo fazer as pessoas ouvir a respeito das grandezas de Deus. O Espírito Santo veio glorificar o Filho (Jo.16:14) e o Filho glorifica ao Pai (Jo.17:4).

-Portanto, o avivamento genuíno não tem outro papel senão o de anunciar o Evangelho, a salvação napessoa de Jesus Cristo, levar à evangelização, à conversão das almas. Muito feliz foi o teólogo GutierresFernandes Siqueira ao afirmar que “…o Batismo no Espírito Santo é um revestimento de poder paratestemunhar àqueles que não se converteram (Atos 1.8, 2.1-47). Não é à toa que a língua sempre está presenteno Batismo do Espírito Santo” (Revestidos de Poder: Uma Introdução À Teologia Pentecostal. 1 ed. Rio deJaneiro: CPAD, 2018. p 92 apud Por que cremos na doutrina da evidência inicial? Disponível em:https://teologiapentecostalcom.wordpress.com/2018/08/04/por-que-cremos-na-doutrina-da-evidencia-inicial/Acesso em 22 nov. 2022).

-A conversão de pessoas é fator indispensável para que se tenha um verdadeiro e genuíno avivamento.Charles Finney (1792-1875), um dos grandes nomes do Segundo Avivamento Norte-Americano e ele próprioum estudioso bíblico do avivamento, definia o avivamento como “renovação do primeiro amor dos cristãos,que resulta em despertamento e conversão de pecadores a Deus”.

-No dia de Pentecostes, foram salvas quase três mil pessoas, a demonstrar que este é o resultado de umgenuíno e verdadeiro avivamento (At.2:41).

-O avivamento leva a uma reação do maligno. Logo que a multidão se aglomerou nas imediações docenáculo, chegaram os “mensageiros do inimigo” para tentar desacreditar aquela cena, dizendo que osdiscípulos eram pessoas embriagadas (At.2:13).

-Entretanto, foi precisamente este comentário maldoso que serviu de mote para que Pedro iniciasse a pregaçãoe buscasse a salvação das almas, que é o objetivo do revestimento de poder (At.2:14,15).

-O revestimento de poder não só faz com que nossas línguas sejam controladas pelo Espírito Santo, dandouma mostra de total rendição ao Senhor, visto que a língua é o órgão mais rebelde ao senhorio divino (Cf.Tg.3:6-12), como também, de igual maneira nosso falar será totalmente controlado pelo Espírito Santoquando anunciarmos a salvação aos homens.

OBS: “…Assim como o Espírito nos dá o falar em línguas de maneira sobrenatural, o Senhor Jesus, da mesma forma, nos dará as palavras deanúncio do Seu evangelho mediante a Sua graciosa vontade. Jesus mesmo disse: “porque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir, nem contradizer todos quantos se vos opuserem” (Lucas 21.15).…” (SIQUEIRA, Gutierres Fernandes. A glossolalia: o sacramento pentecostal. Disponível em: https://teologiapentecostalcom.wordpress.com/2017/12/02/a-glossolalia-o-sacramento-pentecostal/ Acesso em 22 nov. 2022).

-Tanto assim é que vemos, nitidamente, a ação do Espírito Santo na pregação de Pedro, porquanto há aquiuma desenvoltura nos textos bíblicos, na sua interpretação e aplicação, que, evidentemente, ainda que possater um conteúdo decorrente dos ensinos do Senhor Jesus aos discípulos (e, neste aspecto, também se tem aquia ação do Espírito Santo, que é que nos faz lembrar o que foi dito por Jesus – Jo.14:26), é evidente iluminaçãosobrenatural para o anúncio do Evangelho.

-O avivamento é, portanto, uma situação em que se tem a nítida “oitiva da voz de Deus” aos salvos, numaintensificação da comunhão com o Senhor, que nos permite ser dirigidos pelo Espírito Santo, a fim deglorificarmos o nome do Senhor e levarmos as pessoas ao conhecimento da verdade.

-A sobrenaturalidade, portanto, tem um propósito bem claro, que é o de levar as pessoas a Cristo, deapresentar-lhes a salvação e este aspecto é assaz importante, porque nos faz distinguir o avivamento verdadeiroe genuíno de manifestações sobrenaturais que, por não terem este foco, apresentam-se como ações humanasou até mesmo demoníacas.

-O apóstolo Paulo, por exemplo, reproduzindo expressa fala do Espírito Santo, disse que, nos últimos tempos,haveria manifestações que levariam as pessoas a apostatar da fé, precisamente porque dariam ouvidos aespíritos enganadores e a doutrinas de demônios (I Tm.4:1).

-Porventura, não é o que se verificou na chamada “bênção de Toronto”, o verdadeiro berço da famigerada“nova unção” e tantas outras aberrações (“dente de ouro”, “cai-cai”, “unção de animais” etc.), como admitiuum de seus líderes, o pastor canadense Paul Gowdy, que diz que o resultado de três anos de tais manifestaçõespois praticamente a destruição da igreja local onde elas ocorriam?

OBS: Veja parte do relato de referido pastor, publicado no jornal O Mensageiro da Paz, n. 1468 (set/2007): “Depois de três anos fazendo partedo núcleo da bênção de Toronto nossa Igreja Vineyard em Scarborough ao leste de Toronto, praticamente se autodestruiu. Devoramo-nos uns aos outros com fofocas, falando mal pelas costas, com divisões, partidarismo, críticas ferrenhas uns dos outros, etc. Depois de três anos “inundados” orando por pessoas, sacudindo-nos, rolando no chão, rindo, rugindo, rosnando, latindo, ministrando na igreja Internacional do Aeroporto de Toronto, fazendo parte de sua equipe de oração, liderando o louvor e a adoração naquele local, praticamente vivendo ali, tornamo-nos os mais carnais, imaturos, e os crentes mais enganados que conheci. Lembro-me de haver dito ao meu amigo e pastor principal da igreja de Vineyard de Scaraborough em 1997 de que, desde que a bênção de Toronto chegou ficamos esfacelados. Ele concordou. Minha experiência é de que as manifestações dos dons espirituais de 1 Coríntios 12 eram mais comuns em nossas reuniões antes de janeiro de 1994 (quando começou a bênção de Toronto) do que durante o período da suposta visitação do Espírito Santo.…” (apud SANCHES, Ciro Zibordi. Bênção ou maldição de Toronto (2)? Disponível em: https://cirozibordi.blogspot.com/2007/08/aos-que-tm-dvidas-sobre-o-cai-cai-4.html Acesso em 23 nov. 2022).

-O avivamento produziu a conversão das pessoas. Elas tiveram seus corações compungidos pela palavrapregada (At.2:37), confessaram seus pecados e demonstraram publicamente o seu arrependimento e suamudança de vida acatando a ordem de Jesus e se batizando nas águas em nome do Pai, do Filho e do EspíritoSanto (At.2:41).

-O batismo nas águas não salva, mas é uma demonstração de salvação. É “…o testemunho público daexperiência anterior, o novo nascimento, mediante a qual o crente participa espiritualmente da morte e daressurreição de Cristo…” (DFAD, XII, p.126).

-O batismo nas águas mostra bem qual é o efeito do avivamento: o surgimento ou ressurgimento da novidadede vida, pela qual nós morremos para o mundo e o pecado e passamos a viver para Deus (Rm.6:1-4; Cl.2:12).

II – O AVIVAMENTO CONTÍNUO DA IGREJA

-Tendo visto o dia de Pentecostes como sendo o fato que, a exemplo do batismo de Jesus com relação aoministério público do Senhor, nos mostra as características do avivamento na vida da Igreja, prossigamos aobservar como se deu o avivamento na vida da Igreja, tal qual nos relatam as páginas do Novo Testamento,em especial o livro de Atos dos Apóstolos.

-Notemos que o avivamento ocorrido no dia de Pentecostes se manteve na igreja de Jerusalém. Estacontinuidade se deve à perseverança na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nasorações (At.2:42).

-O avivamento não é uma catarse, um “descarrego” emocional, de curta duração, uma momentânea epassageira descarga emocional, como muitos têm defendido por aí.

-Bem pelo contrário, o avivamento, embora seja, como afirma o teólogo John Stott (1921-2011), “umavisitação inteiramente sobrenatural do Espírito soberano de Deus, pela qual uma comunidade inteira tomaconsciência de Sua santa presença e é surpreendida por ela”, não é algo fugaz, um “fogo de palha”. Trata-sede uma chegada do Espírito Santo que gera um novo estado de coisas, uma nova situação de espiritualidade.

-Assim, a igreja nascente de Jerusalém, após o impacto do derramamento do Espírito Santo,permaneceu naquele patamar a que foi levada pelo revestimento de poder. A pregação de Pedrocontinuou mediante o ensino ininterrupto da Palavra de Deus, devidamente iluminado pelo Espírito Santo.Uma igreja avivada jamais despreza a meditação, o estudo e o cumprimento das Escrituras.

-O que vemos na igreja de Jerusalém são os seus membros em contínua reunião, tanto no templo quantonas casas, recebendo o ministério da palavra por parte dos apóstolos (At.5:42; 6:2,4). A igreja viviaaprendendo a Palavra de Deus e a anunciando aos que se haviam de salvar.

-Não há como se manter um avivamento sem que se dê primazia à Palavra. Veja que os apóstolos, ao notaremque as tarefas de assistência social estavam prejudicando o ministério da Palavra, trataram de criar o diaconato,para que não houvesse dano neste importantíssimo aspecto.

-O ensino e meditação das Escrituras, ademais, não se resumia apenas às reuniões coletivas da membresia,mas também ocorria nas casas, ou seja, as pessoas se dedicavam ao estudo e meditação da Palavra tambémem suas residências e isto numa época em que não tinham acesso a livros, ou seja, memorizavam os textos esobre eles “ruminavam” em casa.

-Por isso mesmo, muitos deles, quando iam anunciar o Evangelho, iam até mesmo a sinagogas, ondedisputavam com os judeus nas Escrituras, mostrando que Jesus era o Cristo (At.6:7,9; 9:20-22).

-Já podemos perceber, portanto, porque, em nossos dias, não encontramos mais o avivamento que caracterizouas duas primeiras gerações de nossa denominação. Pergunte aos membros mais antigos e eles certamente sereferirão a estudos bíblicos constantes nas igrejas locais, à grande frequência aos cultos de ensino e às EscolasBíblicas Dominicais, a uma constante meditação nas Escrituras, mesmo entre os analfabetos, aos cultosdomésticos e a uma intensa evangelização com base em textos e passagens bíblicos por parte de todos. É horade voltarmos a perseverar na doutrina dos apóstolos!

-O avivamento aproxima-nos dos céus, faz-nos mais intensamente ligados ao Senhor e, por isso mesmo, fazcom que reconheçamos a nossa condição de membros em particular do corpo de Cristo (I Co.12:27) e que aobra de Deus tem de ser feita coletivamente, pois necessitamos uns dos outros para nosso crescimentoespiritual e, deste modo, há uma intensificação na comunhão. Por termos comunhão mais intensa com Deus,temos comunhão igualmente mais intensa com os irmãos.

-Como afirma Charles Haddon Spurgeon (1834-1892), o príncipe dos pregadores britânicos: “…Quandofomos unidos por fé, a Cristo, fomos levados a tal comunhão plena com Ele que nos tornamos um com oSenhor, e Seus interesses e os nossos se tornaram mútuos e idênticos. Temos comunhão com Cristo em Seuamor. O que Ele ama nós amamos. Ele ama os santos — e nós também. Ama os pecadores — nós também.Ele ama a pobre raça humana que está perecendo e anela ver os desertos da Terra transformados em jardimdo Senhor — assim também nós.…” (Dia a dia com Spurgeon, manhã e noite, p.666).

-Na igreja de Jerusalém, havia um compartilhamento de vida. Todos os que criam estavam juntos etinham tudo em comum (At.2:44), estando juntos tanto no templo quanto nas casas. Passam a conviver, ouseja, a viver juntos, muitos até literalmente.

-Em nossos dias, entretanto, temos verificado, cada vez mais, que esta comunhão é substituída pela multidão,pelo auditório, ou seja, as pessoas se reúnem no mesmo lugar, muitas vezes em megatemplos, como umamultidão, ou seja, um aglomerado de pessoas que não têm qualquer vínculo entre si, que não se conhecem,nem sequer sabem os nomes umas das outras. São meros ajuntamentos que só trazem benefícios financeiros,como se verifica nos espetáculos e eventos midiáticos da atualidade.

-Não é, aliás, por outro motivo que muitos, com a pandemia do COVID-19 e as restrições de aglomeração,acabaram “percebendo” que tanto fazia estar em casa assistindo ao culto “on line” como estar fisicamente notemplo, uma vez que já se encontravam totalmente desvinculadas das demais pessoas e, por isso, com o finaldas restrições, preferiram continuar participando remotamente das atividades eclesiásticas.

-O avivamento faz-nos sentir que precisamos dos irmãos para termos crescimento espiritual, que não há comoalcançarmos a santificação almejada, de nos mantermos firmes e constantes na vida espiritual, sem que

tenhamos o auxílio dos outros salvos, sem que também ajudemos aos nossos irmãos. A salvação nos insere no corpo de Cristo, pois somos batizados em um Espírito, formando um corpo e temos bebido de um mesmo Espírito (I Co.12:13) e um corpo não é um só membro, mas muitos (I Co.12:14).

-Não querendo ser saudosista, mas, se formos também indagar aos membros mais antigos de nossadenominação, teremos a notícia de que esta convivência era uma realidade nas duas primeiras gerações dasAssembleias de Deus, não raras vezes os irmãos passando os domingos todos juntos na realização da obra doSenhor, até levando alimentação em marmitas para consumo na hora do almoço, pois todos faziam juntos aobra de Deus, sem falar na frequência de todos nas residências de todos.

-Em decorrência, os irmãos também perseveravam no partir do pão e aqui podemos tanto nos referir à ajudamaterial recíproca como na própria participação na ceia do Senhor, que é a declaração da comunhão com Deuse com a Igreja.

-Na igreja de Jerusalém, havia uma ação social relevante, com a ajuda aos necessitados, impedindo quetivessem carências materiais, assunto que era considerado um “importante negócio” (At.6:3).

-Chegou-se mesmo à venda de propriedades e fazendas por parte dos mais abastados, que repartiam taisrecursos com todos (At.2:45), atitude que demonstrava o desprendimento existente quanto aos bens terrestres,sentimento que é próprio de quem ama a Deus (Mt.6:24).

-Por fim, havia uma perseverança nas orações, ou seja, aquela mesma circunstância que levou aoderramamento do Espírito Santo foi mantida pelos que se converteram, havia uma vida de contínua oração eoavivamento se caracteriza por esta incessante busca do poder de Deus.

-A igreja de Jerusalém vivia em contínua oração, tanto no templo (At.3:1), quanto nas casas (At.12:12).

-A perseverança nas orações é outra necessidade para o avivamento. As reuniões de oração eram umaconstante na igreja de Jerusalém e nos cultos regulares a oração ocupava grande espaço. Não se podia ter outroresultado, senão a demonstração do poder de Deus (At.4:31;5:12)

-Esta busca incessante do poder de Deus leva, então, a outro patamar o avivamento, como se vê no livro deAtos dos Apóstolos, quando se tem o recebimento dos dons espirituais.

-Neste estado de avivamento, os apóstolos começam a manifestar os dons espirituais, como se verifica nocaso do coxo da porta Formosa do templo, quando Pedro e João manifestam os dons de curar (At.3:1-10).

-A distribuição dos dons espirituais pelo Espírito Santo entre os salvos (I Co.12:7-11) dá-se após orevestimento de poder e, quando se tem a perseverança na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partirdo pão e nas orações, cria-se o ambiente propício para que haja tal manifestação do Espírito, pois, por primeiro,é preciso conhecer a existência e o propósito destes dons; por segundo, que se entenda membro em particulardo corpo de Cristo e que se deve estar pronto a servir aos demais irmãos; por terceiro, deve-se cultivar acomunhão com Deus e com os irmãos e, por fim, se deve buscar cada vez mais o poder de Deus.

-A manifestação do Espírito Santo por intermédio dos dons, além de cumprir o propósito de consolar, edificare exortar a Igreja (I Co.14:3), fazendo-a sentir, de modo sobrenatural, a presença, o poder e a ciência doEspírito Santo como Aquele que está ao lado do povo de Deus até o arrebatamento (Jo.14:16,17), tem o papelde manter os crentes vivificados, com o foco na salvação das almas e na preparação para a eternidade.

-Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo diz que devemos procurar com zelo os dons espirituais (ICo.14:1), pois eles promovem a edificação da Igreja, o seu crescimento espiritual e manifestarão a presençade Deus entre nós, o que serve como um catalisador para a salvação das almas, pois os sinais, seguindo aosque creem, levam as pessoas a crer que Jesus é o Salvador (At.2:43; 4:4,29-31; 5:12; 6:8).

-Os dons espirituais não são os únicos dons que se manifestam num avivamento. Os dons ministeriaistambém se fazem perceber nitidamente num ambiente de avivamento. A igreja de Jerusalém não tinha sóos apóstolos, mas também evangelistas, como Estêvão (At.6:9,10); profetas, como Judas e Silas (At.15:32);pastores, como Tiago, o irmão do Senhor (At.15:13; Gl.2:9) e doutores, como Barnabé (At.4:36; 13:1).

-Diferente não foi a igreja de Antioquia, a primeira igreja gentílica, onde também havia profetas e doutores,como Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio, cireneu, Manaém e Saulo (At.13:1).

-Num ambiente de avivamento, os dons ministeriais proliferam e são plenamente exercidos, sem que sejamsufocados ou estigmatizados e o aperfeiçoamento dos santos é promovido para a obra do ministério, paraedificação do corpo de Cristo, fazendo com que todos se aproximem da medida da estatura completa de Cristo,impedindo que ventos de doutrina venham a abalar a vida espiritual da membresia, mas permitindo que, emamor, a igreja seja edificada e aumentada (Cf. Ef.4:11-16).

-De igual maneira, o avivamento produz a proliferação dos chamados dons assistenciais ou “dons deserviço” (Rm.12:6-8). Já vimos como se desenvolveu na igreja de Jerusalém o dom de repartição, comotambém o de misericórdia. A vida de plena comunhão também fez com que se exercesse o dom de ministério,como também se vê nitidamente o dom de ensino desempenhado. As lideranças bem desempenhavam o domde presidência e, por fim, a pregação do Evangelho em toda a cidade (Cf. At.5:28), dá mostra de que como seestava a exercer o dom assistencial da profecia.

-Evidentemente que o avivamento também faz com que se recrudesça a batalha espiritual. As portas doinferno sempre se levantam contra a Igreja. Assim como o inimigo logo veio tentar o Senhor Jesus, no iníciode Seu ministério, e se manteve contra Cristo durante todo o Seu ministério, o mesmo ocorre com a igreja.

-Jesus Cristo já dissera aos discípulos que o mundo os aborreceria (Jo.15:18-21), como também que, nomundo, teriam aflições (Jo.16:13). Deste modo, não tardou que se iniciasse a perseguição à igreja emJerusalém, que acabou pela própria expulsão dos crentes de lá, com exceção dos apóstolos (At.8:1).

-A perseguição contra os cristãos em Jerusalém e Judeia manteve-se até a destruição de Jerusalém e do templono ano 70, como revelam tanto as Escrituras (At.9:1,2; 12:1,2; I Ts.2:14,15; Hb.12:3,4) como a própriahistória, como nos dá conta Flávio Josefo que narra, em suas Antiguidades Judaicas, o martírio de Tiago, oirmão do Senhor, então pastor de Jerusalém, o que também é repetido por Eusébio de Cesareia em sua HistóriaEclesiástica.

OBS: “…Anano, um dos de que nós falamos agora, era homem ousado e empreendedor, da seita dos saduceus, que, como dissemos, são os maisseveros de todos judeus e os mais rigorosos nos julgamentos. Ele aproveitou o tempo da morte de Festo, e Albino ainda não tinha chegado, para reunir um conselho, diante do qual fez comparecer Tiago, irmão de Jesus, chamado Cristo, e alguns outros; acusou-os de terem desobedecido às leis e os condenou ao apedrejamento. Esse ato desagradou muito a todos os habitantes de Jerusalém, que eram piedosos e tinham verdadeiro amor pela observância de nossas leis.…” (JOSEFO, Flávio. Antiguidades Judaicas XX, cap.8, 856. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.2, p.203).

“...Quando Paulo apelou a César e foi enviado a Roma por Festo, os judeus, desapontados em sua esperança de vê-lo atingido pela trama por eles armada, voltam-se contra Tiago, o irmão do Senhor, a quem os apóstolos haviam confiado o assento episcopal em Jerusalém. Suas medidas nefastas contra ele foram as seguintes: Eles o conduziram para um lugar público e exigiram que renunciasse à fé em Cristo diante de todo o povo, mas contrariando as expectativas de todos, em voz firme e muito acima do que esperavam, declarou-se por completo diante de toda a multidão e confessou que Jesus Cristo era o Filho de Deus, nosso Salvador e Senhor. Não conseguindo mais suportar o testemunho daquele que, por causa do elevado nível que tinha atingido na virtude e na piedade, era considerado o mais justo dos homens, mataram-no, usando como ensejo a anarquia reinante, já que Festo havia morrido na Judeia, deixando o distrito sem governante nem líder. Ora, quanto ao modo pelo qual Tiago morreu, já foi declarado pelas palavras de Clemente: que ele foi lançado de uma ala do templo e espancado com um malho até a morte.…” (CESAREIA, Eusébio de. História eclesiástica. Trad. de Lucy Iamakami, livro 2, capítulo XXIII, p.72).

-A perseguição é uma característica que acompanha a igreja e o avivamento somente a exacerba, poisuma igreja avivada é mais atacada pelo inimigo, seja porque, tendo mais condições de resistir, há umapermissão divina para que tal ocorra, seja porque os próprios cristãos atacam com mais veemência o maligno,pois têm a missão de abrir os olhos das pessoas e das trevas as converterem à luz e do poder de Satanás aDeus, a fim de que recebam a remissão dos pecados e sorte entre os santificados pela fé em Jesus (At.26:18).

-Outro problema que se verifica em meio ao avivamento é o surgimento de falsos ensinos que procuramtumultuar a vida espiritual da membresia. Na igreja de Jerusalém, alguns membros que tinham sido fariseuscomeçaram a defender posturas judaizantes, querendo que os cristãos gentios se circuncidassem eobservassem a lei de Moisés (At.15:5), causando grande controvérsia que exigiu a reunião de todas aslideranças da igreja para definirem a questão (At.15:6).

-O Senhor permite que surjam heresias no meio do povo de Deus para que haja a manifestação doscrentes sinceros (I Co.11:19), até porque, da análise das questões que exsurgem, haja, por parte dos crentes,devidamente iluminados e dirigidos pelo Espírito Santo, uma melhor compreensão das Escrituras (Cf.At.15:28,29).

-Estes dois fatores negativos sempre acompanham o avivamento, mas, como Deus sempre faz o bem, sãocircunstâncias que, em vez de enfraquecerem, fortalecem os salvos e lhes dão forças para prosseguir na suaperegrinação terrena rumo aos céus.

A FELICIDADE DOS HUMILDES DE ESPÍRITO

 

 Texto Base: Mateus 5:1-3:

1 Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos;

2 e ele passou a ensiná-los, dizendo:

3 Bem-aventurados os humildes [pobres –ARC] de espírito, porque deles é o reino dos céus.

Estas palavras de Jesus fazem parte das oito Bem-aventuranças proferidas por Ele por ocasião de seu Sermão do Monte, em Cafarnaum, logo no início de seu Ministério terreno.

As Bem-aventuranças nos falam da nossa relação com Deus, com o próximo e com nós mesmos. É a carta magna da ética crista. É o mapa seguro que nos ensina o caminho de uma vida que agrada a Deus e glorifica seu nome. Elas esboçam o perfil daqueles que nasceram de novo e que foram transportados de um reino de trevas para o Reino da Luz.

As bem-aventuranças são um roteiro seguro para aquele que busca ser feliz. O que o mundo promete e não consegue dar, Jesus oferece gratuitamente.

Jesus é enfático ao afirmar que o cristão é feliz, muito feliz! Sua felicidade é pura, profunda e eterna, e é ultracircunstancial. O mundo não pode concedê-la nem retirá-la. Ela começa na terra e continua no céu por toda a eternidade.

São oito bem-aventuranças, mas quero apenas falar de uma: “Bem-aventurado os humildes de espírito”.

O homem é um ser obstinado na busca do prazer. O hedonismo ensina que o prazer é o fim último do ser humano. Essa filosofia parece reger a humanidade. A grande questão é onde está esse prazer: nas coisas externas? No dinheiro? No sucesso? Na cultura? No sexo? Na diversão? Nas viagens psicodélicas? Salomão buscou a felicidade na maioria dessas coisas, e viu que tudo era vaidade (Ec.2:1-10).

Hoje, as indústrias farmacêuticas gastam milhões de dólares em remédios que buscam aliviar o estresse e aplacar a dor dos infelizes. As agências de turismo anunciam pacotes de viagens para lugares encantadores prometendo felicidade aos seus clientes.

A poderosa indústria do entretenimento põe diante de nós uma infinidade de opções visando acalentar a perturbada alma humana. No entanto, esses expedientes não logram alcançar seu objetivo. O verdadeiro prazer está em Deus; é na presença de Deus que existem delícias eternas.

O QUE É E ONDE PODEMOS ENCONTRAR A VERDADEIRA FELICIDADE?

-Em primeiro lugara verdadeira felicidade é abraçar o que o mundo repudia e repudiar o que o mundo aplaude.

Os valores do Reino de Deus são como uma pirâmide invertida. Jesus diz que feliz é o pobre, o que chora, o manso, o puro, o perseguido. Para o mundo isto é um grande paradoxo. “O mundo pensa que feliz é aquele que está no pináculo, no lugar mais alto, mas Cristo pronuncia como bem-aventurado aquele que está no VALE”.

Jesus diz que bem-aventurado é o pobre de espírito, e não a pessoa autossuficiente, arrogante e soberba.

Jesus diz que bem-aventurado é o que chora, e não aquele que é durão e insensível.

Jesus diz que bem-aventurado é o manso, o que abre mão dos seus direitos, e não o valentão que se envolve em brigas intermináveis.

Jesus diz que bem-aventurado é o pacificador, aquele que não apenas evita contendas, mas busca apaziguar os ânimos exaltados dos outros.

Jesus diz que bem-aventurado é o puro de coração, e não aquele que se banqueteia com todos os prazeres do mundo.

Jesus diz que bem-aventurado é o perseguido por causa da justiça, e não aquele que procura levar vantagem em tudo.

Jesus diz que aquele que ganha a sua vida a perde, mas o que a perde, esse é quem a ganha.

Jesus diz que o humilde é que será exaltado.

-Em segundo lugar, a verdadeira felicidade não está nas coisas externas, mas nas realidades internas.

Jesus não disse que bem-aventurados são os ricos. A verdadeira felicidade não está centrada em coisas externas. As riquezas não satisfazem. Deus colocou a eternidade no coração do homem. Nem todo o ouro da terra poderia preencher o vazio da nossa alma.

A verdadeira felicidade não está centrada na posse das bênçãos, mas se acha na fruição da intimidade com o abençoador. Para alcançar a felicidade, não basta tomar posse das bênçãos, mas desfrutar essas bênçãos. Um homem pode morar num palácio e não se deleitar nele. Pode ter o domínio de um reino e não ter paz na alma. Jesus falou de um homem que derrubou seus celeiros para construir outros novos e maiores, e estocar abundante provisão, dizendo para sua própria alma para comer e regalar-se. Mas, como coisas não satisfazem o vazio da alma, Jesus chamou esse homem rico de louco.

A felicidade não está no topo da pirâmide social, nem mesmo no prestígio político e econômico. Quando Davi pecou contra Deus e adulterou com Bate-Seba, continuou no trono, mas a mão de Deus pesava sobre ele de dia e de noite. Seu vigor se tornou sequidão de estio. A alegria fugiu da sua face, e a paz foi embora do seu coração.

A verdadeira felicidade é deleitar-se em Deus, é alegrar-se com o sorriso de Deus, é beber dos rios de Seus prazeres (Sl.36:8).

A verdadeira felicidade consiste em desfrutar da plenitude de Deus: Ele é sol, escudo, herança, fonte, rocha, alegria, esperança.

A verdadeira felicidade consiste em tomar posse da bem-aventurança agora e na eternidade.

-Em terceiro lugar, a verdadeira felicidade não é apenas uma promessa para o futuro, mas também, e sobretudo, uma realidade para o presente.

Jesus não disse: Bem-aventurados serão os pobres de espírito; Ele disse: Bem-aventurados são os pobres de espírito. Os crentes não serão felizes apenas quando chegarem ao céu; eles já são felizes agora. Os crentes são felizes antes mesmo de serem coroados. São felizes não apenas na glória, mas a caminho da glória.

A VERDADEIRA FELICIDADE ESTÁ FUNDAMENTADA NO SER E NÃO NO TER

- Em primeiro lugar, o que não significa ser humilde [pobre] de espírito.

Há muita confusão acerca do termo "pobre de espírito”. Há quatro realidades que não expressam o que é ser pobre de espírito:

a) não significa pobreza financeiro. Francisco de Assis foi o patrono daqueles que pensam que renunciar às riquezas financeiras para viver na pobreza ou em um monastério dava crédito ao homem diante de Deus. Tal opinião violenta as Escrituras. A pobreza em si não é um bem, da mesma forma que a riqueza em si não é um mal. Uma pessoa pode ser pobre financeiramente e não ser pobre de espírito. Concordo com Martyn Loyd-Jones quando diz: "Não há mérito nem vantagem na nobreza. A pobreza não serve de garantia da espiritualidade”. A pobreza bem-aventurada é a do "pobre de espírito", a do espírito que reconhece sua própria falta de recursos para enfrentar as exigências da vida e encontrar ajuda e fortaleza em Deus.

b) não significa ter uma vida espiritual pobre. Jesus não está elogiando aqueles que são espiritualmente pobres, descuidados com a vida espiritual. Ser pobre em santidade, verdade, fé e amor é uma grande tragédia. Jesus disse à igreja de Laodicéia: "Sei que tu és pobre, miserável, cego e nu" (Ap.3:17).

Vivemos em uma época faminta de riquezas terrenas e sem apetite das riquezas espirituais. A maioria dos crentes vive uma vida espiritual rasa; são crentes fracos, tímidos, vulneráveis, espiritualmente trôpegos.

c) não significa pobreza de autoestima. Jesus não está falando que as pessoas que pensam menos a respeito de si mesmas são felizes. Baixa autoestima não é um bem, mas um mal. Há muitas pessoas realmente infelizes que vivem esmagadas pelo complexo de inferioridade, com as emoções confusas e a alma ferida por uma autoestima arranhada pelos revezes da vida.

Ser pobre ou humilde de espírito significa ter uma opinião adequada a respeito de si mesmo (Rm.12:3).

Ser "pobre de espírito" não é uma falsa humildade, como a pessoa que diz: "não lenho valor algum, não sou capaz de fazer nada". Os espias de Israel, que foram avistar a Terra Prometida, ao ver os gigantes com suas cidades fortificadas, olharam para si mesmos e disseram: “Somos como gafanhotos!”. Eles viram a si mesmos como insetos, como gafanhotos. Eles foram derrotados não pelas circunstâncias, mas pelos seus próprios sentimentos.

- Em segundo lugar, o que significa ser pobre de espírito?

a) Ser pobre de espírito é a base para as outras virtudes. Se Jesus começasse com a pureza de coração, não haveria esperança para nós. Primeiro precisamos estar vazios, para depois ser cheios. Não podemos ser cheios de Deus, enquanto não formos esvaziados de nós mesmos. Esta virtude é a raiz, as outras são os frutos.

Uma pessoa não pode chorar pelos seus pecados até saber que não tem méritos diante de Deus.

Você jamais sentirá fome e sede de justiça a não ser que saiba que carece totalmente da graça. Alguém disse que esta bem-aventurança é o rico solo em que as outras graças crescem e florescem. O topo dos montes normalmente é estéril porque é lavado pelas chuvas; mas o vale é fértil porque é para ali que as chuvas levam os mais ricos nutrientes. De modo semelhante, o coração soberbo é estéril. Nele nenhuma graça pode crescer; mas o coração humilde é solo fértil onde frutificam as mais sublimes virtudes cristãs.

b) Ser pobre de espírito é reconhecer nossa total dependência de Deus. Feliz é o homem que reconhece sua total carência e coloca a sua confiança em Deus. No hebraico, a palavra "pobre” designava o homem humilde que põe toda sua confiança em Deus.

Feliz é o homem que reconhece que o dinheiro, o poder e a força não significam nada, mas Deus significa tudo.

Feliz é o homem que sabe que Deus é o único que pode oferecer-lhe ajuda, esperança e fortaleza. Ele sabe que as coisas materiais nada significam, mas Deus significa tudo para ele. Martinho Lutero, o monge agostiniano, quando jovem, entrou para um monastério a fim de conquistar a salvação por meio de sua piedade, mas, só depois que se esvaziou de sua vã confiança em si mesmo, correu para os braços de Jesus a fim de receber a salvação.

Ser pobre de espírito é agir como o publicano: "Senhor, compadece-te de mim, pecador". João Calvino disse: "Só aquele que, em si mesmo, foi reduzido a nada, e repousa na misericórdia de Deus, é pobre de espírito".

Moisés disse: "Senhor, quem sou eu, eu não sei falar".

O profeta Isaias clamou: "Ai de mim, estou perdido...''.

O apóstolo Pedro gritou: "Senhor, afasta-te de mim, porque sou pecador".

O apóstolo Paulo clamou: "Miserável homem que eu sou".

Portanto, ser pobre de espírito é expor suas feridas ao óleo do divino médico. Se uma pessoa não é pobre de espirito, não acha sabor no pão do céu, não sente sede da água da vida; ela pisará nas riquezas da graça e jamais desejará a redenção ou terá prazer na santificação.

- Em terceiro lugar, por que devemos ser pobre de espírito?

Destacamos três pontos:

a) Enquanto não formos pobres de espírito, jamais Cristo será precioso para nós.  Enquanto não enxergarmos nossa própria miséria, jamais veremos a riqueza que temos em Cristo. Enquanto não percebermos que estamos perdidos, jamais buscaremos refúgio em Cristo. Enquanto não percebermos a feiura do nosso pecado, jamais desejaremos o perdão e a graça de Cristo.

b) Enquanto não formos pobres de espírito, não estaremos prontos para recebermos a graça de Deus. Aqueles que abrigam sentimentos de autossuficiência e se sentem saciados jamais terão sede de Deus. Aqueles que se sentem cheios de si mesmos jamais poderão ser cheios de Deus. Aqueles que pensam que estão sãos jamais buscarão o Médico.  Aqueles que pensam que têm méritos jamais desejarão ser cobertos pela justiça de Cristo. O evangelho é para pecadores. As boas novas de salvação só podem ser iguarias apetitosas para os famintos. Só anelaremos as riquezas de Deus depois de constatarmos nossa absoluta pobreza.

c) Enquanto não formos pobres de espírito, não poderemos ir para o céu. O Reino de Deus pertence aos pobres de espírito. A porta do céu é estreita e aqueles que se consideram grandes aos seus próprios olhos não podem entrar lá. John Stott explica esse princípio com clareza:

“O reino é concedido ao pobre, não ao rico; ao frágil, não ao poderoso; às criancinhas bastante humildes para aceitá-lo; não aos soldados que se vangloriam de poder obtê-lo através de sua própria bravura. Nos tempos de nosso Senhor, quem entrou no reino não foram os fariseus, que se consideravam ricos, tão ricos em méritos, que agradeciam a Deus por seus predicados; nem os zelotes, que sonhavam com o estabelecimento do reino com sangue e espada; mas foram os publicanos e as prostituías, o refugo da sociedade humana, que sabiam que eram tão pobres, que nada tinham para oferecer nem para receber. Tudo o que podiam fazer era clamar pela misericórdia de Deus; e ele ouviu o seu clamor”.

- Em quarto lugar, como podemos saber que somos pobres de espírito?

a) quando toda a base da nossa aceitação por Deus está nos méritos de Cristo. Uma pessoa pobre de espirito não tem nada que exigir, merecer, reclamar. Ela se vê desamparada até refugiar-se em Cristo. Não tem descanso para a alma até estar firmada na rocha que é Cristo. Não busca nenhum outro tesouro ou experiência além de Cristo. Está plenamente satisfeita com Cristo.

b) quando o nosso coração está desprovido de toda a vaidade. Jó, mesmo sendo um homem piedoso, que se desviava do mal, suportou provas tremendas sem negociar sua fidelidade a Deus. Ele disse: "Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza" (Jó 42:6). Quanto mais graça recebemos, mais humildes nos tornamos, porque mais devedores reconhecemos.

A VERDADEIRA FELICIDADE É UMA RECOMPENSA PARA O PRESENTE E PARA O FUTURO.

“Bem-aventurados os humildes [pobres –ARC] de espírito, porque deles é o reino dos céus”.

A verdadeira felicidade deve ser desfrutada no tempo e na eternidade, na terra e no céu. Vejamos dois pontos:

- Em primeiro lugar, a felicidade do Reino de Deus é algo presente e não apenas futuro.

Jesus disse: "Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus" (Mt.5:3). Ele não disse: "porque deles será o Reino dos céus"; mas, é o Reino dos Céus. A felicidade cristã não é para ser desfrutada apenas no céu, mas agora, a caminho do céu. O reino é graça e glória. Graça agora, glória no futuro.

O povo de Deus deve ser o povo mais feliz da terra - "Feliz és tu, ó Israel! Quem é como tu? Povo salvo pelo Senhor, escudo que te socorre, espada que te dá alteza" (Dt.33:29).

A pobreza de espírito está conectada com a posse de um Reino mais glorioso do que todos os tronos da terra.

A pobreza de espírito é o pórtico do templo de todas as demais bênçãos. Enfrentamos lutas, mas já estamos abençoados com toda sorte de bênçãos em Cristo.

O crente tem dois endereços: um na terra e outro no reino espiritual; geograficamente, ele está em algum ponto da terra; espiritualmente, ele está em Cristo.

- Em segundo lugar, a nossa felicidade será completa quando tomarmos posse definitiva do Reino, no futuro.

Os salvos não apenas vão entrar na posse do Reino, mas reinarão com o Rei da glória. Estaremos não apenas no céu, mas também nos tronos. Teremos uma coroa e vestes reais, e receberemos um trono. Está escrito: “Ao que vencer, lhe concederei que se assente comigo no meu trono, assim como eu venci e me assentei com meu Pai no seu trono” (Ap.3:21).

O Reino dos céus excede ao esplendor dos maiores reinos do mundo, porque o fundador desse Reino é o próprio Deus. Esse Reino é mais rico do que todas as riquezas de todos os reinos. Tudo o que é do Pai é nosso. Somos os herdeiros de todas as coisas.

O Reino dos céus também excede todos os demais em perfeição. As glórias de Salomão nada serão diante do Reino dos céus. As glórias dos palácios dos xeques árabes serão palhoças.

O Reino dos céus excede também todos os outros reinos em segurança, beleza e riqueza. Nada contaminado entrará lá, nenhuma maldição atravessará os portões da Cidade Santa.

O Reino dos céus excede todos os outros reinos em estabilidade. Os reinos do mundo caíram e cairão, mas o Reino de Deus permanecerá para sempre.

O crente mais pobre é mais rico do que os reis mais opulentos da terra.

Temos nós andado de modo digno desse Reino?

Prezado ouvinte, se você é pobre (humilde) de espírito, você é a pessoa mais feliz da terra. Pense nisso!