O NOVO NASCIMENTO


 Texto Base: João 3:1-9,16

“Jesus respondeu e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus” (João 3:3).

João 3:

1. E havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, príncipe dos judeus.

2. Este foi ter de noite com Jesus e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.

3.Jesus respondeu e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus.

4.Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura, pode tornar a entrar no ventre de sua mãe e nascer?

5.Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus.

6. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito,

7. Não te maravilhes de ter dito: Necessário vos é nascer de novo.

8. O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem,

nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.

9. Nicodemos respondeu e disse-lhe: Como pode ser isso?

16.Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

INTRODUÇÃO

Nesta segunda lição, estudaremos um dos temas centrais do Evangelho de João: o Novo Nascimento. Nosso texto base, João 3:1-9, apresenta um profundo diálogo entre Jesus e Nicodemos, um fariseu e mestre da Lei, que buscava compreender os mistérios do Reino de Deus. Nessa conversa, Jesus declara de forma categórica: "Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus" (João 3:3), destacando que o Novo Nascimento é uma exigência fundamental para a vida eterna.

A Bíblia define esse processo como Regeneração, uma transformação operada pelo Espírito Santo na vida do pecador arrependido. Diferente de uma mudança superficial ou moral, a Regeneração é uma obra espiritual e sobrenatural, onde o indivíduo recebe uma nova natureza e um novo coração, capacitado a viver em comunhão com Deus.

O Novo Nascimento pode ser descrito de diversas maneiras como, por exemplos: “regeneração’; “transformação de vida de dentro para fora”; “nascimento espiritual”; “recriação interior da vida espiritual de uma pessoa”. No entanto, sua essência reside no fato de que ninguém pode entrar no Reino de Deus sem experimentar essa profunda transformação interior.

Ao longo desta lição, exploraremos o significado, a necessidade e os efeitos do Novo Nascimento, compreendendo que não se trata de uma escolha humana ou um mérito pessoal, mas da ação soberana e graciosa do Espírito Santo na vida do crente. Que este estudo nos leve a valorizar e buscar essa experiência transformadora, que nos conduz a uma vida de intimidade com Deus e certeza da salvação.

I. JESUS E NICODEMOS

1. Quem era Nicodemos? 

Nicodemos era um fariseu e um dos principais líderes religiosos de Israel, membro do Sinédrio, o conselho supremo dos judeus (João 3:1). Sua posição indicava que ele possuía grande conhecimento da Lei e das tradições judaicas, além de exercer influência entre o povo. No entanto, apesar de sua erudição e status, ele reconheceu em Jesus um mestre vindo da parte de Deus, o que o levou a buscá-Lo para obter respostas sobre a vida espiritual.

O fato de Nicodemos procurar Jesus à noite (João 3:2) pode indicar tanto um desejo de evitar a exposição pública quanto um símbolo de sua própria condição espiritual: ele estava em trevas e precisava da luz de Cristo. Sua conversa com Jesus revelou sua dificuldade em compreender a necessidade do Novo Nascimento, pois, como fariseu, ele estava acostumado a associar a salvação ao cumprimento da Lei e das tradições religiosas.

Mais tarde, Nicodemos aparece defendendo Jesus contra a injustiça dos líderes judeus (João 7:50,51) e, após a crucificação, participa de Seu sepultamento, trazendo especiarias para ungir o corpo do Senhor (João 19:39). Essas passagens sugerem que Nicodemos passou por uma jornada de fé, saindo da dúvida para um reconhecimento progressivo de Cristo como o Messias.

2. O reconhecimento de Nicodemos sobre Jesus como Mestre

“Este foi ter de noite com Jesus e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele” (João 3:2).

O relato deste texto mostra que Nicodemos reconhecia a autoridade de Jesus ao chamá-Lo de "Rabi", um título respeitoso utilizado para mestres da Lei. Esse reconhecimento sugere que Nicodemos via em Jesus alguém com profundo conhecimento espiritual, cuja origem divina era confirmada pelos sinais e milagres que realizava. Ao afirmar: "Rabi, bem sabemos que és Mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele", Nicodemos expressa uma convicção inicial de que Jesus não era um mestre comum, mas alguém que possuía uma missão divina.

Esse reconhecimento, no entanto, ainda era limitado. Nicodemos via Jesus como um mestre e realizador de milagres, mas não compreendia plenamente Sua identidade como o Messias e Filho de Deus. Sua visão estava condicionada à expectativa judaica de um líder enviado por Deus para operar maravilhas, sem perceber que os sinais apontavam para uma realidade espiritual muito mais profunda: o Reino de Deus e a necessidade do Novo Nascimento.

Além disso, é interessante notar que Nicodemos usa o pronome "sabemos", sugerindo que outros líderes religiosos também percebiam algo especial em Jesus, mas temiam reconhecê-lo publicamente. Seu interesse em compreender os ensinamentos de Cristo revela uma busca sincera, porém, limitada pelo entendimento humano e pela tradição religiosa.

A resposta de Jesus, ao invés de se deter no reconhecimento de Nicodemos, aponta para a necessidade de transformação espiritual. Ele não elogia a percepção do fariseu, mas introduz um conceito que desafia sua compreensão: o Novo Nascimento. Isso mostra que, mais do que um simples reconhecimento intelectual, o que Jesus deseja é uma experiência real e transformadora na vida daqueles que O buscam.

3. O diálogo entre Jesus e Nicodemos

A partir de João 3:3, Jesus introduz um conceito essencial para a salvação: "Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus". Esta afirmação deixou Nicodemos perplexo, pois sua mentalidade estava fortemente enraizada no cumprimento da Lei e na herança judaica como garantias de pertencimento ao Reino de Deus. Ele interpretou as palavras de Jesus de maneira literal, perguntando: "Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe e nascer?" (João 3:4). Isso demonstra sua dificuldade em compreender a realidade espiritual do Novo Nascimento.

Jesus, então, amplia a explicação ao afirmar: "Aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus" (João 3:5). A menção à "água" e ao "Espírito" é fundamental para entender o processo da Regeneração. No contexto bíblico, a água pode simbolizar tanto a purificação que vem do arrependimento (como pregado por João Batista – Mateus 3:11) quanto a própria Palavra de Deus (Efésios 5:26), que conduz à santificação. Já o Espírito representa a obra divina que transforma o coração do homem, tornando-o uma nova criação em Cristo (Tito 3:5).

Dessa forma, o Novo Nascimento não se trata de uma reforma exterior ou de um esforço humano, mas de uma transformação radical operada pelo Espírito Santo. A resposta de Jesus evidencia que ninguém pode entrar no Reino de Deus por mérito próprio, linhagem ou práticas religiosas, mas apenas através de uma mudança espiritual profunda e sobrenatural.

Jesus conclui essa explicação ao destacar a diferença entre o nascimento natural e o espiritual: "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito" (João 3:6). Isso demonstra que o Novo Nascimento não se refere a uma experiência física, mas a uma renovação interior realizada pelo Espírito Santo, tornando o pecador uma nova criatura apta a viver segundo os princípios do Reino de Deus (2Co.5:17).

O diálogo entre Jesus e Nicodemos nos ensina que a salvação não é fruto de conhecimento religioso ou boas obras, mas sim de uma experiência transformadora com Deus, onde o Espírito Santo renova a vida do crente e o capacita a viver segundo a vontade divina.

Sinopse I – JESUS E NICODEMOS

O encontro entre Jesus e Nicodemos (João 3:1-9) revela uma das mais profundas verdades sobre a Regeneração Espiritual. Nicodemos, um fariseu e membro do Sinédrio, reconhecia Jesus como um mestre vindo de Deus devido aos sinais que realizava. Entretanto, sua compreensão era limitada, pois via Jesus apenas como um grande mestre e não como o próprio Filho de Deus.

No diálogo, Jesus apresenta um conceito fundamental: o Novo Nascimento. Ele declara que ninguém pode ver o Reino de Deus sem nascer de novo, deixando Nicodemos confuso, pois sua visão era pautada na tradição judaica e no mérito religioso. Jesus então esclarece que esse nascimento não é físico, mas espiritual, operado pela água e pelo Espírito Santo. A água simboliza a purificação e o arrependimento, enquanto o Espírito representa a transformação interior que concede ao crente uma nova vida em Deus.

Por fim, Jesus diferencia o nascimento natural do nascimento espiritual, deixando claro que apenas a obra do Espírito Santo pode tornar o homem apto a entrar no Reino de Deus. Esse diálogo ensina que a salvação não é adquirida por conhecimento religioso ou boas obras, mas sim por uma experiência real de transformação espiritual, concedida pela graça divina.

II. O NOVO NASCIMENTO: A OBRA DE REGENERAÇÃO

1. O Novo Nascimento

O Novo Nascimento é o fundamento da Regeneração espiritual, um ato sobrenatural operado pelo Espírito Santo, pelo qual o pecador é transformado em uma nova criatura e se torna filho de Deus (2Co.5:17; João 1:12). Essa transformação não é meramente simbólica, mas real e essencial para que o homem tenha comunhão com Deus e entre no Reino dos Céus.

A Bíblia apresenta o Novo Nascimento como uma obra profunda e completa, que concede ao homem:

·         Uma vida renovada (1João 3:13,14). O regenerado deixa as trevas e passa a viver em amor, evidenciando sua nova condição espiritual.

·         Uma mente transformada (Rm.12:2). O novo nascimento muda a forma de pensar, levando o crente a viver segundo a vontade de Deus.

·         Uma nova natureza (Tg.1:18,21)O pecador, que possui uma natureza carnal, corrompida e caída em pecado, passa a ter uma nova natureza, agora purificada e espiritualmente restaurada.

·         Uma nova identidade em Cristo (2Co.5:17). O velho homem é deixado para trás, e uma nova vida começa.

·         Um chamado à santidade (1Co.6:20). O regenerado pertence a Deus e deve glorificá-lo em tudo.

Entretanto, na cultura pós-moderna, a doutrina da Regeneração é frequentemente rejeitada. O pecado é relativizado e a necessidade de transformação espiritual é ignorada. Jesus é reduzido a um mero filósofo ou mestre moral, sem reconhecimento de Sua missão redentora. Esse pensamento nega a necessidade do Novo Nascimento, afastando as pessoas da verdade do Evangelho.

A Regeneração não pode ser alcançada por esforços humanos ou boas obras. Ela é um milagre realizado exclusivamente pelo Espírito Santo (Tt.3:5). Somente pela graça de Deus, mediante a fé em Cristo, o homem pode nascer de novo e ter uma nova vida em Deus.

2. A Regeneração como obra exclusiva de Deus

A Regeneração é uma obra sobrenatural de Deus, operada pelo Espírito Santo, que transforma radicalmente o coração do pecador, concedendo-lhe nova vida espiritual. Esse processo não é fruto do esforço humano, mas uma ação exclusiva da graça divina, que restaura a comunhão entre Deus e o homem.

O Novo Testamento enfatiza que a regeneração não depende de méritos pessoais, mas da vontade soberana de Deus. Tiago declara: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto”; “segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade” (Tg.1:17,18).

Isso significa que a Regeneração não é apenas um convite à mudança moral, mas sim um novo nascimento espiritual, no qual o Espírito Santo transforma a natureza humana, tornando o pecador uma nova criatura (2Co 5:17).

A Regeneração ocorre quando o pecador reconhece sua condição caída e se rende a Cristo. O Espírito Santo age poderosamente, convencendo do pecado, do juízo e da justiça (João 16:8), levando o pecador ao arrependimento genuíno e à fé no Evangelho.

Ø  Convencer do pecado. Se refere à ação do Espírito Santo em revelar ao ser humano a realidade do pecado. O Espírito Santo mostra a verdadeira natureza do pecado, que é a separação de Deus e a desobediência à Sua vontade. Ele ajuda as pessoas a reconhecerem seus erros e a necessidade de arrependimento.

Ø  Convencer da justiça. O Espírito Santo revela a justiça de Deus, que é manifestada através de Jesus Cristo. Ele mostra que a justiça não é apenas um conjunto de regras, mas uma relação correta com Deus, alcançada através da fé em Jesus. O Espírito Santo também demonstra que Jesus é o padrão perfeito de justiça.

Ø  Convencer do juízo. Isso significa que o Espírito Santo alerta sobre o julgamento final de Deus. Ele lembra que haverá um dia em que todos serão julgados por suas ações. O Espírito Santo também mostra que o príncipe deste mundo (Satanás) já está condenado, e que a vitória final pertence a Deus.

Dessa forma, a regeneração não é um mero ajuste de comportamento, mas uma renovação profunda e permanente, na qual Deus concede ao homem um novo coração e um novo espírito (Ez.36:26), capacitando-o a viver em santidade e obediência à vontade divina.

3. A necessidade da Regeneração do pecador

Segundo o apóstolo Paulo, todos os seres humanos pecaram (Rm.5:12). Assim, surge a necessidade de cada indivíduo passar pela experiência da Regeneração (Rm.5:19).

Segundo o Rev. Hernandes Dias Lopes, o ser humano precisa nascer de novo:

a) Porque a inclinação do seu coração é contra Deus. A inclinação da carne do ser humano é inimizade contra Deus. Sua natureza é pecaminosa e totalmente caída. Os maus desígnios vêm do seu coração, mas não o desejo de ser salvo. O ser humano não pode mudar a si mesmo. Ele está cego para as coisas de Deus, insensível como um morto à voz do Espírito Santo. Se a pessoa for deixada à própria sorte, perecerá. Da mesma forma que um ser humano jamais é o autor da sua existência, assim também nenhum ser humano pode dar vida à própria alma. Sem o Novo Nascimento, ninguém pode chegar ao Céu. Você pode entrar no Céu sem dinheiro, sem fama, sem cultura e até sem religião, mas jamais sem o Novo Nascimento.

b) Porque sem o Novo Nascimento ninguém pode ver o Reino de Deus nem pode entrar nesse Reino (Joao 3:3,5). Para entrar no Reino de Deus é necessário o toque regenerador do Espírito Santo. Não se entra no Reino de Deus apenas fazendo boas obras. Se Nicodemos, com seus conhecimentos, talentos, entendimento, posição e integridade, não podia entrar no Reino prometido em virtude de sua posição e obras, que esperança há para alguém que procura salvação por essas vias? Mesmo para um Nicodemos deve haver uma transformação radical, a geração de uma nova vida. Não se trata do conserto de uma parte, mas da renovação de toda a natureza.

c) Porque uma fé intelectual ou emocional é insuficiente para a pessoa entrar no Reino de DeusMuitos foram atraídos a Jesus com uma fé apenas intelectual ou emocional ao observarem seus prodígios. Nicodemos também ficou impressionado com os sinais que Jesus fazia. Isso o levou a reconhecer que Jesus era vindo de Deus e que Deus estava com Ele. Mas essa fé não foi suficiente para salvar sua alma. Crer em milagres não é o bastante para levar a pessoa ao Céu. Quando Nicodemos se aproximou de Jesus tecendo-lhe os mais altos elogios, Jesus desviou o assunto para a necessidade urgente de Nicodemos nascer de novo. Jesus não estava interessado em discutir seus milagres, que tinham como resultado apenas uma fé superficial. Pelo contrário, Ele foi direto ao ponto culminante, mostrando a Nicodemos a necessidade da transformação de seu coração por intermédio do Novo Nascimento.

d) Porque o Novo Nascimento é uma ordem expressa de Jesus (João 3:7). Jesus é categórico: “Necessário vos é nascer de novo”. Lá no Céu, você não entrará por ser membro da Assembleia de Deus, presbiteriano, batista ou de qualquer outra denominação ou religião. Lá no Céu, só entrarão aqueles que nasceram de novo, aqueles que foram remidos e lavados no sangue do Cordeiro.

Sem o Novo Nascimento, o Céu não apenas seria impossível para o ser humano, mas também não seria um lugar desejável para sua alma. Aqueles que nunca nasceram de novo amam mais as trevas do que a luz; por isso, o destino deles é de trevas eternas. Pelo nascimento natural, as pessoas tornam-se membros de uma família terrena; para que elas se tornem membros da família de Deus, para receberem a natureza espiritual, que é o único meio de ser admitido em seu reino, faz-se necessário um nascimento "do alto”, do Espírito Santo.

Sem o Novo Nascimento, o ser humano ama o mundo e as coisas que há no mundo. Sem o Novo Nascimento, o ser humano é amigo do mundo e inimigo de Deus. Sem o Novo Nascimento, o ser humano se conforma com o mundo e vive segundo o seu curso.

Quando o homem se convence do pecado, da morte e do juízo, aceitando a Jesus como seu único e suficiente Salvador, crendo em Cristo, na Sua obra no Calvário e se arrependendo dos seus pecados, renunciando à impiedade, isto é, ao pecado e às concupiscências do mundo e passa a viver, neste mundo, sóbria, justa e piamente, segundo a vontade do Senhor, que está presente na Sua Palavra (Tt.2:12), temos o Novo Nascimento, a geração de um novo homem, de uma nova criatura, pois os pecados são perdoados.

O sangue de Jesus purifica o homem de todo o pecado e ele passa a ocupar uma nova posição diante de Deus, justificado pela fé (Rm.5:1), tendo paz com Deus, pois os pecados, que antes faziam divisão entre ele e Deus (Is.59:2), não mais existem, são removidos (João 1:29), lançados no mar do esquecimento (Mq.7:19), voltando o homem, então, a ter comunhão com Deus. O espírito do homem, assim, volta a ter vida, é vivificado (1Co.15:22), pois cessa a sua separação de Deus, que o tornava inerte.

Sinopse:

O apóstolo Paulo afirma que todos os seres humanos pecaram (Rm.5:12), tornando-se necessária a experiência da Regeneração (Rm.5:19). O Rev. Hernandes Dias Lopes destaca quatro razões essenciais para esse Novo Nascimento:

a)   A inclinação do homem contra Deus. O coração humano é naturalmente inclinado ao pecado, rebelde e incapaz de buscar a Deus por si só. Sem o Novo Nascimento, ninguém pode entrar no Céu, pois o ser humano, em sua condição natural, está espiritualmente morto e separado de Deus.

b)   A impossibilidade de ver e entrar no Reino de Deus sem a Regeneração. Conforme João 3:3,5, o toque regenerador do Espírito Santo é indispensável. Nem mesmo Nicodemos, um líder religioso de prestígio, poderia entrar no Reino sem essa transformação radical. O Novo Nascimento não é uma mera reforma moral, mas a renovação completa da natureza humana.

c)   A insuficiência de uma fé intelectual ou emocional. Muitos seguem a Cristo impressionados por seus milagres, mas essa fé superficial não conduz à salvação. Nicodemos reconheceu Jesus como mestre divino, mas isso não bastava. O verdadeiro acesso ao Reino requer transformação interior por meio do Novo Nascimento.

d)   O Novo Nascimento como ordem expressa de Jesus. Em João 3:7, Jesus declara: "Necessário vos é nascer de novo". A salvação não se baseia em filiação denominacional ou méritos religiosos, mas na redenção pelo sangue de Cristo. Sem essa regeneração, o homem permanece escravo do pecado, amante das trevas e separado de Deus.

O Novo Nascimento ocorre quando o pecador se arrepende, crê em Cristo e renuncia ao pecado, tornando-se uma nova criatura. Seus pecados são perdoados pelo sangue de Jesus, sua comunhão com Deus é restaurada, e ele passa a viver segundo a vontade divina. Assim, justificado pela fé (Rm.5:1), ele experimenta paz com Deus e uma nova vida em santidade.

III. OS MEIOS DA OBRA REGENERADORA

1. A operação do Espírito Santo

A expressão “nascer da água” em João 3:5 tem sido interpretada de diversas formas, mas, no contexto da conversa de Jesus com Nicodemos, trata-se de uma metáfora para a purificação espiritual realizada pelo Espírito Santo. Ao contrário da concepção de que se refere ao batismo cristão, Jesus ensina que o Novo Nascimento não é um rito externo ou um ato físico, mas uma transformação interior e sobrenatural operada pelo Espírito.

O termo "água" aqui remete à ação purificadora de Deus, como já indicado no Antigo Testamento: "Aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados" (Ez.36:25). Essa conexão demonstra que o novo nascimento envolve tanto a remoção do pecado quanto a renovação espiritual, um processo que ocorre exclusivamente pelo poder do Espírito Santo.

Além disso, Jesus reforça essa verdade ao afirmar que é necessário ser "nascido do Espírito" (João 3:5,8). Ele compara essa obra com o vento: invisível, mas real e perceptível em seus efeitos. De fato, a regeneração não é simplesmente uma mudança de comportamento ou adesão a um sistema religioso, mas uma transformação que altera a essência do ser humano, tornando-o espiritualmente vivo para Deus.

O apóstolo Paulo também descreve essa renovação em Tito 3:5: "não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo". Esse texto destaca que a salvação não ocorre por mérito humano, mas unicamente pela graça divina, manifestada na ação do Espírito.

Portanto, a operação regeneradora do Espírito Santo é fundamental para a salvação. Ele transforma o pecador em uma nova criatura, libertando-o do domínio do pecado e concedendo-lhe um novo coração, uma nova mente e um novo espírito para que possa viver segundo a vontade de Deus.

2. A Palavra de Deus

A regeneração não ocorre de maneira arbitrária ou mística, mas por meio da Palavra de Deus, que é o instrumento utilizado pelo Espírito Santo para operar essa transformação espiritual. O apóstolo Pedro ensina que os crentes são “de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela Palavra de Deus, viva e que permanece para sempre” (1Pd.1:23). Essa afirmação ressalta que a regeneração não é um evento natural, mas sobrenatural, fundamentado na verdade divina revelada nas Escrituras.

Tiago também enfatiza essa verdade ao declarar que Deus nos “gerou pela Palavra da verdade” (Tg.1:18). Essa geração não é física, mas espiritual, indicando que a Palavra de Deus tem poder de vivificar o pecador, despertando nele a consciência da sua condição e levando-o à fé salvadora em Cristo.

O autor de Hebreus descreve o impacto da Palavra de Deus afirmando que ela é “viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes” (Hb.4:12). Essa passagem ilustra a capacidade da Escritura de alcançar o íntimo do ser humano, discernindo seus pensamentos e intenções, confrontando o pecado e promovendo a transformação necessária para que o pecador receba a nova vida em Cristo.

Portanto, a Palavra de Deus é a semente da regeneração, sendo o meio pelo qual o Espírito Santo atua para dar vida ao pecador. Sem a exposição à verdade divina, ninguém pode ser regenerado, pois “a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus” (Rm.10:17). Assim, a regeneração ocorre quando o coração humano recebe essa Palavra com fé, permitindo que o Espírito Santo produza uma transformação completa, tornando o pecador uma nova criatura em Cristo (2Co.5:17).

3. A vontade soberana de Deus na Obra da Regeneração

A Regeneração é um ato soberano de Deus, fundamentado em Seu desejo de que todos os seres humanos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade (1Tm.2:3,4). Esse desejo reflete o caráter amoroso de Deus, que, desde a queda do homem, elaborou um plano de redenção para restaurar a comunhão entre Criador e criatura. O apóstolo Pedro reforça essa verdade ao declarar que Deus “não quer que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2Pd.3:9).

Entretanto, a salvação não acontece sem a resposta do ser humano à graça divina. Deus, em sua soberania, permite que as pessoas exerçam livre-arbítrio, tomando suas próprias decisões. Assim, ainda que o desejo de Deus seja salvar a todos, Ele não impõe a salvação de forma coercitiva, mas convida cada um a aceitar Seu perdão. Isso pode ser visto em Lucas 7:30, onde os fariseus rejeitaram o conselho de Deus, e em Atos 7:51, onde Estevão repreende os judeus por resistirem ao Espírito Santo.

Portanto, a regeneração é uma obra soberana de Deus, mas implica a responsabilidade humana de responder ao chamado divino. Embora o Espírito Santo convença o pecador do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8), a decisão de se submeter a essa verdade cabe ao próprio indivíduo. Assim, ninguém poderá alegar ignorância ou falta de oportunidade, pois Deus, em sua justiça, oferece a todos os meios necessários para que sejam regenerados e tenham a vida eterna.

Sinopse III – OS MEIOS DA OBRA REGENERADORA

A regeneração é um ato divino que transforma o pecador em nova criatura, e essa obra ocorre mediante três principais meios estabelecidos por Deus: a operação do Espírito Santo, a Palavra de Deus e a vontade soberana do Pai.

O Espírito Santo desempenha um papel central na regeneração, pois é Ele quem convence o pecador e realiza a transformação interior necessária para o novo nascimento. A expressão “nascer da água e do Espírito” (João 3:5,8) enfatiza que essa obra não é física, mas espiritual, e resulta na purificação e renovação da vida do salvo (Tt.3:5).

A Palavra de Deus é outro meio fundamental na regeneração, pois é por meio dela que Deus gera nova vida no pecador. O apóstolo Pedro afirma que somos regenerados pela “Palavra viva e que permanece para sempre” (1Pd.1:23). Tiago também destaca que Deus nos gera “pela Palavra da verdade” (Tg.1:18). Sendo viva e eficaz (Hb.4:12), a Palavra de Deus atua no mais profundo do ser humano, capacitando-o a viver como nova criatura.

A vontade soberana de Deus revela Seu desejo de que todos alcancem a salvação e o conhecimento da verdade (1Tm.2:3,4; 2Pd.3:9). Contudo, Deus permite que o ser humano exerça seu livre-arbítrio, podendo aceitar ou rejeitar a salvação (Lc.7:30; At.7:51). Embora seja Deus quem inicia e efetua a regeneração, cabe ao homem responder ao chamado divino, reconhecendo sua necessidade de salvação e aceitando a obra redentora de Cristo.

Dessa forma, a Regeneração é uma ação exclusiva de Deus, mas envolve a participação do pecador, que precisa crer e se submeter à transformação operada pelo Espírito, através da Palavra e conforme a vontade soberana do Pai.

CONCLUSÃO

O Novo Nascimento é uma doutrina essencial das Escrituras e a única porta de entrada para o Reino de Deus. Jesus ensinou a Nicodemos que essa experiência não é opcional, mas uma necessidade absoluta para todo ser humano. Como vimos ao longo da lição, a regeneração é uma obra sobrenatural do Espírito Santo, que transforma o pecador em uma nova criatura, libertando-o da condenação do pecado e tornando-o filho de Deus.

Essa transformação não ocorre por méritos humanos, mas unicamente pela graça divina, mediante a fé na obra redentora de Cristo. O Espírito Santo opera a regeneração, a Palavra de Deus é o instrumento que gera essa nova vida, e a vontade soberana do Pai garante que a salvação esteja acessível a todos os que se rendem ao senhorio de Cristo.

Diante dessa verdade, cada pessoa precisa refletir: Já nasci de novo? O Novo Nascimento não é um conceito teórico, mas uma realidade espiritual que deve ser experimentada. Quem nasce de novo manifesta uma vida transformada, rejeita as obras da carne e vive segundo o Espírito. Que possamos reconhecer a necessidade dessa obra em nossas vidas e buscar, diariamente, uma comunhão profunda com Deus, permitindo que Sua vontade se cumpra em nós.

 

E O VERBO SE FEZ CARNE


 apóstolo João inicia o Evangelho com esta solene verdade: “No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (João 1:1). Diz mais: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1:14). João deixa claro que o Filho de Deus, que se encontrava no seio do Pai, foi concebido pelo Espírito Santo para habitar entre nós (Sl.2:7; Is.7:14; João 1:18; 3:16).

1. Por que João denomina-o “Verbo de Deus”?

Sendo Cristo o executivo do Pai, todas as coisas vieram à existência por intermédio dEle; sem Ele, nada do que é existiria. A expressão “no princípio” transporta-nos a Gêneses 1:1. Na criação, Jesus já atuava: “Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez” (João 1:3).

O evangelista João aponta o “Verbo” como alguém que já existia desde a eternidade; não foi criado, mas gerado. Jesus “é imagem do Deus invisível o primogênito de toda a criação” (Cl.1:15). Notai que ele diz: “Ele é”; não eraou será, nem muito menos que Ele se tornou a imagem de Deus; Ele é o presente eterno - "Jesus Cristo, o mesmo ontem, hoje e eternamente" (Hb.13:8). Jesus assumiu sua humanidade para revelar-nos Deus e sermos conduzidos ao Pai.

2. “O Verbo estava com Deus”

Isto declara que Ele, o Verbo, desde o início era Deus, indicando a deidade de Jesus. Essa deidade é descrita “porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse” (Cl.1:19). Era do desejo do Pai que Jesus tivesse toda a plenitude da divindade; Ele não é um deus menor. Jesus é a expressão da vontade divina; é o Agente na Criação: “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez” (João 1:3); “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele” (Cl.1:16).

Todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por Ele e para Ele. Isto quer dizer que nada do que se fez, se fez sem Jesus Cristo. Ele tem o controle sobre tudo, e até mesmo Satanás, que antes era Lúcifer, o querubim ungido para adoração de Deus, também foi criado por Deus, através de sua Palavra viva, que é Jesus.

3. “E o Verbo era Deus"

Isto aponta para o Filho de Deus. Não se trata de acréscimo de mais um Deus aqui, posto que ao apóstolo foi revelado, pelo Espírito Santo, que o Verbo divino está incluído na essência una e indivisível da Deidade, embora seja Ele distinto do Pai (João 8:17,18; 2João 3).

No trimestre passado, na Lição 05, estudamos exaustivamente sobre esse assunto. Dissemos que, desde os Evangelhos até as epístolas, a natureza divina de Cristo é proclamada com clareza, mostrando que Ele é o Deus eterno que se revelou em carne.

João começa seu Evangelho com uma declaração poderosa: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (João 1:1). Aqui, o termo “Verbo” (do grego Logos) identifica Jesus como a manifestação plena e eterna de Deus. Ele não é apenas divino, mas é Deus em sua essência, coexistindo com o Pai desde a eternidade.

Apóstolo Tomé, após a ressurreição, reconhece Jesus como “Senhor meu e Deus meu” (João 20:28). Essa afirmação é um testemunho direto da divindade de Cristo. Jesus não apenas aceita essa adoração, mas confirma que a fé de Tomé é legítima, reforçando Sua identidade divina.

Paulo descreve Jesus como existindo “na forma de Deus” (morphē theou) (Fp.2:6), o que significa que Ele possui a mesma essência divina. Sua escolha de não se apegar à igualdade com Deus, mas de esvaziar-se, mostra Seu amor e humildade, mas não nega Sua divindade.

Paulo também afirma que Cristo é o “mistério de Deus” (Cl.2:2). Ele é a revelação suprema e completa do Deus invisível (Cl.1:15), sendo plenamente Deus em essência (Cl.2:9).

Em Tito 2:13, a expressão “nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo” une os títulos de Deus e Salvador em uma única Pessoa, Jesus Cristo. Ele é apresentado como o foco da esperança dos cristãos, reafirmando Sua natureza divina.

Pedro reafirma a divindade de Cristo, descrevendo-O como “nosso Deus e Salvador” (2Pd.1:1). Essa passagem também conecta a obra salvadora de Cristo diretamente à Sua divindade, evidenciando que Ele é tanto o justo quanto o justificador (Rm.3:26).

João conclui sua primeira epístola com uma declaração categórica: “Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1João 5:20). Jesus é identificado não apenas como Aquele que concede a vida eterna, mas como o próprio Deus verdadeiro.

Essas passagens não deixam dúvidas sobre a identidade divina de Jesus. Ele é o Deus eterno, Criador, Salvador e Redentor. Reconhecer Jesus como Deus não é apenas uma questão teológica, mas o fundamento da fé cristã e da nossa esperança de salvação.

4. "E o Verbo se fez carne" (João 1:14a)

Depois de afirmar a perfeita divindade do Verbo, João agora assevera sua perfeita humanidade. Jesus é tanto Deus como homem. É perfeitamente Deus e perfeitamente Homem. O Verbo que criou o mundo, a razão que controla a ordem do mundo, fez-se carne e veio morar entre os seres humanos. Possui duas naturezas distintas: divina e humana. É Deus de Deus, luz de luz, coigual, coeterno e consubstancial com o Pai. Não obstante, fez-se carne.

Quando o Verbo se fez carne, as duas naturezas - divina e humana - se uniram inconfundivelmente, imutável, indivisível e inseparavelmente. Vemos, portanto, a presença de Deus entre os seres humanos (João 1:14). O Verbo eterno, pessoal, divino, autoexistente e criador esvaziou-se de sua glória, desceu até nós e vestiu pele humana.

A carne de Jesus Cristo tornou-se a nova localização da presença de Deus na terra. Jesus substituiu o antigo tabernáculo. Fez-se um de nós, em tudo semelhante a nós, exceto no pecado (cf. Hb.4:15). Isto é o grande mistério da encarnação (1Tm.3:16).

O Verbo, portanto, se fez carne, mas permaneceu sendo o Verbo de Deus (João 1:1,18). A segunda Pessoa da Trindade assume a natureza humana sem deixar de lado a natureza divina. Nele as duas naturezas, divina e humana, estão presentes. Veja a Lição 03 do 1º trimestre de 2025.

5. Características humanas do Verbo

Há indicações claras na Bíblia que Jesus era uma Pessoa plenamente humana, sujeito a todas as limitações comuns à raça humana, mas sem pecado. Ele nasceu como todo ser humano nasce. Embora sua concepção tenha sido diferente, uma vez que não houve a participação de um pai biológico, todos os outros estágios de crescimento foram idênticos ao de qualquer ser humano normal, tanto física como intelectual e emocional. Também no sentido psicológico era genuinamente humano, pois pensava, raciocinava, se emocionava, como todo ser humano normal. Há abundantes e incontestáveis provas de sua humanidade, ou seja, de que Ele nasceu, cresceu e viveu entre nós. Cito algumas:

a)   Seu nascimento (Lc.2:6,7). Jesus nasceu de uma mulher humana, passando por todas as fases que uma criança normal passa. Seu nascimento é contado com detalhes nos dois primeiros capítulos de Mateus e de Lucas.

b)   Seu crescimento (Lc.2:52). Cresceu como toda criança normal cresce, sendo alimentada por comida e água. Seu corpo não era sobre-humano e não tinha características especiais, diferentes de qualquer ser humano normal.

c)   Suas limitações físicas. Foram idênticas as de um ser humano:

Ø  Sentia fome (Mt.4:2; Mc.11:12).

Ø  Sentia sede (João 19:28).

Ø  Ficava cansado (João 4:6).

Ø  Sofria dor (João 18:22; 19:2,3).

d)   Era uma Pessoa real, não um espírito (1João 1:1; Mt.9:20-22; 26:12; João 20:25,27). Jesus de fato foi visto e tocado pelas pessoas à sua volta. Não era um espírito com a forma humana, nem um fantasma, mas um Homem real, a ponto de Tomé só acreditar em sua ressurreição após tocá-lo. O testemunho do Espírito de Deus afirma que Jesus tomou plenamente a forma humana (1João 4:2,3a).

e)   Sua morte (Lc.23:46; João 19:33,34). Sua morte não foi aparente, mas verdadeira – “Mas, vindo a Jesus e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas” (João 19:33). Seu corpo sucumbiu aos sofrimentos infligidos e de fato expirou à semelhança de todos os homens. Esta é talvez a suprema identificação de Jesus com a humanidade, pois sendo Deus não deveria morrer, mas ao assumir plenamente a humanidade torna-se sujeito a possibilidade da morte. Eis uma verdade tremenda e profunda!

Portanto, Jesus Cristo não somente era pleno Deus, era também pleno ser humano. Ele exibia um conjunto pleno tanto de qualidades divinas quanto de qualidades humanas, numa mesma Pessoa, de tal modo que essas qualidades não interferiram uma na outra.

6. Necessidade da encarnação do Verbo

A encarnação de Cristo é o maior evento da história humana, o dia em que o divino se uniu ao humano com o propósito de salvar o ser humano. Com o ato da encarnação Deus mostrou que os sistemas humanos estavam e estão falidos, filosofia ou religião não podem fazer nada pelo ser humano. Deus mostrou que todo tipo de obra ou ritual religioso que o homem cumpra é inoperante para salvá-lo, e só Ele poderia mudar a situação. Observe alguns porquês da encarnação de Cristo e entenda esta necessidade:

a) Porque o ser humano nasce morto em pecado. Todos nascem em pecado, e assim em débito com Deus (Rm.3:23; 5:12; Ef.2:1-3), merecendo com isso o castigo pelo pecado, a morte eterna, que é o pagamento desta dívida (Rm.6:23a).

b) Porque não se pode ser salvo cumprindo rituais religiosos. Os esforços pessoais do ser humano de nada valem. Paulo passou boa parte de sua vida ensinando que a salvação não poderia ser alcançada cumprindo-se regras religiosas como a Lei de Moisés, por exemplo (Gl.cap.3 e 4). Por ter uma natureza pecaminosa (carnal) o ser humano não atinge as exigências de Deus (Rm.7:12-24; 8:7,8).

c)  Porque não se pode ser salvo praticando boas obras. Obras de pessoas pecadoras, mortas espiritualmente, são mortas também (Is.64:6). Só a graça de Deus proporciona a salvação (Ef.2:8-10), e esta graça veio com a encarnação de Cristo (João 1:17,18).

d) Porque há necessidade de justiça. A encarnação foi o meio de Deus proporcionar ao ser humano a justiça que ele não tinha. Paulo em Rm.3:21-26 explica que no tempo da graça (de Cristo) se manifestou a justiça de Deus. Esta justiça os profetas do Antigo Testamento já anunciavam, e agora ela havia chegado não para os que cumpriam a Lei, ou praticavam boas obras, mas para os que tinham fé em Jesus Cristo. Ele se encarnou para ser a propiciação pelos pecados. Pagou a pena de morte que o homem devia à Lei por não tê-la cumprido, mas ressuscitou porque era sem pecado. A justiça que Ele ganhou sendo justo não serve para Ele, porque Ele já é santo, mas é depositada (imputada) para todo aquele que tem fé nEle, que aceita o Seu sacrifício como substituto na cruz.

e) Porque Deus é amor. A encarnação de Cristo para morrer como inocente no lugar de criaturas pecadoras demonstra o grande amor de Deus. Este foi o motivo maior pelo qual Ele enviou Cristo ao mundo (João 3:16; Rm.8:39; 1Joao 4:19). Foi apenas por amor que Deus veio a terra; em Cristo se fez Emanuel (Deus conosco) (Mt.1:23). E na cruz foi concretizado esse amor.

Diante de tudo isso podemos afirmar e acreditar quão importante foi a encarnação do Verbo de Deus. A salvação só foi realizada porque Cristo veio em carne (Ef.2:15: Cl.1:22; 1Pd.3:18; 4:1). O caminho à presença de Deus foi aberto pela Sua carne (Hb.10:22). Foi por se encarnar que Ele pôde ser o Mediador entre Deus e os homens (1Tm.2:5).

No início da Igreja, à época da João, muitos falsos mestres enganavam os cristãos verdadeiros que Jesus não veio em carne. Naqueles dias surgiram na grande cidade de Éfeso e em toda a região da Ásia, onde estavam instaladas as sete igrejas, muitos enganadores que, através de falas doutrinas, intentavam induzir os crentes ao erro fatal. Surgiram “anticristos” (1João 2:18), mentirosos (1João 2:22) e falsos profetas (1João 4:1). João escreveu acerca dos falsos mestres para advertir os cristãos novos na fé - “Estas coisas vos escrevo a respeito daqueles que vos querem enganar”(1João 2:26).

A situação da igreja inspirava cuidados. Notamos isso pelo que se lê nas Cartas às sete igrejas da Ásia (Ap.cap.2 e 3). As heresias grassavam em muitas comunidades. O gnosticismo, sistema que mistura ideias filosóficas, crenças judaicas e cristãs, era uma das principais fontes de heresias da época. Assim, muitos cristãos se tornaram gnósticos. Criam em Jesus, mas negavam a realidade de sua encarnação e morte. Os hereges (os gnósticos) enganadores ensinavam que Jesus era apenas um homem, filho natural de José e Maria. Em outras palavras, eles não criam em Cristo como o Deus encarnado. Afirmavam que o mal residia na matéria; portanto, negavam que Deus pudesse se encarnar. Todavia, em relação a Cristo, João escreveu: "nós ouvimos, vimos, contemplamos, nossas mãos tocaram..." (1João 1:1-3). Ou seja, o apóstolo estava afirmando firmemente que o corpo de Cristo era matéria, pois poderia ser tocado, como de fato o foi. Não se tratava de um espírito, uma aparição, como os gnósticos afirmavam (1João 4:2; 5:6).

João foi contundente contra esses hereges, quando diz: “Amados, não creiais em todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que está já no mundo”(1João 4:1-3).

Portanto, não conhecer a encarnação de Cristo é negar as profecias do Antigo Testamento e a mensagem do seu cumprimento em o Novo Testamento (ver Is.7:14; 9:6; João 1:1,14).

“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1:14).

Conclusão

O estudo deste 2º trimestre de 2025 reforça a doutrina central da fé cristã: Jesus Cristo é Deus, plenamente divino e plenamente humano. As Escrituras são claras ao afirmar sua divindade, apresentando-o como o Verbo eterno que se fez carne (João 1:1,14), o Deus verdadeiro e a vida eterna (1João 5:20).

A encarnação do Verbo não é apenas um evento teológico, mas a maior demonstração do amor de Deus pela humanidade. Ele veio ao mundo para restaurar nossa comunhão com o Pai, iluminando aqueles que estavam em trevas e trazendo salvação e vida eterna.

Que os estudos deste trimestre nos aproximem ainda mais de Cristo, o Verbo que se fez carne, fortalecendo nossa fé e compreensão de sua obra redentora. Que possamos reconhecer a grandeza dessa verdade e permitir que a Luz do Verbo transforme nossas vidas, conduzindo-nos a um relacionamento mais profundo com Deus.