Texto Base: João 3:1-16
29/03/2020
"Até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo" (Ef.4:13).
João 3:
1-E havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, príncipe dos judeus.
2-Este foi ter de noite com Jesus e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.
3-Jesus respondeu e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus.
4-Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura, pode tornar a entrar no ventre de sua mãe e nascer?
5-Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espirito não pode entrar no Reino de Deus.
6-O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espirito é espirito.
7-Não te maravilhes de ter dito: Necessário vos é nascer de novo.
8-O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.
9-Nicodemos respondeu e disse-lhe: Como pode ser isso?
10-Jesus respondeu e disse-lhe: Tu és mestre de Israel e não sabes isso?
11-Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testificamos o que vimos, e não aceitais o nosso testemunho.
12-Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?
13-Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do Homem, que está no céu.
14-E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado,
15-para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
16-Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
INTRODUÇÃO
Nesta última Aula do 1º trimestre letivo de 2020 trataremos do “novo homem em Jesus Cristo”. Pela Bíblia, um “velho homem” só poderá se tornar um “novo homem” através do Novo Nascimento, que é o ato divino através do qual a criatura humana experimenta uma mudança radical no seu interior; é a mais importante e a mais urgente necessidade na vida de um ser humano; é a única maneira pela qual o “velho homem”, morto em ofensas e pecados (Ef.2:1) pode voltar a viver para Deus. Em Jesus Cristo, nossa velha natureza renasce para a vida eterna. Sem o Novo Nascimento, a vida é vã, a esperança é vã e a religião praticada é vã. Sem o Novo Nascimento, Deus estará contra a pessoa no dia do juízo. Sem o Novo Nascimento, o Céu estará de portas fechadas para a pessoa; foi Jesus quem disse: “…aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus” (João 3:3). O ser humano nascido de novo recebe de Deus a justificação, a santificação e, por fim, a glorificação, livre para sempre da presença do pecado. Você nasceu de novo? Tire sua conclusão após este estudo.
I. O NASCIMENTO DO NOVO HOMEM
Certa feita, um renovado mestre da Lei judaica, por nome Nicodemos, esteve com Jesus, no período da noite, para um diálogo; esse diálogo revelou a necessidade do Novo Nascimento para entrar no Reino dos Céus. A sua condição social e a sua formação intelectual farisaica lhe haviam aconselhado uma certa reserva em relação ao interlocutor, e por isso decidira ver Jesus de noite, longe dos olhares indiscretos, na penumbra iluminada por uma lamparina. Nicodemos se aproximou de Jesus à noite, mas a noite de Nicodemos era mais escura do que ele pensava.
Nicodemos ficou impressionado com os milagres que Jesus fizera na Judeia e em Jerusalém, e quando se dirigiu a Jesus disse que "ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele" (João 3:2). Embora Nicodemos tivesse reconhecido Jesus como um mestre vindo da parte de Deus, com capacidade de operar grandes sinais, sua fé era deficiente, pois se baseava apenas no testemunho dos milagres (João 3:2). Isso significa que Jesus não aceita uma fé superficial como suficiente para a salvação. Então, nesse momento, Jesus profere uma das verdades doutrinárias mais relevantes das Escrituras Neotestamentárias: o Novo Nascimento. Jesus destacou a necessidade da fé salvadora que produz a transformação da vida. Jesus disse que, se alguém não nascer de novo, não poderá ver o reino de Deus (João 3:3). Se alguém não nascer da água e do Espirito, não poderá entrar no reino de Deus (João 3:5).
A pessoa pode ser rica, culta, respeitável e religiosa como Nicodemos, mas se não nascer de novo, estará perdida. A pessoa pode ser zelosa, conservadora e observadora dos preceitos religiosos como Nicodemos, mas, se não nascer de novo, não haverá esperança para a alma dela. A pessoa pode praticar muitas boas obras, dar esmolas, ter uma vida bonita e até fazer orações que são ouvidas no Céu, como Cornélio fazia, mas, se não nascer de novo, não poderá entrar no reino de Deus. Jesus é enfático: “Necessário vos é nascer de novo” (João 3:7).
O que é nascer de novo?
1. Não é nascer do sangue nem da carne nem da vontade do homem (João 1:12,13)
João, inspirado pelo Espírito Santo, afirmou: “Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que creem no seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”. Portanto, nascer de novo não é nascer do “sangue” nem da “carne” nem da “vontade do homem”.
-“Não do sangue” – Isto significa que uma pessoa não se torna cristão por ter pais cristãos. A salvação não é passada de pais para filhos através da corrente sanguínea.
-Não “da vontade da carne” – Em outras palavras, a pessoa não tem o poder na sua carne de produzir o novo nascimento. Embora precise estar disposto a ser salvo, sua vontade não é o suficiente para salvá-lo. Jesus disse a Nicodemos: “O que é nascido da carne é carne…” (João 3:6). Carne, aqui, tem o sentido da natureza do ser humano separado de Deus.
-Não “da vontade do homem” – Nenhum outro homem pode salvar uma pessoa. Um pregador, por exemplo, pode estar muito ansioso para ver uma pessoa nascer de novo, mas ele não tem o poder de produzir essa maravilhosa experiência.
O Novo Nascimento, portanto, não é uma reforma do velho homem, não é apenas uma fina camada de verniz religioso; não é algo que o ser humano possa fazer. Há muitas pessoas decentes que nunca nasceram de novo. Há muitas pessoas honradas da sociedade, como Nicodemos, que nunca se entregaram aos vícios, mas nunca viram o reino de Deus e jamais nele entraram. Não dê descanso à sua alma até ter certeza de que você já nasceu de novo.
2. Não é conhecer profundamente as Escrituras Sagradas (João 3:10)
“Jesus respondeu e disse-lhe: Tu és mestre de Israel e não sabes isso?”. Nicodemos era mestre das Escrituras em Israel; era um rabi, um doutor em Bíblia; mas ele não estava salvo. Há muitas pessoas que conhecem a verdade, mas nunca foram transformadas por essa verdade. Há muitas pessoas que pregam, expulsam demônios e profetizam, mas nunca entrarão no Céu (cf.Mt.7:22,23). Talvez a pessoa seja intelectual, conheça muitas coisas e tenha muitos diplomas, mas todo esse conhecimento não pode salvar a sua alma. Nicodemos era mestre das Escrituras Sagradas do Antigo Testamento, mas estava perdido.
3. Não equivale a ser uma pessoa profundamente religiosa (João 3:1)
“E havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, príncipe dos judeus” (João 3:1). Nicodemos era membro do grupo mais radical e conservador da religião judaica, ele era um fariseu. Os fariseus se levantaram fortemente contra a helenização da religião judaica; eram separatistas que consideravam indignos do reino de Deus aqueles que deles discordavam. Nicodemos era um fariseu zeloso da sua religião: ele jejuava duas vezes por semana; frequentava a sinagoga regularmente; dava o dízimo de tudo quanto ganhava; mantinha uma vida moralmente irrepreensível, mas não estava salvo. Ele precisava ser regenerado. Portanto, ser religioso não basta, é necessário nascer de novo (João 3:7).
4. É Regeneração
-Regeneração é a transformação do pecador numa nova criatura pelo poder de Deus, como resultado do sacrifício de Jesus na cruz do Calvário. Trata-se de uma operação do Espírito Santo na salvação do pecador. Neste ato sobrenatural o ser humano é gerado por Deus para ser filho (João 1:12) e participante da natureza divina (2Pd.1:4). O homem regenerado recebe de Deus coração e espírito novos (2Co.5:17), podendo assim ter comunhão com Deus e a garantia de viver com Ele na eternidade.
-Regeneração significa:
· Vida renovada (1João 3:13,14) – “Meus irmãos, não vos maravilheis, se o mundo vos odeia. Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama a seu irmão permanece na morte”.
· Mente renovada (Rm.12:2) – “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”.
· Transformação: o velho homem numa nova criatura (2Co.5:17) – “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”.
· Despir-se do velho homem (1Co.6:20) – “Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus”.
É somente o Espírito Santo quem pode operar no homem o milagre da Regeneração. Foi o que afirmou Paulo: “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a sua misericórdia nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tito 3:5).
5. É ser nascido de Deus (João 1:13, final)
O Novo Nascimento é descrito como o ato de nascer de Deus (João 1:13, final) - “[...], mas de Deus”. Portanto, nascemos não do sangue, não da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. Nascemos de cima, do alto, de Deus, do Espírito Santo.
Só o Espírito de Deus pode dar vida ao que está morto. Só o Espírito de Deus pode soprar num “vale de ossos secos”. Só o Espirito de Deus pode abrir nosso coração, convencer-nos do pecado, regenerar-nos, batizar-nos no corpo de Cristo e selar-nos para o Dia da redenção.
Os seres humanos não são filhos de Deus pela natureza humana; somente ao receberem Cristo, é que eles obtêm o direito de se tornarem filhos de Deus. Fica patente que o nascimento na família de Deus é bem diferente do nascimento físico. Esse direito do nascimento divino não tem nada que ver com laços raciais, nacionais ou familiares. O nascimento espiritual, a entrada na família cujo Pai é Deus, depende de fatores bem diferentes – a aceitação, pela fé, do plano de Salvação que o Pai Celeste elaborou bem antes da fundação do mundo (Ap.13:8), implica a recepção pela fé daquele a quem Deus enviou. Portanto, novo nascimento é nascer de Deus, e nascer de Deus é tornar-se filho de Deus pela fé (João 1:12) – “Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus”: aos que creem no seu nome”.
6. É ser nascido da Água (João 3:5)
“Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água...não pode entrar no Reino de Deus”. Aqui, Jesus usa uma figura conhecida por Nicodemos - a “água”. Nicodemos estava bem familiarizado com o batismo de João e os ritos similares com a água. Jesus tinha falado a respeito das talhas de água para a purificação e do batismo de arrependimento pregado por João. Nascer da agua, portanto, é arrepender-se do pecado e ser purificado. Ninguém pode ser salvo a menos que seja interiormente purificado, assim como a água nos lava externamente.
7. É ser nascido do Espírito Santo (João 3:5)
“Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer [...] do Espírito não pode entrar no Reino de Deus”. Para alguém capacitar-se a entrar no reino de Deus é preciso, necessariamente, haver arrependimento, confissão, perdão e purificação do pecado. Deve, porém, haver mais que isso: é preciso que o poder renovador e transformador do Espirito de Deus intervenha. Sem a purificação da alma, operada pelo Espírito Santo (Tt.3:5), mediante a Palavra de Deus (Ef.5:26), ninguém pode entrar no reino de Deus. Nascer do Espírito, portanto, é nascer de cima, do alto, de Deus; é ser transformado pelo Espírito Santo (Ez.36:25-27; Is.44:3); é ser nova criatura (2Co.5:17).
Portanto, nascer de novo não é algo superficial; não é uma mera reforma moral; é uma mudança completa do coração, do caráter e da vontade; é uma ressurreição, uma nova criação; é passar da morte para a vida; é uma mudança tão radical que você passa a ter uma nova natureza, novos hábitos, novos gostos, novos desejos, novos apetites, novos julgamentos, novas opiniões, nova esperança, novos temores. Só o Espírito Santo pode operar tudo isto na vida de uma pessoa que nasceu de novo.
II. A JUSTIFICAÇÃO DO NOVO HOMEM
A Justificação é o ato pelo qual a culpa do homem é transferida para Jesus, que já a pagou através de Seu sacrifício expiatório da cruz, e pode cobrir o homem com sua justiça. É por isto que Paulo diz: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é....” (2Co.5:17). Portanto, quando a pessoa, pela fé, recebe Jesus como seu único e suficiente Senhor e Salvador, Deus lhe concede não somente o mero perdão de todos os pecados dantes cometidos, mas concede-lhe o status de justificado – declarado justo -, pois a justiça de Cristo muda por completo a "situação jurídica" do réu (1Co.6:11) - “..., mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus e pelo Espírito do nosso Deus”.
1. A inutilidade da justiça humana
Ninguém é justificado pelos seus próprios méritos. O apóstolo Paulo é contundente quanto a este aspecto: “Sendo, pois, justificados pela fé...” (Rm.5:1). Portanto, a fé é o único meio de obtermos a salvação e de nos justificarmos perante o Justo Juiz (Ef.2:8) – “Porque pela graça dois salvos, por meio da fé...”.
Mas, é preciso entender que a base da Justificação não é a fé, e sim, o sangue do Cordeiro de Deus. A fé é o meio, e não o fim. A fé, em si mesma, não salva, quem salva é Jesus. A fé é o meio, é o mover do homem, é como uma mão que se estende para tomar posse da bênção. Se essa mão não se estender, a bênção não é entregue, automaticamente.
Paulo, em Romanos 4:1-8, cita Abraão como exemplo de que a justificação pela fé é o único meio pelo qual Deus garante a salvação, tanto no Antigo como no Novo Testamento, tanto para os judeus como para os gentios. É, portanto, um erro acatar a tese de que no Antigo Testamento as pessoas eram salvas pelas obras, e no Novo Testamento, pela fé, ou que hoje a missão cristã deve limitar-se aos gentios, com base no pressuposto de que os judeus têm a sua forma distinta de salvação.
Afirma o Rev. Hernandes Dias Lopes: “a Justificação não é uma conquista humana, mas uma dádiva divina; não resulta do mérito, é obra da graça. A justificação não é o que recebemos por mérito próprio, mas o que recebemos pelos méritos de Cristo. A salvação não é um troféu que ostentamos como prêmio do nosso mérito, mas um dom que recebemos apesar do nosso demérito. A justificação pelas obras coloca a glória da salvação no homem e não em Deus. A pretensa e tola ideia da justificação pelas obras exalta o homem e dá a ele o direito de se gloriar por causa da sua própria salvação. Essa vã pretensão faz do homem o autor de sua própria salvação. Se Abraão tivesse sido justificado pela obediência às obras da lei, teria tido motivo de gloriar-se, mas não diante de Deus. Nenhum pecador pode ostentar seus troféus diante do trono de Deus. Nenhum pecador pode achegar-se à presença de Deus com arrogância. Aqueles que aplaudem a si mesmos e se ostentam de seus pretensos méritos jamais serão justificados. A vanglória diante de Deus é a mais consumada loucura, a mais repudiada tolice. Aliás, conforme afirma o profeta Isaias, todas as nossas justiças são como trapo da imundícia (Is.64:6)”.
Alguém poderá indagar: “por que Tiago afirma que somos justificados pelas obras?” (cf. Tg.2:24). Quando Tiago ensina que uma pessoa é justificada por obras, não está dizendo que ela é salva por suas boas obras, nem pela fé acrescida de boas obras. Antes, somos salvos pelo tipo de fé que redunda em boas obras. Em outas palavras, as boas obras não nos tornam merecedores da justificação, mas evidenciam que somos justificados.
2. A maravilhosa doutrina da Justificação
“Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm.5:1).
A Doutrina da Justificação é um dos principais pilares do cristianismo. Sem a Justificação a Igreja cai. Na Epístola aos Romanos, capítulo 3, Paulo defende a tese da necessidade absoluta da justificação pela fé, uma vez que se julgado pelas obras o homem está irremediavelmente perdido, pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus.
Em Romanos, capítulos 3 e 4, Paulo argumenta que a justificação: não é pelas obras, mas pela graça; não por merecimento nosso, mas pelos méritos de Cristo; não é por aquilo que fazemos para Deus, mas por aquilo que Deus fez por nós. A justificação, portanto, é um ato exclusivo de Deus (Rm.3:21-31).
No capítulo 5, o apóstolo Paulo trata acerca dos benefícios que a justificação traz à vida do cristão, quanto ao passado, presente e futuro. Todos os que estão justificados em Cristo: estão livres da ira vindoura (capítulo 5); estão livres do pecado (capítulo 6); estão livres da morte eterna (capítulo 8).
Para Paulo, a justificação não significa somente perdão e absolvição da culpa do pecado, também traz dentro de si a esperança da glória de Deus (Rm.5:2) e a promessa da salvação final (Rm.5:9,10), a glória futura, a vida eterna com Deus, a nossa glorificação, a plenitude da nossa salvação. Portanto, a justificação é o grande tema, o núcleo, a essência do cristianismo.
É importante entender que a justificação é um ajuste de contas que ocorre na mente de Deus. Não se trata de algo que o cristão sente; ele sabe que é justificado porque a Bíblia assim o diz. Segundo C.I. Scofield, “a Justificação é o ato de Deus por meio do qual Ele declara justo todo aquele que crê em Jesus. É algo que ocorre na mente de Deus, e não no sistema nervoso ou nas emoções do cristão”.
Quando Deus justifica o pecador que crê em Cristo, não apenas o absorve da culpa como também o reveste com a justiça divina e, desse modo, torna-o perfeitamente adequado para o Céu.
William Macdonald escreveu que “a justificação vai além da absolvição e consiste em aprovação; vai além do perdão e consiste em promoção. Na absolvição, a pessoa é apenas liberada de uma acusação. Na justificação, uma justiça positiva lhe é imputada. Deus declara justos os pecadores iníquos porque, por meio de sua morte e ressurreição, o Senhor Jesus Cristo pagou toda a dívida decorrente desses pecados. Os pecadores são justificados quando aceitam Cristo pela fé”.
3. O novo homem é declarado justo
Justificar não significa tornar alguém justo – “como está escrito: Não há um justo, nem um sequer” (Rm.3:10). Deus não torna a pessoa cristã impecável ou justa em si mesma. Antes, Deus lhe confere justiça. Ao justificar os pecadores, Deus deixa de imputar-lhes os pecados que eles têm e imputar-lhes justiça que eles não têm. Paulo diz em Romanos 3:21: “Mas, agora, se manifestou, sem a lei, a justiça de Deus, tendo o testemunho da Lei e dos profetas”.
Observe a conjunção adversativa neste texto: “mas”. Paulo, depois de provar a tese de que todos os seres humanos, de todas as raças, de todas as culturas, de todos os credos e de todos os estratos sociais - tanto gentios como judeus - são culpados diante de Deus; depois de colocar todos os homens sob a maldição e a condenação da lei, ele abre os portais da graça e aponta o caminho da salvação em Cristo, revelando que a salvação é uma obra exclusiva de Deus por meio de Cristo.
O termo “justiça”, no referido texto, traduz a palavra grega dikaiosyne, muito comum no contexto de um tribunal; a imagem é de alguém que é inocentado por um juiz, mesmo sendo culpado pelos seus atos.
Podemos concluir, então, que, mesmo culpados, Deus quis nos perdoar e nos justificar; mas, isto só foi possível mediante o sacrifício de Cristo na cruz do calvário. A Bíblia declara que não poderíamos ser redimidos sem o sacrifício de Cristo (Hb.9:22; Lv.17:11).
Na Cruz do Calvário, quando Ele declarou “está consumado”(João 19:30), o preço da redenção foi pago, a Justiça de Deus foi satisfeita. A punição exigida pela Justiça de Deus foi concretizada sobre Jesus; agora, mediante a redenção que há nEle, o ser humano é justificado – “sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus” (Rm.3:24).
Justificados, passamos a ser vistos por Deus como se jamais tivéssemos cometidos qualquer injustiça; de agora em diante, somos declarados justos diante de Deus. Afirma o apóstolo Paulo: “Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm.8:1).
- Ao ser declarado justo por Deus, o ser humano passa a ter paz com Deus (Rm.5:1) – “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo”.
Ao ser declarado justo por Deus, por causa do sacrifício de Cristo Jesus na cruz do Calvário, o homem passa a ter comunhão com o Senhor, passa a ser amigo de Deus, ou seja, não há mais separação entre Deus e o homem, vez que os pecados foram removidos. Em virtude disto, como o Senhor havia prometido no Éden, cria-se uma inimizade entre o homem e o pecado, e inimizade com o pecado representa amizade com Deus (Tg.4:4). Estabelece-se, portanto, a paz entre Deus e o homem (Ef.2:15).
- Ao ser declarado justo por Deus, o ser humano passa ter esperança da glória de Deus (Rm.5:2) – “...nos gloriamos na esperança da glória de Deus”.
A pessoa passa a ter uma nova perspectiva de vida, a sua razão de viver passa a ser a esperança da glória de Deus. O homem justificado sabe que seu destino é estar para sempre com o Senhor e passa a almejar este dia, quando o Senhor arrebatará a Igreja; é este o seu principal anelo. Não que se esqueça da vida terrena, como, habilmente, o adversário tenta incutir na mente dos incrédulos, mas sabe que esta vida terrena é passageira e que o objetivo do homem e da mulher está além das coisas desta vida. Disse o apóstolo Paulo: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1Co.15:19).
- Ao ser declarado justo por Deus, o ser humano é salvo da ira divina (Rm.5:9) – “Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira”.
Porque fomos justificados em virtude da morte de Cristo, o Senhor faz com que escapemos da ira que há de vir sobre o mundo. A ira de Deus não mais se volta contra nós, que passamos a estar sob a graça de Deus. Assim como o povo de Israel, conquanto no deserto, não sofria o calor escaldante durante o dia, porque era protegido pela nuvem, nem o frio intenso da noite, porque era protegido pela coluna de fogo, assim também nós, ainda que vivamos no mundo, estamos desfrutando da graça divina, do favor imerecido do Pai e não mais da ira de Deus. Como disse Davi no salmo 32, a mão pesada do Senhor se tornou misericórdia e orientação para o justificado.
- Ao ser declarado justo por Deus, o ser humano é reconciliado com Deus (Rm.5:11) – “E não somente isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação”.
A nossa reconciliação com Deus custou-lhe um preço infinito: a morte do seu próprio Filho. A cruz de Cristo foi o preço que Deus pagou para nos reconciliar consigo. A cruz de Cristo é a ponte entre a terra e o Céu. Nenhuma pessoa pode chegar até Deus a não ser por meio dessa ponte. Deus nos amou e nos deu seu Filho(João 3:16). Deus nos amou e Cristo morreu por nós. Na verdade, não foi a cruz de Cristo que gerou o amor de Deus; foi o amor de Deus que gerou a cruz(Rm.5:8;8:32). A cruz é o maior arauto do amor de Deus por nós. A cruz é a prova cabal de que Deus está de braços abertos para nos receber de volta ao lar.
III. A SANTIFICAÇÃO DO NOVO HOMEM
A palavra “Santificação” é empregada no processo pelo qual, depois da justificação, o cristão desenvolve um caráter que o qualifica ao Céu. Ela começa por ocasião da conversão, e continua através de toda a vida do crente, até chegarmos à glorificação, última fase do processo da salvação, aonde alcançaremos a estatura de varão perfeito.
Ao contrário da regeneração, que é um ato instantâneo, a Santificação é um processo de desenvolvimento espiritual, auxiliado pelo Espírito Santo, para que o homem possa prestar verdadeiro culto (serviço) ao Pai (ler Rm.12:1). Segundo a Bíblia, o propósito da santificação é que o velho homem deixe de viver e Cristo viva nele.
1. A santificação como posicionamento
Ao ser regenerado, o ser humano é declarado justo pelo Justo Juiz, e não somente isto, mas também é visto por Deus e pela Igreja como um santo, posicionalmente falando. Vejamos o que o apostolo Paulo, em sua saudação inicial, diz com relação aos cristos da Igreja de Corinto: ”à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos…” (1Co.1:2). Aqui, Paulo descreve o que essa igreja era em Cristo, a santificação posicional. Todo crente é santificado em Cristo; nesse caso, “santificados” significa separados do mundo para Deus e descreve a “posição” de todos os que pertencem a Cristo
Toda pessoa que crê em Jesus, e o aceita como Senhor e Salvador, é santa. Santificação em Cristo é posicional; é um ato e não um processo. Já separado do mundo, torna-se propriedade exclusiva do Senhor (Êx.19:5; 1Pd.2:9). Portanto, ser santo é estar em Cristo; esta é a santificação posicional.
Posicionalmente, os crentes em Cristo são santos, embora estejam ainda em processo de santificação, isto é, quanto à sua condição prática, eles devem separar-se dia após dia levando uma vida de santidade; é o que Paulo afirma com relação aos crentes de Corinto e que se aplica a todos nós hoje (1Co.1:2) – “[...] aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos…”.
Parece contraditório, pois se já é santo, então por que ser chamado para se santo? É que a primeira santificação é posicional e a segunda é processual. Quem está em Cristo é chamado para andar com Cristo. Quem está em Cristo precisa ser transformado contínua e progressivamente à imagem de Cristo; essa é a santificação processual. Essa santificação é progressiva e só terminará com a glorificação.
2. A santificação como processo
A Santificação é processo contínuo e progressivo, ou seja, o salvo vai se santificando a cada dia, a cada instante, e a cada momento de sua vida vai se distanciando do pecado e se aproximando do Senhor; é o que as Escrituras denominam de “aperfeiçoamento dos santos” (Ef.4:12). A cada instante devemos buscar mais da glória do Senhor, brilhar mais e mais, pois ainda não é dia perfeito. Por isso, não podemos jamais pensar em parar a nossa jornada, nem “estacionar” do ponto-de-vista espiritual, pois a nossa vida é uma carreira, que só terminará na volta do Senhor.
Parar, estacionar, nada mais é que regredir, é recuar, é retirar-se para a perdição, e a Bíblia é clara ao dizer que quem assim procede desagrada a Deus (Hb.10:38,39) – “Ora, amados, pois, que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundície da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus”(2Co.7:1).
Esta realidade da santificação é um dos pontos que nos permitem entender que a salvação não é algo que já esteja conquistado de antemão pelo ser humano, como defendem os adeptos da “doutrina da predestinação”, pois seria totalmente inexplicável tal recomendação divina, tantas vezes repetida no texto bíblico, se fosse impossível alguém perder a salvação uma vez obtida. A Santificação depende da atitude, da decisão de cada ser humano. Por isso, alguns, não vigiando, desviam-se da fé (Sl.119:118; Jr.5:5; Ez.18:26; 33:18; Lc.8:13; 1Tm.6:10; Tt.1:14; 2Tm.2:3,4,10).
No processo da salvação, a Santificação ocorre após a Justificação. A Justificação acontece fora de nós, é um ato de Deus, que ocorre em Sua mente; a Santificação ocorre dentro de nós, é um processo de cooperação entre o crente e o Espírito Santo que se inicia no momento da Justificação do salvo, isto é, Deus vê o crente como santo, ainda que a santidade dele precise ser aperfeiçoada (Ef.4:12). Por este processo, o crente se afasta (separa) do pecado para viver uma vida inteiramente consagrada a Deus, desenvolvendo nele a imagem de Cristo (Rm.8:29).
3. A santificação é a vontade de Deus no novo homem
A Bíblia Sagrada deixa claro que ser santo é uma exigência de Deus para aqueles que querem servi-lo. No Pátio do Tabernáculo, no deserto, Deus exigiu que se colocasse uma Pia de bronze. Os sacerdotes para aproximar-se de Deus e preparar-se para ministrar as coisas sagradas era necessário se purificar nessa Pia de bronze. Ali, os sacerdotes se lavavam antes de oficiar as coisas sagradas. Apresentar-se diante de Deus sem atentar para a exigência da purificação podia custar aos sacerdotes a vida – “para que não morram” (Êx.30:20). Isto demonstra que é necessário purificar-se para servir a Deus, pois “sem santificação, ninguém verá o Senhor” (Hb.12:14).
Na Nova Aliança é inaceitável que um obreiro na Casa do Senhor queira ministrar sem santificação. Quão triste é quando um ministro de valor, que é usado por Deus, por causa de grandes expectativas e pressões esquece a exigência de Deus de que ele "mantenha suas mãos e pés limpos". As consequências são: uma vida e um ministério arruinados, o nome do Senhor levado a desrespeito, e aquele mensageiro outrora flamejante é agora abatido e esmagado.
O cristão precisa ser limpo “com a lavagem da água, pela Palavra” (Ef.5:26) e pela “regeneração”, e “renovação do Espírito Santo” (Tito 3:5). Peçamos ajuda a Deus para passar bastante tempo junto à Pia da Palavra de Deus para termos certeza, em primeiro lugar, se nossas mãos – que são os nossos atos de adoração - e nossos pés – que significa o nosso andar perante Deus - estão puros à sua vista. Está escrito:
“mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (1Pd.1:15,16). “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb.12:14).
Os que não conhecem a Bíblia pensam que para ser santo é preciso estar morando no céu. Pensam que é lá que vivem os santos. Porém, pela Palavra de Deus sabemos que Deus exigiu que Israel fosse santo durante a peregrinação através do deserto. Foi lá no Monte Sinai que Deus disse: “...Santos sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo”(Lv.19:2). Naquele deserto, Israel teria que andar com Deus. Porém, o profeta Amós pergunta: “Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?”(Amós 3:3). Deus é Santo, e só existe uma maneira de poder andar com ele: sendo santo.
Devemos ser santos porque no Céu, no santuário de Deus, só entra santos - “Senhor, quem habitarás no teu tabernáculo? Quem morará no teu santo Monte? Aquele que anda sinceramente, e pratica a justiça, e fala a verdade no seu coração” (Salmo 15:1,2). O Senhor Deus diz: “Os meus olhos procurarão os fiéis da terra, para que estejam comigo; o que anda num caminho reto, esse me servirá”(Salmo 101:6). Somente os santos é que podem ser fiéis; só os santos morarão no Céu. Pense nisso!
CONCLUSÃO
O novo homem em Jesus Cristo, como pessoa regenerada, justificada e santificada, deve demonstrar ao mundo perdido, com suas atitudes, que somente Jesus pode salvar e transformar o pecador.
Se todos os crentes tivessem uma plena visão da salvação, se pudessem ver plenamente ao longe a tão grande salvação que receberam, com certeza teriam atitudes diferentes no seu dia-a-dia; teriam tanto regozijo, tanta motivação, tanto entusiasmo, tanta convicção, tanto anseio e enlevo pelo céu, que não haveria na Terra um só salvo descontente, descuidado, negligente e embaraçado com as coisas desta vida e deste mundo. Pensemos nisto e oremos como orou o profeta Habacuque: “... aviva, ó SENHOR, a tua obra no meio dos anos, no meio dos anos a notifica...” (Hc.3:2).