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COMO VENCER AS OPOSIÇÕES À OBRA DE DEUS



 Texto Base: Neemias 4:8-20; 1João 4:4; 5:5 
“Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou” (Rm.8:37).
 

Neemias 4

8.E ligaram-se entre si todos, para virem atacar Jerusalém e para os desviarem do seu intento.

9.Porém nós oramos ao nosso Deus e pusemos uma guarda contra eles, de dia e de noite, por causa deles.

10.Então, disse Judá: Já desfaleceram as forças dos acarretadores, e o pó é muito, e nós não poderemos edificar o muro.

11.Disseram, porém, os nossos inimigos: Nada saberão disso, nem verão, até que entremos no meio deles e os matemos; assim, faremos cessar a obra.

12.E sucedeu que, vindo os judeus que habitavam entre eles, dez vezes nos disseram que, de todos os lugares, tornavam a nós.

13.Pelo que pus guardas nos lugares baixos por detrás do muro e nos altos; e pus o povo, pelas suas famílias, com as suas espadas, com as suas lanças e com os seus arcos.

14.E olhei, e levantei-me, e disse aos nobres, e aos magistrados, e ao resto do povo: Não os temais; lembrai-vos do Senhor, grande e terrível, e pelejai pelos vossos irmãos, vossos filhos, vossas mulheres e vossas casas.

15.E sucedeu que, ouvindo os nossos inimigos que já o sabíamos e que Deus tinha dissipado o conselho deles, todos voltamos ao muro, cada um à sua obra.

16.E sucedeu que, desde aquele dia, metade dos meus moços trabalhava na obra, e a outra metade deles tinha as lanças, os escudos, os arcos e as couraças; e os chefes estavam por detrás de toda a casa de Judá.

17.Os que edificavam o muro, e os que traziam as cargas, e os que carregavam, cada um com uma mão fazia a obra e na outra tinha as armas.

18.E os edificadores cada um trazia a sua espada cingida aos lombos, e edificavam; e o que tocava a trombeta estava junto comigo.

19.E disse eu aos nobres, e aos magistrados, e ao resto do povo: Grande e extensa é a obra, e nós estamos apartados do muro, longe uns dos outros.

20.No lugar onde ouvirdes o som da buzina, ali vos ajuntareis conosco; o nosso Deus pelejará por nós.

1 João

4:4.Filhinhos, sois de Deus e já os tendes vencido, porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo.

5:5.Quem é que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos da oposição dos inimigos à obra realizada. Logo que a reconstrução dos muros de Jerusalém começou, a oposição se levantou. O capítulo 4 de Neemias é um resumo do que aconteceu durante os 52 dias de reconstrução. Sempre que o povo de Deus se levanta para fazer a Sua obra, isso incomoda o inimigo. Variados foram os métodos do inimigo para tentar paralisar a obra, mas Neemias resistiu a cada investida, porque ele confiava na vitória de Deus. Ainda hoje, sempre que a Igreja de Deus se levanta para fazer a obra de Deus, o inferno se agita, o mundo se levanta e há uma conspiração contra ela de todas as forças aliadas. A vida cristã é uma guerra contínua, é uma batalha sem trégua. É impossível realizar a Obra de Deus sem oposição.

I. QUAL A PROCEDÊNCIA DESSES ATAQUES?

A procedência era maligna. Satanás usou os seus fantoches dos quatro pontos cardeais do território de Israel para atacar o povo de Deus. Do Norte: Sambalate (governador de Samaria); do Leste, Tobias (da nobreza dos amonitas) e Gesém (o árabe – possível rei de Quedar, segundo descobertas arqueológicas); do Sul, os arábios, os amonitas e os asdoditas (Ne.4:7) se uniram a estes para se oporem ao povo de Deus. Houve uma orquestração maligna contra o povo de Deus. Como não bastasse, os judeus que moravam fora de Jerusalém trouxeram notícias de um ataque iminente. Neemias rapidamente colocou o povo por detrás do muro e entregou armas aos trabalhadores, encorajando-os com as palavras: “lembrai-vos do Senhor[...] e pelejai” (ler Ne.4:7-14).

1. A ira dos adversários

E sucedeu que, ouvindo Sambalate que edificávamos o muro, ardeu em ira, e se indignou muito...”(Ne.4:1).

A restauração de Jerusalém provocou a ira dos adversários. Isso ocorreu desde o início. Quando Neemias teve permissão e recursos para voltar a Jerusalém, a oposição ficou profundamente perturbada (Ne.2:9,10); quando o povo declarou sua intenção de reconstruir os muros, a oposição zombou dele e o desprezou (Ne.2:18,19); quando o povo de fato começou a recons­truir os muros, a oposição “ardeu em ira, e se indignou muito, e escarneceu dos judeus” (Ne.4:1); quando o povo continuou a reconstruir os muros, a oposição ficou muito irada e conspirou atacá-lo e criar confusão (Ne.4:6-8); e, por fim, quando o povo concluiu a re­construção dos muros, a oposição fingiu aceitar, mas queria prejudicá-lo (Ne.6:1-9).

Sambalate, o líder opositor, mobilizou seu exército e procurou incitar o povo contra os judeus (Ne.4:2; ler Ne.4:7). Esses inimigos não queriam a restauração do povo de Deus. Enquanto Jerusalém estava debaixo de opróbrio, eles estavam calmos, mas bastou a disposição para a reforma, e eles se agitaram e se levantaram com grandes insultos.

Da mesma forma, hoje, os nossos inimigos não ficam sossegados quando alguém luta pela Igreja e se levanta para reconstruir a Casa de Deus. Onde o povo de Deus busca restauração, avivamento, ocorre a fúria do inimigo.

2. A falsa acusação

“O que ouvindo Sambalate, o horonita, e Tobias, o servo amonita, e Gesém, o arábio, zombaram de nós, e desprezaram-nos, e disseram: Que é isso que fazeis? Quereis rebelar-vos contra o rei?”(Ne 2:19).

Sambalate e Tobias rotularam a reconstrução dos muros de Jerusalém como uma rebelião contra o rei Artaxerxes e não uma reforma, provavelmente ameaçando denunciar os construtores como traidores. Mas Neemias tinha uma resposta para eles que revelava não apenas a sua própria determinação de realizar o trabalho até à sua conclusão, porém mais significativamente a sua fé em Deus, que tinha o poder de ajudá-lo a executar o trabalho para o qual o próprio Senhor o havia chamado.

3. A resposta à insinuação caluniosa

A calúnia foi uma arma de ataque usada pelos inimigos. Neemias confiou em Deus, e recusou dar ouvidos às falsas acusações dos inimigos. Neemias, sempre prudente e sábio, respondeu-lhes:

“O Deus dos céus é o que nos fará prosperar; e nós, seus servos, nos levantaremos e edificaremos...”(Ne.2:20).

A confiança em Deus é o maior incentivo à obra. Isso sugere poderosa proteção: "O Deus dos céus..." (Ne.2:20). Isso sugere também providencial vitória: "[...] é quem nos fará prosperar[nos dará êxito –ARA]" (Ne.2:20). Quem confia em Deus não teme os adversários, não se rende diante de suas ameaças e falsas acusações.

Sem a ajuda de Deus, o nosso trabalho é vão - "Se o Senhor não edificar a cidade, em vão trabalham os que a edificam" (Sl.127:1). A Obra de Deus é feita não por força nem por violência, mas pelo Espírito de Deus (Zc.4:6). Jesus disse: "Sem mim, nada podeis fazer" (João 15:5). Paulo pergunta: "Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (Rm.8:31). João foi contundente: "Maior é aquele que está em nós do que aquele que está no mundo”(1João 4:4).

A vitória vem de Deus, mas nós precisamos empunhar as ferramentas de trabalho e as armas de combate. É preciso se dispor e reedificar. A soberania de Deus não anula a responsabilidade humana. Neemias foi contundente diante da oposição: “... nos levantaremos e edificaremos...”.

Quando a reconstrução dos muros de Jerusalém terminou em cinquenta e dois dias, até mesmo os inimigos dos judeus tiveram de reconhecer que essa obra fora concluída com a ajuda de Deus (cf.Ne.6:15,16). Deus sempre cumpre a sua parte quando os fiéis cumprem a sua, com fé perseverante.

Aprendemos aqui que o verdadeiro líder não se deixa desencorajar por ataques pessoais injustos; o verdadeiro líder se preocupa com a causa em que está envolvido. O líder de Deus não se cansa enquanto não vê a obra das suas mãos concluída.

II. O INIMIGO PROCURA ATINGIR A NOSSA FÉ

Os inimigos usaram a ridicularização para tentar dissuadir o povo de realizar a obra de Deus. Usaram os meios mais diabólicos para causar desespero e desânimo no povo de Deus.

1. O Inimigo ataca com a arma do escárnio (Ne.4:1,3)

“Tendo Sambalate ouvido que edificávamos o muro, ardeu em ira, e se indignou muito, e escarneceu dos judeus” (Ne.4:1).

“Estava com ele Tobias, o amonita, e disse: Ainda que edifiquem, vindo uma raposa, derribará o seu muro de pedra” (Ne.4:3).

Esta é uma arma poderosa que os inimigos sempre usaram para destruir a obra de Deus e para desanimar o Seu povo, e os inimigos a usaram para enfraquecer o ânimo do povo de Deus. Quando os servos de Deus sofrem escárnio, são tentados a ficarem desanimados.

A obra de Deus sempre foi alvo de zombaria e escárnios. Constantemente, os féis de Deus enfrentam este tipo de agressão, pelo fato de, a cada dia, procurarem viver uma vida de retidão entre os que não conhecem a Deus. Mas, isto está escrito nas Escrituras que aconteceriam ao povo de Deus. Podemos lembrar aqui de alguns exemplos de escárnios e zombarias registradas nas Escrituras Sagradas:

a) Escarneceram do próprio Senhor Jesus. Jesus estava iniciando sua dolorosa caminhada rumo à cruz, e Satanás, usando pessoas, utilizou a zombaria para atacar o Senhor de maneira vil:

“E, despindo-o, o cobriram com uma capa de escarlate. E, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça e, em sua mão direita, uma cana; e, ajoelhando diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, Rei dos judeus! E, cuspindo nele, tiraram-lhe a cana e batiam-lhe com ela na cabeça. E, depois de o haverem escarnecido, tiraram-lhe a capa, vestiram-lhe as suas vestes e o levaram para ser crucificado”(Mt.27:28-31).

O Senhor era de fato Rei, porém seu reino não era terreno (João 18:36). Aproveitando a situação, o inimigo tentou humilhá-lo, através do escárnio e da violência! Contudo, o diabo não conseguiu afastá-lo de seu objetivo que foi a morte na cruz pelos nossos pecados. O "justo morreu pelos injustos, para levar-nos a Deus" (1Pd.3:18).

b) Escarneceram da mensagem de Paulo. Certa feita, o apóstolo Paulo pregava no areópago, um centro de convenções na cidade de Atenas. Nesse lugar, havia altares para os mais diversos deuses. Ali, ele aproveitou o momento e, partir de um altar erigido ao "Deus desconhecido", mostrou-lhes o caminho da salvação. Porém, quando falou sobre a questão da ressurreição dos mortos, o clima de curiosidade foi transformado num clima de zombaria! O desprezo tomou conta dos presentes, que não queriam mais ouvi-lo:

“E, como ouviram falar da ressurreição dos mortos, uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te ouviremos outra vez”(At.17:32).

Como povo do Deus vivo, não podemos perder de vista o fato de que sempre houve e sempre haverá escarnecedores da obra de Deus. Tanto Pedro, como Judas nos alertam que esta artimanha diabólica tenderá a crescer nos últimos dias.

  • 2Pedro 3:3: “sabendo primeiro isto: que nos últimos dias virão escarnecedores, andando segundo as suas próprias concupiscências”.
  • Judas 18: “os quais vos diziam que, no último tempo, haveria escarnecedores que andariam segundo as suas ímpias concupiscências”.

Esses escarnecedores terão um estilo próprio e, escorados em suas tendências carnais pecaminosas, investirão contra os servos de Deus e sua obra. Isto faz parte da cruz que devemos aceitar quando seguimos a Jesus (Mt.10:38,39; 16:24,25). Os que são carnais procuram escapar do escândalo da cruz (Gl.5:11).

2. O Inimigo ataca com a arma do desprezo

“Que fazem estes fracos judeus?” (Ne.4.2).

Os inimigos tentaram diminuir a autoestima do povo de Deus, chamando-o de fraco. A força de um povo é constatada pelas suas atitudes que, na verdade, são reflexos da ação do seu líder, ou seja, a ação do líder determina a reação de um povo. Um líder fraco enfraquece a forte gente; um líder forte fortalece a fraca gente, e esta é uma realidade bíblica. Se Neemias tivesse demonstrado fraqueza naquele momento de escárnio e zombaria, o povo tinha recuado e a liderança de Neemias estaria arruinada.

Entre os pastores da Palestina contava-se uma história interessante e auto didática:

Certo pastor de ovelhas, no seu pastoreio diário, cumpria uma rotina de caminhada e, nesta caminhada, no início da tarde, chegava com suas ovelhas ao pasto que considerava ele ser o melhor, um extenso gramado a beira de um raso e calmo rio.

Certo dia, ao analisar minuciosamente o comportamento do rebanho, percebeu que, mesmo parecendo, ele não estava fazendo o melhor por suas ovelhas. Erguendo então os olhos, vislumbrou além do rio um pasto muito melhor e decidiu fazer as ovelhas atravessarem o rio a fim de alcançarem melhor pasto. Enfileirou-as e as instigava a atravessarem. Entretanto, a fila não andava, pois não havia ovelha que ousasse entrar nas correntes mansas e rasas do rio.

Então o pastor pensou e decidiu: “Vou colocar a mais robusta e saudável no início da fila. Assim, ao fazê-la atravessar, todas as outras a seguirão. Não adiantou, o rebanho não andou. Insistindo nisto várias vezes, sem êxito, se irritou e disse consigo mesmo: eu vou atravessar, e quem quiser o melhor me seguirá!”. As ovelhas o observaram atentamente.

O pastor empunhou o cajado com firmeza, olhou fixamente a outra margem e entrou nas rasas e mansas águas do rio e para sua surpresa, nenhuma das ovelhas deixou de atravessar. Até aquelas que ele julgava serem as mais fracas seguiram-no; e todas atravessaram e alcançaram o melhor pasto. Moral da história: se o líder quer que o povo faça, basta-lhe apenas dar o exemplo, agindo corretamente, pois a ação do líder determina a reação do povo.

Quando lemos o livro de Josué e sua trajetória de virtuosa liderança nos capítulos 3 e 4, na travessia do rio Jordão, nós compreendemos que as ações de Josué foram determinantes. Ele levantou de madrugada, foi com os sacerdotes o primeiro a pisar nas águas transbordantes do Jordão. Parou no meio do rio e, enquanto o povo a pés enxutos atravessava, Josué ordenou que dali de perto das plantas dos pés dos sacerdotes se tirassem doze pedras para com elas erigir um monumento para memorial (ver Js.4:3).

Em toda a história de Josué você não o encontra se lamentando, se lastimando, desanimado, cabisbaixo ou coisa parecida. Desde Êxodo 17, nós o vemos lutando, e no final de sua carreira, o encontramos dizendo: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor!” (cf. Js.24:15).

3. O inimigo tenta atacar a comunhão do povo e o culto a Deus

“...Permitir-se-lhes-á isso? Sacrificarão?” (Ne.4:2).

Esta é uma tática corriqueira de Satanás. Quando ele vê que o povo de Deus está em comunhão, em consagração a Deus, fará de tudo para desfazer isso; por isso, o povo de Deus precisa estar sob alerta e discernente com relação aos ardis de Satanás.

4. O inimigo tenta desunir o povo de Deus

Percebendo Sambalate, o líder dos opositores, que o povo de Deus estava unido, indagou:

”acabá-lo-ão num só dia? Vivificarão dos montões do pó as pedras que foram queimadas?” (Ne.4:2).

A desunião e a divisão entre o povo de Deus são armas muito utilizadas por Satanás, talvez as mais usadas contra a Igreja do Senhor. Atualmente, o adversário de nossas almas tem conseguido causar grande prejuízo à obra de Deus porque tem criado, no meio do povo de Deus, o espírito de divisão, o ânimo da competição, gerando brigas, disputas e lutas entre quem deveria ser irmão. Este espírito faccioso tem origem diabólica (Tg.3:15,16), gerando tão somente perversão e animosidade. Fujamos, pois, de tal comportamento; busquemos estar debaixo da mão potente de Deus, em comunhão com Ele e com o Príncipe da Paz; enquanto depender de nós, devemos ter paz com todos os homens (Rm.2:13), o que significa termos, sempre, paz com os irmãos (1Ts.5:13).

5. O inimigo zomba do povo de Deus, ridicularizando o valor e a consistência do seu trabalho

“... Ainda que edifiquem, vindo uma raposa, derrubará facilmente o seu muro de pedra”(4:3).

O mundo continuamente despreza os padrões morais do cristão e zomba da sua dedicação a Cristo. O desprezo e a zombaria atacam nossas emoções e podem provocar reações das mais diversas - como ira, ódio, agressão, etc. Porém, não podemos nos deixar levar por estes sentimentos, pois o desequilíbrio da Igreja é o que Satanás mais quer. Nossa confiança e nossa resposta devem ser as mesmas de Neemias: “o Deus dos céus nos ajudará e por fim vindicará os justos” (Ne.2:20).

Apesar de todos esses ardis dos inimigos do povo de Deus, Neemias não vacilou; em vez de trocar insultos, se revestiu da maior arma: a oração (Ne.4:4,5). A oração é a coisa mais prática que podemos fazer nos momentos que os inimigos escarnecem de nós, zombam de nós, criticam-nos. Todavia, ela não é um substituto da ação.

Neemias faz uma oração imprecatória por duas razões: Primeiro, porque os inimigos estavam provocando a própria ira de Deus. Segundo, porque os inimigos estavam desprezando o próprio povo de Deus. A oração nos capacita a dar vazão ao que sentimos e nos capacita a olhar o problema da perspectiva de Deus. Quando oramos, nossa ira e nossos ressentimentos se dissipam. Revestido desta arma, Neemias recobrou o ânimo para trabalhar (Ne.4:6) - “Assim, edificamos o muro, e todo o muro se cerrou até sua metade; porque o coração do povo se inclinava a trabalhar”.

Esse procedimento de Neemias nos traz duas belas lições:

·         Primeiro, quando formos escarnecidos por causa de nossa fé ou criticados por fazermos o que sabemos ser correto, recusemo-nos a responder da mesma maneira ou a tornarmo-nos desencorajados; digamos a Deus como nos sentimos e lembremo-nos de que a promessa dEle está conosco; isto nos dará encorajamento e força para continuarmos.

·         Segundo, não fomos chamados para contar os inimigos nem temê-los; fomos chamados para fazer a obra de Deus apesar da oposição. Concentremo-nos, pois, em Deus e na sua obra, e não teremos tempo para sermos distraídos pelas críticas do inimigo.

6. O Inimigo usa como arma as ameaças

“Mas, ouvindo Sambalate e Tobias, os arábios, os amonitas e os asdoditas que a reparação dos muros de Jerusalém ia avante e que já se começavam a fechar-lhe as brechas, ficaram sobremodo irados. Ajuntaram-se todos de comum acordo para virem atacar Jerusalém e suscitar confusão ali (Ne.4:7,8).

Os inimigos dos judeus ameaçaram guerrear contra eles, a fim de espalharem medo e pânico entre o povo de Deus. Porém, Neemias disse: “Oramos ao nosso Deus e pusemos guarda contra eles!” (Ne.4:9). Os judeus não atacaram os samaritanos, mas defenderam a sua área de trabalho (Ne.4:13-20).

Ao perceberem que as sutilezas utilizadas não surtiram quaisquer efeitos sobre Neemias e seus comandados, os inimigos ficaram tremendamente irados - "...iraram-se sobremodo..." (Ne.4:7). Então, formaram uma grande coligação e ensaiaram uma guerra contra o povo de Deus – "...coligaram-se todos, para virem guerrear contra Jerusalém e fazer confusão ali" (Ne.4:8).

A confusão é tão perigosa quanto a violência do inimigo. A confusão visava a distrair o povo e tirar os seus olhos do foco. Eles queriam não apenas causar confusão, mas matar os judeus (Ne.4:11), obtendo, assim, o seu verdadeiro objetivo: paralisar a obra (Ne.4:11).

Esta é uma tática diabólica que assusta, mete medo! Muitos desistem dos planos de restauração, quando a resistência atinge este nível ameaçador. Porém, olhando para o texto bíblico, podemos perceber como Neemias orientou seu povo a não se intimidar com as ameaças, mas preparou-se para um possível ataque. Ele usou duas armas infalíveis contra Satanás: a oração e a vigilância – “Porém nós oramos ao nosso Deus e pusemos uma guarda contra eles, de dia e de noite, por causa deles” (Ne.4:9).

7. Os inimigos se orquestraram para paralisar a Obra de Deus (Ne.4:10-12)

10.Então, disse Judá: Já desfaleceram as forças dos carregadores, e os escombros são muitos; de maneira que não podemos edificar o muro.

11.Disseram, porém, os nossos inimigos: Nada saberão disto, nem verão, até que entremos no meio deles e os matemos; assim, faremos cessar a obra.

12. Quando os judeus que habitavam na vizinhança deles, dez vezes, nos disseram: De todos os lugares onde moram, subirão contra nós,

Os nossos inimigos estão sempre procurando uma brecha para nos atingir e assim paralisar a obra de Deus. Eles usaram três expedientes para impedir o avanço da obra de Deus:

a) Em primeiro lugar, os inimigos tentaram paralisar a obra provocando desânimo interno (Ne.4:10). Os problemas internos são mais perigosos do que os problemas externos. Os carregadores estavam sem forças, os escombros eram muitos e a conclusão óbvia era: "não podemos edificar o muro". Eles sentiram que não tinham capacidade para concluir a obra. Muitas vezes, o nosso maior problema somos nós mesmos. O maior obstáculo da obra são os obreiros, dizia Dwight Moody. Um povo desanimado sempre olha para as circunstâncias em vez de olhar para o Senhor; escuta mais a voz do inimigo do que a voz de Deus.

b) Os inimigos tentaram paralisar a obra espalhando boatos... (Ne.4:12). Aqueles que moravam fora de Jerusalém, próximos desses inimigos, traziam comentários assustadores e os espalhavam no meio do povo. Eles diziam:

"De todos os lugares onde moram, subirão contra nós. Estamos completamente cercados, não temos a mínima chance".

O boato visa destruir o espírito de coragem e cooperação. Boatos são setas do inimigo. Onde prospera a boataria, os obreiros de Deus ficam alarmados e a obra de Deus é paralisada. Os boatos sempre superdimensionam os problemas. Parecia uma invasão avassaladora, irresistível. O povo estava guardando os muros, mas não estava guardando seus ouvidos do que os inimigos diziam. Neemias enfrentou esse problema do desânimo de três formas diferentes:

·    Advertiu o povo: "Não os temais".

·    Animou o povo: "Lembrai-vos do Senhor".

·    Motivou o povo: "Pelejai pelas vossas famílias”.

“E olhei, e levantei-me, e disse aos nobres, e aos magistrados, e ao resto do povo: Não os temais; lembrai-vos do Senhor, grande e terrível, e pelejai pelos vossos irmãos, vossos filhos, vossas mulheres e vossas casas” (Ne.4:14).

c) Os inimigos tentaram paralisar a obra destruindo o povo de Deus (Ne.4:11). A Bíblia diz que a nossa luta não é contra carne e sangue. O nosso inimigo é ladrão e assassino. Ele veio roubar, matar e destruir. Ele tem arruinado muitas vidas, destruído muitos lares, debilitado muitas igrejas, paralisado em muitos lugares a obra de Deus. O povo de Deus precisa ter sabedoria e discernimento nestes momentos de perseguição do inimigo, e tomar posse das armas adequadas de ataque e defesa contra as potestades do mal. É o que Paulo recomenda em Efésios 6:11-18).

III. QUAIS SÃO AS ARMAS DE COMBATE ÀS AMEAÇAS E SUTILEZA DO INIMIGO?

Neemias nos ensina cinco princípios (Adaptado do Livro Neemias, de Hernandes Dais Lopes):

1. Cada um deve defender sua própria família (Ne.4:13,14b)

13.então, pus o povo, por famílias, nos lugares baixos e abertos, por detrás do muro, com as suas espadas, e as suas lanças, e os seus arcos;

14.inspecionei, dispus-me e disse aos nobres, aos magistrados e ao resto do povo: não os temais; lembrai-vos do Senhor, grande e temível, e pelejai pelos vossos irmãos, vossos filhos, vossas filhas, vossa mulher e vossa casa.

Um líder precisa saber como repreender, encorajar e motivar os outros. Não podemos ter uma Igreja forte se não protegermos nossa própria família das investidas do inimigo. Neemias era sábio o suficiente para saber que cada um devia defender prioritariamente sua própria família. Neemias exorta: "[...] pelejai pelos vossos irmãos, vossos filhos, vossas filhas, vossa mulher e vossa casa".

2. Precisamos empunhar as armas de defesa e combate (Ne.4:13)

Não podemos enfrentar os inimigos sem usarmos nossas armas de defesa e combate. Cada obreiro é um soldado. Estamos em guerra. Nessa batalha espiritual enfrentamos inimigos invisíveis e tenebrosos. Nessa batalha não há trégua nem pausa. Nossos adversários não descansam, não tiram férias nem dormem. Eles vivem nos espreitando e buscando uma oportunidade para nos atacar. Precisamos vigiar e empunhar as armas.

As principais armas que Neemias utilizou para enfrentar a pressão e o ataque dos inimigos foram: a Oração e a vigilância:

 “Porém nós oramos ao nosso Deus e pusemos uma guarda contra eles, de dia e de noite, por causa deles”(Ne.4:9).

O apóstolo Paulo, também, exorta a Igreja a tomar posse destas armas: “orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito e vigiando nisso com toda perseverança e súplica por todos os santos” (Ef.6:18).

a) A oração – “Porém nós oramos ao nosso Deus...”. Neemias era um homem prático, um administrador por excelência. Ele tinha a capacidade de fazer as perguntas certas, de contatar as pessoas certas, de mobilizar essas pessoas, levantar seu ânimo e desafiá-las para uma grande obra. Mas, Neemias sabia que o sucesso da obra de Deus dependia também e, sobretudo, de oração. Esse grande líder sabia que fé (oração) e obra (puseram guarda) andam juntas. A oração não é um substituto da ação. Não podemos enfrentar os inimigos sem o socorro de Deus, sem a ajuda do céu.

b) Vigilânca – “...pusemos uma guarda contra eles, de dia e de noite, por causa deles”. Neemias era um sujeito prático. Ele não era uma dessas pessoas de quem algumas vezes dizemos que são tão religiosas que não têm qualquer utilidade terrena. Ele mantinha os seus pés no chão. Ele sabia como organizar e atuar. Mas ele decidiu que, enquanto orava e trabalhava, deveria haver uma sentinela que vigiasse dia e noite, e que cada seção do muro deveria ser guardada pela vigília de um homem atento ao inesperado ataque do inimigo. Portanto, não basta orar, é preciso vigiar. É preciso manter os olhos abertos. É preciso existir estreita conexão entre o céu e a terra, confiança e boa organização, fé e obras. É preciso estar atento aos ardis, laços e ciladas do inimigo. Muitos caem porque deixam de vigiar.

3. Precisamos ter uma liderança firme e exemplar (Ne.4:14)

Neemias não abandonou o povo na hora da pressão. Ele inspecionou a obra. Ele tomou a frente. Ele desafiou os líderes. Ele deu exemplo.

A liderança ocupa uma posição de absoluta importância na hora do combate. Uma liderança fraca, medrosa, vacilante e sem vida não transmite segurança para o povo na hora da crise. Só líderes fortes e incorruptos podem conduzir o povo a grandes vitórias.

4. Precisamos colocar os olhos em Deus e não no inimigo (Ne.4:14)

O ponto básico do desafio de Neemias é: "Lembrai-vos do Senhor". Observe o que Deus já fez. Olhe para a sua fidelidade no passado. Veja os livramentos que Ele já deu ao Seu povo. Não será diferente agora.

Temos de ter muito cuidado com a festa da vitória. Nunca somos tão vulneráveis quanto depois de uma grande vitória. A tendência depois de uma consagradora vitória é ensarilhar as armas. Elias, depois de retumbante vitória no Monte Carmelo sobre os profetas de Baal, tirou os olhos de Deus e fugiu amedrontado diante das ameaças insolentes de Jezabel. O segredo da vitória contínua é mantermos continuamente nossos olhos em Deus em vez de colocá-los nas circunstâncias ou nas pessoas.

5. Precisamos redirecionar o foco do nosso temor (Ne.4:14)

“...lembrai-vos do Senhor, grande e temível”.

Em vez de temer o inimigo, devemos nos voltar para o nosso Senhor, grande e temível. Quem teme a Deus, não teme aos homens. Quando colocamos os nossos olhos em Deus, Ele frustra os desígnios do nosso inimigo. Muitos líderes naufragam porque em vez de temer a Deus, temem os homens; em vez de agradar a Deus, tentam agradar os homens; em vez de servir a Deus, tentam bajular os homens.

CONCLUSÃO

Em cada época existem aqueles que odeiam o povo de Deus e tentam impedir a realização dos seus propósitos. Mas, Deus é mais forte do que todos os seus adversários. Se confiarmos nele, teremos bom êxito no trabalho. Neemias sabia que o Senhor o havia enviado para Jerusalém, e que pelejava por eles. Esta certeza, acompanhada do compromisso com a oração foram importantes para que o servo do Senhor alcançasse êxito na sua missão.

“Meus irmãos, não vos maravilheis, se o mundo vos odeia”(1João 3:13).

AS CAUSAS DA DESUNIÃO DEVEM SER ELIMINADAS

 
Texto Base: Neemias 5:1,6-12
 “Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!” (Sl.133:1).

Neemias 5:1,6-12

1.Foi, porém, grande o clamor do povo e de suas mulheres contra os judeus, seus irmãos.

6.Ouvindo eu, pois, o seu clamor e essas palavras, muito me enfadei.

7.E considerei comigo mesmo no meu coração; depois, pelejei com os nobres e com os magistrados e disse-lhes: Usura tomais cada um de seu irmão. E ajuntei contra eles um grande ajuntamento.

8.E disse-lhes: Nós resgatamos os judeus, nossos irmãos, que foram vendidos às gentes, segundo nossas posses; e vós outra vez venderíeis vossos irmãos ou vender-se-iam a nós? Então, se calaram e não acharam que responder.

9.Disse mais: Não é bom o que fazeis: Porventura, não devíeis andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos?

10.Também eu, meus irmãos e meus moços, a juro, lhes temos dado dinheiro e trigo. Deixemos este ganho.

11.Restituí-lhes hoje, vos peço, as suas terras, as suas vinhas, os seus olivais e as suas casas, como também o centésimo do dinheiro, do trigo, do mosto e do azeite, que vós exigis deles.

12.Então, disseram: Restituir-lho-emos e nada procuraremos deles; faremos assim como dizes. Então, chamei os sacerdotes e os fiz jurar que fariam conforme esta palavra.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos dos conflitos internos decorrentes das injustiças sociais e desordens que levavam o povo judeu a um nível de desunião e hostilidade. A avareza dos ricos trouxe diversos problemas internos, sendo a principal delas a inimizade intensa entre o povo. Evidentemente, os alimentos eram escassos e caros. A inflação, sem contar os tributos que os judeus eram obrigados a pagar ao rei, levara muitos à pobreza, de modo que o povo foi obrigado a pegar dinheiros emprestado dos mais abastados e hipotecar suas propriedades. Alguns foram obrigados inclusive a vender seus filhos e filhas como escravos. E, como suas terras pertenciam a outros, muitos ficaram sem recursos para comprar os filhos de volta. Neemias tinha um grande problema a tratar; não um problema externo, mas interno; não procedente dos inimigos, mas oriundo dos irmãos. Ele agora enfrenta o problema da usura, da injustiça social, da opressão econômica. Veja o que está narrado em Neemias 5:1-6:

1.Foi grande, porém, o clamor do povo e de suas mulheres contra os judeus, seus irmãos.

2.Porque havia os que diziam: Somos muitos, nós, nossos filhos e nossas filhas; que se nos dê trigo, para que comamos e vivamos.

3.Também houve os que diziam: As nossas terras, as nossas vinhas e as nossas casas hipotecamos para tomarmos trigo nesta fome.

4.Houve ainda os que diziam: Tomamos dinheiro emprestado até para o tributo do rei, sobre as nossas terras e as nossas vinhas.

5.No entanto, nós somos da mesma carne como eles, e nossos filhos são tão bons como os deles; e eis que sujeitamos nossos filhos e nossas filhas para serem escravos, algumas de nossas filhas já estão reduzidas à escravidão. Não está em nosso poder evitá-lo; pois os nossos campos e as nossas vinhas já são de outros.

6.Ouvindo eu, pois, o seu clamor e estas palavras, muito me aborreci.

Este foi o grande clamor do povo e de suas mulheres contra os judeus, seus irmãos. O povo não estava clamando por luxo, mas por pão; não estava clamando por conforto, mas por sobrevivência. Esse clamor é o triste choro da humanidade ao longo dos séculos.

Neemias foi usado por Deus para levar os judeus a manterem-se unidos em um só propósito. O sucesso da obra de Deus não pode ser construído em detrimento dos obreiros. Semelhantemente, a Igreja nestes últimos dias precisa de ministros que conduzam o rebanho do Senhor à união e uniformidade para que a obra de Deus seja edificada e muitas vidas possam ser salvas.

I. A UNIÃO CARACTERIZAVA OS JUDEUS LIBERTOS DO CATIVEIRO

No início, o povo que chegou do exílio era muito unido. Apesar da desolação que a cidade de Jerusalém apresentava, o povo estava ousado a fazer a obra de Deus. Apesar dos inimigos externos, que os afrontavam com grandes ameaças, eles estavam unidos. E essa união foi a força motriz que proporcionou a renovação do altar, da reconstrução do Templo, da restauração dos muros da cidade de Jerusalém e da restauração do culto a Deus conforme os ritos da lei. Todos eles experimentaram um fervoroso avivamento nacional e espiritual. Mas um obstáculo à obra da reedificação surgiu nos relacionamentos sociais entre os judeus. Com o decorrer do tempo, a miséria mostrou suas garras de forma impiedosa e a injustiça social fez surgir conflitos que chegou à beira da irreconciliação. Deus teve que levantar Neemias para trazer o povo de volta à união, à paz e à harmonia.

1. A União do povo de Deus, o vínculo da perfeição

Ora, se existe um vínculo é porque existe uma ligação, algo que junta dois ou mais seres, ou seja, não se trata de um único ser, mas de um conjunto de seres. Somos o corpo de Cristo, mas, também, “seus membros em particular”, isto é, não perdemos a nossa individualidade, as nossas características próprias quando nos unimos ao Senhor e à sua Igreja.

Esta é uma das grandes riquezas do povo de Deus que, muitas vezes, é desprezada e até alvo de ataque por alguns menos avisados e que não conhecem bem a Palavra de Deus. O povo de Deus tem um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, mas é um povo formado por pessoas que são diferentes umas das outras, que têm grupos que se distinguem por causa de sua cultura, de seu modo de viver, de seus costumes, de sua maneira de servir a Deus.

Todos são santos, todos têm de ser separados do pecado, todos devem servir ao mesmo Senhor, ter a mesma fé, ter o mesmo batismo, ter o mesmo Pai. Todos são irmãos e, portanto, devem amar-se uns aos outros, não devem promover dissensões, lutas e pelejas entre si, porque produzem o fruto do Espírito e não as obras da carne, mas, nem por isso, são iguais. Deus, aliás, não fez uma pessoa igual ou idêntica a outra sobre a face da Terra e, como a Igreja é formada por seres humanos, naturalmente que será um grupo de pessoas que diferem entre si.

2. A bênção do Senhor depende da existência de um ambiente de união entre os irmãos

O salmo 133 mostra com clareza esse fato:

“Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desceu sobre a barba, a barba de Arão, que desceu sobre a gola das suas vestes; como o orvalho de Hermom, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o Senhor ordenou a bênção, a vida para sempre”(Sl.133).

Este salmo revela que, somente num ambiente de união, o Espírito Santo atua plenamente. Somente num ambiente de união, cada membro em particular do corpo de Cristo (figurado por Arão, o escolhido para o sacerdócio) se deixa envolver plenamente pelo Espírito Santo (figurado pelo azeite).

Somente num ambiente de união, o refrigério do Espírito Santo pode nos consolar e nos permitir, mesmo neste mundo de sequidão e necessidade, termos a paz, a alegria e o amor divinos (figurados pelo orvalho de Hermom).

Somente num ambiente de união, a Igreja prossegue vitoriosa para se encontrar com o seu Senhor nos ares, cheia de vida espiritual e abençoada nos lugares celestiais em Cristo (João15:5,6; Ef.1:3), porque é no ambiente de união que “…o Senhor ordena a vida e a bênção para sempre”.

3. A União reflete a nossa concordância de propósitos

Foi por causa da união que os judeus, numericamente inferiores aos seus inimigos, conseguiram reconstruir o Templo, e também os muros da cidade. Esta união é também o segredo da vitória da Igreja. Infelizmente, a união que deveria ser encontrada na Igreja nem sempre o é. As pessoas discordam e causam divisões por causa de assuntos sem importância. Alguns sentem prazer em causar tensão, depreciando e desacreditando outros. A união é importante porque:

  • Faz da Igreja um exemplo para o mundo e ajuda a aproximar as pessoas do Senhor;
  • Ajuda-nos a cooperar conforme a vontade de Deus, antecipando um pouco do gozo que teremos no Céu.

Todavia, viver em união não significa que concordaremos em tudo; haverá muitas opiniões, da mesma maneira que existem muitas notas em um acorde musical. Mas devemos concordar em nosso propósito na vida: trabalhar juntos para Deus. A união reflete a nossa concordância de propósitos.

4. A Igreja é um Corpo (1Co.12: 12-31)

A Igreja é comparada com uma “família”, um “exército”, um “templo’, uma ‘noiva”. Mas, a figura predileta de Paulo para descrever a Igreja é o “corpo”. Um corpo tem interação, os órgãos se comunicam entre si. Cada parte é útil para o corpo como um todo, e há interdependência delas (Ef.4:16; Cl.2:19). A Igreja é um Corpo, cuja cabeça é Jesus Cristo. Ora, um corpo não pode subsistir sem que haja união entre seus membros, bem como entre os membros e a cabeça. Antes de existir comunhão precisa existir união. Uma é pré-requisito para a outra. Aceitar a Cristo é também aceitar fazer parte de seu Corpo.

II. A UNIÃO ENTRE OS JUDEUS ESTAVA AMEAÇADA

1. A causa da ameaça

Neemias identificou quatro causas que estavam afligindo o povo oprimido de Jerusalém e que estavam ameaçando desfazer a união entre o povo de Deus:

a) A usura (Ne.5:7). Usura é não se contentar com o que se tem e querer o que é do outro. Usura é aproveitar um momento de infelicidade do outro para apropriar-se do que ele tem. Os nobres se beneficiaram com a crise. Sempre alguém lucra com a crise. A miséria do povo sempre beneficia os gananciosos e usurários. Os nobres estavam agindo como penhoristas, e ainda por cima severos, ao invés de agirem como irmãos (Ne.5:1). Estavam emprestando somente com a melhor garantia e com os piores motivos. O povo estava desesperado e fizeram um grande clamor contra os exploradores. O texto sagrado diz:

 “Foi, porém, grande o clamor do povo e de suas mulheres, contra os judeus, seus irmãos” (Ne.5:1).

Por que houve esse clamor? Porque estava ocorrendo uma desmedida exploração dos mais pobres pelos mais ricos que, diante da fome que havia na terra, aproveitaram a ocasião para se enriquecer ainda mais, gerando um quadro de grande servidão por causa das dívidas contraídas pelos mais pobres para que pudessem sobreviver, alimentar-se do necessário. A situação era de calamidade social.

Com esse clamor, Neemias percebeu claramente que não poderia executar a obra da reedificação dos muros e portas de Jerusalém, visto que tal obra exigia a participação de todos, a união de todo o povo, algo imprescindível para se realizar a vontade de Deus. Havia ele conclamado todo o povo à obra e ali estava o povo todo a trabalhar, apesar das angústias vividas, mas esse clamor representava um enorme fator de risco para a continuidade da obra.

De igual maneira, não podemos fazer a obra de Deus se não houver comunhão na Igreja. A Igreja tem de se caracterizar pela comunhão e pela união entre os irmãos, como nos deixa claro a descrição que Lucas faz da igreja primitiva em Jerusalém em At.2:42-47.

Não há como se realizar a contento a obra do Senhor se os relacionamentos sociais dos salvos não forem transformados pelo Evangelho. Por isso, o Senhor Jesus nos ensinou que devemos amar uns aos outros como Ele nos amou, amor esse que não envolveu apenas o aspecto da salvação, mas também a tomada de atitudes concretas para minorar o sofrimento e a carência do povo, inclusive no que respeita aos aspectos terrenos de nossa existência.

b) A falta de amor (Ne.5:5,7) – “Agora, pois, a nossa carne é como a carne de nossos irmãos, e nossos filhos, como seus filhos; e eis que sujeitamos nossos filhos e nossas filhas para serem servos, e até algumas de nossas filhas são tão sujeitas, que já não estão no poder de nossas mãos; e outros têm as nossas terras e as nossas vinhas. E considerei comigo mesmo no meu coração; depois, pelejei com os nobres e com os magistrados e disse-lhes: Usura tomais cada um de seu irmão. E ajuntei contra eles um grande ajuntamento”.

Os opressores eram irmãos dos oprimidos. Os oprimidos estavam engajados na mesma obra dos opressores - a reconstrução dos muros. Aqueles que foram injustiçados estavam angustiados porque seus filhos eram iguais aos filhos dos exploradores (Ne.5:5): tinham vontade, sentimento, desejos, necessidades. Neemias diz que os nobres estavam explorando não inimigos e estranhos, mas seus "irmãos" (Ne.5:7). A lei de Deus era clara nesse sentido: "Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao pobre que está contigo, não te haverás com ele como credor que impõe juros" (Ex.22:25). Quem ama, não explora, mas dá e reparte (1João 3:17,18; Tg.2:14-17).

Nos dias hodiernos em que vivemos, de crescente desigualdade social apesar do progresso da tecnologia, a Igreja não poderá realizar a obra do Senhor se transferir para o seu interior o mesmo quadro de injustiça social que o mundo está a viver. Muitos, a exemplo do que ocorria nos dias de Neemias, estão se aproveitando de sua posição privilegiada na sociedade e, sem dó nem piedade, estão a se enriquecer às custas do próximo e, o que é mais grave, às custas dos próprios irmãos.

É triste verificarmos que, assim como ocorre no mundo, não são poucos os que fazem da Igreja um local para acumulação de riquezas, para o seu próprio enriquecimento, gerando as mesmas murmurações que foram ouvidas por Neemias junto ao povo e às suas mulheres que, por causa do pão de cada dia, estavam em situação deplorável, com a perda tanto de seu patrimônio quanto de seus familiares, que já se achavam escravizados pelos mais ricos.

c) A falta de temor a Deus (Ne.5:9) – “Disse mais: Não é bom o que fazeis: Porventura, não devíeis andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos?”.

Quem anda no temor de Deus não explora o próximo, não se aproveita da miséria alheia para enriquecer-se. Quando perdemos o temor de Deus, a vida perde os referenciais. A impiedade sempre desemboca na perversão. José não adulterou com a mulher de Potifar porque andava no temor de Deus. O que nos livra do pecado é o temor de Deus. Neemias não se rendeu à cultura do ganho ilícito porque ele temia a Deus. Hoje, muitos políticos e até líderes evangélicos capitulam diante do poder do dinheiro e vendem a consciência porque perderam o temor do Senhor.

A melhor forma pela qual a Igreja tem para debelar a extrema desigualdade social é através de uma vida de temor a Deus, de estrita obediência à Palavra de Deus. Não é papel da Igreja assumir filosofias, doutrinas ou pensamentos humanos para tentar criar condições para uma melhor vida sobre a face da Terra, mas lutar e pelejar para que, havendo temor a Deus, esta melhora se realize pela concretização do amor ao próximo.

A presença da injustiça social no meio da Igreja, como se tem verificada cada vez mais entre nós, é mais uma demonstração de que está faltando o temor a Deus entre os que cristãos se dizem ser. O temor a Deus não se apresenta apenas em uma maior devoção individual, mas, também, num relacionamento fraterno e amoroso para com o irmão, na ajuda aos necessitados, a começar pelos de nossa igreja local.

d) A falta de testemunho perante o mundo (Ne.5:9). O povo de Deus estava sendo observado pelos olhos críticos do mundo. Quando a Igreja age igual ao mundo, isso é um escândalo e o nome de Deus é blasfemado. Infelizmente, estamos vendo a Igreja evangélica brasileira sendo mais conhecida na mídia pelos seus escândalos do que por seu testemunho. Alguns políticos evangélicos elegem-se em nome de Deus e depois envergonham o evangelho, mancomunando-se com toda sorte de corrupção e roubalheira. O apóstolo Paulo diz que não devemos nos envergonhar do evangelho (Rm.1:16), mas há muitos crentes que são a vergonha do evangelho.

2. A natureza do problema que atingia a vida do povo e que ameaçava a união entre os judeus

Neemias identificou seis problemas (Adaptado do Livro Neemias, de Hernandes Dias Lopes):

a)  A fome (Ne.5:1,2). Os judeus estavam trabalhando no muro, mas a panela estava vazia. A fome era uma questão urgente, não dava para esperar. O povo não podia continuar investindo na reconstrução do muro de estômago vazio.

Hoje, a fome é um problema que atinge quase 50% da população mundial. Enquanto uns morrem de fome, outros morrem de comer. Enquanto uns esbanjam, outros lutam desesperadamente para sobreviver. Enquanto uns ficam inquietos por causa de coisas supérfluas, outros se desesperam para ter pão dentro de casa. Há muitos homens, mulheres e crianças perambulando envergonhados pelas ruas das grandes cidades, disputando comida com os cães e porcos nos restos apodrecidos das feiras. Há milhões de crianças abandonadas que vivem sem teto, sem dignidade, sem identidade, perdidas nas ruas, estonteadas pela fome perversa. O problema não é só falta de amor, mas de amor, de solidariedade, de compaixão.

b) As dívidas (Ne.5:3) – “Também havia quem dizia: As nossas terras, as nossas vinhas e as nossas casas empenhamos, para tomarmos trigo nesta fome”.

A dívida traz desespero mental, degradação social e ruína familiar. Algumas pessoas já tinham hipotecado suas casas e terras para comprar trigo. Não estavam fazendo negócios de investimento arriscado, estavam comprando o pão da sobrevivência. Os ricos aproveitaram o momento de crise, de fome, de aperto para fazerem bons e lucrativos negócios. Uma pessoa faminta, premida pela necessidade de sobrevivência, acaba fazendo negócios que só beneficiam os que querem se locupletar. Os agiotas se enriquecem aproveitando o desespero dos aflitos. Os agiotas não hesitavam em tomar as terras e até mesmo os filhos e as filhas dos pobres infelizes para receberem o seu dinheiro. Essa prática opressora estava em desacordo com a lei de Deus (Dt.23:19,20; 24:10-13). ela também feria o princípio do ano do jubileu (Lv.25:10,14-17,25-27).

A situação era tão aflitiva que o povo e as suas mulheres começaram a clamar não somente a Deus, mas, também, contra os judeus, seus irmãos, a nos revelar que, quando há insensibilidade por parte dos mais aquinhoados em relação ao clamor dos pobres, temos, também, um incentivo e estímulo ao desespero, o que poderá levar, inclusive, os pobres a pecar, deixando de simplesmente clamar para começar a murmurar. Este pecado não será, porém, apenas dos pobres, mas também dos que foram responsáveis por esta situação. Temos consciência disso?

c) Os impostos (Ne.5:4) – “Também havia quem dizia: Tomamos dinheiro emprestado até para o tributo do rei, sobre as nossas terras e as nossas vinhas”.

Além da fome e das dívidas contraídas para terem o pão de cada dia, ainda tinham de pagar pesados tributos à Pérsia. O pouco que tinham precisava ser repartido para manter o luxo e o fausto dos poderosos.

No Brasil, a carga tributária é uma das mais pesadas do mundo. Cada quilo de produto da cesta básica que se compra no mercado é tributado, o pão que chega à nossa mesa é tributado. O que mais agride o pobre é que os impostos que paga não retornam a ele em benefícios. Na verdade, o pobre passa fome para manter o sistema, muitas vezes corrupto. Cada vez que se cria mais impostos, o dinheiro que deveria vir para ajudar os pobres, cai no ralo da corrupção. As ratazanas esfaimadas que circulam pelos corredores do poder, mordem sem piedade, não apenas o naco que pertence ao pobre, mas devoram os próprios pobres, porque estes, sem pão, sem teto, sem esperança, sucumbem impotentes diante de tamanha selvageria. Como sanguessugas, esses gananciosos insaciáveis, se alimentam do sangue do povo.

d) A perda dos bens (Ne.5:5) – “No entanto, nós somos da mesma carne como eles, e nossos filhos são tão bons como os deles; e eis que sujeitamos nossos filhos e nossas filhas para serem escravos, algumas de nossas filhas já estão reduzidas à escravidão. Não está em nosso poder evitá-lo; pois os nossos campos e as nossas vinhas já são de outros”.

Os pobres perderam suas casas e suas terras e tornaram-se reféns dos poderosos. Eles trabalhavam, mas não desfrutavam. Eles calejavam as mãos, mas não usufruíam. Eram vítimas de uma injusta opressão econômica. Neemias percebeu que o âmago do problema era a exploração, por isso contendeu com os nobres e magistrados. Os sacerdotes eram os que deviam ter feito esse confronto, mas estavam mancomunados com a corrupção dos ricos (Ne.6:12,14; 13:4,7-9). Uma vergonha!

e) A escravidão, a perda da liberdade (Ne.5:5). Além de entregarem suas casas e propriedades, agora entregaram também seus filhos e filhas para saldarem dívidas. Os ricos passaram a ver pessoas como coisas e compraram seres humanos para serem seus escravos. O trabalho escravo era algo que feria o projeto de Deus. Era uma injustiça clamorosa. Observe a situação contraditória: enquanto Neemias e outros se esforçavam para resgatar os judeus vendidos como escravos aos vizinhos pagãos, a ganância dos ricos anulava esses esforços e forçava os judeus a voltarem à escravidão. O comércio escravagista é uma das páginas mais sombrias da história humana, um dos sinais mais notórios da maldade que tomou conta do homem movido pela ganância.

f) A perda da esperança (Ne.5:5) - "Não está em nosso poder evitá-lo...". Os poderosos subornavam os sacerdotes e os juízes; portanto, eram inatingíveis. Os pobres não tinham vez nem voz. Estavam completamente sem forças e sem esperança. Os oprimidos não viam uma saída da caverna das dívidas.

A situação, entretanto, não parece ter sido percebida por Neemias logo de início, pois foi preciso que o povo clamasse insistentemente até o ponto em que “Neemias se enfadou” (Ne.5:6). É preciso ter perseverança, mesmo no clamor por causa da necessidade e da carência. Caso o povo e as suas mulheres tivessem, diante de uma aparente indiferença inicial de Neemias, cessado de clamar, não teria havido qualquer modificação na situação adversa que estavam a passar.

O clamor do pobre e do necessitado tem de ser ouvido pela Igreja que, não só no seu interior, mas também na sociedade, deve fazer com que haja uma perseverança, uma persistência neste clamor, até que haja o “enfado” de quem pode modificar a situação. Espelhemo-nos no exemplo da viúva da parábola do juiz iníquo (Lc.18:1-8) que, apesar de saber que o juiz não queria fazer justiça a pessoa alguma, não desanimou e perseverou em sua demanda, até que conseguiu que a justiça fosse feita.

Qual é a nossa situação diante da grande injustiça social que existe tanto dentro da Igreja quanto na sociedade em que vivemos? Será que somos como o juiz iníquo? Sensibilizemo-nos com o clamor do pobre e do aflito para que possamos também ser ouvidos pelo Senhor e pelos homens.

III. NEEMIAS SOLUCIONOU O PROBLEMA

Neemias 5:6-12:

6.Ouvindo eu, pois, o seu clamor e estas palavras, muito me aborreci.

7.Depois de ter considerado comigo mesmo, repreendi os nobres e magistrados e lhes disse: Sois usurários, cada um para com seu irmão; e convoquei contra eles um grande ajuntamento.

8.Disse-lhes: nós resgatamos os judeus, nossos irmãos, que foram vendidos às gentes, segundo nossas posses; e vós outra vez negociaríeis vossos irmãos, para que sejam vendidos a nós?

9.Então, se calaram e não acharam o que responder. Disse mais: não é bom o que fazeis; porventura não devíeis andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos?

10.Também eu, meus irmãos e meus moços lhes demos dinheiro emprestado e trigo. Demos de mão a esse empréstimo.

11.Restituí-lhes hoje, vos peço, as suas terras, as suas vinhas, os seus olivais e as suas casas, como também o centésimo do dinheiro, do trigo, do vinho e do azeite, que exigistes deles.

12.Então, responderam: Restituir-lhes-emos e nada lhes pediremos; faremos assim como dizes. Então, chamei os sacerdotes e os fiz jurar que fariam segundo prometeram.

Para resolver o grave problema da injustiça social, que estava causando insatisfação ao extremo e desunião entre o povo, Neemias apontou cinco soluções:

1. Ele reagiu fortemente, aborreceu-se (Ne.5:6)

Neemias era um homem de Deus e, embora tenha resistido um pouco ao clamor do povo e de suas mulheres, “aborreceu-se”. Este aborrecimento foi uma bênção, visto que, por primeiro, foi uma conversão interior. O próprio Neemias afirma que “considerou consigo mesmo no seu coração” (Ne.5:7). Coisa boa é quando nos sensibilizamos por causa do clamor do pobre e do necessitado, quando sentimos compaixão pelo próximo, quando nos deixamos sensibilizar pela situação de injustiça por que passa a humanidade.

Neemias, então, não ficou passivo diante da injustiça social que imperava naquela época. Ele reagiu fortemente. Ele se aborreceu. Ele se encheu de ira. Neemias repreendeu os nobres e magistrados e lhes disse: "Sois usurários, cada um para com seu irmão" (Ne.5:7).

O conformismo com a injustiça é um grave pecado aos olhos de Deus. A ira em si não é pecado (Ef.4:26; Sl.7:11; Mc.3:5). A ira deve ser focada no mal e não contra quem pratica o mal. A ira é pecaminosa quando nós a despejamos sobre nossos filhos, cônjuge, irmãos ou quando nutrimos mágoa ou desejamos vingança. Fomos chamados de protestantes exatamente pela inconformação com o erro e com o pecado. Os desmandos no trato da coisa pública e a corrupção endêmica e sistêmica em nosso país deveriam fazer ferver o sangue em nossas veias.

2. Refletiu – “considerou consigo mesmo no seu coração” (Ne.5:7-ARC)

Neemias era um líder prudente. Em vez de fermentar ainda mais a situação, falando irrefletidamente, ponderou o assunto consigo mesmo, aconselhou-se consigo mesmo, ruminou a situação antes de tomar uma decisão pública. A Bíblia diz: "Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha" (Pv.18:13). Diz ainda: "O iracundo levanta contendas, e o furioso multiplica as transgressões" (Pv.29:22). A prudência e a discrição são marcas indispensáveis na vida de um líder. No muito falar abundam as transgressões.

Primeiramente, Neemias verificou se as reivindicações apresentadas estavam de acordo com a Palavra do Senhor. Sentiu, como homem de Deus que era, que o clamor era justo e legítimo e que a forma pela qual a elite judaica estava vivendo não correspondia à vontade de Deus. Não havendo a observância da vontade de Deus nos relacionamentos sociais, jamais o Deus do céu faria prosperar a obra de reedificação dos muros e portas de Jerusalém.

Neemias também ponderou que de nada adiantaria restabelecer Jerusalém como uma cidade, com muros, portas e segurança, caso não houvesse justiça e união entre os judeus, pois a estrutura social não existe por si só, mas, sim, para o homem, o que, aliás, o Senhor Jesus ensinaria ao dizer que o sábado foi feito para o homem e não o homem, para o sábado (Mc.2:27).

3. Neemias convocou um grande ajuntamento (Ne.5:7,8)

Neemias, após ter entendido que o clamor era justo e legítimo, tomou uma atitude firme e corajosa: ajuntou o povo num ajuntamento contra os nobres e os magistrados, a indicar que a resistência era grande para que se alterasse a situação; mostrou-lhes que eles haviam praticado usura (Ne.5:7).

Feito o ajuntamento, um ajuntamento pacífico e ordeiro, determinado por Neemias, que era o governador, ele denunciou a injustiça cometida, lembrando aos nobres e magistrados que todo o povo havia sido resgatado do cativeiro, que todos haviam readquirido a liberdade, por uma operação divina, e, portanto, como agora os próprios judeus estariam a escravizar os seus irmãos? Como dizer que se estava lutando pela manutenção da liberdade frente aos povos vizinhos, que queriam escravizá-los, se os próprios judeus escravizavam seus irmãos? (Ne.5:8).

O papel do líder do povo de Deus, ou mesmo do governante político secular, como se vê, é o de promover, de forma ordeira, justa e legítima, a cessação das atividades que geram a injustiça social, ficando sempre ao lado dos menos favorecidos, sem que, para tanto, venha a destruir os mais abastados. Faz-se preciso denunciar a injustiça e conscientizar os mais abastados a tomar medidas efetivas para que tal situação deixe de existir, diminuindo o abismo entre os estratos extremos da sociedade.

Neemias, em sua argumentação, não se utilizou de qualquer filosofia, ideologia ou doutrina humanas. Como homem de Deus, mostrou claramente aos nobres e magistrados que era necessário “andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos” (Ne.5:9). Sem o temor de Deus, não há como se realizar justiça social. Sem que estejamos obedientes ao Senhor, não há como vivermos de acordo com a Sua vontade no que respeita aos nossos relacionamentos sociais.

Neemias teve coragem para repreender o erro, ainda que na vida dos nobres, dos ricos, dos poderosos. Ele teve compromisso com a verdade e com a justiça, por isso, não se intimidou. Neemias não amaciou a situação. Ele chamou os nobres e magistrados de usurários. Ele colocou o dedo na ferida e desmascarou os nobres, denunciando sua conduta vergonhosa e injusta.

Neemias, em suas ponderações, observou claramente que este enriquecimento desmedido em detrimento dos menos favorecidos era usura, o que era expressamente vedado pela lei (Ex.22:25; Lv.25:36,37; Dt.23:19,20). “Usura” é a cobrança de juros excessivos sobre o empréstimo dado a alguém, uma verdadeira transferência do patrimônio para alguém sem que tenha havido qualquer trabalho por parte daquele que enriquece.

4. A exemplificação (Ne.5:8,10)

Neemias não era um líder que apenas tinha coragem, ele tinha vida. Ele não apenas falava, ele dava exemplo. Ele não subiu no palanque para ostentar elogios a si mesmo estando comprometido com os mesmos crimes que denunciava. Ele não era hipócrita. Neemias não ocupou a liderança para tirar vantagem. Ele era um homem que amava o povo e não o dinheiro.

Neemias resgatou judeus escravos dos estrangeiros (Ne.5:8); agora os líderes do povo estavam fazendo essas pessoas escravas novamente. Ele não apenas socorreu os necessitados, mas perdoou-lhes a dívida, visto que não puderam pagar a ele (Ne.5:10). O maior líder de todos os tempos, Jesus de Nazaré, disse que para você liderar precisa servir.

Neemias não foi um político demagogo, que simplesmente fez discursos e promessas ao povo que clamava, sem tomar qualquer iniciativa concreta. Não só assumiu a luta contra os nobres e magistrados, como fez o ajuntamento de todos contra eles, mas também confessou e deixou as suas próprias práticas usurárias, pois também ele, seus irmãos e seus moços haviam emprestado dinheiro para os mais necessitados. Num gesto exemplar, Neemias abandonou o ganho dos juros destes empréstimos, fazendo antes de exigir que os outros fizessem (Ne.5:9).

A injustiça social é um reflexo do pecado que campeia na humanidade, pois todo pecado é iniquidade, ou seja, injustiça (1João 3:4). Assim, consentir com a injustiça social, tirar proveito dela é consentir com o pecado e é digno de juízo divino tanto quem o pratica, quanto quem consente com a sua prática (Rm.1:32).

A injustiça social leva os homens à uma situação tanto de miséria quanto de grandeza que compromete a sua própria dignidade, tornando-se um fator de incentivo para a prática do pecado. O sábio Agur já ensinava que a situação de extrema injustiça social é uma janela escancarada para o pecado, seja para o pobre, que se tornará um furtador, seja para o rico, que se tornará um vaidoso e soberbo (Pv.30:8,9).

5. A restituição (Ne.5:11,12,13)

Neemias, após dar o exemplo, determinou que os nobres e magistrados restituíssem aos pobres as propriedades tomadas com usura e também restituíssem parte dos juros cobrados sobre o empréstimo de dinheiro, trigo, vinho e azeite. Observe que a taxa de juros que era cobrado pelo dinheiro, trigo, mosto e azeite correspondia ao “centésimo”, ou seja, 1% (um por cento) (cf. Ne.5:10,11), taxa bem inferior ao que vemos em nosso país, que é conhecido como “o paraíso dos juros” em nosso planeta.

A proposta de Neemias foi acatada, e a elite judaica também se sensibilizou com o clamor dos pobres e necessitados, restituindo o que haviam tomado dos mais necessitados, como também deixando de exigir os juros que estavam a cobrar, compromisso que foi solenemente firmado, tendo, inclusive, havido juramento perante os sacerdotes (Ne.5:12), bem como o gesto simbólico do sacudir do regaço (Ne.5:13). Por meio de um gesto, Neemias advertiu: aqueles que quebrassem a promessa seria “sacudido” da terra como quem sacode o pó das vestes. Assim, a paz voltou a reinar entre os judeus.

A consequência de se ter conquistado a justiça social, com o fim da desigualdade social gritante, foi o louvor a Deus (Ne.5:13). A justiça social é uma boa obra e, com ela, o nome do Senhor é glorificado. Que bom será quando isto se der no interior de cada igreja local!

IV. A CONDUTA IMPOLUTA E ÍNTEGRA DE NEEMIAS COMO LÍDER DO POVO DE DEUS (Ne.5:13-19)

No texto de Neemias 5:1-12 vimos como Neemias teve coragem para confrontar os nobres acerca da usura. Eles haviam se aproveitado da crise econômica para enriquecer. Eles emprestaram dinheiro com juros altos aos seus irmãos e acabaram tomando suas casas, vinhas, terras e filhos. Mas não bastou apenas coragem a Neemias. Ele precisou também de exemplo e vida. As pessoas aceitam o líder, depois os seus planos. Eles têm confiança na visão, quando têm confiança no líder. Agora, Neemias dá o seu testemunho de conduta impoluta e íntegra como governador de Jerusalém.

Em Neemias 5:13-19 vemos algumas qualidades do caráter de Neemias que marcaram a sua integridade como um líder  do povo de Deus em Jerusalém (Adaptado do Livro Neemias de Hernandes Dias Lopes).

1. Neemias transformou crises em oportunidades (Ne.5:13,14)

13.Também sacudi o meu regaço e disse: Assim o faça Deus, sacuda de sua casa e de seu trabalho a todo homem que não cumprir esta promessa; seja sacudido e despojado. E toda a congregação respondeu: Amém! E louvaram o Senhor; e o povo fez segundo a sua promessa.

14.Também desde o dia em que fui nomeado seu governador na terra de Judá, desde o vigésimo ano até ao trigésimo segundo ano do rei Artaxerxes, doze anos, nem eu nem meus irmãos comemos o pão devido ao governador.

O líder é alguém que lida com tensão. O campo de ação do líder é uma arena de muitas pelejas. A crise é sua agenda diária. Mas a crise é uma encruzilhada que leva os fracos ao fracasso e os fortes a consagradoras vitórias. A crise denuncia os covardes e descobre os heróis. Vejamos como Neemias transformou crises em oportunidades:

-Primeiro, ele transformou clamor em louvor. O povo começou com um clamor cheio de dor por causa da opressão e terminou louvando a Deus cheio de alegria. A crise é uma encruzilhada que a uns abate, a outros exalta. Uns olham o problema, outros a oportunidade. Uns veem as dificuldades, outros a solução. O clamor tornou-se uma reunião festiva de louvor. Por quê? Porque Neemias teve capacidade de se indignar, confrontar, exemplificar, pedir restituição e dar exemplo.

-Segundo, ele transformou opressão em solidariedade. Os nobres não apenas cancelaram a dívida dos pobres, mas restituíram suas vinhas, suas terras e seus filhos.

-Terceiro, ele transformou a situação de usura em oportunidade para confronto (Ne.5:13). Neemias pediu aos nobres para restituir, chamou os seus sacerdotes e também pessoalmente os fez assumir um compromisso público. O verdadeiro líder nunca foge do problema nem o adia, antes enfrenta-o corajosa e firmemente.

-Quarto, ele transformou uma revolta humana num ato de compromisso e adoração a Deus. O clima era de tensão, revolta, dor, angústia. Neemias levou os nobres a um compromisso de restituição diante de Deus e o povo celebrou com alegria louvores ao Senhor.

2. Neemias deu mais valor ao bem público do que à remuneração pessoal (5.14,18)

14.Também desde o dia em que fui nomeado seu governador na terra de Judá, desde o vigésimo ano até ao trigésimo segundo ano do rei Artaxerxes, doze anos, nem eu nem meus irmãos comemos o pão devido ao governador.

18.O que se preparava para cada dia era um boi e seis ovelhas escolhidas; também à minha custa eram preparadas aves e, de dez em dez dias, muito vinho de todas as espécies; nem por isso exigi o pão devido ao governador, porquanto a servidão deste povo era grande.

Neemias abriu mão de seus direitos garantidos e legítimos a favor do povo. Seu posto de governador é uma plataforma de serviço e não de privilégios. Em vez de enriquecer-se e engordar sua conta bancária, ele abriu mão do seu próprio salário para socorrer o povo em tempo de aflição.

Hoje, vemos nossos legisladores, seja no âmbito estadual ou nacional, buscando sofregamente aumentar seus salários de forma abusiva. Além de majorar seus salários, muitos, ainda, se mancomunam com perversos esquemas de corrupção, recebendo vultosas somas de fontes escusas. Assistimos com tristeza e repúdio a multiplicação de políticos desonestos e a escassez de exemplos dignos de serem imitados. Precisamos, com urgência, de líderes íntegros como Neemias!

3. Neemias deu mais valor ao trabalho do que à indolência luxuosa (Ne.5:16)

“Antes, também na obra deste muro fiz reparação, e terra nenhuma compramos; e todos

os meus moços se ajuntaram ali para a obra”.

Os outros governadores viram o cargo como uma porta aberta para o benefício pessoal, para o enriquecimento rápido, para o favorecimento dos seus aliados. Neemias não viveu na indolência, nababescamente, às custas do povo, mas ele e seus moços trabalharam na obra. Ele era um homem que liderava o povo, que estava junto do povo, que defendia o povo, que trabalhava com o povo e pelo povo. Precisamos resgatar o exemplo de políticos da fibra de Neemias, gente séria, abnegada e trabalhadora.

Quando um líder está mais interessado em si mesmo e em seus investimentos e aventuras pessoais do que no seu trabalho, os seus subordinados logo perceberão. Neemias realizou um trabalho pessoal e também de equipe; um trabalho contínuo, abnegado e eficaz.

4. Neemias deu mais valor à benevolência do que à política do levar vantagem em tudo (Ne.5:18)

18.O que se preparava para cada dia era um boi e seis ovelhas escolhidas; também à minha custa eram preparadas aves e, de dez em dez dias, muito vinho de todas as espécies; nem por isso exigi o pão devido ao governador, porquanto a servidão deste povo era grande.

Neemias em vez de explorar o povo, ajudava o povo. Ele comprou judeus escravos para resgatá-los. Neemias demonstrou amor às pessoas e o amor não era apenas o que ele sentia, mas sobretudo o que ele fazia. Neemias emprestou e perdoou a dívida dos pobres. Ele abriu sua casa e sustentou os trabalhadores na obra às suas custas para não sobrecarregar o povo já empobrecido. Ele abriu mão de seus direitos garantidos - "Nem por isso exigi o pão devido ao governador".

5. Neemias deu mais valor à integridade do que a vantagens pessoais (Ne.5:14)

“Também desde o dia em que fui nomeado seu governador na terra de Judá, desde o vigésimo ano até ao trigésimo segundo ano do rei Artaxerxes, doze anos, nem eu nem meus irmãos comemos o pão devido ao governador”.

Neemias foi um homem que manteve sua integridade intocável durante todo o seu mandato de doze anos. A integridade faz parte da vida do líder. Um líder que não é íntegro em sua vida pessoal não é um verdadeiro líder. Para que um líder seja íntegro, ele deve ser sincero, e esta sinceridade é verificada em seu viver diário: nas conversações, no agir, nas finanças, no serviço.

Nenhum sacrifício era demasiado grande e nenhuma tarefa era difícil demais para Neemias, quando tinha a certeza de qual era a vontade de Deus. Ele estava disposto a adotar quaisquer medidas para colocar em prática aquilo que tinha a certeza de ser a vontade de Deus. Em alguns momentos agiu de forma austera: ele admoestou, repreendeu, protestou, contendeu, amaldiçoou, e até mesmo arrancou os cabelos de alguns (Ne.13:25). Enfim, tornou muito difícil a vida dos impiedosos! Era um homem corajoso e um general astuto em sua luta contra o mal. Além disso, era um trabalhador incansável e um grande restaurador das coisas de Deus. Ele trabalhou duramente a favor da justiça, porem mantinha o coração terno diante do Senhor. Era um homem honesto, íntegro, convicto e piedoso. Sem dúvida, ele foi um magnífico exemplo de liderança.

CONCLUSÃO

O segredo da vitória de Neemias frente aos desafios que enfrentara, foi a sua “integridade”. O verdadeiro líder do povo de Deus deve ter como característica principal a integridade, ou seja, estar inteiramente moldado pelo Senhor. É a sinceridade (“sem cera”, sem qualquer trinco em seu caráter), que nos permitirá vencer o mal e alcançar a vida eterna. Será que podemos repetir as palavras do apóstolo Paulo: “sede meus imitadores, como eu sou de Cristo? “(1Co.11:1). Não nos esqueçamos de que nosso Deus conhece o íntimo do homem (1Sm.16:7; João 2:23-25). Assim, não adianta participarmos dos cultos e demais reuniões se não formos sinceros, íntegros e tementes a Deus.