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A AUTORIDADE DA BÍBLIA


 Texto Base: Salmos 119:1-8

“Bem-aventurados os que trilham caminhos retos e andam na lei do SENHOR“ (Sl.119:1).

 

Salmos 119:

1.Bem-aventurados os que trilham caminhos retos e andam na lei do SENHOR.

2.Bem-aventurados os que guardam os seus testemunhos e o buscam de todo o coração.

3.E não praticam iniquidade, mas andam em seus caminhos.

4.Tu ordenaste os teus mandamentos, para que diligentemente os observássemos.

5.Tomara que os meus caminhos sejam dirigidos de maneira a poder eu observar os teus estatutos.

6.Então, não ficaria confundido, atentando eu para todos os teus mandamentos.

7.Louvar-te-ei com retidão de coração, quando tiver aprendido os teus justos juízos.

8.Observarei os teus estatutos; não me desampares totalmente.

INTRODUÇÃO

A autoridade da Bíblia fundamenta-se em seu autor: Deus. O selo dessa autoridade aparece em expressões como "assim diz o SENHOR" (Êx.5:1; Is.7:7); "veio a palavra do SENHOR" (Jr.1:2); "está escrito" (Mc.1:2). Ante tais considerações, não temos como deixar de reconhecer que a Bíblia Sagrada é dotada de autoridade absoluta, isto é, deve ser aceita pela Igreja como única regra de fé e de prática; ou seja, o crente se quiser ser fiel e obediente ao seu Criador, deve crer no que a Bíblia diz e fazer exatamente o que ela determina. No entanto, apesar disto, não têm sido poucas as tentativas, ao longo da história, e no meio do povo que se diz de Deus, para descaracterizar esta autoridade absoluta e prioritária que deve ter a Bíblia Sagrada na vida de um crente. Ao longo da história de Israel, todos quantos procuraram se rebelar contra a autoridade da Bíblia Sagrada foram apresentados como pessoas que se fizeram inimigas da vontade de Deus, demonstrando, claramente, que a desconsideração da autoridade das Escrituras Sagradas é atentado contra o próprio Deus.

I.  A ORIGEM DA BÍBLIA E A REVELAÇÃO DIVINA

1. A origem da Bíblia

A Bíblia tem sua origem em Deus. Toda a autoridade das Escrituras Sagradas depende exclusivamente da sua origem divina. O apóstolo Paulo escreveu que “toda a Escritura é inspirada por Deus” (2Tm.3:16a). Um dos princípios da Teologia é o fato de Deus ter nos confiado um manual que revela a sua vontade, a Bíblia. Daí advém o que chamamos de revelação, o ato de tornar conhecido o que antes não o era. A Bíblia nos foi entregue a fim de que reconheçamos a Deus como o ser Supremo por excelência e a seu Filho Unigênito como o nosso Senhor Salvador.

A Bíblia, portanto, não é fruto da lucubração humana, mas da revelação divina. Ela não provém da descoberta humana, mas do sopro divino. Isto não quer dizer, porém, que Deus anulou a personalidade, o estilo ou a preparação de seus escritores, uma vez que esses homens santos “falaram movidos pelo Espírito Santo” (2Pd.1:21). Significa que as Escrituras surgiram na mente de Deus e foram comunicadas pela Sua boca, pelo Seu sopro ou pelo Seu Espírito. As Escrituras são, pois, no verdadeiro sentido do termo, a Palavra de Deus, porque Deus as disse. É como os profetas costumavam anunciar: “a boca do SENHOR o disse” (Is.1:20; 40:5; 58:14; Mq.4:4). Portanto, por ter sua origem em Deus, a Bíblia é portadora de autoridade, e, por isso, constitui-se em única regra infalível de fé e prática para a vida e o caráter do cristão.

2. Revelação Geral

Revelação geral é a expressão da teologia cristã utilizada para designar a revelação de Deus a toda a humanidade através, especialmente, da obra da criação. A revelação de Deus se faz conhecer por meio da História, do Universo e da Natureza Humana.

a) Na História. Deus está no controle de tudo! Por definição, Ele é Soberano, Poderoso, Onisciente, Onipresente e Eterno. Ele é o Deus que criou os céus (universo) a Terra e tudo que nela existe. Ele é o Senhor que dirige a história da humanidade com o Seu braço forte e nada foge ao Seu controle, porque o nosso Deus tem o controle de tudo. Sua Soberania ultrapassa o nosso entendimento, mas a Palavra de Deus nos mostra que Ele é Soberano sobre tudo e sobre todos. Ele controla o curso dos acontecimentos, remove e estabelece governos e nada acontece fora de Sua vontade (Dn.2:21; 4:25; Rm.11:22).

b) No Universo. De acordo com Salmos 19:1-4, a existência e o poder de Deus podem ser vistos claramente através da observação do universo - “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo”. A ordem, detalhes e maravilha da criação falam da existência de um Criador poderoso e glorioso.

A revelação geral por meio do universo também é ensinada em Romanos 1:20: “Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis”. Portanto, assim como no Salmo 19, Romanos 1:20 ensina que o poder eterno e a natureza divina de Deus claramente se conhecem e são percebidos pelo que foi criado, e não há nenhuma desculpa para negar esses fatos.

c) No ser humano, criado à imagem e semelhança divina (Gn.1:26,27). Com relação à revelação geral, também, Deus se fez conhecer em toda parte pela natureza humana. O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Assim está escrito: “Disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança...” (Gn.1:26). Além de ter tido cuidado peculiar na sua criação, o homem ainda porta em si algo que os demais seres criados não têm, a saber, ser “a imagem e semelhança de Deus”. Em que sentido o ser humano foi feito à imagem e semelhança de Deus? Obviamente Deus não nos criou exatamente como Ele, porque Deus não possui corpo físico. Em vez disso, somos reflexos da sua glória. Alguns pensam que nossa razão, criatividade, discurso ou autodeterminação são a imagem de Deus. Nunca seremos totalmente como Deus, pois Ele é o Criador supremo, porém temos a capacidade de refletir seu caráter através do amor, do perdão, da paciência, bondade e fidelidade.

Saber que formos criados à imagem de Deus e compartilhar muitas de suas características provê uma base sólida para a imagem própria. O autovalor do homem não está baseado em posses, conquistas, atrativos físicos ou aclamação pública. Ao contrário, está baseado no fato de ser criado à imagem de Deus. Porque fomos feitos à imagem dEle, podemos nos sentir bem a respeito de nós mesmos. Criticar ou depreciar o que somos é criticar o que Deus fez e as habilidades que Ele nos tem dado. Saber que você é uma pessoa de valor ajuda-o a amar a Deus, conhecê-lo pessoalmente e prestar uma valiosa contribuição às pessoas ao seu redor.

3. Revelação Especial

A Pessoa de Jesus Cristo é a forma suprema da revelação especial de Deus. Deus se tornou um ser humano (João 1:1,14). Hebreus 1:1-3 resume muito bem: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser”. Deus se tornou um ser humano na pessoa de Jesus Cristo para se identificar conosco, para ser um exemplo para nós, para nos ensinar, para Se revelar a nós e, mais importante, para nos providenciar salvação eterna através da sua morte expiatória na cruz (Fp.2:6-8).

Também, as Escrituras Sagradas são uma forma de revelação especial. Deus de forma milagrosa guiou os autores das Escrituras a registrarem corretamente a Sua mensagem à humanidade, ao mesmo tempo usando os seus estilos e personalidades. A palavra de Deus é viva e ativa (Hb.4:12). A Palavra de Deus é inspirada, útil e suficiente (2Tim.3:16-17). Deus determinou que a verdade sobre Si mesmo seria registrada na forma escrita porque sabia da imperfeição e falta de confiabilidade da tradição oral. Ele também sabia que os sonhos e visões dos homens poderiam ser mal interpretados e as lembranças desses sonhos distorcidas. Deus decidiu revelar através da Bíblia tudo que a humanidade precisava saber sobre Ele, o que Ele quer e o que tem feito por nós. Ele também tem prometido sustentá-la e preservá-la por todos os tempos.

II. EVIDÊNCIAS DA AUTENTICIDADE DA BÍBLIA

1. Evidências internas

As evidências internas da Autenticidade da Bíblia decorrem das próprias Escrituras Sagradas.

a) Evidências da unidade e consistência da Bíblia. Segundo Norman L. Geisler, “a unidade da Bíblia é uma evidência mais formal de sua inspiração. Constituída de 66 livros, escrita num período de cerca de 1.500 anos, por aproximadamente 40 autores que se expressaram em várias línguas e com centenas de tópicos, é mais do que acidental ou casual o fato de que ela tem uma unidade fantástica de tema: Jesus Cristo. Um problema, o pecado, e uma solução, o Salvador, unem suas páginas de Gênesis a Apocalipse. Esse é um ponto especialmente válido porque ninguém, ou grupo algum de homens, é responsável pela Bíblia como a temos. Livros foram sendo acrescentados à medida que os profetas os escreviam. Em seguida, foram reunidos porque eram considerados inspirados. Só mais tarde, mediante uma reflexão feita pelos profetas (cf.1Pd.1:10,11) e gerações posteriores, é que se descobriu que a Bíblia é, na verdade, um Livro cujos “capítulos” foram escritos por homens que não tinham conhecimento explícito algum de sua estrutura geral. O papel de cada um pode ser comparado ao de diferentes homens que escreveram um capitulo de um romance do qual nenhum deles tivesse conhecimento do esboço geral. A unidade do Livro, fosse ela qual fosse, não dependia deles. Como uma sinfonia, cada parte da Bíblia contribui para uma unidade geral orquestrada por um Maestro”. Este Mestre tem nome: Espírito Santo.

b) Evidência da ação do Espirito Santo. A Palavra de Deus é confirmada aos filhos de Deus pelo Espírito Santo, que não apenas dá testemunho ao crente de que ele é filho de Deus (Rm.8:16), como também que a Bíblia é a Palavra de Deus (2Pd.1:20,21). O mesmo Espírito que comunicou a verdade de Deus também confirma ao crente que a Bíblia é a Palavra de Deus. Esse testemunho não ocorre no vácuo. O Espirito usa a Palavra objetiva para promover a segurança subjetiva. Contudo, pelo testemunho do Espirito de Deus acerca da verdade da Palavra de Deus, há certeza no que diz respeito à sua autoridade divina.

Outra evidência considerada interna é a capacidade da Bíblia de converter, pela ação do Espírito Santo, o descrente e edificar o crente na fé. Diz o autor de Hebreus: “A Palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante que qualquer espada de dois gumes” (Hb.4:12). Multidões incontáveis já experimentaram esse poder dinâmico. Viciados em drogas têm sido curados e transformados; o ódio transformou-se em amor pela leitura da Bíblia; os crentes crescem ao estudá-la (1Pd.2:2); os angustiados recebem consolo; os pecadores são reprendidos; e os negligentes são exortados pelas Escrituras. A Palavra de Deus tem o poder dinâmico e transformador de Deus. Deus confirma a autoridade da Bíblia pelo poder que ela tem de evangelizar e edificar.

c) Profecias de Eventos Futuros. Uma das evidências mais fortes de que a Bíblia é a Palavra de Deus é a exatidão do cumprimento das profecias. Ao contrário de qualquer outro livro, a Bíblia oferece considerável quantidade de predições específicas, algumas delas feitas centenas de anos antes do seu cumprimento.

De acordo com Deuteronômio 18, um profeta era falso se dissesse predições que jamais se cumprissem. Nenhuma profecia incondicional da Bíblia sobre acontecimentos até o dia de hoje deixou de ser cumprida. Centenas de predições, algumas delas feitas centenas de anos antes, foram cumpridas de modo especifico. A data (Daniel 9), a cidade (Miqueias 5:2) e a natureza (Isaias 7:14) do nascimento de Cristo foram preditas no Antigo Testamento, assim como várias outras coisas sobre sua vida como, por exemplo, sua morte na cruz (Sl.22:16; João 19:36), o local da Sepultura (Is.53:9; Mt.27:57-60) e sua ressurreição (Sl.16:10; Mt.28:6). Muitas outras profecias se cumpriram, incluindo a destruição de Edom (Obadias 1), a maldição sobre Babilônia (Isaias 13), a destruição de Tiro (Ezequiel 26) e de Nínive (Naum 1-3), o retorno de Israel à sua terra prometida (Isaias 11:11). Israel viveu na diáspora por quase dois mil anos, reinos lutaram para exterminá-lo, mas Israel sobreviveu e retornou à sua terra conforme a promessa bíblica. Será que já se viu na terra coisa semelhante? Nem o seu idioma desapareceu, nem seus costumes, nem a sua fé religiosa; com todo esse tempo espalhado entre as nações conseguiram manter a integridade nacional. Não é isso um milagre? Não precisamos de mais provas, porque o que a Bíblia diz se cumpre. Nela está escrito que Israel voltaria à sua terra e Israel voltou. Será que há dúvidas?

Outros livros se dizem divinamente inspirados, como o Alcorão, o Livro de Mórmon e parte dos Vedas. Contudo, nenhum deles contém profecia preditiva. Em decorrência disso, a profecia cumprida é uma forte indicação da autoridade única e divina da Bíblia.

2. Evidências externas

Compreende-se como evidências externas aquelas em que os acontecimentos narrados nas Escrituras são também ratificados por outras fontes históricas. Boa parte da Bíblia é histórica e, como tal, é objeto de investigação histórica. A área mais significativa de confirmação nesse sentido vem do campo da arqueologia. As afirmações da Bíblia Sagrada são continuamente confirmadas pela arqueologia. Antigas e novas escavações, achados arqueológicos, escritos antigos, descobertas surpreendentes e avanços no conhecimento científico confirmam o que a Bíblia diz. O renomado arqueólogo William E. Albright afirmou: “Não há dúvida de que a arqueologia confirmou substancialmente a historicidade da tradição do Antigo Testamento”. Nelson Glueck acrescenta: “Pode-se afirmar categoricamente que nenhuma descoberta arqueológica jamais contrariou uma referência bíblica. Inúmeras descobertas arqueológicas têm sido feitas que confirmam em linhas gerais muito claras ou em detalhes exatos as declarações históricas da Bíblia”.

A despeito de a fé ser a única forma pela qual possamos aceitar a autenticidade das Escrituras, o Senhor tem feito o homem descobrir e verificar vários fatos e episódios que são indicadores seguros e irrefutáveis de que a Bíblia Sagrada não é um livro comum, mas uma obra totalmente distinta de tudo quanto tem se produzido pela humanidade. Assim, por exemplo, em 1947, quando se descobriram os famosos manuscritos do Mar Morto, textos bíblicos quase quinhentos anos mais antigos que os manuscritos mais antigos até então conhecidos, se revelou como havia uma incrível e intensa semelhança entre os textos, inclusive com a superação de diversas “contradições” ou “suspeitas” que se levantaram com relação a textos da versão grega da Bíblia, que se mostrou perfeitamente consonante com estes textos encontrados nas cavernas próximas ao Mar Morto. Temos, então, aí, uma comprovação científica de que como o texto bíblico foi mantido praticamente intacto durante tanto tempo.

A Bíblia Sagrada é a Palavra de Deus, ela é infalível em seus escritos, que se cumprem literalmente no mundo e só não observa isso quem não quer. Aquele que não crê na Bíblia não crê na existência de Deus, pois ela é a prova segura da existência do Criador Onipotente. Se Deus não existe a Bíblia não tem valor algum, logo Davi, Salomão, Poncio Pilatos, e mesmo o imperador romano Cezar, que dominava o mundo na época de Jesus, também não existiram, assim como Babilônia, Etiópia, reino da Pérsia e outros países cujos nomes estão inseridos na Bíblia seriam lendas. Como negar tudo isso? Isso seria negar também a existência dos árabes e judeus. Isso é possível? Não, não é!

Portanto, “tanto o registro da história das nações, as descobertas arqueológicas e os pressupostos da ciência apontam para a autenticidade da Palavra de Deus. E, a despeito de ser contestada por aqueles que se dizem ateus e incrédulos, a Bíblia permanece como o Livro mais traduzido e lido de toda a história”.

III. A MENSAGEM DA BÍBLIA

1. A supremacia da Bíblia

A Bíblia é o Livro dos livros - inspirada por Deus, escrita por homens santos, concebida n Céu, nascida na Terra, odiada pelo inferno, pregada pela Igreja, perseguida pelo mundo e crida pelos fiéis. A Palavra de Deus é infalível, inerrante e suficiente. É vencedora invicta em todas as batalhas. Tem saído ilesa do ataque implacável dos críticos e das fogueiras da intolerância. A Palavra de Deus é a bigorna que tem quebrado todos os martelos dos céticos. Homens perversos se esforçaram e se esforçam para destruí-la, queimá-la, escondê-la ou ataca-la, mas ela tem saído incólume de todas essas investidas. Ela é a divina semente. Por meio dela somos gerados de novo. Por meio dela cremos em Cristo. Por meio dela somos fortalecidos. A Palavra de Deus é água para os sedentos, pão para os famintos e luz para os errantes. Por meio dela somos santificados e através dela recebemos poder. Ela é a arma de combate e o escudo que nos protege. Ela é mais preciosa que o ouro e mais doce que o mel.

Portanto, nada pode ser colocado ao lado e, muito menos, acima da Bíblia Sagrada; ela é suprema. As heresias e falsas doutrinas sempre apresentam outros “escritos”, outras “revelações”, que buscam “complementar” as Escrituras, mas tudo deve ser sumariamente rejeitado, pois só à Sua Palavra o Senhor engrandeceu. Jesus foi bem incisivo ao afirmar que somente a Palavra de Deus permanece para sempre (Mt.24:35; Lc.21:33; Pd.1:23,25).

2. O poder da Palavra de Deus

O poder da Palavra de Deus é extraordinário; se assemelha ao fogo que consome e purifica, bem como um martelo que despedaça a penha (Jr.23:29). O seu poder também é capaz de derrubar fortalezas espirituais que fazem oposição ao conhecimento divino (2Co.10:4,5). O escritor de Hebreus escreveu sobre o poder da Palavra de Deus dizendo: “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hb.4:12). Ao aconselhar Timóteo, o apóstolo Paulo também fala do poder da Palavra de Deus ao dizer que ela é capaz de “torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus” (2Tm.3:15). Jesus, quando foi tentado no deserto, derrotou Satanás usando o poder da Palavra (Mt.4:4,7,10).

Através da Palavra, Deus revela-se a si mesmo a nós e nos instrui em tudo o que é necessário para que possamos viver de acordo com a Sua santa vontade. É por meio da Palavra de Deus que obtemos conhecimento do próprio Deus de modo a sabermos quem Ele é, o que Ele faz e qual é a Sua vontade e propósito. Além disso, é através da Palavra de Deus escrita que conhecemos a Palavra Encarnada: Jesus Cristo, o Filho de Deus (João 1).

3. O propósito da Bíblia

Paulo, se referindo a Timóteo disse: “E que, desde a tua meninice, sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra” (2Tm.3:15-17). Com base nessa afirmação do apóstolo, o pr. Hernandes Dias Lopes destaca três faces do propósito da Bíblia:

a) A Bíblia conduz as pessoas à salvação – “E que, desde a tua meninice, sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação...” (2Tm.3:15). A Bíblia é essencialmente um manual de salvação. Seu propósito mais alto não é ensinar fatos da ciência que o homem pode descobrir por sua investigação experimental, mas ensinar fatos da salvação que nenhuma exploração humana pode descobrir e somente Deus pode revelar. A Bíblia Sagrada fala sobre a criação e a queda do homem. Ensinam sobre o juízo de Deus e também de seu amor redentor.

b) A Bíblia anuncia a salvação por intermédio de Cristo – “pela fé em Cristo Jesus” (2Tm.3:15b). A salvação é por meio de Cristo. No Antigo Testamento, as pessoas eram salvas pelo Cristo da promessa; no Novo Testamento, elas são salvas pelo Cristo da história. No Antigo Testamento, as pessoas olhavam para frente, para o Cristo que haveria de vir; no Novo Testamento, elas olham para trás, para o Cristo que já veio. No Antigo Testamento, as pessoas creram no Cristo da promessa; no Novo Testamento, as pessoas creram no Cristo da história. O Antigo Testamento anuncia a promessa e a preparação para a chegada de Cristo. Os Evangelhos expõem o nascimento, a vida, o ensino, os milagres, a morte, a ressurreição e a ascensão de Cristo. O livro de Atos relata a propagação do evangelho de Cristo desde Jerusalém até Roma. As epístolas apresentam a ilimitada glória da Pessoa e da obra de Cristo, aplicando-a à vida do cristão e da Igreja. O Apocalipse traz a consumada vitória de Cristo e da sua Igreja. Cristo é o centro da eternidade, da história e das Escrituras Sagradas; Ele é o Salvador do mundo, o único nome dado entre os homens pelo qual importa que sejamos salvos (Atos 4:12).

c) A Bíblia trata tanto da doutrina quanto da conduta – “...e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm.3:16b,17). Pressupõe-se o ensino ou doutrina (o que é certo); repreensão (o que não é certo); correção (como se tornar certo); educação na justiça (como permanecer certo). John N.D. Kelly explica essa passagem da seguinte forma:

“ A Escritura é pastoralmente útil para o ensino, isto é, como fonte positiva de doutrina cristã; para repreensão, isto é, para refutar o erro e para reprender o pecado; para a correção, isto é, para convencer os mal-orientados dos seus erros e colocá-los no caminho certo outra vez; e para a educação na justiça, isto é, para a educação construtiva na vida cristã”.

CONCLUSÃO

A autoridade da Bíblia se autojustifica porque é a Palavra de Deus. Afinal, Deus é a autoridade suprema (Hb.6:13). Portanto, não há nada maior do que Deus a quem se possa apelar em busca de autoridade. Por isso, a Palavra de Deus é sua própria autoridade. E, se a Bíblia é a Palavra de Deus, então o mesmo vale para a Bíblia, ela também fala com autoridade suprema.

Nos dias difíceis em que vivemos, precisamos tomar cuidado para que nada seja igualado à Palavra de Deus. A Bíblia Sagrada deve ser a nossa única regra de fé e de prática. Até mesmo as manifestações espirituais devem ser julgadas à luz da Palavra de Deus (1Co.14:29,32, c/c João 7:24). Nestes dias, somente quem se agarrar à Palavra de Deus poderá resistir até o dia do arrebatamento da Igreja ou até quando formos levados ao estado eterno com Deus.

A GLORIOSA ESPERANÇA DO APÓSTOLO


 Texto Base: 2Timóteo 4:6-8; 1Tessalonicenses 5:1-11


“Mas nos, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor e tendo por capacete a esperança da salvação” (1Ts.5:8).

V.P.: “A esperança gloriosa da volta de Jesus traz sobriedade para as nossas vidas, e disposição para exercer a fé e o amor em esperança”.

2Timóteo 4:

6.Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo.

7.Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.

8.Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia, e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.

1Tessalonicenses 5:

1.Mas, irmãos, acerca dos tempos e das estações, não necessitais de que se vos escreva,

2.porque vós mesmos sabeis muito bem que o Dia do Senhor virá como ladrão de noite.

3.Pois que, quando disserem: Há paz e segurança, então, lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida; e de modo nenhum escaparão.

4.Mas vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele Dia vos surpreenda como um ladrão;

5.porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia, nós não somos da noite nem das trevas.

6- Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos e sejamos sóbrias.

7.Porque os que dormem, dormem de noite, e os que se embebedam. embebedam-se de noite.

8.Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor e tendo por capacete a esperança da salvação.

9.Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para a aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo,

10.que morreu por nós, para que, quer vigiemos, quer durmamos, vivamos juntamente com ele.

11.Pelo que exortai-vos uns aos outros e edificai-vos uns aos outros, como também o fazeis.

INTRODUÇÃO

Nesta última Aula do 4º Trimestre de 2021, trataremos da “Gloriosa Esperança do Apóstolo” Paulo. A sua esperança era a mesma de todos os demais cristãos: a volta de nosso Senhor Jesus Cristo. Esta é a mais sublime esperança da Igreja. O apóstolo Paulo cultivava diariamente essa esperança. Seu desejo era partir e estar com Cristo para sempre (Fp.1:23). Por isso, diariamente, ele se entregava totalmente a Ele. A graça de Deus nos libertou de nossas mazelas do passado, restaurou nossa vida no presente e nos mantém na ponta dos pés com uma gloriosa expectativa em relação ao futuro, quando o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo voltar em sua glória. Uma das bênçãos mais extraordinária é preservar essa esperança diante das experiências difíceis no mundo. É impossível que aqueles que mantêm essa gloriosa esperança da volta de Jesus se recusem a entregar-se completamente a Ele. Que a esperança do apóstolo Paulo seja a nossa também!

I. A CONSCIÊNCIA DE PAULO DIANTE DA MORTE

1. Uma morte como oferta de sacrifício (2Tm.4:6)

“Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado”.

Em Roma, na segunda prisão, em determinado momento, Paulo percebeu o seu martírio iminente como uma oferta apresentada sobre o altar do sacrifício. Paulo sabia que ia morrer, mas não era Roma que tiraria a sua vida, era ele quem ia oferecê-la. E ele não ia oferecê-la a Roma, mas a Deus – “estou sendo já oferecido por libação”. Libação era uma oferta líquida e consistia em despejar vinho sobre um altar como um sacrifício a Deus (cf. Gn.35:14; Êx.29:41). Sua fragrância era considerada agradável a Deus. Paulo via a sua vida como uma oferta a Deus. Paulo entendia sua morte como oferenda derramada sobre o sacrifício da Igreja (Fp.2:17). Essa consciência clara de que haveria de padecer pelo nome de Jesus, não o permitia ter medo, ou frustração diante da morte. Para ele, “o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp.1:21). Temos este mesmo sentimento? Concordo com o pr. Elienai Cabral quando afirma que “é preciso ter a consciência de que se não encontrarmos o Senhor por meio do Arrebatamento da Igreja, o encontraremos por meio da morte. Por intermédio do Espírito Santo, nos prepararemos para esse tempo em esperança (1Ts.5:13-18).

2. “Combati o bom combate” (2Tm.4:7)

“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”

Antes de fechar as cortinas da sua vida, Paulo nos mostra com clareza a respeito do seu passado, presente e futuro. Ele olhou para o passado com gratidão. O que fora um propósito, ou seja, completar a carreira (Atos 20:24), agora era um retrospecto. Paulo está passando o bastão para o seu filho Timóteo, mas, antes de enfrentar o martírio, relembra como havia sido sua vida: um duro combate. Bem diz o pr. Hernandes Dias Lopes: “a vida para Paulo não foi uma feira de vaidades nem um parque de diversões, mas um combate renhido. Paulo lutou contra poderes sombrios da maldade, contra Satanás, contra os vícios judaicos e gentílicos, contra hipocrisia, violência, conflitos e imoralidades em Corinto, contra fanáticos e desleixados em Tessalônica, contra gnósticos e judaizantes em Éfeso e Colossos, e, não por último – no poder do Espirito Santo – lutou contra o velho ser humano dentro de si. Porém, acima de tudo e em todas as coisas, lutou em prol do Evangelho, a grande luta de sua vida, seu bom combate. O apóstolo poderia morrer tranquilo porque havia concluído sua carreira, e isso era tudo o que lhe importava (Atos 20:24). Mas ele também deixa claro que nessa peleja jamais abandonou a verdade nem negou a fé. Não morre bem quem não vive bem. A vida é mais do que viver, e a morte é mais do que morrer”. Que combate estamos combatendo? Essa causa é a nobre causa do Evangelho? Que o autoexame de Paulo seja exemplo para nos auto examinarmos também!

3. Gratidão e esperança (2Tm.4:7,8)

“Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda” (2Tm.4:8).

A gratidão do dever cumprido, associada à serenidade de saber que estava indo para a presença de Jesus, dava a Paulo uma agradável expectativa do futuro. Mesmo que o imperador o condenasse à morte e o tribunal de Roma o considerasse culpado, o reto e justo Juiz revogaria o veredito de Nero, considerando Paulo sem culpa e dando-lhe a coroa da justiça.

Nos jogos atléticos romanos, a coroa de louros era dada aos vencedores; símbolo de triunfo e honra, era o prêmio mais cobiçado na Roma antiga. Provavelmente era a isto que Paulo se referia quando falou de uma “coroa”. Mas a coroa de Paulo seria uma coroa de justiça. Embora Paulo não fosse receber uma recompensa humana, seria recompensado no Céu. Embora não pudesse evitar a morte física, sabia que estar com o Senhor era a coroação da sua trajetória. Disse ele: “termos confiança e desejamos, antes, deixar este corpo, para habitar com o Senhor” (2Co.5:8); “partir e estar com Cristo é incomparavelmente melhor” (Fp.1:23). Devemos olhar para o futuro com a certeza do nosso galardão, e enxergar, pela fé, que o nosso trabalho não é vão no Senhor (1Co.15:58), pois há uma coroa de justiça guardada para cada crente fiel em Jesus. A despeito daquilo que venhamos a enfrentar – o desânimo, a perseguição ou morte – sabemos que a nossa recompensa está com Cristo no Céu. Creia nisso!

II. A DOUTRINA BÍBLICA DE PAULO SOBRE A VOLTA DO SENHOR

1. A volta do Senhor em 1Tessalonicenses

Paulo permaneceu pouco tempo em Tessalônica, o que foi insuficiente para que ele pudesse ensinar aos crentes daquela capital macedônica tudo o que era necessário sobre a volta do Senhor Jesus e a ressurreição dos mortos. Os judeus cristãos certamente tinham mais facilidades para crer na Ressurreição, embora não conhecessem a doutrina na sua amplitude, conforme declarou Marta: “…eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia” (João 11:23-24). Porém, os gregos não tinham esta mesma facilidade.

Os cristãos tessalonicenses, de origem grega, eram recém-chegados do paganismo. Durante toda vida foram ensinados no que criam as crenças pagãs, e, segundo haviam aprendido, não haveria ressurreição do corpo. O pouco tempo que Paulo permaneceu naquela Igreja certamente não foi o suficiente para que pudesse ensinar-lhes sobre a doutrina da Ressurreição de uma forma mais detalhada. Eles haviam crido em Jesus, na sua morte e Ressurreição, bem como na sua Segunda Vinda para buscar a sua Igreja. Porém, ainda estavam cheios de dúvidas sobre a sua vinda e, especialmente, sobre a Ressurreição dos mortos.

-Dúvidas Sobre a Vinda de Jesus. Os crentes Tessalonicenses creram na mensagem de Paulo de que Jesus já havia vindo uma vez, quando como homem nasceu em Belém de Judá. Creram que Ele morreu e Ressuscitou. Creram, também, que Ele viria outra vez para buscar sua Igreja, da qual eles agora faziam parte. Porém, não compreenderam que sua Segunda Vinda aconteceria em duas etapas. Eles pensavam que a vinda de Jesus para buscar a sua Igreja, conhecida como o Arrebatamento da Igreja, iria acontecer naquela geração, ou seja, no tempo em que eles estavam ainda vivos. Creram de tal forma na iminência da Vinda de Jesus que alguns começaram, inclusive, abandonar suas próprias atividades materiais, andando de casa em casa “só contado as bênçãos”, e nada de quererem trabalhar. Mas Paulo os advertiu que eles não podiam, nem nós hoje podemos, descuidar dos compromissos e obrigações materiais, deixando de trabalhar, ou mesmo de estudar, para viver somente dando “glórias” e vivendo às custas dos que trabalham. Paulo classificou os que não queriam trabalhar, e ficavam andando de casa em casa, como vivendo “desordenadamente” (1Tes.3:10-11). Foram, portanto, ensinados de que deveriam esperar a Vinda de Jesus, porém, sem descuidar das obrigações e dos compromissos do dia a dia.

-Dúvidas sobre a Ressurreição. Eles acreditavam que o Senhor Jesus viria buscar a sua Igreja naqueles dias, ou seja, naquela geração. Como não tinham entendido bem a doutrina da Ressurreição, pensavam que aquelas pessoas que estavam morrendo sem alcançar a Vinda de Jesus estivessem perdidas. Assim, sempre que morria alguém da Igreja, ou algum parente que não era cristão, havia uma grande comoção, muita tristeza entre todos, nas famílias e na Igreja. Eles lamentavam que o “irmão”, ou o parente houvesse morrido antes da Vinda de Jesus, perdendo, pois, o Arrebatamento.

Após mostrar o motivo pelo qual o crente não deveria ficar sem esperança diante da morte dos irmãos em Cristo, Paulo explica como se dará o arrebatamento da Igreja, momento este que todos os crentes esperam e desejam. Os crentes de Tessalônica esperavam Jesus e ficaram perturbados com o fato de alguns dos seus estavam morrendo antes que Jesus voltasse, mas o apóstolo lhes ensinou que os crentes falecidos não estavam “perdendo a oportunidade” ou “perdendo a vez”, mas, muito pelo contrário, no dia do arrebatamento da Igreja, teriam a primazia, uma vez que ressuscitariam e receberiam, antes dos crentes que estivessem vivos, o corpo glorioso, o corpo transformado que terão os crentes para se encontrar com o Senhor nos ares (1Ts.4:15-17).

2. As duas fases da volta de Jesus

A Volta de Jesus é a mais sublime promessa que a Bíblia registra para o povo da Nova Aliança. É a maior esperança. É a força motriz de nossa fé. É a principal razão de sermos crentes em Jesus Cristo. A qualquer instante, num dia e numa hora em que ninguém sabe, apenas Deus, a trombeta soará, e a Igreja será levada para estar para sempre com Jesus. A volta de Jesus se dará em duas fases:

Na primeira fase:

Ele virá para buscar aqueles cujos nomes estiverem escritos no livro da vida. É nesse momento que se dará a formação da Universal Assembleia dos Santos – que será a reunião entre aqueles que foram mortos em Cristo - em todas as épocas -, e aqueles que estiverem vivos, cujos corpos serão transformados num abrir e fechar de olhos, conforme 1Ts.4:16,17. Ele os levará consigo para as Bodas do Cordeiro, conforme está escrito em Ap.19:7-9; 1Co.3:8-14. As Bodas do Cordeiro é a celebração no Céu da união espiritual entre Cristo e a Igreja; é quando se dará a glorificação dos santos e a entrega do galardão de cada um segundo a sua obra (Mt.5:12; 10:42; 22:1-22; 24:27-31; 25:1-13; Lc.12:36; João 4:36; 1Co.3:8,14; Col.3:24; 2João 1:8; Ap.2:11; 19:7-9; 20:6; 22:12).

Na segunda fase:

“Todo o olho verá” (Ap.1:7). Nesta fase, o nosso Senhor descerá em glória e, literalmente, será visto pelo mundo todo e, especialmente, pelos judeus (Zc.14:2,3). Nessa ocasião, Jesus Cristo livrará pessoalmente a nação de Israel dos exércitos confederados pelo Anticristo, desfazendo-os com o seu poder, e vencendo o Anticristo, o Falso Profeta e o Diabo, para implantar o reino milenial (Ap.19:11-16). Jesus retornará a Terra - em glória -, conforme está escrito em:

-Lucas 21:25-27 - “e haverá sinais no sol, e na lua, e nas estrelas, e, na terra, angústia das nações, em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas; homens desmaiando de terror, na expectação das coisas que sobrevirão ao mundo, porquanto os poderes do céu serão abalados. E, então, verão vir o Filho do homem numa nuvem, com poder e grande glória”.

-Mateus 16:27 - “porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e, então, dará a cada um segundo as suas obras”.

-Apocalipse 1:7 – “Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até os mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Sim! Amém!”.

Em sua primeira vinda – na sua encarnação, de acordo com Isaías 53:2,3 -, Jesus não tinha parecer nem formosura, era Homem de dores, experimentado nos trabalhos. Mas, quando João foi arrebatado em espírito no dia do Senhor e recebeu as revelações que relatou em Apocalipse, viu Jesus glorificado. Atente para o relato do apóstolo (Ap.1:12-16):

12. e virei-me para ver quem falava comigo. E, virando-me, vi sete castiçais de ouro;

13. e, no meio dos sete castiçais, um semelhante ao Filho do homem, vestido até aos pés de uma veste comprida e cingido pelo peito com um cinto de ouro.

14. e a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve, e os olhos, como chama de fogo;

15. e os seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se tivesse sido refinado numa fornalha; e a sua voz, como a voz de muitas águas.

16. e ele tinha na sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece.

Na sua parousia, ou seja, na sua forma visível em glória, Jesus virá acompanhado de seus anjos e seus santos, ou seja, a sua Igreja, para:

a) guerrear contra o Anticristo e o falso profeta, e derrotá-los. Nesse momento o mundo estará passando pelo Armagedom. Será um momento de angústia para Israel. De forma espetacular Jesus livrará Israel da destruição. É quando eles reconhecerão Jesus como o Messias tão esperado, o aceitarão e pranteá-lo-ão sobre Ele, conforme está escrito em Zacarias 12:10. O Anticristo e o falso profeta serão lançados vivos no lago de fogo e enxofre – o inferno propriamente dito; isto está escrito em Apocalipse 19:20: “e a besta foi presa e, com ela, o falso profeta, que, diante dela, fizera os sinais com que enganou os que receberam o sinal da besta e adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no ardente lago de fogo e de enxofre”.

b) julgar as nações, conforme está escrito em Mt.25:31-46. Esse julgamento acontecerá na terra sobre aqueles que sobreviveram o Armagedom. Serão julgados com base no tratamento dado a mensagem do Reino, aos seus mensageiros e ao modo como trataram a Israel. Esse julgamento terá como finalidade apartar os bodes das ovelhas, ou seja, decidir quem passará com Cristo o Reino milenial e quem não passará o Milênio, ficando a aguardar o julgamento final e definitivo diante do Grande Trono Branco.

3. Sobre a Grande Tribulação

A Grande Tribulação é o maior juízo que Deus lançará sobre a Terra por causa da iniquidade do ser humano. Deus é justo (Sl.145:17) e, portanto, em retribuição à rejeição da mais ampla oportunidade de salvação que já houve, mandará o maior juízo que já se abateu sobre a Terra. A Grande Tribulação terá a duração de sete anos, e todos aqueles que ficarem para trás no Dia do Arrebatamento sofrerão os piores sofrimentos e males já vividos pela humanidade, vez que Deus permitirá que o Diabo tenha ampla liberdade de atuação sobre a Terra. Será um tempo de angústias e aflições incomuns. Porém, quando isto ocorrer, a Igreja do Senhor Jesus – a Universal Assembleia dos Santos - não mais estará neste mundo. Será o juízo de Deus sobre todos aqueles que não se arrependeram de seus pecados. Que possamos estar preparados para o Dia do Arrebatamento, pois depois deste evento glorioso se dará a Grande Tribulação, o pior período da história da humanidade.

A Grande Tribulação terá dois períodos. Quando analisamos a profecia das setenta semanas de sete anos de Daniel, observamos que o profeta recebe uma mensagem que divide a Grande Tribulação em dois períodos distintos, cada um de três anos e meio (ou 42 meses, ou, ainda, 1.260 dias, períodos que são mencionados no livro do Apocalipse – respectivamente: Ap.11:2 e 13:5; Ap.11:3 e 12:6).

a) O Primeiro período. Descrito nos capítulos 6 a 9 do livro do Apocalipse é chamado por alguns de “Tribulação” ou “princípio das dores”. Neste período haverá uma sensação de paz e de segurança no mundo, ao mesmo tempo em que o Anticristo angariará o poderio sobre todo o mundo. Ele assumirá o poder com uma mensagem de paz (Ap.6:1,2) e sua mensagem encontrará guarida nos corações dos homens. Ao mesmo tempo, porém, o Anticristo estará agindo conforme seu caráter, porque violará o acordo com três das dez nações que lhe entregaram o poder e as dominará diretamente, retirando-lhes a independência (cf. Dn.7:8,20,24), ou seja, falando em paz, promoverá a guerra e, à medida em que proclama a paz, irá fazendo guerra aos seus inimigos, vencendo-os, pois, como a Bíblia afirma, nada mais lhe resistirá.

Ao trazer uma mensagem de paz e esperança aos homens, o Anticristo cuidará de mudar uma série de estruturas políticas, econômicas e sociais, modificações estas que revelarão excelentes intenções e uma coragem e ousadia nunca antes vistas na história da humanidade. Isto, certamente, trará algumas resistências, o que explica o seu gesto de abatimento de três das dez nações que o apoiaram. Esta demonstração de força, ademais, servirá para impor seu poderio sobre a sua base política, o que será suficiente para, então, iniciar seu intento de dominação mundial. Seu pacto com Israel, também, insere-se dentro desta ótica da paz mundial e, sem dúvida alguma, a solução para o conflito do Oriente Médio trará a ele credibilidade e respeito de todo o mundo. Por isso, Daniel afirma que o Anticristo “…por causa da tranquilidade destruirá muitos…” (Dn.8:25).

b) O Segundo período. É a “Grande Tribulação propriamente dita”, ou seja, o período em que os juízos de Deus, descritos nos capítulos 10 a 16 de Apocalipse, irão se manifestar com todo rigor. A Grande Tribulação terminará com a batalha do Armagedom (Ap.19). Antes disso, João mostra alguns episódios parentéticos, que ocorrerão nos capítulos 17 e 18. Nestes dois capítulos, o escritor sagrado nos revela a falsa igreja do Anticristo (a Babilônia religiosa) e a capital do reino do Anticristo (a Babilônia comercial).

O Segundo período da Grande Tribulação inicia-se com a quebra do pacto entre o Anticristo e Israel, com a profanação do templo reconstruído e a cessação dos sacrifícios (Dn.9:27). Jerusalém voltará a ficar sob o controle dos gentios (Ap.11:2), passando o templo a ser local de adoração da imagem do Anticristo (a “abominação da desolação” de Mt.24:15), bem como Jerusalém passará ser local de visitação pública dos corpos das duas testemunhas (Ap.11:8).

Nesse período tenebroso, o Anticristo consolidará a nova religião mundial, de adoração a sua pessoa, pois todo o mundo se convencerá dos seus poderes sobrenaturais, provavelmente em razão de uma suposta ressurreição, como será pregado por parte do falso profeta (Ap.13:8,12-15). Também, consolidará o seu poder político-econômico-militar, estabelecendo um governo mundial ditatorial (o “domínio” de Dn.7:25, o “rei” de Dn.8:25 e o “poder” de Ap.13:7b, o “oitavo rei” de Ap.17:11). Terá, então, todo o controle sobre as transações econômicas e exigirá que todos os homens ponham sobre si o seu sinal, mas quem o fizer estará irremediavelmente perdido na eternidade (Ap.13:8-11;14:11). Iniciará a implacável perseguição sobre Israel a fim de destruí-lo totalmente, o que somente não conseguirá porque o Senhor Jesus, pessoalmente, o impedirá.

Enquanto o Anticristo terá todos estes pontos de êxito e de vitória sobre os homens, Deus começará a mostrar a Sua soberania sobre todas as coisas, derramando sobre a Terra todos os juízos estabelecidos para o “Dia do Senhor”, o “Dia da vingança do nosso Deus”, “Tempo da angústia de Jacó”, “Dia de trevas”, “aquele Dia”, “o grande Dia”, “Dia de ira”, “ira futura”, entre outros. Durante os sete anos de Tribulação, Deus enviará três julgamentos à Terra: o Julgamento dos Selos (Ap.6); o Julgamento das Trombetas (Ap.8 e 9); o Julgamento das Taças (Ap.16).

A Igreja não passará pela Grande Tribulação. O objetivo principal da Grande Tribulação é restaurar a nação de Israel, que foi criada e formada por Deus, a partir da chamada de Abraão (Gn.12:2). Deus prometeu que Israel seria sua propriedade peculiar e uma nação santa, que duraria para sempre (Ex.19:5,6; 2Sm.7:10). E para que Deus trate com Israel é necessário que a Igreja seja tirada da Terra. Quando isto acontecer, se reiniciará a contagem da septuagésima semana de Daniel, que corresponde o período da Grande Tribulação, e se encerrará com a volta gloriosa do Senhor Jesus para livrar Israel e implantar o seu reino milenar (Mt.24:29,30; Ap.1:7,8).

III. DOS TEMPOS E DAS ESTAÇÕES ATÉ A VOLTA DO SENHOR

1. Uma atenção à expressão “dos tempos e das estações”

“Mas, irmãos, acerca dos tempos e das estações, não necessitais de que se vos escreva”; porque vós mesmos sabeis muito bem que o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite” (1Ts.5:1,2).

Esta expressão – “dos tempos e das estações” – também foi usada pelo Senhor Jesus em seu último discurso aos seus discípulos, logo após a sua ressurreição (Atos 1:7) - “Não vos pertence saber os tempos e as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder”. Ambos os registros trazem a noção da iminência da volta do Senhor. A referida expressão é usada na Bíblia para se referir a vários acontecimentos preditos por Deus ainda não cumpridos com respeito à nação de Israel. Uma vez que eram de origem judaica, os discípulos deviam ter entendido que, nesse caso, a expressão se referia aos dias críticos antes do estabelecimento do reinado milenar de Cristo na terra.

A razão por que Paulo não escreveu aos tessalonicenses acerca dos “tempos e estações” da segunda vinda de Cristo (1Ts.5:1) não era que ele julgasse essas informações irrelevantes ou desnecessárias, mas porque ele já havia ensinado a eles que este tema estava além da esfera de seu ensino. O papel da Igreja não é saber tempos ou épocas que o Pai reservou para a Sua exclusiva autoridade, mas estar engajada na obra e preparada para a vinda do Senhor. O dia desse acontecimento, portanto, não foi revelado aos anjos nem a nós; é da autoridade exclusiva do Deus Pai (Mt.24:36; Atos 1:7).

Não poucos estudiosos da Bíblia, no afã de mergulhar nas profecias bíblicas, chegam às raias do entusiasmo inconsequente, marcando data para a segunda vinda de Cristo e descrevendo minúcias desse esperançoso acontecimento escatológico. Mas, tanto Paulo quanto Jesus, nos ensinam que não nos compte saber os tempos e épocas que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder. Portanto, qualquer especulação sobre a data da vinda de Cristo é perda de tempo e desobediência ao ensino bíblico. Devemos apenas viver em vigilância em todo tempo, não procurando adivinhar datas ou períodos, pois não sabemos o dia nem a hora que o nosso Senhor vai voltar.

Na Igreja existem muitos que deixam de fazer a obra do Senhor por causa da expectativa iminente da Segunda vinda de Cristo, mas também existem aqueles que vivem despreocupadamente sem dar crédito a ela; estes são zombadores e escarnecedores, que andam dizendo: “onde está a promessa da sua vinda? Porque, desde que os pais morreram, todas as cousas permanecem como desde o princípio da criação” (2Pd.3:4).

No meio desses dois extremos, como a Igreja de Cristo deve se portar? Que atitude deve ter em relação à segunda vinda de Cristo? A Igreja deve aguardar a Segunda vinda de Cristo com uma atitude de expectativa, vigilância, coragem militante e confiança. A Igreja não deve se preocupar com as minúcias da data da segunda vinda de Cristo, mas, sim, estar preparada para a Sua volta. Vigilância e trabalho, e não especulação, é o que a Bíblia ensina quanto a este momentoso tema.

2. Uma dimensão do Espírito; uma dimensão do porvir

Jesus, em seu último encontro com os discípulos, no Monte das oliveiras, repete a promessa do Pai: a vinda do Consolador (João 14:16,26; 15:26). Jesus prometeu que seriam “batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (Atos 1:5). Os discípulos, refletindo sobre a vinda do Espírito Santo, lembraram-se das palavras do profeta Joel acerca do derramamento do Espírito associado ao reino glorioso do Messias (Jl.2:28). Concluíram que o Senhor instituiria seu reino em breve, pois ele havia dito que o Espírito seria enviado “depois destes dias”. Como sua pergunta revela, ainda esperavam que Cristo instituísse seu Reino terreno literal de imediato.

Jesus não os corrigiu por essa expectativa de seu reino literal na terra, pois sua esperança era e continua sendo justificada. Ele apenas lhes disse que não lhes competia conhecer o tempo da vinda de seu reino (Atos 1:7). A data havia sido estabelecida pela “exclusiva autoridade” do Pai, mas Ele tinha escolhido não Lhe revelar. Era uma informação que dizia respeito somente a Deus Pai.

Depois de refrear a curiosidade dos discípulos quanto à data futura desse reino, Jesus direcionou a atenção deles para uma questão mais imediata: a natureza e abrangência da missão da qual seriam incumbidos. Quanto à natureza dessa incumbência, os discípulos deviam ser testemunhas; quanto à abrangência, deviam ser testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da Terra (Atos 1:8). Antes disso, porém, precisavam receber o poder do Espírito Santo. Esse poder é o elemento absolutamente indispensável do testemunho cristão. Uma pessoa pode ter muitos talentos, treinamento e experiência, mas, sem poder espiritual, será ineficaz. Em contrapartida, uma pessoa pode ter pouca instrução, ser pouco atraente e polida, mas, ao receber o poder do Espírito Santo, é capaz de fazer grandes coisas para Deus. Os discípulos temerosos precisavam de poder para testemunhar e de ousadia santa para pregar o evangelho. Esse poder lhes seria dado quando o Espírito Santo descesse sobre eles.

O Espírito Santo continua sendo o elemento principal da Igreja. Sem Ele, é difícil a Igreja pregar o evangelho com ousadia e eficácia; sem Ele, é difícil a Igreja preservar a esperança do porvir; sem Ele, é difícil o crente reter dentro de si a veracidade da iminência da volta do Senhor.

3. Espírito e Porvir: temas da nossa pregação

A mensagem pentecostal traz consigo o poder do Espírito e a bendita esperança no porvir. A vinda gloriosa de Cristo é mais do que uma bendita esperança, é uma esperança cheia de alegria (Rm.5:2; 12:12), uma esperança unificadora (Ef.4:4), uma viva esperança (1Pd.1:3), uma firme esperança (Hb.6:19) e uma esperança purificadora (1João 3:3). A dinâmica da vida do cristão é a expectativa da vinda gloriosa de Jesus Cristo. O cristão é uma pessoa que está sempre pronta para receber o Rei dos reis. Assim sendo, a promessa da bendita esperança deve estar em nossa pregação. Não deixemos de pregar: Jesus em breve voltará.

CONCLUSÃO

A gloriosa esperança de Paulo deve ser a nossa. O cristão olha para trás e glorifica a Deus porque a graça o libertou da impiedade e das paixões mundanas; ele olha para o presente e exalta a Deus porque tem uma correta relação consigo, com o próximo e com o próprio Deus; ele olha para o futuro e se santifica porque vive na expectativa da Vinda do grande Deus e Salvador Cristo Jesus. A Volta de Jesus é a mais sublime promessa que a Bíblia registra ao povo da Nova Aliança. É a mais gloriosa esperança. A qualquer instante, num dia e numa hora em que ninguém sabe, apenas Deus, a trombeta soará, e a Igreja será levada para estar para sempre com Jesus. Que vivamos no Espírito, aguardando esta gloriosa e bendita esperança!

A CORAGEM DO APÓSTOLO PAULO DIANTE DA MORTE


 Texto Base: Atos 21:7-15


“E assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossa carne mortal” (2Co.4:11).

V.P: “O Espírito Santo nos prepara para sofrer por Jesus Cristo e suportar as angústias e aflições na obra de Deus”.

Atos 21:

7.E nós, concluída a navegação de Tiro, viemos a Ptolemaida, e, havendo saudado os irmãos, ficamos com eles um dia.

8.No dia seguinte, partindo dali Paulo e nós que com ele estávamos, chegamos a Cesareia; e, entrando em casa de Filipe, o evangelista, que um dos sete, ficamos com ele.

9.Tinha este quatro filhas donzelas, que profetizavam.

10.E, demorando-nos ali por muitos dias, chegou da Judeia um profeta, por nome Ágabo;

11.e, vindo ter conosco, tomou a cinta de Paulo e, lingando-se os seus próprios pés e mãos, disse: Isto diz o Espirito Santo; Assim ligarão os judeus, em Jerusalém, o varão de quem é esta cinta e o entregarão nas mãos dos gentios.

12.E, ouvindo nós isto, rogamos-lhe, tanto nós como os que eram daquele lugar, que não subisse a Jerusalém,

13.Mas Paulo respondeu: Que fazeis vós, chorando e magoando-me o coração? Porque eu estou pronto não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus.

14.E, como não podíamos convencê-lo, nos aquietamos, dizendo: Faça-se a vontade do Senhor!

15.Depois daqueles dias, havendo feito os nossos preparativos, subimos a Jerusalém.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos da “coragem de Paulo diante da morte”. Durante todo o seu ministério, desde a sua conversão, Paulo correu risco de morte, mas nunca a temeu. Ele sempre estava preparado para esse momento. Isto era o resultado concreto da dimensão profunda da fé salvífica que dominava a sua vida. Para ele, ter de escolher entre estar com Cristo e permanecer neste mundo, não havia dúvida: escolheria estar com Cristo. Para Paulo, permanecer neste mundo só se justificaria se fosse para desgastar-se pela causa do Evangelho. Certa feita ele disse: “Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira” (Atos 20:24).

Ser chamado para cumprir uma missão para o Reino de Deus tem um custo alto, muitas vezes, a própria vida. Não se deve pensar em amenidades quando o assunto é trabalhar para Cristo de forma dedicada e abnegada. O inimigo nunca deixa o missionário e o evangelista livre de perseguição. Ele sabe que pregar o evangelho é a mais poderosa força que Jesus colocou na sua Igreja para livrar as pessoas da perdição eterna. Por isso, o pregador do evangelho nunca está livre da perseguição e do risco de morte. Mas, aquele que tem a coragem que Paulo tinha, está pronto a dizer: “Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp.1:21).

I. A CONSCIÊNCIA DE PAULO QUANTO A PADECER POR JESUS

1. A insistência de Paulo em ir a Jerusalém

Depois de cumprir o tempo de sua Terceira Viagem Missionária, Paulo se despede dos pastores da cidade de Éfeso e propõe em seu coração viajar a Jerusalém, mesmo sabendo que lá lhe aguardavam tribulações e cadeias (Atos 20:22,23). Apesar dos avisos que ele padeceria em Jerusalém (Atos 20:23), não arrefeceu o seu ânimo, insistiu em ir (Atos 20:22). Com relação às tribulações e prisões que sofreria em Jerusalém, ele disse: “nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus” (Atos 20:24). Ao que parece, tratava-se de uma compulsão interior que ele não podia ignorar. Paulo sabia que cadeias e tribulações se tornaram parte de sua vida. Segundo Lucas, o Espírito Santo vinha revelando esse fato ao apóstolo de cidade em cidade (Aos 20:23), talvez por intermédio do ministério de profetas, ou talvez pela comunicação interior misteriosa dos desígnios de Deus.

Mesmo sabendo que haveria de padecer em Jerusalém, Paulo não considerou sua vida preciosa para si mesmo (Atos 20:24). Seu maior desejo era agradar e obedecer a Deus; cumprir a missão que Jesus estabelecera para ele: levar a mensagem do evangelho sob quaisquer circunstâncias. Se, para isso, fosse necessário oferecer sua vida, estava disposto a entregá-la. Tendo em vista Aquele que havia morrido por ele, nenhum sacrifício era grande demais; importava-lhe apenas completar a sua carreira e o ministério que havia recebido do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus (Atos 20:24).

Nenhum título poderia expressar de maneira mais apropriada o evangelho que Paulo pregava do que este: “o evangelho da graça de Deus” (Atos 20:24). Esta é a mensagem que toca profundamente e trata do favor de Deus concedido aos pecadores culpados e ímpios que não mereciam outra coisa senão a eternidade no inferno. Esta mensagem conta como o Filho do amor de Deus se despiu da glória suprema do Céu para sofrer, derramar seu sangue e morrer no Calvário a fim de oferecer o perdão dos pecados e a vida eterna a todos os que creem nEle.

Paulo tinha sido avisado em muitos lugares que seu sofrimento era inevitável, tanto em Jerusalém como em Cesareia; mesmo assim não desistiu do seu intento. É preciso que todos os que são chamados para cumprirem a Grande Comissão tenha pleno discernimento das circunstâncias por fazer a vontade de Deus.

2. De Mileto para Tiro

Paulo estava de malas prontas para viajar rumo a Jerusalém. Seria a última vez que o velho apóstolo colocaria os pês na cidade de Davi. Embora um dos propósitos da sua viagem fosse levar uma oferta colhida entre os crentes gentios para os crentes judeus, ele sabia que as estações do futuro lhe reservavam cadeias e tribulações. Paulo não nutria esperanças falsas; sabia que seria preso; não caminhava na direção dos holofotes, mas rumo à prisão e à morte. Paulo chegou a pedir oração à Igreja de Roma para não ser morto pelos rebeldes judeus nessa arriscada viagem a Jerusalém (cf. Rm.15:30,31).

Com destemor, Paulo partiu para o seu destino, que era Jerusalém. Nada mais o prenderia de cumprir esta missão, pois achava que era da vontade Deus. Depois de uma despedia afetuosa em Mileto, porto nas proximidades de Éfeso, ele tomou uma embarcação que ia para a cidade de TIRO, na Fenícia (Atos 21:6,7). Mas para chegar até Tiro, ele passou por várias cidades.

Segundo a narração de Lucas em Atos 21:1-6, primeiramente, Paulo e seus companheiros navegaram para a ILHA de CÓS, pequena ilha ao sul de Mileto, onde passaram a noite. No dia seguinte, prosseguiram para a ilha de RODES, a sudoeste. Depois de deixarem a extremidade norte da ilha, navegaram para o leste em direção a PÁTARA, um porto marítimo da Lícia, na costa sul da Ásia Menor. Em Pátara, embarcaram num navio que ia para a Fenícia, a região litorânea da Síria, da qual TIRO era uma das principais cidades. Ao cruzarem o Mediterrâneo em direção ao sudoeste, passaram próximo da ilha de Chipre. Sua primeira parada na Palestina foi TIRO. Uma vez que o navio devia ser descarregado naquele porto, Paulo e os outros procuraram os cristãos que viviam na cidade e ficaram com eles sete dias (Atos 21:4).

Durante a semana que Paulo passou com esses cristãos de Tiro, eles, movidos pelo Espírito, recomendaram ao apóstolo que não fosse a Jerusalém (Atos 21:4b). Após uma semana entre os crentes de Tiro, Paulo se despediu em clima de profunda emoção e cordialidade. Esses irmãos oraram de joelhos na praia pelo e com o apóstolo (Atos 21:3-5). Foi uma demonstração clara de amor cristão. Ali havia o bálsamo espiritual misturado à tristeza da despedida. Esse episódio mostra o quanto devemos orar pelos outros e pelos missionários que se dedicam com integridade e lealdade na Obra do Senhor, principalmente, quando eles se encontram numa missão espiritual. Após isso, Paulo prosseguiu sua viagem rumo a Jerusalém (Atos 21:5,6).

3. Passando por Cesareia

Depois de Tiro, a próxima parada foi Ptolomada (Atos 21:7), uma cidade portuária acerca de quarenta quilômetros ao sul de Tiro, conhecida hoje como Akko (Acre), próximo a Haifa. Seu nome era uma homenagem a Ptolomeu. O navio ficou ali um dia, e os servos do Senhor tiveram tempo de procurar os irmãos que viviam na cidade. No dia seguinte, embarcaram para a parte final da viagem, os cinquenta quilômetros até CESARÉIA (Atos 21:8). Nesta cidade, ficaram hospedados na casa de Filipe, o evangelista (que não deve ser confundido com o apóstolo de mesmo nome). Esse Filipe foi escolhido para ser diácono na Igreja de Jerusalém; pregou o evangelho em Samaria e levou o eunuco etíope a Cristo.

Paulo se hospedou na casa de Filipe, que fugira de Jerusalém por causa da perseguição, quando Estêvão, seu companheiro, foi morto com a participação de Saulo. No passado, Filipe teve que fugir do perseguidor Saulo; agora, os dois estão juntos como irmãos; o perseguidor como hóspede na casa do perseguido. O evangelho é realmente transformador!

Filipe se estabelecera na cidade havia cerca de vinte anos (Atos 8:40); desde então, sua família crescera. Ele era pai de quatro filhas donzelas, que tinham o dom de profecia (Atos 21:9); isto significa que elas tinham o dom concedido pelo Espírito Santo de receber mensagens diretamente do Senhor e transmiti-las a outros.

Durante a estada de Paulo em Cesaréia, desceu da Judeia um profeta chamado Ágabo (Atos 21:10). Outrora, esse mesmo profeta havia ido de Jerusalém a Antioquia da Síria e predito a fome que ocorreria durante o governo de Cláudio (Atos 11:28). Em Cesaréia, ele tomou o cinto de Paulo e usou-o para amarrar os próprios pés e mãos. Utilizando do mesmo método de muitos profetas antes dele, Ágabo transmitiu sua mensagem por meio de uma dramatização e interpretou-a em seguida (Atos 21:10,11). Assim como ele havia amarrado os próprios pés e mãos, os judeus em Jerusalém amarrariam os pés e mãos de Paulo e o entregariam às autoridades gentias. Paulo seria prezo pelos judeus em decorrência de seu serviço a ele (simbolizado pelo cinto).

Quando os companheiros do apóstolo e os cristãos de Cesaréia ficaram sabendo disso, rogaram a Paulo que não subisse a Jerusalém (Atos 21:12), mas ele não compartilhava dessa preocupação. As lágrimas dos irmãos serviram apenas para partir o coração do apóstolo. Por mais que os irmãos o advertissem do sofrimento que ele passaria em Jerusalém, não o impediu de fazer aquilo que, a seu ver, era da vontade de Deus. Informou-os que estava ”pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus” (Atos 21:13). Paulo agiu como alguns soldados da Guerra Civil Espanhola: “prefiro morrer de pé a viver de joelhos”. Uma vez que Paulo estava determinado ir a Jerusalém, mesmo sabendo que acabaria sendo preso, só restou os irmãos dizer a Paulo: “faça-se a vontade do Senhor!” (Atos 21:14).

II. A CORAGEM PARA ENFRENTAR AS AMEAÇAS DE MORTE

1. A coragem do apóstolo pela voz do Espírito

Os cristãos de Éfeso, os cristãos de Tiro e os cristãos de Cesaréia esforçaram-se para dissuadir o apóstolo Paulo de ir a Jerusalém, pois segundo eles, Paulo sofreria cadeias e prisão, e seria entregues as autoridades gentias, mas não conseguiram. Paulo estava convicto de que Deus estava no controle de tudo isso. Note que em Mileto Paulo disse aos presbíteros de Éfeso que estava indo a Jerusalém “obedecendo ao Espírito Santo” (Atos 20:22, BLH), apesar das cadeias e tribulações. Lucas narra assim:

“E, agora, constrangido em meu espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que ali me acontecerá, senão que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam cadeias e tribulações” (Atos 20:22,23).

A grande questão é como conciliar essa convicção de Paulo com as profecias recebidas em Tiro (Atos 21:4) e Cesaréia (Atos 21:11), pois em ambas o Espírito Santo é evocado. Em Tiro, as pessoas que falaram foram movidas pelo Espírito, e em Cesaréia, Ágabo afirmou: “Isto diz o Espírito Santo”. Apesar disso, Paulo ignorou as duas mensagens e prosseguiu rumo a Jerusalém (Atos 21:14). Como resolver esse problema? John Stott afirmou assim acerca disto: “Com certeza não se pode concluir que o Espírito Santo se contradisse, ordenando a Paulo que fosse, no capítulo 20, e anulando sua instrução no capítulo 21.

John Stott defende que a melhor solução para esse impasse é fazer uma distinção entre uma predição e uma proibição. Com certeza, Ágabo apenas predisse que Paulo seria amarrado e entregue aos gentios (Atos 21:11); os apelos subsequentes a Paulo não são atribuídos ao Espírito e podem ter sido deduções falíveis feitas por homens, por causa da profecia proferida. Pois, se Paulo tivesse ouvido os apelos de seus amigos, a profecia de Ágabo não teria se cumprido. Para Warren Wiersbe, os pronunciamentos proféticos podem ser entendidos como avisos (“prepare-se”), não como proibições (“você não deve ir”). O propósito de Lucas é mostrar que, à semelhança de Jesus, Paulo manifestou no seu rosto a intrépida resolução de ir a Jerusalém, mesmo sabendo o que lhe esperava nessa cidade.

Em vez de considerarmos que Paulo se recusou a obedecer a uma profecia, devemos admirá-lo por sua coragem e perseverança, pois não recusou nem mesmo diante da profecia de seu sofrimento. Ao ir a Jerusalém, ele tomou a vida nas próprias mãos, a fim de resolver o problema mais premente da Igreja: a fenda cada vez mais larga entre os judeus legalistas da “extrema direita” e os cristãos gentios. Precisamos entender a voz do Espírito Santo em todas as nossas decisões.

2. A chegada em Jerusalém

De Cesaréia para Jerusalém - uma distância de 80 quilômetros por terra. Ao chegar em Jerusalém, Paulo ficou hospedado na casa de um dos companheiros de viagem – um irmão em Cristo chamado Mnasom (Atos 21:15,16); ele era natural de Chipre, e um dos primeiros discípulos de Jesus na Ilha. Ele estava morando em Jerusalém e teria o privilégio de hospedar Paulo e seus companheiros na última visita do apóstolo àquela cidade.

Ao chegar a Jerusalém, o apóstolo e seus amigos foram recebidos com toda a cordialidade pelos irmãos (Atos 21:17). No dia seguinte, realizou-se uma reunião com Tiago, e todos os presbíteros (Atos 21:18). Há um consenso entre os estudiosos de que esse Tiago era irmão do Senhor; ele era um dos principais líderes da Igreja em Jerusalém (Gl.2:9). Durante esse encontro, Paulo contou minuciosamente o que Deus fizera entre os gentios por seu ministério (Atos 21:19). Seu relatório foi motivo de grande alegria (Atos 21:19).

3. Paulo se depara com seus oponentes judeus

Quando os apóstolos e os demais irmãos presentes ouviram o relatório de Paulo a respeito do que Deus estava operando entre os gentios, “eles deram glória a Deus e disseram: bem vês, irmão, quantas dezenas de milhares há entre os judeus que creram, e todos são zelosos da lei” (Atos 21:20).

Depois de um relatório tão brilhante e motivador, os judaizantes se preocuparam logo em relatar as fofocas trazidas por aqueles que estavam presos ao judaísmo tradicional (Atos 21:21). Esses judeus queriam um cristianismo judaizante, com costumes e ritos, tais como a circuncisão, a guarda do sábado, as festas, entre outros.

Os “grupos judaizantes” existem desde o início da história da Igreja, tendo sido a causa da realização do chamado “Concílio de Jerusalém”, a primeira reunião cristã para dirimir dúvidas e questões doutrinárias, registrada em Atos 15, cuja conclusão é a base para o repúdio a estes ensinamentos que, ainda hoje, persuadem e colocam em risco milhares de almas que aceitaram a Cristo como seu Salvador. Neste primeiro Concílio ficou decidido que a observância da lei não era exigível aos gentios, porque não havia qualquer papel a ser exercido pela lei na salvação do ser humano. Ficou estabelecido, para que não houvesse mais dúvidas, que os gentios deveriam, tão somente, absterem-se das coisas sacrificadas aos ídolos, do sangue, da carne sufocada e da fornicação (At.15:29), não se devendo, pois, cumprir a lei judaica, nem mesmo a guarda do sábado. Mas, por que o Espírito Santo assim decidiu, usando dos apóstolos e anciãos da Igreja primitiva no concílio de Jerusalém? Porque o Espírito Santo sabia que ao longo da história da Igreja, os crentes seriam perturbados de novo pela “doutrina judaizante”, doutrina esta que dentro da sua sutileza, também tem como objetivo menosprezar o sacrifício vicário de Cristo na cruz do Calvário.

Na medida em que exigimos a observância da lei mosaica para a salvação da pessoa, estamos a dizer que o sacrifício de Jesus é insuficiente para que o ser humano seja salvo, que a pessoa somente será salva se fizer as obras da lei, o que equivale a dizer que Jesus não é o Salvador. Entretanto, a Bíblia é claríssima ao mostrar que as obras da lei são incapazes de salvar o homem e que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei (Rm.3:28). A defesa da guarda da lei é, pois, uma demonstração de incredulidade no poder do sacrifício de Cristo.

E agora, novamente, os judaizantes foram os principais perseguidores do apóstolo Paulo, acusando-o de pregar contra a lei (Atos 21:28). Paulo podia muito bem ter rebatido essas acusações, mas diante do espírito conciliatório que ele sempre apresentava, mais uma vez preferiu não destratar a cultura e tradição judaica. E em comum acordo com o pastor de Jerusalém, Tiago, ele se dispunha passar por alguns rituais de purificação a fim de acalmar os escrúpulos dos judeus. Paulo se submeteu a isto, para o bem da evangelização e/ou pelo bem da solidariedade judaica-gentia.

III. ACUSAÇÕES E A PRISÃO DE PAULÒ NO TEMPLO

1. As acusações mentirosas contra Paulo

A notícia da chegada de Paulo rapidamente se espalhou pela cidade de Jerusalém. A ocasião era festiva, e Jerusalém estava recebendo judeus de todas as partes do Império Romano para a tradicional festa de Pentecostes. Contudo, os irmãos judeus estavam apreensivos; anteviam problemas que poderiam surgir em decorrência dos boatos de que Paulo havia ensinado e pregado contra a Lei de Moises. Paulo estava sendo acusado especialmente de ensinar todos os judeus em terras estrangeiras a apostatarem de Moisés, dizendo-lhes que não deviam circuncidar os filhos, nem andar segundo os costumes judaicos (Atos 21:20-22). Mas, era isso mesmo que o apóstolo ensinava? De fato, ele ensinava que Cristo era o fim da Lei para a justiça daqueles que creem. Afirmava que, com o advento da fé cristã, os judeus que aceitavam Cristo não se encontravam mais sob a Lei. Ensinava, também, que, se um homem recebia a circuncisão como meio de obter a salvação, desligava-se da salvação em Jesus Cristo, pois voltar aos tipos e sombras da Lei depois da vinda de Cristo era uma afronta a Cristo. Não é difícil entender, portanto, o ódio dos judeus pelo apóstolo.

Os irmãos judeus em Jerusalém traçaram um plano para apaziguar seus compatriotas cristãos e incrédulos. Sugeriram que Paulo fizesse um voto judaico. Quatro homens já estavam no processo de fazer esse voto. Paulo devia purificar-se com eles e pagar a despesa necessária (Atos 21:23,24). O texto não fornece detalhes acerca desse voto judaico; porém, deixa claro que, ao ver o apóstolo cumprir o ritual associado ao voto, seus compatriotas teriam provas de que ele não estava induzindo outros a se desviarem da Lei de Moisés. Seria uma indicação para os judeus de que o próprio Paulo guardava a Lei.

Segundo Willian Macdonald, a atitude do apóstolo ao tomar sobre si esse voto judaico é defendido por alguns e criticada por outros. Em defesa de Paulo, argumenta-se que ele estava agindo de acordo com o próprio princípio de ser “tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns” (1Co.9:19-23). Em contrapartida, Paulo é criticado por ir longe demais na tentativa de aplacar os judeus e, portanto, dar a impressão de estar debaixo da Lei. Em outras palavras, Paulo é acusado de ser incoerente com sua convicção de que os cristãos não estão sujeitos à Lei, nem para sua justificação nem como norma de vida. Somos propensos a concordar com essa crítica, mas devemos tomar cuidado ao julgar a motivação do apóstolo. William Barclay afirma que há momento em que fazer concessões não denota fraqueza, mas força. Paulo queria naquela ocasião evitar problemas e divisões. Todo seguidor de Cristo deve estar pronto contra as falsas acusações dos oponentes da fé, quer os de fora, quer os de dentro.

2. A prisão do apóstolo e o enfrentamento contra seus algozes

Mesmo demonstrando seu lado judaico com ações, Paulo foi atacado e preso pelos judeus impiedosos e incrédulos (Atos 21:27-32). Era a Festa de Pentecostes, e havia milhares de judeus em Jerusalém de todas as partes do mundo. Os judeus incrédulos vindos da Ásia, ao verem Paulo no Templo, movidos pelo preconceito inflexível e pela violência fanática, numa atitude completamente diferente dos líderes da Igreja de Jerusalém, alvoroçaram o povo e prenderam Paulo com extrema violência. Assim narra Lucas:

“Quando já estavam por findar os sete dias, os judeus que tinham vindo da província da Ásia, ao verem Paulo no templo, alvoroçaram todo o povo e o agarraram, gritando: — Israelitas, socorro! Este é o homem que por toda parte anda ensinando todos a serem contra o povo, contra a Lei e contra este lugar. E mais ainda: introduziu até gregos no templo e profanou este recinto sagrado. Disseram isso, pois antes tinham visto Trófimo, o efésio, em sua companhia na cidade e pensavam que Paulo o havia levado para dentro do templo. Toda a cidade ficou em grande alvoroço, e o povo veio correndo. Agarraram Paulo e o arrastaram para fora do templo; e imediatamente as portas foram fechadas. Procurando eles matá-lo, chegou ao conhecimento do comandante das tropas romanas que toda a Jerusalém estava amotinada. Então este, levando logo soldados e centuriões, correu para o meio do povo. Ao verem chegar o comandante e os soldados, pararam de espancar Paulo” (Atos 21:27-32).

Pr. Hernandes Dias Lopes argumenta que os judeus foram os grandes adversários de Paulo e os grandes opositores do evangelho. Foram os judeus que por todos os cantos provocaram tumultos e agora mais uma vez alvoroçam a multidão contra o servo do Senhor. Nesse clima de motim, os judeus agarraram e prenderam Paulo com violência.

Os judeus radicais acusaram Paulo de profanar o Templo, introduzindo Trófimo, o efésio, no recinto sagrado. As acusações foram tidas por verdadeiras e a multidão se arremeteu contra Paulo com ensandecida violência. Na verdade, Paulo não estava profanando o Templo, mas passando pela cerimônia de purificação, exatamente para não cometer profanação. Antes de investigar a veracidade das acusações e antes de oferecer ao acusado chance de defesa, os judeus deliberaram matá-lo.

Embora não haja como comparar os sofrimentos de Cristo (que foram vicários) com os sofrimentos de Paulo, Lucas coteja o que Cristo enfrentou em Jerusalém com os sofrimentos de Paulo - ambos foram rejeitados pelo povo e presos sem motivo; ambos foram acusados injustamente e prejudicados por testemunhas falsas; ambos apanharam no rosto diante do tribunal; ambos foram vítimas de planos secretos dos judeus; ambos ouviram o barulho aterrorizante de uma multidão que gritava: “mata-o”; ambos foram sujeitados a uma série de cinco julgamentos – no caso e Cristo: por Anás, pelo Sinédrio, pelo rei Herodes Antipas e duas vezes por Pilatos; no caso de Paulo: pela multidão, pelo Sinédrio, pelo rei Herodes Agripa II e por dois procuradores, Felix e Festo.

Atualmente, no mundo inteiro, principalmente nos países comunistas e nos países islâmicos, milhares de cristãos têm sua liberdade cerceada por causa de sua fé em Cristo. Não esqueçamos deles; devemos orar continuamente por eles.

3. Paulo dialoga com Lisias (Atos 21:37-40)

Quando a multidão de judeus estava prestes a concretizar a sua danosa intenção contra Paulo, ocorreu uma intervenção providencial. O comandante Claudio Lísias foi informado do motim e imediatamente se dirigiu à praça do Templo com sua soldadesca, abortando a intenção dos judeus. Os judeus cessaram de espancar Paulo quando o comandante mandou acorrentá-lo, para saber quem era e o que havia feito o prisioneiro. Nesse ínterim a multidão ensandecida gritava de forma desordenada sem saber por que vociferava contra o apóstolo. Por essa razão o comandante mandou recolher Paulo à fortaleza Antônia – quartel-general da força de ocupação romana – para não ser despedaçado pela multidão tresloucada, que clamava pela sua morte. A multidão gritava “mata-o” (Atos 21:36), da mesma forma que, quase trinta anos antes, outra multidão gritava contra outro prisioneiro, Jesus Cristo (Lc.23:18).

Quando estavam prestes a recolher Paulo à fortaleza, o apóstolo perguntou ao comandante se podia dizer algo. O comandante Lísias ficou surpreso de ouvir Paulo falar em grego (Atos 21:37). Ao que parece, ele pensava ter prendido um egípcio que havia incitado uma rebelião e conduzido ao deserto quatro mil salteadores (Atos 21:38). Mais que depressa, Paulo lhe garantiu que era judeu natural de Tarso, uma cidade da Cilícia (Atos 21:39). Assim, era originário de uma cidade importante. Tarso era conhecida como um centro de cultura, ensino e comércio. Como Paulo se declarou cidadão romano, Lísias não mais o confundiu com esse egípcio rebelde e mudou a forma de tratamento com o apóstolo.

Com sua intrepidez de sempre, o apóstolo pediu permissão para falar ao povo. Obtida a permissão, Paulo, em pé na escada, fez com a mão sinal para aquietar a multidão. O silêncio foi tão grande quanto o tumulto que o havia precedido (Atos 21:40). Paulo estava pronto para dar seu testemunho aos judeus de Jerusalém. Mesmo ferido pelos açoites, manchado com o próprio sangue, mas estimulado pelo sentimento de martírio pelo seu Senhor, o apóstolo não perdeu a oportunidade de usar sua defesa para proclamar o Evangelho. Concordo com o argumento do pr. Elienai Cabral ao afirmar que “as vezes somos provados por Deus e percebemos que sua vontade é para que o Evangelho seja anunciado por meio de nós ao enfermo no hospital, ao preso numa penitenciária, ao viciado numa cracolândia ou em qualquer outra circunstância desconfortável que Ele nos colocar. Estejamos atentos para os caminhos que o Espírito Santo quer nos levar”.

CONCLUSÃO

A coragem de Paulo diante da morte tinha como base a esperança cristã no porvir. Se cultivarmos diariamente essa esperança, tendemos a perder o medo do tempo presente. Quem perde esse medo é capaz de fazer coisas extraordinárias. Se cultivarmos a verdadeira esperança no porvir, lidaremos melhor com as coisas presentes. Quanto mais ligados ao futuro celestial, melhor lidaremos com o presente mundo material. É tempo de aprofundar essa certeza cristã invisível, para viver num mundo visível, materialista e anticristão. Paulo tinha essa certeza, por isso enfrentava a morte com destemor. Ele assim nos consola: “Por que a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente” (2Co.4:17). Atentemos para essência do que Jesus nos ensinou: “o meu Reino não é deste mundo” (João 18:36).