SISTEMA DE RÁDIO

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O ENCONTRO DE RUTE COM BOAZ

Texto Base: Rute 2:1-4; 11,12,14

 “O Senhor galardoe o teu feito, e seja cumprido o teu galardão do Senhor, Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar” (Rt.2:12).

Rute 2:1-4; 11, 12, 14

1.E tinha Noemi um parente de seu marido, homem valente e poderoso, da geração de Elimeleque; e era o seu nome Boaz.

2.E Rute, a moabita, disse a Noemi: Deixa-me ir ao campo, e apanharei espigas atrás daquele em cujos olhos eu achar graça. E ela lhe disse: Vai, minha filha.

3.Foi, pois, e chegou, e apanhava espigas no campo após os segadores; e caiu-lhe em sorte uma parte do campo de Boaz, que era da geração de Elimeleque.

4.E eis que Boaz veio de Belém e disse aos segadores: O Senhor seja convosco. E disseram-lhe eles: O Senhor te abençoe.

11.E respondeu Boaz e disse-lhe: Bem se me contou quanto fizeste à tua sogra, depois da morte de teu marido, e deixaste a teu pai, e a tua mãe, e a terra onde nasceste, e vieste para um povo que, dantes, não conheceste.

12.O Senhor galardoe o teu feito, e seja cumprido o teu galardão do Senhor, Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar.

14.E, sendo já hora de comer, disse-lhe Boaz: Achega-te aqui, e come do pão, e molha o teu bocado no vinagre. E ela se assentou ao lado dos segadores, e ele lhe deu do trigo tostado, e comeu e se fartou, e ainda lhe sobejou.

INTRODUÇÃO

Nesta lição, exploraremos o significativo encontro de Rute com Boaz, um momento crucial na narrativa do Livro de Rute. Boaz, introduzido no capítulo dois, é descrito como um homem próspero e respeitado em Belém. Seu encontro com Rute, uma viúva moabita, revela a providência divina em ação, mostrando como Deus estava resolvendo problemas familiares e, simultaneamente, configurando o plano de salvação que seria plenamente revelado em Jesus Cristo, nosso Salvador.

O encontro ocorre no contexto dos campos de cevada, onde Rute estava colhendo espigas para sustentar a si mesma e sua sogra, Noemi. Boaz, dono das terras, admira Rute e demonstra um profundo respeito e generosidade para com ela. Este ato de bondade e proteção vai além das expectativas culturais e legais da época, destacando o caráter justo e compassivo de Boaz.

A presença de Boaz e seu interesse em Rute não são meras coincidências, mas parte de um plano divino. Deus, em Sua sabedoria e providência, estava trabalhando para transformar uma situação de perda e desespero em uma história de redenção e esperança. Este encontro não apenas resolve uma necessidade imediata, mas também prepara o terreno para o cumprimento dos propósitos divinos mais amplos, incluindo a linhagem do Messias.

A união de Rute e Boaz, que começa com este encontro, resulta na linha genealógica que leva a Davi e, eventualmente, a Jesus Cristo. Assim, vemos como Deus estava configurando a salvação da humanidade através de eventos aparentemente ordinários e encontros significativos.

Ao estudar o encontro de Rute com Boaz, somos lembrados da fidelidade de Deus e do papel crucial da obediência e da compaixão em Seu plano redentor. Este encontro não é apenas um momento de bênção para Rute e Noemi, mas um passo importante na preparação do caminho para o advento do nosso Salvador, Jesus Cristo.

I. BOAZ, O REMIDOR

1. Um homem próspero

Descrito no capítulo 2 como um “homem valente e poderoso, da geração de Elimeleque” (Rt.2:1), Boaz é mais que um simples agricultor; ele é um exemplo de integridade, generosidade e prosperidade.

Os termos "valente" e "poderoso" utilizados para descrever Boaz não se referem apenas à força física, mas também ao seu caráter e posição na comunidade de Belém. Ele é um homem de influência e respeito, conhecido por sua integridade e capacidade de liderança. Sua reputação é tal que seus trabalhadores e colegas o respeitam profundamente, e ele exerce uma autoridade benevolente e justa sobre seus domínios.

Boaz era um grande produtor rural, possuindo vastas plantações de cevada e trigo. Sua prosperidade econômica é evidente na quantidade de terra que possuía e no número de trabalhadores que empregava (Rt.2:5,6,23). Este sucesso material não apenas destaca sua competência na gestão dos recursos, mas também o posiciona como uma figura central na economia local. Sua riqueza, no entanto, é acompanhada por um profundo senso de responsabilidade e generosidade, características que se manifestam em seu tratamento dos trabalhadores e dos necessitados.

A prosperidade de Boaz é acompanhada por uma profunda responsabilidade moral e espiritual, servindo como um modelo para todos os que aspiram viver uma vida de fé e serviço aos outros. Ele é uma prova de que, mesmo em tempos de dificuldade e apostasia, a fidelidade e a bondade podem prevalecer e fazer uma diferença significativa na vida das pessoas.

2. “Goel” e “Levir”

a) "Goel" (resgatador). A palavra "goel" é um termo hebraico que significa "resgatador" ou "redentor". No contexto da Lei Mosaica, um “goel” tinha várias responsabilidades relacionadas à proteção e resgate dos membros de sua família. Estas responsabilidades incluíam:

ü  Redenção da propriedade. Quando um israelita empobrecido vendia suas terras, o parente mais próximo (o goel) tinha a obrigação de comprá-las de volta para manter a herança dentro da família. Este ato de resgate impedia que a terra, considerada uma dádiva divina e um meio de subsistência, fosse permanentemente perdida para estranhos (Lv.25:25-28).

ü  Libertação de escravos. Se um israelita fosse vendido como escravo a um estrangeiro, o “goel’ tinha a responsabilidade de comprá-lo de volta para garantir sua liberdade. Este resgate visava preservar a dignidade e a identidade do povo de Deus (Lv.25:47-49).

ü  Vingança de sangue. O “goel” também poderia ser o "vingador de sangue" (goel ha-dam), responsável por vingar a morte de um parente assassinado, garantindo que a justiça fosse feita (Nm.35:19).

Boaz se qualifica como “goel’ para Noemi e Rute, pois ele é um parente próximo de Elimeleque, o falecido marido de Noemi. Noemi, ao retornar a Belém, apela ao direito de resgate da terra que pertencia a Elimeleque. Boaz, ao descobrir a situação, mostra-se disposto a cumprir este papel, porém, de acordo com a lei, verifica primeiramente se há um parente mais próximo que poderia exercer esse direito (Rt.3:12; 4:1-6).

b) "Levir" (marido de substituição). O termo "levir" vem do latim "levir", que significa "cunhado". A lei do levirato, detalhada em Deuteronômio 25:5-10, estipula que o irmão de um homem falecido deveria se casar com a viúva do irmão para produzir um herdeiro que continuasse o nome e a linhagem do falecido. Esse herdeiro herdaria a propriedade do falecido, assegurando que a linhagem e a herança permanecessem dentro da família.

ü  Casamento Levirato. A principal função do casamento levirato era suscitar descendência ao falecido. O filho primogênito deste casamento seria considerado o herdeiro do falecido, preservando seu nome e evitando que sua linhagem se extinguisse (Dt.25:5,6).

ü  Rejeição do Levirato. Se o irmão do falecido recusasse casar-se com a viúva, a lei permitia um rito público de reprovação e humilhação, mostrando que ele falhou em sua responsabilidade familiar (Dt.25:7-10).

c) Boaz e os papéis de “Goel” e “Levir”. No caso de Boaz, ele desempenhou uma função que combina elementos tanto do “goel” quanto do “levir”. Embora não fosse explicitamente o irmão de Malom (o falecido marido de Rute), Boaz, como parente próximo, assumiu a responsabilidade de resgatar a propriedade e casar-se com Rute para preservar a linhagem de Elimeleque e Malom. Este ato vai além do simples resgate econômico, englobando também o dever de proporcionar uma descendência ao falecido.

ü  Reconhecimento legal. Boaz reconhece a presença de um parente mais próximo que ele, que teria o primeiro direito de resgate. Após este parente renunciar ao direito, Boaz assume a responsabilidade, demonstrando seu compromisso com as tradições e leis de Israel (Rt.4:1-10).

ü  Relação com Rute. Boaz se casa com Rute, não apenas para resgatar a terra de Elimeleque, mas também para suscitar descendência para a linhagem de Malom. Este ato de bondade e responsabilidade consolida seu papel como um verdadeiro redentor, prefigurando o papel redentor de Cristo.

Boaz exemplifica a união das funções de “goel” e “levir”, mostrando que o compromisso com a lei de Deus e o cuidado pela família são essenciais. Seu ato de resgate reflete a fidelidade de Deus em preservar a linhagem de Davi, da qual viria o Messias, Jesus Cristo, o Redentor definitivo.

3. Temor e respeito

O capítulo 2 de Rute oferece uma visão detalhada do caráter de Boaz, especialmente em sua interação com seus empregados. A saudação de Boaz, "o Senhor seja convosco" (Rt.2:4), indica claramente que ele era um homem que temia a Deus. Temor a Deus implica reverência e reconhecimento da soberania divina sobre todas as esferas da vida, incluindo as relações de trabalho. Boaz demonstra que sua liderança e prosperidade estão fundamentadas em princípios divinos, criando um ambiente onde a presença de Deus é reconhecida e buscada.

Respeito aos empregados. Boaz não se limitou a uma relação formal e autoritária com seus empregados. Em vez disso, ele os saudou com uma bênção, o que é prontamente retribuído com outra bênção: "O Senhor te abençoe" (Rt.2:4). Este intercâmbio respeitoso indica uma relação de reciprocidade e respeito. Boaz tratava seus empregados com dignidade, reconhecendo sua importância e contribuição para o sucesso das operações agrícolas.

A interação de Boaz com seus empregados oferece lições valiosas para os dias de hoje. Em um mundo onde as relações de trabalho podem ser frequentemente marcadas por exploração e desrespeito, o exemplo de Boaz destaca a importância de incorporar princípios de temor a Deus e respeito mútuo nas relações profissionais.

Patrões e empregados que adotam essa abordagem não só promovem um ambiente de trabalho saudável, mas também refletem os valores do Reino de Deus em suas interações diárias. Este modelo de comportamento pode servir como uma poderosa testemunha da fé cristã no contexto secular, mostrando que o temor a Deus e o respeito pelos outros são fundamentais em todas as áreas da vida.

II. O CARINHO DE BOAZ PARA COM RUTE

1. A pureza não exclui a ternura

No capítulo 2 do livro de Rute, Boaz demonstra um cuidado especial e ternura ao notar Rute entre os que respigavam em seu campo. Ao ser informado sobre quem ela era, ele a tratou com um carinho e respeito excepcionais. Chamando-a de "filha," ele a convidou a continuar colhendo espigas em seu campo e garantiu sua segurança ao assegurar que os homens não a molestassem (Rt.2:9). Este cuidado reflete um comportamento protetor e compassivo, especialmente notável num tempo e cultura onde a vulnerabilidade das mulheres podia ser explorada facilmente.

Boaz tomou medidas para proteger Rute do assédio, o que mostra seu caráter íntegro e seu compromisso com a justiça. Em uma era onde o assédio moral e sexual são questões graves e persistentes no ambiente de trabalho, o exemplo de Boaz é relevante. Ele cria um espaço seguro e respeitoso para Rute, garantindo que ela não fosse molestada ou desrespeitada por seus trabalhadores.

A conduta de Boaz contrasta fortemente com as atitudes rudes e descorteses que muitas vezes são associadas a um viver santo. Boaz mostra que é possível ser justo e santo sem ser áspero. Ele é um exemplo de como a santidade pode ser acompanhada por gentileza e ternura.

Referências bíblicas como 2Reis 4:8,9 e as interações de Jesus com pessoas de todas as esferas da vida (Mc.2:15-17; Jo.4:3-27) reforçam esta visão. O profeta Eliseu, por exemplo, foi respeitosamente tratado pela sunamita, o que demonstra uma reciprocidade de respeito e hospitalidade. Jesus, o mais puro dos homens, convivia com todos, independentemente de suas falhas e pecados, mostrando amor e compaixão em todas as suas interações.

2. Deus estava agindo

A atitude de Boaz em relação a Rute é notável e cheia de significado, evidenciando como Deus estava agindo por trás dos acontecimentos. Para Rute, uma estrangeira e viúva pobre, a realidade de sua posição social e econômica era dura e repleta de incertezas. O tratamento que ela receberia poderia variar drasticamente, desde hostilidade até indiferença. No entanto, Boaz a surpreende com sua gentileza e proteção.

Rute, ciente de sua condição, se comportava com extrema educação e discrição ao respigar nos campos (Rt.2:7). A ação inesperada de Boaz, ao se aproximar dela e oferecer-lhe proteção e respeito, a pegou de surpresa. Em resposta, ela se inclinou ao chão em um gesto de humildade e gratidão, reconhecendo que não merecia tão generoso tratamento (Rt.2:10). Sua resposta revela tanto sua humildade quanto sua gratidão pela bondade que lhe foi mostrada.

A motivação por trás da generosidade de Boaz não era simplesmente baseada na simpatia momentânea. Ele estava ciente da reputação de Rute e da bela história de dedicação e lealdade que ela tinha para com sua sogra, Noemi (Rt.2:11). Esse bom testemunho de Rute havia precedido sua chegada aos campos de Boaz, e ele reconheceu e honrou essa virtude.

A história de Rute e Boaz ilustra um princípio importante: um bom testemunho pode abrir muitas portas. A conduta exemplar de Rute, sua lealdade e trabalho árduo não passaram despercebidos. A notícia de sua bondade e dedicação chegou a Boaz, que foi movido a agir com bondade e proteção. Este exemplo serve como um lembrete de que nossas ações e nosso caráter podem influenciar as percepções e as atitudes dos outros em relação a nós.

3. Sensível e espiritual

Boaz era um homem que equilibrava admiravelmente a firmeza moral com a sensibilidade; ele manifestava ternura e espiritualidade em suas ações. Sua interação com Rute ilustra sua capacidade de unir essas qualidades de maneira harmoniosa.

Boaz demonstrou firmeza moral em suas decisões e ações, mantendo-se íntegro e justo. Ao mesmo tempo, ele foi sensível às necessidades e circunstâncias de Rute, uma estrangeira e viúva, oferecendo-lhe proteção e respeito. Essa combinação de qualidades fez de Boaz um modelo de liderança e caráter.

A ternura de Boaz se manifestou em sua maneira carinhosa e respeitosa de tratar Rute. Chamando-a de "filha" e assegurando-lhe proteção contra qualquer forma de assédio (Rt.2:9), ele mostrou uma preocupação genuína pelo bem-estar dela. Sua espiritualidade era profunda, como evidenciado em suas palavras a Rute, que constituem um versículo chave do livro: "O Senhor retribua o teu feito, e seja cumprida a tua recompensa do Senhor Deus de Israel, sob cujas asas vieste buscar refúgio" (Rt.2:12).

Boaz tinha uma compreensão espiritual que transcendia as limitações territoriais e étnicas. Ele reconhecia que o Deus dos hebreus, Yahweh, não estava confinado às fronteiras de Israel, mas era o Senhor de toda a criação. Ele viu em Rute, uma piedosa moabita, uma busca sincera por refúgio sob as “asas” de Yahweh. Essa percepção espiritual permitiu que Boaz se tornasse um canal de bênçãos para Rute.

As palavras de Boaz tiveram um impacto profundo no coração de Rute. Elas não apenas lhe ofereceram conforto e encorajamento, mas também reafirmaram sua fé e esperança em um futuro sob a proteção divina. Rute respondeu com gratidão, expressando como as palavras de Boaz a haviam confortado e encorajado (Rt.2:13) - “Então Rute disse: Meu caro senhor, você está me favorecendo muito, pois me consolou e falou ao coração desta sua serva, e eu nem mesmo sou como uma das suas servas”.

III. A COLHEITA DE RUTE E A SUA SOBREVIVÊNCIA

1. A lei da semeadura

Rute, uma moabita, fez uma escolha decisiva ao decidir servir ao Deus de Israel em vez de continuar adorando “Quemós”, o falso deus dos moabitas. A adoração a “Quemós” era marcada por práticas abomináveis, incluindo o sacrifício de crianças (Nm.21:29; 1Rs.11:7; 2Rs.3:26,27). Ao renunciar tais práticas e abraçar a fé em Yahweh, Rute iniciou uma jornada de fé que a levaria a experimentar a provisão divina de maneira inesperada e extraordinária.

A decisão de Rute de seguir o Deus de Israel foi um ato de fé e confiança. Abandonar a segurança de sua terra natal e os deuses de seus antepassados para seguir um Deus desconhecido, mas reverenciado por sua sogra Noemi, foi um testemunho de sua lealdade e coragem. Essa decisão crucial colocou Rute sob a proteção e provisão de Yahweh, que é conhecido como Jeová-Jireh, o Deus que provê.

À medida que Rute trabalhava nos campos de Boaz, ela começou a experimentar a mão invisível de Jeová-Jireh agindo em seu favor. Através das ações generosas de Boaz, que era justo e bondoso, Rute encontrou um meio de sustento e proteção. Boaz, seguindo as leis de Deus para os pobres e estrangeiros, permitiu que Rute respigasse em seus campos, assegurando que ela tivesse o suficiente para comer e sustentar a si e a Noemi.

A experiência de Rute ilustra a aplicação da lei da semeadura e colheita, que é um princípio espiritual universal encontrado nas Escrituras. 2Coríntios 9:6 diz: "Aquele que semeia pouco, pouco também colherá; e o que semeia em abundância, em abundância colherá”. Gálatas 6:7 diz: "Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará".

Rute, ao semear fidelidade, amor e devoção a Deus e à sua sogra, colheu abundantes bênçãos. Sua disposição para trabalhar arduamente nos campos foi recompensada com a generosidade de Boaz, que reconheceu sua virtude e a abençoou com proteção e provisão.

2. Os “acasos” de Deus

O Livro de Rute ilustra maravilhosamente como Deus trabalha de maneira soberana e providencial, muitas vezes por meio de eventos que, à primeira vista, podem parecer meros acasos. O exemplo mais claro disso é a decisão aparentemente aleatória de Rute de ir apanhar espigas no campo de Boaz (Rt.2:3).

Para Rute, escolher aquele campo específico parecia um simples acaso, uma escolha sem qualquer significado maior. No entanto, do ponto de vista divino, isso foi um ato orquestrado por Deus. A narrativa nos mostra que a escolha de Rute de trabalhar justamente no campo de Boaz não foi coincidência, mas uma manifestação clara da providência de Deus. Deus estava guiando os passos de Rute, mesmo que ela não percebesse.

Este episódio sublinha a verdade de que Deus está no controle de todas as coisas e age em favor daqueles que o amam. Romanos 8:28 nos assegura: "Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados segundo o seu propósito". Na vida de Rute, vemos esta promessa se desenrolando de maneira concreta e prática. Deus estava trabalhando por trás dos bastidores, dirigindo cada detalhe para que Rute encontrasse Boaz, um parente remidor que desempenharia um papel crucial em sua vida e na história de Israel.

Quando Rute retornou para casa e contou a Noemi sobre o campo onde havia trabalhado, a resposta de Noemi foi de exultação e esperança renovada (Rt.2:20). Noemi reconheceu a mão de Deus na escolha de Rute e viu uma nova esperança surgindo para elas. Este momento marcou uma mudança significativa na história de Rute e Noemi, revelando que mesmo em meio às dificuldades, Deus estava providenciando uma solução.

A reação de Noemi ao saber que Rute havia encontrado favor nos olhos de Boaz não foi apenas de alegria, mas de uma profunda esperança renovada. A pobre viúva, que anteriormente havia expressado sua amargura e desespero, agora viu um raio de esperança. O encontro de Rute com Boaz era um sinal claro de que Deus não havia abandonado elas e que Sua providência estava ativa em suas vidas.

3. O resultado da colheita

A história de Rute nos mostra que as bênçãos de Deus podem ser colhidas tanto de imediato quanto ao longo do tempo. Algumas ações trazem frutos instantâneos, enquanto outras requerem paciência e perseverança para que seus resultados se manifestem. Rute experimentou essa realidade ao colher cereais abundantemente nos campos de Boaz.

A generosidade e a graça com que Boaz tratou Rute permitiram que ela colhesse cereais em abundância diariamente (Rt.2:17,21). Essa colheita não apenas garantiu a sobrevivência dela e de sua sogra, Noemi, mas também proporcionou segurança e estabilidade em tempos difíceis. A bondade de Boaz e a providência divina se uniram para abençoar Rute e Noemi.

Rute trabalhou arduamente durante toda a estação de colheita. Entre março e abril, ela colheu cevada; de abril a junho, foi a vez do trigo. Esse trabalho constante e dedicado foi essencial para a sua sobrevivência e a de sua sogra (Rt.2:23). A perseverança de Rute no campo de Boaz é um exemplo de diligência e fé em meio às dificuldades.

Apesar do trabalho árduo e das colheitas imediatas, Rute estava destinada a uma colheita ainda maior e mais significativa em tempo oportuno (Ec.3:1). A história dela é uma poderosa ilustração de como Deus trabalha em favor daqueles que esperam nEle. A paciência e a confiança de Rute em Deus não apenas garantiram sua sobrevivência imediata, mas também prepararam o caminho para bênçãos futuras e duradouras.

O testemunho de Rute e sua colheita diária demonstram a fidelidade de Deus em prover para aqueles que confiam nEle. Isaías 64:4 nos lembra que Deus trabalha por aqueles que esperam nEle. A colheita de Rute é um exemplo tangível dessa promessa, mostrando que, mesmo em meio às tarefas diárias e às dificuldades, Deus está ativamente trabalhando para o bem de seus servos.

CONCLUSÃO

O Encontro de Rute com Boaz nos ensina sobre a importância da integridade, da bondade e da obediência às leis divinas. Ele ilustra como Deus usa as interações cotidianas e os relacionamentos humanos para realizar Seus propósitos maiores. A história de Rute e Boaz nos encoraja a confiar na providência divina e a reconhecer que, mesmo em tempos de dificuldade, Deus está presente e ativo em nossas vidas.

 

RUTE E NOEMI – ENTRELAÇADAS PELO AMOR

 

Texto Base: Rute 1:6-8; 14-19

“Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me afaste de ti; porque, aonde quer que tu fores, irei eu e, onde quer que pousares à noite, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rt.1:16).

Rute 1.6-8; 14-19

6.Então se levantou ela com as suas noras, e voltou dos campos de Moabe, porquanto na terra de Moabe ouviu que o Senhor tinha visitado o seu povo, dando-lhe pão.

7.Por isso saiu do lugar onde estivera, e as suas noras com ela. E, indo elas caminhando, para voltarem para a terra de Judá,

8.Disse Noemi às suas noras: Ide, voltai cada uma à casa de sua mãe; e o Senhor use convosco de benevolência, como vós usastes com os falecidos e comigo.

14.Então levantaram a sua voz, e tornaram a chorar; e Orfa beijou a sua sogra, porém Rute se apegou a ela.

15.Por isso disse Noemi: Eis que voltou tua cunhada ao seu povo e aos seus deuses; volta tu também após tua cunhada.

16.Disse, porém, Rute: Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus

17.Onde quer que morreres morrerei eu, e ali serei sepultada. Faça-me assim o Senhor, e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti.

18.Vendo Noemi, que de todo estava resolvida a ir com ela, deixou de lhe falar.

19.Assim, pois, foram-se ambas, até que chegaram a Belém; e sucedeu que, entrando elas em Belém, toda a cidade se comoveu por causa delas, e diziam: Não é esta Noemi?

INTRODUÇÃO

Nesta lição, exploraremos o tema "Rute e Noemi: entrelaçadas pelo amor", destacando o valor de uma amizade em Deus e a maturidade da vida cristã. A história de Rute e Noemi começa em meio a uma crise familiar, da qual emerge uma bela amizade. Essa relação não só culmina na chegada do rei Davi, mas também integra a linhagem de Jesus no Novo Testamento. O amor que entrelaça Rute e Noemi está profundamente conectado ao advento do nosso Salvador. Assim, a amizade entre elas não se limita ao contexto de Davi, mas também prefigura a vinda do Rei Jesus.

I. A PROPOSTA DE NOEMI

1. Uma crise em família

Para compreender o valor e o significado dos atos de Noemi, é crucial considerar as circunstâncias de sua vida. Noemi, cujo nome significa "agradável", enfrentou uma série de tragédias que transformaram sua vida de maneira drástica.

O principal provedor da casa, seu marido Elimeleque, cujo nome em hebraico significa "Meu Deus é Rei", faleceu. Após a morte de Elimeleque, seus filhos, Malom e Quiliom, se tornaram os novos responsáveis pela família. No entanto, os nomes de Malom ("doença") e Quiliom ("definhamento") sugerem que eles possivelmente sofriam de problemas de saúde desde o nascimento, o que poderia ter contribuído para suas mortes prematuras. Ambos se casaram com mulheres moabitas: Malom com Rute, cujo nome significa "amizade", e Quiliom com Orfa, que significa "pescoço". Tragicamente, ambos os filhos de Noemi morreram, deixando viúvas Rute e Orfa.

Essas perdas devastadoras marcaram profundamente Noemi, que expressou seu sofrimento ao ponto de preferir ser chamada de Mara, que significa "amargosa" (Rute 1:20). A transformação de Noemi, de "agradável" a "amargosa", reflete a intensidade de sua dor e a profundidade da crise que ela enfrentava. A sequência de desastres – a fome que os forçou a sair de Belém, a morte do marido, e a morte dos filhos – criou um cenário de desespero e desolação.

2. Tirando força da fraqueza

Todas as pessoas, inclusive os cristãos, enfrentam dias maus (Ec.7:14). A diferença está em como reagimos nas tempestades da vida (Ef.6:13; Mt.7:24-27). Noemi, apesar da imensa dor pela perda do marido e dos filhos, não se entregou à autopiedade ou autocomiseração. Ao saber que Deus havia abençoado seu povo com alimento, ela decidiu retornar a Belém, demonstrando uma força interior admirável (Rt.1:6,7).

A viagem de mais de 120 quilômetros entre Moabe e Belém era uma jornada árdua, especialmente para uma mulher idosa. Noemi, no entanto, encontrou força na fraqueza, enfrentando as montanhas e os desafios físicos (Hb.11:34). Essa decisão exigia não apenas força física, mas também uma resiliência emocional e espiritual significativa.

Se Noemi tivesse se deixado paralisar pela dor e pela tristeza, nunca teria empreendido essa jornada desafiadora. Sua ação nos mostra que, embora os problemas da vida possam nos abater, não devemos permitir que eles nos imobilizem (Pv.24:10).

Noemi exemplifica como a fé e a determinação podem transformar a adversidade em um caminho de esperança e renovação. Sua coragem e liderança, mesmo em momentos de fraqueza, são um poderoso testemunho de como é possível tirar força da fraqueza, encontrando renovação e propósito em Deus.

3. Sem manipulação emocional

Quando Noemi decidiu retornar a Belém, suas noras, Rute e Orfa, prontamente se dispuseram a acompanhá-la. No entanto, no início da jornada, Noemi mostrou uma profunda consideração e altruísmo ao liberar ambas para retornarem às casas de seus pais (Rt.1:7,8; 2:11). Mesmo em sua avançada idade e situação difícil, Noemi colocou as necessidades e o futuro de suas noras acima dos seus próprios sentimentos e necessidades.

Ao liberar Rute e Orfa, Noemi reconheceu que, de volta às suas origens, elas teriam a oportunidade de casar novamente e constituir novas famílias (Rt.1:8-13). Esta atitude de Noemi reflete uma aceitação madura e consciente de sua própria condição pessoal, sem recorrer à manipulação emocional. Ela não apelou aos sentimentos das noras para que permanecessem com ela, demonstrando uma conduta ética e respeitosa que é fundamental para a construção de relacionamentos saudáveis.

A manipulação emocional é uma prática sutil e muitas vezes começa a se manifestar desde a infância (Pv.20:11). No entanto, Noemi exemplificou que pessoas emocional e espiritualmente saudáveis não recorrem a tais artifícios. Ao invés de usar sua vulnerabilidade para influenciar suas noras, Noemi agiu com integridade, permitindo-lhes a liberdade de escolha. Este comportamento evidencia que o pecado não escolhe idade, e a integridade de caráter é uma marca de maturidade espiritual.

Noemi, ao agir sem manipulação emocional, não apenas preservou a dignidade e o bem-estar de Rute e Orfa, mas também criou um ambiente onde a lealdade e o amor genuíno puderam florescer. A decisão de Rute de permanecer com Noemi, apesar da liberação oferecida, é um testemunho da força de um relacionamento construído sobre bases sólidas de respeito e altruísmo.

II. A CONVICÇÃO AMOROSA

1. Uma amizade provada e aprovada

A amizade entre Rute e Noemi é um exemplo profundo de lealdade e amor genuíno. Quando Noemi, em seu altruísmo, sugeriu pela segunda vez que suas noras retornassem às casas de seus pais, Orfa, embora triste, decidiu seguir o conselho da sogra. Chorando, ela abraçou Noemi e voltou para seu povo, mostrando que seu amor e força moral, embora sinceros, não eram tão profundos quanto os de Rute (Rt.1:14).

Rute, em contraste, demonstrou uma firmeza e uma devoção inabaláveis. Quando Noemi insistiu que ela seguisse o exemplo de Orfa, Rute revelou a profundidade de seu compromisso e amor por sua sogra, além de uma clara declaração de fé no Deus de Israel (Rt.1:15,16). Suas palavras são um testemunho poderoso: “Aonde quer que fores, irei eu, e onde quer que pousares à noite, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rt.1:16). Esta declaração não apenas afirmava sua lealdade a Noemi, mas também sua decisão de abraçar a fé e a cultura de Israel.

A firmeza de Rute foi um reflexo do caráter de Noemi, que, em sua dor e vulnerabilidade, agiu com altruísmo e integridade. A amizade entre elas foi forjada em meio a adversidades e provações intensas, mas, ao invés de se enfraquecer, ela se fortaleceu. A insistência de Noemi para que Rute tomasse sua própria decisão extraiu a verdade do coração de Rute, revelando uma convicção amorosa que transcendeu laços familiares e culturais.

As verdadeiras amizades, como a de Rute e Noemi, são testadas e aprovadas nas dificuldades. Elas resistem às mais intensas provas, mostrando que o amor genuíno e a lealdade não se abalam facilmente. Rute se destacou não apenas como uma nora devotada, mas como uma amiga fiel que, diante das adversidades, escolheu permanecer ao lado de Noemi, compartilhando suas dores e esperanças. Esta amizade é um exemplo eterno de como os laços de amor e fé podem superar qualquer desafio, provando-se verdadeiros e duradouros.

2. Amizade na adversidade

Salomão escreveu: “O amigo ama em todos os momentos; é um irmão na adversidade” (Pv.17:17). Rute exemplificou essa verdade de maneira notável, mostrando disposição para enfrentar qualquer dificuldade ao lado de sua sogra viúva e idosa. Suas palavras, “onde quer que pousares à noite, ali pousarei eu” e “onde quer que morreres, morrerei eu” (Rt.1:16,17), revelam um nível profundo amizade, companheirismo e comprometimento.

Rute não apenas fez promessas; ela as transformou em ações concretas ao longo de sua vida. Ao escolher permanecer com Noemi, Rute demonstrou uma amizade que transcende as circunstâncias e os desafios, provando-se leal em tempos de adversidade. Sua decisão de deixar sua terra natal e adotar a fé e os costumes de Israel destaca seu altruísmo e a profundidade de seu amor.

Essa amizade na adversidade contrasta fortemente com o individualismo prevalente em nossos dias. Em uma época onde os relacionamentos muitas vezes são superficiais e centrados no interesse próprio, o exemplo de Rute nos desafia a reavaliar a qualidade de nossas próprias relações. Somos convidados a refletir sobre o nível de comprometimento e lealdade que temos com nossos amigos e familiares.

Rute nos ensina que amizades verdadeiras não são meras alianças de conveniência, mas sim laços que resistem às dificuldades e provações. Em vez de buscar o que é mais fácil ou conveniente, somos chamados a cultivar relacionamentos baseados em amor genuíno e sacrifício mútuo. A história de Rute e Noemi nos inspira a ser amigos que amam em todos os momentos, especialmente na adversidade, e a valorizar as conexões profundas que enriquecem e dão sentido às nossas vidas.

3. Um amor prático

Ao chegar a Belém, Rute não se permitiu ser paralisada por expectativas irrealistas ou pela tristeza de sua situação. Demonstrando um amor prático e resoluto, ela se prontificou a realizar um trabalho humilde e penoso: juntar espigas caídas nas plantações durante a colheita (Rt.2:2). Este trabalho, instituído nos dias de Moisés, era reservado aos pobres e necessitados (Lv.19:9,10; 23:22; Dt.24:19).

A atitude de Rute reflete um princípio fundamental da Palavra de Deus: os ricos devem compartilhar suas riquezas e ajudar os necessitados (Mt.6:19-21; 1Tm.6:17-19; Tg.5:1-6), mas os pobres também têm a responsabilidade de trabalhar para garantir seu sustento, quando fisicamente capazes (Gn.3:19; 2Ts.3:10-13). Rute exemplificou este princípio ao trabalhar diligentemente nos campos de Boaz. Seu esforço e dedicação impressionaram o chefe dos trabalhadores (Rt.2:7).

Rute não se limitou a professar seu amor por Noemi; ela o demonstrou através de ações concretas. Diariamente, ela recolhia espigas com esforço e dedicação, garantindo o sustento para si e para sua sogra. Ao final de cada dia, levava tudo para Noemi, demonstrando cuidado e responsabilidade (Rt.2:17,18).

Esta abordagem prática do amor é um poderoso testemunho de fé em ação. Rute não apenas falava sobre seu amor e devoção; ela vivia esses sentimentos através de seu trabalho árduo e sua disposição em enfrentar dificuldades. A Bíblia nos instrui a amar não apenas com palavras, mas com ações e em verdade (1João 3:18).

Rute exemplifica essa instrução de maneira excepcional. Sua história nos desafia a refletir sobre como expressamos nosso amor e cuidado pelos outros em nossas vidas diárias. Em um mundo onde as palavras podem ser vazias e as promessas quebradas, Rute nos mostra que o verdadeiro amor é prático, sacrificial e dedicado, evidenciado através de ações concretas e consistentes.

III. A CONVICÇÃO DA MULHER: “O TEU DEUS É O MEU DEUS”

1. Uma fé fervorosa

Rute é um exemplo notável de fé fervorosa. Sua declaração convicta a Noemi, "o teu Deus é o meu Deus" (Rt.1:16), revela sua profunda devoção ao Deus de Israel. Esta devoção não era superficial, mas enraizada em uma decisão consciente de buscar refúgio no Deus de Israel (Rt.2:12).

A fé de Rute era prática e visível. Ela demonstrou um compromisso inabalável com Noemi e uma confiança plena no Deus de Israel. Esta fé a levou a agir com diligência e a seguir princípios éticos elevados, mesmo em circunstâncias difíceis. Rute não se deixou levar pelo desespero ou pela tentação de buscar soluções fáceis. Em vez disso, sua vida refletia uma firme confiança em Deus e uma disposição para trabalhar arduamente e viver com integridade (Rute 3:10). Sua dedicação e comportamento exemplar lhe conferiram uma excelente reputação, a ponto de Boaz declarar: "Toda a cidade do meu povo sabe que és mulher virtuosa" (Rt.3:11).

O exemplo de Rute nos ensina que a fé verdadeira não é apenas uma questão de palavras, mas de ações concretas que refletem uma profunda devoção a Deus. Em um mundo frequentemente marcado por superficialidade e compromissos frágeis, Rute nos desafia a viver nossa fé com fervor, integridade e determinação. Sua história é um testemunho de como a fé fervorosa pode transformar vidas e inspirar aqueles ao nosso redor, mostrando que a verdadeira devoção a Deus se manifesta em todas as áreas da nossa vida.

2. Uma fé que inspira

A fé de Rute foi profundamente inspirada pela vida e crença de sua sogra, Noemi. Quando Rute se referiu ao Deus de Noemi como seu próprio Deus, ela estava dando um poderoso testemunho de sua fé (Rt.1:16). Este testemunho não surgiu no vácuo; foi nutrido pelo exemplo de Noemi, que, apesar das adversidades, manteve sua fé e devoção a Deus.

Em todos os tempos, as mulheres mais velhas desempenham um papel crucial na resistência aos ventos da superficialidade espiritual. Sua missão é ser piedosas, dedicadas a Deus e à família, mesmo diante das pressões de uma sociedade que frequentemente valoriza o materialismo e a superficialidade. Através de suas vidas e exemplos, elas têm a capacidade de inspirar e ensinar as mulheres mais jovens, conforme orientado em Tito 2:3-5-“Semelhantemente, as mulheres mais velhas devem viver de modo digno. Não devem ser caluniadoras, nem beber vinho em excesso; antes, devem ensinar o que é bom. Devem instruir as mulheres mais jovens a amar o marido e os filhos, a viver com sabedoria e pureza, a trabalhar no lar, a fazer o bem e a ser submissas ao marido. Assim, não envergonharão a palavra de Deus (NVT).

Noemi exemplificou esse papel ao viver de maneira que refletia sua fé em Deus, mesmo nas circunstâncias mais difíceis. Sua integridade, sabedoria e dedicação não passaram despercebidas a Rute, que escolheu seguir o Deus de Noemi e adotar um estilo de vida fundamentado na fé e na moralidade.

Este relacionamento intergeracional é fundamental para a transmissão de valores espirituais e morais. As mulheres mais velhas, ao viverem suas vidas com fé fervorosa e autenticidade, oferecem às mais jovens um modelo a seguir. Elas mostram que a verdadeira beleza e valor residem na piedade e no serviço a Deus e à família.

A fé de Rute, inspirada por Noemi, nos lembra que nosso testemunho e exemplo podem ter um impacto profundo e duradouro na vida de outros. Ao resistir às pressões mundanas e manter uma devoção sincera a Deus, as mulheres mais velhas podem inspirar as novas gerações a viverem com fé, integridade e amor. Desta forma, a chama da fé é passada adiante, iluminando o caminho para as futuras gerações.

3. Sensibilidade sob liderança

As Escrituras destacam a profunda sensibilidade espiritual das mulheres, como evidenciado nos relatos de Lucas e João, de terem sido as primeiras a testemunhar e crer na ressurreição de Jesus (Lc.24:1-10; João 20:11-18). Este exemplo ressalta o extraordinário potencial feminino para discernir e responder à obra de Deus (Lc.8:1-3).

É de grande valor quando esse potencial feminino é reconhecido e cultivado sob uma liderança séria e responsável; uma liderança que orienta o trabalho das mulheres, protegendo-as de exploração ou manipulação em sua fé (Fp.4:3; Rm.16:12; Mc.12:38-40; 2Tm.3:6,7).

Quando as mulheres são capacitadas e encorajadas a exercer sua sensibilidade espiritual em um ambiente seguro e de apoio, elas podem desempenhar um papel significativo no avanço do Reino de Deus e na edificação da Igreja Local. Sua perspectiva única e sensibilidade espiritual trazem uma riqueza incomparável à vida da igreja e à missão do evangelho.

No entanto, é importante que essa liderança seja séria e responsável, garantindo que as mulheres sejam respeitadas e valorizadas por sua contribuição, e não exploradas ou subestimadas. O apoio e encorajamento mútuo entre líderes e membros da igreja são essenciais para cultivar um ambiente onde todos possam crescer e florescer em sua fé e serviço a Deus.

Ao reconhecer e promover a sensibilidade espiritual das mulheres sob uma liderança responsável, a igreja pode experimentar uma maior plenitude e diversidade no cumprimento de sua missão. As mulheres são preciosas colaboradoras no Reino de Deus, e seu potencial e sensibilidade espiritual devem ser valorizados e cultivados em todos os aspectos da vida da igreja.

CONCLUSÃO

A história de Rute e Noemi nos oferece um poderoso testemunho do poder transformador do amor, da fé e da amizade em meio às adversidades da vida. Por meio do relacionamento profundo entre essas duas mulheres, somos lembrados da importância da lealdade, do comprometimento e da solidariedade em nossas jornadas individuais e comunitárias.

Rute, com sua fé fervorosa e amor prático, demonstrou como a devoção a Deus e aos outros pode guiar nossas escolhas e ações, mesmo em meio às circunstâncias mais desafiadoras. Noemi, por sua vez, personifica a força e a resiliência que podem surgir da amizade e do apoio mútuo.

Além disso, esta Lição nos chama a refletir sobre o papel essencial das mulheres na história da redenção e na vida da igreja. Desde os tempos bíblicos até os dias atuais, as mulheres têm desempenhado um papel fundamental como testemunhas da fé, agentes de transformação e colaboradoras no ministério do evangelho.

Portanto, ao contemplarmos a história de Rute e Noemi, somos desafiados a cultivar relacionamentos fundamentados no amor e na confiança mútua, a valorizar o potencial e a sensibilidade espiritual das mulheres em nossa Igreja Local, e a buscar alicerçar nossas vidas no firme fundamento da fé em Deus e no compromisso com o bem-estar uns dos outros.

Que possamos aprender com o exemplo de Rute e Noemi, e que o amor, a amizade e a fé que as uniram continuem a inspirar e fortalecer nossos próprios relacionamentos e caminhadas espirituais, hoje e sempre.

O LIVRO DE RUTE

Texto Base: Rute 1:1-5

“E sucedeu que, nos dias em que os juízes julgavam, houve uma fome na terra; pelo que um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar nos campos de Moabe, ele, e sua mulher, e seus dois filhos” (Rt.1:1).

Rute 1:

1.E sucedeu que, nos dias em que os juízes julgavam, houve uma fome na terra; pelo que um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar nos campos de
Moabe, ele, e sua mulher, e seus dois filhos.

2.E era o nome deste homem Elimeleque, e o nome de sua mulher, Noemi, e os nomes de seus dois filhos, Malom e Quiliom, efrateus, de Belém de Judá; e vieram aos campos de Moabe e ficaram ali.

3.E morreu Elimeleque, marido de Noemi; e ficou ela com os seus dois filhos,

4.os quais tomaram para si mulheres moabitas; e era o nome de uma Orfa, e o nome da outra, Rute; e ficaram ali quase dez anos.

5.E morreram também ambos, Malom e Quiliom, ficando assim esta mulher desamparada dos seus dois filhos e de seu marido.

INTRODUÇÃO

O livro de Rute é uma perfeita história de amizade, amor e redenção. Ele exalta o amor e a virtude de uma mulher moabita. O livro fala da oportunidade de reconciliação para todas as nações estrangeiras que buscam abrigo debaixo das mãos do Deus vivo (Rute 2:12). Em Boaz e Rute, os israelitas e gentios são personificados.

Antônio Neves de Mesquita diz que o livro de Rute nos coloca face a face com um drama de família. Nesse drama surgem vários problemas: o problema da crise financeira; o problema da imigração; o problema da doença; o problema da morte; o problema da viuvez; o problema da pobreza e; o problema da amargura contra Deus. Ao mesmo tempo, o livro de Rute nos fala sobre: a força da amizade; a beleza da providência; a recompensa da virtude.

O livro de Rute é uma história cheia de emoções profundas, em que se destacam o poder do amor e a vitoriosa providência divina. Nesse sentido, este livro, que trata de amizade e amor, é um contraste com o livro de Juízes, que trata de guerras e contendas.

No livro de Juízes, o julgamento de Deus está mostrando à nação de Israel a loucura do pecado; no livro de Rute, o amor e a virtude estão sendo recompensados. Na verdade, o livro de Rute trata a respeito de Deus; Ele é a personagem principal desse precioso livro.

Vale ressaltar que em uma sociedade dominada pelos homens, as personagens centrais desse romance são duas mulheres que desafiaram a crise e agiram com fé na providência divina. A primeira era uma judia idosa, pobre, viúva e sem filhos; a outra, uma gentia viúva que se apegou à sua sogra e se converteu ao Deus de Israel.

Além de oferecer-nos abençoadoras lições morais e espirituais, o livro de Rute é um tributo divino às mulheres, verdadeiras heroínas em tempos de crise.

I. A ORGANIZAÇÃO DO LIVRO

1. Na Bíblia Hebraica

Segundo pesquisa que fiz, a Bíblia Hebraica, também conhecida como Tanakh, é dividida em três seções principais:

a)   Torá (Lei ou Pentateuco): Compreende os cinco primeiros livros atribuídos a Moisés — Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

b)   Neviim (Profetas): Subdividida em Profetas Anteriores (Josué, Juízes, Samuel e Reis) e Profetas Posteriores (Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze Profetas Menores).

c)   Ketuvim (Escritos): A terceira e última seção, que inclui uma variedade de livros de diferentes gêneros literários.

A seção dos Ketuvim (Escritos) é composta por onze livros que abrangem poesias, sabedoria, histórias e apocalípticos. Os livros incluídos são:

  • Salmos
  • Provérbios
  • Cântico dos Cânticos
  • Rute
  • Lamentações
  • Eclesiastes
  • Ester
  • Daniel
  • Esdras-Neemias
  • Crônicas

Dentro dos Ketuvim, existe um subgrupo conhecido como Megillot, ou "Cinco Rolos", que são lidos em ocasiões específicas do calendário judaico. Esses cinco livros são:

a)   Cântico dos Cânticos: Lido durante a Páscoa.

b)   Rute: Lido durante o Shavuot (Festa das Semanas ou Pentecostes), que celebra a colheita.

c)   Lamentações: Lido no Tisha B'Av, dia de jejum que lembra a destruição dos Templos de Jerusalém.

d)   Eclesiastes: Lido durante o Sucot (Festa dos Tabernáculos).

e)   Ester: Lido durante o Purim.

A POSIÇÃO DO LIVRO DE RUTE

O Livro de Rute, embora seja uma narrativa histórica breve, está estrategicamente posicionado entre os Megillot devido à sua relevância litúrgica e temática.

Contexto Litúrgico e Histórico do Livro de Rute

Shavuot (Pentecostes). Rute é tradicionalmente lido durante o Shavuot, que celebra a colheita de trigo. A história de Rute se passa durante a época da colheita, o que estabelece um paralelo direto com a festa. Além disso, Shavuot é também associado à entrega da Torá, e a conversão de Rute ao judaísmo (Rute 1:16,17).

Estrutura e Conteúdo

ü  Narrativa e Genealogia. O livro de Rute tem quatro capítulos que narram a história de Rute, uma moabita que se casa com um israelita e, após sua viuvez, demonstra lealdade à sua sogra Noemi. A história culmina com Rute casando-se com Boaz e sendo incluída na linhagem de Davi, e, por extensão, na genealogia de Jesus (Rute 4:13-22).

ü  Temas Centrais. O livro destaca temas de lealdade, redenção e providência divina. A inclusão de Rute na comunidade de Israel prefigura a aceitação de gentios na fé judaica, sublinhando a universalidade do amor e da graça de Deus.

Posição na Tanakh

Na Tanakh, a posição de Rute varia dependendo da tradição textual, mas geralmente é encontrada entre os Escritos, refletindo sua importância tanto histórica quanto litúrgica.

Portanto, a inclusão do Livro de Rute na seção dos Ketuvim (Escritos) da Bíblia Hebraica e seu lugar entre os Megillot (Cinco Rolos) sublinha sua significância não apenas como uma narrativa histórica, mas como um texto litúrgico e teológico. A leitura de Rute durante Shavuot (Pentecostes) conecta a história da colheita com a história de fidelidade e redenção, reforçando a interligação entre a vida cotidiana e a fé. Através de Rute, somos lembrados do poder do compromisso, da inclusão e da providência divina na trajetória do povo de Deus.

2. Na Bíblia Cristã

É do nosso conhecimento que a Bíblia Cristã organiza o Antigo Testamento em quatro seções principais:

a)   Pentateuco. Os cinco primeiros livros atribuídos a Moisés (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio).

b)   Livros Históricos. Relatam a história de Israel desde a entrada na Terra Prometida até o período do cativeiro e o retorno. Incluem Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Ester.

c)   Livros Poéticos. Contêm poesia e sabedoria, incluindo Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos.

d)   Livros Proféticos. Divididos em Profetas Maiores (Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel e Daniel) e Profetas Menores (doze livros menores).

Categoria e Gênero

ü  Histórico e Poético. Na Bíblia Cristã, o Livro de Rute é categorizado como um livro histórico devido à sua narrativa e contexto temporal. No entanto, sua escrita é também reconhecida pela beleza poética, empregando linguagem rica e expressiva que revela aspectos emocionais e subjetivos dos personagens.

Estrutura

  • Quatro Capítulos. O livro está organizado em quatro capítulos, totalizando 85 versículos. Cada capítulo desenvolve uma parte crucial da história:

a)   Capítulo 1: Introdução e o retorno de Rute e Noemi a Belém.

b)   Capítulo 2: Rute encontra trabalho nos campos de Boaz.

c)   Capítulo 3: Rute segue o conselho de Noemi e busca proteção com Boaz.

d)   Capítulo 4: Boaz se torna o redentor de Rute e a genealogia que leva a Davi é estabelecida.

Narrativa e Estilo

·         Narrativa Rica. O livro utiliza um estilo narrativo que mistura diálogos diretos e descrições vivas, proporcionando um entendimento profundo das motivações e emoções dos personagens. Exemplos incluem as conversas entre Noemi e Rute (Rute 1:12-21), as interações entre Rute e Boaz (Rute 2:13,20), e a orientação estratégica de Noemi (Rute 3:1).

·         Aspectos Poéticos. A obra exibe uma beleza poética através do uso de paralelismos, metáforas e uma estrutura literária bem definida que enriquece a narrativa. O hebraico clássico é utilizado de maneira a dar profundidade e elegância à história.

Temas e Mensagens

·         Fidelidade e Redenção. Os temas centrais do livro incluem a lealdade (Rute a Noemi), a providência divina e a redenção (Boaz como redentor). A história de Rute, uma moabita, que se torna parte da linhagem de Davi e, por extensão, da genealogia de Jesus, sublinha a inclusão e a graça de Deus.

·         Aspectos subjetivos e humanos. O livro explora profundamente os aspectos humanos e emocionais dos personagens, como a dor da perda, a lealdade familiar, a esperança e a renovação.

Importância na Bíblia Cristã

a)   Conexão com o Novo Testamento:

·         Genealogia de Jesus. O Livro de Rute estabelece a linhagem de Davi, que é crucial para a genealogia de Jesus Cristo (Mateus 1:5). Isso reforça a continuidade da promessa divina desde o Antigo até o Novo Testamento.

·         Modelo de fidelidade e obediência. Rute é frequentemente citada como exemplo de fidelidade e obediência, refletindo virtudes que são exaltadas no Novo Testamento.

b)   Leitura e Reflexão:

·         Litúrgica e Devocional. Embora não tenha um papel litúrgico fixo na tradição cristã como tem no judaísmo durante o Shavuot, o Livro de Rute é frequentemente lido e estudado por seu valor devocional e moral.

Enfim, a organização do Livro de Rute na Bíblia Cristã destaca sua dupla natureza como um texto histórico e poético. Composto por quatro capítulos, o livro narra a história de fidelidade, providência divina e redenção com uma linguagem rica e expressiva. Embora categorizado como um livro histórico, sua beleza poética e profundidade emocional oferecem lições valiosas sobre lealdade, inclusão e a soberania de Deus. A história de Rute não só enriquece o entendimento do Antigo Testamento, mas também estabelece fundamentos importantes para a teologia cristã, especialmente em relação à linhagem messiânica de Jesus Cristo.

3. Autoria e data

a) Autoria. A questão da autoria do Livro de Rute é objeto de debate entre os eruditos. A tradição judaica, conforme registrado no Talmude, atribui a autoria a Samuel. Vários fatores sustentam essa atribuição:

ü  Referências a Jessé e Davi. O texto faz referência a Jessé e Davi de uma maneira que sugere familiaridade e contemporaneidade com esses personagens (Rute 4:17). Samuel, como profeta e juiz, teve um papel significativo na unção de Davi como rei, o que reforça essa hipótese.

ü  Atmosfera histórica. As características do livro sugerem uma ambientação no início do período da monarquia de Israel, uma época em que Samuel estava ativo.

b) Data. Baseando-se na atribuição tradicional a Samuel e nas referências internas do texto, a datação do Livro de Rute pode ser estimada em torno do século X a.C. Especificamente:

ü  Contexto monárquico. O livro parece refletir um período em que a monarquia estava se estabelecendo, um tempo que coincide com o início do reinado de Davi.

ü  Estilo literário. A linguagem e o estilo literário utilizados no Livro de Rute são consistentes com outras obras desse período, caracterizando o hebraico clássico e narrativas históricas da era monárquica.

Conquanto não haja consenso absoluto sobre a autoria e data exata do Livro de Rute, a tradição que atribui a autoria a Samuel e a evidência interna que sugere um ambiente do início da monarquia de Israel oferecem uma base sólida. Assim, o livro é provavelmente datado do século X a.C., refletindo uma época de transição e estabelecimento da monarquia em Israel, com Samuel como o autor mais provável.

II. O CONTEXTO HISTÓRICO

1. No tempo dos juízes

O Livro de Rute se situa no período dos juízes, uma época de transição e instabilidade na história de Israel, que durou aproximadamente três séculos, desde a morte de Josué (cerca de 1375 a.C.) até a ascensão de Saul como o primeiro rei de Israel (1050 a.C.). Este período é caracterizado por repetidos ciclos de pecado, opressão, arrependimento e libertação, conforme registrado no Livro dos Juízes.

Características do Período

a)   Anarquia e apostasia:

ü  Desobediência e idolatria. Após a morte de Josué, Israel frequentemente se desviava dos mandamentos de Deus, adorando deuses estrangeiros e praticando a idolatria (Juízes 2:11-13). Uma frase que identifica bem aquela época sombria é: “cada qual fazia o que parecia direito aos seus olhos” (Jz.17:6).

ü  Opressão estrangeira. Como consequência da desobediência, Deus permitiu que nações estrangeiras oprimissem Israel. Esse ciclo de opressão levava o povo a clamar por libertação, e Deus levantava juízes para resgatá-los (Juízes 2:16-19).

b)   Desordem social e política:

ü  Ausência de liderança centralizada. A frase “cada qual fazia o que parecia direito aos seus olhos” (Juízes 17:6) resume bem a desordem moral e social daquele tempo. Sem uma liderança centralizada, Israel vivia em uma espécie de anarquia.

ü  Juízes locais. Os juízes eram líderes locais, levantados por Deus, que exerciam funções militares, civis e espirituais. Eles não governavam a nação inteira, mas geralmente atuavam em áreas específicas e por períodos limitados.

O Livro de Rute, enfim, embora curto, tem um impacto profundo na história de Israel. Ele liga a era dos juízes com a monarquia que se inicia com Saul e, mais significativamente, com Davi. A inclusão de Rute na genealogia de Davi (Rute 4:21,22) e, por extensão, na genealogia de Jesus (Mateus 1:5), sublinha a importância divina da história de Rute no plano redentor de Deus. A narrativa de Rute oferece uma contraposição esperançosa à anarquia do período, mostrando que Deus está sempre trabalhando para cumprir Seus propósitos, independentemente das circunstâncias externas.

2. Secularismo, hedonismo e idolatria

Após a morte de Josué e dos líderes de sua geração, Israel enfrentou uma profunda crise espiritual. A nova geração não tinha uma íntima comunhão com Deus e desconhecia Suas obras poderosas em favor do povo hebreu (Juízes 2:7-13). A ausência de líderes espiritualmente maduros e tementes a Deus deixou Israel vulnerável à influência das práticas pagãs dos cananeus.

Influências negativas: Secularismo e Hedonismo

a)   Secularismo:

ü  Desconexão com o Divino. Israel se afastou dos princípios e mandamentos de Deus, adotando uma visão de mundo centrada em valores terrenos e imediatos, ignorando a soberania divina.

ü  Sincretismo religioso. A fusão de crenças e práticas cananeias com a fé israelita resultou na diluição da pureza do culto a Yahweh.

b)   Hedonismo:

ü  Busca pelo prazer. O hedonismo, ou a busca incessante pelo prazer, levou Israel a práticas imorais. O culto a Astarote, a deusa do sexo e da guerra, era um exemplo claro disso.

ü  Decadência moral. A entrega aos prazeres carnais e à satisfação dos desejos imediatos resultou em um profundo declínio moral e espiritual.

Idolatria: adoração a Baal e a Astarote

a)   Culto a Baal:

ü  Baal, falso deus da chuva e fertilidade. Baal era adorado como o deus da chuva, essencial para a agricultura. A prática desse culto envolvia rituais que muitas vezes eram imorais e degradantes.

ü  Sacrifícios e ritos pagãos. A adoração a Baal incluía sacrifícios e ritos que iam contra os mandamentos de Deus.

b)   Culto a Astarote:

ü  Falsa deusa do sexo e guerra. Astarote era venerada através de práticas que incentivavam a licenciosidade sexual e a violência.

ü  Imoralidade ritual. Os rituais dedicados a Astarote frequentemente envolviam atos de prostituição sagrada e outras formas de imoralidade.

Consequências da falta de liderança espiritual

a)   Ciclos de apostasia e opressão:

ü  Rebelião e arrependimento. A falta de líderes espirituais resultou em ciclos de pecado, opressão por nações estrangeiras, arrependimento e temporária restauração através de juízes levantados por Deus (Juízes 2:16-19).

ü  Insegurança e anarquia. Sem direção divina, a sociedade israelita mergulhou na anarquia, vivendo segundo o que parecia certo a cada um (Juízes 17:6).

b)   Necessidade de caráter na liderança:

ü  Carisma versus caráter. No Reino de Deus, não basta ter carisma para liderar; é imprescindível ter caráter aprovado. As qualificações para liderança espiritual incluem integridade, sabedoria e temor a Deus (1Timóteo 3:2-13; 2Timóteo 2:15; Tito 2:7,8).

Enfim, o período pós-liderança de Josué foi marcado por secularismo, hedonismo e idolatria, resultando em grandes tragédias morais e espirituais para Israel. A falta de uma liderança espiritualmente madura e comprometida com Deus levou o povo a práticas degradantes e à instabilidade social. Esse contexto sublinha a importância de líderes com caráter sólido e um profundo compromisso com Deus, capazes de guiar o povo na justiça e na verdade.

3. Opressão, clamor e livramento

Durante o período dos juízes, a apostasia tornou Israel vulnerável aos ataques de seus inimigos. Em vários momentos, a nação sucumbiu ao pecado, afastando-se dos mandamentos de Deus e adotando práticas pagãs. Essa infidelidade repetida levou Israel a ser oprimido por nações estrangeiras, que saqueavam suas cidades e terras, mantendo o povo sob domínio opressor por longos períodos. Exemplos disso incluem:

a)   Opressão por Cusã-Risataim:

·         Juízes 3:7-9. Israel serviu aos Baalins e Aserás, o que provocou a ira de Deus. Ele permitiu que fossem oprimidos por Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia, por oito anos. Ao clamar a Deus, Otniel foi levantado como juiz e libertador.

b)   Opressão por Eglom, rei de Moabe:

·         Juízes 3:12-14. Após se desviar novamente, Israel foi entregue a Eglom, rei de Moabe, por dezoito anos. Ehud, o benjamita, foi levantado por Deus para libertar o povo.

c)   Opressão por Jabim, rei de Canaã:

·         Juízes 4:1-3. Após a morte de Ehud, Israel voltou a pecar e foi oprimido por Jabim, rei de Canaã, por vinte anos. Débora e Baraque lideraram a libertação de Israel.

d)   Opressão por Midiã:

·         Juízes 6:1-6. Israel novamente pecou e foi oprimido pelos midianitas por sete anos. Gideão foi chamado por Deus para libertar o povo.

Os Juízes como Libertadores

Os juízes (hebraico: shophetim) não eram meramente magistrados civis, mas libertadores e líderes militares. Deus os levantava em resposta ao clamor de Israel, para julgar a causa do povo e livrá-los de seus opressores. Exemplos notáveis incluem:

a)   Otniel:

·         Juízes 3:9-11. Otniel, da tribo de Judá, libertou Israel da opressão de Cusã-Risataim e trouxe quarenta anos de paz.

b)   Baraque:

·         Juízes 4:10-15. Liderado por Débora, Baraque conduziu as forças israelitas à vitória contra Sísera, comandante do exército de Jabim.

c)   Gideão:

·         Juízes 7:16-25. Gideão, com um pequeno exército de trezentos homens, derrotou os midianitas, libertando Israel da opressão.

Apesar dos repetidos ciclos de infidelidade, Deus, em Sua longanimidade e misericórdia, ouvia o clamor do povo de Israel em seus momentos de dor e aflição. Deus ouve os que clamam a Ele com sinceridade e arrependimento (cf. Jeremias 29:12,13; Isaias 55:6).

III. PROPÓSITO E MENSAGEM DO LIVRO DE RUTE

1. O cetro de Judá

O Livro de Rute serve a vários propósitos, com o principal sendo a apresentação de Davi como descendente da tribo de Judá, a linhagem real da qual o Messias, "o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi" (Apocalipse 5:5), viria. Este propósito é profundamente enraizado na profecia de Gênesis 49:10 que diz: "O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló; e a ele se congregarão os povos".

Embora Rúben fosse o primogênito de Jacó, ele perdeu sua posição de liderança devido ao seu ato de desonra ao se deitar com a concubina de seu pai (Gênesis 35:22; 49:4). Como resultado, a promessa feita a Abraão continuou através da descendência de Judá. Esta transferência de liderança sublinha a importância da linhagem de Judá na história redentiva de Israel.

O propósito de registrar a genealogia de Davi no Livro de Rute é significativo, especialmente considerando que, na época da suposta autoria de Samuel, o rei de Israel era Saul, um benjamita (1Samuel 9:1,2; 25:1). Ao destacar a ancestralidade de Davi, o livro não apenas legitima Davi como o futuro rei de Israel, mas também conecta a narrativa de Rute ao cumprimento das promessas messiânicas. Davi, como descendente direto de Judá, está diretamente ligado à linhagem de onde viria o Salvador, conforme prometido a Abraão.

2. Amor e redenção

Outro propósito central do Livro de Rute é destacar o amor de Deus e Seu plano de redenção da humanidade. Boaz e Rute, representando judeus e gentios, respectivamente, prenunciam a derrubada da barreira de separação entre os dois grupos (Efésios 2:11-16). A redenção é vista no livro tanto de forma literal quanto tipológica. Boaz, como o parente remidor, preserva a descendência de Elimeleque, mas ele também é um tipo de Cristo, nosso Redentor (Isaías 59:20; Lucas 1:68; Efésios 1:7; Tito 2:14).

Boaz atua como o goel (termo hebraico para a palavra "redimir", semelhante a "redentor", pelo qual a Bíblia hebraica e a tradição rabínica denotam um parente relativo apto a restaurar os direitos perdidos por uma pessoa próxima), que resgata Rute e Noemi da desolação, garantindo-lhes segurança e um futuro. Este ato de redenção literal é uma poderosa imagem da redenção espiritual realizada por Cristo. Boaz, em sua disposição de redimir Rute, reflete a obra redentora de Jesus Cristo, que resgata a humanidade do pecado e da morte. Assim, a história de Rute e Boaz se torna uma antecipação da obra redentora de Cristo, unindo judeus e gentios em um só Corpo pela fé.

3. Fidelidade e altruísmo

O livro de Rute também nos permite ver que nem tudo eram trevas nos dias dos juízes. Havia um remanescente fiel que temia a Deus e foi usado por Ele para cumprir Seus propósitos (Jó 42:2). Em um mundo de crescente iniquidade, o justo vive pela fé (Habacuque 2:4; cf. Mateus 24:12,13).

Rute e Noemi são exemplos de fidelidade em um tempo marcado pela anarquia e apostasia. Em meio à instabilidade e infidelidade dos dias dos juízes, a história de Rute destaca a fidelidade pessoal e a providência divina. A lealdade de Rute a Noemi, deixando seu próprio povo e deuses para seguir o Deus de Israel (Rute 1:16,17), é um testemunho poderoso de compromisso e fé. Esta fidelidade não só garantiu o sustento de ambas, mas também pavimentou o caminho para o surgimento da linhagem real de Davi, da qual viria o Messias.

Outra mensagem eloquente do livro é o valor do altruísmo em uma época dominada pelo egoísmo. Durante o período dos juízes, a maioria vivia segundo seus próprios padrões e interesses (Juízes 21:25). Noemi e Rute destoam desse padrão individualista. Noemi, apesar de sua amargura, pensa no bem-estar de suas noras e encoraja-as a retornar às suas famílias para encontrar novos maridos (Rute 1:8,9). Rute, por sua vez, demonstra um altruísmo notável ao insistir em ficar com Noemi, apesar das dificuldades que ambas enfrentariam (Rute 1:16-18).

O amor altruísta de Rute para com Noemi é um reflexo do amor descrito em 1Coríntios 13:5, que "não busca os seus próprios interesses". Esta atitude de abnegação e cuidado pelos outros destaca a diferença que uma vida centrada no amor pode fazer, mesmo em tempos de escuridão moral. A bondade de Boaz para com Rute e Noemi também exemplifica este princípio, mostrando como a fidelidade a Deus se manifesta em atos de bondade e generosidade para com os necessitados.

CONCLUSÃO

O Livro de Rute nos ensina que, a despeito da incredulidade e dos pecados do homem, Deus sempre trabalha para cumprir Seus desígnios. Sem violar o princípio do livre-arbítrio humano, o Todo-poderoso conduz a história e executa Seu plano eterno de redenção.

A história de Rute destaca como Deus, em Sua soberania e fidelidade, age por meio de pessoas comuns e em circunstâncias cotidianas para realizar Seus propósitos. Desde a dedicação de Rute a Noemi até a intervenção providencial de Boaz como parente remidor, vemos que Deus está ativamente envolvido na vida de Seus servos, transformando situações difíceis em oportunidades para demonstrar Sua graça e fidelidade.

O exemplo de Rute e Noemi ilustra que, mesmo em tempos de crise e aparente ausência de direção divina, Deus está trabalhando nos bastidores. Ele é fiel em todas as coisas (Isaías 64:4), e Sua presença se faz sentir nas ações de indivíduos que, movidos pela fé e amor, se tornam instrumentos da providência divina.

Assim, o Livro de Rute nos encoraja a confiar em Deus, a permanecer fiéis em nossa caminhada e a reconhecer que, em tudo, Ele é fiel. Ele continua a usar homens e mulheres para cumprir Seus propósitos, revelando Seu amor e redenção a todos os que O buscam com sinceridade.