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QUANDO OS PAIS SEPULTAM OS FILHOS


 INTRODUÇÃO
- Na continuidade do estudo dos relacionamentos familiares, abordaremos hoje a difícil situação da morte de um filho.
- A morte de um filho é terrível.

I – OS DRAMAS DA MORTE FÍSICA E DA MORTE DE FILHOS
- Na sequência do estudo sobre os relacionamentos familiares, abordaremos hoje a difícil situação da morte de um filho.
- A morte física, em si mesma, já é uma situação de difícil lidar, porque o ser humano não foi feito para morrer fisicamente.
- Quando o homem foi criado, foi posto no jardim do Éden e tinha acesso à árvore da vida, que ficava no meio do jardim, onde, entendem os estudiosos, se promovia à preservação do corpo humano, que era, assim, preservado da corrupção.
- Diante de tal circunstância, o homem não só não envelhecia, apesar de estar debaixo do tempo e na Terra, como também se mantinha sem qualquer degradação, o que fazia dele, também neste aspecto, uma imagem e semelhança de Deus, já que a passagem do tempo não o atingia, fazendo com que se estivesse num “eterno presente”, como é a situação da eternidade para o Criador.
- O corpo material, portanto, era mantido incólume à ação do tempo, estando, deste modo, em perfeita harmonia com a alma e o espírito, que, já por natureza, não se submetiam ao tempo, imateriais que são.
- Com o pecado, porém, Deus estabeleceu a morte física como uma consequência, determinando que o corpo do homem retornasse ao pó, de onde Deus o havia formado (Gn.3:19) e, assim, estabeleceu a separação do corpo e da alma e espírito, que é a morte física (Ec.12:7).
- Imediatamente, o Senhor impediu que o homem tivesse acesso à árvore da vida (Gn.3:22-24). Com este gesto, Deus permitiu que o homem pudesse ter uma oportunidade de arrependimento de seus pecados até a morte, o que lhe permitiria obter a salvação e receber a vida eterna.
- Além da morte física, o impedimento de acesso do homem à árvore da vida fez com que o homem passasse a sofrer a corrupção, a degradação do seu corpo físico, por conta do envelhecimento (Ec.12:1-6). Como se não bastasse isso, o corpo passou, também, a sofrer enfermidades e doenças, que muito contribuem, também, para a sua degeneração.
- Como se pode verificar, a morte física é consequência do pecado, não é algo que estivesse previsto na mente humana, de modo que não é assunto com que o ser humano saiba lidar, porque contraria o propósito divino de sua criação.
- Houve mesmo quem entendesse a existência humana como sendo guiada pelo que se denominou de “angústia da morte”, ou seja, o ser humano é o único ser que, de antemão, sabe que vai morrer e que a vida está pautada pela morte.
- Por isso mesmo, a longevidade, ou seja, a vida longa sobre a face da Terra, é algo almejado e desejado pelo homem, pois é como que uma espécie de alívio e de aproximação do propósito divino e não se trata mesmo de algo mal, tanto que se trata de uma promessa divina para os Seus servos.
- Deus promete a longevidade aos filhos que honrarem seus pais, é “o primeiro mandamento com promessa” (Ef.6:2), como também ao que é temente ao Senhor e anda nos Seus caminhos (Sl.128).
- Naturalmente que, como servos do Senhor, não podemos nos apegar às coisas desta vida, nem deixar de ter como alvo a pátria celestial (Cf. Hb.11:13-16), devemos ter a consciência de que estamos aqui apenas de passagem, que somos peregrinos (Sl.119:19; I Pe.1:17), mas desejar vida longa sobre a face da Terra não só não é pecado como é algo que Deus quer nos conceder, até para que amenizemos este drama que é a morte física, algo imprevisto para a nossa mente, que foi moldada dentro da perspectiva de vivermos eternamente com o Senhor.
- Diante desta perspectiva, ante o desejo de longevidade que está presente naturalmente em cada ser humano, sendo, também, algo natural que tenhamos filhos, pois esta é a vontade de Deus para cada um de nós, tanto que nos deu a ordem da procriação (Gn.1:28), exsurge como consequência inevitável que vejamos em nossa descendência a nossa continuidade, como que uma aparência de eternidade, a perpetuidade da espécie, a manutenção de nós, de alguma forma, após a nossa partida desta Terra.
- A nossa descendência apresenta-se, assim, não só como resultado da longevidade, mas um prolongamento desta mesma longevidade, pois, de alguma forma, continuamos na Terra por meio de nossos descendentes. Como diz o escritor aos hebreus, Levi já estava em Abrão quando este deu o dízimo a Melquisedeque (Hb.7:9,10) e em Abrão todas as famílias foram benditas, porque, da sua descendência, veio o Senhor Jesus (Gn.12:3,7; Gl.3:16).
- Por isso mesmo, o que é temente a Deus e anda nos Seus caminhos tem o prazer de ver até a terceira geração, pelo menos (Sl.128:6), podendo assim, contemplar ao menos o início desta continuidade, que é um tanto quanto misteriosa, mas que faz parte do cumprimento do propósito divino para o homem.
- É natural, portanto, que, diante deste quadro, os pais vejam os filhos e seus demais descendentes em geral como uma continuidade, como pessoas que permanecerão na face da Terra quando de nossa morte física, é outra expectativa que é gerada em nossa mente e que se encontra, inclusive, estribada em promessas dadas por Deus a nós.
- Assim, a circunstância de um pai sepultar o seu filho é mais uma situação que não é esperada pela mente humana, porquanto a ordem natural das coisas, ante a ordem de procriação, a longevidade como bênção e a realidade do envelhecimento e da morte física, como consequência do pecado, é que os filhos sepultem os pais e não o contrário.
- Além de o homem não conseguir lidar com a questão da morte física, esta “angústia de quem vive”, visto se tratar de algo para o qual a sua mente não foi preparada quando da criação, ter de enfrentar a realidade de ver um descendente seu, o fruto de sua existência, o resultado do cumprimento de uma ordem divina, aquele que, de certo modo, representará a sua continuidade na face da Terra a despeito do pecado e da morte física, partir para a eternidade antes dele próprio, por vezes até comprometendo esta continuidade, é, sem dúvida, mais um terrível dilema a ser enfrentado, mais uma experiência imprevista e indesejada.
- Todavia, já o primeiro casal teve de enfrentar isto, pois a primeira morte física ocorrida na face da Terra foi a de Abel, ou seja, do filho de Adão e de Eva. Os pais da humanidade, além de terem perdido o Éden e a comunhão com Deus por causa do pecado, experimentaram a dor da morte física com o derramamento do sangue de seu filho Abel.
- Não deve ter sido fácil o enfrentamento desta situação pelo primeiro casal. Além de ter a dor da perda do filho, que o Senhor Jesus nos diz ter sido um homem justo (Mt.23:35), foi isto resultado de um assassinato praticado por outro filho, Caim, uma verdadeira tragédia familiar.
- O primeiro casal experimentava, assim, a dimensão do mal que representava o pecado, a gravidade de terem permitido a entrada do pecado no mundo, aprendendo, de uma forma muito dolorida, o que significa a desobediência a Deus, o que representa a quebra da comunhão com o Criador.
- A morte de Abel era consequência direta da maldade, do pecado. Abel era um homem justo, temente a Deus e que agradava ao Senhor e, por causa disto, foi assassinado por seu irmão Caim que, pelo contrário, era do maligno (I Jo.3:12).
- O primeiro casal deve ter sofrido terrivelmente, vendo o que representou a sua desobediência, qual o efeito da entrada do pecado no mundo, de que eles eram responsáveis.
- Esta dor vivida pelo primeiro casal mostra-nos que uma das causas pelas quais os pais sepultam seus filhos é, precisamente, a lei da semeadura. A morte prematura do filho pode advir de uma conduta pecaminosa dos pais, pode ser resultado de uma falha causada pelos próprios pais e que resulta numa circunstância que se constitui em consequência daquela atitude dos pais, ainda que o filho não seja ele próprio culpado no evento.
- O primeiro casal desobedeceu a Deus, permitiu a entrada do pecado no mundo e, como consequência disto, o mal se tornou uma realidade e Caim se tornou do maligno e acabou por matar seu irmão Caim, ainda que este fosse justo e ali vão Adão e Eva sepultar Abel por conta desta sua desobediência.
- Outra situação similar vemos no episódio da morte do primeiro filho de Davi com Bate-Seba. A criança morreu, por determinação divina, precisamente para que ficasse bem claro o desagrado divino com o adultério e homicídio praticados por Davi e, deste modo, o nome do Senhor não viesse a ser blasfemado por conta desta falha do rei (II Sm.12:14).
- Mas não é este o único motivo pelo qual os pais sepultam os filhos. Há situação, também, em que o filho é retirado desta vida precisamente por causa da sua justiça e para que não lhe sobrevenha um mal proveniente do pecado dos próprios pais. Foi o que ocorreu com Abias, filho de Jeroboão, que morreu antes de seus pais, precisamente porque era a única pessoa achada justa na casa de Jeroboão, tendo, então, o Senhor o poupado que lançaria sobre toda a família real por terem eles abandonado a Deus e passado a praticar a idolatria (I Rs.14:1-13).
- Temos aqui a hipótese de perecimento do justo antes que venha um mal, trata-se de uma providência divina para que o justo não venha a perecer numa situação que lhe fira a dignidade, antes que venha a sofrer algo na face da Terra que não há necessidade que sofra (Is.57:1).
- Por vezes, inclusive, a pessoa que é poupada de um mal maior por meio da morte física nem mesmo é justa, mas praticou alguma atitude que o Senhor, na Sua justiça, faz com que, por causa do bem praticado, venha a pessoa a ser preservada de um juízo ou de um mal maior. Foi o que ocorreu com Acabe que, mesmo não sendo justo, por ter se humilhado diante de Deus, foi poupado do juízo divino lançado sobre a sua casa, tendo morrido solitariamente e recebido, por conta disto, uma sepultura, o que não ocorreu com seus descendentes e com sua mulher Jezabel (I Rs.21:20-29).
- Há, também, a hipótese de que a morte do filho é determinada por Deus porque gerará ela maiores benefícios ao reino de Deus do que a manutenção da vida. Neste caso, como estamos aqui para glorificar a Deus, sendo a morte uma razão para a glória divina, deverão os pais suportar esta perda, consolando-se, entretanto, com a circunstância em que se dá tal passamento.
- Maria teve de sepultar Jesus, porque o Senhor precisava morrer pelos homens, a fim de redimi-los, de conceder-lhes a salvação. Por isso mesmo, no dia mesmo em que Jesus foi apresentado no templo e Maria, segundo a lei, fez sua oferta de purificação (Cf. Lc.2:22-24,27; Lv.12:2-7), o Senhor já usou Simeão para prevenir Maria que sofreria ela esta terrível dor da perda do seu filho e de levá-l’O ao sepultamento, dor que foi descrita pelo ancião como “uma espada que traspassaria a própria alma de Maria”.
- Vemos, aqui, amados, quão terrível é a dor sofrida por um pai quando tem de sepultar o seu filho e, observemos, que Maria teve a alegria de ver a ressurreição de Jesus ao terceiro dia, o que não ocorre com a quase totalidade dos pais que passam por esta experiência da “espada traspassar a alma”.
- Verdade é que, para um consolo à alma de Maria, pôde a mãe do Senhor ouvir do centurião o reconhecimento de que Jesus era verdadeiramente o Filho de Deus (Mt.27:54), o que pode ter trazido à memória da serva do Senhor as palavras ditas pelo anjo Gabriel quando do anúncio do nascimento de Cristo, mas não deixou de ser algo extremamente penoso e dolorido para Maria.
- A dor foi tanta que os romanistas, inclusive, por conta dela, querem até dar a Maria uma participação na redenção da humanidade, tanto que andam defendendo a aprovação de um quinto dogma mariano, para considerar Maria como corredentora da humanidade. Não deixa de ser mais um exagero da mariolatria, mas há aqui um fundo de verdade: quando a morte do filho se dá para glorificação do nome do Senhor, para um propósito na obra de Deus, devem os pais consolar-se com a perspectiva de que fazem parte da glorificação do nome do Senhor pela morte do filho, quando for esta a hipótese.
- Os pais, neste momento tão delicado, devem lembrar que, embora suas almas estejam traspassadas com este episódio, são eles, de algum modo, participantes com o filho falecido deste momento de glorificação e que isto, certamente, não ficará sem o devido reconhecimento e o devido amparo d’Aquele que não é injusto para Se esquecer da nossa obra e do trabalho do amor que para com o nome d’Ele mostraram enquanto serviram aos santos e ainda servem (Cf. Hb.6:10), tendo sido eles aqueles que criaram este que passou para a eternidade na doutrina e admoestação do Senhor e que agora tem a sua vida oferecida em glória a Deus.
- Por fim, temos a circunstância em que a morte do filho decorreu da lei da semeadura, mas por ato do próprio filho, inclusive a hipótese de desonra aos pais, que é um dos fatores de morte prematura, já que a longevidade é reservada aos que honram seus pais.
- Neste caso, aliás, é bom se lembrar mandamento da lei mosaica que determinava que os filhos contumazes e rebeldes fossem levados pelos próprios pais aos anciãos da cidade que, confirmando tratar-se de filho que estava a desonrar os pais, condená-los-iam à morte, mandando que o povo o apedrejasse até a morte, tirando, assim, o mal do meio do povo (Dt.21:18-21).
- Notemos, neste mandamento, que, ao contrário do que ocorria entre os gentios, não havia “direito de morte e vida” dos pais sobre os filhos na lei de Moisés, até porque o único “dono da vida” é o próprio Deus (I Sm.2:6; Sl.24:1). O que os pais poderiam fazer era levar o filho, depois de inúteis as ponderações e os castigos, para que a sociedade, como um todo, o condenasse à morte.
- Nesta hipótese, os pais, evidentemente, não ficam felizes com a morte do filho, mas devem entender que ele escolheu o seu caminho, ele próprio, tendo sido devidamente ensinado a praticar o bem, a agradar a Deus, tendo sido até castigado, quando os pais o podiam fazer, para que não vivesse dissolutamente, não quis dar ouvidos e acabou por colher a própria morte que semeou, pois o salário do pecado é a morte.
- Mesmo tendo a tristeza da perda do filho, devem os pais estar em paz com Deus, pois fizeram tudo o que estava ao seu alcance, são inocentes deste sangue derramado (pois, via de regra, esta morte sempre é violenta ou trágica), devendo se lembrar que cumpriram o seu papel de instruidores diante de Deus.
- Ademais, num instante como este, não devem olvidar que o Pai teve este mesmo sentimento de dor pela morte do Seu Unigênito Filho que, porém, não morreu pelos Seus pecados, pois nunca pecou (Cf. Hb.4:15), mas foi sacrificado por causa dos nossos pecados. Quando os pais, nesta hipótese de morte por semeadura da maldade do próprio filho, disso se lembram, acabam por se consolar e lembrar que viverão eternamente com o Senhor por conta desta terrível dor que o Pai quis por nós sentir e que é muito mais dura que a desta última hipótese.

II – CASUÍSTICA BÍBLICA: A MORTE DOS PRIMEIROS FILHOS DE JÓ
- O comentarista, para ilustrar o drama do sepultamento dos filhos pelos pais, traz-se o exemplo de Jó.
- O cuidado de Jó para com seus filhos era, sobretudo, espiritual. Sendo um homem muito rico, Jó, naturalmente, cuidava das necessidades materiais de seus filhos e com grande opulência, a ponto de seus filhos terem, cada um, sua casa, terem servos a seu dispor e realizarem, costumeiramente, banquetes, vivendo, assim, regaladamente, como pessoas de grande poder aquisitivo que eram.
- No entanto, Jó não se limitava a providenciar a manutenção material de seus filhos, mas buscava santificá-los ao término do turno dos banquetes. Assim, buscava manter seus filhos em padrões de santidade. Será que temos tido esta preocupação, de buscar a santificação de nossos filhos? Uma ordem vinda dos céus afirma-nos que, quem é justo, faça justiça ainda e quem é santo, santifique-se ainda (Ap.22:11b).
- Observemos, ainda, que a preocupação de Jó em santificar seus filhos não impedia que seus filhos desfrutassem dos bens que possuíam nem tampouco tivessem momentos de alegria e de diversão. Santidade não se confunde com tristeza, santidade não se confunde com privação ou ausência de diversão ou de convívio social.
- Não podemos nos misturar com o mundo, devemos ser santos, separados do pecado, mas a separação do pecado não implica em separação da sociedade nem da convivência com as demais pessoas.
- Os filhos de Jó, mais jovens e com outra disposição, não podiam, mesmo, ter os mesmos interesses e a mesma disposição do seu pai, mais velho e com outra estrutura psicológico-física. Por isso, seus filhos gostavam de festas e banquetes, o que não era mais o desejo e a disposição de seu pai, mas, cada um ao seu modo e cada um dentro de sua faixa etária, mantinham-se em santidade, sem que isto significasse opressão ou tirania por parte de Jó.
- Jó santificava os seus filhos, o que quer dizer que havia alguma espécie de culto a Deus para que isto se verificasse. O texto nada nos diz a respeito mas devemos inferir isto, até porque não sabemos, com detalhes, como se realizava a própria adoração de Jó a Deus, já que não se tratava de um israelita e não estávamos na época da lei.
- Isto também nos mostra que a forma de adoração a Deus, a denominada liturgia, é algo secundário e que deve ser observado mas não a ponto de instituir um formalismo que mate o próprio propósito que é o de adorar e glorificar o nome do Senhor.
- Algo que tem faltado nos lares dos crentes é o culto doméstico, que, convenhamos, ganhou algum impulso durante a quarentena e “lock down” decretados por conta da pandemia do COVID-19, o que tem sido um grande prejuízo para as famílias e, por extensão, para a Igreja, que, afinal de contas, nada mais é que a reunião das famílias.
- A extinção do culto doméstico é o principal trunfo que o adversário tem conquistado nos nossos dias. Sem transformar o seu lar em um altar perante o Senhor, os crentes têm aberto um enorme brecha para que o mundo ingresse em suas casas e, através delas, atinjam a igreja, retirando a espiritualidade e prejudicando, enormemente, seja a evangelização, seja o ensino da Palavra de Deus, como se pôde verificar no momento em que as pessoas ficaram privadas de cultuar coletivamente por causa da pandemia. Que o exemplo de Jó sirva-nos de incentivo e estímulo para buscarmos a santificação de nossos lares e de nossos filhos, em especial.
- Além de Jó santificar seus filhos, a Bíblia informa-nos que ele se levantava de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles. Jó era um homem de oração, um homem de intercessão, um homem de sacrifícios. Jó dava a prioridade às coisas celestiais, à sua relação com Deus, apesar de ser um homem que, com certeza, dada a sua riqueza, era ocupadíssimo, cheio de afazeres e de deveres, não só no cuidado de seu patrimônio mas, até mesmo, na comunidade onde vivia, conforme inferimos do desenvolvimento do livro (v.g., Jó 29:8).
- Isto, porém, não o impedia de servir a Deus e de buscá-lo de madrugada. Quantos de nós temos orado de madrugada? Quantos de nós temos colocado nosso relacionamento com Deus em primeiro lugar? Jó não só santificava seus filhos, mas buscava a própria santificação, o perdão de suas falhas e, assim, tinha condições de interceder pelos seus filhos.
- Diz o texto que Jó fazia isto "continuamente", ou seja, fazia parte da sua rotina, não era algo esporádico, algo transitório, algo que era contemporâneo a uma dificuldade, a uma prova, ou, então, fruto de um estímulo emocional, mas era algo que advinha do seu próprio caráter, do seu próprio viver. Temos buscado, assim, a Deus?

OBS: "Jó, como chefe de família, tinha o dever sacerdotal ou pastoral no que diz respeito a seus familiares. Como sacerdote, ofereceu sacrifícios expiatórios, num total de dez, para cada filho e filha. Não os ofereceu por causa de algum pecado conhecido, mas porque 'talvez' tinham pensado alguma coisa errada, na sua ignorância: seriam, portanto, os sacrifícios pelos pecados por ignorância (Lv. 4:13-21) e demonstram o quanto Jó ansiava pela santificação da sua família." (A BÍBLIA VIDA NOVA, com. a Jó 1:5, p.531).

- O pai de família tem sob sua responsabilidade a condução da adoração doméstica. Não se trata de algo que Jó deveria fazer só porque estávamos em pleno período patriarcal, mas de algo que é exigível ainda hoje, pois se trata de uma função cometida à cabeça do casal, que é o marido (I Co.11:3; Ef.5:23).
- Com efeito, dentre as atribuições da cabeça do casal está a de se submeter a Cristo, que é a cabeça do varão (I Co.11:3), de modo que, na organização familiar, temos que é o marido quem leva a família até Cristo, sendo, portanto, o sacerdote, pois o sacerdote é aquele que faz a mediação entre Deus e o povo, consagrando, tornando santo aquilo que vai ao encontro de Deus.
- O pai de família deve levar a sua família à presença de Deus, é sua a responsabilidade, como um verdadeiro sacerdote do lar. Evidentemente que este papel, exercido em tom familiar, não exclui, de forma alguma, o sacerdócio universal de todo servo de Deus, no âmbito da igreja, mas é uma atividade complementar e, em certa medida, até anterior à Igreja, na medida em que o primeiro ambiente de convivência de um ser humano é o ambiente familiar.
- Mas, além de Deus, havia alguém que também via o exemplo de Jó como pai de família: Satanás que, como sempre faz em relação aos justos (Ap.12:10), acusou Jó diante de Deus (Jó 1:9-11).
- Quando autorizado por Deus para tomar tudo quanto Jó possuía, o adversário de nossas almas procurou atacar, com requinte de crueldade, os filhos de Jó, que faziam parte da “herança do Senhor” (Cf. Sl.127:3).
- Satanás sabia o grande amor que Jó tinha por seus filhos, o cuidado com que procurava zelar pela vida espiritual deles e, como tal, quis “coroar com chave de ouro” toda a maldade que cometia contra o patriarca, para ver se ele blasfemava do Senhor.
- Notemos, irmãos, que Jó era um exímio servo de Deus, o Senhor dava testemunho dele, e, por isso mesmo, era um pai dedicado aos filhos e tinha como missão, como tarefa impedir que seus filhos deixassem de ser tementes ao Criador, ao Todo-Poderoso, que se mantivessem em santidade.
- Embora sua condição econômico-financeira permitisse que o patriarca desse aos filhos uma vida materialmente esplendorosa, tanto que eles viviam em festas e banquetes, o fato é que Jó dava relevância ao que realmente era importante, ou seja, à vida espiritual de cada um deles.
- Muitos, na atualidade, em nome de um bem-estar material de seus filhos, não dão o devido valor à orientação espiritual e ao papel sacerdotal que deve ter o pai de família, ficando satisfeitos em dar “boas condições de vida” aos filhos.
- Infelizmente, o que se verifica é que, ao negligenciarem a vida espiritual dos filhos, ao não se preocuparem em exercer o sacerdócio familiar, levando-os à presença do Senhor, estes filhos, por mais opulência material que tenham, acabam por se envolver com o pecado e, não raras vezes, a perder suas vidas antes mesmo de seus pais, mas não por ação sobrenatural, com ocorreu com os filhos de Jó, mas por causa das próprias veredas tortuosas que passaram a trilhar.
- Sabendo o cuidado que tinha Jó com os seus filhos, Satanás buscou criar uma situação em que o clímax das perdas sofridas pelo patriarca fossem os próprios filhos. O diabo, desta maneira, mostra que a família é o bem mais importante que um servo de Deus honrado pelo próprio Senhor tem.
- Notemos, por primeiro, que o diabo resolveu agir em uma das festas realizadas pelos filhos, não no momento da santificação feita pelo patriarca aos seus filhos, isto é, no momento do culto doméstico.
- Isto é muito elucidativo. Quanto mais a família estiver aos pés do Senhor, quando mais estiver em momentos coletivos de adoração, o diabo não se aproximará, não poderá agir, porque aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente, descansará (Sl.91:1). Quando nos reunimos em nome de Jesus, Ele Se faz presente em nosso meio (Mt.18:20) e, como o diabo nada tem com o Senhor, quando ele tenta se aproximar, Jesus já nos distancia dele (Jo.14:30,31).
- Por isso, devemos evitar circunstâncias em que se criem ambientes favoráveis à prática do pecado ou à manifestação do mal. Sabemos que o diabo é atrevido e se apresenta mesmo em reuniões de culto e de adoração a Deus, aliás, a própria santidade e reverência da reunião faz com que haja tais manifestações, notadamente em nossos dias em que há um evidente aumento da ação demoníaca, mas o fato é que, quando isto acontece em tais ambientes, é para a manifestação da glória e do poder de Deus.
- Entretanto, quando se está em ambiente profano, em situações propícias à manifestação da carne e do pecado, estamos em um “território inimigo” e a manifestação do mal e do pecado se dá para detrimento de nossa vida espiritual, para que sejamos “cirandados como trigo” (Cf. Lc.22:31).
- Embora não possamos dizer que os filhos de Jó fossem ímpios ou pecadores, não é difícil entendermos que não eram um exemplo de vigilância e de prudência, a ponto de Jó já de antemão interceder por eventuais pecados que pudessem ter cometido, exatamente porque frequentavam ambientes propícios a tal prática.
- O diabo escolheu precisamente uma destas festas para poder ceifar a vida daqueles jovens, e bem no dia em que a festa se dava na casa do primogênito que, pela cultura oriental, era o “vigor” dos pais, o filho proeminente, aquele que havia de suceder ao pai na chefia da família.
- O objetivo do inimigo era minar a fé de Jó e fazê-lo blasfemar de Deus e, por isso, com muito cuidado urdiu seu plano para destruir a todos os filhos, de uma só vez, e da maneira mais espetacular possível.
- Para causar a morte dos filhos de Jó, o diabo fez uso de “um grande vento sobrevindo do deserto”, que deu nos quatro cantos da casa do filho primogênito e que caiu sobre os jovens e todos os que ali estavam, somente escapando um, que veio contar os fatos para o patriarca (Jó 1:19).
- O alvo do diabo eram os filhos de Jó. O inimigo sempre mira os nossos filhos, querem, através deles, destruir a nossa estrutura de pai, a nossa confiança em Deus. Ele usa seus agentes para matar, roubar e destruir (Jo.10:10) e não há forma mais terrível para tentar fazer abalar a fé de um servo de Deus do que tocar nos seus filhos.
- Jó, até então, tinha ouvido as notícias da grande tragédia que sobrevinha a sua vida, abalado, logicamente, mas suportando dentro do possível o que ficava a saber. Mas, quando chega a notícia da morte dos seus filhos, Jó não mais pôde resistir. Como verdadeiro e genuíno servo de Deus, ele dava mais valor às pessoas do que às coisas e, entre as pessoas, especial relevo a sua família, a seus filhos.
- Jó, ao receber a notícia da morte dos filhos, rasgou o seu manto, rapou a sua cabeça, lançou-se em terra e adorou (Jó 1:20).
- Estas atitudes demonstram como deve se comportar um genuíno e autêntico servo de Deus quando lhe sobrevém a grande tragédia da perda dos filhos, ainda mais quando esta perda, como já dissemos, não tem qualquer ligação com o comportamento que os pais tiveram em relação a seus filhos, no cumprimento do dever que Deus lhes deu.
- Jó, primeiro, mostrou o seu luto. Rasgou a sua veste e rapou a sua cabeça. Este era um comportamento típico do enlutado, daquele que demonstrava estar triste com a situação.
- O servo de Deus deve ser autêntico e, diante da morte dos filhos, evidentemente ficará triste, enlutado e deve expressar naturalmente esta tristeza, esta terrível dor que, como já salientamos, é um duplo inconformismo decorrente da própria natureza humana.
- Entretanto, esta sua tristeza não se mistura com revolta contra Deus. Jó, apesar de seu estado lamentabilíssimo, lançou-se em terra e adorou ao Senhor. Reconhecia que Deus é o dono da vida e que Ele dá a vida e a tira (I Sm.2:6), é Ele quem é e mais nenhum deus, é Ele quem mata e quem faz viver, quem fere e quem sara e ninguém há que escape da Sua mão (Dt.32:39).
- Jó reconhecia o senhorio divino e, embora nada entendesse, e não era mesmo para entender pois como saber o que havia se passado nas regiões celestiais e que tudo iria contribuir para o seu desenvolvimento espiritual, simplesmente adorou ao Senhor.
- Jó adorou a Deus pelo que Ele era, não pelo que Ele fazia. Assim, embora achasse que tivesse sido o Senhor o responsável pela morte de seus filhos, sabia que fora Deus quem os havia dado e que, de direito, poderia tomá-los (Cf. Jó 1:21).
- Jó não se revoltou contra Deus, não blasfemou, não pôs a culpa em Deus. Simplesmente adorou ao Senhor e reconheceu que o que Deus faz é sempre o melhor.
- Ao final da história, vemos que a morte destes jovens por primeiro impediu que, diante da vida vacilante que tinham, viessem a perder a comunhão com Deus. Por segundo, vemos que, após a prova, Jó teve outro conjunto de filhos que era espiritualmente melhor que o primeiro e que não lhe trouxe tantos temores quanto antes (Jó 42:13-15). Deus refez a família do patriarca e com melhor qualidade espiritual e ainda deu ao patriarca a alegria de contemplar até à quarta geração (Jó 42:16), o dobro do que se promete ao justo (Sl.128:6).
- Quando os pais tiverem de sepultar seus filhos, que sigam o exemplo do patriarca Jó. Chorem à vontade a dor da separação aos pés do Senhor, mas sempre reconheçam que o que Deus faz é sempre o melhor, e que devemos tão somente adorá-l’O. É fácil? Lógico que não! É possível? Jó nos mostra que sim.

UMA FAMÍLIA NADA PERFEITA

 

INTRODUÇÃO
- Na sequência do estudo dos relacionamentos familiares, abordaremos hoje a questão da perfeição na vida familiar.
- A vida familiar deve caminhar em direção à perfeição.
I – A PERFEIÇÃO NA VIDA FAMILIAR
- Na sequência do estudo dos relacionamentos familiares, abordaremos hoje a questão da perfeição na vida familiar.
- A questão da perfeição é uma das discussões mais presentes no estudo da Palavra de Deus. O homem, por ser uma criatura, jamais pode ser perfeito.
- Somente Deus, que é o Criador, é um ser perfeito, pois “perfeição”, diz-nos o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é “estado ou condição de quem ou do que atingiu a máxima completude; condição de quem ou do que se mostra isento de defeitos, de imperfeições”, vindo da palavra latina “perfectio,onis”, de “perfectus”, “'fazer inteiramente, acabar, terminar, perfazer; fabricar (com arte), aperfeiçoar”.
- Tem-se, pois, que o “ser perfeito” é aquele que está acabado, terminado, feito, e somente Deus assume tal condição, pois Ele é eterno, Ele não tem o que Se completar, ao contrário do homem, que, sendo limitado, sempre tem condições de seguir se aperfeiçoando, se completando, principalmente quando se sabe que tem, por propósito divino, estar em comunhão com o Senhor e, portanto, ter condições infinitas de aperfeiçoamento.
- Assim, mesmo quando foi criado sem pecado, o homem não era perfeito. Percebamos que as Escrituras dizem que Deus fez o homem reto (Ec.7:29), ou seja, santo, justo, sem pecado, mas não “perfeito”.
- Há vários indicadores na Bíblia Sagrada que indicam que o homem, mesmo antes do pecado, não era perfeito. Deus viu que ele estava só e lhe fez uma adjutora, ou seja, faltava algo para o homem (Gn.2:18); o homem não tinha consciência de sua inteligência e de sua solidão (Gn.2:19,20); quando posto no jardim do Éden, foi dito ao homem que ele poderia lavrá-lo, ou seja, modificá-lo, consoante a sua criatividade, prova de que poderia cada vez mais se aperfeiçoar (Gn.2:15).
- Com a entrada do pecado no mundo, então, esta imperfeição se intensificou pois, agora, além de imperfeito, o homem passou a ter a natureza pecaminosa, que o tendia à transgressão, ao distanciamento de Deus, a exigir, assim, uma santificação, a obtenção de uma “perfeição moral e espiritual”, que, até então, era desnecessária.
- Pois bem, se isto ocorre no ser humano enquanto indivíduo, evidentemente que isto também ocorrerá na vida familiar. Um homem e uma mulher imperfeitos não poderão produzir um casal perfeito, de sorte que não se pode imaginar que haja uma família perfeita.
- Isto se dava já no Éden. Se é certo que, antes do pecado, o primeiro casal vivia uma situação de santidade e de plena comunhão entre si e com Deus, não é menos certo que eram imperfeitos, tanto que, toda viração do dia, o Senhor vinha ao seu encontro precisamente para lhes promover o aperfeiçoamento.
- A relação conjugal era plena e transparente (Gn.2:25), havia um compartilhamento de vida exemplar entre marido e mulher, mas não havia a perfeição, tanto que, em um dos momentos de vacilação, podemos assim dizer, o diabo pôde tentar Eva, quando esta se encontrava, por algum motivo, apartada de seu marido.
- Com o pecado, então, tivemos já um rompimento desta comunhão plena entre marido e mulher, exteriorizado pelo pudor, a vergonha que cada um teve do outro por estarem nus, resultado da “abertura de olhos” prometida pela serpente mas que não tinha a consequência dada pelo pai da mentira.
- Em seguida, vê-se que este estranhamento levou à atribuição de culpa pelo homem à mulher e pela mulher à semente, revelando-se, então, já o pecado, o desamor, o individualismo. À imperfeição substancial uniu-se, pois, a imperfeição moral e espiritual.
- A primeira família, então, aumentou a sua imperfeição e, logo mais, iria experimentar a tragédia do assassinato de Abel por Caim, trazendo para dentro de si ainda mais pecado.
- No entanto, vê-se que, antes mesmo do assassinato de Abel, esta família duplamente imperfeita apresentou uma direção em torno da perfeição. Caim e Abel eram adoradores do Senhor, ofereciam-Lhe sacrifícios, assim tendo sido ensinados por seus pais, que também haviam crido plenamente na promessa da salvação. Embora imperfeita e tendo tido a trágica experiência do fratricídio, vemos que houve, sim, espaço para que a família se tornasse o altar de Deus, o ambiente de busca da invocação do nome do Senhor.
- Esta mesma linha foi adotada por Sete que, ao passar a invocar o nome do Senhor com o nascimento de seu filho Enos (Gn.4:26), deu origem ao primeiro povo de Deus na face da Terra (Cf, Gn.6:2), gerando uma linhagem santa que, infelizmente, acabou por misturar-se com os incrédulos (Gn.6:1,2), criando famílias totalmente voltadas para o modo pecaminoso de viver e que resultou no juízo divino do dilúvio.
- Mas, em meio a esta degradação total da humanidade, sobressaiu uma família, que se manteve buscando a presença de Deus, que era a família de Noé (Gn.6:8-10), uma família pautada pela justiça e retidão, ou seja, que procurava obedecer a Deus e a seus ditames, tanto que, ao contrário dos demais, tínhamos ali quatro casais monogâmicos, que ainda observavam as regras divinas relativas à constituição de família (Gn.2:24).
- A família de Noé não era perfeita, tanto que temos o episódio a envolver Noé e seus filhos depois do dilúvio (Gn.9:20-29), em que houve, inclusive, a maldição de Noé a seu neto Canaã, mas foi uma família que buscou a presença do Senhor e cuja adoração, inclusive, fez com que Deus prometesse nunca mais destruir a Terra com um dilúvio (Gn.8:18-22).
- As famílias dos patriarcas, a partir das quais o Senhor formou o povo de Israel, também não eram perfeitas, embora se notasse nelas a busca da perfeição. Por vezes, atitudes pecaminosas vieram a trazer sérios problemas, mas o fato é que houve sempre arrependimento e demonstração de fé em Deus para que se caminhasse na direção dos propósitos divinos.
- Esta tônica, aliás, foi traçada pelo próprio Deus, quando Se dirigiu a Abraão, depois de treze anos de silêncio, silêncio este motivado pelo fato de Abrão ter aceitado ter um filho com Agar, ocasião em que lhe disse: “Anda na minha presença e sê perfeito” (Gn.17:1).
- “Perfeito” aqui é a palavra hebraica “tāmîm” ( תמי ם ), “…inteiro (literal, figurado ou moral); também (como substantivo) integridade, verdade:— sem mancha; sem defeito; inteiro, perfeito, (em) sinceridade, sinceramente, (com) integridade, reto, irrepreensível, sincero, inculpável. Adjetivo que significa irrepreensível, completo…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 8549, p.2006).
- O que Deus exigia, portanto, do patriarca é que ele fosse perfeito do ponto de vista espiritual e moral, obediente, sincero, santo, que não Lhe desobedecesse e cumprisse a Sua vontade.
- É preciso que haja, por parte dos integrantes de uma família, esta disposição de agradar a Deus, de fazer-Lhe a vontade, sempre pedindo perdão, imediatamente, pelos pecados cometidos, tomando uma firme direção de seguir rumo à pátria celestial (Cf. Hb.11:9-16). Assim como Abraão, devemos ter sempre, em nossas vidas, o altar e a tenda, ou seja, buscar a presença do Senhor, adorá-l’O e não se prender a este mundo, tendo como alvo a vida na glória celestial com o nosso Deus.
- Foi esta disposição que fez com que as famílias dos patriarcas formassem o povo de Israel. É esta mesma disposição que permite que as nossas famílias formem a igreja local, a expressão social deste povo espiritual que é a Igreja.
- Quando se tem tal disposição, mesmo as nossas falhas acabam por serem direcionadas pelo Senhor que transforma o mal em bem, visando, sempre, não só a preservação da família mas a sua utilização para os desígnios divinos (Gn.50:19,20).
- Não há família perfeita, até porque não há ser humano perfeito. Todas as famílias têm as suas imperfeições, mas deve haver sempre a prontidão para arrependimento de pecados e para a santificação contínua, para que se tenha a constante purificação dos relacionamentos familiares e a família possa ser um instrumento nas mãos do Senhor não só para a edificação de seus integrantes mas para a salvação das almas e edificação dos demais servos de Deus.
- Até mesmo a “Sagrada Família”, ou seja, a família de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo não era perfeita. Nosso Senhor foi o único homem perfeito sobre a face da Terra, porque, além de homem sem pecado e que escolheu não pecar, é, também, Deus. No entanto, vemos imperfeições na sua família, decorrência das imperfeições dos demais integrantes.
- Assim é que José e Maria “perderam” Jesus quando da primeira ida oficial do menino, ao templo, para assumir a sua responsabilidade diante de Deus, a demonstrou certo descuido (Lc.2:43-Mc.3:21,31-35).
Os irmãos de Jesus, que não criam n’Ele, quiseram que o Senhor Se apresentasse publicamente para ganhar adeptos (Jo.7:1-9).
- Entretanto, estas imperfeições não retiraram da “Sagrada Família” a sua disposição de servir a Deus e de praticar a justiça. José era um homem justo (Mt.1:19), assim como Maria, que era uma serva do Senhor (Lc.2:38). O casal sempre foi obediente à voz do Senhor e aceitou todos os encargos e incômodos de terem o Messias em seu lar. Depois, Maria e os irmãos de Jesus creram que Jesus era o Senhor e Salvador da humanidade, tanto que, já salvos, foram posteriormente revestidos de poder no dia de Pentecostes (At.1:14).
II – CASUÍSTICA BÍBLICA: A FAMÍLIA DE DAVI
- Nosso comentarista ilustra a questão da perfeição familiar com a família de Davi, que, como diz o título da lição, era uma família nada perfeita.
- Todos os homens são pecadores (Rm.3:23). Uma das maiores demonstrações de que a Bíblia é a Palavra de Deus está na sua imparcialidade, imparcialidade que está ausente de qualquer livro escrito pelos homens. Deus não faz acepção de pessoas (Dt.10:17; At.10:34), de modo que mesmo os grandes heróis da fé, e Davi é um deles (Hb.11:32), são apresentados como seres humanos e, portanto, como pessoas que, ao longo de suas vidas, pecaram e sofreram as consequências de seus erros diante de Deus.
- Davi não é exceção. Embora a Bíblia o apresente como o grande rei de Israel, o construtor do apogeu da história israelita, o grande guerreiro, o escolhido para fundar a dinastia de onde proviria o Messias, o mavioso salmista de Israel, não esconde as suas falhas, os seus vergonhosos erros. Além do compromisso com a verdade, até porque a Palavra de Deus é a verdade (Jo.17:17) e a revelação de um Deus que é a Verdade (Jr.10:10), a narrativa das falhas e erros dos grandes homens e mulheres de Deus são, também, uma lição para os salvos, contraexemplos, ou seja, ao vermos os erros destas personagens, aprendemos como não devemos fazer, para que não se repitam as drásticas consequências constantes da narrativa bíblica.
- A principal falha de Davi narrada nas Escrituras diz respeito ao seu comportamento familiar. Davi não é um exemplo para se seguir em termos familiares, tanto na forma como se casou como também na forma como criou os seus filhos. Não é de se surpreender, portanto, que, quando da sentença divina sobre Davi, tenha sido a sua família a principal vítima (II Sm.7:10-12).
- Pelo que observamos do texto sagrado, Davi foi criado num ambiente familiar que não o levava muito em conta. Quando Samuel vai a casa de Jessé para ungir um dos filhos deste como novo rei de Israel, Davi, por ser “o menor”, nem sequer foi convidado para participar dos sacrifícios pacíficos oferecidos pelo velho profeta e sacerdote nem tampouco do banquete que se lhe seguiu (I Sm.16:5,11,12). Vemos, pois, que Davi já teve uma criação de menosprezo durante sua infância e início de adolescência, o que, certamente, teve influência decisiva para o seu comportamento familiar no desenrolar de sua vida.
- Davi foi menosprezado como filho em sua casa. Apesar de obediente a Jessé e zeloso em suas tarefas domésticas, era carente de afeto e de companhia, circunstância que muito explica seu comportamento ao longo de sua vida. A psicologia mostra-nos que o ser humano forma o seu caráter nos três primeiros anos de vida e que tudo o que aprender e acrescer após este período é tão somente complemento daquele núcleo que permanece inalterado até o final da sua existência, salvo, obviamente, a alteração promovida pelo “novo nascimento”. No entanto, quão poucas pessoas, na atualidade, preocupam-se com este dado e desprezam completamente a educação de suas crianças, deixando-as à mercê de uma doutrinação satânica.
- Davi, apesar de desprezado como filho, vivia num lar que, ao menos aparentemente, se conduzia de acordo com a sã doutrina. Davi, pelo menos, era obediente e recebeu bons exemplos de seu pai, como, por exemplo, como já vimos em lições anteriores, o cuidado com o rebanho e o zelo em não se apresentar a homens de autoridade de qualquer maneira. Por isso, apesar de seus fracassos na área familiar, pôde ter uma vida agradável ao Senhor. Mas, como seria Davi se não houvesse este respaldo doutrinário em sua casa? Como seria Davi se, além do menosprezo sofrido em termos de afeto e solidariedade, também não tivesse tido qualquer instrução na Palavra de Deus e nos bons costumes sociais?
- A má formação familiar de Davi teve repercussão na vida deste homem de Deus. Quando vai ao encontro de seus irmãos durante a guerra contra os filisteus, vemos, na reação do irmão mais velho de Davi, Eliabe (I Sm.16:28,29), a hostilidade que Davi sofria desde o instante em que havia sido ungido pelo profeta como rei de Israel. Já não bastasse ter sido menosprezado em sua criação durante a infância e início da adolescência, depois de ter recebido a bênção da unção, Davi adquiriu a hostilidade dos de sua casa. Teve de se respaldar em outros para saber qual era a oferta do rei Saul e para conseguir se apresentar ao monarca a fim de mostrar sua disposição para lutar contra o gigante, sem qualquer apoio familiar.
- Davi, ainda que de pouca idade, não se sentia bem em sua casa e o que mais lhe chamou a atenção nos comentários feitos em torno da batalha contra os filisteus, foi de que o rei daria sua filha em casamento a quem enfrentasse o gigante (I Sm.17:25,26,30). Davi, que tinha já a promessa divina de se tornar rei de Israel, viu aí a sua grande oportunidade de ver concretizada a bênção da unção, tornando-se genro do rei.
- O que mais chamou a atenção de Davi, pois, foi a oportunidade de constituir uma família, de pertencer à família do rei, prova de que não se sentia bem em sua própria família, pelos motivos que já dissemos: o menosprezo e a hostilidade. Quantos não procedem assim ainda hoje: buscam constituir novas famílias somente para se livrar das famílias onde estão? Ou, o que é pior ainda, buscam substituir suas famílias por outros grupos sociais que lhes tragam um pouco de afeto, consideração e reconhecimento, que não têm em seus lares e, por isso, passam a frequentar gangues, quadrilhas, “tribos”, comunidades virtuais, redes sociais, torcidas organizadas de clubes de futebol, grupos vocais (inclusive nas igrejas locais) e tantos outros grupos, única e exclusivamente para ter aquilo que não encontraram em suas casas?
- Davi estava buscando sair de sua família e, ao vencer o gigante, conseguiu seu intento, pois Saul não mais o deixou voltar para a casa de seu pai (I Sm.18:2). Imediatamente, Davi começou a servir a Saul com todo o entusiasmo e com toda a dedicação, ainda que se conduzia sempre com prudência, comportamento este que é resultado não só da presença do Espírito Santo na sua vida, mas também de uma boa formação familiar quanto a este quesito, pois, como já dissemos, tudo nos indica que, apesar de falho em afeto e companheirismo, Jessé soube ensinar a sã doutrina a seus filhos.
- Este entusiasmo com a sua posição no reino fê-lo esquecer, momentaneamente, do desejo de casar-se com a filha do rei, até porque já tinha um outro grupo onde buscasse afeto e sociabilidade. No entanto, quando foi atacado por Saul e feito chefe de mil, tal desejo voltou a Davi, inclusive porque Saul renovou a proposta de casamento, ainda que não tenha entregado Merabe a Davi, uma vez que este não se entusiasmou com a oferta de sair desvairadamente com sua gente de guerra (I Sm.18:17-19).
- No entanto, Davi percebeu que Mical, a outra filha de Saul, engraçava-se dele e, quando isto chegou ao conhecimento de Saul, tentou o rei fazer com que este sentimento fosse um laço para a vida do jovem que ameaçava o seu trono. Apesar de, num primeiro instante, Davi manter-se equilibrado, ante a oferta para ser genro do rei, reconhecendo não ter posses para casar-se com a princesa, acabou sendo levado pela proposta de que bastariam cem prepúcios de filisteus para que pudesse ter a mão de Mical em casamento (I Sm.18:20-26).
- Notamos aqui como a má formação familiar de Davi o levou a uma decisão precipitada, interesseira e sem qualquer orientação divina. Davi necessitava de uma mulher, sabia que Mical estava apaixonada por ele e, certamente, também se apaixonou por Mical, pois, se assim não fosse, não teria obtido duzentos em vez de cem prepúcios de filisteus. Um casamento nascido da atração física, da fama, do interesse, sem qualquer orientação divina, e isto por parte de um homem que tinha o Espírito Santo. Que tristeza! Lamentavelmente, muitos agem assim ainda em nossos dias: são servos do Senhor, mas, na hora do casamento, não buscam a orientação divina, deixando-se levar por tudo, menos pela vontade do Senhor.
- Davi entregou o dobro do dote supostamente querido por Saul (que, na verdade, queria a morte de Davi pela espada dos filisteus) e, desta maneira, casou-se com Mical. Um casamento movido por paixão e por interesses e que não poderia ter outro fim senão o desastre, o fracasso. Davi alcançou a posição de genro do rei, mas vemos que o relacionamento dele com Mical não foi bom. Não se diz quantos anos ficaram casados, mas o fato é que Davi se dedicava intensamente a suas funções de chefe de mil, enquanto que Mical era relegada a um segundo plano, tanto que nem sequer filhos Davi teve com Mical, prova de que o relacionamento conjugal não era dos melhores.
- Aliás, o que notamos, durante toda a vida de Davi, é seu desprezo para com suas mulheres. No lamento pela morte de Jônatas, Davi exclama que a amizade que tinha com o primogênito de Saul era maior que o “amor das mulheres” (II Sm.1:26). Se é certo que esta declaração jamais pode ser interpretada como indício de homossexualismo de Davi, também é evidente que Davi via o seu relacionamento com suas mulheres num patamar de inferioridade.
- Apaixonado por Mical, quando do momento da grande perseguição sofrida por causa de Saul, Davi viu que um casamento com base na paixão e no interesse não tem condições de perdurar. Mical, tendo sabido de toda a armadilha de seu pai, comunicou tudo a Davi, mas não quis acompanhá-lo, preferindo a corte a seu marido (I Sm.19:12-17). Como se isto não bastasse, Davi ainda fica sabendo que Mical fora dada a outrem como mulher (I Sm,.25:44), ou seja, Mical não fez qualquer objeção em mudar de marido, desde que mantivesse a sua posição na corte. Um duro golpe para um marido: ser abandonado pela mulher em troca de posição e conforto. Menosprezado e hostilizado na casa de seu pai, Davi agora era desprezado por sua própria mulher.
- Neste estado desesperador, Davi teve um momento importante em sua vida familiar, qual seja, a ida ao seu encontro de seus familiares, que foram encontrar-se com ele na caverna de Adulão (I Sm.22:1). Neste instante, vemos que o Senhor, ouvindo o clamor do Seu ungido, num momento de angústia e sofrimento, ensinou-lhe o caminho correto para termos afeto e companheirismo: a família.
- Vemos nesta passagem uma linda demonstração de quanto nosso Deus prioriza a família e o papel que quer que ela exerça na vida de cada ser humano. Apesar de menosprezado e hostilizado quando ainda não tinha a fama e a posição que adquiriu em Israel, Davi recebe a companhia de seus familiares num momento extremamente crucial de sua vida. Temos para nós que a ida dos familiares a Adulão foi obra do Espírito Santo, pois não há como entender-se que familiares que, antes, não davam qualquer valor a Davi, fossem ao seu encontro justamente na hora em que havia perdido tudo em Israel.
- Após este verdadeiro oásis na vida desértica familiar de Davi, vemos que o jovem não aprendeu a importante lição que o Senhor lhe dera em Adulão. Em vez de valorizar a família, continuou a tratar este assunto num plano inferior de seus interesses e preocupações.
- No episódio que envolveu o judaíta Nabal, que negou víveres a Davi, Davi teve contato com a mulher deste, Abigail que, com sua sabedoria e excelência de conduta, salvou a sua casa de ser atacada por Davi e seus homens. O próprio Deus providenciaria que Nabal morresse logo em seguida e, logo em seguida, atraído pela formosura e inteligência de Abigail, Davi resolve casar-se com Abigail, que, também atraída por Davi, apressadamente aceitou o convite (I Sm.25:39-42).
- Neste segundo casamento de Davi, vemos praticamente os mesmos erros do primeiro. Senão vejamos. Davi estava extremamente irado diante da recusa e do desprezo de Nabal, que tinha em seu intento não deixar ninguém da casa de Nabal com vida até o amanhecer (I Sm.25:34). Abigail conseguiu apaziguá-lo com muita sabedoria, prostrando-se diante dele, chamando-se de serva e com víveres em relativa abundância. Davi impressionou-se com as atitudes de Abigail e o ódio que estava a alimentar transformou-se em atração física, pois a Bíblia nos diz que se tratava de mulher de bom entendimento e formosa (I Sm.25:3).
OBS: A tradição judaica diz que Abigail foi uma das quatro mais formosas mulheres que já viveram sobre a face da Terra (KADARI, Tamar. Abigail: midrash and aggadah. Disponível em: http://jwa.org/encyclopedia/article/abigail-midrash-and-aggadah Acesso em 21 out. 2009).
- No entanto, vemos que, em primeiro lugar, apesar de ter se sentido atraído por Abigail e tê-la tomado por mulher, Davi também não estabeleceu um relacionamento conjugal completo com sua mulher, tanto que não teve filhos com ela antes de os ter com Ainoã. Tudo nos leva a crer que o mesmo comportamento que tivera com Mical, de um deslumbramento inicial, seguido de um certo desprezo, repetiu-se com Abigail. Davi mostra que sempre deixava a sua condição de marido num plano inferior de seus interesses, preocupando-se muito mais nas pelejas e nas campanhas de seus homens do que em atender a mulheres que, por sinal, haviam resolvido se casar com ele por causa de suas carências afetivas.
- Em segundo lugar, vemos que, além da motivação do impulso, outro fator animou Davi a desposar tanto Abigail quanto Ainoã: o fato de Mical ter sido dada a outrem como mulher (I Sm.25:44). Davi casava-se, assim, não tanto por sentir necessidade de uma companheira, mas para mostrar a todos que não se sentia abalado pelo fato de ter sido abandonado por sua primeira mulher. Com estes dois casamentos, Davi como que procurava demonstrar uma “forra”, uma vingança em relação a Mical, como que buscava “recuperar a sua imagem” diante do povo de Israel, querendo dizer que não se intimidara nem se abalara com o gesto de Saul que procurava desmoralizá-lo aos olhos da sociedade.
- Nesta sua motivação totalmente equivocada e sem qualquer orientação divina, Davi ainda seguiu o costume da poligamia, uma das muitas manifestações culturais absorvidas pelo povo de Israel dentre as nações que estavam à sua volta e que haviam sido mantidas, inclusive na lei, por causa da dureza dos corações dos israelitas (Mt.19:4-8).
- Apesar de ter duas mulheres, Davi não teve filhos enquanto não passou a reinar sobre a tribo de Judá em Hebrom, numa clara demonstração que não dava qualquer prioridade a seu relacionamento com suas mulheres, mas, sim, a suas campanhas militares. Construiu, assim, muito mal a sua família, com a mesma falta de afeto e companheirismo que parecia ter sido a tônica de sua infância e adolescência em Belém.
- Já reinando sobre Judá, Davi percebeu que era necessário ter descendência. O fato de ter tido filhos somente quando se estabeleceu em Hebrom é menos um despertamento para a necessidade de dar o devido valor a seu relacionamento conjugal e muito mais um desencargo de suas obrigações reais, pois todo rei deve, numa monarquia, fazer sucessor, ou seja, ter filhos. Por isso, passa a ter esta preocupação e surge, então, a sua prole. Ainoã lhe dá o primogênito: Amnom. O significado de “Amonom” é “fiel”, expressão que mostra que, neste instante, Davi estava grato a Deus por já estar a reinar sobre a sua tribo, na convicção de que a promessa divina para sua vida seria cumprida.
- Em seguida, teve um filho com Abigail, Quileabe ou Daniel (II Sm.3:3; I Cr.3:1), cujo nome significa respectivamente “inteiramente pai” e “Deus é meu juiz”, expressões que demonstram que, neste momento, Davi, por ter filhos de ambas suas mulheres, considerou-se como pai no sentido pleno, bem como lembrando que Abigail lhe fora por esposa porque Deus o havia impedido de matar Nabal, fazendo justiça por ele.
- Nestes nomes dados a seu segundo filho (que parece não ter vivido muito, pois dele não fala mais o texto sagrado), Davi mostra, muito bem, que sua preocupação em ter filhos era o de promover a sua sucessão. Mais uma vez o lado familiar e afetivo era relegado ao segundo plano, algo que, infelizmente, temos visto na vida de muitos servos do Senhor, principalmente daqueles que são chamados para o ministério. Que a vida conturbada de Davi por causa deste menosprezo à família sirva de exemplo para estes obreiros, antes que seja tarde demais!
- O desprezo para com a vida familiar não pararia aí, entretanto. Já não bastasse ter aceitado a poligamia, Davi, também, adota o costume dos reis das outras nações de efetuar “casamentos políticos”, ou seja, de firmar alianças com os outros povos mediante o casamento com integrantes das famílias reais dos países vizinhos, fazendo com que a paz política se traduzisse em alianças familiares entre as dinastias, tática que até hoje caracteriza grande parte da realeza ainda existente no mundo.
OBS: Oportuno verificar que a principal religião do mundo a admitir a poligamia, na atualidade, é o islamismo. A admissão da poligamia pelos muçulmanos deve-se, precisamente, ao fato de que Maomé, o profeta do islamismo, ter estabelecido o seu império na Arábia principalmente por meio de alianças firmadas com base em casamentos políticos.
- A Bíblia diz-nos que, uma vez em Hebrom, Davi casa-se pela terceira vez, desta feita com Maaca, filha de Talmai, que era o rei de Gesur (I Sm.3:3). Gesur era um pequeno principado arameu a leste do rio Jordão e ao sul de Maacá, que fazia parte do território da tribo de Manassés e que não tinha sido até então conquistado pelos israelitas (Js.13:2,13), contra quem Davi havia lutado, nos tempos em que servira a Áquis (I Sm.27:8) e com quem Davi, durante sua contenda com Isbosete, quis fazer paz, a fim de melhorar sua situação política.
- Usar do casamento como instrumento para melhorar sua situação político-militar foi outro grande erro na vida de Davi e que, aliás, seria seguido por Salomão a um ponto tal que acabou por gerar a perda da unidade de Israel e quase que a salvação do terceiro rei de todo o Israel (I Rs.11:1-13).
- Mas Davi não se limitou a se casar com Maaca. Em Hebrom, também, casou-se com Hagite, a mãe de Adonias (I Sm.3:4). As Escrituras informação alguma dão sobre esta mulher, mas a tradição judaica diz ter sido uma “dançarina” que Davi teria tomado por mulher em mais de seus impulsos amorosos. O nome “Hagite” significa “nascida em dia festivo”, “festiva”, talvez daí advindo esta tradição. De qualquer maneira, pelo fato de Davi jamais ter contrariado Adonias durante toda a sua vida (I Rs.1:6), pode-se daí deduzir que Hagite tinha alguma ascendência sobre Davi, algum poder sedutor sobre ele. Mais um casamento feito com base na paixão, no impulso, sem qualquer orientação divina e que traria a Davi sérias consequências no futuro, pois Adonias, em uma grande desonra ao pai, tentou tomar-lhe o trono quando o rei já se encontrava bem envelhecido e próximo à morte.
- O nome dado ao filho de Hagite, ou seja, “Adonias”, que significa “Jeová é Senhor”, mostra como Davi estava mesmo é ocupado de sua guerra com Isbosete e com a confirmação do reino de Israel em suas mãos. Ao dar este nome ao filho de Hagite, notamos claramente que se estava naquele momento em que Davi percebia que Deus estava do seu lado e fortalecendo o seu partido em detrimento do de Isbosete ((II Sm.3:1)
- Davi, também, casou-se com Abital, a mãe de seu quinto filho, Sefatias (II Sm.3:4), pessoa sobre a qual também a Bíblia silencia quanto a procedência ou às circunstâncias de seu casamento com o então rei de Judá. O nome dado a este filho, “Sefatias”, cujo significado é “Jeová tem julgado”, percebemos que Davi continuava com a primazia de suas ocupações na vida político-militar, pois tudo indica que Davi está se referindo aos movimentos de Abner para constituí-lo rei sobre todo o Israel e, inclusive, sobre o retorno de Mical ao convívio com Davi (II Sm.3:12-19).
- Ainda em Hebrom, Davi casou-se com Eglá, mãe de Itreão (II Sm.3:5). “Itreão” significa “fartura de gente” e isto nos indica, uma vez mais, que Davi tinha como objetivo, ao ter filhos com estas mulheres, tão somente assegurar a sua descendência dinástica. Via os casamentos, portanto, como mero instrumento para a sua segurança como rei de Judá partindo para ser rei de todo o Israel, num total e completo menosprezo a sua vida familiar.
- Notemos que Davi teve um filho com cada mulher, a demonstrar que o relacionamento estabelecido com elas era meramente utilitário, visava tão somente fazer descendentes para garantir a continuidade dinástica. Mesmo as duas mulheres que a Bíblia diz terem amado Davi, terem sido atraídas por ele (Mical e Abigail) tiveram este amor como secundário frente à amizade que Davi tinha com Jônatas, como já vimos.
- Nesse meio tempo, o retorno de Mical, uma exigência de Davi a Isbosete para continuar as tratativas de paz na guerra civil (II Sm.3:13-16), não revela qualquer sentimento que um nutrisse pelo outro nesse momento da vida de cada um. A paixão havia esfriado completamente. Mical, insensível, como nos prova o seu comportamento de indiferença diante da demonstração de amor feita pelo seu segundo marido quando ela ia a caminho de Hebrom, aceitara a condição precisamente porque via ali a grande oportunidade de retornar a uma posição social de destaque, tornar-se rainha de Judá, presumivelmente com proeminência sobre as demais mulheres de Davi, já que tinha sido a primeira esposa de Davi, num instante em que os da casa de Saul percebiam nitidamente que o reino estava sendo transferido a Davi.
- Por parte de Davi, o retorno de Mical era apenas um gesto de autoafirmação, uma demonstração pública a todo o Israel de que havia “recuperado” a sua mulher. Mical era um “troféu” político, uma demonstração de sua vitória sobre a casa de Saul. Tanto assim é que não houve qualquer interesse de Davi em ter um relacionamento conjugal com Mical, tanto que com ela não teve filhos. Esta indiferença mútua acabaria se tornando em amargura e revolta por parte de Mical, como ficaria explícito na chegada da arca a Jerusalém, quando Mical, indignada e ferida, acabaria por fazer uma indevida repreensão pública a Davi que a desprezaria em público e, como resultado desta ação inconsequente, o próprio Senhor feriria Mical com a esterilidade (II Sm.6:16, 20-23).
OBS: Alguns procuram identificar Eglá, tratada como “mulher de Davi” com Mical, procurando afirmar que Mical teria morrido no parto de Itreão. Não nos parece correto tal entendimento, pois o texto sagrado é claro ao dizer que Mical foi esterilizada e não teve filhos.
- O primeiro casamento de Davi, portanto, foi um rotundo fracasso, que terminou em mágoa, repreensões públicas de parte a parte e em maldição, já que Mical se tornou estéril. Um casamento frustrado, onde nenhum dos cônjuges conseguiu alcançar o objetivo de Deus para homem e mulher com a família: o companheirismo, o afeto, o término da solidão (Gn.2:18). Quantos Davis e Micais há hoje nas igrejas locais…
- Davi construiu uma família com “fartura de gente”, mas com total falta de orientação divina, afeto, companheirismo. Uma família desta natureza, que assim como Ziclague, havia sido deixada completamente à mercê do inimigo, seria o alvo fácil do adversário quando o rei sofresse as consequências de seus horrendos pecados cometidos no “caso de Urias, o heteu”.
- Davi conquistou Jerusalém e lá estabeleceu a sede do reino. Ali continuou a se casar e a ter concubinas. Foram tantas as mulheres e concubinas tomadas por Davi que o texto sagrado apenas registra o nome dos filhos que lhe nasceram em Jerusalém: Samua, Sobabe, Natã, Salomão, Ibar, Elisua, Nefegue, Jafia, Elisama, Eliada e Elifelete (II Sm.5:14-16; I Cr.3:5-8), fora as filhas, que não foram explicitamente nomeadas e das quais conhecemos pelo menos uma, Tamar, irmã germana de Absalão (II Sm.13:1; I Cr.3:9).
- Não bastasse esta multiplicação de mulheres, a Bíblia diz-nos que Davi, também, teve mais filhos e filhas (II Sm.5:13). Esta expressão do texto sagrado mostra-nos, claramente, que Davi era tão somente um “procriador”, alguém que estava interessado em suscitar descendentes para segurança da dinastia, mas que não se importava em criar seus filhos, como, aliás, muitos fazem nos dias hodiernos.
- Durante o relato bíblico da vida de Davi, não o encontramos, salvo às vésperas da morte, conversando com qualquer filho ou estando na companhia de qualquer filho. Jessé o chamava para que fosse ver seus irmãos (I Sm.17:17), Saul se fazia acompanhar de Jônatas nas batalhas (tanto que ambos morreram juntos) e costumava tomar as refeições com seu filho, num companheirismo, aliás, que foi declarado pelo próprio Davi (II Sm.1:23), mas Davi, durante todo o seu reinado, não é visto dando instruções a este ou aquele filho, fazendo-se acompanhar deste ou daquele filho nas batalhas, tomando refeição com qualquer filho. Era um pai completamente ausente, que não tinha nenhuma participação na formação de sua descendência.
- Este distanciamento de Davi em relação a seus filhos evidencia-se em alguns episódios bíblicos. Quando Amnom, enlouquecido de paixão por sua meia-irmã Tamar, adoeceu por causa disso, quem o acolheu e o aconselhou não foi Davi, mas, sim, seu primo Jonadabe (II Sm.13:3-5). Amnom, embora fosse o primogênito e, portanto, o herdeiro do trono, a quem Davi, ainda que só por motivos políticos, devia ser mais próximo, não tinha qualquer intimidade com seu pai, a ponto de ter segredado seu amor por Tamar a um “amigo”, a Jonadabe, que, então, fazia as vezes de “pai”, dando, inclusive, péssimo conselho a Amnom.
- A ausência de um pai na criação e formação do filho faz surgir “Jonadabes” na vida das crianças, jovens e adolescentes, “Jonadabes” que nem sempre são bem-intencionados, que nem sempre são procedentes do Senhor. Muitos pais têm sido substituídos por traficantes, rufiões, pedófilos, que se apresentam para suprir as carências afetivas dos filhos abandonados, levando-os para o mundo e para a destruição. Enquanto os pais estão ocupados com tantas coisas, como estava Davi, deixam que “Jonadabes” se aproximem e estimulem a prática do pecado e da maldade. Acordemos, pais, e assumamos nossas responsabilidades diante de Deus, pois os filhos são herança do Senhor (Sl.127:3).
- A omissão de Davi em relação a educação de seus filhos se evidencia ainda mais quando Amnom abusa de Tamar e a despede, numa cena humilhante, cena esta que é aumentada em sua publicidade pela reação de Tamar que rasgou a roupa de muitas cores que vestia e pôs cinza sobre sua cabeça, andando desta maneira à vista de todos (II Sm.13:8-19). Diante de tamanho escândalo, Davi apenas “acendeu-se em ira” (II Sm.13:21), não tomando qualquer atitude seja em relação a Amnom, seja em relação a Tamar. Era um pai completamente ausente, que não tinha qualquer comprometimento com o comportamento de seus filhos.
- Diante da omissão paterna, Absalão, outro filho de Davi, resolveu fazer justiça com as suas próprias mãos. Passados dois anos deste episódio, Absalão põe em ação o plano que começara a arquitetar quando dos fatos, quando foi acudir sua irmã Tamar (II Sm.13:20).
- Absalão foi até a presença de Davi e o convidou para uma festa em Baal-Hazor, onde tinha tosquiadores, mas Davi, mais uma vez mostrando ser um pai ausente e desinteressado em manter uma vida familiar, não quis ir, tendo-o abençoado (II Sm.13:24-26). Absalão pediu, então, que o rei autorizasse que Amnom fosse, tendo o rei aceitado que não só Amnom mas todos os filhos do rei acompanhassem Absalão nesta festa familiar.
- Observamos como Davi não tinha em conta a sua vida em família. Não foi à festa, embora todos seus filhos tivessem ido. Absalão sabia muito bem que Davi não o acompanharia nesta festança, prova de que Davi não comparecia a qualquer cerimônia festiva da família. Era um completo ausente e, quando os filhos sabem que seus pais não acompanham os seus passos, começam a ser instados a arquitetar “festejos” que estão completamente fora de parâmetros. As “festinhas” onde há sexo, drogas e tantas coisas danosas ocorrem sempre porque os pais são ausentes, não sabem quem são os “amigos” de seus filhos, nem quais são os seus “costumes”. Muitos, na atualidade, querem controlar os filhos com celulares, GPS, como se isto gerasse efetivo controle. O controle da situação vem de um acompanhamento diário dos filhos, de uma efetiva convivência, de um compartilhamento que gere confiança e união entre pais e filhos, não de instrumentos ou equipamentos trazidos pela tecnologia.
- Como Davi era um pai ausente, Absalão pôde montar a sua “festinha” nas barbas do rei e, mais do que isto, com a própria “bênção” do pai e, na “festinha”, regada a muito vinho, acabou por matar Amnom. Davi colhia mais um fruto de sua vida familiar desastrosa (II Sm.13:27-36).
- Após praticar o crime, Absalão fugiu e se foi a Talmai, seu avô, rei de Gesur, tendo ali ficado três anos. Davi teve saudades de Absalão, uma vez consolado pela perda de Amnom, mas foi incapaz de externar tal sentimento. Era um pai distante, ausente e que não conseguia demonstrar seu afeto por seus filhos. Não façamos isto. Pais, demonstrem seu afeto para com seus filhos! Afinal de contas, ser pai é demonstrar amor. Por que Deus é chamado de “Pai nosso”? Precisamente porque demonstrou Seu amor para conosco de forma visível e palpável, não ficou apenas tendo dó de nós e sentindo saudades em Seu trono de glória sem nenhuma medida efetiva. Os pais são aqueles que externam seus sentimentos aos filhos, que sabem dar boas dádivas a eles, ainda que sejam maus, como nos ensinou o Senhor Jesus (Mt.7:11; Lc.11:13).
- Entretanto, Davi se fechou, não externou seu sentimento. Joabe, seu comandante do exército, porém, notou esta circunstância e usou de um estratagema para fazer com que Davi trouxesse do exílio a Absalão, fazendo com que Davi efetuasse um julgamento em que se condenava por não permitir o retorno de seu filho (II Sm.14:1-22). Davi, então, após ser assim “descoberto” em seus intentos, autorizou que Joabe trouxesse Absalão de volta a Jerusalém, mas não quis vê-lo nem falar com ele (II Sm.14:23,24).
- Apesar da dura experiência sofrida por Davi na revolta de Absalão, não vemos que Davi tenha mudado sua conduta familiar ao retornar ao trono. Não tinha também mais muito o que fazer, já que a idade avançara, os filhos já haviam sido criados (e mal criados). No término de sua vida, como demonstração do “modus vivendi” que havia adotado, seus servos lhe trouxeram uma moça virgem para “aquecê-lo”, Abisague. Davi tinha gerado o costume do “harém real” e, ante a sua enfermidade e velhice, logo procuraram “ajudá-lo” com uma mulher, mulher com a qual não teve Davi relações sexuais, diante da sua avançada idade e doença (I Rs.1:1-4).
- Davi definitivamente criara uma “cultura de harém” na corte real, cultura esta que chegaria ao extremo no reinado seguinte, com Salomão e suas setecentas mulheres e trezentas concubinas que lhe perverteram o coração (I Rs.11:3) e que acabaram por dar fim ao reino de Israel. A brecha aberta por Davi na sua vida familiar levou à destruição da nação israelita, que nunca mais se restaurou. Quando abrimos brecha na vida familiar, pomos em risco a própria igreja! Lembremos disto.
- Diante desta situação, Adonias, o filho mais velho de Davi entre os que ainda viviam, na qualidade de herdeiro presuntivo do trono, levantou-se contra o seu pai e se proclamou rei, tendo o apoio de Joabe e de Abiatar. Este gesto, uma verdadeira desonra a Davi, diz-nos a Bíblia, é resultado de uma vida sem disciplina que viveu Adonias. O texto sagrado relata-nos que Adonias nunca foi contrariado por Davi (I Rs.1:6). Como diz o proverbista, a falta de repreensão e de correção gera pessoas que envergonham os pais (Pv.29:15).
- No leito de morte, Davi ainda recebe um insulto desta natureza. Adonias declara-se rei e, enquanto está banqueteando, Davi recebe a visita de sua mulher Bate-Seba, em mais uma demonstração de que, apesar de ser mulher de Davi, Bate-Seba não tinha acesso à câmara do rei, onde ficava apenas Abisague (I Rs.1:15), apesar de ter sido a mulher pelo qual fizera tantas loucuras. Assim é a paixão, passageira e que não se sustenta ao longo dos anos. Uma vida de isolamento de seus familiares era a vida de Davi.
- Sendo informado por Bate-Seba e por Natã a respeito da rebelião de Adonias, Davi é forçado a transferir o reino antes mesmo de sua morte. Manda que Salomão seja ungido rei e proclamado como tal em Jerusalém, o que foi o bastante para que Adonias desistisse de seu intento (I Rs.1:32-53).
- Em seguida, como numa tentativa de compensar tudo quanto havia feito de errado em sua vida, Davi, no leito de morte, chama Salomão e lhe dá conselhos antes que morresse (I Rs.2:1-9), buscando orientar seu filho na sucessão, algo que será tema de uma lição ainda neste trimestre. Somente no leito de morte, e ainda em virtude das precipitações políticas, Davi se dispõe a ter um contato mais amiúde com um filho seu. Salomão muito aproveitou esta oportunidade e tal contato, ainda que pequeno, trouxe algumas bênçãos não só para Salomão como para todo o Israel, em especial no tocante à construção do templo e à estabilização do culto a Deus. Que bom seria se Davi tivesse feito isto desde o início, mas não o fez.
- Como marido, Davi não teve melhor sorte. Como já tivemos ocasião de verificar ao longo deste estudo, Davi não valorizava o amor das mulheres, vendo-as sob um ângulo utilitário tão somente. Levado pelo impulso no instante em que decidia casar, também não cultivava o amor para com aquelas mulheres que se sentiam atraídas por ele.
- Assim se deu tanto no caso de Mical, quanto de Abigail, as suas duas primeiras mulheres, que o texto sagrado diz que amavam Davi (I Sm..18:20; 25:31,41,42), mas cujo amor Davi não correspondeu. No caso de sua primeira mulher, vemos que Davi desprezou Mical, tratando-a tão somente como um “troféu” quando ela retorna ao seu convívio, vez que com ela sequer manteve um relacionamento conjugal, desprezo este que se transforma em amargura e revolta, a ponto de ela cometer o desatino de repreendê-lo publicamente, o que lhe causou a esterilização da parte do Senhor (II Sm.6:16, 20-23).
- Com Abigail não foi diferente. Pouco depois de ter casado com ela, Davi também se casa com Ainoã, a jizreelita (I Sm.25:4) a ponto de Davi ter achado outra mulher pouco depois que lhe interessou. Abigail passa a ser tratada apenas como “mais uma mulher”, tendo da parte do rei o mesmo tratamento das demais mulheres, tanto que, assim como as outras, teve apenas um filho com o rei em Hebrom (II Sm.3:3; I Cr.3:1), prova de que passou a ser vista por Davi também sob o ângulo utilitário tão somente, o que, aliás, é próprio da “cultura do harém”.
- A palavra “marido” tem origem na raiz “masc”, que se refere ao macho, ao varão. O papel do marido, biblicamente falando, é o de cabeça do casal (Ef.5:23), ou seja, aquele a quem o Senhor incumbiu de efetuar o planejamento e a direção da vida conjugal, pois a cabeça é feita para pensar, planejar, comandar. Como cabeça, o marido deve estabelecer quais as tarefas, quais as missões a serem cumpridas pelos integrantes da família, tarefas e missões a serem, obviamente, previamente perquiridas junto ao Senhor, que é a cabeça do varão (I Co.11:3).
- Davi, portanto, tinha todas as condições de ser um excelente marido, pois, sendo cheio do Espírito Santo, poderia ter buscado a direção do Senhor na sua vida conjugal e familiar. No entanto, não o fez e este é o primeiro fator que fez com que sua vida familiar tenha sido o desastre que foi.
- Somente com relação a uma mulher Davi teve tal demonstração. Foi com Bate-Seba. Diz-nos o texto sagrado que, após a morte do primeiro filho que ambos tiveram, em cumprimento à sentença divina proferida por intermédio do profeta Natã (II Sm.12:14), o rei tomou a iniciativa de consolar Bate-Seba. A restauração espiritual promovida em Davi fê-lo rever esta sua condição de marido insensível.
- Davi preocupou-se com Bate-Seba, com seu bem-estar, demonstrando-lhe afeto e carinho. Acabou retomando o relacionamento conjugal com Bate-Seba e o resultado foi que não só teve um segundo filho, Salomão, como também mais outros três filhos (Simeia, Sobabe e Natã), tendo sido a única mulher de Davi que teve tantos filhos, prova de que Davi resolveu, após “o caso de Urias, o heteu” estabelecer, ao menos com uma mulher, uma vida conjugal plena (I Cr.3:5). É interessante notar que a Bíblia, ao relatar tal circunstância, chama Bate-Seba de “Bate-Sua”, cujo significado é “filha da opulência”, dando-nos a entender, portanto, que Bate-Seba conseguiu a plenitude da femininidade, que é a de ser amada plenamente pelo marido e de atingir a maternidade.
- Tratou-se, sem dúvida, de uma evolução para a vida familiar de Davi, mas nos parece que, apesar deste progresso, o rei não mudou muito seu comportamento com o desenrolar dos anos, visto que, no final de sua vida, vemos que não mais mantinha uma vida conjugal plena com Bate-Seba, que nem sequer tinha acesso livre à recâmara do rei (I Rs.1:11,15,28). A “cultura do harém” tinha firmemente se estabelecido na corte de Davi e impediu que o rei mantivesse esta vida conjugal plena de forma constante. Talvez o despertar de Davi como marido tenha sido assaz tardio e as circunstâncias que ele próprio criou foram tais que não teve mais como se desvencilhar do “monstro” que havia criado. Que isto nos sirva de lição para evitarmos chegar a situações de irreversibilidade em nossa vida conjugal.
- Não percamos a oportunidade de, mediante esta lição, revermos nossos conceitos de vida familiar e, assim, podermos construir um lar que seja um verdadeiro altar que adore a Deus. Amém.

DEUS É O NOSSO PROVEDOR COMPLETO

 

“O SENHOR É O MEU PASTOR; NADA ME FALTARÁ” (SL.23:1).

O SALMO 23 É O TEXTO MAIS CONHECIDO DA BÍBLIA. MILHÕES DE PESSOAS CONHECEM-NO DE COR. SUA MENSAGEM TEM SIDO BÁLSAMO PARA OS FERIDOS, CONSOLO PARA OS TRISTES, REFÚGIO PARA OS DESESPERADOS.

EM MUITOS FUNERAIS, O SALMO 23 TEM SIDO LIDO COMO REFRIGÉRIO DO CÉU PARA ALIVIAR A DOR DOS AFLITOS. VEMOS NELE A SUBLIME VERDADE DE QUE DEUS É A NOSSA COMPLETA PROVISÃO. NOSSA MAIOR NECESSIDADE NÃO É DAS BÊNÇÃOS DE DEUS, MAS DO PRÓPRIO DEUS DAS BÊNÇÃOS. O DOADOR É MAIS IMPORTANTE DO QUE A DÁDIVA. SÓ DEUS NOS SATISFAZ.

A BÍBLIA NOS APRESENTA VÁRIOS NOMES DE DEUS; CADA UM REVELA-NOS UM ASPECTO DO SEU SER E ABRE-NOS UMA JANELA PARA CONHECERMOS UM POUCO MAIS DESTE QUE NEM TODAS AS PALAVRAS DE TODOS OS IDIOMAS DO MUNDO INTEIRO SERIAM SUFICIENTES PARA DEFINI-LO EXAUSTIVAMENTE.

AO ANALISARMOS O SALMO 23, PODEMOS PERCEBER EM SEU CONTEÚDO SETE NOMES DE DEUS, OS QUAIS VAMOS AQUI CONSIDERAR.

1. JEOVÁ ROÍ

ESSE TERMO SIGNIFICA "O SENHOR É O MEU PASTOR". DAVI FOI QUEM PELA PRIMEIRA VEZ DEU ESSE TÍTULO A DEUS. DAVI ERA UM PASTOR DE OVELHAS E SABIA BEM O QUE ERA PROTEGER O SEU REBANHO DAS FERAS E GUIÁ-LO PELAS TRILHAS ESTREITAS NO MEIO DOS PENHASCOS E MONTANHAS ÍNGREMES DE BELÉM, ATÉ LEVÁ-LO ÀS ÁGUAS TRANQUILAS E ÀS PASTAGENS VERDES.

DAVI OLHA PARA DEUS E VÊ NELE O PASTOR QUE CUIDA DAS OVELHAS. O PASTOR É AQUELE QUE ALIMENTA, PROTEGE, GUIA, DISCIPLINA E RESTAURA SUAS OVELHAS.

DEUS É QUEM NOS CONDUZ PELAS VEREDAS DA JUSTIÇA E NOS FAZ DESCANSAR NOS PASTOS VERDEJANTES DA SUA BONDOSA PROVIDÊNCIA. ELE ESTÁ CONOSCO QUANDO CRUZAMOS OS VALES ESCUROS DA TRIBULAÇÃO E NOS PREPARA UMA MESA FARTA NO DESERTO. ELE É O PASTOR QUE NOS ACOLHE NOS BRAÇOS, NOS DÁ SEGURANÇA E NOS LEVA SALVOS PARA O SEU APRISCO CELESTIAL.

O NOVO TESTAMENTO DESCREVE JESUS COMO O BOM PASTOR, O GRANDE PASTOR E O SUPREMO PASTOR. COMO BOM PASTOR ELE DEU SUA VIDA PELAS OVELHAS; COMO O GRANDE PASTOR ELE VIVE PARA AS OVELHAS; E COMO SUPREMO PASTOR ELE VOLTARÁ PARA AS OVELHAS. ESSAS TRÊS VERDADES PODEM SER VISTAS TAMBÉM NOS SALMOS 22, 23 E 24.

- O SALMO 22 APONTA JESUS COMO O BOM PASTOR QUE DEU SUA VIDA EM FAVOR DAS SUAS OVELHAS.  ELE MESMO DISSE: “EU SOU O BOM PASTOR; O BOM PASTOR DÁ A SUA VIDA PELAS OVELHAS” (JOÃO 10.11).

O SALMO 22, PROFETICAMENTE REVELA-NOS QUE JESUS, O BOM PASTOR, NÃO VEIO PARA EXPLORAR AS OVELHAS E OPRIMI-LAS, MAS PARA MORRER POR ELAS E DAR-LHES A VIDA ETERNA. ELE É O PASTOR QUE DEU SUA VIDA E O CORDEIRO QUE SE OFERECEU POR NÓS. SEU AMOR NÃO FOI PROCLAMADO DO ALTO DE UMA CÁTEDRA, MAS DO ALTO DA CRUZ. ELE NÃO ENTREGOU PARA NÓS APENAS RICAS DÁDIVAS, ELE DEU-NOS SUA PRÓPRIA VIDA.

PARA LIBERTAR-NOS SOFREU O CASTIGO DA LEI; PARA LIVRARNOS DO PECADO, FEZ-SE PECADO POR NÓS; PARA LIVRAR-NOS DA MALDIÇÃO, FEZ-SE MALDIÇÃO POR NÓS; PARA LIVRAR-NOS DA MORTE, SUPORTOU O GOLPE DA MORTE EM NOSSO FAVOR.

- O SALMO 23 APONTA JESUS COMO O GRANDE PASTOR, QUE VIVE PARA CUIDAR DE SUAS OVELHAS –“ORA, O DEUS DE PAZ, QUE PELO SANGUE DO CONCERTO ETERNO TORNOU A TRAZER DOS MORTOS A NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, GRANDE PASTOR DAS OVELHAS” (HB.13:20).

O SALMO 23 DIZ QUE ELE OFERECE ÀS SUAS OVELHAS PROVISÃO, DIREÇÃO, DESCANSO, REFRIGÉRIO, COMPANHIA, LIVRAMENTO E VITÓRIA. JESUS É, NA VERDADE, A MAIOR PROVISÃO PARA SUAS OVELHAS: ELE É O SENHOR, O PROVEDOR, O COMPANHEIRO, O PROTETOR E O HÓSPEDE. ELE PROTEGE, SUSTENTA E ACOMPANHA SUAS OVELHAS AQUI E AO FIM, E AS RECEBE NA CASA DO PAI, A GLÓRIA CELESTE.

JESUS COMO O GRANDE PASTOR DAS OVELHAS É A VERDADE PARA A NOSSA MENTE, O CAMINHO PARA OS NOSSOS PÉS, A VIDA PARA A NOSSA ALMA. ELE É A NOSSA ESPERANÇA, A NOSSA ALEGRIA E A NOSSA PAZ. ELE É O NOSSO EXEMPLO, O NOSSO ALVO E A NOSSA FORÇA. ELE ESTÁ À DESTRA DO PAI DE ONDE INTERCEDE POR NÓS E ESTÁ CONOSCO SEMPRE EM TODOS OS LUGARES E EM TODAS AS CIRCUNSTÂNCIAS.

- O SALMO 24 APONTA JESUS COMO O SUPREMO PASTOR QUE VOLTARÁ GLORIOSAMENTE PARA BUSCAR AS SUAS OVELHAS – “E, QUANDO APARECER O SUMO PASTOR, ALCANÇAREIS A INCORRUPTÍVEL COROA DE GLÓRIA” (1PD.5:4).

SEGUNDO O SALMO 24, O MESMO JESUS QUE MORREU PELAS OVELHAS E VIVE PELAS OVELHAS, VOLTARÁ PARA SUAS OVELHAS. SUA VINDA É CERTA E SUA PROMESSA É FIEL.

ELE VIRÁ NÃO COMO DA PRIMEIRA VEZ, COMO SERVO SOFREDOR, MAS SUA MANIFESTAÇÃO SERÁ CHEIA DE FULGOR.

NÃO SERÁ MAIS UMA VINDA COM AS ROUPAGENS DA HUMILDADE, MAS COM OS ATAVIOS DA GLÓRIA.

ELE VIRÁ NÃO COMO SERVO, MAS COMO O REI DOS REIS.

ELE VIRÁ NÃO MAIS CAVALGANDO UM JUMENTINHO, MAS NUM GLORIOSO CORTEJO ENTRE AS NUVENS.

ELE VIRÁ NÃO MAIS PARA SER JULGADO PELOS HOMENS E CONDENADO À MORTE, MAS VIRÁ PARA JULGAR OS VIVOS E OS MORTOS.

COMO SUPREMO PASTOR ELE VIRÁ TRAZENDO CONSIGO O GALARDÃO.

NÃO HÁ MAIOR PRIVILÉGIO DO QUE SER OVELHA DE JESUS, O BOM PASTOR, O GRANDE PASTOR E O SUPREMO PASTOR.

OUTRO NOME DE DEUS ENCONTRADO NO SALMO 23 É:

2. JEOVÁ JIREH

ESSE TERMO SIGNIFICA "O SENHOR PROVERÁ". A PRIMEIRA VEZ QUE ESSE NOME APARECE NA BÍBLIA ESTÁ LIGADO À EXPERIÊNCIA DE ABRAÃO, QUANDO DEUS LHE ORDENOU A OFERECER SEU FILHO ISAQUE EM HOLOCAUSTO (GN.22:1-19). ABRAÃO OBEDECEU PRONTAMENTE. DEPOIS DE CAMINHAR TRÊS DIAS RUMO AO LUGAR DO SACRIFÍCIO, ISAQUE PERGUNTOU A SEU PAI: MEU PAI! [...] EIS O FOGO E A LENHA, MAS ONDE ESTÁ O CORDEIRO PARA O HOLOCAUSTO? RESPONDEU ABRAÃO: DEUS PROVERÁ PARA SI O CORDEIRO PARA O HOLOCAUSTO, MEU FILHO.... (GN.22:7,8).

“E VIERAM AO LUGAR QUE DEUS LHES DISSERA, E EDIFICOU ABRAÃO ALI UM ALTAR, E PÔS EM ORDEM A LENHA, E AMARROU A ISAQUE, SEU FILHO, E DEITOU-O SOBRE O ALTAR EM CIMA DA LENHA.

 E ESTENDEU ABRAÃO A SUA MÃO E TOMOU O CUTELO PARA IMOLAR O SEU FILHO.

MAS O ANJO DO SENHOR LHE BRADOU DESDE OS CÉUS E DISSE: ABRAÃO, ABRAÃO! E ELE DISSE: EIS-ME AQUI.

ENTÃO, DISSE: NÃO ESTENDAS A TUA MÃO SOBRE O MOÇO E NÃO LHE FAÇAS NADA; PORQUANTO AGORA SEI QUE TEMES A DEUS E NÃO ME NEGASTE O TEU FILHO, O TEU ÚNICO.

 ENTÃO, LEVANTOU ABRAÃO OS SEUS OLHOS E OLHOU, E EIS UM CARNEIRO DETRÁS DELE, TRAVADO PELAS SUAS PONTAS NUM MATO; E FOI ABRAÃO, E TOMOU O CARNEIRO, E OFERECEU-O EM HOLOCAUSTO, EM LUGAR DE SEU FILHO.

E CHAMOU ABRAÃO O NOME DAQUELE LUGAR O SENHOR PROVERÁ; DONDE SE DIZ ATÉ AO DIA DE HOJE: NO MONTE DO SENHOR SE PROVERÁ” (GN.22:14).

ABRAÃO DEU ESSE NOVO NOME A DEUS, ENSINANDO-NOS QUE DEUS PROVÊ, SEMPRE QUE ESTIVERMOS NA ESTRADA DA OBEDIÊNCIA, NO CENTRO DA SUA VONTADE.

SEMELHANTEMENTE, DAVI DIZ: "O SENHOR É O MEU PASTOR, NADA ME FALTARÁ" (Sl.23:1). O NOSSO PASTOR É TAMBÉM O NOSSO PROVEDOR; ELE É A FONTE DE TODO BEM; DELE PROCEDE TODA BOA DÁDIVA. QUANDO OS NOSSOS RECURSOS ACABAM, ELE CONTINUA COM SEUS CELEIROS ABARROTADOS; ELE NOS ABENÇOA COM TODA SORTE DE BÊNÇÃOS. TEMOS NÃO APENAS SUAS DÁDIVAS, MAS TAMBÉM SUA PRESENÇA. ESTA É, DE TODAS, A MELHOR PROVISÃO.

NOSSA CONFIANÇA PRECISA ESTAR NO PROVEDOR, MAIS DO QUE NA PROVISÃO; NO DEUS DAS BÊNÇÃOS, MAIS DO QUE NAS BÊNÇÃOS DE DEUS.

3. JEOVÁ SHALOM

DAVI DIZ QUE O SENHOR NOS FAZ REPOUSAR EM PASTOS VERDEJANTES E NOS LEVA PARA JUNTO DAS ÁGUAS DE DESCANSO (Sl.23:2). ISSO NOS FALA DE PAZ, E DEUS É A NOSSA PAZ.

FOI GIDEÃO QUEM PELA PRIMEIRA VEZ ATRIBUIU ESSE NOME A DEUS (Jz.6:24).

OS FILHOS DE ISRAEL FIZERAM O QUE PARECIA MAL AOS OLHOS DO SENHOR; E O SENHOR OS DEU NA MÃO DOS MIDIANITAS POR SETE ANOS (JZ 6:1). OS MIDIANITAS ESTAVAM OPRIMINDO O POVO DE ISRAEL, SAQUEANDO-LHE OS BENS E ESPOLIANDO SUAS PROPRIEDADES. ENTÃO, O SENHOR LEVANTOU GIDEÃO PARA LIBERTAR O POVO DE ISRAEL DO DOMINIO DOS MIDIANITAS.

HUMILDEMENTE, ESSE VARÃO VALOROSO PEDIU A DEUS UM SINAL. O SENHOR ATENDEU AO SEU ROGO E MANIFESTOU-SE A ELE. ENTÃO, GIDEÃO ENTENDEU QUE DEUS APARECERA A ELE NÃO PARA DESTRUÍ-LO, MAS PARA ERGUÊ-LO COMO LIBERTADOR DO SEU POVO. FOI NESSE CONTEXTO QUE GIDEÃO DEU O NOME “JEOVÁ SHALOM” A DEUS. ASSIM DIZ O TEXTO: "ENTÃO, GIDEÃO EDIFICOU ALI UM ALTAR AO SENHOR E LHE CHAMOU DE O SENHOR É PAZ..." (JZ.6:24).

DEUS NÃO APENAS NOS DÁ PAZ, MAS ELE É A NOSSA PAZ. COMO DISSE O APÓSTOLO PAULO: “O QUE TAMBÉM APRENDESTES, E RECEBESTES, E OUVISTES, E VISTES EM MIM, ISSO FAZEI; E O DEUS DE PAZ SERÁ CONVOSCO” (FP.4:9). A NOSSA PAZ NÃO É AUSÊNCIA DE PROBLEMAS. ELA NÃO É CIRCUNSTANCIAL. NOSSA PAZ É UMA PESSOA DIVINA. O PRÓPRIO DEUS É A NOSSA PAZ, ELE É O JEOVÁ SHALOM, QUE ESTÁ CONOSCO NAS HORAS TURBULENTAS DA NOSSA VIDA, COMO NOSSA FORTALEZA E REFÚGIO.

4. JEOVÁ RAFÁ

A PRIMEIRA VEZ QUE ESSE NOME DE DEUS APARECE NA BÍBLIA FOI NO CONTEXTO DA SAÍDA DO EGITO. APÓS AS COMEMORAÇÕES PELO GRANDE LIVRAMENTO QUE DEUS PROPORCIONARA AO POVO DE ISRAEL, FAZENDO-O PASSAR PELO MAR VERVELHO, E AFOGANDO O EXÉRCITO EGIPCIO, MOISÉS FEZ PARTIR OS ISRAELITAS DO MAR VERMELHO, E SAÍRAM AO DESERTO DE SUR, E ANDARAM TRÊS DIAS NO DESERTO E NÃO ACHARAM ÁGUA (Gn.15:22). O POVO ESTAVA CONSUMIDO POR UMA SEDE SEVERA. AO VEREM UMA FONTE DE ÁGUA, CORRERAM A TODA PRESSA PARA BEBER, MAS A ÁGUA ERA AMARGA. ENTÃO, DEUS DISSE A MOISÉS QUE LANÇASSE UMA ÁRVORE SOBRE ÁGUA AMARGA. AO FAZÊ-LO, A ÁGUA FICOU DOCE, E O POVO PÔDE DESSEDENTAR-SE. ENTÃO, DEUS DISSE A MOISÉS: "... SE OUVIRES ATENTO A VOZ DO SENHOR, TEU DEUS, E FIZERES O QUE É RETO DIANTE DOS SEUS OLHOS, E DERES OUVIDO AOS SEUS MANDAMENTOS, E GUARDARES TODOS OS SEUS ESTATUTOS, NENHUMA ENFERMIDADE VIRÁ SOBRE TI, DAS QUE ENVIEI SOBRE OS EGÍPCIOS; POIS EU SOU O SENHOR, QUE TE SARA" (EX.15:26).

DAVI DIZ QUE DEUS REFRIGERA A NOSSA ALMA – “REFRIGERA A MINHA ALMA; GUIA-ME PELAS VEREDAS DA JUSTIÇA POR AMOR DO SEU NOME” (SL.23:3); ELE É QUEM SARA TODAS AS NOSSAS ENFERMIDADES E PERDOA TODAS AS NOSSAS INIQUIDADES (SL.103:3).

DEUS É O ÚNICO QUEM TEM DIREITO DE DAR A VIDA E TIRÁ-LA. ELE TEM PODER TAMBÉM PARA CURAR, E, EM ÚLTIMA INSTÂNCIA, TODA CURA PROCEDE DELE, QUER PELOS MEIOS, QUER SEM OS MEIOS, QUER APESAR DOS MEIOS. ELE É QUEM CURA A NOSSA ALMA, O NOSSO CORPO E REFRIGERA O NOSSO CORAÇÃO. ELE É QUEM SARA TODAS AS NOSSAS ENFERMIDADES, QUER DO CORPO QUER DA ALMA. É ELE QUEM LEVA AS NOSSAS DORES SOBRE SI E ABRE PARA NÓS UMA FONTE DE CONSOLO E REFRIGÉRIO. NELE TEMOS VIDA, CURA, PERDÃO E SALVAÇÃO.

5. JEOVÁ TSIDKENU

A PRIMEIRA VEZ QUE ESSE NOME DE DEUS APARECE NA BÍBLIA É NO LIVRO DE JEREMIAS, QUE DIZ: "NOS SEUS DIAS, JUDÁ SERÁ SALVO, E ISRAEL HABITARÁ SEGURO; SERÁ ESTE O SEU NOME, COM QUE SERÁ CHAMADO: SENHOR, JUSTIÇA NOSSA" (JR.23:6). VEJA AS PALAVRAS DO SENHOR ATRAVÉS DO PROFETA JEREMIAS:

“PORTANTO, ASSIM DIZ O SENHOR, O DEUS DE ISRAEL, ACERCA DOS PASTORES QUE APASCENTAM O MEU POVO: VÓS DISPERSASTES AS MINHAS OVELHAS, E AS AFUGENTASTES, E NÃO AS VISITASTES; EIS QUE VISITAREI SOBRE VÓS A MALDADE DAS VOSSAS AÇÕES, DIZ O SENHOR.

 E EU MESMO RECOLHEREI O RESTO DAS MINHAS OVELHAS, DE TODAS AS TERRAS PARA ONDE AS TIVER AFUGENTADO, E AS FAREI VOLTAR AOS SEUS APRISCOS; E FRUTIFICARÃO E SE MULTIPLICARÃO.

E LEVANTAREI SOBRE ELAS PASTORES QUE AS APASCENTEM, E NUNCA MAIS TEMERÃO, NEM SE ASSOMBRARÃO, E NEM UMA DELAS FALTARÁ, DIZ O SENHOR.

EIS QUE VÊM DIAS, DIZ O SENHOR, EM QUE LEVANTAREI A DAVI UM RENOVO JUSTO; SENDO REI, REINARÁ, E PROSPERARÁ, E PRATICARÁ O JUÍZO E A JUSTIÇA NA TERRA.

NOS SEUS DIAS, JUDÁ SERÁ SALVO, E ISRAEL HABITARÁ SEGURO; E ESTE SERÁ O NOME COM QUE O NOMEARÃO: O SENHOR, JUSTIÇA NOSSA (JR.22:2-6).

DAVI NOS INFORMA QUE DEUS NOS GUIA PELAS VEREDAS DA JUSTIÇA – “PREPARAS UMA MESA PERANTE MIM NA PRESENÇA DOS MEUS INIMIGOS, UNGES A MINHA CABEÇA COM ÓLEO, O MEU CÁLICE TRASBORDA” (SL.23:3). MAS, ANTES DISSO, ELE É A NOSSA JUSTIÇA. SÓ ANDAMOS PELAS VEREDAS DA JUSTIÇA PORQUE FOMOS JUSTIFICADOS. A JUSTIFICAÇÃO É UM ATO LEGAL E FORENSE. FOMOS DECLARADOS JUSTOS POR CAUSA DA OBRA DE CRISTO EM NOSSO LUGAR E EM NOSSO FAVOR.

PELO SACRIFÍCIO SUBSTITUTIVO DE CRISTO E PELO SEU SANGUE DERRAMADO, NOSSOS PECADOS FORAM CANCELADOS, NOSSA DÍVIDA FOI PAGA E TODAS AS DEMANDAS DA LEI FORAM PLENAMENTE SATISFEITAS. AGORA ESTAMOS QUITES COM A JUSTIÇA DIVINA, E NENHUMA CONDENAÇÃO PESA MAIS SOBRE NÓS (RM.8:1). CRISTO, O NOSSO PASTOR, É TAMBÉM A NOSSA JUSTIÇA.

6. JEOVÁ SHAMMAH

A PRIMEIRA VEZ QUE ESSE NOME DE DEUS APARECE NA BÍBLIA É NO LIVRO DE EZEQUIEL: “DEZOITO MIL MEDIDAS EM REDOR; E O NOME DA CIDADE DESDE AQUELE DIA SERÁ: O SENHOR ESTÁ ALI” (EZ.48:35). MESMO QUANDO O POVO DE DEUS PASSA PELO VALE DO DESTERRO, O SENHOR ESTÁ COM ELE.

DAVI NOS FALA SOBRE A PRESENÇA DE DEUS CONOSCO, MESMO QUANDO CRUZAMOS O VALE DA SOMBRA DA MORTE. DIZ ELE: ”AINDA QUE EU ANDASSE PELO VALE DA SOMBRA DA MORTE, NÃO TEMERIA MAL ALGUM, PORQUE TU ESTÁS COMIGO; A TUA VARA E O TEU CAJADO ME CONSOLAM”(Sl.23:4). ELE É DEUS PRESENTE, É JEOVÁ SHAMMAH. ELE NUNCA NOS DESAMPARA. MESMO QUE SEJAMOS INFIÉIS, PERMANECE FIEL. ELE É COMO A SOMBRA À NOSSA DIREITA. E QUEM NOS CARREGA NO COLO, NOS SEGURA PELA MÃO DIREITA E, AO FIM, NOS RECEBE NA GLÓRIA.

JESUS PROMETEU ESTAR CONOSCO SEMPRE, ATÉ A CONSUMAÇÃO DOS SÉCULOS. NÃO PRECISAMOS TEMER NADA NEM NINGUÉM, PORQUE O DEUS ONIPOTENTE É A NOSSA COMPANHIA CONSTANTE.

7. JEOVÁ NISSI

DEUS É A NOSSA BANDEIRA E A NOSSA VITÓRIA. A PRIMEIRA VEZ QUE ESSE NOME DE DEUS APARECE NA BÍBLIA EM ÊXODO 17:15: “E MOISÉS EDIFICOU UM ALTAR E CHAMOU O SEU NOME: O SENHOR É MINHA BANDEIRA”.

NO DESERTO DE REFIDIM, QUANDO ISRAEL PEREGRINAVA RUMO A CANAÃ, OS AMALEQUITAS PELEJARAM CONTRA O POVO DE ISRAEL. ELES OUSARAM ENFRENTAR O POVO DE DEUS. ENFRETNAR O POVO DE DEUS É ENFRENTAR A DEUS. POR ISSO, FORAM DERROTADOS. VEJA O QUE A BÍBLIA DIZ (Ex.17:8-15):

“ENTÃO, VEIO AMALEQUE E PELEJOU CONTRA ISRAEL EM REFIDIM.

PELO QUE DISSE MOISÉS A JOSUÉ: ESCOLHE-NOS HOMENS, E SAI, E PELEJA CONTRA AMALEQUE; AMANHÃ, EU ESTAREI NO CUME DO OUTEIRO, E A VARA DE DEUS ESTARÁ NA MINHA MÃO.

E FEZ JOSUÉ COMO MOISÉS LHE DISSERA, PELEJANDO CONTRA AMALEQUE; MAS MOISÉS, ARÃO E HUR SUBIRAM AO CUME DO OUTEIRO.

E ACONTECIA QUE, QUANDO MOISÉS LEVANTAVA A SUA MÃO, ISRAEL PREVALECIA; MAS, QUANDO ELE ABAIXAVA A SUA MÃO, AMALEQUE PREVALECIA.

PORÉM AS MÃOS DE MOISÉS ERAM PESADAS; POR ISSO, TOMARAM UMA PEDRA E A PUSERAM DEBAIXO DELE, PARA ASSENTAR-SE SOBRE ELA; E ARÃO E HUR SUSTENTARAM AS SUAS MÃOS, UM DE UM LADO, E O OUTRO, DO OUTRO; ASSIM FICARAM AS SUAS MÃOS FIRMES ATÉ QUE O SOL SE PÔS.

E, ASSIM, JOSUÉ DESFEZ A AMALEQUE E A SEU POVO A FIO DE ESPADA.

ENTÃO DISSE O SENHOR A MOISÉS: ESCREVE ISTO PARA MEMÓRIA NUM LIVRO E RELATA-O AOS OUVIDOS DE JOSUÉ: QUE EU TOTALMENTE HEI DE RISCAR A MEMÓRIA DE AMALEQUE DE DEBAIXO DOS CÉUS.

E MOISÉS EDIFICOU UM ALTAR E CHAMOU O SEU NOME: O SENHOR É MINHA BANDEIRA.

ENQUANTO OS BRAÇOS DOS INTERCESSORES ESTIVERAM ERGUIDOS EM ORAÇÃO, HOUVE VITÓRIA DO POVO DE DEUS NA BATALHA, POIS O SENHOR É A NOSSA BANDEIRA.

DAVI NOS INFORMA QUE DEUS NOS DÁ VITÓRIA SOBRE OS NOSSOS INIMIGOS: “PREPARAS UMA MESA PERANTE MIM NA PRESENÇA DOS MEUS INIMIGOS, UNGES A MINHA CABEÇA COM ÓLEO, O MEU CÁLICE TRASBORDA” (Sl.23:5).

DEUS PREPARA UMA MESA PARA NÓS NA PRESENÇA DOS NOSSOS ADVERSÁRIOS. ELE NOS HONRA, DERRAMANDO ÓLEO SOBRE A NOSSA CABEÇA, E NOS PROPORCIONA PROFUSA ALEGRIA, FAZENDO O NOSSO CÁLICE TRANSBORDAR. DAVI CONCLUI O SALMO 23 DE UMA FORMA MAGISTRAL:

“CERTAMENTE QUE A BONDADE E A MISERICÓRDIA ME SEGUIRÃO TODOS OS DIAS DA MINHA VIDA; E HABITAREI NA CASA DO SENHOR POR LONGOS DIAS” (SL.23:6).

AQUI, O PASTOR ESTÁ CONOSCO PARA NOS PROTEGER, NOS CONDUZIR, NOS ALIMENTAR E NOS DAR DESCANSO. MAS, QUANDO A NOSSA JORNADA TERMINAR, ESTAREMOS COM ELE PARA SEMPRE NA CASA DO PAI.

AGORA, TEMOS DOIS AMIGOS INSEPARÁVEIS QUE NOS LADEIAM: BONDADE E MISERICÓRDIA. MAS, AO FIM, IREMOS PARA A CASA, PARA A NOSSA VERDADEIRA PÁTRIA, ONDE VEREMOS NOSSO REDENTOR FACE A FACE.

“AO REI ETERNO, IMORTAL, INVISÍVEL, DEUS ÚNICO, HONRA E GLÓRIA PELOS SÉCULOS DOS SÉCULOS. AMÉM!” (1TM.1:17).