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PAULO E SEU AMOR PELA IGREJA


 Texto Base: 1Tessalonicenses 1:1-10
“Porque o amor de Cristo nos constrange...” (2Co.5:14).

1Tessalonicenses 1:

1.Paulo, e Silvano, e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses, em Deus, o Pai, e no Senhor Jesus Cristo: graça e paz tenhais de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

2.Sempre damos graças a Deus por vós todos, fazendo menção de vós em nossas orações,

3.lembrando-nos, sem cessar, da obra da vossa fé, do trabalho da caridade e da paciência da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, diante de nosso Deus e Pai,

4.sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de Deus;

5.porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza, como bem sabeis quais fomos entre vós, por amor de vós.

6.E vós fostes feitos nossos imitadores e do Senhor, recebendo a palavra em muita tribulação, com gozo do Espírito Santo,

7.de maneira que fostes exemplo para todos os fiéis na Macedônia e Acaia.

8.Porque por vós soou a palavra do Senhor, não somente na Macedônia e Acaia, mas também em todos os lugares a vossa fé para com Deus se espalhou, de tal maneira que já dela não temos necessidade de falar coisa alguma;

9.porque eles mesmos anunciam de nós qual a entrada que tivemos para convosco, e como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro

10.e esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos de “Paulo e seu amor pela Igreja”. O pr. Elieanai Cabral deu maior ênfase ao amor de Paulo pela Igreja tessalonicense, mas o amor do apóstolo era por todos os cristãos que faziam a Igreja de Cristo em todos os lugares. O seu amor pela Igreja era desinteressado, não esperava nenhum benefício deste mundo. Noite e dia, fisicamente fraco ou forte ele se dedicava em cuidar da Igreja como um pai cuida do seu filho. Ele a defendeu, protegeu e buscou viver na integridade do amor, da fé e da esperança, nas diversas igrejas por onde passou. A vida e o ministério desse embaixador de Cristo são um antídoto contra a banalização da Igreja, o Corpo de Cristo.

Somos todos convidados a amar a Igreja e a demonstrar de forma prática o mesmo sentimento de Paulo. Há momentos em que a maior necessidade de uma pessoa na Igreja não é de ouvir o grupo de louvores, mas de receber um abraço de um irmão. Nós precisamos demonstrar nosso afeto pelas pessoas que amamos (Atos 20:37). Há muitos líderes que não conseguem expressar seus sentimentos nem verbalizar seu amor pelos seus liderados. Precisamos aprender a declarar o nosso amor pelas pessoas. Precisamos aprender a valorizar as pessoas enquanto elas estão conosco; precisamos demonstrar nosso apreço por elas enquanto podem ouvir nossa voz. Nós precisamos entender a força terapêutica da afetividade (Atos 20:36-38). O amor é o elo de perfeição que une as pessoas, é o cinturão que mantém unidas as demais virtudes do Fruto do Espírito. Onde há união entre os irmãos, ali Deus ordena sua bênção e a vida para sempre (Sl.133:3).

I. O AMOR DE PAULO PELA IGREJA

1. O amor como o de um pai para um filho

As epístolas de Paulo denotam como ele cuidava dos seus filhos na fé. Veja como ele se expressa à Igreja de Filipos (FP.1:3-11):

3.Dou graças ao meu Deus por tudo que recordo de vós,

4.fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós, em todas as minhas orações,

5.pela vossa cooperação no evangelho, desde o primeiro dia até agora.

6.Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus.

7.Aliás, é justo que eu assim pense de todos vós, porque vos trago no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa e confirmação do evangelho, pois todos sois participantes da graça comigo.

8.Pois minha testemunha é Deus, da saudade que tenho de todos vós, na terna misericórdia de Cristo Jesus.

9.E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção,

10.para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo,

11.cheios do fruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus.

Apesar de preso em Roma, Paulo se preocupava com a vida espiritual dos seus filhos na fé. Ele estava impedido de visitar as igrejas, mas podia orar por elas e instrui-las por meios de Epístolas/Cartas. Ele estava preso, mas a Palavra de Deus não estava algemada. Ele era prisioneiro de Cristo, e não do imperador romano. As circunstâncias podem estar fora do seu controle, mas jamais fora do controle de Deus. Com base neste texto enumeramos as principais características de um pai espiritual:

a) O pai espiritual intercede pelos seus filhos (Fp.1:4,5). Note que Paulo fazia sempre súplicas pelos Filipenses. Paulo estava impedido de ter comunhão com os irmãos, mas não de orar por eles. A oração desconhece limites geográficos, barreiras étnicas ou culturais. Um crente de joelhos pode influenciar o mundo inteiro. Na sua soberania, Deus estabeleceu agir na História em resposta às orações do seu povo. Portanto, uma grande característica de um pai espiritual é que ele deve suplicar pela vida de seus filhos na fé.

b) O pai espiritual incentiva o crescimento espiritual de seus filhos (Fp.1:6). O pai espiritual revela a seus filhos o processo da transformação deles - “Aquele que começou boa obra em vós há de completá-la”. Ele compartilha com seus filhos quais são suas convicções de fé. Paulo vê os crentes da Igreja de Filipos como uma obra de Deus. A expressão “boa obra” pode ser referência à salvação deles ou à sua ativa participação financeira no progresso do evangelho. A expressão “ao dia de Jesus Cristo” refere-se à sua segunda vinda para buscar seu povo e levá-lo para o Céu e provavelmente também ao tribunal de Cristo, quando todo o serviço feito para o Senhor receberá sua justa recompensa.

c) O pai espiritual não negligencia a responsabilidade de seus filhos (Fp.1:7-11). O pai espiritual não descuida em hipótese alguma de seus filhos. Ele expressa os seus pensamentos e atos em um amor genuíno pelos seus filhos. Ele clama pelo crescimento espiritual de seus filhos. Ele clama para que seus filhos sejam fiéis a Jesus Cristo. Paulo pede que o amor dos filipenses aumente cada vez mais, em pleno conhecimento e em toda a percepção. O primeiro alvo da vida do cristão é amar a Deus e amar o semelhante. O amor, porém, não se restringe ao campo das emoções. Para realizar um trabalho eficaz na obra do Senhor, precisamos usar nossa inteligência e exercitar nosso conhecimento. De outra forma, nossos esforços serão inúteis. Por isso, Paulo ora não somente para que os filipenses continuem a manifestar o amor cristão, mas também para que esse amor seja exercitado em pleno conhecimento e toda a percepção. Que nossos olhos espirituais estejam abertos para que não possamos cair em nenhuma armadilha de falsos pais espirituais.

2. O amor motivado pelo modo de viver o Evangelho

Paulo ficou muito contente ao saber do modo de viver dos crentes de Tessalônica. Apesar do pouco tempo que passara com eles, ficaram firmes na fé; e essa disposição de seguir a Cristo tocou o coração de Paulo. Como afirma o pr. Elienai Cabral, “essa Igreja era formada por pessoas que abandonaram a crença em ídolos pagãos e, pela fé, abraçaram o Evangelho. Logo, o Evangelho não é só discurso, mas implica práticas convictas”.

A igreja de Tessalônica recebeu a mensagem do Evangelho mesmo sob um forte clima de hostilidade e perseguição. A Igreja nasceu saudável porque sua fé foi estribada numa base certa, a semente cresceu e frutificou porque nasceu de um solo fértil. Concordo com o pr. Hernandes Dias Lopes quando diz que “hoje, muitas igrejas nascem doentes porque recebem palavras de homens, e não a Palavra de Deus; são alimentadas com o farelo das doutrinas humanas e não com o trigo da verdade divina. Os púlpitos estão pobres e almas estão famintas. Existe pouco de Deus nos púlpitos e muito do homem. O evangelho da graça, como pão nutritivo de Deus, está sendo negado ao povo e, em lugar dele, os pregadores estão dando uma sopa rala à Igreja. Muitos púlpitos já abandonaram a pregação fiel e os pregadores já se renderam ao pragmatismo, buscando mais os aplausos dos homens que a glória de Deus, mais o lucro do que a salvação, mais a prosperidade do que a piedade”.

A Igreja, no seu todo, e cada crente, em particular, só poderá ser um referencial para o mundo e para os homens se viver de uma maneira diferente do que vive o mundo e dos que vivem os homens ímpios. Se convidarmos as pessoas descrentes, e elas vierem, e descobrirem que em nosso meio existe a mesma luta pelo poder, como existe lá fora, o mesmo apego às coisas materiais, as mesmas mentiras e trapaças, as mesmas traições, calúnias e injúrias, os mesmos sentimentos de vaidade, de orgulho e de egoísmo, a mesma falta de união e de amor, as mesmas desconfianças, ciúmes e traições, então, elas não terão motivos para desejarem ficar conosco.

O crente não deve seguir o que o mundo dita, mas aquilo que a Bíblia diz. Nossas vidas devem estar de acordo com o padrão da Palavra de Deus (Gl.6:16). Se amamos de fato a Cristo jamais deveríamos nos associar ao mundo e seus valores. O apóstolo João nos exorta: “Se alguém ama o mundo o amor do Pai não está nele” (1João 2:15). A Igreja está no mudo, mas o mundo não deve estar na Igreja. Jesus condenou o dualismo na vida do cristão: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro” (Mt.6:24). Neste contexto repito as palavras de Josué: “se vos parece mal aos vossos olhos servir ao SENHOR, escolhei hoje a quem sirvais” (Js.24:15).

3. O amor deve nortear a nossa vida na Igreja Local

O crente cheio do amor divino é como um farol que brilha a noite; o seu viver, o seu andar e as suas atitudes norteiam a vida dos demais na Igreja Local. Crente com este perfil não faz críticas destrutivas a quem quer que seja na Igreja, mas demonstra amor e comunhão a todos os irmãos que se congregam com ele. Na Bíblia, a Igreja é chamada de o Corpo de Cristo, do qual Cristo é a cabeça, para explicar nossa união com Cristo e uns com os outros. Assim como todas as partes do corpo estão ligados e trabalham juntas, os cristãos devem viver e trabalhar unidos para a obra de Deus, tendo como principal elemento o amor. Na Carta aos Efésios, o apóstolo diz: “Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem-ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor” (Ef.4:15,16). Portanto, uma igreja só é vista como verdadeiramente cristã quando o amor nela brilhe como um farol a noite.

O amor que o apóstolo Paulo nutria pela Igreja não tinha dimensão; ele estava pronto a sofrer toda sorte de perseguição e provação para pastorear a Igreja do Senhor; estava pronto a ser preso, a sofrer ataques externos e temores internos para pastorear a Igreja de Deus; estava pronto a dar a própria vida para cumprir cabalmente seu ministério. Portanto, esse amor que Paulo tinha pela Igreja “deve tocar o nosso coração e, assim, sermos encorajados a manifestá-lo na Igreja Local em que congregamos”.

II. O AMOR E FÉ NA IGREJA

1. Amor, uma palavra proeminente nas Cartas de Paulo

O amor tem a proeminência nas Epístolas de Paulo porque é o pilar principal da Igreja; é o caminho da maturidade cristã e espiritual; é o cumprimento da lei (Rm.13:10). O amor é o maior de todos os mandamentos (Mc.12:31). O amor é a apologética final, é o grande remédio para os males da Igreja. “Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (1João 4:8).

Paulo afirma em 1Corintios 13:8 que “o amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará”. Paulo argumenta em 1Corintios 13:13 que dentre as virtudes - a fé, a esperança e o amor -, este é o maior de todos. Sem amor não há cristianismo. Você pode ser ortodoxo, mas se não tiver amor, você não é um cristão. O apóstolo Joao afirma que aquele que não ama ainda permanece nas trevas (1João 2:11). Quem permanece nas trevas é aquele que ainda não nasceu de novo. O apóstolo João disse: “Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1João 4:20). Jesus disse: “nisto conhecerão todos que sois meus discípulos se tiverdes amor uns aos outros” (João 13:35).

O amor é sacrificial, genuíno, puro, santo, e que não busca interesses; o amor é mais do que emoção, é atitude, é ação; é amar o indigno; é amar até as últimas consequências; é amar como Cristo amou; Cristo amou a Igreja e a Si mesmo se entregou por ela.

Também, nas Epístolas de Paulo é mencionado com constância o amor de Deus por nós. Paulo afirmou que, na cruz, Deus revelou seu abundante amor (Rm.5:8) - “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores”. A morte de Cristo evidencia não apenas o amor de Deus por nós, mas também a natureza desse amor. Sua origem de modo algum está no objeto amado, mas inteiramente em Deus. Portanto, o amor de Deus não é apenas um sentimento, é uma ação; não consiste apenas em palavras, é uma dádiva; não é uma dádiva qualquer, mas uma dádiva do próprio Deus - Deus deu o seu Filho Unigênito (João 3:16). Portanto, Ele deu tudo, deu a Si mesmo. Deus não amou aqueles que nutriam amor por Ele, mas aqueles que lhe viraram as costas. Deus amou aqueles que eram inimigos.

2. A Fé e o Amor no ensino de Paulo

Paulo amava profundamente as igrejas que ele tinha fundado. Ele estava continuamente agradecendo a Deus pela vida da Igreja (cf.1Ts.1:2; 2:13; 3:9; 1:3; 2:13). Com relação à Igreja tessalonicense, Paulo sentiu-se no dever de agradecer continuamente a Deus pela vida deles. Ele glorificou a Deus pela vida abundante da Igreja. Em vez de perder sua alegria pela atitude rebelde de alguns, ele encheu sua alma de alegria pela vida superlativa dos demais que expressavam entusiasmos na fé cristã e no amor, a despeito das tremendas provas. Disse ele: “Sempre devemos, irmãos, dar graças a Deus por vós, como é de razão, porque a vossa fé cresce muitíssimo, e o amor de cada um de vós aumenta de uns para com os outros, de maneira que nós mesmos nos gloriamos de vós nas igrejas de Deus, por causa da vossa paciência e fé, e em todas as vossas perseguições e aflições que suportais” (2Tes.1:3).

O elogio de Paulo aos crentes de Tessalônica foi focado em três áreas fundamentais: fé, amor e paciência. Na primeira Epístola aos Tessalonicenses, ele já havia destacado a trilogia: fé, amor e esperança como sólido fundamento da maturidade cristã (1Ts.1:3). Na segunda Epístola, ele volta a destacar novamente os dois primeiros elementos, demonstrando assim que a fé e o amor têm uma correlação inigualável.

a) A Fé. Uma fé que “cresce muitíssimo” (2Ts.1:3). Na primeira Epístola aos Tessalonicenses, Paulo ora para que a fé deles seja aperfeiçoada (1Ts.3:10). Agora, ele agradece por isso (2Ts.1:3). A fé dos tessalonicenses estava crescendo além daquilo que Paulo poderia esperar. Eles estavam transcendendo. As perseguições e tribulações em vez de destruir a fé dos tessalonicenses, a fortaleceram. Uma fé que não é testada não pode ser forte. O pr. Hernandes Dias Lopes afirma que “a fé é como os músculos, ela precisa ser exercitada para se fortalecer. Uma vida fácil pode tornar-se uma vida superficial, assim como uma vida sem provas produz uma fé rasa. A galeria da fé em Hebreus 11 é formada de pessoas que enfrentaram duríssimas provas. Assim como é impossível uma pessoa aprender a nadar sem entrar na água, também é impossível ter uma fé vigorosa sem passar pelos rios caudalosos das provas”.

b) O Amor – “o amor de cada um de vós aumenta de uns para com os outros” (2Ts.1:3). O amor mútuo entre os crentes da Igreja de Tessalônica estava em pleno crescimento, e isto era uma resposta à oração de Paulo (1Ts.3:12; 4:9,10). O sofrimento em vez de tornar os crentes de Tessalônica amargos e indiferentes, fê-los ainda mais abundantes no amor recíproco. O amor é a marca do discípulo verdadeiro (João 13:34,35). O amor é o maior dos mandamentos; ele é a síntese da Lei; ele é a apologética final. Sem amor não há cristianismo autêntico. O mundo vai nos conhecer como discípulos de Cristo pelo amor. É pelo amor que a Igreja vai impactar o mundo. É pelo amor que o mundo verá Jesus em nós e por meio de nós.

3. A dimensão prática do amor na Igreja

No ministério de Paulo, o amor tinha um caráter prático. O problema de muitos cristãos de nossos dias não é a ortodoxia – saber fazer o que é certo à luz da Bíblia -, e sim a ortopraxia – viver aquilo que sabemos ser o certo à luz da Bíblia. Precisamos conjugar o que falamos com o que fazemos, ou nossas palavras cairão no vazio. Não basta falar bonito ou saber o que falar, se não houver ação. Agir de forma conjugada faz a diferença na vida do servo de Deus. Sem dúvida, esse tem sido um dos maiores problemas da Igreja Local em nossos dias. Não raro, muito do que é falado nos púlpitos raramente é praticado, e isso tem colocado o testemunho de muitos em desvantagem.

Ser sensível às necessidades do nosso próximo – daquele que é absolutamente necessitado - e procurar maneiras para podermos nos envolver pessoalmente é uma maneira de colocar o amor em prática - “Se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo com a ti mesmo, bem farás” (Tg.2:8). A verdadeira fé salvífica é tão vital que não poderá deixar de se expressar por ações, e pela devoção a Jesus Cristo; Tiago chama isso de “religião pura e imaculada para com Deus” (Tg.1:27).

Certa feita Jesus mostrou a um doutor da Lei o que significa o amor na prática. Jesus contou a ele a Parábola do Bom Samaritano (Lc.10:30-37). Este doutor da Lei havia perguntado a Jesus: “quem é o meu próximo?”. Jesus então conta a parábola e no final pergunta ao doutor: “quem foi o próximo?”. Assim, Jesus estava instigando aquele doutor a dar uma resposta bem diferente da que ele gostaria, fazendo-o elogiar alguém de uma raça profundamente odiada, que exerceu na prática o amor; amor este que os religiosos de Israel não praticaram. Jesus quis ensinar aquele doutor, e a todos nós, que o amor se manifesta na atitude concreta em relação ao outro, mesmo a um inimigo, suprindo a necessidade dele dentro da medida do possível.

O apostolo Paulo, em sua Epístola aos Romanos, afirma que “O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Rm.13:10). O pr. Hernandes Dias Lopes afirma que “o amor é benigno, e não maligno. O amor é altruísta, e não egoísta. O amor coloca sempre o outro na frente do eu. O amor respeita a vida do outro, por isso quem ama não mata. O amor respeita a honra e a família do outro, por isso quem ama não adultera. O amor respeita os bens e a prosperidade do outro, por isso quem ama não furta. O amor respeita o bom nome do outro, por isso quem ama não se presta ao falso testemunho. O amor não deseja o que é do outro; antes, está contente com o que Deus lhe deu, por isso quem ama não cobiça”. É conhecida a expressão usada por Agostinho de Hipoma: “Ama a Deus e faze o que quiseres”. Quando amamos a Deus e ao próximo, cumprimos a Lei e nos postamos na dimensão prática do amor na Igreja.

III. AS TRES VIRTUDES NA IGREJA DE TESSALÔNICA: FÉ, AMOR E ESPERANÇA

1. As três virtudes teológicas (1Ts.1:3)

Sempre que o apóstolo Paulo orava a Deus, ele mencionava os irmãos tessalonicenses. Veja o que ele disse: “recordando-nos, diante do nosso Deus e Pai, da operosidade da vossa fé, da abnegação do vosso amor e da firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts.1:3 - ARA). Será que nós também somos assim tão fiéis em mencionar o nome de nossos irmãos na fé em nossas orações? Ele também dava graças a Deus por eles, lembrando-se “da operosidade da fé, da abnegação do amor e da firmeza da esperança” deles “em nosso Senhor Jesus Cristo”.

O lugar onde Paulo costumava lembrar-se das virtudes dos cristãos tessalonicenses é indicado pela frase “diante de nosso Deus e Pai”. Quando Paulo entrava na presença de Deus, em oração, ele recordava o nascimento espiritual e o crescimento dos santos e dava graças a Deus pela Fé, pelo Amor e pela Esperança deles. Estas três virtudes formavam uma tríade especial nos ensinos de Paulo. Veja que também para a Igreja de Corinto Paulo faz menção dessas três virtudes: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estas três; mas a maior destas é o amor” (1Co.13:13). Estas três virtudes são princípios morais centrais característicos da Igreja; elas são superiores aos dons espirituais, e também são mais duradouras. A maior dessas virtudes é o amor, pois é mais proveitosa que as outras; ela não é centrada em si mesma, mas nos outros.

2. A virtude da Fé

Paulo disse: “operosidade da vossa fé”. Segundo o pr. Hernandes Dias Lopes, a palavra traduzida por “operosidade” é “ergon”, trabalho ativo ou todo o trabalho cristão governado e energizado pela fé. A expressão “operosidade da fé” implica também a vida de fé que se segue à conversão. Quando uma pessoa crê verdadeiramente em Jesus, ela se torna operosa no Reino de Deus. Matthew Henry diz que onde quer que exista uma fé verdadeira, encontramos obra, pois a fé sem obras é morta (Tg.2:14). Salvação conduz ao serviço. Quanto mais robusta é a fé que um povo tem em Cristo, tanto mais dedicado é o seu trabalho para Ele.

3. A virtude do Amor

Além da operosidade da fé, Paulo também se lembra “da abnegação do amor” dos cristãos tessalonicenses, isto é, do serviço para Deus motivado pelo amor ao Senhor Jesus. Segundo Willian Macdonald, a cristandade não é uma vida que se tenha de aturar por dever: é servir a uma Pessoa por amor; esta Pessoa é Cristo. Na Igreja tessalonicense havia consenso de que os seguidores de Jesus Cristo deveriam trabalhar motivados pelo amor ao nosso Senhor.

Segundo Hernandes Dias Lopes, a palavra “abnegação” é “kópos”, trabalho exaustivo, labor. A palavra denota trabalho árduo e cansativo, que envolve suor e fadiga. Enfatiza o cansaço que decorre da utilização de todas as energias da pessoa. Nós evidenciamos o nosso amor por Cristo por aquilo que fazemos para Ele. Também demonstramos amor ao próximo não apenas com palavras, mas com atitudes concretas de serviço.

4. A virtude da Esperança

Paulo também dá graças pela “firmeza da esperança” dos tessalonicenses, uma alusão à paciência com que aguardavam a vinda do Senhor Jesus. A Igreja de Tessalônica estava com os pés na terra, mas com os olhos no Céu. Ela servia no mundo, mas aguardava a glória do Céu. Sua esperança não era vaga, mas firme. A palavra que Paulo usou para “firmeza” é uma das mais ricas da língua grega – “hupomonê”. Esta é uma das palavras mais nobres de todo o Novo Testamento. Literalmente, “hupo” (“sob”) e “monê” (“permanecer”), ou seja, “permanecer sob” pressão, sem desistir. Os crentes de Tessalônica haviam padecido perseguição por causa de sua valorosa defesa da causa de Cristo, mas nunca houve sequer indício de alguma falha da parte deles; havia neles uma completa resistência persistente.

Sem dúvida nenhuma, a esperança da vinda do Senhor é a mais sublime esperança do cristão; nada neste mundo – riquezas, perseguições, lutas, oposições, enfermidades – pode nos separar do amor que temos em Cristo Jesus e da esperança de estamos com Ele para sempre. Façamos nossa as palavras de Paulo: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm.8:35-39). Que assim seja!

CONCLUSÃO

Aprendemos nesta Aula que, assim como Paulo, devemos amar a Igreja Local em que congregamos. Não existe cristianismo prático sem compromisso e fidelidade para com a igreja de Cristo. É verdade que a Igreja não salva, pois quem leva para o céu é Jesus somente, mas essa verdade não pode diminuir a importância que a Igreja em que somos membros representa em nossa vida. Devemos demonstrar o nosso amor à Igreja Local a qual pertencemos com atitudes que comprovam a veracidade desse amor. Por exemplo: quem ama sua igreja intercede por ela em oração; participa regularmente de suas reuniões com alegria e reverência; se preocupa em conservar um bom testemunho perante os não-cristãos; oferece apoio material com suas contribuições financeiras e serviços. E, por fim, quem ama a sua Igreja a defende de toda zombaria, fofoca, crítica, perseguição e calúnia, sejam essas ofensas provenientes tanto dos de dentro como dos de fora. Que todos nós venhamos amar dessa maneira a Igreja que Deus tem nos colocado para ali o adorarmos.

PAULO E SUA DEDICAÇÃO AOS VOCACIONADOS

Texto Base: Atos 20:17-34

 

“Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue” (Atos 20:28).

Atos 20:

17. De Mileto, mandou a Éfeso chamar os anciãos da igreja.

18. E, logo que chegaram junto dele, disse-lhes: Vós bem sabeis, desde o primeiro dia em que entrei na Ásia, como em todo esse tempo me portei no meio de vós,

19. servindo ao Senhor com toda a humildade e com muitas lágrimas e tentações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram;

20. como nada, que útil seja, deixei de vos anunciar e ensinar publicamente e pelas casas,

21.testificando, tanto aos judeus como aos gregos, a conversão a Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo.

22.E, agora, eis que, ligado eu pelo espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que lá me há de acontecer,

23.senão o que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me revela, dizendo que me esperam prisões e tribulações.

24.Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus.

25.E, agora, na verdade, sei que todos vós, por quem passei pregando o Reino de Deus, não vereis mais o meu rosto.

26.Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos;

27.porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus.

28.Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue.

29.Porque eu sei isto: que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não perdoarão o rebanho.

30.E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si.

31.Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar, com lágrimas, a cada um de vós.

32.Agora, pois, irmãos, encomendo-vos a Deus e à palavra da sua graça; a ele, que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados.

33.De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem a veste.

34.Vós mesmos sabeis que, para o que me era necessário, a mim e aos que estão comigo, estas mãos me serviram.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos de um dos maiores legados do apóstolo Paulo: sua dedicação em formar novos obreiros para a Igreja. Ele tinha consciência da efemeridade de sua vida, mas a Igreja continuaria. Ele tinha certeza de que a Obra para a qual ele tinha sido vocacionado não terminaria nele, mas continuaria até a volta de Cristo.  É importante conscientizar-se de que a Obra de Deus é muito maior do que os interesses humanos. Somos apenas despenseiros da Obra de Deus; não somos empregados de nenhum líder de Igreja. Somos, com certeza, administradores do rebanho do Senhor. Foi Jesus quem disse a Pedro: “apascenta as Minhas ovelhas” (João 21:16).  Então, como despenseiros da Obra de Jesus e sabendo que a Obra não pode parar, então, faz-se necessário cuidar para que não falte obreiro de valor, que dê continuidade, com responsabilidade e integridade, o trabalho da evangelização, do discipulado e de liderança da Igreja do Senhor. O Senhor requer que as lideranças mais experientes cuidem das mais novas, pois, “grande é, em verdade, a seara, mas os obreiros são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que envie obreiros para a sua seara” (Lc.10:2). O apóstolo Paulo deixou os pré-requisitos necessários para se estabelecer obreiros que darão sequência a obra do Senhor (ler 1Tm.3:1-13; Tt.1:4-9). Fugir desse roteiro pode resultar em graves prejuízos ao corpo eclesiástico e, consequentemente, à Igreja Local.

I. ÉFESO, O PONTO DE APRENDIZADO DOS VOCACIONADOS

1. O ponto de partida

Certamente, Éfeso foi o ponto de partida para o despertamento de novos vocacionados. A Igreja de Éfeso tornou-se a mais importante a partir da terceira viagem missionaria de Paulo. Dali saíram os obreiros para plantar as igrejas da Ásia Menor. Por essa Igreja passaram Priscila e Áquila. Nessa Igreja ministrou Apolo. A essa Igreja Paulo enviou Timóteo. Dali, Paulo escreveu suas duas Epístolas aos Coríntios; também escreveu suas duas Epístolas a Timóteo quando este era pastor da Igreja de Éfeso.

Em Éfeso, num edifício escolar, do qual um homem por nome Tirano era proprietário, Paulo ministrou suas aulas. Paulo fez dessa escola seu quartel-general para ensinar a Palavra de Deus, diariamente – das 11 horas até às 16 horas -, durante dois anos, e para treinar futuros líderes no afã de desenvolver a Igreja na província da Ásia (Atos 19:9,10). Nessa escola, Paulo formou vários evangelistas que saíram pela Ásia Menor, levando a Palavra de Deus e plantando igrejas. John Stott diz que as preleções diárias de Paulo resultaram na evangelização de toda a província (Atos 19:10,20). Obviamente, Paulo não ficou todo esse tempo restrito à cidade de Éfeso. Ele percorreu quase toda a Ásia Menor, conforme o relato de seus próprios opositores: “e bem vedes e ouvis que não só em Éfeso, mas até quase em toda a Ásia, este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidão, dizendo que não são deuses os que se fazem com as mãos” (Atos 19:26).

O Evangelho foi pregado em toda a Ásia Menor porque Paulo teve a sabedoria e o cuidado de preparar líderes para que isso acontecesse. Concordo com o pr. Elienai Cabral quando afirma que, “sem uma boa preparação de obreiros e líderes, a obra de Deus não pode ser feita com eficácia; é preciso cuidar das novas vocações”.

2. Paulo e o despertamento de novas vocações

A visão missionária de Paulo era amplíssima; ele almejava alcançar todo um continente – a Ásia Menor –, e ir muito além dessa fronteira (Rm.15:28). Mas, para que o seu objetivo tornasse realidade, era necessária parceria, isto é, mais obreiros destemidos e preparados para tão desafiadora missão. Por isso, ele arregimentou e investiu em pessoas que o auxiliassem a levar o Evangelho aos diversos lugares da Ásia e da Europa. Citamos alguns nomes como, por exemplo, Trófimo (Atos 20:4), Tíquico (Ef.6:21,22; Cl.4:7; 2Tm.4:12; Tt.3:12), Tito, Aristarco (Cl.4:10), Epafrodito (Fp.2:25), Filemom, Gaio e tantos outros. Todos esses obreiros e vários outros (Atos 20:17,20,31) foram preparados pelo apóstolo Paulo. Ele vazia tudo isto não visando poder ministerial ou lucro fácil, não (Atos 20:33); ele agia dessa forma porque pesava sobre ele a responsabilidade que lhe fora dada por Jesus Cristo – “Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus (Atos 20:24).

3. Paulo, um mestre inspirado

A inspiração das preleções de Paulo - quer no ensino, quer nas pregações - é inegável. Ele ensinou sistematicamente a Bíblia Sagrada em toda a sua completude. Ele não se aproximava das Escrituras com seletividade, pois toda a Escritura é inspirada por Deus e útil ao ensino e a correção. Ele não ensinava as suas ideias, mas a Palavra de Deus. Ele não entregava a sua mensagem, mas a de Deus. Deus não tem nenhum compromisso com a palavra do pregador, mas apenas com a Sua Palavra. Paulo ensinava com fidelidade a Palavra de Deus (Atos 20:20). Ele não apenas gerava filhos espirituais mediante a pregação, mas também os nutria com o “alimento” que desceu do Céu.

O líder da Igreja é um mestre, e a ele cabe o privilégio de ensinar as verdades benditas do evangelho ao povo de Deus. O líder espiritual tem alegria de ensinar tanto a multidões como a pequenos grupos (Atos 20:20). Paulo ensinava de casa em casa e também publicamente; para ele, o importante era não seguir um cronograma fixo de reuniões, mas aproveitar todas as oportunidades de estimular o crescimento dos cristãos.

Há obreiros que só pregam para grandes auditórios, sentem-se importantes demais para pregar ou ensinar numa pequena congregação ou numa reunião de grupo familiar. Esses indivíduos pensam que são mais importantes do que o apóstolo Paulo, que pregava de casa em casa. Jesus pregou seus mais esplêndidos sermões para uma única pessoa: a mulher samaritana. Concordo com o pr. Hernandes Dias Lopes quando afirma que “quem não se dispõe a pregar para um pequeno grupo não está credenciado a pregar para um grande auditório. Nossa motivação não deve estar nas pessoas, mas em Deus”.

Paulo não somente cuidava de ensinar, discipular os cristãos, mas também cuidava para que houvesse sempre obreiros instruídos na Palavra. Ao perceber que havia uma pessoa vocacionada ao ministério pastoral ou para missões transculturais, ele se dedicava em prepará-lo. E para que suas instruções se perpetuassem, não ficassem sem registro, ele escreveu três epistolas pastorais, inspiradas pelo Espírito Santo; são elas: 1 e 2 Timóteo, e Tito. Estas Epístolas pastorais são orientações práticas direcionadas aos líderes do povo de Deus, ensinando-lhes a maneira certa de agirem à frente da Igreja de Deus. São importantes revelações sobre o sistema da Igreja Local; o ministério das mulheres e os cargos da Igreja são encontradas nessas epístolas pastorais, principalmente na epístola de 1 Timóteo. Paulo, modelo por excelência, descreve de forma clara como o homem de Deus deve viver. Portanto, a constituição e a preparação de novos líderes era um cuidado constante de Paulo, e esse cuidado deve ser também dos líderes atuais, pois a estabilidade ministerial da Igreja Local depende disso.

II. O LEGADO DOUTRINÁRIO DE PAULO PARA OS NOVOS LÍDERES

1. A advertência de Paulo a respeito dos judaizantes e dos gnósticos

a) Quem eram os judaizantes?

Eram os líderes que exigiam dos crentes convertidos a Cristo a observação dos rituais judaicos, considerados nulos pelo Novo Testamento (Hb.8:13; 9:15-17; cf. Mt.9.16,17). Infelizmente, no princípio da Igreja, surgiram aqueles que não foram suficientemente cautelosos e cuidadosos, deixando-se levar pelo “fermento dos fariseus”, apesar das advertências do Senhor no Seu ministério terreno (Mt.15:10-20; 16:1-12; Mc.8:15-21), passando a querer exigir a observância da lei de Moisés como um requisito para a salvação (cf. At.15:1). Surgia, então, a “doutrina judaizante”, que punha a observância dos ditames da lei mosaica como um elemento necessário para a salvação.

A “doutrina judaizante” manifestou-se sutilmente na Igreja na forma de um exclusivismo de pregação aos judeus. Os primeiros crentes deixaram-se levar pela cultura judaica e se comportaram como uma mera “seita judaica”, a ninguém pregando o Evangelho senão aos judeus (cf. At.11:19), não atentando para as palavras de Jesus pouco antes de Sua ascensão, segundo a qual teriam de pregar o Evangelho a toda criatura (Mt.28:19; Mc.16:15; At.1:8).

Este comportamento dos primeiros crentes foi desaprovado pelo Senhor, tanto que foi permitido uma dura e cruel perseguição aos crentes para que saíssem de Jerusalém, a fim de propagar o evangelho (cf. At.8:1); mas, ainda assim, mesmo dispersos pelo mundo, os crentes mantiveram uma postura cultural de não pregar senão somente aos judeus (cf. At.11:19), o que somente foi rompido por alguns servos do Senhor de Chipre e de Cirene (região que hoje corresponde ao norte da Líbia), que foram os primeiros a pregar o Evangelho aos gentios, em Antioquia, então capital da província romana da Síria.

Esta resistência cultural é bem demonstrada no livro de Atos, no episódio que nos dá conta da pregação do Evangelho a Cornélio e aos seus familiares (Atos 10 e 11), resistência não só do apóstolo Pedro, mas da Igreja em Jerusalém, que foi sempre um dos redutos dos judaizantes.

Com o início da pregação aos gentios, em Antioquia, estes setores judaizantes de Jerusalém, agindo por conta própria e sem a autorização do seu pastor, Tiago, o irmão do Senhor (cf. At.15:24), passaram a ir até o encontro das igrejas gentílicas que se formavam, defendendo a necessidade da prática da lei para que houvesse a salvação, tendo, neste particular, tido a oposição de Barnabé e de Paulo, os grandes evangelistas entre os gentios. Paulo, aliás, em quase todas as suas cartas, toca no tema, sendo certo que a Epístola aos gálatas é inteiramente dedicada a este assunto.

Essa exigência dos judaizantes causou um tumulto tão grande que foi preciso reunir os apóstolos e os anciãos da Igreja em Jerusalém e, sob a orientação do Espírito Santo, decidir a respeito, tendo, então, ficado patente que a observância da lei não era exigível aos gentios, porque não havia qualquer papel a ser exercido pela lei na salvação do homem. Nessa reunião da Igreja, que não foi decisão humana, mas decisão dirigida pelo Espírito Santo (At.15:28), estabeleceu-se, para que não houvesse mais dúvidas, que os gentios deveriam, tão somente, abster das coisas sacrificadas aos ídolos, do sangue, da carne sufocada e da fornicação (At.15:29), não se devendo, pois, cumprir a lei judaica, nem mesmo a guarda do sábado.

Por que o Espírito Santo assim decidiu, usando dos apóstolos e anciãos da Igreja primitiva no concílio de Jerusalém? Porque o Espírito Santo sabia que ao longo da história da Igreja, os crentes seriam perturbados de novo pela “doutrina judaizante”, doutrina esta que dentro da sua sutileza, também tem como objetivo menosprezar o sacrifício vicário de Cristo na cruz do Calvário.

Na medida em que exigimos a observância da lei para a salvação do homem, estamos a dizer que o sacrifício de Jesus é insuficiente para que o homem seja salvo, que o homem somente será salvo se fizer as obras da lei, o que equivale a dizer que Jesus não é o Salvador. Entretanto, a Bíblia é claríssima ao mostrar que as obras da lei são incapazes de salvar o homem e que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei (Rm.3:28). A defesa da guarda da lei é, pois, uma demonstração de incredulidade no poder do sacrifício de Cristo em apagar o pecado, e tudo que não é por fé, é pecado (cf. Rm.14:23).

Quem escolher a lei como requisito para a sua salvação, assinará a sua própria sentença de morte espiritual, pois “todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque escrito está: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las” (Gl.3:10). Por isso, o que a Bíblia nos ensina é que todo aquele que escolher a lei como veículo de salvação, estará irremediavelmente perdido, pois escolheu para si próprio a maldição.

O tempo da graça e da verdade (João 1:17) explica porque não devemos mais seguir a lei - porque ela é um pacto firmado com Israel, e que foi substituído pelo um novo pacto estabelecido por Jesus por meio do seu “sangue derramado em favor” de nós (Lc.22:20; cf.Hb.8:13). Mas, infelizmente, em meio à Cristandade, os argumentos dos judaizantes encontraram eco, sendo a razão de ser de várias práticas que hoje se infiltraram em diversos segmentos ditos cristãos, notadamente a adoção de rituais e cerimônias do antigo pacto, sem se falar na própria doutrina da transubstanciação, segundo a qual, o pão e o vinho da ceia se tornam o corpo e sangue de Cristo, fazendo com que cada culto se torne um sacrifício do Senhor.

Várias práticas cerimoniais do tempo da lei foram e têm sido adotadas e acrescentadas por estes segmentos que, assim, homenageiam os judaizantes dos tempos apostólicos, causando evidente inobservância da Palavra de Deus. Eis os seus principais ensinos:

ü A guarda do sábado. Certos "mestres" ensinam que os cristãos devem guardar o sábado. Essa prática é uma forma de retorno ao judaísmo. A guarda do sábado é um "concerto perpétuo" somente para Israel (Êx.31.14-17; Lv.23.31,32; Ez.20.12,13,20). Lembremos que Paulo exortou os crentes da Galácia sobre o perigo das práticas judaizantes na Igreja (Gl.1.6-9; 3.1-3).

O sábado era um sinal para Israel para que este se lembrasse que tinha por Deus o Criador de todas as coisas; que o Senhor era o seu soberano e libertador; que Israel era uma nação sacerdotal e povo santo, como havia escolhido ser no pacto estabelecido no Sinai. Era a marca distintiva entre Israel e as demais nações.

A Igreja não precisa do sábado, pois suas marcas são outras, são “as marcas do Senhor Jesus Cristo” (Gl.6:17), marcas que levamos em nossos corpos, que são o fruto do Espírito Santo (Mt.5:16; 7:15-23; Gl.5:22). Como estamos em paz com Deus, pela justificação pela fé em Cristo (Rm.5:1), vivemos em um descanso ininterrupto, decorrente do fato de termos nos arrependidos de nossos pecados e não endurecido os nossos corações (cf. Hb.4:1-11). O sábado é, portanto, figura do descanso que goza aquele que está em comunhão com Deus e, por isso, nos lugares celestiais com Cristo (Ef.1:3).

ü O ritual da circuncisão. A circuncisão é o ato pelo qual alguém do sexo masculino assumia a identidade judaica. A circuncisão, estabelecida antes mesmo da lei de Moisés, pois foi o sinal estabelecido no pacto entre Deus e Abrão (Gn.17:9-14), era o ato de inserção no povo de Deus, daí porque os judeus se vangloriarem em se denominar “descendência de Abraão” (cf. Jo.8:33). No entanto, tal exigência, que foi a principal motivação para a convocação do Concílio de Jerusalém, era descabida, porquanto a filiação de Abraão, como o disse o próprio Jesus, não é uma filiação baseada num ritual externo, como a circuncisão, mas uma filiação decorrente da fé em Jesus, tanto que a justificação de Abraão se deu não pela circuncisão, mas quando creu em Deus, crença esta que se deu antes de ele se circuncidar (cf. Rm.4:10).

Na verdade, a circuncisão estabelecida por Deus a Abraão tinha um papel restrito a Israel, e era, na verdade, figura, símbolo de uma realidade espiritual que se revelou plenamente com Cristo Jesus. Assim, a circuncisão simboliza a conversão do homem, o arrependimento pela fé em Cristo, que faz com que o homem nasça de novo e passe a pertencer ao povo de Deus, a Igreja.

Em Atos dos Apóstolos, lemos que os cristãos judeus tentaram coagir os cristãos gentios a circuncidarem-se, conforme a lei de Moisés. Segundo diziam, a salvação dependia, exclusivamente, desse ato litúrgico (Atos 15:1). Condicionavam a salvação em Cristo à observação dos rituais mosaicos, considerados nulos pelo Novo Testamento (Hb.8.13; 9:15-17; cf. Mt.9:16,17).

Na Nova Aliança, não há nenhuma necessidade de os crentes circuncidarem-se para serem salvos. A salvação é dada aos homens gratuitamente, por meio da fé na graça redentora de Jesus Cristo. Vejamos o que a Bíblia ensina sobre a circuncisão:

“Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu aquele que o é interiormente, e circuncisão é a do coração, no espírito, e não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus” (Rm.2:28,29).

“Foi chamado alguém, estando circuncidado? Permaneça assim. Foi alguém chamado na incircuncisão? Não se circuncide. A circuncisão nada é, e também a incircuncisão nada é, mas sim a observância dos mandamentos de Deus” (1Co.7:18,19);

“Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão vale coisa alguma; mas sim a fé que opera pelo amor. Pois nem a circuncisão nem a incircuncisão é coisa alguma, mas sim o ser uma nova criatura” (Gl.5:6; 6:15).

ü Festas de Israel. Outra prática que os judaizantes dos tempos apostólicos queriam impor aos gentios que se convertiam ao cristianismo era a guarda das festividades judaicas (cf. Gl.4:10; Cl.2:16). Aqui, também, vemos que essa guarda estava vinculada exclusivamente a Israel. A lei de Moisés prescrevia quatro festividades, a saber: a Páscoa, o Pentecostes, a Festa dos Tabernáculos e o Dia da Expiação. Ao longo da história de Israel, outras festas foram acrescentadas, como o Purim e a Festa da Dedicação (Chanucá, vide João 10:22), bem como os dias de jejuns rituais; estas festividades, porém, sempre foram consideradas menores, já que não estão presentes na lei mosaica.

De qualquer maneira, com a vinda de Cristo, todas estas festividades, que apontavam para realidades espirituais mais profundas (cf. Cl.2:17), não mais precisam ser comemoradas, com exceção da Ceia do Senhor, que substituiu a Páscoa como celebração comemorativa da morte e ressurreição de Cristo Jesus e anunciadora da Sua volta. Portanto, a Ceia do Senhor é a festa genuinamente cristã, e que comemora o Novo Pacto inaugurado com o sangue de Jesus (1Co.11:20,25; Atos 2:42). Cristo é a nossa Páscoa (1Co.5:7).

b) Quem eram os gnósticos?

Eram falsos mestres que negavam a divindade de Cristo e que Ele veio em carne; ou seja, esses falsos profetas alegavam que Jesus não havia encarnado, mas que um espírito se apossara do corpo do Senhor por ocasião do seu nascimento ou batismo, retirando-se por ocasião da crucificação.

O apóstolo João cuidou bem de refutar esse ensino falso, que pertinaz procurava destruir a fé dos primeiros irmãos. João chamou esses falsos mestres de “anticristos” - “… muitos se têm feito anticristos…” (1João 2:18). E o pior de tudo é que eles saíram do seio da Igreja – “Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestassem que não são todos de nós” (1João 2:19). Estes falsos mestres se haviam infiltrado na comunidade cristã com o fim de mesclar-se entre os irmãos para perverter a doutrina dos apóstolos. Pareciam cristãos, mas não o eram de fato.

“Jesus Cristo veio em carne” (1João 4:2). Esta declaração é de suma importância, pois um mestre que negasse a encarnação deveria ser reconhecido como falso, pois Jesus era um homem real. Essa batalha intelectual travada dentro da Igreja mostra que o inimigo tem interesse em diluir o Evangelho com sutilezas, retirando verdades ou acrescentando erros à mensagem.

Para os gnósticos Jesus existiu, mas não manifesto em carne. Essa pequena distorção era o sinal que mostrava a doutrina de demônios que estava entrando na Igreja. Não havia aqui a negação de sua obra, mas de sua personalidade. Ora, se Jesus não se manifestou em carne, não poderia ter morrido por nossos pecados nem sofrido por nossas transgressões. Essa pequena sutileza fazia uma grande diferença em toda a mensagem.

Disse o apóstolo João: “Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus” (1João 4:2). O mais importante não é o fato histórico, a saber, de que Jesus nasceu no mundo em um corpo humano, mas, sim, a confissão de que Jesus Cristo veio em carne, a confissão que reconhece Jesus com o Cristo encarnado. Quem o confessa também se prostra diante dele como Senhor de sua vida. Quando ouvimos alguém apresentar o Senhor como verdadeiro Cristo de Deus, percebemos que essa pessoa está falando pelo Espírito de Deus. O Espírito de Deus leva as pessoas a reconhecer Jesus Cristo como o Senhor e sujeitar a vida a Ele.

Hoje, encontramos muitas pessoas dispostas a dizer coisas aceitáveis acerca de Jesus, mas não a confessá-lo como Deus encarnado. Dizem que Cristo é “divino”, mas não que é Deus. Menosprezam a glória de Cristo. São, portanto, falsos profetas, falsos mestres. Só existe uma maneira de se combater esses falsos profetas: confrontá-los com a Palavra de Deus.

2. O compromisso de Paulo com o Senhor (Atos 20:19)

O apóstolo Paulo tinha um compromisso inabalável com a Obra para o qual foi vocacionado. Todavia, o primeiro compromisso desse apóstolo era com o Deus da Obra. Ele era cônscio de que o relacionamento com Deus precede o trabalho para Deus. A primeira vocação do crente é para andar com Deus e, como resultado dessa caminhada, fazer a Obra de Deus. Em Atos 20:19 Paulo testemunha como serviu a Deus com humildade e lágrimas por causa das ciladas dos judeus. Três fatos devem ser aqui destacados (adaptado do livro Atos, de Hernandes Dias Lopes):

a) O líder está a serviço de Deus, e não dos homens. O líder serve a Deus, ministrando aos homens. Quem serve a Deus não busca projeção pessoal. Quem serve a Deus não anda atrás de aplausos e condecorações. Quem serve a Deus não depende de elogios nem desanima com as críticas. Quem serve a Deus não teme ameaças nem se intimida diante de perseguições.

O homem de Deus que tem compromisso com o Senhor não vende sua consciência, não mercadeja seu ministério nem compactua com esquemas mundanos ou eclesiásticos para auferir vantagens imediatas. Judas vendeu Jesus por dinheiro. Demas ficou obcecado pelos holofotes do mundo e abandonou as fileiras daqueles que andavam em santidade. Muitos obreiros, de igual forma, são atraídos pela sedução do poder, do dinheiro e do prazer, e perdem a honra, a família e o ministério. O obreiro precisa ter claro em seu coração a quem está servindo; ele precisa ter compromisso sério com o Senhor da Obra.

b) O líder deve servir a Deus com senso profundo de humildade. Muitos batem no peito, anunciando arrogantemente que são servos de Deus. Outros, besuntados de orgulho, fazem propaganda de seu próprio trabalho. Outros servem a Deus, mas gostam dos holofotes. Há aqueles que fazem do serviço a Deus um palco onde se apresentam como os atores ilustres sob as luzes da ribalta. Um servo não busca autoglorificação. Fazer a obra de Deus sem humildade é construir um monumento para si mesmo; é levantar outra modalidade da Torre de Babel.

c) O líder não deve esperar facilidades pelo fato de estar servindo a Deus. Quem serve a Deus com humildade e integridade desperta polêmica e muita hostilidade no arraial do inimigo. Paulo servia a Deus com lágrimas. A vida ministerial não lhe foi amena. Em vez de ganhar aplausos do mundo, recebeu ameaças, açoites e prisões. Paulo manteve sua consciência pura diante de Deus e dos homens, mas os judeus tramaram ciladas contra ele. Enfrentou inimigos reais, porém, às vezes, ocultos. Contudo, nunca deixou cair o compromisso que firmara com o Senhor. Nem sempre Deus nos poupa dos problemas; às vezes, ele nos treina nos desertos mais tórridos e nos vales mais profundos e escuros; porém, não foge do compromisso firmado com o Senhor.

III. PAULO APELA AOS LÍDERES

1. Sobre o desprendimento do obreiro para realizar a obra de Deus (Atos 20:24)

 “Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus” (Atos 20:24).

Estas palavras de Paulo foram direcionadas aos presbíteros de Éfeso (Atos 20:17). Ele afirmou que não considerava a sua vida preciosa para si mesmo desde que cumprisse o seu ministério. Seu maior desejo era agradar e obedecer a Deus. Se, para isso, fosse necessário oferecer sua vida, estava disposto a entregá-la. Tendo em vista aquele que havia morrido por ele, nenhum sacrifício era grande demais. Importava-lhe apenas completar a sua carreira e o ministério que havia recebido do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus. Paulo denota aqui seu total desprendimento para realizar a obra de Deus.

Rev. Hernandes Dias Lopes, analisando este texto, afirma que “o coração de Paulo não estava nas vantagens auferidas do ministério. Ele não atuava no ministério cobiçando prata ou ouro. Não participava de uma corrida desenfreada em busca de prestígio ou fama. Seu propósito não era ser aplaudido ou ganhar prestígio entre os homens. Na verdade, ele estava pronto a trabalhar com as próprias mãos para ser pastor. Estava pronto a sofrer toda sorte de perseguição e privação para pastorear. Estava disposto a ser preso, a sofrer ataques externos e temores internos para pastorear a Igreja de Deus. Estava pronto a dar a própria vida para cumprir cabalmente seu ministério”. Enfim, Paulo estava totalmente desprendido das coisas desta vida para realizar a Obra de Deus.

2. Sobre o cuidado pessoal do obreiro (Atos 20:28)

“Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue” (Atos 20:28).

Paulo, aqui, adverte aos líderes que eles devem cuidar de todo o rebanho, sobre o qual o Espírito Santo os havia constituído bispos. A importância desse encargo é ressaltada nas seguintes palavras deste texto: “que ele resgatou com seu próprio sangue”. “Ele”, aqui, é o próprio Senhor Jesus, que derramou o seu sangue para resgatar o perdido da escravidão do pecado. Deus resgatou a Igreja, mas o fez com o sangue de seu Filho, o bendito Senhor Jesus. Se os pastores se lembrarem que o rebanho o qual está cuidando é a própria Igreja de Deus, a qual Ele comprou com o Seu próprio sangue, então, serão mais diligentes em seu ministério.

Gosto da afirmação de Hernandes Dias Lopes quando afirma que “o pastor precisa ter plena consciência de que o Espírito Santo foi quem o constituiu bispo para pastorear a Igreja. Qualquer manobra humana ou política de bastidor para continuar à frente de uma Igreja é uma conspiração contra o plano de Deus. O pastor não pode agir com truculência. Ele não é um ditador, mas um pai. Não é um explorador do rebanho, mas um servo do rebanho. Muitos pastores constrangem as ovelhas e se impõem sobre elas com rigor despótico (1Pd.5:3). Outros orquestram vergonhosamente para permanecer no pastorado, fazendo acordo e conchavos pecaminosos. O pastor não deve aceitar o pastorado de uma Igreja nem sair dela por conveniência, vantagens financeiras ou pressões. Ele precisa saber que, antes de ser pastor do rebanho, é servo de Cristo”; é despenseiro (1Co.4:1,2) - “Que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus. Além disso, requer-se nos despenseiros que cada um se ache fiel”. 

Observe que nesta recomendação de Paulo os pastores efésios deviam primeiramente vigiar a si mesmos, e só depois o rebanho que lhes foi confiado pelo Espírito Santo – “Olhai, pois, por vós...”. Como afirma o John Stott, “os pastores não podem dar um cuidado adequado aos outros se negligenciam o cuidado e a instrução de suas próprias almas”. Se os pastores-líderes não tiverem em comunhão com o Senhor, não poderão serem guias espirituais da Igreja.

3. Sobre a ameaça de “lobos cruéis” no rebanho de Deus (Atos 20:29,30)

“Porque eu sei isto: que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não perdoarão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si” (Atos 20:29,30).

Outro motivo da recomendação de Paulo aos pastores de Éfeso são os “lobos”; ou seja, Paulo sabia que os falsos mestres entregariam e devastariam o rebanho após a sua partida (Atos 20:29). Alguns deles surgiriam até de dentro da Igreja. Distorcendo a verdade, eles induziriam as pessoas a negá-la para segui-los (Atos 20:30). Assim, os pastores efésios precisavam estar atentos, como Paulo sempre advertia quando estava entre eles (Atos 20:31). Basta ler as duas Epístolas a Timóteo e a Carta a Éfeso em Apocalipse 2:1ss para saber que o fato predito por Paulo realmente aconteceu. Talvez fosse diferente se os pastores tivessem sido mais vigilantes.

O pastor-líder deve ser o guardião e o protetor do rebanho. Como Davi, ele precisa declarar guerra aos ursos e leões, protegendo o rebanho de seus dentes assassinos. Há muitos falsos mestres com suas perniciosas heresias tentando entrar na Igreja. O pastor-líder precisa estar atento. John Stott avisa que, se os líderes cristãos ficam sentados, ociosos, e não fazem nada, ou viram as costas e fogem quando surgem as falsas doutrinas, receberão o terrível título de ‘mercenários’, que não se preocupam com o rebanho de Cristo. Então, também se dirá dos convertidos como se disse a respeito de Israel: ‘Assim se espalharam, por não haver pastor, e se tornaram pasto para todas as feras do campo’ (Ez.34:5).

CONCLUSÃO

Diante do que vimos nesta Aula, não podemos duvidar de que o apóstolo Paulo deixou um legado doutrinário vivo e ecoante à Igreja. “Sua maneira de despertar novas vocações, sua herança doutrinária para a nova geração de trabalhadores e seu apelo aos obreiros para cuidar do rebanho de Deus são marcos importantes para nortear os ministérios dos vocacionados de Deus”. Que se manifestem os novos vocacionados para os diversos ministérios da Igreja, e deixem o Espírito Santo conduzi-los.