SISTEMA DE RÁDIO

  Sempre insista, nunca desista. A vitória é nosso em nome de Jesus!  

O SERMÃO DO MONTE: O CARÁTER DO REINO DE DEUS

 


Texto Base: Mateus 5:1-12


“Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa” (Mt.5:11).

Mateus 5:

1.Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos;

2.e, abrindo a boca, os ensinava, dizendo:

3.Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus;

4.bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;

5.bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;

6.bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;

7.bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;

8.bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;

9.bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;

10.bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus;

11.bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa.

INTRODUÇÃO

Neste 2º trimestre de 2022 vamos estudar um dos textos mais belos e conhecidos da Bíblia Sagrada: o Sermão do Monte. Inicialmente, nesta primeira Aula, trataremos do tema: “O Sermão do Monte: o caráter do Reino de Deus”. John Stott afirma que o Sermão do Monte é o mais lido, o menos compreendido e o menos praticado de todos os ensinos de Jesus. Ao estudá-lo, precisamos aceitar os seus ensinamentos com o máximo de seriedade, pois ele contém os mais altos padrões, os maiores valores, as prioridades do cristianismo. Encontramos nele tudo aquilo que devemos ser e fazer.

O evangelista Mateus introduz o Sermão de uma forma singela: “Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos; e, abrindo a boca, os ensinava...” (Mateus 5:1,2). Muitas vezes, Jesus apresentava seus ensinos sobre um monte. Seus discípulos vinham até Jesus e Ele se sentava para ensinar. A multidão de pessoas se reunia e se sentava nas encostas abaixo dele. Provavelmente, Jesus dirigia esses ensinos principalmente aos doze discípulos, mas as multidões estavam presentes e ouviram suas palavras. Este Sermão desafiava os ensinos dos orgulhosos e legalistas líderes religiosos daquela época. Ele conclamava o povo para ouvir as mensagens dos profetas do Antigo Testamento que, como Jesus, haviam ensinado que Deus quer obediência sincera, e não mera e legalista obediência às leis, tradições e rituais.

Ao estudarmos o Sermão do Monte, devemos ir além do seu ensino moral, ético e espiritual; precisamos ultrapassar a beleza das suas expressões e ilustrações, o perfeito equilíbrio da sua estrutura, a harmonia dos seus ensinamentos, para chegarmos à pessoa do seu Pregador: Jesus, o Mestre por excelência. O valor e a autoridade desse sermão estão no próprio Jesus - Ele é mais importante que Seu sermão. Quando tomamos consciência de que o Mestre era o próprio Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, nosso Salvador, não temos outra coisa a fazer a não ser aceitar e praticar os Seus ensinos.

I. A ESTRUTURA DO SERMÃO DO MONTE

1. Por que Sermão do Monte?

Porque foi proferido sobre um monte, nas proximidades de Cafarnaum, no início do Seu ministério público, após o Seu batismo e tentação. Depois de uma das suas pregações do novo reino (Mt.4:23-25), chamou os doze discípulos sobre um monte, e depois que os discípulos se acomodaram, Jesus proclamou o mais conciso e ordenado código de ética e padrão de conduta, que abrangeu todos os seus ensinamentos, e que os apóstolos deveriam saber de cor, e deviam observá-lo como regra principal para permanência no Reino de Deus.

O Sermão do Monte é um dos mais famosos ensinos de Jesus; no entanto, nem sempre é fácil de interpretar, sendo frequentemente mal-entendido. É radical, revolucionário, provocativo e simples; não obstante, profundo. Talvez não seja acidental que Jesus comece seu ensino sobre a ética do novo Reino numa montanha, da mesma maneira que Moisés deu a Lei no Monte Sinai. Ademais, Jesus cita a antiga Lei neste Sermão, prossegue falando com autoridade sobre ela e a amplia como se Ele estivesse maior autoridade que Moisés (cf.Mt.5:17,18). Para ensinar, Jesus se senta, e os discípulos e a multidão sentam-se à sua volta – habitual postura pedagógica dos rabinos naquela época.

Nesse Sermão, Jesus faz uma síntese das leis morais que regem a humanidade. É considerado a constituição do Reino de Deus, sendo todos os seus dispositivos - capítulos e versículos – pétreos, ou seja, imutáveis e perpétuos. Não é por acaso que esse Sermão está situado no início do Novo Testamento; essa posição indica sua elevada importância. Nesse Sermão, o Rei resume o caráter e a conduta esperados dos seus súditos.

Antes do sermão começar, vemos no capítulo 4 o início do ministério de Jesus, quando anuncia a vinda do Reino de Deus (Mateus 4:17,23). Para consolidar as leis desse Reino, Jesus transmite este sermão com o objetivo de tornar claro a conduta esperada dos seus súditos (seus seguidores, os cristãos de todo o período da graça). Ali se achava tudo o que a alma necessitava saber a respeito de Deus, da criação e da vida quotidiana, tanto naquela época como nas vindouras. Além dos discípulos, uma numerosa multidão o aguardava para ouvir o seu verbo redentor. Foi ali que, introdutoriamente, comunicou à humanidade inteira as oito regras básicas para todo o comportamento dos seus súditos – as Beatitudes (Mt.5:3-12):

3.Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus;

4.bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;

5.bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;

6.bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;

7.bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;

8.bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;

9.bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;

10.bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus;

11.bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa.

12.Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.

2. A Estrutura do Sermão do Monte

O Sermão do Monte está estruturado em cinco grandes discursos proferidos por Jesus Cristo e tem como público-alvo todos aqueles que nasceram de novo em Cristo Jesus. É um discurso que pode ser lido no Evangelho de Mateus (Caps. 5-7) e no Evangelho de Lucas (fragmentado ao longo do livro). Nesses discursos, Jesus Cristo profere lições de conduta e moral, ditando os princípios que normatizam e orientam a vida cristã. Os cinco sermões de Jesus: (a) As Bem-aventuranças (Mt.5:3-12); (b) Sal e Luz (Mt.5:13-16); (c) Jesus é o cumprimento da Lei (Mt.5:17-48); (d) Os atos de justiça (Mt.6:1-18); (e) Declarações de sabedoria (Mt.6:19-7:27). Pormenorizando melhor, podemos destacar a estrutura do Sermão do Monte da seguinte maneira:

2.1. Introdução

a) As Bem-Aventuranças (Mt.5:3-12). Bem-aventurado significa "é feliz aquele". Essa é uma estrutura comum na poesia e sabedoria hebraica para indicar onde está a felicidade ou quem é feliz e por quê. Jesus surpreende seus ouvintes no seu ensino sobre a felicidade, porque todos os que são bem-aventurados são pessoas que estão sofrendo de alguma forma.

b) O sal da terra e a luz do mundo (Mt.5:13-16). A missão básica dos seguidores de Jesus no mundo: conservar e guiar.

Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte (Mt.5:13,14).

c) Jesus cumpre a Lei (Mt.5:17-20). Jesus explica sua própria missão, que não é de revogar ou negar a Lei de Moisés, mas de colocá-la em prática.

Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir (Mt.5:17).

2.2. O que não deve fazer

a) Homicídio (Mt.5:21-26). Jesus amplia o nível da Lei de Moisés. Antes, o homicídio era o assassinato na prática; agora, só o ódio já é considerado um homicídio, e quem ofende o próximo está correndo risco de ser incriminado.

Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo (Mt.5:21,22).

b) Adultério (Mt.5:27-30). No Sermão do Monte, Jesus dá um tom mais forte a este pecado. Antes, apenas o adultério na prática era pecado; agora, só de pensar em possuir outra pessoa já é adultério.

Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela (Mt.5:28).

c) Divórcio (Mt.5:31-32). A vontade de Deus nunca foi que maridos e mulheres se separassem, mas abriu uma única exceção: o adultério. Todo divórcio que não se deu por esse motivo, é como se não existisse aos olhos de Deus, e o casal continuasse casado.

d) Juramentos (Mt.5:33-37). Jesus se opõe a má prática de juramento, que estava sendo abusada pelos judeus. Ao invés de jurarem, Jesus instrui que ninguém jure como forma de validar suas palavras, mas que cada um sempre cumpra o que disse.

e) Vingança (Mt.5:38-42). Jesus ensina que vingança não é sinônimo de justiça, e que na lógica do Reino de Deus devemos retribuir positivamente aquilo que recebemos negativamente.

Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra (Mt.5:39).

f) Odiar os inimigos (Mt.5:43-48). Subvertendo a ordem de que as pessoas deveriam odiar os seus inimigos, Jesus instrui que amá-los é o jeito certo de tratar os inimigos. Ele diz, inclusive, para que as pessoas orem a Deus em favor daqueles que os perseguem – “Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt.5:44). E mais, ele disse que para sermos filhos de Deus temos que cumprir este duro mandamento – “para que vos torneis filhos do vosso Pai Celeste....” (Mt.5:45).

2.3. O que deve fazer

a) Ajudar os necessitados (Mt.6:1-4). A prática de ajuda ou auxílio àqueles que mais precisam é uma ordem clara de Cristo. Ele adverte, ainda, para que ninguém anuncie isso esperando aprovação das outras pessoas.

Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai Celeste (Mt.6:1).

b) Oração (Mt.6:5-15). A oração é a ação mais básica esperada de um cristão, e Jesus ensina seus discípulos a orarem com a conhecida Oração do Pai Nosso. Sua advertência anterior também está presente: não anuncie que está orando, mas faça isso em secreto, porque o Pai que vê em secreto assim recompensará.

c) Jejum (Mt.6:16-18). A terceira prática esperada dos cristãos é o jejum, e a sua advertência continua presente: não mostrar aos outros que está jejuando.

2.4. Cuidados gerais

a) Os tesouros no Céu (Mt.6:19-24). Quem se preocupa demais com os bens materiais, se preocupa com aquilo que irá naturalmente se degradar ou se perder. Quem se preocupa com as coisas do céu, se preocupa com o que é eterno. Jesus ensina que ao invés de nos preocuparmos em acumular tesouros nessa vida, devemos nos empenhar em acumular tesouros na vida eterna.

b) As preocupações da vida (Mt.6:25-34). Jesus instrui que as pessoas devem se preocupar com as coisas eternas, em vez de coisas passageiras. O Reino de Deus e a sua justiça deve ser a maior preocupação do cristão, não bens materiais, que são efêmeros.

buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas (Mt.6:33).

c) Julgamento ao próximo (Mt.7:1-6). Esse é um trecho muito mal interpretado, pois aqui Jesus não está proibindo as pessoas de julgarem, mas as instrui para julgarem de maneira correta. Antes de dizer que alguém está errado ou fazendo algo errado, deve-se investigar a si mesmo para ver se não está tropeçando na mesma coisa, pois seria hipocrisia.

Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão (Mt.7:5).

d) Persistência na oração (Mt.7:7-12). Nesse trecho Jesus ressalta a confiança que as pessoas devem ter em Deus, e que Ele suprirá nossas necessidades. Por isso, devemos continuar orando e pedindo a Deus.

2.5. A Prática da verdade

a) Porta estreita e porta larga (Mt.7:13-14). Este é um dos discursos mais duros que Jesus já proferiu. Aqui ele explica que entrar no Reino dos Céus não é algo fácil, e a vida de quem segue a Deus também não será, mas envolverá perdas e restrições. Por outro lado, o caminho do mundo e da libertinagem é muito mais fácil, mas certamente não levará ninguém a Deus.

Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela) (Mt.7:13).

b) A Árvore e seu Fruto (Mt.7:15-23). Esse trecho serve para saber quem é de Deus e quem não é de Deus. Pelos frutos se conhece a árvore. Quem possui bons frutos, deve ser uma pessoa boa; mas quem tem maus frutos, deve ser uma pessoa má. Ainda assim, deve-se ter em vista que Jesus está se referindo, em especial, aos falsos mestres (Mt.7:15), ou seja, sua maior preocupação é com a qualidade do ensino que as pessoas estão apreendendo.

c) O Prudente e o Insensato (Mt.7:24-27). Nesse trecho Jesus mostra a importância do seu ensino. Quem o ouve e pratica os seus ensinamentos é sábio e salva sua vida. Quem o ouve, mas não pratica os seus ensinamentos, é tolo e encontrará somente perdição.

Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína.

3. A quem se destina o Sermão do Monte

O Sermão do Monte foi dirigido, incialmente, aos seus discípulos (Mt.5:1,2), e a intenção é ser a constituição, ou o sistema de leis e princípios que governam os súditos do Rei no seu reinado. Portanto, não é uma apresentação do plano de salvação, nem seus ensinamentos têm como alvo os descrentes. O Sermão do Monte tem um valor distintamente judaico, como visto nas alusões ao Sinédrio (Mt.5:22), ao altar (Mt.5:23,24) e a Jerusalém (Mt.5:35); mesmo assim, seria errado dizer que os ensinamentos são exclusivamente para os crentes israelitas no passado ou futuro; são para todos os que, em qualquer época, reconhecem Jesus Cristo como Rei. Quando Cristo estava na terra, a aplicação direta do Sermão do Monte era aos Seus discípulos; agora, que nosso Senhor reina dos céus, aplica-se a todos os que o coroam como Rei no coração. Enfim, será o código de comportamento dos seguidores de Cristo durante o período da graça e durante Seu futuro reinado na Terra.

II. AS BEM-AVENTURANÇAS E O CARÁTER DOS FILHOS DE DEUS

1. O que são as Bem-aventuranças?

Há pelo menos quatro considerações sobre as bem-aventuranças: (a) São um código de ética para os discípulos e um padrão de conduta para todos os cristãos; (b) contrastam os valores do Reino, que é eterno, com os terrenos, que são temporários; (c) contrastam a fé superficial dos fariseus com a fé real que Cristo exige; (d) demonstram que as expectativas do Antigo Testamento cumprir-se-ão no Reino de Cristo.

Cada bem-aventurança diz respeito a uma bênção de Deus, e abrange três seções: o estado (isto é, “bem-aventurado”), a condição e a recompensa. Elas não prometem riso, prazer ou prosperidade terrena. Para Deus, bem-aventurado é aquele que tem uma experiência de esperança e alegria, independentemente das circunstâncias exteriores. Para encontrar essa forma mais profunda de felicidade, a pessoa precisa seguir a Jesus a despeito do preço a pagar. Jesus, nas bem-aventuranças, nos dá a receita da verdadeira felicidade. Ele põe diante de nós o mapa que nos leva a esse paraíso cobiçado. Os tesouros riquíssimos da verdadeira felicidade estão ao nosso alcance, A felicidade não é uma utopia, mas algo factível, concreto, tangível, ao nosso alcance. A boa notícia é que a felicidade não é algo que compramos com dinheiro ou conquistamos com status, mas um presente que recebemos de Deus.

O mundo tem o seu próprio conceito de bem-aventurança, onde feliz é o homem forte, rico, popular e satisfeito consigo mesmo. Mas, segundo afirma Hernandes Dias Lopes, a felicidade não está nas coisas que vemos; é uma atitude do coração. Não é um pagamento de nossas virtudes, mas um presente da graça de Deus. Não é algo que conquistamos pelo nosso esforço, mas um dom que recebemos pela fé. O que o mundo promete e não consegue dar, Jesus oferece gratuitamente. É importante afirmar que esse roteiro está na contramão de todas as orientações dadas pelo mundo. Não é algo que o homem faz para agradar a Deus, mas o que Deus faz para o homem. A verdadeira felicidade não é prêmio, é presente; não é merecimento, é graça.

2. O Reino de Deus e seu caráter

O Reino de Deus é onde Jesus é rei. Na Bíblia, o Reino de Deus é um reino espiritual que um dia dominará tudo. Esse reino começou agora, dentro do coração de cada pessoa que aceitou Jesus como seu Senhor e Salvador. Deus reina sobre tudo, nada acontece sem sua permissão. O mundo todo pertence a Deus, porque Ele o criou. Mas quando o pecado entrou no mundo, o ser humano se rebelou contra a soberania de Deus. Deus continua sendo o rei sobre tudo e sobre todos, mas enquanto o ser humano estiver sob o poder do pecado ele rejeitará a autoridade de Deus sobre ele; torna-se escravo do diabo. Por isso, Deus enviou Jesus para restabelecer o Reino, através de Sua morte e ressurreição. Quem aceita Jesus como seu salvador deixa de pertencer ao reino das trevas e se torna cidadão do Reino de Deus (Cl.1:13,14).

O Reino de Deus ainda não foi completamente estabelecido, mas já começou. Jesus explicou isso na parábola do grão de mostarda - a semente do Reino foi lançada e continua crescendo (Lc.13:18-19). Cada pessoa que aceita Jesus faz crescer o Reino. Um dia o Reino encherá toda a terra, mas até lá ele cresce dentro de nossos corações. No fim dos tempos, quando Jesus voltar, o Reino de Deus será restabelecido para sempre. Será o tempo no qual cumprir-se-á a profecia de Daniel em que os reinos deste mundo serão destruídos, o mal aniquilado, restabelecer-se-á a comunhão perfeita com Deus e o Senhor reinará com justiça para sempre. Não será o resultado da utopia socialista, do avanço dos conhecimentos científicos, da unificação dos credos em uma só religião mundial, nem de qualquer desenvolvimento moral da sociedade, mas do propósito original para a criação.

Na presente manifestação do Reino de Deus, ser salvo implica a libertação do poder e dos valores do mundo, em Deus deter o poder de Satanás e dos demônios, mas em sua dimensão escatológica traduz a ideia da redenção do corpo – “o livramento da mortalidade” – em que o crente redimido assemelhar-se-á ao próprio Senhor em sua imortalidade. Nessa bendita Era, o inimigo e os seus agentes já terão sido banidos para o lago de fogo, o inferno. Com a plena ausência do mal e o pleno triunfo do bem, será também a época em que a comunhão restaurada em sua plenitude terá como símbolo maior o banquete entre Cristo e a Igreja. Não haverá mais tristeza nem sofrimento, e a justiça e a paz reinarão (Rm.14:17). Quem aceitar Jesus como seu salvador e não desistir herdará a vida eterna no Reino de Deus.

3. Os súditos do Reino de Deus

Os súditos do reino de Deus são os justos, os redimidos, aqueles que obedecem e praticam o código de ética e padrão de conduta estabelecido por Jesus. Jesus disse que se a justiça dos discípulos não excedesse em muito a dos escribas e fariseus, jamais eles entrariam no Reino de Deus, ou seja, não seriam súditos do Reino (Mt.5:20). Jesus deixa claro que os escribas e fariseus, que torciam a lei e oprimiam o povo com um discurso legalista, ostentando uma santidade aparente e uma justiça apenas exterior, estavam foram do reino de Deus. Para entrar no Reino de Deus é necessário não ostentar, mas ser humilde de espírito. É necessário não se gabar de sua justiça, mas chorar pelos seus pecados. É necessário não defender seus direitos, mas ser manso. É necessário ter fome não de prestígio, mas de justiça. É necessário não oprimir os necessitados e indefesos, mas ser misericordioso. É necessário não agasalhar hipocritamente toda sorte de imundícia no coração, mas ser limpo de coração. É necessário não criar contendas e odiar as pessoas em nome de Deus, mas se dispor a sofrer por causa da justiça. Essa é a justiça que excede em muito a justiça dos escribas e fariseus.

III. SOMOS BEM-AVENTURADOS

1. A beatitude na vida dos salvos

Beatitude significa Bem-aventurança; estado de plenitude, de felicidade profunda, experienciada pela presença de Deus na vida. As Beatitudes descrevem como os seguidores de Cristo devem viver. O salvo em Cristo vive as beatitudes do Sermão do Monte de maneira sincera e obediente. Cada uma das Beatitudes mostra como o crente pode ser bem-aventurado. Ser bem-aventurado significa ter mais do que felicidade; significa receber o favor e a aprovação de Deus. De acordo com os padrões mundanos, os tipos de pessoas descritos por Jesus não parecem ser particularmente abençoados por Deus. Mas a forma de vida que agrada a Deus geralmente contradiz a forma de vida do mundo. Os súditos do Rei certamente receberão a recompensa pelo modo de viver explicitado no Sermão do Monte. A consumação final de todas as recompensas se encontra no futuro, na plenitude do Reino de Deus. Entretanto, os crentes já podem compartilhar o Reino (que já foi revelado), vivendo de acordo com as palavras de Jesus.

2. A prova de que o cristão é bem-aventurado

A prova que o cristão é bem-aventurado pode ser inferida quando o seu caráter cristão é aprovado por Deus. John Stott afirma que as bem-aventuranças enfatizam oito sinais principais da conduta e do caráter cristãos, especialmente em relação a Deus e aos homens. Assim como o fruto do Espírito (Gl.5:22) expressa o caráter do cristão, e não as diversas facetas dele, de igual forma as bem-aventuranças são oito atributos do mesmo grupo de pessoas. Um cristão maduro tem todas essas oito qualidades, e não apenas algumas delas. As oito qualidades (fruto do Espírito) juntas constituem as responsabilidades; e as oito bençãos (as bem-aventuranças), os privilégios, a condição de cidadãos do Reino de Deus. Portanto, um cristão bem-aventurado é resultado de um estreito relacionamento com Deus, consigo mesmo e com o próximo. As oito bem-aventuranças apontam para esse quádruplo relacionamento: atitude em relação a si mesmo (Mt.5:3,4); em relação ao pecado (Mt.5:5,6); em relação a Deus (Mt.5:7-9); em relação ao mundo (Mt.5:10-12). Contudo, é bom enfatizar que as bem-aventuranças não são qualidades inatas ou adquiridas pelo esforço humano. Nenhuma pessoa poderia possuir essas bem-aventuranças à parte da graça de Deus.

CONCLUSÃO

“O Sermão do Monte é a base ética do Reino de Deus. Nele, constatamos o lado divino de uma atitude amorosa do cristão para com Deus, bem como para com o próximo. Se cada crente fizesse do Sermão do Monte o seu norte ético de vida, as polêmicas não teriam lugar entre nós, não haveria espaço para meras opiniões intelectuais, visto que o propósito desse Sermão é que cada crente seja como Deus quer que ele seja” (Pr. Osiel Gomes).

A LEITURA DA BÍBLIA E A EDUCAÇÃO CRISTÃ

 

Texto Base1 Timóteo 4:6-16

 

 “Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá” (1Tm.4:13).

 

1Timóteo 4:

6.Propondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Jesus Cristo, criado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido.

7.Mas rejeita as fábulas profanas e de velhas e exercita-te a ti mesmo em piedade.

8.Porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir.

9.Esta palavra é fiel e digna de toda a aceitação.

10.Porque para isto trabalhamos e lutamos, pois esperamos no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis.

11.Manda estas coisas e ensina-as.

12.Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza.

13.Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá.

14.Não desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbitério.

15.Medita estas coisas; ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos.

16.Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.

INTRODUÇÃO

Encerrando o 1º Trimestre de 2022 vamos estudar nesta Aula sobre o tema: “A Leitura da Bíblia e a Educação Cristã”. O objetivo desta Aula é mostrar a importância da Bíblia como uma ferramenta de ensino-aprendizagem para a vida. Como praticar a Palavra de Deus sem antes compreendê-la? Por isso, mais do que ler, é vital estudar as Sagradas Escrituras, que é apta para ensinar, para redarguir, para corrigir e para nos instruir em toda a justiça (2Tm.3:16). Deus se revela gloriosamente através da sua Palavra, e quem deseja conhecer e prosseguir em conhecer ao Senhor precisa estudar a Bíblia e buscar o Espírito Santo que a inspirou, pois sem Ele todo conhecimento é vão.

A Escola Bíblia Dominical tem sido a maior agência de educação cristã há muito tempo nas Igrejas Evangélicas, porque evangeliza, enquanto ensina a Bíblia Sagrada, cumprindo assim, de forma cabal, as duas principais demandas da Grande Comissão, que nos entregou o Senhor Jesus (Mt.28:19-20). A Escola Dominical é também um ministério interpessoal, cujo objetivo básico é alcançar, através da Palavra de Deus, as crianças, os adolescentes, os jovens, os adultos, a família, a igreja e toda a comunidade. Por conseguinte, é a Escola Dominical a única agência de educação popular de que dispõe a Igreja Local, a fim de divulgar, de maneira devocional, sistemática e pedagógica, a Palavra de Deus. “A Escola Dominical, devidamente funcionando, é o povo do Senhor, no dia do Senhor, estudando a Palavra do Senhor, na casa do Senhor”.

I. A BÍBLIA É O LIVRO TEXTO DA ESCOLA DOMINICAL

1. O currículo adotado.

O currículo da Escola Dominical tem uma estreita simbiose com as Escrituras Sagradas, haja vista que elas são a única regra infalível de fé e prática do crente. Portanto, a Bíblia Sagrada é o livro base para todo o ensino-aprendizagem da Escola Dominical. Segundo o pr. Douglas, o currículo da EBD “expressa a ortodoxia professada pelas Assembleias de Deus, contribui para manter a unidade doutrinária da igreja e atua como antídoto contra as heresias”. Logo, as doutrinas bíblicas reproduzidas no material didático da EBD servem como padrão para o viver diário e a formação do caráter cristão. Também é missão da Escola Dominical a formação de homens, mulheres e crianças piedosos. Só nos resta afirmar ser a Escola Dominical uma oficina de santos; ela ensina a estes como se adestrarem na piedade, até que venham a ficar, em todas as coisas, semelhantes ao Senhor Jesus.

Um dos mais sublimados objetivos da Palavra de Deus é a educação do cristão (cf.2Tm.3:14,15). Em linhas gerais, educar significa desenvolver a capacidade física, intelectual, moral e espiritual do ser humano, tendo em vista o seu pleno desenvolvimento. No âmbito da Escola Dominical, educar implica em formar o caráter do cristão, consoante às demandas da Bíblia Sagrada, a fim de que ele (o crente) seja um perfeito reflexo dos atributos morais e comunicáveis do Criador. “Um jovem educado na Escola Dominical raramente é levado às barras dos tribunais”. Disse o apóstolo Paulo: “Toda Escritura é devidamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra” (2Tm 3.16,17).

2. A prática pedagógica

A prática pedagógica é o somatório de todas as atividades planejadas com o intuito de possibilitar o processo educativo; é a expressão das atividades rotineiras que são desenvolvidas no âmbito das escolas educacionais cristãs, em especial a Escola Dominical. O pr. Douglas, em seu livro didático, argumenta que as múltiplas dimensões da prática pedagógica compreendem, entre outros: a gestão, os professores, os alunos, a metodologia, o material didático, a avaliação e a relação professor-aluno. Destaca-se que uma boa prática pedagógica requer o comprometimento de todos, em especial, a capacitação e o preparo dos professores acerca de seus saberes e deveres. Em linhas gerais, o professor de EBD precisa ser um crente fiel, espiritual e seguro conhecedor das doutrinas bíblicas, além de ter comprovada capacidade para ensinar. Nas aulas ministradas é indispensável que o texto bíblico seja o referencial permanente da prática pedagógica. Nesse sentido, o ensino não deve ser limitado à “transferência de conhecimento”, mas sobretudo, o estudo das verdades reveladas deve instruir, expor e corrigir o erro (2Tm.3:16), a fim de produzir verdadeira transformação na velha natureza humana (Ef.4:22,23).

No âmbito da prática pedagógica, o professor da EBD é o elemento principal; ele deve ser um instrumento nas mãos do Espírito Santo para transmitir a Palavra de Deus (Mt.28:19). Ele deve ser AMIGO, ou seja, procura relacionar-se bem com os alunos. Ele deve ser um INTÉRPRETE, ou seja, traduz para os alunos aquilo que lhes é ensinado. Ele é um PLANEJADOR, ou seja, procura adaptar as lições e os currículos às necessidades dos alunos. Ele é um APRENDIZ, ou seja, está disposto a colocar-se no lugar dos que querem sempre aprender mais para ensinar melhor. Enfim, o professor da EBD:

- Deve saber planejar suas aulas. Ter objetivos claros e definidos em cada etapa do ensino:

v  O que pretendo alcançar (Objetivos).

v  Como alcançar (Métodos e recursos).

v  Em quanto tempo (cronograma).

v  O que fazer e como fazer (Procedimentos de ensino).

v  Como avaliar o que foi alcançado (Avaliação).

- Deve ensinar com segurança. O professor deve saber e dominar o que vai ensinar. Conhecer bem a Palavra e a lição daquele dia. Este conhecimento deve fazer parte de sua experiência.

- Deve saber o que ensinar e como ensinar. Em Romanos 2:21 está escrito: “Tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo?”. De acordo com Myer Pearlman, o professor não pode compartilhar o que não compreende, nem pode falar com autoridade se não tiver um conhecimento completo da matéria que ensinará. Se você tem a intenção de entregar-se à dura tarefa de ensinar, estude sem cessar, pesquisa em fontes confiáveis e coadunadas com a nossa doutrina genuína, leia com diligência acerca de tudo o que a Palavra de Deus ensina em diversos níveis, e faça um estudo sistemático das Escrituras.

- Deve conhecer bem a Bíblia Sagrada. Em 2Timóteo 2:15 está escrito que devemos procurar, isto é, nos esforçarmos ao máximo para nos apresentarmos a Deus aprovados, como obreiros que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a Palavra da Verdade. “Maneja”, aqui, denota “saber dividir”, como um profissional que, com perícia, utiliza a sua ferramenta de trabalho. Há muitas divisões na Bíblia Sagrada: dois testamentos; três povos (1Co.10:32); duas vindas de Jesus (Hb.9:28); duas etapas da Segunda Vinda (1Ts.4:16,17 e Ap.1:7); duas ressurreições (João 5:29; Ap.20:6); várias etapas da Primeira Ressurreição (1Co.15:23 e Ap.20:4,5); sete julgamentos; várias dispensações, etc. Daí a necessidade de o professor manejar bem a Palavra da Verdade.

- Deve estar bem preparado. O preparo da lição é parte dos deveres semanais do bom professor, que deve levar em conta o material e as etapas para este preparo. Mesmo que o professor não esteja escalado para falar à classe – quando há mais de um professor, costuma-se fazer um revezamento -, deve estar sempre preparado. Muitos confiam em seus conhecimentos e acham que, ao lerem a lição diante da classe, discorrerão com segurança, haja vista dominarem a matéria. Cuidado! Estêvão foi bem-sucedido em sua exposição improvisada, mas ele estava preparado. O que aconteceu com ele – o fato de ter sido chamado para falar imediatamente, sem aviso prévio – pode acontecer com qualquer um de nós.

3. O padrão ético e moral

Segundo Ronaldo Steffen, “a ética trata dos princípios e valores que orientam a conduta de uma pessoa. A moral é a prática dessa conduta ética. A ética trata dos princípios e a moral da prática baseada nesses princípios. Sendo assim, ética e moral são como a teoria e a prática. Por exemplo: se eu tenho um princípio ético que me orienta a dizer a verdade, minha conduta moral será mentir ou não”. Nesse enfoque, o pr. Douglas afirma que a ética cristã tem como objetivo indicar a conduta ideal para a retidão do comportamento humano.

O fundamento da ética e da moral cristã são as Escrituras Sagradas. Desse modo, a ética cristã não pode ser desassociada da moral e dos bons costumes preconizados nas doutrinas bíblicas. É verdade que não se pode desprezar a tradição da Igreja, as leis civis e criminais, as variadas literaturas e nem tampouco os bons costumes adotados pela sociedade, entretanto, para o cristão, qualquer prática e conduta precisa passar pelo crivo e pelo aval da Palavra de Deus (Hb.4:12).

A ética cristã, portanto, assim como toda vida cristã se baseia no pressuposto que a Bíblia é a Palavra de Deus, e que a Bíblia é nossa única regra de fé e prática. A ética implica na forma como reagimos diante das decisões do dia a dia de nossa vida. Cada decisão que nos leva a praticar condutas é a nossa ética. Não temos uma conduta separada de nossa ética; mesmo que esta conduta não demonstre nossa aparente crença, ela demonstrará nossa real crença. Podemos dizer que somos cristãos, mas se não tivermos uma conduta conforme a Bíblia, não somos cristãos de fato, estamos enganando a nós mesmos. Portanto, nossa ética é prática palpável ou visível, não somente demonstrada por meio de um discurso; o discurso tem que ser igual a nossa prática ou conduta de vida.

Então, Ética é a busca humana de uma conduta correta, ou que produza o que é bom para o homem e sua sociedade. A Moral é a escolha do homem que estabelece o que é certo e o que é errado, o que é bom e o que é mal. Como os cristãos consideram Deus o determinador, ou o Senhor, então a moral será ligada diretamente a Deus, ou ao que Deus determina como nossa moral. Assim, no propósito de cumprir o seu papel de instituição educadora, a Escola Dominical também atua como multiplicadora dos princípios éticos e dos valores morais da fé cristã, tendo a Bíblia como a principal fundamentação.

Em Deus se encontra a verdadeira ética e, portanto, para os diversos dilemas morais vividos pelo homem, existe uma única resposta: a Palavra de Deus. Na busca pela ética, que nada mais é que uma sede de Deus, deve a Igreja, corajosamente, como agência do reino de Deus, proclamar ao mundo que a ética tão desejada, que a conduta ideal tão almejada, não se encontra nos direitos humanos, na busca pela maior justiça nas relações socioeconômicas, mas naquele que, desde a criação do homem, tem querido determinar como deve ser a nossa conduta.

II. A EDUCAÇÃO CRISTÃ E A FORMAÇÃO DE LEITORES DA BÍBLIA

1. Conceito de Educação Cristã

Segundo o pr. Claudionor de Andrade, em seu Dicionário Teológico, Educação Cristã é o “Programa pedagógico que, tendo por base a Bíblia Sagrada, visa o aperfeiçoamento espiritual, moral e cultural dos cristãos, e daqueles que venham a atender ao chamado do Evangelho de Cristo”. O dicionário Bíblico Wycliffe exara que a Educação Cristã, quando aplicada às crianças, tem sentido de treinamento e correção (Pv.22:6; Hb.12:5-11); no caso de adultos, se refere ao que desenvolve a alma, corrigindo erros e controlando as paixões (2Tm.3:16). Em suma, a Educação Cristã, tendo as Escrituras Sagradas como livro base, molda o nosso viver e produz crescimento e amadurecimento espiritual. Nesse entendimento, o pr. Douglas argumenta que o ensino-aprendizagem da Educação Cristã se fundamenta na revelação divina, cujo livro texto é a Palavra de Deus. No âmbito eclesiástico, especialmente na Escola Dominical e no culto de doutrina, a Educação Cristã ocupa o ensino sistemático e contínuo das doutrinas bíblicas. Segundo pr. Claudionor de Andrade, “a Educação Cristã, de modo específico, desenvolve-se na Escola Dominical e, de maneira genérica, em toda a Igreja. Ela se serve ainda dos seminários e institutos bíblicos que, hoje, vão se conscientizando, cada vez mais, de sua vocação educadora”.

2. Objetivos da Educação Cristã

O objetivo principal da Educação Cristã é ensinar o indivíduo uma nova conduta de vida dentro dos padrões bíblicos, ou seja, a pessoa passa a viver uma vida diferente, dedicada a Deus e até mesmo renunciar algumas atitudes que não forem condizentes com a Palavra de Deus, que é a nossa regra de fé e prática. O saudoso teólogo Antônio Gilberto enfatizava que são três os principais objetivos da Educação Cristã: (a) Ganhar almas para Jesus (2Co.12:15); (b) Desenvolver a espiritualidade e o caráter cristão (Gl.5:22); e (c) Treinar o cristão para o serviço do Mestre (2Tm.2:15). Vale lembrar que a educação cristã não veio para substituir a educação secular e a que aprendemos nos nossos lares, e sim acrescentar alguns aspectos que também são importantes na formação do caráter do cristão.

A Educação Cristã, ou seja, o ensino da Palavra de Deus, foi ordenado por Cristo (cf. Mt.28:19,20). A "Grande Comissão" dada à Igreja não envolve apenas a proclamação das boas novas (evangelismo); os ensinos (doutrinas) precisam ser apresentados ao povo, para edificação e afastamento das heresias [erros] (Rm.15:4; Cl.1:28; 1Tm.4:11,13). O próprio ministério de Jesus foi, em grande parte, voltado ao ensino (Mt.5:2; 7:29; 9:35, Lc.4:15, etc). Os primeiros cristãos foram zelosos no ensino (cf. At.5:42). É responsabilidade dos seguidores de Cristo evangelizar e ensinar (1Tm.4.13; 2Tm.4:2). Nesse aspecto, a Escola Dominical desempenha com excelência o papel de agência educadora, porque evangeliza enquanto ensina, atendendo os dois lados da ordem de Jesus.

Alguns poderão imaginar que a educação cristã é aquela que é desenvolvida nas escolas ou faculdades cristãs, através de currículos e cursos formais, mas ela vai muito além disso. É verdade que existem escolas confessionais que tem como proposta oferecer uma educação fundamentada nos valores cristãos; isto é muito bom, e é uma pena que todas as escolas, inclusive as públicas, não fazem isso; mas a educação cristã pode ser definida e exemplificada de outra forma também; três bons exemplos são: a Escola Bíblica Dominical, a educação doméstica e a literatura cristã.

3. A capacitação dos alunos

Ensinar é um ministério espiritual por ser o manejar da Verdade revelada pelo Espírito Santo, e por ser a operação do Espírito na vida dos alunos. O propósito divino deste ministério é o desenvolvimento espiritual de cada crente, até Cristo ser formado em cada coração (Gl.4.19). O ensino da Palavra de Deus, vinculado à convicção e regeneração da parte do Espírito Santo, resulta em nova vida. Portanto, na Educação Cristã, por meio do estudo acurado da Palavra de Deus, ocorre o desenvolvimento do caráter do educando, a mudança de conduta pelo conhecimento adquirido, pela prática e pela experiência resultante de seu aprendizado, dando-lhe habilitação para servir no Reino de Deus. Essa capacitação dos alunos é um processo permanente e deliberado de aprendizagem, que depende do esforço do aluno em aprender, e do professor em ensinar com esmero, com a finalidade de tornar o aluno capaz, prepará-lo e qualificá-lo para servir no Reino de Deus.

É bom enfatizar que o conteúdo exposto pelo professor é importante, porém, o exemplo do professor fala muito mais alto, quando o alvo é a capacitação dos alunos. O sucesso do ensino é evidenciado pela transformação de vidas de seus alunos. Tudo mais que o professor faça, seja o que for, deve desenvolver nos alunos elevados ideais como generosidade, serviço, sacrifício, participação e vida cristã. O professor não conseguirá isso apenas com o exercício formal, mas com a influência de sua própria vida e exemplo. A vida de uma pessoa é largamente controlada por suas atitudes. Portanto, a atitude de alguém para consigo próprio é importante.

O método de ensino, também, é muito importante para que o aluno tenha uma capacitação eficaz. Veja, a seguir, exemplos que o Mestre Divino nos deixou:

a) Conhecia a matéria que ensinava (Lc.24:27).

b) Conhecia seus alunos (Mt.13; Lc.15:8-10; João 21).

c) Reconhecia o que havia de bom em seus alunos (João 1:47).

d) Ensinava verdades bíblicas de modo simples e claro (Lc.5:17-26; João 14:6).

e) Variava o método de ensino conforme a ocasião e o tipo de ouvintes, como se pode ver a seguir:

·         Lições práticas (João 4:1-42) - falou da água para atrair a mulher samaritana.

·         Solução de problemas (Mt.22:15-21) - Pediu uma moeda e questionou os deveres para com Deus e as autoridades.

·         Técnica de perguntas - Jesus fez mais de cem perguntas para levar os seus alunos a entender sua mensagem.

·         Parábolas - o Mestre utilizou grandemente o recurso das parábolas para evidenciar as verdades eternas.

·         Oportunidades (Mt.26:17-30; João 13:1-20) - Ele aproveitou a ocasião da Páscoa, e lavou os pés dos discípulos para ensinar sobre sua morte e sobre a humildade do servo.

·         Trabalho em grupo (Mt.5 a 7; João 14 a 17) - Tanto pregava a grandes grupos (as multidões) como a pequenos grupos (os discípulos); na casa de Lázaro: Marta e Maria; etc. Jesus levava o discípulo a aprender a resolver problemas - na multiplicação dos pães, Ele disse: "Dai-lhes vós de comer..." (Lc.9:13a). Ele não trabalhava só, valorizava o seu grupo de alunos. Formou um grupo de 12 discípulos para fazer o trabalho com Ele. Incentivava os discípulos a praticar o aprendizado. Enviou 12, de dois em dois; depois, enviou 70, de dois em dois.

III. É PRECISO LER A BÍBLIA DIARIAMENTE

1. A leitura e a disciplina cristã

Há uma imperiosa necessidade de se ler a Palavra de Deus, foi por isso que Deus a mandou escrever. Ora, algo que é escrito somente tem valor quando é lido, pois, se não for lido, será como se não existisse. Deste modo, o simples fato de termos a Bíblia Sagrada, de temos uma escritura revelada por Deus é o suficiente para que entendamos que a leitura da Palavra de Deus é imprescindível para o nosso relacionamento com o Senhor; e esta leitura deve ser continua e devocional (Sl.119:97; 1Tm.4:13).

Com relação à “disciplina” cristã, ela se relaciona com a prática regular de certos princípios que pautam a atividade diária e as metas de uma pessoa cristã. Segundo o pr. Douglas, ela compreende abnegação, regularidade, metas e perseverança. Essas ações implicam renúncia e compromisso. Dentre as ‘disciplinas cristãs’ se encontra a leitura devocional da Bíblia. Portanto, a disciplina cristã é um meio de nos aproximar de Deus. Paulo disse: “quem semeia para a sua própria carne, da carne colherá corrupção; mas quem semeia para o Espírito, do Espírito colherá vida eterna” (Gl.6:8). O objetivo da disciplina cristã, portanto, é proporcionar intimidade singular com Deus por meio da “oração incessante” (1Ts.5:17); “exame das Escrituras” (João 5:39); e a “prática do jejum” (1Co.7:5). Portanto, a disciplina cristã requer regularidade e prioridade na busca da santificação (Rm.6:22). Em vista disso, o autêntico cristão observa os exercícios espirituais.

Ler a Bíblia não é fazer uma leitura comum ou superficial, mas deve ser, como manda a Bíblia, uma meditação, ou seja, uma leitura feita não apenas com a mente, mas também com o coração. Cada crente deve procurar ler a Bíblia regularmente, numa frequência que corresponda a suas possibilidades, sendo um bom costume o de procurar ler a Bíblia inteira durante um ano, conquanto não seja esta uma regra ou um mandamento. Muitos se propõem em lê-la durante o ano inteiro, mas desistem no caminho, por falta de persistência e disciplina. Temos lido a Bíblia Sagrada? É ela a nossa leitura diária? Nossa vida espiritual necessita de alimento e este alimento só vem através da Palavra de Deus, o pão espiritual que é também responsável pela nossa sobrevivência (Mt.4:4).

Tiago 1:23,24 diz que a Bíblia é como espelho - “Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de como era”. Tiago está querendo nos apresentar o poder revelador da Palavra de Deus. Ele quer nos mostrar como a Bíblia é eficaz em mostrar quem somos, e como estamos, a fim de que possamos buscar um aperfeiçoamento através da correção dos nossos atos e atitudes, conforme a orientação bíblica. Por esta razão, compara a Bíblia a um espelho.

Pensemos na utilidade de um espelho, e o quanto ele faz parte da nossa vida. Levantamos pela manhã e quem é a primeira imagem que procuramos? O espelho! Ou melhor, a nossa imagem refletida no espelho. Como podemos avaliar a nossa aparência, sem o espelho? Como saberemos se estamos adequadamente vestidos, ou se a roupa está combinando com os acessórios? De que maneira poderemos verificar se estamos bem penteados ou se o cabelo está bem dividido ou a gravata não está torta? Como podemos ver se limpamos completamente o rosto ou se não ficou algo sujo na boca, no rosto ou nos dentes, se não consultarmos o espelho? Por isso, é necessário consultar regularmente o espelho.

E com que regularidade consultamos o espelho? Será que uma rápida olhada no espelho, só de passagem, para uma consulta ligeira, uma vez por semana, é suficiente? Se nós olhamos demoradamente pela manhã, ao nos vestirmos, isso já será suficiente pelo resto do dia? Ou nos miramos no espelho todas as vezes que achamos que algo está fora de lugar? Quem resiste ao apelo de uma verificação do seu visual, sempre que se depara com um espelho? A Bíblia é como espelho; precisamos, de igual modo, de avaliarmos a nossa “aparência espiritual” constantemente, através da Bíblia Sagrada. Uma olhada rápida no texto áureo da lição dominical não é suficiente; somente a leitura “oficial” que fazemos nos cultos, também não. Sendo a Bíblia um espelho, e tendo, cada um de nós, a necessidade de verificar a nossa situação, para corrigirmos os nossos “desvios de rota”, precisamos consultar o nosso “espelho divino” diariamente, constantemente. Somente através desta leitura persistente ou cotidiana da Bíblia e da aplicação diária de suas verdades em nossas vidas poderemos identificar as nossas falhas e debilidades e, assim, buscar a ajuda do Senhor para corrigirmos a nossa atitude diante dele. Sem isto, vamos viver sem saber se estamos agradando a Deus, ou se o desagradamos.

2. A leitura e o aprendizado

A leitura da Bíblia é uma disciplina cristã; e, como todo o ato disciplinado, a leitura requer dedicação. O termo “dedicação” tem o sentido de “esmero” e “diligência” no exercício de alguma atividade. Segundo o pr. Douglas, para bem trilhar esse caminho de crescimento e aprendizado, os objetivos do leitor da Bíblia devem ser bem definidos e obedecidos à risca. Nesse diapasão, corroboram-se as palavras do salmista que nos exorta ao exercício diário de leitura e meditação da Bíblia: “Antes, tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite” (Sl.1:2); “Oh! Quanto amo a tua lei! É minha meditação, todo o dia” (Sl.119:97). Segundo o pr. Douglas, “uma máxima pedagógica afirma que “ler é aprender”. Desse modo, por meio da leitura da Bíblia aprendemos acerca de Deus e de seu plano de salvação (Rm.1:2-4). Esse aprendizado orienta o cristão a tornar-se parecido com Cristo (Ef.4:13)”.

3. A leitura e o devocional

Um dos aspectos da adoração é o culto devocional em sua forma individual, e isto inclui a oração, o louvor e a leitura bíblica (Mateus 6:6; João 4:23,24). Quando o crente mantém uma vida devocional intensa, quando mantém uma vida de oração, uma vida de meditação na Palavra do Senhor, naturalmente que ele ganha maior intimidade com Deus, intimidade esta que é uma necessidade na nossa vida espiritual (Mt.6:6-8). Devemos, como nunca, procurar aprender com o Senhor, mantendo com Ele um contínuo diálogo mediante a leitura e meditação da Palavra, e a oração, para que, pelo Espírito de Deus, compreendamos o desejo, a vontade de Deus para as nossas vidas e para que ajamos cada vez mais como verdadeiros “cristãos”, ou seja, “parecidos com Cristo”. Foi esta semelhança que fez com que os habitantes de Antioquia denominassem os discípulos de cristãos (At.11:26).

CONCLUSÃO

Entendemos que a Educação Cristã tem sua fundação em Jesus Cristo, cujo tema ressalta um processo de transformação e de desenvolvimento contínuo da pessoa em Cristo. Seu currículo fundamenta-se na inspirada, inerrante e infalível Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada. Sendo assim, devemos, disciplinadamente, ler e estudá-la. O saudoso pr. Gilberto informa três razões que nos motiva a ler e estudar a Bíblia Sagrada:

  • Porque ela ilumina o caminho para Deus (Sl.119:105,130).
  • Porque ela é alimento espiritual para o crescimento de todos (Jr.15:16; 1Pd.2:1,2). Sabemos que a boa saúde aguça o apetite. Tens apetite pela Bíblia? Se só tens apetite por leituras sem proveito, terás fastio pela Bíblia, o que é um mau sinal. Cuida disso...
  • Porque ela é o instrumento que o Espírito Santo usa na sua operação (Ef.6:17). Se queres que o Espírito Santo opere em ti, inclusive no ministério da oração (Jd.v.20), procura ter o instrumento que Ele utiliza: a Palavra de Deus. É que na oração precisamos apoiar nossa fé nas promessas de Deus, e essas promessas estão na Bíblia!
  • Porque ela nos vivifica (Sl.119:107).

(GILBERTO, Antônio. Manual da Escola Dominical. 3.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p.22).