Texto Base: Atos 3:11-19
“E, quando Pedro viu isto, disse ao povo: Varões israelitas, por que vos maravilhais disto? Ou, por que olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem?” (Atos 3:12).
Atos 3:
3.Ele, vendo a Pedro e a João, que iam entrando no templo, pediu que lhe dessem uma esmola.
4.E Pedro, com João, fitando os olhos nele, disse: Olha para nós.
5.E olhou para eles, esperando receber alguma coisa.
6.E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda.
7.E, tomando-o pela mão direita, o levantou, e logo os seus pés e tornozelos se firmaram.
8.E, saltando ele, pôs-se em pé, e andou, e entrou com eles no templo, andando, e saltando, e louvando a Deus.
9.E todo o povo o viu andar e louvar a Deus;
10.e conheciam-no, pois era ele o que se assentava a pedir esmola à Porta Formosa do templo; e ficaram cheios de pasmo e assombro pelo que lhe acontecera.
11.E, apegando-se ele a Pedro e João, todo o povo correu atônito para junto deles no alpendre chamado de Salomão.
12.E, quando Pedro viu isto, disse ao povo: Varões israelitas, por que vos maravilhais disto? Ou, por que olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem?
13.O Deus de Abraão, e de Isaque, e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu Filho Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes, tendo ele determinado que fosse solto.
14.Mas vós negastes o Santo e o Justo e pedistes que se vos desse um homem homicida.
15.E matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou dos mortos, do que nós somos testemunhas.
16.E, pela fé no seu nome, fez o seu nome fortalecer a este que vedes e conheceis; e a fé que é por ele deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita saúde.
17.E agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também os vossos príncipes.
18.Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado: que o Cristo havia de padecer.
19.Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham, assim, os tempos do refrigério pela presença do Senhor.
INTRODUÇÃO
A pregação fiel do Evangelho é uma das marcas mais evidentes de uma igreja verdadeiramente comprometida com Cristo e com as Escrituras Sagradas. Desde os primeiros dias da Igreja de Jerusalém, vemos os apóstolos proclamando, com ousadia e autoridade espiritual, a mensagem central do cristianismo: Jesus Cristo é o Messias prometido, morto e ressuscitado, e por meio dEle há perdão e salvação para todo o que crê.
Em Atos 3, a segunda pregação de Pedro não apenas confirma a fidelidade doutrinária da igreja primitiva, mas também destaca os elementos essenciais da verdadeira evangelização: exaltação de Cristo, chamado ao arrependimento e esperança em tempos de refrigério espiritual. Essa passagem mostra que a eficácia da igreja não está em estratégias humanas, mas na ação do Espírito Santo por meio de homens e mulheres comprometidos com a Palavra.
Assim, esta lição nos convida a refletir sobre o lugar da pregação bíblica em nossas igrejas e sobre o tipo de mensageiros que temos sido diante de um mundo que precisa urgentemente ouvir a verdade genuína do Evangelho.
I-A IGREJA QUE PREGA AS ESCRITURAS
1. As Escrituras revelam Deus
A cura do coxo junto a Porta Formosa (Atos 3:1-10) não foi apenas um milagre de natureza física, mas também uma poderosa abertura para a proclamação do Evangelho. O impacto público desse milagre foi inegável, pois o homem curado era conhecido de todos — um coxo de nascença, com mais de 40 anos, visto diariamente à entrada do templo. Sua restauração instantânea e completa não podia ser explicada senão pelo poder sobrenatural de Deus. Esse sinal serviu como confirmação visível da autoridade do nome de Jesus e como introdução providencial à pregação apostólica.
O apóstolo Pedro, sensível à direção do Espírito Santo, aproveitou a comoção causada pelo milagre para proclamar a mensagem de Cristo. Como no dia de Pentecostes, ele não se deixou levar pela emoção do momento, nem buscou glória pessoal. Ao contrário, desviou o foco do milagre em si e apontou o povo para Jesus Cristo — o Filho de Deus, rejeitado pelos homens, mas exaltado pelo Pai. Sua pregação, mais uma vez, foi profundamente cristocêntrica e fundamentada nas Escrituras.
Pedro demonstra que o evangelho não é uma novidade dissociada da revelação anterior, mas o cumprimento das promessas veterotestamentárias. Ele cita diretamente Deuteronômio 18:15-19 e Gênesis 22:18, e alude a textos como Salmos 22 e Daniel 9:26 para mostrar que Jesus é o Messias prometido, o Servo Sofredor que havia de vir. Com isso, Pedro ensina que as Escrituras revelam o agir de Deus na história e têm sua culminação em Cristo.
O crescimento da Igreja primitiva estava, portanto, diretamente atrelado à pregação bíblica, que expunha com clareza a revelação de Deus, centrada em Cristo. Esse padrão bíblico permanece válido até hoje: uma igreja saudável cresce espiritualmente e numericamente quando sua pregação é fundamentada na Palavra de Deus e conduz as pessoas à revelação de quem Deus é, do que Ele fez em Cristo e do que exige de nós em resposta.
2. As Escrituras testemunham de Jesus
“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam” (João 5:39).
A centralidade de Jesus nas Escrituras é uma verdade essencial para a fé cristã e para a pregação bíblica. O próprio Cristo declarou, em João 5:39, que as Escrituras testificam dEle. Isso significa que desde o Gênesis até o Apocalipse, a Bíblia aponta para a pessoa e a obra redentora de Jesus. A revelação progressiva de Deus nas Escrituras culmina na encarnação do Verbo. Como afirmou F. F. Bruce, as Escrituras têm o poder de conduzir o ser humano à salvação, mas essa salvação só se realiza plenamente pela fé em Cristo — a figura central da história da redenção.
Pedro, em sua pregação após a cura do coxo (Atos 3:12-26), dá continuidade ao padrão hermenêutico iniciado por Jesus com os discípulos no caminho de Emaús (Lc.24:27). Ele mostra que a morte de Jesus, ainda que tenha sido fruto da ignorância humana, cumpriu perfeitamente o plano divino revelado pelos profetas. A rejeição, os sofrimentos e a glorificação do Messias foram previstos nas Escrituras. Pedro cita diretamente textos como Deuteronômio 18:15-19, onde Moisés fala do Profeta que Deus levantaria, e Gênesis 22:18, que aponta para a bênção de todas as nações por meio da descendência de Abraão.
John Stott observa com precisão que conhecer o Cristo verdadeiro requer um retorno às Escrituras — elas são como o retrato inspirado que o Pai nos deixou de seu Filho, colorido pela ação iluminadora do Espírito Santo. Desse modo, ignorar as Escrituras é, inevitavelmente, ignorar a Cristo.
A pregação apostólica era, portanto, profundamente bíblica e cristocêntrica. Não se tratava de discursos motivacionais ou de opiniões humanas, mas da exposição fiel das Escrituras que apontavam, explicavam e exaltavam Jesus como o cumprimento das promessas divinas. Esse é o modelo que a igreja deve seguir hoje: pregar Cristo a partir das Escrituras, revelando que toda a Bíblia converge para Ele, o Salvador e Senhor.
3. As Escrituras confrontam o pecado
“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham, assim, os tempos do refrigério pela presença do Senhor” (Atos 3:19).
A verdadeira pregação bíblica não apenas consola, mas também confronta. Ela ilumina a condição pecaminosa do ser humano e aponta o caminho da redenção. No sermão de Pedro registrado em Atos 3:19, ele convoca um povo profundamente religioso — conhecedor da Lei e assíduo nos rituais sagrados — ao arrependimento e à conversão. Isso nos ensina que religiosidade, por si só, não salva. É necessário nascer de novo (João 3:3,5).
Pedro afirma: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados”. A palavra “arrependei-vos” implica uma mudança de mente e coração, enquanto “convertei-vos” sugere uma mudança de direção — abandonar o velho modo de vida e voltar-se totalmente para Deus. Essa dupla resposta à mensagem do Evangelho resulta no perdão dos pecados e na experiência dos “tempos de refrigério pela presença do Senhor”.
A pregação cristocêntrica dos apóstolos não omitia a doutrina do pecado, nem suavizava sua gravidade. Antes, proclamava que todos — inclusive os mais religiosos — estavam perdidos sem arrependimento. Pedro mostra que a cruz de Cristo é o ponto onde se encontram a soberania de Deus e a responsabilidade humana (Atos 2:23; 3:17,18).
Nos dias atuais, muitas mensagens omitem a necessidade de arrependimento, buscando apenas entreter ou agradar os ouvintes. No entanto, a pregação que não confronta o pecado é incompleta e ineficaz espiritualmente. O modelo apostólico é claro: sem arrependimento e conversão, não há perdão nem salvação. A igreja fiel às Escrituras deve resgatar essa verdade essencial.
O QUE APRENDEMOS NESTE TÓPICO I 1. A Igreja que prega as Escrituras revela Deus:
👉 Lição: A Palavra de Deus revela quem Ele é, o que fez em Cristo e o que espera de nós. 2. As Escrituras testemunham de Jesus:
👉 Lição: Toda pregação fiel deve ser cristocêntrica — Jesus é o centro da Bíblia. 3. As Escrituras confrontam o pecado:
👉 Lição: Uma igreja fiel à Bíblia não suaviza o pecado, mas proclama a necessidade de arrependimento e transformação. |
II-A IGREJA QUE PREGA NO PODER DO ESPÍRITO SANTO
1. O Espírito capacita o mensageiro
A pregação apostólica registrada em Atos 3 revela que o poder do Espírito Santo não apenas operava sinais e maravilhas por meio dos apóstolos, mas também capacitava e ungia os mensageiros com ousadia, discernimento e autoridade espiritual. Quando o texto diz que Pedro “fitou os olhos” no homem coxo (Atos 3:4), utiliza o verbo grego “atenízō”, que é frequentemente usado em contextos onde há uma percepção espiritual intensificada — momentos em que o mensageiro divinamente inspirado reconhece algo que vai além do aparente.
Esse mesmo termo é empregado em outros episódios de Atos, como em Listra (Atos 14:9), quando Paulo discerne a fé para a cura no coração do paralítico, e em Atos 13:9, quando o apóstolo confronta Elimas, o mágico, com autoridade espiritual. Essas ocorrências revelam que o olhar fixo é mais do que uma simples observação: é uma ação guiada pela direção do Espírito Santo.
No caso de Pedro, vemos que o Espírito não apenas o capacitou para realizar o milagre, mas também o ungiu para proclamar a verdade com clareza e ousadia. Ele discerniu a ocasião, viu a oportunidade e, no poder do Espírito, anunciou Cristo como o único Salvador. Isso nos ensina que uma pregação eficaz não é fruto apenas de eloquência ou preparação intelectual, mas da capacitação sobrenatural que vem do Espírito de Deus. Pregar, portanto, não é um ato meramente humano, mas uma ação espiritual em que o mensageiro deve estar cheio do Espírito Santo para comunicar, com poder e autoridade, as verdades eternas da Palavra de Deus.
Eram três horas da tarde, prestes a começar uma reunião de oração no templo. Pedro e João estavam passando, quando o paralítico lhes pediu uma esmola. Juntamente com João, Pedro fitou o paralitico e lhe disse: “olha para nós”. O pedido de Pedro ao paralítico — “Olha para nós” — desafia diretamente uma ideia comum na espiritualidade contemporânea: a de que os cristãos não devem atrair atenção para si, mas apenas para Jesus. No entanto, o gesto de Pedro não é arrogante, nem egocêntrico; pelo contrário, é expressão de autoridade espiritual e coerência de vida. Pedro e João sabiam que representavam Cristo — não apenas em palavras, mas em testemunho e poder. Por isso, podiam dizer com segurança: “Olhe para nós”.
A igreja precisa resgatar essa coragem moral e espiritual. A geração atual está saturada de discursos religiosos desconectados da prática. Jesus já havia denunciado a incoerência dos fariseus, que ensinavam corretamente, mas viviam em contradição com o que pregavam (Mt.23:3). O mesmo alerta permanece atual. O mundo espera ver Cristo nos cristãos. Como afirmou o apóstolo Paulo: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1Co.11:1).
Somos chamados a ser “cartas vivas de Cristo” (2Co.3:2), cuja vida traduz fielmente a mensagem do Evangelho. A declaração de Mahatma Gandhi ainda ecoa com tristeza: “No vosso Cristo eu creio, só não creio no vosso cristianismo”. Isso revela a tragédia de um cristianismo que fala de amor, mas age com indiferença; que proclama a verdade, mas vive na incoerência.
“Olha para nós” é um desafio para a igreja de hoje: pais, filhos, líderes, empregados, patrões — todos nós devemos viver de forma que possamos ser dignos de ser observados. Mais do que um chamado à visibilidade, é um clamor por autenticidade. A verdadeira pregação é encarnada na vida de quem a anuncia. Assim, o mundo poderá ver em nós a presença viva de Cristo.
3. O Espírito glorificará a Jesus
Jesus foi claro ao afirmar que o Espírito Santo não falaria de Si mesmo, mas glorificaria a Ele (João 16:14). Essa é uma das marcas inequívocas da atuação genuína do Espírito: exaltar a Cristo. O verdadeiro mover espiritual não busca autopromoção nem faz do homem o centro, mas revela a majestade de Jesus. É exatamente isso que vemos em Atos 3, após a cura do paralítico na Porta Formosa. O apóstolo Pedro, cheio do Espírito, rejeita veementemente qualquer glória pessoal: “Por que olhais para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem?” (Atos 3:12).
Pedro sabia que o milagre não era produto de seu carisma ou espiritualidade, mas da autoridade do nome de Jesus Cristo. Ele se recusou a ser exaltado pela multidão e imediatamente redirecionou a atenção de todos ao verdadeiro autor do milagre: Cristo glorificado. Essa postura revela a integridade espiritual de quem anda no Espírito — alguém que entende que é apenas um canal, e não a fonte do poder.
Em contraste, Atos 8 apresenta Simão, o mágico de Samaria, que gostava de ser chamado de “o grande poder de Deus” e buscava notoriedade por meio de sinais. Sua atitude serve de alerta para os que hoje tentam apropriar-se da glória que pertence somente ao Senhor. Em muitos ambientes, milagres são exibidos como espetáculos, usados para autopromoção ou para construir reputações, em desacordo total com o padrão bíblico.
O Espírito Santo não está à serviço da vaidade humana. Ele glorifica a Jesus, exalta Sua cruz, e honra Seu nome. A igreja fiel deve rejeitar qualquer forma de culto à personalidade e manter-se centrada em Cristo. Onde há verdadeiro mover do Espírito, há humildade, reverência e glória unicamente para Jesus. Essa é a marca da pregação autêntica e da igreja que vive no poder do Espírito.
O QUE APRENDEMOS NESTE TÓPICO II 1. O Espírito Santo capacita o mensageiro:
👉 Lição: O pregador não fala por si, mas como instrumento do Espírito — com discernimento e autoridade que vêm do alto. 2. “Olha para nós” — um chamado à autenticidade:
👉 Lição: A pregação mais poderosa é aquela que é vivida. O mundo precisa ver Jesus em nós — com autenticidade e coerência. 3. O Espírito glorifica a Jesus:
👉 Lição: Onde o Espírito Santo está agindo de verdade, Jesus é exaltado — não o homem. A glória pertence somente a Ele. |
III-A IGREJA QUE PREGA A ESPERANÇA VINDOURA
1. Alerta a uma sociedade indiferente e insensível
Na sua segunda pregação, registrada em Atos 3, o apóstolo Pedro continua a denunciar o estado espiritual da sua geração. Se em Atos 2 ele a classificou como “perversa” (Atos 2:40), agora ele a chama de “ignorante” (Atos 3:17), revelando que além da corrupção moral, havia também cegueira espiritual. Essa combinação — perversidade e ignorância — é típica de uma sociedade que perdeu a sensibilidade para com Deus. Trata-se de um povo religioso, mas espiritualmente alheio, que rejeitou o próprio Autor da vida. Tal quadro se assemelha à realidade contemporânea: vivemos em uma cultura saturada de informações, mas carente de revelação; envolta em religiosidade, mas distante de Deus.
Pedro não suaviza a verdade. Ele expõe o erro com amor e ousadia, chamando ao arrependimento uma geração sem rumo e sem esperança (cf. 1Ts.4:13). A frieza espiritual e a indiferença à verdade são marcas de um povo que vive como se Deus não existisse (1Ts.4:5). Por isso, a igreja fiel tem a responsabilidade de confrontar esse estado com a mensagem do Evangelho. Onde há insensibilidade, é necessário proclamar a cruz; onde há ignorância, é necessário ensinar a verdade; e onde reina a desesperança, é urgente anunciar que há esperança viva em Cristo Jesus.
2. Uma exigência clara (Atos 3:19a)
“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados...”.
A mensagem de Pedro em Atos 3:19a é direta e inegociável: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos”. Ele não está falando a um grupo de pagãos ignorantes das Escrituras, mas a uma audiência profundamente religiosa — pessoas familiarizadas com a Lei, com os rituais do templo e com os profetas. No entanto, essa religiosidade formal não foi suficiente para livrá-los da condenação. Pedro os confronta com uma verdade contundente: sem arrependimento e conversão, não há salvação.
O verbo “arrepender-se” (gr. metanoeō) implica mudança de mente e atitude. Já “converter-se” (gr. epistrephō) comunica a ideia de um retorno deliberado, um redirecionamento de vida — abandonar o pecado e voltar-se a Deus com fé e obediência. Pedro une esses dois termos para deixar claro que o Evangelho exige uma transformação integral: mente, coração e conduta. O arrependimento não é apenas um sentimento de culpa, mas uma resposta ativa à graça de Deus, resultando no cancelamento dos pecados (cf. Atos 3:19).
Esse chamado urgente de Pedro ecoa o próprio ensino de Jesus (Mc.1:15) e revela que a salvação não se alcança por herança religiosa, moralidade ou boas intenções, mas por uma experiência pessoal e transformadora com Deus. Em nossos dias, essa mensagem permanece essencial — especialmente diante de púlpitos que muitas vezes suavizam a pregação, substituindo o arrependimento por motivação emocional ou promessas de sucesso.
Pedro também reafirma a tensão teológica entre a soberania divina e a responsabilidade humana (Atos 3:17,18), mostrando que, embora a morte de Cristo fosse parte do plano de Deus, os ouvintes tinham culpa e deveriam responder com arrependimento. O Evangelho bíblico não é uma sugestão: é um chamado ao quebrantamento, à renúncia do pecado e à rendição a Cristo.
3. A promessa da Segunda Vinda de Jesus Cristo (Atos 3:19b)
“...e venham, assim, os tempos do refrigério pela presença do Senhor”.
Após chamar ao arrependimento e anunciar o cancelamento dos pecados, o apóstolo Pedro proclama uma gloriosa promessa: “e venham, assim, os tempos do refrigério pela presença do Senhor” (Atos 3:19b). Essa expressão aponta para a futura restauração plena que será consumada na segunda vinda de Cristo. A palavra grega traduzida como "refrigério" (anápsychis), que ocorre unicamente neste texto no Novo Testamento, evoca uma imagem de alívio, descanso e renovação — uma antecipação da paz messiânica prometida pelos profetas.
Ralph Earle observa que este termo remete à época messiânica de alegria e repouso — não apenas a um alívio momentâneo, mas à restauração final de todas as coisas, mencionada explicitamente em Atos 3:21. É a grande época de alegria e repouso, que será trazida pela vinda do Messias na sua glória. Essa esperança não é genérica nem utópica: ela está centrada na pessoa e na obra de Jesus Cristo, o profeta prometido por Moisés (Dt.18:15) e anunciado por todos os profetas desde Samuel. Ele é o descendente de Abraão por meio de quem todas as nações seriam abençoadas (Gn.12:3; cf. Gl.3:16).
Pedro conclui sua mensagem com uma aplicação poderosa e contextual: seus ouvintes eram herdeiros das promessas e da aliança com Abraão. Mas a bênção só poderia ser experimentada por meio da fé e do rompimento com o pecado. A recusa em ouvir e obedecer ao Cristo enviado traz, não refrigério, mas juízo (cf. Hb.2:2-4; 10:28,29).
Assim, Pedro conecta o presente chamado ao arrependimento com a esperança escatológica: não há refrigério, restauração nem salvação, sem arrependimento verdadeiro. A Segunda Vinda de Cristo é a consumação dessa promessa — uma realidade futura que exige hoje uma resposta imediata.
O QUE APRENDEMOS NESTE TÓPICO III 1. A Igreja alerta uma sociedade indiferente e insensível:
👉 Lição: A igreja fiel não se cala diante da insensibilidade espiritual — ela proclama com ousadia a esperança que há em Jesus. 2. A mensagem do evangelho exige arrependimento (Atos 3:19a):
👉 Lição: A esperança futura só é acessível por meio de arrependimento e conversão genuínos — não por religiosidade ou boas intenções. 3. A Promessa da Segunda Vinda de Cristo (Atos 3:19b–21):
👉 Lição: A esperança cristã é escatológica — olhamos para a volta de Cristo com fé, mas respondemos hoje com arrependimento e fidelidade. |
CONCLUSÃO
A Igreja verdadeira não pode se desviar de sua missão central: anunciar com fidelidade o Evangelho de Cristo. A pregação apostólica em Atos 3 nos ensina que a mensagem deve ser fundamentada nas Escrituras, proclamada no poder do Espírito Santo e carregada da viva esperança na segunda vinda de Jesus. Essa pregação confronta o pecado, exalta a Cristo e convoca os ouvintes ao arrependimento e à conversão. Em um tempo de tantas distorções e distrações, a Igreja precisa manter-se firme na proclamação pura, corajosa e ungida do Evangelho, que é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. Que sejamos, como Pedro e João, instrumentos fiéis da Palavra que transforma vidas e conduz os perdidos à esperança eterna.