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SÓ O EVANGELHO MUDA A CULTURA HUMANA

Texto Base: 1Tessalonicenses 1:1-10
“porque eles mesmos anunciam de nós qual a entrada que tivemos para convosco, e como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro” (1Ts.1:9).
1Tessalonicenses 1:
1.Paulo, e Silvano, e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses, em Deus, o Pai, e no Senhor Jesus Cristo: graça e paz tenhais de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
2.Sempre damos graças a Deus por vós todos, fazendo menção de vós em nossas orações,
3.lembrando-nos, sem cessar, da obra da vossa fé, do trabalho da caridade e da paciência da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, diante de nosso Deus e Pai,
4.sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de Deus;
5.porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza, como bem sabeis quais fomos entre vós, por amor de vós.
6.E vós fostes feitos nossos imitadores e do Senhor, recebendo a palavra em muita tribulação, com gozo do Espírito Santo,
7.de maneira que fostes exemplo para todos os fiéis na Macedônia e Acaia.
8.Porque por vós soou a palavra do Senhor, não somente na Macedônia e Acaia, mas também em todos os lugares a vossa fé para com Deus se espalhou, de tal maneira que já dela não temos necessidade de falar coisa alguma;
9.porque eles mesmos anunciam de nós qual a entrada que tivemos para convosco, e como dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro
10.e esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos do poder do Evangelho na transformação da cultura do ser humano. O homem foi criado a imagem e semelhança de Deus no sentido espiritual, porém, após a Queda, o pecado manchou esta imagem divina no homem, e com isto alguns traços da imagem de Deus no homem foram sendo apagados. Isto é melhor compreendido ao ver o pecado crescendo, e os valores morais sendo extintos, e o homem tendo uma facilidade enorme de desrespeitar o próximo, e desobedecer ao seu Criador, e, por conseguinte, produzir culturas voltadas para o mal.
Há muito tempo que a cultura humana tornou-se o abrigo natural do homicídio, do sexo depravado, do comportamento tresloucado e antinatural, e da rebelião contra Deus. Mas, o ser humano não perdeu por completo a posição de ser “imagem de Deus”; é possível ainda o ser humano produzir coisas boas.
O Evangelho tem poder para restaurar o caráter do ser humano e, assim, como consequência, fazer com que ele produza cultura que glorifique a Deus em todos os aspectos; foi isto que aconteceu no princípio da Igreja e acontece também hoje, porque o poder transformador do Evangelho continua com a mesma eficácia; o Evangelho continua sendo o poder de Deus para a salvação de todo o que crê.

I. O QUE É A CULTURA

O ser humano é um ser racional, inteligente, criativo e se evoluciona à medida que o tempo passa, transformando ideias em algo concreto, especificando um modo de viver característico. Quando Deus disse crescei e multiplicai, não foi somente em termos quantitativos, também em sua forma de viver, tanto é que na torre de Babel Deus confundiu as lingas forçando a comunidade de Babel a se espalharem por toda a terra, formando povos e nações diferentes com suas características e modo de viver próprios. Com a dispersão da comunidade única pós-diluviana, no juízo de Babel (Gn.11:9), naturalmente que os povos ali nascidos passaram a construir diferentes culturas, até porque a língua é um fator fundamental na formação de uma cultura, e Deus confundiu as línguas, impondo, pois, uma diversidade cultural para o mundo.

1. Definição de cultura

Para muitas pessoas, a palavra "cultura" significa o grau de estudos de uma pessoa. Por isso é comum ouvirmos alguém falar: "Fulano de Tal tem muita cultura". Quase todas as pessoas fazem esta associação da cultura com o desenvolvimento intelectual ou o nível de estudo de alguém. Por esta razão, uma pessoa que tem um linguajar rude, um modo de vida simples, logo é taxada de uma pessoa sem cultura. O mesmo acontece com as tribos indígenas - pelo fato de terem uma vida bem simples são taxadas de povo "sem cultura". Mas esta não é a definição, antropologiamente, correta. Diríamos que Cultura é o conjunto de comportamentos e ideias característicos de um povo, que se transmite de uma geração a outra e que resulta da socialização e aculturação verificadas no decorrer de sua história.

2. A cultura dos gentios

A cultura dos gentios, desde a civilização cainita, sempre andou de forma antagônica à principiologia divina. A cultura é uma criação humana, mas ela jamais pode afrontar os princípios estabelecidos por Deus ao homem.
O poder criativo do homem está sujeito à observância dos princípios éticos estabelecidos por Deus. Evidentemente que, ao pecar, o homem perdeu a comunhão com o Senhor e, por causa disso, passou a estar sob o domínio do pecado, pecado este que determina a própria formação da cultura por parte do homem, como havia na civilização caimita (Gn.4:17-24); cultura, aliás, que preponderou sobre a cultura da descendência de Sete (Gn.6:1,2), gerando um modo de vida que fez com que o Senhor destruísse a raça humana através do Dilúvio (Gn.6:5-7).
A comunidade única pós-diluviana, de onde provêm todas as nações, tinha como fundamento moral a principiologia divina, a conduta estabelecida por Deus ao homem, desde o Éden, e que foi renovada a Noé (Gn.9:1-17), princípios que são denominados pelos estudiosos da Bíblia de “pacto noaico” e, particularmente, pelos rabinos judeus de “os sete preceitos dos descendentes de Noé” (Shéva Mitsvót Benê Nôach), a saber: “Praticar a equidade; não blasfemar o nome de Deus; não praticar idolatria; imoralidades; assassinatos e roubos e; não tirar e comer o membro de um animal estando ele vivo”. Todavia, esta principiologia básica, em virtude do pecado, acabou sendo distorcida, como tinha sido antes do dilúvio.
Para que esta principiologia voltasse a ser observada e, uma vez mais, a humanidade pudesse ser abençoada por Deus e retornasse à observância da “comissão cultural” estabelecida quando da criação (Gn.1:28), Deus quis formar uma nação que fosse Sua “propriedade peculiar de Deus dentre os povos” (Ex.19:5).
Deus chamou Abrão para formar essa nação (Gn.12:1-3). Quando essa nação foi formada, o Senhor expressamente determinou que ela não se misturasse com a cultura ímpia dos povos existentes na Terra Prometida, inclusive determinando que fossem eles totalmente destruídos (Dt.7:1-6), uma vez que sua injustiça havia chegado ao limite da paciência de Deus (Gn.15:16).
Porém, antes mesmo de Israel entrar na Terra Prometida, esta separação determinada por Deus não foi observada pelos israelitas. Com efeito, quando saíram do Egito, levaram consigo muitas pessoas que não eram descendentes de Abraão; as Escrituras Sagradas registram que, juntamente com o povo, saiu uma “mistura de gente” (Ex.12:38), ou seja, gente que não pertencia a Israel, que aproveitou a ocasião da libertação do povo para também sair de um Egito que, a esta altura dos acontecimentos, estava totalmente arruinado em virtude das pragas lançadas por Deus contra os egípcios.
Esta “mistura de gente” - somado o tempo que os israelitas haviam passado no Egito, naturalmente absorvendo a cultura egípcia, uma das mais avançadas da época, porém, antagônica aos padrões morais que Deus desejava ao seu povo -, fez com que Israel tivesse imensas dificuldades para ser a “propriedade peculiar dentre os povos”.
Quarenta dias depois de terem recebido os “Dez Mandamentos”, Israel se voltou para a cultura egípcia no triste e lamentável episódio do bezerro de ouro, o que se percebe como a “cultura egípcia” estava ainda impregnada no “modus vivendi” dos israelitas (Ex.32:1-6, 21-24). Aliás, antes deste episódio, na própria passagem do Mar Vermelho, vemos que a comemoração comandada por Miriã era fruto da influência cultural egípcia (Ex.15:20,21).
Assim como Deus exigiu de Israel a santidade (Lv.19:2), o mesmo fez em relação à Igreja (1Pd.1:15,16; 2:9). O povo de Deus não deve se adaptar à cultura mundana; somos diferentes, portanto, não transigimos nem negociamos com os nossos princípios espirituais, morais e éticos. Devemos, portanto, discernir bem os prós e os contras da cultura na qual estamos inseridos.
Devemos agir como fez Daniel, quando esteve na Babilônia. O contexto cultural da Babilônia era totalmente antagônico aos princípios morais e espirituais de Daniel, mas não contaminou e nem influenciou o seu caráter. Ele soube muito bem discernir os prós e os contras da cultura babilônica. Quando os valores de sua fé eram desafiados, Daniel não transigia nem negociava com os seus princípios espirituais, morais e éticos (Dn.1:8; 6:6-10). Através de uma postura tão firme e corajosa, fez sobressair sua fé no Deus único e verdadeiro.
É assim que devemos agir e reagir, como povo de Deus, em relação ao contexto cultural no qual estamos inseridos.
Acreditamos que a cultura Babilônia dos dias de Daniel comparada à “Babilônia” destes últimos dias era muito mais admissível. Certamente que lá não havia permissão legal para que menores de 18 anos pudessem matar gente de bem, pais de famílias, estudantes, profissionais liberais, pessoas de todas as classes sociais, sem maiores consequências no presente e sem nenhuma consequência no futuro.
Na Babilônia dos dias de Daniel, os menores assassinos de hoje seriam condenados à morte. Lá, embora houvesse tolerância para com o relacionamento entre homossexuais, por certo a homossexualidade não era celebrada com “orgulho”, em gigantescos desfiles, ou “paradas do orgulho gay”, prestigiadas pela presença de autoridades governamentais, como acontece na “Babilônia” dos dias de hoje.
Na Babilônia dos dias de Daniel, com certeza, não havia casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Havia um limite para a prática pecaminosa. Na “Babilônia” de hoje não existe este limite. Como bem diz o Pr. Claudionor de Andrade, “hoje, a antropologia cultural vê, como meros fenômenos sociológicos e culturais, a prostituição, o homicídio, a corrupção, o feticídio e até mesmo o infanticídio”.
Os fatos sociais dos últimos dias, em termos de declínio espiritual, em termos de degeneração moral dos costumes, em termos de decadência social, com certeza, não encontram paralelos na história, de qualquer época. Por certo estamos vivendo naqueles dias preditos por Paulo: “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos”(2Tm.3:1). Por certo que estamos, também, naqueles dias da multiplicação da iniquidade, referidos por Jesus: “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará”(Mt.24:12).

3. A cultura do povo de Deus

A cultura do povo de Deus é totalmente antagônica à cultura gentílica, do mundo. No reino de Deus, o povo rejeita atitudes e padrões que não são pertinentes ao Reino de Deus, porque a cultura do povo de Deus é conformada segundo o Reino de Deus, onde o Rei – o Senhor do Reino - está acima de qualquer comportamento que se opõe à Sua vontade e à Sua Palavra. Nesse Reino, tudo quanto é feito tem de ser aferido por este mandamento bíblico: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1Co.10:31).
Na cultura do povo de Deus:
- O mal é detestado. Detestar o mal é o mesmo que odiá-lo. Paulo usa várias vezes a palavra “fugir” para significar a re­pulsa que o cristão deve ter das coisas que são más (1Co.6:18; 10:14), e em 1Tm.6:11 ele exorta: “Tu, po­rém, ó homem de Deus, foge destas coisas”. O apóstolo João, em sua primeira epístola, faz a seguinte advertência: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1João 2:15). A exortação do Senhor é: “Vós que amais ao SENHOR, aborrecei o mal; ele guarda a alma dos seus santos, ele os livra das mãos dos ímpios” (Sl.97:10).
- O bem é praticado. O apóstolo Paulo exorta: “... Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem” (Rm.12:9). O comportamento ético do cristão é uma busca constante e intensa do que é bom. O mandamento divino é: “Buscai o bem e não o mal, para que vivais; e assim o SENHOR, o Deus dos Exércitos, estará convosco” (Amós 5:14). O salmista assim se expressou: “Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água” (Sl.63:1).

II. UMA CULTURA DOMINADA PELA INIQUIDADE

O texto de Gênesis 1:26-30 mostra que Deus nos criou como seres sociais que produzem cultura. Cultura é o conjunto de manifestações sociais, linguísticas e comportamentais de um povo ou civilização. Fazem parte da cultura de um povo as seguintes atividades e manifestações: música, teatro, rituais religiosos, língua falada e escrita, mitos, hábitos alimentares, danças, arquitetura, invenções, pensamentos, formas de organização social, etc. O caráter do ser humano é sobremaneira influenciado por todos esses elementos constitutivos da cultura; se eles não se coadunam com os princípios da Palavra de Deus, então, certamente, teremos uma cultura dominada pela iniquidade, totalmente desviada para o mal.

1. A cultura original

Originalmente, o homem era dotado de um caráter que refletia a glória do Senhor. Olhando para o homem, era possível enxergar o próprio caráter divino, pois o homem era uma projeção de Deus na criação. Assim como o querubim ungido, que “era perfeito nos seus caminhos, desde o dia em que foi criado até que se achou iniquidade nele” (cf. Ez.28:15), assim também era o homem.
A Queda fatalmente manchou a cultura humana (Ec.7:29); por causa disto, o caráter do ser humano passou a ser moldado pelo pecado, distorcendo a imagem e semelhança de Deus que lhe foram impressas no momento de sua criação. Por causa do pecado, as culturas criadas e desenvolvidas pelo ser humano estão fatalmente comprometidas pelo mal (Gn.3:5-10,17-19).

2. A cultura do homicídio

No aspecto humano, Caim foi o primeiro apóstata (Gn.4:8-16), e sua apostasia resultou numa civilização totalmente voltada para a prática do mal. O próprio Deus afirmou: “E viu o SENHOR que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente” (Gn.6:5). A cultura do homicídio era avultosa naquela Era pós-Queda.
Lameque, descendente de Caim, teve o prazer de alardear que matara uma pessoa (Gn.4:23) – “... escutai o que passo a dizer-vos: matei um varão, por me ferir, e um jovem, por me pisar”. Ele banalizava a vida humana - “... Matei [...] um jovem, porque me pisou”. Para este homicida, as pessoas não valiam nada. Matar um jovem por causa de uma pisada no pé é não ter nenhum respeito com a vida humana.
Lameque não gostava de ser pisado, mas pisava as pessoas. Ele tipifica aquelas pessoas que não gostam de ser machucadas, mas têm prazer em machucar os outros. A violência é a demonstração mais vil de que a vida humana não tem valor.
Concordo com o Pr. Claudionor de Andrade quando diz que “hoje, vemos aqueles dias replicarem-se em todos os segmentos sociais; a cultura da morte não mudou. O que dizer do aborto, da eutanásia e da cruel indiferença ao próximo?”.

3. A cultura do erotismo, da prostituição

Outro fator resultante da Queda que impregnou a cultura humana foi o erotismo (manifestação explicita da sexualidade: nas artes, na literatura, no cinema, na TV, nas mídias sociais, etc).
A civilização de Caim foi eivada pela devassidão sexual; voltando-se contra o Senhor, essa civilização cometeu os pecados mais hediondos e abomináveis. A Bíblia relata que foi na civilização cainita que se iniciou a poligamia e os pecados da prostituição.
Lameque, o pai da poligamia, foi quem deu a cartada inicial da quebra do princípio da monogamia (cf. Gn.4:19), abandonando o modelo divino de família. Os pecados sexuais eram cometidos como se nada fosse proibido. Não havia limites à prostituição. A irmã de Tubal-Caim – Naamá -, é tida como a primeira prostituta da história (Gn.4:22).
Conforme o texto sagrado, até mesmo os descendentes de Sete corromperam-se em meio àquela imoralidade abominável da civilização cainita. Relata o autor sagrado: “viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram” (Gn.6:2).
No mundo de hoje, a prostituição está disseminada e que se constitui no terceiro maior negócio, perdendo apenas para os tráficos de armas e de drogas. Assim, ao condenar a prostituição, a Bíblia não só condena o comércio do próprio corpo para a satisfação da lascívia alheia, mas toda e qualquer prática sexual ilícita (Os.4:1,2; Ap.22:15). 

4. A cultura do consumo desenfreado

A cultura do consumismo não é de agora; na civilização cainita era uma prática rotineira que caracterizava aquela civilização. Jesus deixou transparecer essa cultura; Ele afirmou que “nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca” (Gn.24:38).
Percebe-se que o hedonismo, a busca exacerbada do prazer, sobressaia-se no mundo pré-diluviano. Esta característica em nada difere da do mundo atual. Nos dias em que vivemos – pós-modernidade - uma das principais manifestações é o consumismo, o prazer de aquisição de bens materiais, aquisição esta incontrolada.
Hoje em dia, não se compram produtos pela utilidade que darão ao comprador, mas única e exclusivamente pelo prazer de comprar, ainda que se saiba que o produto pouco ou nada acrescentará à pessoa ou, o que é mais grave, somente trará prejuízos para o adquirente. Mas nesta ânsia pelo ter, pelo adquirir, o que vale é apenas a sensação de bem-estar e de importância que a aquisição gera. Entretanto, Jesus ensina que a vida de alguém não é medida pelas posses que tenha (Lc.12:15), e que uma ação desta natureza avilta a dignidade da pessoa humana, que deve se livrar da ganância e da avareza, que outra coisa não é senão idolatria (Cl.3:5).
A prática desenfreada de aquisição de bens tem trazido diversos problemas, inclusive para os servos de Deus, que não conseguem resistir a determinadas “promoções imperdíveis” oferecidas pelo comércio, e adentram por endividamentos e financiamentos, sem mesmo avaliar se sua situação financeira comportará tais compromissos.
É bom ter a capacidade de adquirir bens necessários à existência e, na medida do possível, ter também condição financeira para realizar objetivos planejados a médio e longo prazos. Mas quando esquecemos de planejar nossas finanças e cedemos às pressões “urgentes”, para adquirir coisas supérfluas, corremos o risco de manchar o nome do Senhor e o nosso diante dos ímpios.
Concordo com a afirmação do Rev. Hernandes Dias Lopes: “O consumismo nos faz comprar coisa que não precisamos, com um dinheiro que não temos, para impressionar pessoas de que não gostamos. Isso é perigoso”.
A Palavra de Deus nos adverte taxativamente sobre o gasto abusivo e desnecessário. No Antigo Testamento Deus já advertia o seu povo: “Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura” (Is.55:2).

III. O EVANGELHO TRANSFORMA A CULTURA

O Evangelho tem poder para transformar a cultura dominada pela iniquidade. O apóstolo Paulo afirmou: “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê...” (Rm.1:16).

1. Jesus nasceu num contexto cultural

Jesus ao nascer foi acolhido numa sociedade dominada por três grandes culturas: a judaica, a grega e a romana (João 19:20). E para se fazer compreendido e mostrar amor, identificou-se com todas as pessoas, em suas diversas formas de cultura. Ele falou a língua daquele povo, vestiu-se conforme os costumes da época, comeu o que eles comiam, dormiu onde eles dormiam.
No diálogo com a mulher samaritana, Jesus abordou o tema da salvação usando um dos elementos que fazia parte do cotidiano daquela mulher - a água. Ele era judeu, ela uma samaritana, e havia uma grande rivalidade entre ambos os grupos, mas Jesus iniciou seu diálogo a partir de um ponto em comum: o poço de Jacó (que era historicamente importante para judeus e samaritanos) e a sede existencial que todo ser humano tem. Assim, Jesus conseguiu apresentar o evangelho à mulher de forma eficaz, bem como à toda aldeia dos samaritanos.
Devemos humildemente procurar compreender um povo com o qual trabalhamos, falando a sua língua e evitando todo escândalo cultural que possa fechar as portas para o evangelho. O amor de Deus manifestar-se-á através das nossas vidas quando pudermos comunicar o evangelho identificados culturalmente com todos.

2. O Evangelho transforma a cultura

Embora não seja possível converter todas pessoas de uma determinada cultura, podemos fazer com que muitas pessoas sejam influenciadas pela pregação do Evangelho. E a melhor e mais impressionante forma de pregarmos o Evangelho é vivermos de acordo com o Evangelho, é termos uma vida sincera e irrepreensível diante de Deus e dos homens.
-O povo de Antioquia, ao ouvir a mensagem do Evangelho, começou a chamar os discípulos de cristãos, porque, ao compararem o modo de vida de cada crente com o que era mostrado nas Escrituras, descobriram que os crentes daquela igreja eram “parecidos com Cristo”, ou seja, eram “cristãos”.
-Por ocasião da sua primeira viagem missionária, na cidade de Listra, Paulo, juntamente com o seu companheiro Barnabé, encontrou um homem aleijado de nascença que ouviu Paulo falar e demonstrou grande interesse. Assim que ouviu a ordem de Paulo para que ficasse em pé, o paralítico saltou e andou. O milagre foi realizado em público. Quando os cidadãos de Listra viram os milagres operados por intermédio de Paulo e Barnabé, queriam adorá-los. Mas eles explicaram que não eram deuses, mas homens, como os licaônicos. Seu objetivo era apenas proclamar as boas-novas para que as pessoas deixassem as coisas vãs e adorassem ao Deus vivo (cf. Atos 14:14,15). Após a explanação de Paulo sobre a criação (cf. Atos 14:15b - 17), o povo relutante desistiu, por fim, da ideia de oferecer sacrifícios aos servos do Senhor. Dessa forma, os dois missionários contrapuseram o Evangelho de Cristo à cultura pagã de Listra; e ali mesmo, foi estabelecida uma igreja fervorosa (Atos 14:21,22). Isso prova que o Evangelho tem o poder de transformar a cultura de uma sociedade por meio da prática da Palavra de Deus (veja At 17:15-34).
-Por ocasião de sua terceira viagem missionária, na cidade de Éfeso, também, a mensagem do Evangelho impactou a vida de muitas pessoas, mudando completamente a cultura religiosa daquela cidade. Muitas pessoas daquela cidade aceitaram a Cristo como Senhor e Salvador e o Espírito Santo os impulsionaram a abandonarem a cultura idólatra impregnada em suas vidas. Como demonstração de sua conversão a Cristo, eles queimaram publicamente os livros que os doutrinavam às práticas de magias negras (Atos 19:19) – “Também muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros e os queimaram na presença de todos, e, feita a conta do seu preço, acharam que montava a cinquenta mil peças de prata”.
A mensagem do Evangelho foi impactante na vida dos efésios. A cidade sede do culto ao ídolo Diana tornou-se agora um território dominado pela Palavra de Deus. A terra da idolatria agora estava iluminada pela verdade das Escrituras Sagradas. A luz espantou as trevas, e a verdade desmascarou a mentira. O poder do Evangelho acabou com a influência generalizada da magia negra em Éfeso, pois os novos crentes concluíram que tais práticas eram incompatíveis e inconsistentes com a fé cristã.
John Stott ressalta que o fato de os recém-convertidos estarem dispostos a jogar seus livros no fogo, em vez de converterem o seu valor em dinheiro, vendendo-os, era uma evidência notável da sinceridade de suas conversões, era um sinal claro de que o povo de Éfeso estava desistindo da magia e abraçando o Evangelho de Jesus Cristo. Esse exemplo levou a outras conversões, pois “assim a palavra do Senhor crescia e prevalecia poderosamente” (Atos 19:20). Segundo alguns estudiosos, o valor total daqueles livros correspondia a cinquenta mil denários, ou seja, a 150 anos de salário de um trabalhador comum, levando em consideração que o salário de um trabalhador era de um denário por dia.
Segundo Simon Kistemaker:
Éfeso se tornou a depositaria da literatura sagrada que formou o cânone do Novo Testamento. Durante o tempo em que Paulo viveu em Éfeso, ele escreveu suas Epístolas aos Coríntios. Quando Paulo ficou em prisão domiciliar em Roma, ele enviou sua carta aos Efésios. Nos anos posteriores, quando Timóteo era pastor em Éfeso, Paulo despachou as duas epístolas que levam o nome de Timóteo. Algumas décadas mais tarde, o apóstolo João compôs seu Evangelho e suas três epístolas de Éfeso. De certa maneira, pode-se dizer que assim como o Antigo Testamento fora confiado aos judeus (Rm.3:2), da mesma forma os efésios se tornaram os guardiães do Novo Testamento” (KISTEMAKER, Simon. Atos. Vol.2).

3. Usando a cultura em favor do evangelho - construindo pontes culturais para pregar o evangelho em um ambiente cultural diversificado

A Igreja deve se inserir na cultura de um povo, não atacá-la nem tentar modificá-la de fora para dentro, mas, sim, inserir-se dentro da cultura de uma determinada sociedade e, ali, mediante a pregação eficaz e poderosa da Palavra de Deus, ser o instrumento para o novo nascimento das pessoas. Este novo nascimento fará com que as pessoas mudem de conduta e esta modificação trará, inevitavelmente, novos hábitos, novos costumes e a cultura será transformada, retornando-se à principiologia divina distorcida ao longo da vida pecaminosa dessa sociedade.
Em Atos 17, o apóstolo Paulo fez seu célebre discurso no areópago de Atenas. Cercado pela elite intelectual daquela cidade, ele apresentou um sermão polido, no qual citava os filósofos e poetas gregos, demonstrando afinidade com os temas de predileção daqueles homens. E foi assim, começando pelos poetas gregos que este bandeirante do Evangelho conduziu seus ouvintes à mensagem de arrependimento. Quando Paulo mencionou a ressurreição, muitos se escandalizaram e se foram, mas Dionísio e alguns dos presentes se converteram ao cristianismo (cf. At.17:34). Paulo foi sábio porque soube usar a cultura em seu benefício, construindo uma ponte por meio da qual introduziu o evangelho.

4. Os crentes de Corinto, um exemplo da influência do Evangelho

Corinto, uma cidade antiga da Grécia, era, em muitos aspectos, a metrópole grega de maior destaque nos tempos de Paulo. Seu colossal centro cultural se destacava com uma grande diversidade de riqueza, religiões e padrões morais. Tinha uma reputação de ser extremamente independente e tão decadente quanto qualquer cidade no mundo. Mas, o santo evangelho chegou a essa cidade e ali foi fundada uma grande igreja. Paulo fundou a igreja de Corinto, juntamente com Áquila e Priscila (Atos 16:19) e com sua equipe apostólica (At.18:5), quando da sua segunda viagem missionária, durante seu ministério de dezoito meses nessa região. A igreja era composta de judeus e gentios, mas o maior contingente de crentes era constituído de gentios convertidos do paganismo. O poder do evangelho transformou aquelas pessoas adeptas do paganismo, escravas de Satanás, em santos (1Co.1:2). Teve alguns problemas internos, mas apesar disto, ela detinha todos os dons espirituais (1Co.1:7).

CONCLUSÃO

A Igreja foi chamada para, através da Graça Comum, criar uma cultura debaixo do senhorio de Cristo. Cultura essa que reflita a ordem original da criação em todos os aspectos: na família, no trabalho, na ciência, nas artes, na política, etc. Como Igreja de Deus, temos essa missão a cumprir junto à sociedade, como sal da terra e luz do mundo (Mt.5:13,14). Nossa missão é transformá-la através do poder do Evangelho de Cristo.
Ao aceitar a mensagem do Evangelho o ser humano passa a se comportar de maneira condizente com a vontade de Deus; passa refletir a respeito dos princípios e valores que se encontram na Palavra de Deus, em todos os níveis de nossas relações: na família, na igreja, na escola, no trabalho e nos relacionamentos. Isto equivale dizer que o Evangelho de Cristo não visa apenas salvar o homem do pecado e do inferno, mas também levá-lo a agir como instrumento transformador da sociedade na qual acha-se inserido. Que assim seja!