SISTEMA DE RÁDIO

  Sempre insista, nunca desista. A vitória é nosso em nome de Jesus!  

A RENOVAÇÃO COTIDIANA DO HOMEM INTERIOR

 

“Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia” (2Co.4:16).

2Coríntios 4:

11.E assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossa carne mortal. 

12.De maneira que em nós opera a morte, mas em vós, a vida. 

13.E temos, portanto, o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri; por isso, falei. Nós cremos também; por isso, também falamos, 

14.sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará também por Jesus e nos apresentará convosco. 

15.Porque tudo isso é por amor de vós, para que a graça, multiplicada por meio de muitos, torne abundante a ação de graças, para glória de Deus.

16.Por isso, não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia. 

17.Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente, 

18.não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas.

INTRODUÇÃO

Viver em um mundo repleto de adversidades e desafios é uma experiência inegável para todos os cristãos. Essas adversidades externas podem assumir várias formas como, por exemplos, problemas financeiros, perdas pessoais, conflitos interpessoais e eventos imprevisíveis. Diante dessa realidade incontestável, emerge a necessidade premente de buscar renovação espiritual contínua como uma forma de enfrentar e transcender tais desafios, e o Espírito Santo é nossa fonte de força e renovo; é por meio Dele que os seguidores fiéis de Cristo experimentam essa renovação espiritual no interior de sua vida (2Co.4:16).

Ao experimentar renovação espiritual, o homem interior é capaz de adquirir uma nova perspectiva sobre as adversidades. Ele pode perceber que sua força interior não é determinada pelas circunstâncias externas, mas sim pela sua capacidade de se conectar com algo mais profundo e transcendente, a saber, o Espírito Santo. Essa conexão espiritual pode fornecer respostas para perguntas difíceis, oferecer conforto nos momentos de dor e inspirar ações positivas em meio à adversidade.

Esta Lição traz uma exortação para que a nossa vida interior, isto é, a vida espiritual, persevere diante das muitas dificuldades externas. A finalidade é mostrar que o seguidor de Cristo que tenha passado por uma renovação espiritual, é capaz de enfrentar com triunfo qualquer investida proveniente das forças malignas.

I. O SOFRIMENTO EXTERIOR

1. A experiência de Paulo

A vida do apóstolo Paulo nos mostra que os crentes fiéis e obedientes ao Senhor também passam por muitas provações e aflições. Ele nos deixou um grande exemplo de como permanecer firme em Cristo, mesmo diante do sofrimento. Como cristão precisamos amadurecer na fé. Para isso, Deus usa as adversidades para nos conduzir ao caminho do crescimento espiritual.

A experiência do sofrimento do apóstolo Paulo nos ensina que ser cristão não é ser poupado das provas, dos vales, dos desertos, das fornalhas, das covas dos leões, das prisões ou da morte. Mas, ser crente, é ser conformado em todas essas circunstâncias adversas. Em 2Corintios 1:8, ele contou à Igreja de Corinto uma dolorosa e dramática experiência vivida na cidade de Éfeso:

“Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a natureza da tribulação que nos sobreveio na Ásia, porquanto foi acima das nossas próprias forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida”.

Paulo não descreve o fato, mas declara como se sentiu depois de ter passado por esse terremoto existencial. Ele estava num beco sem saída, em completo desespero. Essa experiencia, deu-se na cidade de Éfeso. Nesta cidade, ele enfrentou severa oposição tanto dos judeus como dos idólatras. Sua passagem por Éfeso revolucionou a população e trouxe grandes abalos para as estruturas espirituais da cidade. O culto à falsa deusa Diana ficou seriamente abalado depois da estada de Paulo na capital da Ásia Menor. Possivelmente Paulo foi vítima de uma orquestração mortífera tanto dos judeus (At.20:19; 21:27) como dos gentios (At.19:23-40). Talvez tenha sido até mesmo sentenciado à morte. A Bíblia registra pelo menos quatro situações que o tenham levado ao desespero: (a) o motim instigado por Demétrio (At.19:23-41); (b) a luta contra as feras selvagens (1Co.15:32); (c) o aprisionamento por autoridades romanas (2Co.11:23); (d) um mal físico (2Co.12:7-10).

Também não está fora de cogitação pensar que Paulo tenha sido arrastado para várias sinagogas locais a fim de ser julgado perante as cortes judaicas. Os castigos que recebia eram as 39 chicotadas prescritas; ele afirma: “Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um” (2Co.11:24). Essas surras podiam ser perigosas quando administradas com severidade, especialmente se fossem repetidas em curto espaço de tempo. Além disso, as autoridades romanas golpearam Paulo três vezes com varas (2Co.11:25). Lucas registra que em Filipos “uma multidão revoltada se juntou contra Paulo e Silas, e os magistrados ordenaram que os dois fossem despidos e açoitados com varas. Depois de serem severamente açoitados, foram lançados na prisão “ (Atos 16:22,23). Além de todos esses sofrimentos, Paulo sofreu terrivelmente em sua Primeira Viagem Missionária. Na província da Galácia, ele foi expulso de Antioquia da Pisídia, teve de fugir do Icônio para não ser linchado, e em Listra foi apedrejado e arrastado da cidade como morto (Atos 14:1-19).

Enfim, por onde passou, Paulo sofreu as piores perseguições que um ser humano pode suportar, e terminou sua jornada em Roma, solitário, numa masmorra úmida e fétida, onde aguardou o seu martírio. Apesar de tudo isto, Paulo é enfático ao afirmar que, de todas essas perseguições, Deus o livrou, e afirma, categórica e insofismavelmente, que todos aqueles que querem viver piedosamente em Cristo serão perseguidos (2Tm.3:12). O próprio Jesus já havia alertado sobre essa realidade (João 15:18-20):

¹⁸ Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. ¹⁹Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia. ²⁰ Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa”.

O Deus que agiu com Paulo continua agindo no desenrolar da História (2Co.1:10). O crente é indestrutível até cumprir o propósito de Deus na terra. O Deus que agiu ontem, age hoje e continuará agindo amanhã. O Deus que fez é o Deus que faz e fará. Ele está no trono, está no controle e trabalha até agora. Ele jamais abdicou do seu poder de intervir milagrosamente na vida do seu povo.

2. O exemplo do Apóstolo

A provação de Paulo em sua Primeira Viagem Missionária foi terrível a ponto de em Listra ser considerado como morto, após ser apedrejado com fúria, mas em Éfeso a provação foi tão severa que ele se viu oprimido acima das suas forças naturais, a ponto de desesperar até da própria vida (2Co.1:8). A perspectiva do apóstolo era tão terrível que ele se sentiu como um homem sentenciado à morte (2Co.1:9). Se alguém lhe perguntasse: “você acha que vai viver ou morrer?”, ele certamente responderia: “vou morrer”. Mas, ele não retrocedeu e tampouco negou a fé (2Tm.4:7; Hb.10:69).

Diante desse quadro tenebroso que Paulo passou, temos coragem de dizer que ele é o nosso exemplo, e que devemos imitá-lo? Como reagiríamos se passássemos hoje pela mesma experiência de Paulo? O Pr. Hernandes Dias Lopes, citando Barclay, afirma: “É melhor sofrer com Deus e com a verdade do que prosperar com os homens e com a mentira, pois a perseguição é transitória, mas a glória final dos fiéis é segura”. As cicatrizes são o preço que todo crente fiel a Cristo precisa beber. Certa feita, perguntaram a um professor: - Se a Igreja for mais perseguida, será mais fiel? Respondeu o professor: - Não! Se a Igreja for mais fiel, será mais perseguida.

Depois de todo sofrimento atroz, e ter sido injustamente preso pela segunda vez, e levado a Roma, mesmo na antessala do martírio, Paulo disse: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2Tm.4:7). O apóstolo poderia morrer tranquilo porque havia concluído sua carreira, e isso era tudo o que lhe importava (Atos 20:24). Mas ele deixa claro que nessa peleja jamais abandonou a verdade nem negou a fé. Nesse aspecto, o legado do apóstolo é de perseverança.

Embora o homem exterior seja consumido pelas tribulações, o salvo não desanima nem recua. Veja o que Paulo disse à Igreja de Roma: “Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm.8:38,39).

O crente deve se conscientizar de que enquanto estiver aqui neste mundo sofrerá tribulações, tentações e provações. Jesus mesmo garantiu que não teríamos amenidades nesta vida: “no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (João 16:33). Precisamos ser perseverantes como foi o apóstolo Paulo.

3. A esperança do crente

“Bendito o varão que confia no Senhor, e cuja esperança é o Senhor” (Jr.17:7).

A esperança do crente está intimamente vinculada:

-A uma fé firme: "ora, o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz na vossa fé, para que abundeis na esperança pelo poder do Espírito Santo" (Rm.15:13); "ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem" (Hb.11:1).

-A uma sólida confiança em Deus: "pois nele se alegra o nosso coração, porquanto temos confiado no seu Santo Nome. Seja a tua benignidade, Senhor, sobre nós, assim como em ti esperamos" (Salmos 33:21,22).

A esperança é o esteio principal da estrutura espiritual do crente. Isto significa que o crente não pode subsistir sem esperança. Vivemos hoje num mundo tão hostil que remetem as pessoas para um vácuo, sem esperança. As turbulências que sacodem o mundo atual, em todas as áreas, têm levado as pessoas a uma indagação quase unissonante: “ainda há esperança?”.

E o que é esperança? Para aqueles que cristãos dizem ser, esperança é: esperar com confiança; é a perseverante confiança no futuro; no sentido teológico, é esperar com confiança pela ação do poder de Deus que nunca falha; é aguardar a ação de Deus, mesmo que todos sinalizem que você não vai conseguir e que não vai dar certo, mas que você confia que o poder de Deus vai entrar em ação e vai realizar isto que você espera; é o fator que não nos permite desanimar, que nos mantém firmes e constantes, aguardando o cumprimento da promessa que nos foi feita por Deus. Diz o texto sagrado: “porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para glória de Deus, por nosso intermédio” (2Co.1:20). Isto quer dizer que é impossível Deus deixar de cumprir o que prometera.

-Em 1Pedro 1:3-4, está escrito: “bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós”. Pedro quis dizer que: além de termos esperança de dias melhores; além de termos esperança de que Deus vai responder nossas orações; além de termos esperança de que Deus vai abrir portas em vários setores da vida, em várias questões da vida, temos a esperança de que um Dia todo o sofrimento, toda dor, todo mal, vai ser debelado para sempre, e sempre e sempre. Portanto, a nossa esperança é superlativa.

-O Salmista foi enfático quando disse: “agora, pois, Senhor, que espero eu? A minha esperança está em ti”(Sl.39:7). “Ó minha alma, espera silenciosa somente em Deus, porque dele vem a minha esperança”(Sl.62:5).

-Isaias sabia muito bem o que significava esperar no Senhor, por isso disse: ”mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças; subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; andarão, e não se fatigarão”(Is.40:31).

-Paulo disse perante o governador Félix: “tendo esperança em Deus, como estes mesmos também esperam, de que há de haver ressurreição tanto dos justos como dos injustos”. Paulo quis enfatizar que um dia todos nós morreremos, caso o Senhor Jesus não venha antes disso. Mas temos a esperança de que ressuscitaremos e viveremos com Ele para sempre – é sem dúvida a nossa mais sublime esperança. Em Roma, por ocasião de sua segunda prisão, na antessala do martírio, Paulo afirmou com inefável alegria: “eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu tesouro até aquele dia” (2Tm.1.12).

Paulo foi perseguido, rejeitado, esquecido, apedrejado, fustigado com varas, preso, abandonado, condenado à morte, degolado; mas em vez de fechar as cortinas da vida com pessimismo, amargura e ressentimento, termina erguendo ao céu um tributo de louvor ao Senhor: “combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas a todos aqueles que amarem a Sua vinda” (2Tm.4:7,8). “A ele [o Senhor Jesus Cristo], glória pelos séculos dos séculos. Amém” (2Tm.4:18b). A esperança da glória manteve esse bandeirante do cristianismo de pé nas lutas mais renhidas. Ele tombou na terra, pelo martírio, mas ergueu-se no céu para receber a recompensa, como o mais vitorioso e destacado bandeirante da fé.

Portanto, a esperança é uma âncora para o crente através da vida. Diz o escritor aos Hebreus: "Para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos poderosa consolação, nós, os que nos refugiamos em lançar mão da esperança proposta. A qual temos como âncora da alma, segura e firme, e que penetra até o interior do véu; aonde Jesus, como precursor, entrou por nós, feito sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque" (Hb.6:18-20).

Jesus é a nossa esperança. Disse Paulo à Igreja de Colossos: "A quem Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, a esperança da glória" (Col.1:27). Disse a Timóteo: "Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, segundo o mandato de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus, esperança nossa" (1Tm.1:1). Portanto, devemos depositar nEle a nossa esperança, mediante o poder do Espírito Santo. Disse Paulo aos crentes de Roma: "E outra vez, diz também Isaías: Haverá a raiz de Jessé, aquele que se levanta para reger os gentios; nele os gentios esperarão. Ora, o Deus de esperança vos encha de todo o gozo e paz na vossa fé, para que abundeis na esperança pelo poder do Espírito Santo" (Rm.15:12,13).

Nosso Senhor obteve êxito sobre a morte e, do mesmo modo, temos esperança da vitória e da vida eterna (2Co.4:14). Como cristãos, não podemos deixar de aguardar a bem-aventurada esperança em Cristo (Tt.2:13). "Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos oferece na revelação de Jesus Cristo" (1Pd.1:13).

II. A RENOVAÇÃO INTERIOR

1. O fortalecimento diário

Embora as aflições afetem o nosso corpo, o nosso espírito se renova a cada dia. É o Espírito Santo quem habilita o crente a manter-se firme nas adversidades da vida (João 14:16,17). Sem Ele, o crente não sobreviveria diante das tempestades da vida. É Ele quem nos reveste de poder, nos capacita a preservar e a viver afastado do pecado que constantemente nos rodeia (1Co.2:12-16). Por causa da atuação do Espírito Santo em nós, “não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia” (2Co.4:16). 

O nosso homem exterior é o nosso corpo; o nosso homem interior é a nossa alma e espírito. O nosso corpo fica cansado, doente e envelhecido, mas o espírito e a alma ficam mais maduro, mas fortes, mas renovados. Do ponto de vista das disciplinas espirituais práticas, esse renovo ocorre por meio da santificação pessoal, fidelidade, reverência, oração, jejum e temor a Deus (1Co.7:5; Ef.5:18; Hb.12:14,28).

O corpo enfraquece, mas o homem interior renova-se. O tempo vai esculpindo em nossa face rugas profundas; cada fio branco de cabelo em nossa cabeça é a morte nos chamando para um duelo. Os nossos olhos ficam embaçados, as nossas pernas ficam bambas, os nossos joelhos ficam trôpegos e as nossas mãos ficam decaídas; mas não há rugas nem fraqueza em nosso homem interior. Enquanto o homem exterior se corrompe, o nosso homem interior se renova, diz o apostolo Paulo. Enquanto o homem exterior está perdendo a batalha, o homem interior está crescendo em direção à luz, aumentando em força e beleza. A lei do pecado e da morte está destruindo o corpo; a lei do Espírito de vida em Cristo Jesus está renovando o espírito.

Portanto, não permitamos que as aflições desta vida nos desanimem, mas devemos renovar o nosso compromisso em servir a Cristo e permitir que o poder do Espírito Santo nos fortaleça cada dia (1Co.16:13).

2. O eterno peso de glória

O apóstolo Paulo declara o seguinte: “a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente” (2Co.4:17). As aflições são pesadas e contínuas, mas vistas sob a perspectiva da eternidade são leves e momentâneas. No presente, enfrentamos tribulação, mas no futuro estaremos na glória. Agora, há choro e dor, mas, no futuro, Deus enxugará dos nossos olhos toda lágrima. Agora, a dor esmaga nosso corpo, aperta nosso peito e nos tira o fôlego, mas no porvir, a dor não mais existirá. Agora gememos sob o peso da tribulação, mas um Dia, na Glória, entraremos no gozo do Senhor.

A tribulação por mais pesada e constante, posta sob a ótica da eternidade, torna-se leve e momentânea. Essa Glória supera o sofrimento, tanto em intensidade quanto em duração, acima de toda comparação. Deus não desperdiça sofrimento na vida de seus filhos. Ele nunca fica em dívida com ninguém. Portanto, faz-se necessário sermos sábios diante da tribulação, fugindo da murmuração e reconhecendo que as lutas, segundo o critério de Deus, são inevitáveis. Contudo, os sofrimentos do tempo presente não são para ser comparados com as glórias por vir a ser reveladas em nós (Rm.8:19).

3. A visão da eternidade

Fortalecido em Deus, tendo plena consciência da vida vindoura, o cristão é exortado a não focar “nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas” (2Co.4:18). Esta passagem enfatiza a importância de manter uma visão espiritual e eterna, em contraste com as preocupações e distrações efêmeras do mundo material.

Não vivemos pelo que vemos, mas pela fé, e a fé é a certeza de que nossa cidade permanente não é aqui. A fé é a convicção de que a nossa Pátria está no Céu. A fé não se apega às glórias do mundo porque vê um mundo invisível superior a este. Ao fortalecer a sua fé em Deus e ter a convicção da vida vindoura, um cristão é encorajado a direcionar sua atenção para o que é invisível aos olhos físicos, mas que tem uma dimensão eterna. Isso não significa negar a realidade do mundo visível ou evitar responsabilidades terrenas, mas sim colocar as coisas em perspectiva e entender que o que é temporário e passageiro não deve ser a fonte principal de preocupação e foco.

Foi por isso que Abraão não se encantou com a planície de Sodoma, porque via uma cidade superior. A Palavra de Deus diz: “Pela fé [Abraão], peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa; porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hb.11:9,10).

Foi por isso que Moisés abandonou as glórias do Egito para receber uma recompensa superior. Diz as Escrituras: “Pela fé, ele [Moisés] abandonou o Egito, não ficando amedrontado com a cólera do rei; antes, permaneceu firme como quem vê aquele que é invisível” (Hb.11:27).

Ao reconhecer a transitoriedade das coisas visíveis, somos incentivados a buscar uma fundação sólida em nossa fé e a desenvolver uma visão que esteja enraizada na esperança da vida eterna em Deus. Isso nos ajuda a enfrentar os desafios da vida com resiliência, confiança e alegria, sabendo que há algo muito maior e mais duradouro do que as circunstâncias momentâneas que enfrentamos. Nesse caso, somado à renovação diária, o crente deve viver sob a perspectiva da eternidade. Não por acaso, o apóstolo Paulo escreveu: “pensai nas coisas que são de cima e não nas que são da terra” (Cl.3:2).

III. OS DESAFIOS DE HOJE

1. Cultura secularista

A cultura secularista é uma cultura sem Deus e contra Deus; nega a realidade espiritual, a existência de Deus, a verdade bíblica e todo o conjunto de valores provenientes da Palavra de Deus; é resultado da influência do “espírito da Babilônia”, e que está infiltrada em todos os sistemas, inclusive em grande parte do meio cristão.

O “espírito da Babilônia”, por meio da cultura secularista, procura esmagar a vida espiritual dos crentes.

Nos capítulos 17 e 18 de Apocalipse, a Babilônia é retratada como uma figura sedutora e corrupta, associada à luxúria, à idolatria e à rebelião contra Deus. Assim, o “espírito da Babilônia” é um sistema global deliberadamente anticristão e de rebeldia contra Deus, fomentado pelo primeiro rebelde, o querubim ungido que se tornou “Satanás”, isto é, o adversário, que domina sobre toda a humanidade sem Deus e sem salvação, os “filhos do diabo”, como o disse o Senhor Jesus (João 8:44) e foi repetido pelo apóstolo João em seus ensinos (1João 3:8-10).

O secularismo é uma ideologia que promove a ausência de qualquer obrigação relacionada à autoridade ou crença em Deus. É uma forma de ver o mundo onde se reconhece apenas o aqui e o agora, e se o mundo espiritual existe, isso não é uma preocupação para o secularismo; assim, pode-se viver como se esse mundo espiritual não existisse. O secularismo é uma forma mais sutil de ateísmo, que nem sempre exige que se declare “não há Deus”. Isso implica em que, simplesmente, Deus não é relevante para a discussão – nunca. Em suas linhas ainda mais perniciosas, o secularismo implica em que Deus seria, na realidade, destrutivo para a sociedade.

Enfim, a cultura secularista é a cultura do mundo que jaz no maligno. O mundo é inimigo de Deus (Tg.4:4) e, deste modo, não pode haver qualquer comunhão ou acordo entre a Igreja e o mundo. Não é, pois, por acaso, que o mundo é denominado “império do mal” no título do nosso tema do trimestre, porque é, efetivamente, o sistema dominado pelo maligno, por Satanás, que as Escrituras dizem ter “o império da morte” (Hb.2:14).

Por isso, não podemos amar o mundo nem o que no mundo há (1João 2:15) e, por consequência, devemos viver de tal maneira que sempre nos oponhamos a este mundo, pois, assim o fazendo, estaremos nos credenciando para viver com o Senhor eternamente.

Infelizmente, o mundanismo tem sido uma praga na igreja, uma lepra espiritual. Tem entrado entre nós com o pretexto de que “Deus só quer o coração”. Todo crente precisa separar-se do mundo para viver uma vida totalmente controlada pelo Espírito Santo. Deus é santo, e exige de nós santidade. Ser santo é estar separado das concupiscências desta vida, do mundo. De nada adianta o título de cristão se a pessoa não demonstra uma vida santa diante de Deus e dos homens. A Igreja, no seu todo, e cada crente, em particular, só poderá ser um referencial para o mundo e para os homens se viver de uma maneira diferente do que vive o mundo, as pessoas ímpias, sem Deus.

Este mundo busca, pois, atacar a Igreja, assim como atacou o Senhor Jesus, mas, assim como Nosso Senhor (João 16:33), também venceremos o mundo, se nos mantivermos leais e fiéis a Deus até o fim (1Ts.1:9,10; Mt.24:13). Aliás, por conta desta luta incessante entre a Igreja e o mundo é que o Senhor nos diz que no mundo sempre teremos aflições (João 16:33). Estas aflições são o resultado deste embate. Jamais haverá uma boa convivência entre a Igreja e o mundo, sendo, por isso, extremamente enganoso e perigoso buscar-se uma felicidade terrena ou confundir a salvação com um estado de bem-estar material ou terreno, como tem muitos que pregam, como os arautos da teologia da prosperidade e de sua coirmã, a teologia da confissão positiva.

2. Relativismo doutrinário

Na língua portuguesa: “relativismo", refere-se à ideia de que as verdades, valores e padrões podem variar de acordo com o contexto cultural, histórico ou individual; isso implica que não existe uma verdade absoluta e universal, mas sim perspectivas diversas e relativas.

"Doutrinário", diz respeito às doutrinas; neste caso, as doutrinas cristãs, as quais se baseiam na Bíblia Sagrada – nossa única regra de fé e prática. A doutrina pode vir expressa em forma de credos, declarações de fé ou dogmáticas.

Portanto, “relativismo doutrinário" é a visão de que as doutrinas fundamentais da Bíblia Sagrada são relativas e podem variar de acordo com diferentes perspectivas culturais, históricas ou individuais. Nesta visão, a verdade bíblica não é algo absoluto, e que sofre modificações e está condicionada a cada sociedade conforme a sua época e cultura. Os mais engajados neste contexto são os adeptos do Liberalismo Teológico, uma corrente teológica que tem como premissa principal a negação da inspiração, suficiência, autoridade e inerrância das Escrituras Sagradas, dentre outros aspectos. Negam a autenticidade da Bíblia, transformando-a num Livro mitológico, negando a veracidade dos milagres nela registrados. Negam que Jesus Cristo é o Filho de Deus enviado como Redentor da humanidade. Chegam, mesmo, a duvidar da existência de Cristo; apenas admitem a existência de um “Jesus histórico”, ou seja, que veem em Jesus um grande pensador, um grande profeta, um grande filósofo, um homem extraordinário, cuja mensagem conseguiu transformar o mundo de seu tempo, mas que não conseguem ver nEle o Salvador do mundo. Como não podem negar a sua existência, pois, para isso teriam que negar a própria História, aceitam-no como homem comum, porém, negando seu nascimento virginal.

Desse modo, devido à influência do liberalismo teológico que busca desconstruir a fé ortodoxa, a autoridade da Bíblia é questionada e surge o que pode ser chamado de "relativismo doutrinário". Nesse contexto, a interpretação da Bíblia é reexaminada de maneira seletiva, muitas vezes visando atrair para a Igreja aqueles que não aderem à doutrina tradicionalmente aceita. Isso resulta em uma abordagem em que diferentes partes da Bíblia são reinterpretadas ou enfatizadas de forma a se alinhar com visões mais amplas e variadas, em vez de seguir rigidamente a doutrina ortodoxa. Não se pode fazer uma releitura seletiva da Bíblia Sagrada para agregar à Igreja os que não aceitam a sã doutrina (2Tm.4:3).

O relativismo aliado à ideologia secularista impõe o que deve ser considerado como ideal. Assim, o pecado é aceito e tolerado. Estamos vendo hoje muitas heresias nas Igrejas ditas evangélicas; muitas delas com sabor de alimento saudável e nutritivo, mas não passam de comida venenosa e mortífera. Essas heresias estão presentes nos seminários, nos púlpitos, nos livros, nas músicas. Uma heresia é uma negação da verdade ou uma distorção dela. Precisamos nos acautelar! Precisamos reagir contra essa inversão de valores, resistir ao “espírito da Babilônia” e “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd.1:3).

3. Batalha espiritual

A Igreja desde o seu nascedouro trava uma batalha neste mundo, e essa luta não é contra o homem, mas contra Satanás e seus demônios (Ef.6:12). Batalha Espiritual faz parte da vida cristã, porque os crentes vivem uma constante luta contra o pecado; por isso, deve estar revestido de toda armadura de Deus para poder vencer esta batalha espiritual.

A Batalha Espiritual tem várias facetas, e ela começou lá no Éden, quando, pela primeira vez o ser humano se viu frente a frente com o inimigo. Desde então, batalhas são enfrentadas a cada dia, até que venha o grande Dia do Senhor, quando Ele mesmo destruirá, para sempre, os principados e as potestades malignas.

No Antigo Testamento, lemos sobre batalhas espirituais, em que o reino maligno luta contra o reino da luz. Cito os seguintes exemplos:

-O confronto entre o profeta Micaías e os falsos profetas liderados pelo falso profeta Zedequias (1Reis 22:6-28), e o relato paralelo em 2Crônicas cap.18 são exemplos clássicos. Lembramos também da batalha travada no Monte Carmelo entre o profeta Elias e os falsos profetas de Baal (cf. 1Reis cap.18:20-40).

-A batalha travada entre o Arcanjo Miguel e as potestades com relação à resposta da oração de Daniel. O capítulo 10 de Daniel mostra que enquanto Daniel orava e jejuava, estava sendo travada uma batalha espiritual de grande magnitude. O príncipe da Pérsia (isto é, um anjo maligno) estava impedindo que Daniel recebesse do anjo a mensagem de Deus. Por causa desse conflito, Daniel teve que esperar vinte um dia para receber a revelação. Esse “príncipe da Pérsia” não era um potentado humano, mas um anjo satânico. Só foi derrotado quando Miguel, o príncipe de Israel (Dn.10:21), chegou para ajudar o anjo mensageiro. Os poderes satânicos queriam impedir o recebimento da revelação, mas o príncipe angelical de Israel (Dn.12:1) demonstrou sua superioridade (cf.Ap.12:7-12). Esse incidente nos dá um vislumbre das batalhas invisíveis que são travadas na esfera espiritual a nosso favor. Note que Deus já tinha respondido a oração de Daniel, mas que a ação satânica retardou a resposta da mensagem por vinte e um dias. Visto que o crente sabe que Satanás sempre quer impedir nossas orações (2Co.2:11), deve perseverar na oração (cf.Lc.18:1-8).

No Novo Testamento, há a possessão do gadareno e a expulsão dos demônios por Jesus, e a tentação de Jesus. Não há dúvida que a tentação de Jesus no deserto foi uma batalha espiritual, e uma batalha de quarenta dias. A primeira coisa que aprendemos nisso é que Satanás é um inimigo derrotado (João 12:31; 16:11), e que o acontecido era o prenúncio da completa derrota final de Satanás. Deus expulsou Satanás do Céu (Is.14:12-15), mas Jesus veio para expulsá-lo da terra (João 12:31). Todo o reino das trevas ficou sabendo da derrota do seu maioral enquanto o Vencedor dava aos seus discípulos poder para pisar todas as hostes do Inimigo (Lc.10:19).

A Igreja precisa estar vigilante, atentar para todas as artimanhas do adversário de nossas almas, que anda ao derredor buscando a quem possa tragar (1Pd.5:8). Quando não vigiamos, quando não estamos alerta, o inimigo facilmente se introduz na nossa vida e, o que é mais grave, acaba tendo acesso ao nosso coração, como ocorreu com Judas Iscariotes (João 13:2).

A igreja, portanto, deve estar sempre atenta, alerta e revestida da armadura de Deus, a fim de não permitir que o adversário venha a nos enganar. Paulo exorta: “No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo; porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef.6:10-12).

CONCLUSÃO

Enquanto estivermos neste mundo, num corpo corruptível, estaremos sujeitos às tribulações desta vida (2Co.4:11). Apesar disso, o nosso homem interior não deve desfalecer, mas se renovar continuamente por meio do poder do Espírito (2Co.4:16). A renovação interior do crente é uma parte fundamental da experiência cristã; é um processo contínuo que envolve cultivar a fé, aprofundar o relacionamento com Deus, o conhecimento da Palavra de Deus para fortificar a maturidade cristã e espiritual, a comunhão com o Espírito Santo e fortalecer a capacidade de resistir às tentações do pecado e do mal.

UMA VISÃO BÍBLICA DO CORPO


 “Mas o corpo não é para a prostituição, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo” (1Co.6:13b).

1Coríntios 6:12-20

12.Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma. 

13.Os manjares são para o ventre, e o ventre, para os manjares; Deus, porém, aniquilará tanto um como os outros. Mas o corpo não é para a prostituição, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo. 

14.Ora, Deus, que também ressuscitou o Senhor, nos ressuscitará a nós pelo seu poder. 

15.Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, pois, os membros de Cristo e fá-los-ei membros de uma meretriz? Não, por certo. 

16.Ou não sabeis que o que se ajunta com a meretriz faz-se um corpo com ela? Porque serão, disse, dois numa só carne. 

17.Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito. 

18.Fugi da prostituição.  Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. 

19.Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? 

20.Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.

INTRODUÇÃO

O corpo humano, criado por Deus, é a fantástica máquina da vida. Ele é formado por estruturas diversas - algumas mais simples como as células, até as mais complexas como os órgãos. O nível de organização do corpo humano obedece à seguinte ordem: células, tecidos, órgãos e sistemas. Cada uma dessas estruturas participa de um nível hierárquico até a formação de todo o organismo. Assim, o corpo humano funciona como uma fábrica. Os órgãos como, por exemplo, os pulmões, o coração e estômago, são as máquinas que desempenham diferentes tarefas. Os músculos, ossos e a pele são as paredes e pilares. E por fim, o cérebro, que é o chefe que controla tudo. Foi Deus quem criou essa maravilhosa máquina da vida. Criou-o para a sua glória (1Co.6:20); e em resposta a essa criação, Ele anseia que aqueles que são regenerados vivam em santidade (1Pd.1:15).

Nesta lição, exploraremos a criação do homem e as características de seu corpo, conforme revelado nas Escrituras Sagradas, enquanto também relacionamos esse tema com a perspectiva secular contemporânea em relação ao corpo. Nosso objetivo é apresentar a visão bíblica do corpo, seu propósito e sua glorificação última.

I. A CRIAÇÃO DO SER HUMANO

1. A origem da raça humana

O ser humano é singular entre todas as formas de vida, pois foi formado à imagem e semelhança de Deus (Gn.1:26,27). Isto vai de encontro aos ensinos seculares que dizem que o ser humano veio de um processo evolutivo. A Bíblia diz que o primeiro homem, Adão, foi formado do pó da terra (Gn.2:7), e Eva, a primeira mulher, foi formada a partir do corpo de Adão (Gn.2:22; 3:20). Notavelmente, tanto o homem quanto a mulher são descritos como sendo originários da terra, mas Deus conferiu a eles algo especial, "soprando em seus narizes o fôlego da vida" (Gn.2:7b), algo que não foi feito com os animais. Esse ato divino do sopro da vida nos outorgou o espírito, um atributo que nos distingue de todas as outras criaturas.

É importante ressaltar que, em muitas línguas, incluindo o português, a palavra "homem" (hb.”adham”) pode ser usada para se referir a pessoas em geral, independentemente do sexo. No entanto, também é usada para se referir ao sexo masculino em oposição ao sexo feminino. O termo hebraico "adham", no contexto das Escrituras Hebraicas (Antigo Testamento), é usado para se referir ao ser humano como um todo, tanto no sentido específico (nome próprio, como o primeiro homem, Adão), quanto no sentido genérico (homens e mulheres – Gn.5:2). A raiz etimológica de "adham" está relacionada ao verbo "adamah", que significa "terra" ou "solo". Essa conexão entre o termo "adham" e "adamah" é essencial para entender o conceito bíblico da criação do homem. De acordo com a narrativa do Gênesis, Deus formou o primeiro ser humano, Adão, do pó da terra (adamah – Gn.2:7).

A palavra "adham" também é usada em outros contextos, como nos Salmos e nos profetas, onde pode se referir à humanidade como um todo. Por exemplo, no Salmos 8:4, o salmista declara: "Que é o homem [adham], para que te lembres dele?". Aqui, o termo é usado para abranger toda a humanidade, expressando a insignificância do homem em comparação com a grandeza de Deus.

É interessante observar que, embora "adham" seja usado como um termo genérico para a humanidade, é também o nome próprio dado ao primeiro homem, Adão. Essa dualidade na linguagem hebraica traz um significado profundo, destacando a unidade da raça humana, originada da terra (adamah) e a individualidade do primeiro homem, cujo nome se tornou emblemático para toda a humanidade.

Portanto, o termo hebraico "adham" é uma palavra-chave nas Escrituras que abrange tanto a humanidade em geral quanto o nome próprio do primeiro homem, Adão, representando a criação divina e a conexão íntima entre o homem e a terra (Gn.2:15,19,20).

2. A constituição do ser humano

À luz da Bíblia Sagrada, a constituição do ser humano é tricotômica, ou seja, é dividida em três componentes: espírito, alma e corpo (1Ts.5:23; Hb.4:12). O corpo ou a carne (Gn.6:3; Sl.78:39) forma o “homem exterior”; o espírito e a alma formam o “homem interior” (2Co.4:16).

a)  Espírito: O espírito é frequentemente considerado a parte mais elevada ou divina da constituição humana. É a parte imaterial e eterna do ser humano que se conecta a Deus ou ao transcendente. É o componente pelo qual se tem comunhão com o Espírito de Deus. O espírito também é associado a características como a capacidade de discernir a verdade espiritual, ter uma consciência da existência divina e buscar um propósito mais profundo na vida.

b)  Alma: A alma é frequentemente considerada a parte intermediária entre o espírito e o corpo. É vista como a sede das emoções, vontade, mente e personalidade do indivíduo. Enquanto o espírito está relacionado ao aspecto eterno e divino, a alma está ligada à experiência humana terrena e ao desenvolvimento do caráter moral. A alma é imortal e, assim como o espírito, continua a existir após a morte física - estes dois elementos são inseparáveis. É na alma que muitas das nossas experiências emocionais e processos de pensamento ocorrem.

c)  Corpo: O corpo é a parte material e física da constituição humana. É o veículo através do qual interagimos com o mundo físico. Enquanto o espírito e a alma são imateriais, o corpo é temporário e sujeito ao envelhecimento e à morte. Ele é o invólucro que abriga o espírito e a alma durante a vida terrena e permite que os seres humanos experimentem as sensações físicas e a interação com o ambiente ao seu redor. “Em certo sentido, o nosso corpo tem primazia diante de nosso espírito. Afinal de contas, o corpo é a única maneira que temos para expressar a nossa vida interior ou para conhecer a vida interior de outra pessoa. O corpo é o meio pelo qual o invisível é feito visível” (PEARCEY, Nancy. Ama Teu Corpo: Contrapondo a cultura que fragmenta o ser humano criado à imagem de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2021, p.36).

O corpo voltará ao pó, mas um Dia será ressuscitado, para perdição eterna ou para salvação eterna com Deus (Dn.12:2; 1Co.15:42).

3. Queda e restauração humana

A Queda do ser humano foi a pior catástrofe do universo. Deliberadamente o homem pecou contra o seu Criador, e ao pecar, tornou-se escravo do pecado (João 8:34), dominado totalmente por ele (Gn.4:7), sem condição alguma de modificar esta situação por conta própria. O pecado deixou o seu “vírus” em nosso corpo: a morte. Ela se tornou universal. Como afirma o apóstolo Paulo: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm.5:12).

A imortalidade, que antes seria certa e desfrutável, fora extinta. Disse Deus: “Com o suor do rosto você obterá alimento, até que volte à terra da qual foi formado. Pois você foi feito do pó, e ao pó voltará” (Gn.3:19-NVT). Agora o homem teria de encarar o fato de que, mais cedo ou mais tarde, morreria fisicamente, pois já se encontrava morto espiritual e moralmente, ou seja, já era escravo do pecado e, portanto, não mais deixaria de pecar. O pecado, inevitavelmente, afasta as pessoas de Deus, como afirma o profeta: “Pois são os pecados de vocês que os separam do seu Deus, são as suas maldades que fazem com que ele se esconda de vocês e não atenda às suas orações” (Is.52:9-NTLH).

Contudo, apesar de que o ser humano era digno de nada menos que a morte, surgiram dos lábios amorosos do Pai palavras de esperança e restauração: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn.3:15). Este texto é conhecido como o “protevangelium”, o primeiro vislumbre do Evangelho. O descendente da mulher, Cristo, é a “luz no fim do túnel”, é a nossa garantia de vida diante da morte. O Plano divino para a salvação da humanidade foi plenamente cumprido no sacrifício inocente, amoroso e vicário de nosso Senhor Jesus Cristo (cf. João 1:29; Cl.1:19-22; Gl.4:4,5).

A Bíblia compara os dois personagens mais influentes da humanidade - Adão (o homem que caiu) e Jesus (o Homem que restaurou) - o primeiro trouxe-nos ofensa e morte; o segundo, porém, presenteou-nos com perdão e abundância de vida, como diz o seguinte texto sagrado (Rm.5:14,15): 

¹⁴.Entretanto, reinou a morte desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual prefigurava aquele que havia de vir.

¹⁵.Todavia, não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se, pela ofensa de um só, morreram muitos, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, foram abundantes sobre muitos.  

O primeiro Adão nos trouxe a amarga condenação, mas o segundo Adão nos justificou através da sua morte, como afirma o texto sagrado (Rm.5:17-19):

¹⁷.Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo.

¹⁸.Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida.

¹⁹.Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos. 

Só Jesus Cristo é quem pode restaurar o ser humano caído e conceder-lhe a Salvação, pois “em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”(Atos 4:12).

II. A VISÃO BÍBLICA DO CORPO

1. Parte exterior do homem

Como vimos no item anterior, o ser humano tem uma constituição tricotômico – espírito, alma e corpo (1Ts.5:23). E a parte exterior do homem é representado pelo Corpo, que é o invólucro da parte imaterial do ser humano. O Corpo é uma referência ao organismo humano como um todo, incluindo todos os sistemas e órgãos que compõem a estrutura física do ser humano. Ele é um veículo essencial para a experiência e interação com o mundo físico. É através do Corpo que os seres humanos experimentam as sensações, emoções e percepções do mundo ao seu redor. Ele também é fundamental para a realização de ações e atividades diárias.

Na Bíblia, existem várias referências ao corpo humano, tanto no contexto do Novo Testamento como do Antigo Testamento. Duas das passagens mais conhecidas que mencionam o corpo são Mateus 10:28 e 1Coríntios 15:38. Em ambas as passagens, o conceito de "corpo" está relacionado com a ideia da vida física e mortal, bem como a sua eventual transformação ou mortalidade. A Bíblia frequentemente aborda a dualidade entre o aspecto físico e espiritual do ser humano, destacando a importância de valorizar tanto o corpo físico quanto a alma eterna. Essas referências bíblicas nos fazem refletir sobre a natureza do ser humano e a sua relação com Deus.

O termo "corpo" (do grego "soma") é frequentemente usado para identificar a parte exterior do ser humano, ou seja, a parte física e material do indivíduo. Esse conceito do corpo como "soma" é amplamente encontrado em textos filosóficos, médicos e religiosos da Grécia Antiga e teve uma influência significativa na forma como a anatomia e a compreensão do corpo humano foram abordadas naquela época.

Na filosofia grega, a noção de "soma" era frequentemente contrastada com a mente ou alma (psique), criando a dualidade mente-corpo que foi amplamente discutida pelos filósofos ao longo da história. Por exemplo, a filosofia platônica apresentava a ideia do "soma" como o receptáculo temporário da alma imortal, enquanto que a alma era vista como a verdadeira essência do ser humano.

Na medicina grega antiga, o termo "soma" era usado para se referir à estrutura física do corpo humano, e muitos médicos da época buscavam entender a anatomia e a fisiologia do "soma" para tratar doenças e promover a saúde. Atualmente, o termo "soma" ainda é usado em diversos contextos, especialmente em áreas como a medicina e a filosofia, para descrever o corpo humano e suas funções físicas.

Por causa da Queda, o Corpo envelhece e morre, ocasião em que alma e espírito o deixam (Gn.35:18; Tg.2:26). Mas temos a garantia de que um Dia, de uma vez por todas, seremos livres do pecado e da morte, e o nosso corpo definitivamente se tornará imortal, como afirma o texto sagrado (1Co.15:33-57):

⁵³.Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da      incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade.

⁵⁴.E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória.

⁵⁵.Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?

⁵⁶.O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei.

⁵⁷.Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.  

2. Templo do Espírito Santo

A Bíblia diz que nós somos o templo do Espírito Santo de Deus. Isso significa que o próprio Deus, na pessoa do Espírito Santo, habita em nós. Na antiga aliança, Deus era adorado no Tabernáculo construído primeiramente no deserto e, mais tarde, no Templo construído em Jerusalém durante o reinado do rei Salomão. O Templo era o local onde o Nome de Deus habitava, no sentido de que sua presença se manifestava de tal forma que todo o Templo enchia-se com a nuvem de sua glória (1Reis 8:10,11). Na Nova Aliança, a presença de Deus habita em seu próprio povo, ou seja, na Igreja, o Corpo de Cristo, enchendo-a com o Espírito Santo. A Igreja é o templo de Deus (1Co.3:16) – “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?”.

O apóstolo Paulo diz que a Igreja é o Templo do Espírito Santo, no entanto, ele aplica a cada indivíduo o conceito de que a Igreja é o templo em que Deus habita, mostrando que isso implica no caráter pessoal da habitação do Espírito Santo em cada crente. E como cada crente é um santuário do Espírito Santo, nunca deve ser profanado por impureza alguma (1Co.6:19; Ef.1:13). Estas passagens bíblicas são exemplos de como a Bíblia aborda essa visão do Corpo como templo e morada do Espírito Santo.

- 1Coríntios 6:19: "Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós, o qual possuís da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?".

Neste versículo, o apóstolo Paulo está exortando os cristãos de Corinto a se afastarem da imoralidade sexual e a honrarem seus corpos como morada do Espírito Santo. Ele enfatiza que o Espírito Santo habita no corpo dos crentes, tornando-o um santuário sagrado. Portanto, cuidar do corpo e evitar a impureza são formas de honrar a presença divina em suas vidas.

-Efésios 1:13: "Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa".

Neste versículo, Paulo destaca que os crentes foram selados com o Espírito Santo após a fé em Cristo. Isso implica que o Espírito Santo passa a residir no interior do crente, tornando-o um templo divino.

Estes textos exortativos é um chamado para a santidade, a pureza e o cuidado com o corpo; é um incentivo para evitar comportamentos que possam profanar ou prejudicar o santuário que é o corpo humano. Deus se agrada de habitar no verdadeiro cristão por causa da presença santificadora do Espírito Santo, que faz com que o corpo daquele que “nasceu de novo” seja verdadeiramente um templo que recebe a presença Divina.

Uma coisa importante que devemos apreender é que o corpo que temos não é nosso, pertence a Deus. William Hendriksen, em seu comentário expositivo de 1Coríntios, diz que “nós não somos os donos de nosso próprio corpo, porque Deus nos criou, Jesus nos redimiu e o Espírito Santo faz sua habitação dentro de nós”; e continua: “por Deus ser dono de nosso corpo, nós somos mordomos dele e precisamos prestar contas a ele”. Isso realmente é uma verdade absoluta. Essa visão também está relacionada à noção de que os crentes devem ser responsáveis não apenas pela espiritualidade, mas também pelo bem-estar físico e mental. O cuidado com a saúde, a alimentação adequada e o estilo de vida equilibrado são considerados aspectos importantes de preservar o templo do Espírito Santo. Zelar e manter o corpo saudável é uma forma de glorificar a Deus (1Co.6:20).

3. Glorificado na ressurreição

A ressurreição de Cristo foi o acontecimento mais extraordinário que ocorreu, pois aniquilou o império da morte (Hb.2:14,15); isto significa que a vitória de Cristo sobre a morte não foi apenas uma vitória pessoal, mas também uma vitória para toda a humanidade, sobre o poder e a permanência da morte. Essa vitória sobre a morte é uma demonstração do poder de Deus e é uma fonte de esperança e salvação para o ser humano. Além disso, a ressurreição de Cristo tem implicações importantes para a vida dos crentes salvos em Cristo.

-Em 1Coríntios 6:14, é mencionado que assim como Cristo ressuscitou dos mortos, os seguidores de Cristo também serão ressuscitados. É a mais sublime esperança da Igreja. Através da morte e ressurreição de Cristo, nós também seremos ressuscitados para a vida eterna e receberemos um corpo glorificado, livre de imperfeições e da mortalidade.

-Em 2Coríntios 4:14 essa esperança é reforçada, onde se diz que Deus, que ressuscitou o Senhor Jesus, também nos ressuscitará com Jesus. Isso significa que a ressurreição de Cristo não é apenas uma garantia da ressurreição dos crentes, mas também está ligada à ideia de glorificação e reconciliação com Deus.

A ressurreição de Cristo é uma prova tangível do poder de Deus e da vitória sobre o pecado e a morte. Ela dá significado e esperança à vida dos cristãos, pois mostra que Deus tem poder para transformar a morte em vida e que, através da fé em Cristo, os crentes têm a promessa da glorificação e de vida eterna com Deus.

A glorificação é a última etapa do processo da Salvação (Rm.8:30). O mesmo destino que teve Jesus, o de ressuscitar num corpo glorioso e ir para o Céu, será o destino que terão os crentes em Cristo, ressuscitando aqueles que já tiverem morrido e, reunidos com os vivos, todos em corpos gloriosos, também irão para o Céu, para a Nova Jerusalém, onde habitarão para sempre com o Senhor. Esta esperança do crente tem como seu fundamento a ressurreição de Cristo, pois do mesmo modo que Ele ressuscitou, nós ressuscitaremos, conforme o texto sagrado: "que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas" (Fp.3:21).

Hoje, o nosso corpo está sujeito às enfermidades e demais fragilidades, mas na ressurreição ele será revestido de incorruptibilidade. Nunca mais morreremos, pois, a ressurreição dos santos será a vitória final sobre a morte e o inferno (1Co.15:54,55). Em termos gerais, o corpo ressurreto do crente salvo será semelhante ao corpo ressurreto de nosso Senhor (Rm.8:29; 1Co.15:20,42-44,49; Fp.3:20,21; 1João3:2). Mais especificamente, o corpo ressurreto do salvo em Cristo será:

ü  Um corpo que terá continuidade e identidade com o corpo atual e que, portanto, será reconhecível (cf.Lc.16:19-31).

ü  Um corpo transformado em corpo celestial, apropriado para o novo Céu e a nova Terra (1Co.15:42-44,47,48; Ap.21:1).

ü  Um corpo imperecível, não sujeito à deterioração e à morte (1Co.15:42).

ü  Um corpo poderoso, não sujeito às enfermidades, nem à fraqueza (1Co.15:43).

ü  Um corpo espiritual (isto é, um corpo não natural, mas sobrenatural), não limitado pelas leis da natureza (Lc.24:31; João 20:19; 1Co.15:44).

ü  Um corpo capaz de comer e beber (Lc.14:15; 22:16-18,30;24:43; At.10:41).

ü  Um corpo revestido da imortalidade (1Co.15:53).

ü  Um corpo glorificado, como o de Cristo (1Co.15:43; Fp.3:20,21).

Que riqueza perenal! Que esperança bendita e mui maravilhosa!

III. A VISÃO SECULAR DO CORPO

1. Hedonismo e Narcisismo

Hedonismo e Narcisismo são conceitos distintos relacionados à busca de prazer e satisfação pessoal. Zelar e manter o corpo saudável é uma forma de glorificar a Deus (1Co.6:20), contudo, nestes tempos pós-modernos em que se busca de forma desenfreada e libertina a satisfação pessoal, o Hedonismo e o Narcisismo estão em forte evidência na sociedade. Embora tenham suas características distintas, eles podem estar inter-relacionados, pois um indivíduo excessivamente hedonista pode se tornar narcisista, buscando constantemente a satisfação pessoal e a validação de outras pessoas.

O Hedonismo é uma filosofia que coloca o prazer como o objetivo principal da vida, podendo ser ético (busca do bem-estar coletivo) ou psicológico (busca do prazer individual).

O Narcisismo, por outro lado, é um traço de personalidade caracterizado por um amor excessivo e preocupação consigo mesmo, buscando constantemente a admiração e validação dos outros; de modo insensato, a pessoa narcisista persegue o corpo ideal por meio da boa estética a qualquer custo e se porta com ostentação em busca da autorrealização e de ser admirado. No entanto, Paulo se opõe a essa cultura, ao fazer a seguinte exortação: “todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm” (1Co.6:12a). O Narcisismo pode levar a relacionamentos problemáticos e prejudicar a capacidade do indivíduo de se conectar verdadeiramente com os outros. Além disso, pode ser uma barreira para o crescimento pessoal, já que o narcisista muitas vezes evita admitir suas falhas ou procurar ajuda quando necessário.

2. Erotização e libertinagem

Erotização e libertinagem são termos relacionados à sexualidade e comportamento sexual.

-A erotização refere-se ao processo de tornar algo ou alguém sexualmente atrativo ou estimulante; é a transformação de situações, objetos ou comportamentos em estímulos sexuais. A erotização está presente em diversas esferas da cultura, como na mídia, publicidade, moda, arte, músicas e literatura. Isto tem sido severamente problemático, pois tem contribuído de maneira absurda para a sexualização precoce de crianças e adolescentes.

Há um afrouxamento, sem par, da ética e da moral como foram estabelecidas por Deus. A propagação midiática e gráfica da ideologia de gênero, e a erotização da infância, têm se alastrados, com a devida anuência das instituições governamentais. Estamos vivendo num mundo de trevas, onde o poder e a presença do pecado têm dominado essa sociedade de cultura amoral e degradante.

-Quanto a Libertinagem, é um termo que muitas vezes é usado para descrever um comportamento sexualmente desregrado e excessivo, sem consideração aos princípios éticos, morais ou às consequências emocionais e sociais. A libertinagem pode envolver promiscuidade, infidelidade, envolvimento em práticas sexuais ilícitas ou exploração sexual. As redes e as mídias sociais têm favorecido largamente a proliferação da libertinagem.

É bom enfatizar que comportamento sexual fora dos limites é considerado inadequado ou pecaminoso. Os limites estão estabelecidos nas Escrituras Sagradas. O cristianismo bíblico prega que a relação sexual não é só para procriar, mas também para o prazer dentro dos limites do matrimônio e do uso natural do corpo (Rm.1:26,27; Hb.13:4). O pecado não está no sexo, mas na perversão de seu propósito. Paulo ensina que o sexo é uma benção, mas pode se tornar uma maldição. Ele é uma bênção dentro do casamento, mas um sério problema fora dele. Diante disso, o apóstolo Paulo adverte: “todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma” (1Co.6:12b). Mas, infelizmente, o sexo criado por Deus para ser utilizado no casamento formal entre um homem e uma mulher (Gn.2:24) está sendo banalizado; defendem a liberdade (liberdade ou libertinagem?) de decisão sobre o corpo, normaliza-se o sexo extraconjugal e a cultura degradante do ativismo LGBTQI+ (Rm.1:26,27).

3. Liberdade e autonomia

Quando Deus formou o homem e a mulher, dotou-os de livre-arbítrio (Gn.2:16,17). O livre-arbítrio é a capacidade que os seres humanos têm de tomar decisões e fazer escolhas por si mesmos, mesmo que essas escolhas possam ter consequências significativas. Com essa liberdade de escolha, cada indivíduo é responsável por suas decisões e ações; porém, a Bíblia ensina que todas as ações do ser humano serão objeto de juízo divino (Ec.12:14), o que nos impulsiona a agir de forma ética e justa perante Deus e os outros seres humanos.

Entretanto, o que vemos hoje nesta amoral cultura social pós-moderna é a cultivação de ideias secularistas que promovem a banalização do corpo. Os libertinos, as pessoas que não creem em Deus, os ativistas LGBTQI+, por exemplos, asseveram que para assoalhar o sentido da vida o homem deve usufruir de liberdade incondicional (leia-se libertinagem). Nesse aspecto, fora do padrão moral de Deus, o indivíduo banaliza o próprio corpo, considerando-o meramente como um objeto de prazer. Essa perspectiva tem levado à trivialização de aspectos importantes da sexualidade, da saúde e do bem-estar, negligenciando a dimensão ética e espiritual associada ao corpo humano. Desse modo, atuam contra o corpo na legalização do aborto, da prostituição, das drogas, do suicídio assistido, dentre outros. Contrário a esse ativismo, o apóstolo Paulo assevera: “não sabeis [...] que não sois de vós mesmos?” (1Co.6:19). Diz mais: “[...] o corpo não é para a impureza, mas, para o Senhor, e o Senhor, para o corpo” (1Co.6:13).

A mesma concepção que os gregos da época de Paulo tinha com relação ao corpo é a mesma que os ativistas secularistas de hoje tem, a saber, que o corpo é apenas uma prisão da alma, que Deus não dá nenhuma importância ao corpo. Defendem uma liberdade total, irrestrita e incondicional. A lei que rege a vida deles é: é proibido proibir! No entanto, Deus valoriza o corpo, que um Dia o ressuscitará. O corpo do crente salvo será glorificado na vinda de Cristo (1Co.15:52).

Observe que em relação às tentações sexuais, a Bíblia nunca nos manda resistir, mas fugir (1Co.6:18). Ser forte é fugir! José fugiu, e as razões estão em Gênesis 39:8,9. É um ledo engano pensar que conhecemos nossos limites e sabemos até onde podemos ir e quando devemos parar. A mesma Bíblia que nos manda resistir ao diabo, nos manda fugir da impureza. A única atitude segura em relação a imoralidade sexual é fugir; a ordem de Deus é fugir, dar o fora, dar no pé, correr! – “Fujam da imoralidade sexual!” (1Co.6:18).

Precisamos ter muito cuidado, pois a erotização é facilmente acessível; pode estar na palma da mão. O celular é o meio mais fácil e usual, pois com um clique pode-se nunca mais alguém sair desse mar de iniquidade. Portanto, reconheçamos a nossa fragilidade, não brinquemos com essa situação perigosa. Fujamos! Não fiquemos flertando com o pecado! Não fiquemos paquerando a tentação! Zombar do pecado é loucura!

CONCLUSÃO

Ao concluir este estudo, reafirmamos que o nosso corpo foi criado por Deus, que Jesus Cristo o comprou e redimiu, e que esse corpo agora não pertence mais a nós, pertence a Jesus Cristo. Os membros do nosso corpo estão ligados a Cristo. Nosso corpo é um membro de Cristo. Além do mais, esse corpo agora é templo do Espírito Santo, que faz dele um santuário para a sua habitação. Nessa concepção, não podemos cometer pecado com o corpo sem afetar o Espírito Santo. Aonde quer que vamos, somos portadores do Espirito Santo. Portanto, devemos eliminar toda forma de conduta que não seja apropriada para o corpo; nada que seja inconvenientemente no “santuário” de Deus é decente no corpo do filho de Deus.