Texto Base: Marcos 1:14-17
“ [...] O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc.1:15).
Marcos 1:
¹⁴.E, depois que João foi entregue à prisão, veio Jesus para a Galileia, pregando o evangelho do Reino de Deus
¹⁵.e dizendo: O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho.
¹⁶.E, andando junto ao mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores.
¹⁷.E Jesus lhes disse: Vinde após mim, e eu farei que sejais pescadores de homens.
INDRODUÇÃO
Nesta Lição trataremos da Igreja e o Reino de Deus. A Bíblia retrata Deus como um soberano supremo, comparado a um rei que governa com autoridade e domina sobre tudo o que existe. Ele exerce seu governo de forma absoluta, manifestando-se como o Rei acima de tudo (Salmo 47:6; 52:7; 22:8). O Reino de Deus é o âmbito onde Ele governa de maneira soberana e universal.
Ao examinar o Reino Divino, é fundamental compreender sua natureza abrangente e a forma como se manifesta tanto de maneira presente quanto futura. Ele abarca toda a criação e governa com supremacia e autoridade em todas as esferas da vida. Dentro desse contexto, a igreja desempenha um papel significativo, sendo considerada como integrante desse Reino estabelecido por Deus. A igreja é chamada a viver, proclamar e demonstrar a vida que emana do Reino de Deus.
Assim, a relação entre a igreja e o Reino de Deus é intrínseca. A igreja não apenas faz parte desse Reino, mas também é convocada a viver de acordo com seus princípios, a proclamar sua mensagem e a refletir a realidade do Reino no mundo. Deus estabeleceu a Igreja para ser um instrumento que manifesta e expande a vida do Reino de Deus, sendo um reflexo tangível da soberania e do amor de Deus na Terra.
I. A NATUREZA DO REINO DE DEUS
1. O Reino de Deus é Universal
As Escrituras revelam um aspecto crucial da natureza do Reino de Deus: sua abrangência universal. O Reino de Deus é caracterizado por sua universalidade, como destacado pelo salmista ao proclamar que "Deus é o rei de toda a Terra" (Salmo 47:7). Esse entendimento é reforçado por Daniel, que afirma que Deus exerce domínio sobre os reinos humanos (Dn.4:25).
Deus é o Rei supremo e universal, possuindo autoridade absoluta sobre toda a sua criação, sobre os reinos terrenos e sobre os governos humanos, além de exercer domínio sobre todas as hostes angelicais (Dn.4:35). Isso implica que nada nem ninguém está fora do Seu domínio (Dn.2:21).
A universalidade do Reino de Deus transcende fronteiras geográficas, governamentais ou espirituais. Ele reina sobre todas as nações, sobre todas as esferas da existência, influenciando e controlando tudo de maneira soberana. Não há limites para o seu governo e sua autoridade se estende a cada aspecto da vida e da criação.
Essa compreensão da universalidade do Reino de Deus é crucial para percebermos que nenhum domínio ou poder está além do alcance de Deus. Sua soberania abarca todo o universo, e sua vontade se realiza em todas as áreas da existência, desde os assuntos celestiais até os eventos terrenos. Essa universalidade reflete o poder e a majestade do Deus que reina sobre tudo e todos.
2. A soberania divina e os acontecimentos do mundo
A soberania divina é um conceito fundamental que destaca o controle absoluto de Deus sobre o mundo e o universo que Ele criou. Apesar de o mundo seguir seu curso, isso não significa que Deus perdeu seu domínio sobre ele. Um Deus que não detivesse controle absoluto não seria Deus. Entretanto, isso não implica que Deus seja a causa direta de tudo que ocorre no mundo.
A ideia de que Deus é soberano significa que Ele mantém supremacia e controle sobre todas as coisas, mas isso não nega a liberdade de ação dos seres humanos, nem a atuação de forças contrárias, como o Diabo e seus demônios, no mundo. Essas ações humanas ou malignas não anulam ou limitam a soberania de Deus. Ao contrário, a soberania divina se mantém acima de tudo e de todos, independentemente das circunstâncias. O Salmo 103:19 destaca que "O Senhor estabeleceu o seu trono nos céus, e o seu reino domina sobre tudo". Isso ilustra o controle e a supremacia de Deus sobre toda a criação. Ele não apenas governa sobre o mundo visível, mas também sobre as esferas espirituais e celestiais.
A compreensão da soberania de Deus traz conforto e confiança, pois revela que, apesar das ações humanas ou das forças malignas, o plano soberano de Deus não pode ser frustrado. Sua vontade prevalece e Seu propósito final será cumprido. Assim, mesmo diante dos desafios, podemos confiar na sabedoria e na soberania de Deus para conduzir e governar todas as coisas conforme Seu plano perfeito.
3. O Reino de Deus, a nação de Israel e a Igreja
Quando Israel estava organizado como uma nação, em regime tribal, Deus reinava sobre ela de forma soberana, exercendo Seu governo teocrático sobre ela (Nm.23:21; Is.43:15). Israel foi estabelecido como uma nação sacerdotal (Êx.19:5-6), escolhida por Deus com o propósito de abençoá-la e, por meio dela, abençoar todos os povos (Gn.12:1-3; Is.45:21,22). O propósito de Deus para Israel se cumpriu na vinda de Jesus Cristo, o Messias, que foi descendente de Davi. Através de Sua morte e ressurreição, Jesus estabeleceu a Igreja (Ef.2:14; Gl.3:14; 4:28; 1Pd.2:9), que é formada por aqueles que creem em Jesus como Salvador, e vista como a continuação e o cumprimento das promessas feitas a Israel no âmbito espiritual.
Por meio de Jesus Cristo, o Messias prometido, Deus abriu as portas da salvação para todos os povos, não apenas para os descendentes físicos de Israel, mas para todas as nações. A Igreja é composta por judeus e gentios que aceitam a Jesus como Senhor e Salvador, tornando-se herdeiros das promessas de Deus feitas a Abraão e participantes da bênção prometida a todas as famílias da Terra.
Assim, a obra redentora de Jesus inaugurou uma nova fase na história da redenção, na qual a Igreja, através de Cristo, se torna o veículo pelo qual o Reino de Deus é proclamado e manifestado ao redor do mundo, cumprindo o propósito original de Deus de abençoar todas as nações.
II. A IGREJA E AS DIMENSÕES DO REINO DE DEUS
1. O Reino de Deus como realidade presente
O ensinamento de Jesus sobre o Reino de Deus enfatizava sua presença e realidade imediata. Nos relatos dos evangelhos, há ênfase na manifestação presente do Reino através das ações e discursos de Jesus. Um exemplo notável está registrado em Mateus, no momento em que Jesus liberta e cura um homem afligido por cegueira e mudez, possuído por espíritos malignos (Mt.12:22). Esta impressionante exibição de poder causou inveja e indignação entre os fariseus, que o acusaram de executar tal milagre através do poder de Belzebu, o líder dos espíritos malignos (Mt.12:24). A resposta de Jesus a essa acusação é reveladora: "Se, porém, eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, então é chegado a vós o Reino de Deus" (Mt.12:28). Com essa declaração, Jesus ressalta um aspecto crucial da natureza do Reino de Deus: sua presença efetiva e imediata. Ele indica que com Sua vinda, o Reino de Deus já está presente entre os seres humanos. De fato, Jesus proclamou que o Reino de Deus havia chegado (Mt.3:2). Portanto, o Reino de Deus não é algo apenas subjetivo, mas é uma realidade concreta e tangível.
Essa compreensão do Reino de Deus como uma realidade presente ressalta a manifestação do poder de Deus na vida das pessoas por meio de Jesus. Ele não apenas falava sobre o Reino, mas demonstrava seu poder por meio de curas, libertações e ensinamentos que ilustravam a chegada do Reino de Deus naquele tempo. Sua presença e ação evidenciavam a realidade do Reino, convidando as pessoas a se voltarem para Deus e a participarem dessa nova ordem divina que Ele trazia.
Assim, a mensagem de Jesus sobre o Reino de Deus não era apenas uma promessa futura, mas uma realidade presente, demonstrando que o poder e a autoridade de Deus estavam atuando no mundo por meio Dele.
2. Onde está o Reino de Deus?
O Reino de Deus como uma realidade presente não está restrito a um local geográfico específico, mas está intrinsecamente ligado à presença de Jesus. Onde quer que a presença de Jesus seja manifestada, ali se revela o Reino de Deus (Lc.17:20,21). Em outras palavras, sempre que vidas são transformadas (Atos 8:12), curadas, e libertadas do poder do pecado (Atos 8:6-7), o Reino de Deus se torna tangível e presente (Rm.14:17; 1Co.4:20).
Durante o ministério terreno de Jesus, o Reino de Deus estava presente de forma poderosa, pois Ele mesmo era a manifestação desse Reino. Através dos milagres, ensinamentos e demonstrações do amor de Deus, Jesus revelou a natureza e a autoridade do Reino divino.
Certa feita, quando João Batista, no cárcere, ouviu falar das obras de Cristo, mandou que seus discípulos fossem perguntar: Você é aquele que estava para vir ou devemos esperar outro? Então Jesus lhes respondeu: Voltem e anunciem a João o que estão ouvindo e vendo: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e aos pobres está sendo pregado o evangelho (Mt.11:2-5). Isto foi uma demonstração tangível da presença do Reino de Deus.
Esse Reino também estava presente no ministério apostólico da igreja em seu princípio, quando os discípulos proclamaram o evangelho, testemunharam milagres e transformações profundas nas vidas das pessoas. A manifestação do poder de Deus na igreja primitiva demonstrava a presença contínua do Reino de Deus naquele tempo.
Atualmente, o Reino de Deus continua presente por meio da igreja de Cristo. A igreja, composta por aqueles que seguem a Cristo, é chamada a manifestar os valores e princípios do Reino de Deus através da proclamação do evangelho, da demonstração do amor de Deus, do serviço ao próximo e do testemunho de vidas transformadas pela graça de Cristo.
Portanto, o Reino de Deus não está confinado a uma localização física específica, mas é revelado e manifestado através da presença de Jesus Cristo e da ação do Espírito Santo na vida daqueles que creem, impactando e transformando vidas em todo lugar onde o Evangelho é recebido e vivido.
3. O Reino de Deus como realidade futura
O Reino de Deus não se limita apenas à sua dimensão presente, mas também possui uma dimensão futura, que envolve aspectos escatológicos. O apóstolo Paulo, ao escrever aos Coríntios, destaca os tipos de pessoas que não herdarão o Reino de Deus no futuro (1Co.6:9,10). Ele lista diferentes comportamentos pecaminosos que excluem essas pessoas do Reino vindouro, enfatizando a importância de viver de acordo com os princípios e valores do Reino de Deus.
Além disso, no Livro do Apocalipse, há menção ao milênio, um período de mil anos que faz parte da dimensão futura do Reino de Deus (Ap.20:1-5). Esse período é descrito como um tempo em que Cristo reinará sobre a Terra com Seus seguidores fiéis, após derrotar Satanás e estabelecer Seu governo (Ap.20:1-3). Durante esse período, haverá paz e justiça sob a autoridade direta de Cristo, representando uma manifestação mais completa do Reino de Deus na Terra.
Portanto, o Reino de Deus não se limita apenas ao presente, mas também tem uma dimensão futura que envolve a consumação final, onde a vontade de Deus será plenamente realizada e Seu Reino será estabelecido de forma completa e definitiva sobre toda a criação. Esse aspecto escatológico do Reino de Deus revela a esperança e a expectativa dos cristãos na vinda de Cristo e na realização final do plano redentor de Deus para a humanidade e o universo.
III. A IGREJA NO CONTEXTO DO REINO DE DEUS
1. A distinção entre Igreja e Reino de Deus
Há uma distinção entre a Igreja e o Reino de Deus. A Igreja não é o Reino de Deus em toda a sua expressão. O Reino de Deus refere-se à soberania, domínio e governo de Deus sobre todas as coisas. Ele é universal, transcendente e abrange toda a criação, não se limitando apenas à esfera terrena. Ele incorpora todo o povo de Deus tanto da Antiga quanto da Nova Aliança.
A igreja, embora esteja inserida na esfera do Reino, não existia no Antigo Testamento. Contudo, o Reino de Deus já estava presente na Antiga Aliança. Tal como sob o antigo pacto, onde Israel representava a comunidade do Reino (Êx.19:5,6), a Igreja representa a comunidade do Reino no novo pacto (1Pd.2:9). Ela é vista como um elemento do Reino de Deus na Terra, uma expressão visível do amor, justiça e reconciliação que fazem parte do governo divino.
Em resumo, enquanto o Reino de Deus é a soberania e presença universal de Deus sobre toda a criação, a Igreja é uma comunidade específica de pessoas regeneradas que reconhecem e buscam viver sob essa soberania, representando uma expressão terrena do Reino, mas não o limitando em sua totalidade.
2. A Igreja expressa o Reino de Deus
A Igreja foi idealizada e projetada por Deus para ser a expressão de seu Reino na plenitude dos tempos (Gl.4:4; cf. Ef.1:10). A concepção de que a Igreja foi concebida por Deus como uma expressão e instrumento do Seu Reino está fundamentada em várias passagens bíblicas. Ela não é uma mera consequência casual na história da salvação, mas foi planejada e escolhida por Deus como parte essencial do Seu plano redentor (Ef.1:4-6; 1Pd.1:2). Ela é considerada como a eleita de Deus para cumprir um papel significativo na manifestação do Seu Reino.
Sob o Novo Pacto, a Igreja recebe a missão de revelar o plano de salvação de Deus para a humanidade. Ela é vista como o veículo por meio do qual as riquezas de Cristo são proclamadas, inclusive diante de poderes e autoridades espirituais (Ef.3:10). A compreensão é que a Igreja desempenha um papel crucial na divulgação e demonstração do Reino de Deus na Terra. Através das ações, testemunho e proclamação dos seus membros, o Reino de Deus se torna conhecido e visível na sociedade. Essa perspectiva destaca a importância da Igreja como um instrumento designado por Deus para proclamar Seu Reino e promover a obra redentora de Cristo na Terra.
3. A Igreja e a mensagem do Reino de Deus
Pregar a mensagem do Reino de Deus é a sublime missão da Igreja (Atos 19:8). Ela é a porta-voz de Deus sobre a face da Terra. Ela tem o Espírito Santo (Jo.14:7), cuja função é guiar a Igreja em toda a verdade e dizer tudo o que tiver ouvido bem como anunciar o que há de vir, glorificando e anunciando tudo o que respeita a Cristo (Jo.16:13,14). Por isso, não pode haver qualquer outro “mensageiro” divino além da Igreja enquanto durar a dispensação da graça.
Nos relatos dos Atos dos Apóstolos e nas Epístolas, vemos essa ênfase na pregação e na conscientização sobre o Reino de Deus como uma parte crucial da mensagem do Reino de Deus.
· Paulo, ao falar aos presbíteros de Éfeso e durante seu tempo em Roma, menciona explicitamente ter pregado o Reino de Deus (Atos 19:8; 20:25; 28:31). Isso destaca a centralidade desse ensinamento em sua missão evangelística.
· Em Atos 14:22, vemos a ênfase em conscientizar os novos convertidos sobre a realidade do Reino de Deus. Isso mostra que essa mensagem não era apenas para os já estabelecidos na fé, mas também para os recém-chegados.
· Tiago 2:5 também aponta o Reino de Deus como uma mensagem de esperança para aqueles que amam a Deus. Reforça a ideia de que essa mensagem é parte vital do ensinamento cristão e traz consigo a promessa de esperança para os crentes.
Portanto, a pregação da mensagem do Reino de Deus emerge como uma missão crucial da Igreja, proclamando essa mensagem de esperança, salvação e transformação para todos aqueles que creem em Cristo Jesus. Essa ênfase demonstra a importância de direcionar os esforços evangelísticos para compartilhar essa mensagem fundamental.
A compreensão clara do que é o Reino de Deus é fundamental para que a Igreja Local possa cumprir sua missão de maneira eficaz. Quando essa compreensão não está clara, a igreja corre o risco de se desviar de seu propósito central, que é proclamar a mensagem do Reino de Deus. O entendimento do Reino de Deus implica reconhecer a soberania divina e a natureza transcendente desse Reino. Jesus afirmou claramente que o Seu Reino não é deste mundo (João 18:36), indicando que Sua autoridade e domínio vão além das estruturas terrenas e políticas. Esse Reino é sobre a vontade de Deus sendo estabelecida na vida das pessoas, transformando corações e restaurando a relação entre Deus e a humanidade.
Quando a Igreja Local compreende e internaliza essa perspectiva do Reino de Deus, ela se concentra na proclamação dessa mensagem de transformação espiritual, reconciliação e redenção. Entretanto, se a compreensão do Reino de Deus se perde ou é distorcida, a igreja pode acabar desviando sua missão para outros caminhos que não estão alinhados com a essência dessa mensagem.
Portanto, é crucial para a Igreja Local ter uma compreensão clara do Reino de Deus para permanecer fiel à sua missão de proclamar essa mensagem, buscando a transformação espiritual e o bem-estar das pessoas à luz da soberania e do propósito divino.
CONCLUSÇÃO
Nesta Lição, aprofundamos nosso entendimento sobre o Reino de Deus. Como foi mencionado, é essencial compreender que a Igreja não se equipara plenamente ao Reino de Deus, uma vez que este transcende a sua abrangência; no entanto, a Igreja é o veículo atual do Reino e será herdeira desse Reino (2Pd.1:11). Dessa forma, o Reino de Deus, em sua totalidade ou em sua manifestação final, englobará todos os crentes, passados e futuros, que declararam ou declararão sua fé em Cristo, o Filho de Deus.