QUANDO DEUS SE REVELA AO HOMEM


 Texto Base: Jó 38:1-4; 39:1-6; 40:15-18,24; 41:1-3

20/12/2020

“Então, o SENHOR respondeu a Jó desde a tempestade [...].” (Jó 40:6).

 

Jó 38

1.Depois disto, o SENHOR respondeu a Jó de um redemoinho e disse:

2.Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento?

3.Agora cinge os teus lombos como homem; e perguntar-te-ei, e, tu, responde-me.

4.Onde estavas tu quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência.

 Jó 39

1.Sabes tu o tempo em que as cabras monteses têm os filhos, ou consideraste as dores das cervas?

2.Contarás os meses que cumprem ou sabes o tempo do seu parto?

3.Elas encurvam-se, para terem seus filhos, e lançam de si as suas dores.

4.Seus filhos enrijam, crescem com o trigo, saem, e nunca mais tornam para elas.

5.Quem despediu livre o jumento montês, e quem soltou as prisões ao jumento bravo,

6.ao qual dei o ermo por casa e a terra salgada, por moradas?

Jó 40

15.Contempla agora o beemote, que eu fiz contigo, que come erva como o boi. 

16.Eis que a sua força está nos seus lombos, e o seu poder, nos músculos do seu ventre. 

17.Quando quer, move a sua cauda como cedro; os nervos da suas coxas estão entretecidos.

18.Os seus ossos são como tubos de bronze; a sua ossada é como barras de ferro.

24.Podê-lo-iam, porventura, caçar à vista de seus olhos, ou com laços lhe furar o nariz?

Jó 41

1.Poderás pescar com anzol o leviatã ou ligarás a sua língua com a corda?

2.Podes pôr uma corda no seu nariz ou com um espinho furarás a sua queixada?

3.Porventura, multiplicará as suas suplicações para contigo? Ou brandamente te falará?

INTRODUÇÃO

Trataremos nesta Aula da revelação de Deus a Jó e do seu diálogo com o patriarca. Como um Deus tão grande - que não cabe em nossa imaginação -, santo, justo e infinito relacionar-se com outros seres tão pequenos, limitados e injustos, e contrários à sua própria natureza? Durante todo o período de prova, Deus não falou com Jó de forma audível e compreensível, mas Ele estava presente o tempo todo observando Jó a sua fidelidade, apesar de nada dizer a ele. Até que o silêncio de Deus foi rompido, e a voz do Todo-poderoso se fez ouvir - “Depois disto, o SENHOR respondeu a Jó de um redemoinho” (Jó 38:1). Enfim, o tempo da prova estava terminando. Agora, do pico das montanhas surgia um facho de luz; no deserto tórrido da tribulação brotavam os lírios da esperança; os céus de bronze, finalmente, abriam seus portais.

Eliú concluiu os seus longos discursos mostrando que o sofrimento pode ter um lado benéfico, que o homem pode não compreender. Após esse discurso, o debate foi interrompido e Deus Se apresentou ao patriarca Jó, trazendo mais perguntas do que respostas, a fim de mostrar ao patriarca qual deve ser a posição do homem diante dos propósitos divinos. Jó estava desejoso por ter uma conversa com o Todo-Poderoso, para expor-lhe suas razões e queixas; entretanto, ao se defrontar com o Senhor, notou a sua insignificância ante a majestade do Senhor e compreendeu quem é o verdadeiro Soberano sobre a Terra, e que não devemos questionar a Deus, mas tão somente obedecer-lhe e confiar em Seus propósitos.

I. A REVELAÇÃO DE UM DEUS PESSOAL

1. O Deus que tem voz

Deus é uma Pessoa; logo, Ele fala, ouve e vê. Após os longos discursos de Eliú, antes que Jó pudesse oferecer alguma resposta (se é que iria oferecer alguma), o debate é interrompido pelo Senhor que, de dentro de um redemoinho, inicia um diálogo direto com o patriarca. Era o final do silêncio de Deus de que o patriarca tanto reclamara durante a discussão com seus amigos, mas Deus, em vez de respostas, traria perguntas ao patriarca, que apenas teriam o condão de demonstrar a pequenez do homem e a necessidade de estarmos na nossa humilde posição de servos do Senhor.

Quando Deus rompeu o silêncio, não respondeu sequer a uma das perguntas de Jó. Ao contrário, fez-lhe setenta perguntas, todas retóricas (isto é, perguntas que não tinham como objetivo obter uma resposta, mas sim estimular a reflexão de Jó sobre determinados assuntos, ou seja, perguntas cujas respostas já vinham nelas embutidas). Nessas perguntas, Deus fez uma exposição exaustiva de sua majestade e soberania. Incialmente, Deus perguntou a Jó:

"Onde estavas tu quando eu lançava os fundamentos da terra? Onde estavas tu quando eu espalhava as estrelas no firmamento? Onde estavas tu quando eu cercava as águas do mar?" (Jó 38).

Diante da incomparável majestade de Deus, Jó foi se encolhendo e compreendeu que suas perguntas não podiam perturbar o Todo-poderoso nem colocá-lo contra a parede. Deus é livre e soberano; Ele faz todas as coisas conforme o conselho de sua vontade. Ninguém pode pressionar Deus nem colocá-lo contra a parede. Deus não age dentro do nosso tempo nem conforme a nossa vontade; seus caminhos são mais altos do que os nossos, seus pensamentos são mais elevados do que os nossos (Is.55:8); ninguém foi seu conselheiro nem jamais alguém ensinou a ele a sabedoria. O profeta Isaías ressalta essa verdade, quando diz:

“Quem guiou o Espírito do SENHOR, ou lhe ensinou como conselheiro? A quem ele pediu conselho, para lhe dar entendimento e lhe mostrar o caminho da justiça? Quem lhe ensinou conhecimento e lhe mostrou o caminho do entendimento? (Is.40:13,14).

Deus é o detentor de todo o saber. Ele conhece tudo, tem o controle de tudo e levará o Universo e a nossa vida a uma consumação gloriosa.

2. A poderosa manifestação de Deus

Diz o texto sagrado que Deus respondeu a Jó de um redemoinho (Jó 38:1). O original hebraico para redemoinho é "searah", que significa "tempestade acompanhada por ventos fortes", palavra encontrada em 2Rs.2:1,11, ao descrever o fenômeno que separou Elias de Eliseu, ou em Is.40:24. Essa forma de manifestação divina é confirmada ao longo das Escrituras, como, por exemplo, com Moisés (Êx.19:16-19). Isso mostra que Deus não é impessoal. Pelo contrário, Ele é um Ser que se revela e fala com homens.

Vemos, então, que Deus Se manifestou em uma tempestade (cf. Jó 40:6), o que, talvez, tenha feito o patriarca lembrar-se da última funesta tempestade, na qual seus filhos haviam sido mortos (cf. Jó 1:19). O surgimento da tempestade deve ter causado apreensão a Jó, até porque considerava todo o seu infortúnio como uma tempestade (cf. Jó 9:17); mas, ao contrário do que se poderia esperar, este tufão seria o início da vitória. Às vezes, também, as circunstâncias da vida estão tão turbulentas que, já em prova e queixosos, ao notarmos a aproximação de mais um furacão, de mais uma tempestade, podemos tender para o desespero, mas não desanimemos, pois, em meio a esse redemoinho, o Senhor pode estar nos trazendo a solução de nossos problemas e dando um término na provação.

Alguns estudiosos da Bíblia entendem que essa tempestade ocorrida no momento que Deus falava com Jó não tenha sido literal, mas uma manifestação teofânica, uma experiência mística que o patriarca Jó tenha tido, a exemplo da experiência relatada pelo profeta Daniel (Dn.10:7); para tanto, eles procuram basear-se em Jó 42:5,6: “Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te veem os meus olhos. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza”. De qualquer modo, tenha ou não havido manifestação física de uma tempestade, o importante é que Deus cessou o Seu silêncio e Se dispôs a dialogar com o patriarca. Estavam desmentidos, com fatos, os argumentos deístas dos amigos de Jó. Deus interessa-se, sim, pelo ser humano e vem em Seu auxílio.

3. O Deus que está presente

Vimos que o grande dilema de Jó era pensar que Deus o havia abandonado. Ele não entendia a razão do silêncio de Deus, e por causa disso se angustiou e se desesperou por se sentir sozinho e abandonado. Para ele, Deus que tanto ele amava havia se escondido para não ouvir seus queixumes e sua defesa diante das acusações de seus amigos. Mas, a grande lição que o Livro de Jó nos apresenta é que, mesmo quando estamos às escuras, andando somente por fé, e não por vista, Deus está presente e próximo de nós.

Deus Se apresentou ao patriarca, sem Se identificar, sem dizer Seu nome. Esta circunstância é a demonstração de que Jó conhecia a voz do Senhor (como admitirá ao término da inquirição em Jó 42:5), motivo pelo qual o Senhor não precisava se identificar. Assim são as pessoas fiéis a Deus, elas conhecem a voz do seu Senhor (João 10:14,16). Temos ouvido a voz do Senhor? Somos capazes de reconhecê-la? Em Cristo Jesus, nós temos o privilégio de adentrarmos confiantemente à presença dEle. O caminho do trono divino está aberto a todo o crente por meio do Filho de Deus, Jesus Cristo. É um privilégio e um maravilhoso presente desfrutarmos da presença de Deus.

II. A REVELAÇÃO DE UM DEUS SÁBIO

1. O início do discurso de Deus

Deus, apesar de Seu amor infinito, Sua bondade e misericórdia, é, também, a verdade e, como tal, não podia senão estabelecer as coisas como elas são realmente, ou seja, que quem dá as ordens é Deus e não o homem. Ele é o Senhor, e nós, Seus servos. Daí porque Deus pergunta e não responde, como queria o patriarca. Deus iniciou seu discurso com uma pergunta:

"quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento? "(Jó 38:2).

 Em outras palavras: quem é que quer ter o direito de dizer o que Deus deve ou não fazer? Quem é aquele que está indignado por causa de seu sofrimento e se sente um injustiçado? Quem é aquele que quer que Deus lhe dê satisfação, lhe preste contas do que está fazendo na sua vida?

Será que o Senhor também não nos está fazendo esta mesma indagação? Será que temos nos colocado no nosso devido lugar de servos, de pessoas dispostas a obedecer e a fazer o que o Senhor nos manda? Ou será que estamos como Jó, que, apesar de ter sido o homem mais excelente na terra no seu tempo (como é a Igreja do Senhor na atualidade), não deixou de ser homem e, como tal, não tinha o direito de querer questionar Deus ou querer que Ele lhe prestasse contas do que estava fazendo em sua vida? Deus mostrou a Jó que, apesar de sua excelência e de ser, efetivamente, uma pessoa inocente, não tinha o direito de querer demandar com Deus, de arguir-lhe num tribunal, como tinha desejado (cf. Jó 7:20,21; 10:2-22;13:3,14-28; 23:1-17).

Deus afirmou que tudo o que Jó falou, em termos de queixa, era fruto da ignorância, da falta de conhecimento profundo a respeito de Deus. Disse o Senhor que Jó estava escurecendo o conselho com "palavras sem conhecimento"(Jó 38:2). Esta afirmação divina foi objeto, ao término da inquirição, de reconhecimento e confissão por parte do patriarca (Jó 42:3-6).

A falta de conhecimento do Senhor é a razão de ser de toda a nossa fraqueza espiritual. Daí porque o profeta Oséias ter recomendado que devamos conhecer e prosseguir em conhecer ao Senhor (Os.6:3), bem como o apóstolo Pedro ter, em sua última epístola, deixado à igreja o conselho para que cresçamos na graça e no conhecimento do Senhor (2Pd.3:18). Só o conhecimento do Senhor pode impedir-nos de termos fracassos espirituais (Ef.4:14).

2. Deus exigiu que Jó se preparasse para falar com Ele (Jó 38:3)

Após a Sua pergunta inicial (Jó 38:2), Deus determinou que Jó se preparasse para a arguição (Jó 38:3), pois, como homem, não era ele quem daria as regras, mas, sim, o Senhor:

“Agora cinge os teus lombos como homem; e perguntar-te-ei, e, tu, responde-me”.

"Cinge teus lombos" – significa: "esteja preparado". Nos tempos de Jó era preciso cingir as vestes, ou seja, amarrá-las junto ao corpo, para permitir a locomoção sem maiores problemas para o exercício das mais diversas atividades. Vemos, portanto, que Deus não deseja que o homem entre em contato com Ele de forma despreparada e descuidada. Não tem respaldo bíblico o pensamento comodista, segundo o qual o homem, para ser usado por Deus, nada deve fazer de sua parte, colocando-se, simplesmente, como alguém à disposição do Senhor. Em toda a Palavra do Senhor, vemos que Ele deseja que nós nos preparemos para melhor lhe servirmos. Mesmo quando foi repelir uma postura até certo ponto arrogante do patriarca Jó, Deus fez questão de que ele estivesse preparado, devidamente pronto para ter um diálogo com o Senhor. Que aprendamos esta lição e busquemos aproveitar todas as oportunidades que Deus nos dá para que nos preparemos mais e melhor para servir ao Senhor.

3. Na mecânica celeste

Jó não entendia por que estava sofrendo, e questionou o Senhor o motivo de seu sofrimento. Deus ficou silente; e quando esse silêncio foi quebrado, Deus resolveu indagar Jó a respeito da própria criação, pois esta foi a primeira revelação divina para o homem. Deus convidou Jó a contemplar o Universo e vê-lo como ele funciona (Jó 38). Há uma inteligência poderosa e impressionante que domina os fenômenos naturais do Universo e faz funcionar perfeita e harmoniosamente toda a mecânica celeste. Se Jó se achava no direito de questionar o Criador, deveria, pelo menos, mostrar que tinha algum conhecimento a respeito da criação. A criação é a primeira revelação de Deus aos homens (Rm.1:20). Portanto, para quem se dizia com direito a exigir respostas de Deus, deveria, no mínimo, poder explicar a obra da criação, a primeira revelação de Deus ao homem.

O Senhor perguntou a Jó se ele sabia quando e como o mundo foi criado (Jó 38:4). Deus indagou a Jó se ele podia dizer quem pôs as medidas, as bases ou os fundamentos da Criação, quando o homem ainda não existia. Claro que Jó, como criatura limitada, não soube responder. Como, então, querer discernir os pensamentos divinos em relação ao homem, se nem mesmo é possível haver discernimento com respeito à Criação, seja dos seres inanimados, inferiores ao próprio homem, seja dos seres celestiais, superiores ao homem?

Deus indagou a Jó sobre a criação dos mares e oceanos, do dia e da noite, dos fenômenos meteorológicos (Jó 38:8-30), coisas que, naturalmente, no tempo de Jó não tinham a menor explicação e que, mesmo nos nossos dias, com todo o desenvolvimento científico-tecnológico, não estão totalmente respondidas.

Após falar da criação do nosso planeta, Deus dirigiu a atenção do patriarca para o Universo, para as estrelas e constelações. A astronomia sempre foi outro ponto que sempre intrigou os homens, pois, como afirma a Palavra de Deus, "o firmamento anuncia a obra das mãos do Senhor" (Sl.19:1). A contemplação do céu estrelado, a consciência de que nosso planeta, apesar de toda a sua grandeza, é apenas uma ínfima e insignificantíssima parcela de todo o Universo, é uma prova evidente da nossa pequenez diante do Criador. E, embora muitas das coisas a respeito do Universo tenham sido desvendadas desde Jó até nossos dias, continuam sem resposta as indagações do Senhor ao patriarca a este respeito (Jó 38:32,33). Aliás, a narrativa bíblica da criação permanece incólume às mais avançadas teorias científicas a respeito da origem do Universo.

Qual é o tamanho do Universo que Deus mediu a palmos? Os astrônomos afirmam que o Universo tem mais de 92 bilhões de anos-luz de diâmetro. Isso significa que se voássemos à velocidade da luz, ou seja, a 300 mil quilômetros por segundo, demoraríamos mais de 92 bilhões de anos para ir de uma extremidade à outra. Se perguntássemos a um astrônomo quantas estrelas existem, ele nos diria que há mais estrelas no firmamento do que todos os grãos de areia de todos os desertos e praias do nosso planeta. Deus não apenas criou todas elas, mas conhece cada uma e as chama pelo nome.

Não é apenas o macrocosmo que manifesta a majestade de Deus, mas também o microcosmo. Uma tenra folha colhida no campo é tão completa como uma grande metrópole. Uma gema de ovo é mais complexa do que qualquer máquina que o homem jamais inventou. Um certo renomado oftalmologista disse que cada um dos nossos olhos tem cerca de 2 milhões de fios duplos encapados. Se não fora assim, haveria um curto-circuito, e ficaríamos cegos. Marshall Nirenberg, prêmio Nobel de biologia, fez uma das mais extraordinárias descobertas no século passado. Descobriu que somos um ser geneticamente computadorizado. Temos cerca de 60 trilhões de células vivas em nosso corpo. Em cada célula há 1,7 metro de cadeia de DNA, onde estão gravados e computados todos os nossos dados genéticos (a cor dos nossos olhos, a cor da nossa pele, o nosso temperamento). Se pudéssemos espichar as cadeias de DNA do nosso corpo, teríamos 102 trilhões de metros de extensão, ou 102 bilhões de quilômetros. Essa obra fantástica certamente não é resultado de geração espontânea, pois o acaso não produz ordem tão colossal e complexa. Essa obra não é consequência de uma mega explosão cósmica, pois o caos não pode produzir o cosmos. Essa obra não é fruto de uma evolução de milhões e milhões de anos; códigos de vida não surgem dessa forma; códigos de vida foram plantados em nós pelo Deus Todo-poderoso, criador dos céus e da terra. Esse é o nosso Deus.

Diante da complexidade da criação aminada e inanimada, e do Universo, temos que assumir nossa ignorância e responder como fez Jó: “Sou indigno; que te responderia eu? Ponho a mão na minha boca” (Jó 40:4).

4. Na dinâmica da vida

Após falar com Jó a respeito do Universo e de como Jó nada sabia a respeito dele, Deus agora fala com Jó a respeito da criação animada (Jó 38:39 – 40:2). Deus perguntou a Jó se ele tinha conhecimento a respeito dos fenômenos que envolvem os animais, seja em relação à sua geração, à sua alimentação, enfim, à sua sobrevivência (Jó 38:39-39:6,13-17,26-30). Vemos aqui, claramente, que Deus é quem sustenta toda a criação animal e de forma participante. Prosseguindo com seus questionamentos, Deus chama a atenção de Jó para sua providência, mostrando como sacia a fome de todas as criaturas vivas, desde os leõezinhos em seus covis até os feiosos corvos e seus pintainhos (cf. Jó 38:39-41):

“Porventura, caçarás tu presas para a leoa ou satisfarás a fome dos filhos dos leões, quando se agacham nos covis e estão à espreita nas covas? Quem prepara para os corvos o seu alimento, quando os seus pintainhos gritam a Deus e andam vagueando, por não terem que comer?”.

Continuando sua fala a Jó, Deus afirma que somente Ele conhece com exatidão o período de gestação, os hábitos de nascença e os instintos das cabras monteses e das corças. O jumento selvagem escarnece do arreio e da vida tumultuada da cidade e passa seus dias livre nas montanhas e nos desertos à procura de tudo o que está verde. E que dizer do avestruz e suas asas? Em algumas circunstâncias, age com insensatez, colocando seus ovos em lugares vulneráveis e tratando suas crias com dureza. Contudo, pode correr mais rápido que um cavalo de corrida (cf. Jó 39:1-18). Em seguida, Deus perguntou se Jó tinha condições de conceder força ao cavalo e revestir seu pescoço de crinas (pelo flexível e resistente do alto da cabeça). Está claro que há uma providência divina que preserva as coisas criadas, pois todos esses animais foram projetados por um design inteligente com suas peculiaridades, modo de ser e de viver.

Como Deus tinha a resposta para tudo isso, haja vista que Ele é o Criador de tudo, e a ciência de Jó era muito limitado em relação à complexidade da criação, então a única coisa que o patriarca tinha que fazer era ficar calado, reconhecer o seu lugar e se humilhar diante da majestade divina, e aceitar os desígnios de Deus sobre a sua vida. Considerando o seu ínfimo conhecimento sobre a Criação, e subjugado pelo extenso conhecimento de Deus, assumiu sua ignorância e respondeu: “Sou indigno; que te responderia eu? Ponho a mão na minha boca” (Jó 40:4).

Portanto, o homem, mesmo no tocante a sua força e inteligência, que o permite dominar sobre os animais, para o que, aliás, foi criado por Deus (cf.Gn.1:26,28), por causa do pecado e da sua atual condição, tem dificuldade até para dominar certos animais, inclusive animais domesticáveis, como o boi selvagem (que a versão Almeida Revista e Corrigida denomina de "unicórnio") e o cavalo, que dirá para entender Deus, que é muitíssimo superior (Jó 39:9-12; 19-25).

Vemos, então, que o homem está aquém até da posição originariamente colocada na ordem do universo - em virtude do pecado, motivo pelo qual não pode sequer arvorar posições que, efetivamente, não lhe foram atribuídas. Será que temos esta consciência ou estamos proferindo palavras sem qualquer conhecimento, como as "determinações", "declarações" e "decretos" que muitos têm, atrevidamente, emitido ao Senhor?

5. Na necessidade de se conhecer melhor a Deus

Aos olhos de Deus, Jó era considerado um homem íntegro, justo e que se desviava do mal, porém, no momento da prova agiu de forma presunçoso ao questionar a majestade divina. Ele precisava conhecer melhor o seu Deus, o Criador de tudo. Quando passamos pelo vale da dor, precisamos olhar para a majestade de Deus, e não para a profundidade das nossas feridas. Se olharmos para nós, entraremos em pânico; se olharmos para Deus, sentiremos paz no vale. Se observarmos os ventos contrários e o rugido da tempestade, naufragaremos; mas, se fixarmos os olhos em Cristo, caminharemos sobre as ondas revoltas.

O começo da restauração de Jó não passou pelo entendimento de sua dor, mas pela compreensão da soberania de Deus. Foi quando seus olhos se abriram para ver a grandeza de Deus que as coisas passaram a se tornar claras para ele. Não podemos conhecer a nós mesmos sem antes conhecer Deus. Quanto mais focarmos em nós mesmos, mais aflitos e mais longe da verdade ficamos. Quanto mais perto de Deus ficarmos, mais entenderemos a nós mesmos e as circunstâncias que nos cercam.

 III. A REVELAÇÃO DE UM DEUS PODEROSO E JUSTO

O poder de nosso Deus nos ajuda a compreender as realidades da vida. Quem é o nosso Deus? Qual é a dimensão do seu poder? O profeta Isaías diz que Deus é aquele que mede as águas na concha de sua mão e mede o pó da terra em balança de precisão. Deus é aquele que mede os céus a palmos e os estende como urna cortina para neles habitar. Deus espalha as estrelas no firmamento e, por ser forte em força e grande em poder, quando as chama, nem uma delas vem a faltar (Is.40:12-26).

Certa feita um garotinho perguntou ao pai: "Papai, qual é o tamanho de Deus?" O pai, confuso com a intrigante pergunta do filho, olhou para o céu e viu um avião a jato cruzando as alturas. O pai, então, perguntou ao filho: "Filho, olhe para o céu e veja aquele avião. Ele é pequeno ou grande?" O filho olhou e respondeu: "Pequeno, papai, muito pequeno". O pai, imediatamente, levou o filho ao aeroporto e mostrou-lhe um grande jumbo estacionado no pátio e perguntou-lhe: "Filho, qual é o tamanho deste avião?", e o menino respondeu: "Grande, papai, muito grande". O pai, então, explicou ao filho: "Meu filho, é assim também com Deus. Quando você está longe de Deus, ele parece pequeno para você, mas, quando você está perto de Deus, ele se torna muito grande".

1. Deus, novamente, desafiou Jó a responder como homem (Jó 40:6-14)

Anteriormente, Deus desafiou Jó, mas a resposta dele demonstrou que ainda não havia humildade aceitável, de modo que o Senhor continuou a falar do meio de um redemoinho, desafiando-o a responder “como homem” (Jó 40:6,7):

“Então, o Senhor, do meio de um redemoinho, respondeu a Jó: Cinge agora os lombos como homem; eu te perguntarei, e tu me responderás” (Jó 40:6,7).

Antes, Jó, em seus lamentos, tinha acusado Deus de praticar injustiças, desafiando-o a se justificar. Então, agora, Deus desafiou a Jó com a seguinte pergunta: “Acaso, anularás tu, de fato, o meu juízo? Ou me condenarás, para te justificares?” (Jó 40:8). O Senhor reprendeu a impertinência de Jó em procurar defeitos no Todo-Poderoso. Ora, se Jó era tão sábio e poderoso no conhecimento, certamente não teria nenhuma dificuldade em responder a seus questionamentos. De forma irônica, o Senhor pediu que Jó assumisse o trono da divindade e produzisse demonstrações de onipotência (como fazer trovejar com a voz) e se revestisse de excelência, grandeza, majestade e glória. Caso conseguisse realizar todas essas coisas, então o Senhor reconheceria seu poder para salvar a si mesmo (Jó 40:9-14):

“Ou tens braço como Deus ou podes trovejar com a voz como ele o faz? Orna-te, pois, de excelência e grandeza, veste-te de majestade e de glória. Derrama as torrentes da tua ira e atenta para todo soberbo e abate-o. Olha para todo soberbo e humilha-o, calca aos pés os perversos no seu lugar. Cobre-os juntamente no pó, encerra-lhes o rosto no sepulcro. Então, também eu confessarei a teu respeito que a tua mão direita te dá vitória”.

Quando olhamos para nossos problemas, agigantamos nossa dor e apequenamos Deus; mas, quando olhamos para a majestade de Deus, nos sentimos pequenos, e nossa dor se torna apenas uma leve e momentânea tribulação. Enquanto Jó estava se defendendo e curtindo sua dor, sentiu-se injustiçado; mas, quando viu a majestade de Deus, encontrou o caminho do entendimento e a estrada da restauração.

2. Deus desafia Jó a contemplar o Behemot e o Leviatã

“Contempla agora o beemote [hipopótamo – ARA], que eu fiz contigo, que come erva como o boi” (Jó 40:15).

“Poderás pescar com anzol o leviatã [crocodilo - ARA] ou ligarás a sua língua com a corda?” (Jó 41:1).

O Senhor, agora, chamou a atenção de Jó para o “beemote” [hipopótamo?] e o “leviatã” [crocodilo?], animais gigantescos e poderosos. Este fato descarta a opinião de alguns comentaristas de que esses dois animais fossem criaturas mitológicas do imaginário dos povos da Antiguidade. Por que Deus desafiaria Jó a observar uma criatura que não existia?

A descrição do “beemote” se refere a uma criatura essencialmente terrestre (cf. Jó 40:15-24), ao passo que a do “leviatã” aponta para um animal essencialmente aquático (Jó 41:30-34). Ninguém podia apanhá-lo utilizando anzol ou gancho, muito menos transformá-lo em animal doméstico para entreter a família. Sua pele resistia a arpões e farpas, e os homens tremiam de medo só de vê-lo.

As descrições de animais selvagens e desses dois monstruosos animais mencionados aqui, refletem a glória, o poder e a majestade de Deus. Por meio dessas exposições, o Senhor fornece uma pequena ilustração de seu esplendor e força. Mesmo poderosos, Behemot e Leviatã estavam debaixo da mão de Deus.

a) Deus desafiou Jó a contemplar o Beemote (Jó 40:15). Deus apresentou o “beemote” como “obra-prima de sua criação”. Algumas traduções bíblicas identificam este animal com o “hipopótamo”, a exemplo da A.R.A (Almeida Revista e Atualizada). Acho que se encacharia melhor neste epíteto o elefante ou o mamute. Alguns cientistas cristãos estão convencidos de se tratar de um animal extinto, ou talvez encontrado em partes remotas da selva africana. Na verdade, alguma espécie de dinossauro se encaixaria muito bem na descrição apresentada no texto.

Conquanto não sejamos capazes de identificar com precisão que animal era esse, sabemos que se tratava de um animal herbívoro, que habitava tanto na água quanto na terra, sendo extremamente forte. Além disso, gostava de descansar em áreas sombreadas e pantanosas e não se assustava facilmente. Resumindo, eis a lição de Deus: se Jó não tinha poder suficiente para controlar esse animal feroz, como governaria o mundo?

b) Deus desafiou Jó a contemplar o Leviatã (Jó 41:1). O Senhor mencionou outra criatura impressionante, o “leviatã”, animal singular entre suas criaturas. Seria Jó capaz de domá-lo? É o que Deus desejava saber, e acrescentou: “Põe a mão sobre ele [...] e nunca mais o intentarás” (Jó 41:8).

Na literatura antiga dos cananeus, o termo “leviatã” se referia a “um dragão marinho de sete cabeças”. Porém, alguns estudiosos ressaltam que não há prova nenhuma que o poema em foco esteja se referindo ao leviatã como um monstro mitológico. A passagem bíblica em questão é bastante clara ao mostrar que Deus desafiou Jó a contemplar uma criatura de verdade, ainda que não seja possível identificá-la com exatidão atualmente. Costuma-se relacionar o “leviatã” ao crocodilo do Nilo, e vários trechos da passagem parecem descrever adequadamente esse réptil.

Em Jó 41:12-34 Deus voltou a descrever o “leviatã” e comentou sobre a solidez e a grande força dessa criatura, cuja pele duríssima lhe servia de proteção. Ninguém podia amordaçar sua boca firme, rodeada de dentes temíveis. As escamas de sua pele se assemelhavam a armaduras formadas por lâminas sobrepostas. Empregando termos poéticos, o Senhor descreveu os espirros, olhos, boca e narinas do “leviatã” quando despertava. Apresentava uma estrutura corporal maciça e tinha uma força absurda. Destemido e poderoso, atemorizava até o coração dos mais valentes quando se movimentava. As armas comuns nem sequer arranhavam sua couraça. Ao se arrastar pela lama, deixava um rastro de marcas como se seu ventre fosse encravado de pedaços de vidro quebrado. Fazia ferver a água como uma panela no fogo e deixava um sulco branco fosforescente atrás de si. Mesmo descontado os exageros poéticos (hipérboles) que os orientais gostavam de utilizar, é difícil imaginar que até mesmo o maior dos crocodilos pudesse ser chamado de “rei sobre todos os animais orgulhosos” (Jó 41:34).

Diante da descrição dessa monstruosa criatura, Deus propõe uma pergunta pertinente: se os homens pasmam diante de uma criatura como essa, não seria de esperar que temessem mais Aquele que a criou, isto é, o Deus eterno, dono de toda a criação e que não deve satisfações a ninguém? Esse e o objetivo fundamental dessa passagem: Jó precisava perceber, por meio de sua incapacidade para dominar até mesmo uma simples criatura, a insensatez de aspirar ao trono do Criador.

3. Justiça e graça

Jó não foi capaz de lidar com o Beemot (animal identificado como sendo o hipopótamo - Jó 40:15-24), nem com o Leviatã (animal identificado, por alguns, como sendo o crocodilo ou uma espécie de crocodilo e, para outros, como sendo nome genérico para monstros marinhos, animais marinhos de grande porte - Jó 41:1-34); então, como poderia tratar desse mundo complexo, inanimado e animado? Deus afirmou a Jó que, se ele pudesse assumir alguma posição de divindade, o fizesse e que se encarregasse de fazer justiça sobre a face da terra (Jó 40:10-14). No entanto, nem mesmo tinha condição de dominar o beemote, muito menos o temível leviatã. Se Jó não tinha domínio sequer sobre a natureza, que o próprio Deus estabeleceu que dominasse, como quereria ele entender os propósitos morais e espirituais do Senhor? Logo, o homem jamais poderia ser igual ou mais justo que o próprio Criador, nem, muito menos, auto justificar-se diante dEle. Não há nada que possa justificar o ser humano diante de Deus, senão a sua maravilhosa graça (cf. Ef.2:8). O ser humano depende plenamente da graça divina.

CONCLUSÃO

Nesta Aula tratamos da maravilhosa revelação de Deus a Jó. O que Jó tanta almejava desde o início de sua provação enfim aconteceu: ter um encontro com Deus. Quando Deus rompeu o silêncio, não respondeu sequer a uma das perguntas de Jó; ao contrário, fez-lhe setenta perguntas; todas retóricas, ou seja, todas perguntas cuja resposta já vinha nelas embutida. Nessas perguntas, Deus fez uma exposição exaustiva de sua majestade e soberania. Em sua exposição, Deus não recriminou Jó, mas revelou-lhe o quão imperfeito ele era e o quanto conhecia pouco acerca da majestade divina.

Como se pode observar, o propósito de Deus ao fazer todas estas perguntas era o de provar a Jó que, para que ele ocupasse a posição de alguém que tinha direito de ter uma prestação de contas de Deus sobre o que lhe estava acontecendo, como o patriarca havia pedido insistentemente em suas lamentações, deveria ser alguém que tivesse conhecimento, ou seja, para que alguém pudesse contender, discutir, debater com o Senhor, deveria ser alguém que pudesse discernir os caminhos de Deus, alguém que tivesse condições de fazê-lo. Jó, entretanto, apesar de sua excelência, não estava em condições de querer perquirir a Deus ou de que Deus pudesse prestar-lhe contas.

A TEOLOGIA DE ELIÚ: O SOFRIMENTO É UMA CORREÇÃO DIVINA

 

Texto Base: Jó 32:1-4; 33:1-4; 34:1-6; 36:1-5

 

 “Ao aflito livra da sua aflição e, na opressão, se revela aos seus ouvidos” (Jó 36:15).

Jó 32:

1.Então, aqueles três homens cessaram de responder a Jó; porque era justo aos seus próprios olhos.

2.E acendeu-se a ira de Eliú, filho de Baraquel, o buzita, da família de Rão; contra Jó se acendeu a sua ira, porque se justificava a si mesmo, mais do que a Deus.

3.Também a sua ira se acendeu contra os seus três amigos; porque, não achando que responder, todavia, condenavam a Jó.

4.Eliú, porém, esperou para falar a Jó, porquanto tinham mais idade do que ele.

 Jó 33:

1.Assim, na verdade, ó Jó, ouve as minhas razões e dá ouvidos a todas as minhas palavras.

2.Eis que já abri a minha boca; já falou a minha língua debaixo do meu paladar.

3.As minhas razões sairão da sinceridade do meu coração; e a pura ciência, dos meus lábios.

4.O Espírito de Deus me fez; e a inspiração do Todo-Poderoso me deu vida.

 Jó 34:

1.Respondeu mais Eliú e disse:

2.Ouvi vós, sábios, as minhas razões; e vós, instruídos, inclinai os ouvidos para mim.

3.Porque o ouvido prova as palavras como o paladar prova a comida.

4.O que é direito escolhamos para nós; e conheçamos entre nós o que é bom.

5.Porque Jó disse: Sou justo, e Deus tirou o meu direito.

6.Apesar do meu direito, sou considerado mentiroso; a minha ferida é incurável, embora eu esteja sem transgressão.

 Jó 36:

1.Prosseguiu ainda Eliú e disse:

2.Espera-me um pouco, e mostrar-te-ei que ainda há razões a favor de Deus.

3.Desde longe repetirei a minha opinião; e ao meu Criador atribuirei a justiça.

4.Porque, na verdade, as minhas palavras não serão falsas; contigo está um que é sincero na sua opinião

5.Eis que Deus é mui grande; contudo, a ninguém despreza; grande é em força de coração.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos da teologia de Eliú, um quarto amigo de Jó; sua teologia: o sofrimento é uma ação pedagógica de Deus para corrigir o homem. Depois da réplica de Jó ao terceiro discurso de Bildade, exsurge um silêncio, pois os amigos de Jó não encontraram meios para convencer o patriarca, que seguiu convicto de sua inocência; apareceu, então, Eliú, o mais jovem dentre os quatro, cuja presença não fora até então mencionada no livro. Eliú é mencionado no livro de Jó a partir do capítulo 32, quando começou a sua fala, fala esta que não teve resposta por parte do patriarca Jó. Eliú ingressou no debate procurando ser um meio-termo entre o discurso dos amigos e o do patriarca, disto resultando uma visão de Deus mais real que a dos amigos de Jó, mas também insuficiente para desmentir a forte convicção do patriarca. Embora ainda achasse que Jó seria um pecador, Eliú conseguiu, em seu discurso, ter uma visão da graça de Deus, algo que fora completamente ignorado pelos outros amigos do patriarca, e, por isso, viu que o sofrimento pode ser resultado do amor de Deus, não apenas fruto de uma punição.

I. O SOFRIMENTO COMO UMA FORMA DE REVELAR DEUS

O primeiro discurso de Eliú foi direcionado aos outros três amigos (Jó cap.32). Durante toda a discursão, entre os três amigos e Jó, ele se manteve calado, por respeito à idade deles. Agora, porém, não consegue mais se conter. Declarou que sábios não são os de mais idade e que Deus pode conceder discernimento aos mais jovens, como ele. Repreendeu os outros amigos de Jó por não apresentarem argumentos convincentes. Por causa disso, sentiu-se compelido a falar e propôs declarar sua opinião sem usar de lisonjas ou de parcialidade (cf. Jó 32:7-22).

Em seu segundo discurso, agora direcionado a Jó, Eliú acusou o patriarca de ter sido injusto para com Deus, pois não poderia considerar o Senhor como seu inimigo em virtude do sofrimento que estava passando, ainda que fosse alguém inocente, como afirmava ser (Jó 33:8-13). Eliú afirmou que, ao considerar Deus como seu inimigo, Jó estava, indevidamente, colocando-se numa posição de superioridade em relação a Deus, pois estava julgando a Deus, o que é inadmissível ao homem. Ainda que Jó tivesse moderado, durante suas respostas a seus amigos, não restava dúvida de que considerar a Deus como seu inimigo era uma atitude inadequada que Jó tomava, não em relação a Deus, mas em relação a si próprio, uma posição que, efetivamente, não era a sua, qual seja, a de querer questionar os propósitos divinos. Não devemos contender com Deus, mas devemos nos submeter à Sua vontade, crendo que tudo que acontece é o melhor para nós (Rm.8:28).

1. Deus é soberano (Jó 33:14,15)

Em continuação ao seu segundo discurso, Eliú insiste que Deus é soberano e não tem que prestar contas do que faz para ninguém (Jó 33:13,14), mas, mesmo assim, por obra de Sua vontade apenas, ainda se dá ao trabalho de revelar ao homem o que está a fazer, quando Lhe convém fazê-lo (Jó 33:14-18). O Deus de Eliú, ao contrário dos demais amigos de Jó, é um Deus participante, um Deus que não deixa Sua criação à própria sorte, mas um Deus que não está obrigado a prestar contas, pois é Senhor e Soberano. 

“Por que razão contendes com ele? Porque ele não dá contas de nenhum dos seus feitos. Antes, Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso.
Em sonho ou em visão de noite, quando cai sono profundo sobre os homens, e adormecem na cama” (Jó 33:13-15).

Vemos aqui, sem dúvida alguma, um Deus bem diferente do apregoado pelos arautos da confissão positiva e da teologia da prosperidade nos dias hodiernos. É um Deus que quer, sim, o bem do homem (Jó 33:17,18), mas que, para tanto, muitas vezes, dá ao homem coisas que, aparentemente são más, como a enfermidade (Jó 33:19-22). É um Deus que fala de muitas maneiras (Jó 33:15,16) e que não está sujeito aos caprichos humanos, um Deus cujo propósito é trazer bem ao homem, mesmo que por caminhos que ao homem sejam estranhos e incompreensíveis (Jó 33:29-33).

2. O orgulho do homem priva-o de ouvir Deus

Já afirmamos na Aula 06 que Deus é um Ser transcendente e imanente, ou seja, a despeito de habitar nas alturas mais insondáveis, e apesar de infinito e imenso, não permanece alheio às suas criaturas. Deus fala ao ser humano de várias maneiras, inclusive pelo silêncio. De acordo com Eliú, o problema não é o silêncio de Deus, mas o orgulho humano que não lhe permite escutá-lo. Eliú repreendeu Jó pela maneira com que declarou sua inocência e por culpar Deus de tratá-lo injustamente. “Deus é maior do que o homem” (Jó 33:12), declarou Eliú, e não precisa dar “contas de nenhum dos seus atos” ao ser humano (Jó 33:13). Todavia, fala com as pessoas por meio de sonhos e visões noturnas (Jó 33:14,15), para exortá-las sobre a maldade e o orgulho e para salvá-las da morte violenta (Jó 33:17,18).

Quando passamos por momentos difíceis em nossa vida, é natural querer saber o porquê disso está ocorrendo. Mas, quando olhamos para a Bíblia percebemos que homens e mulheres puderam reconhecer a voz de Deus de dentro do sofrimento. À época de Jó ninguém tinha esta percepção, nem mesmo o patriarca. Por isso, ele queria descobrir por que estava sofrendo. Nos capítulos anteriores, podemos sentir a sua frustração. Eliú disse a Jó que Deus estava tentando responder, mas ele não estava ouvindo. Foi neste ponto que Eliú julgou a Deus de forma errada. Se Deus fosse obrigado a responder todas as nossas perguntas, nós não seríamos testados de forma adequada. Imagine se Deus houvesse dito a Jó: “Jó, Satanás vai testá-lo e afligi-lo, mas ao final você será curado e receberá tudo de volta”. A provação de Jó não teria nenhum sentido. O maior teste de Jó não foi a dor, e sim o fato de não saber o motivo do seu sofrimento. Nossa maior luta pode ser a necessidade de confiarmos na bondade de Deus, mesmo não compreendendo por que a nossa vida está caminhando desta forma. Precisamos aprender a confiar em Deus, que Ele é bom, e não na bondade da vida.

3. O mistério da redenção (Jó 33:19-24)

19.Também no seu leito é castigado com dores, com incessante contenda nos seus ossos;
20.de modo que a sua vida abomina o pão, e a sua alma, a comida apetecível.

21.A sua carne, que se via, agora desaparece, e os seus ossos, que não se viam, agora se descobrem.

22.A sua alma se vai chegando à cova, e a sua vida, aos portadores da morte.

23.Se com ele houver um anjo intercessor, um dos milhares, para declarar ao homem o que lhe convém,

24.então, Deus terá misericórdia dele e dirá ao anjo: Redime-o, para que não desça à cova; achei resgate.

Além de sonhos e visões, Eliú também destaca que o Senhor também fala por meio de dores e doenças graves (Jó 33:19-22) (situações em que até mesmo a comida apetitosa se torna repulsiva). “Se [...] houver um anjo intercessor” (Jó 33:23) e este explicar os caminhos justos de Deus ao homem (e se o sofredor acolher a palavra pela fé), então o Senhor o salvará por meio de um resgate adequado, “para que não desça à cova” (Jó 33:24). Não há dúvidas de que esse intercessor/mediador é a mesma testemunha celestial que Jó pedia que defendesse a sua causa (Jó 16:19) e o redentor que o justificasse depois de sua morte (Jó 19:25). O foco de Eliú era que Deus havia falado por diversas vezes. Ele falara em sonhos e visões (Jó 33:15-18), através do sofrimento (Jó 33:19-22), e por meio de um anjo (Jó 33:23,24). Jó sabia disso. Eliú acusou Jó de não dar ouvidos a Deus, o que não era verdade.

Embora Eliú não explique o que quer dizer com “achei resgate”, no final do versículo 24, é justificável imaginar que esteja se referindo Àquele que “a si mesmo se deu em resgate por todos” (1Tm.2:6). Mesmo sem saber, Eliú está tratando aqui do mistério da Redenção que milhares de anos após haveria de ser revelado. Segundo Eliú, a pessoa que ouve a admoestação do Senhor tem a saúde física e espiritual restaurada. Aquele que confessa seu pecado é resgatado da morte espiritual e/ou física.

 II. O SOFRIMENTO COMO MEIO DE REVELAR A JUSTIÇA E A SOBERANIA DE DEUS

Neste tópico trataremos do terceiro discurso de Eliú aos três amigos de Jó (capítulo 34). Neste seu terceiro discurso, ele analisa a declaração de inocência de Jó, declaração na qual, como vimos, não acreditava, pois, apesar de sua melhor visão e amplidão em relação aos seus amigos, Eliú ainda continuava compartilhando da ideia do dogma da retribuição e cometeu, neste ponto, o mesmo erro de Elifaz, Bildade e Zofar. Para Eliú, ainda havia como discernir o que é bom e o que é mau, algo que é fruto de um julgamento que não pode ser feito pelo homem e, aqui, Eliú cometeu o mesmo erro que apontou em Jó no segundo discurso, o de se fazer juiz, algo que somente compete a Deus (cf.Tg.4:11,12).

1. A justiça de Deus demonstrada (Jó 34:1-15)

Eliú, juntamente com os demais amigos de Jó, na defesa da justiça de Deus, fez acusação contra Jó. Ele citou as declarações de Jó, em que este se queixava de Deus por causar sofrimento a um homem e por não haver vantagem em levar uma vida piedosa a fim de agradar ao Senhor. Eliú afirmou que Jó se dizia justo e que Deus lhe havia tirado o seu direito, mas não aceitava este argumento. Voltando a insistir na tese da superioridade de Deus em relação ao homem (Jó 34:12-15), disse que Jó advogava a tese de que não adiantava ser direito e que Jó era um homem que caminhava em companhia dos que praticavam a iniquidade e que andava com homens ímpios, algo que, sabemos, não corresponder à realidade (Jó 34:5-10). Eliú insistiu em que o Todo-Poderoso nunca é culpado de injustiças, pois isso contraria sua própria natureza (Jó 34:10,12). Portanto, na perspectiva de Eliú, os argumentos de Jó eram meras insolências. Aliás, “se Deus pensasse apenas em si mesmo”, afirmou Eliú, todas as suas criaturas morreriam e voltariam para o pó (Jó 34:14,15). Apesar de invocar a inspiração divina, Eliú não se desprendeu, totalmente, do dogma da retribuição e continuava, como seus outros amigos, a defender a tese de que "segundo a obra do homem, Deus lhe paga, e faz que cada um ache segundo o seu caminho" (Jó 34:11).

2. O caráter justo de Deus

Para justificar a sua tese diante de Jó e de seus demais amigos, Eliú descreveu o caráter justo de Deus da seguinte forma:

a) Ele age com justiça quando retribui ao homem o que ele merece (Jó 34.11):

“Pois retribui ao homem segundo as suas obras e faz que a cada um toque segundo o seu caminho”.

b) Deus não precisa prestar contas de seus atos a ninguém, visto que não recebeu autoridade de nenhum outro ser criado (Jó 34:13):

“Quem lhe entregou o governo da terra? Quem lhe confiou o universo?”.

c) Como o provedor da vida humana, Ele tem todo o poder de manter ou não a humanidade (Jó 34:14,15):

“Se Deus pensasse apenas em si mesmo e para si recolhesse o seu espírito e o seu sopro, toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó”.

d) O Todo-Poderoso não faz acepção de pessoas, quer sejam reis, nobres ou pobres (Jó 34:16-20):

16.Se, pois, há em ti entendimento, ouve isto; inclina os ouvidos ao som das minhas palavras.
17.Acaso, governaria o que aborrecesse o direito? E quererás tu condenar aquele que é justo e poderoso?

18.Dir-se-á a um rei: Oh! Vil? Ou aos príncipes: Oh! Perversos?

19.Quanto menos àquele que não faz acepção das pessoas de príncipes, nem estima ao rico mais do que ao pobre; porque todos são obra de suas mãos.

20.De repente, morrem; à meia-noite, os povos são perturbados e passam, e os poderosos são tomados por força invisível.

e) Deus é onisciente e como tal conhece os passos e as intenções de todos os homens sem precisar inquiri-los em juízo (Jó 34:21-25):

21.Os olhos de Deus estão sobre os caminhos do homem e veem todos os seus passos.
22.Não há trevas nem sombra assaz profunda, onde se escondam os que praticam a iniquidade.
23.Pois Deus não precisa observar por muito tempo o homem antes de o fazer ir a juízo perante ele.

24.Quebranta os fortes, sem os inquirir, e põe outros em seu lugar.

25.Ele conhece, pois, as suas obras; de noite, os transtorna, e ficam moídos.

f) Ele é justo para punir os maus (Jó 34:26-30).

26.Ele os fere como a perversos, à vista de todos;

27.porque dele se desviaram, e não quiseram compreender nenhum de seus caminhos,

28.e, assim, fizeram que o clamor do pobre subisse até Deus, e este ouviu o lamento dos aflitos.

29.Se ele aquietar-se, quem o condenará? Se encobrir o rosto, quem o poderá contemplar, seja um povo, seja um homem?

30.Para que o ímpio não reine, e não haja quem iluda o povo.

Diante desta descrição, Eliú entendeu ser uma ousadia inadmissível Jó querer contender com Deus, diante da superioridade e da soberania do Senhor (Jó 34:16-22), e entendia que, diante de Deus, ao contrário do que alegava Jó, o homem não terá qualquer chance num julgamento (Jó 34:23-32); esta visão de Eliú despreza a graça de Deus, e que não corresponde à realidade do caráter do Senhor, mas que, dentro da argumentação de Eliú, fica extremamente enfraquecida, já que Deus não é um ser distante e que não se importa com o homem. Não é sem razão que alguns comentadores bíblicos entendem que Eliú, ao tentar estabelecer um meio-termo entre as visões dos demais contendores, acaba produzindo um discurso incapaz de superar o impasse.

Dentro deste seu raciocínio, Eliú encerra o terceiro discurso dizendo que Jó, ao querer contender com Deus e a dizer que o Senhor se fez seu inimigo sem razão, cometeu um pecado além dos pecados pelos quais estava sofrendo: o pecado de se rebelar contra Deus. Por isso, diz Eliú, Jó deve ser, mesmo, provado até o fim, pois é um homem mau, pecador, pois se rebelou contra o Senhor (Jó 34:34-37). Todavia, bem sabemos que tais argumentos de Eliú não têm qualquer respaldo, pois, se é certo que Jó foi imprudente em amaldiçoar o dia de seu nascimento, como também em achar que Deus tornara-se seu inimigo, não é menos verdadeiro que era um homem inocente, sem culpa e, portanto, podia, sim, declarar-se inocente.

3. A defesa da soberania de Deus

Eliú encerrou o capítulo 34 mostrando a Jó que Deus, em sua soberania e livre vontade, não tem a obrigação de agir segundo o querer do homem. Disse Eliú:

“Acaso, deve ele recompensar-te segundo tu queres ou não queres? Acaso, deve ele dizer-te: Escolhe tu, e não eu; declara o que sabes, fala? (Jó 34:33).

A soberania de Deus é uma autoridade inquestionável que o Senhor detém sobre o Universo, pelo fato óbvio de que Ele é o Criador de todas as coisas (Is.44:6;45:6; Ap.11:17). Por ser soberano, Deus sabe o que é o bem e, por isso, como nenhum outro ser, tem condições de permitir, na vida dos homens, ocasiões e circunstâncias que, aparentemente más, contribuem para o bem dos indivíduos.

O Deus soberano jamais permitirá que soframos sem um santo propósito. Deus não desperdiça sofrimento na vida de seus filhos. Para cada lágrima que rola em nossa face, Deus tem um consolo; para cada prova, uma providência libertadora. Se as provações têm diferentes tonalidades para nos afligir, também a graça de Deus tem diferentes tons para nos consolar.

Embora Eliú não acreditasse, Jó tinha plena convicção de que Deus é soberano para tomar os filhos conforme o seu perfeito propósito. Não importa se os agentes que ceifam a vida dos filhos são perversos; só Deus tem o poder de dar a vida e de tirá-la. Até mesmo nas maiores tragédias é Deus quem está no controle. Até mesmo quando Satanás está agindo, é a mão da providência de Deus que está governando. Mesmo que a providência seja carrancuda, é a face benevolente de Deus que está voltada para nós. Os dramas da nossa vida não apanham Deus de surpresa nem desafiam sua providência. Mesmo quando cruzamos os vales mais escuros, é a mão de Deus que dirige o nosso destino.

 III. O SOFRIMENTO COMO UM INSTRUMENTO PEDAGÓGICO DE DEUS 

Trataremos aqui do quarto discurso de Eliú (Jó 36:1-33). Ele apresentou uma análise da suposta afirmação de Jó de que ele era mais justo do que Deus. Jó, efetivamente, não afirmara ser mais justo do que Deus, mas queria que Deus lhe explicasse porque estava sofrendo daquela maneira se era inocente. Mas, para Eliú, Jó estava querendo ser mais justo do que Deus e, para tanto, procurou demonstrar a grandeza de Deus em relação ao homem.

1. O caráter pedagógico do sofrimento (Jó 36:7-15)

No seu discurso, Eliú recrimina a visão deísta dos seus amigos, motivo por que também se dirige contra eles (Jó 35:4). Diz que Deus, embora seja superior ao homem e por isso Jó não poderia com Ele contender, nem por isso é um Deus distante ou inacessível, como defenderam Elifaz, Bildade e Zofar (Jó 35:5-16), mas um Deus participante, que não despreza o homem (Jó 36:5), um Deus que não é só um ser grande, mas que também tem um grande coração (Jó 36:5), um Deus que Se compadece dos justos e que ver tanto os ímpios quanto os justos (Jó 36:6-12). É um Deus participante, um Deus que fala, um Deus que se interessa pelo homem, mas, ainda, um Deus que fará bem aos que merecerem e mal aos que transgredirem. 

Deus, na visão de Eliú, é um Deus que livra o aflito da aflição (Jó 36:15), mas continua sendo um Deus que castiga inevitavelmente o ímpio e o hipócrita, inclusive fazendo-o morrer precocemente, ainda na mocidade (Jó 36:13-16). Apesar de vislumbrar compaixão, graça e amor em Deus, Eliú ainda não conseguia ver a possibilidade de um justo sofrer para seu aprimoramento espiritual e, portanto, entendia que Jó tinha sido orgulhoso, presunçoso e que, por isso, estava sofrendo (Jó 36:17-19). Para Eliú, antes de desejar a morte, Jó deveria arrepender-se para obter o favor de Deus, o qual não estava distante e que estava pronto a perdoar (Jó 36:20-33). 

Embora compreendesse que, durante sua provação, Jó se comportava de forma pecaminosa, Eliú introduziu a ideia de que o sofrimento tem um caráter pedagógico (Jó 36:15) - “Ao aflito livra da sua aflição e, na opressão, se revela aos seus ouvidos”. Nosso sofrimento é sempre pedagógico, tem sempre um fim proveitoso. Os justos aprendem com o sofrimento. Quando passamos pelo vale da dor, precisamos olhar para a majestade de Deus, e não para a profundidade das nossas feridas. Se olharmos para nós, entraremos em pânico; se olharmos para Deus, sentiremos paz no vale. Se observarmos os ventos contrários e o rugido da tempestade, naufragaremos; mas, se fixarmos os olhos em Cristo, caminharemos sobre as ondas revoltas.

2. Adorando a Deus na tormenta

“Eis que Deus é grande, e nós o não compreendemos, e o número dos seus anos não se pode calcular” (Jó 36:26).

Ao afirmar a Jó que não há como querer compreender a Deus (Jó 36:26), Eliú adiantou uma parte do discurso que o próprio Deus faria ao Se dirigir ao patriarca, pois, neste ponto, Eliú estava correto. Jó não deveria contender com Deus, mas submeter-se a Ele sem reclamações ou queixas, sabendo, por conhecê-lo bem, que aquilo era o melhor que lhe podia acontecer na sua vida de comunhão com Deus.

Num longo discurso, Eliú apresentou as maravilhosas obras de Deus em três estações do ano (outono - Jó 36:26-37:5; inverno - Jó 37:6-13; verão - Jó 37:14-22), a fim de demonstrar que Deus está muito acima da compreensão humana (Jó 37:23). Eliú investigou vários aspectos da natureza para demonstrar o poder, a sabedoria e a majestade de Deus. É impressionante sua descrição sobre as manifestações da natureza por meio de tempestades, neve, aguaceiro, ventos do Norte, frio e densas nuvens (cf. Jó 37:1-13).

Assim, dentro de sua sabedoria (cf. Jó 37:24), Eliú acabou por concluir que, mesmo crendo que Jó fosse um pecador, e por isso estava sofrendo, Deus era muito superior aos homens e, por isso, não deveriam estar discutindo ou contendendo com Deus acerca do que estava se passando. Somente Deus poderia discutir a questão e, como que aprovando esta conclusão do jovem e sábio Eliú, será o próprio Deus, em pessoa, que desatará a perplexidade e a incompreensão que toma conta dos debatedores, inclusive do patriarca Jó, interrompendo o debate. Portanto, a majestade e o poder de Deus excedem nossa frágil compreensão. Por isso, é melhor temer ao Senhor e nos sujeitarmos à sua disciplina. Como bem ensinou Eliú, a adoração e a murmuração não podem coexistir, são atitudes excludentes. Por isso, ele foi tão decisivo com Jó, que por um lado magnificava a majestade de Deus, mas por outro murmurava contra Ele.

Nesse seu discurso final, Eliú ensinou que Deus tem interesse no homem e, por isso, para seu aprimoramento, prova-nos e permite o nosso sofrimento, sofrimento esse que não vem apenas como punição, mas também como disciplina, como fonte de aperfeiçoamento; logo, não devemos deixar de adorá-lo na tormenta; esta é uma das principais lições do discurso de Eliú.

Eliú termina seu discurso propondo um apelo direto: “Inclina, Jó, os ouvidos a isso, para e considera as maravilhas de Deus” (Jó 37:14). Em seguida, prossegue desafiando o conhecimento de Jó sobre a natureza: o equilíbrio das nuvens e como as vestes o aquecem quando sopra o vento sul (Jó 37:16,17). Trata-se de perguntas semelhantes aos questionamentos muito mais desafiadores que o próprio Criador apresentará a Jó nos próximos capítulos do Livro - Jó 38:1 – 42:2.

CONCLUSÃO

O Senhor conduziu Jó através das mais difíceis e inimagináveis provas, a fim de que ele viesse a tornar-se um instrumento ainda mais valioso e útil para Ele. Deus educava Jó por intermédio do sofrimento, e o mesmo pode acontecer conosco. Assim como ocorreu com Jó, o sofrimento na vida do cristão deve ser interpretado como um meio pedagógico - ele serve para esmagar a soberba humana, polir o caráter do crente, prover crescimento e maturidade espiritual. Não por acaso o apóstolo Paulo pôde dizer: "Sei estar abatido e sei também ter abundância; em toda a maneira e em todas as coisas, estou instruído, tanto a ter fartura como a ter fome, tanto a ter abundância como a padecer necessidade. Posso todas as coisas naquele que me fortalece" (Fp.4:12,13). Esse é o caminho que o Senhor nosso Deus quer que atinjamos: ser experimentados, amadurecidos e experientes. Que ouçamos a voz de Deus no sofrimento; então, poderemos dizer com convicção: "Posso tudo naquele que me fortalece".