Leitura Bíblica: Fp. 4.4 – Texto Áureo: Jo. 16.20-24D
INTRODUÇÃO
Uma das principais buscas da humanidade é a felicidade, os gurus da contemporaneidade a vendem, em seus frascos vencidos. Na lição de hoje aprenderemos que o Senhor nos garante alegria, que não deve ser confundida com aquela, que costuma depender das circunstâncias. Veremos que no contexto da modernidade é improvável que se possa ser feliz, sobretudo porque o sentimento de inveja corrói qualquer possibilidade de satisfação. Por isso, no final da lição, ressaltaremos que somente poderemos viver alegre trilharmos o caminho do contentamento.
1. CONTRA A INVEJA CARNAL
A inveja, na teologia paulina, é uma obra da carne que caracteriza o mundo pagão, distanciado de Deus (Rm. 1.29). A palavra grega é phtonos, e esta ocorre inclusive no contexto religioso, pois não poucos os que pregam a Cristo por inveja (Fp. 1.15), a fim de tirarem proveito do evangelho. Há outra palavra grega com a mesma perspectiva, trata-se de zelos que tanto tem uma conotação positiva quanto negativa. Em relação a esse último diz respeito à inveja que destrói os relacionamentos. A esse respeito Elifaz declara a Jó que “a ira do louco o destrói, e a inveja do tolo o mata” (Jó. 5.2). Nas epístolas paulinas, de maneira negativa, está relacionado aos ciúmes carnais (I Co. 3.3). Essa mesma palavra aparece em Gl. 5.20, e pode muito bem ser traduzida na contemporaneidade por ressentimento, ou em percepção mais psicanalítica, como recalque. Isso porque o que caracteriza essa inveja é o sentimento de amargura, fundamentado na irrealização, principalmente do desejo contido (Tg. 3.14-16). Esse sentimento pode ser difundido no meio eclesiástico, quando as pessoas ressentidas prejudicam os outros, a fim de se sobressaírem. Paulo mostrou esse sentimento doentio quando se tornou cúmplice ao perseguir os cristãos (Fp. 3.6). Os judaizantes agiram do mesmo modo quando quiseram justificar suas práticas legalistas (Rm. 10.1-3). Com base nesse ciúme invejoso, o Sumo Sacerdote decidiu decretar a prisão dos apóstolos (At. 5.17-18). Essa é uma obra bastante comum em igrejas carnais, que pode ser exemplificada pela de Corinto nos tempos de Paulo (I Co. 3.3). A expectativa do Apóstolo, em II Co. 12.12, era a de não encontrar mais esse tipo de pecado na igreja. Isso somente se torna possível na medida em que cultivamos o fruto do Espírito, desenvolvendo uma vida alegre no Espírito.
2. A ALEGRIA QUE VEM DO SENHOR
A alegria, que é uma virtude do fruto do Espírito, não pode ser confundida com felicidade. Deus não nos chamou para sermos felizes, mas para viver alegres. Essa alegria não depende das circunstâncias, está fundamentada no Senhor. A palavra grega para essa alegria é chara, que está associada a charis, que é a graça de Deus. A fonte dessa alegria, portanto, é o próprio Deus, pois dEle ela procede (Fp. 4.4). Paulo se referiu várias vezes a essa chara em sua Epístola aos Filipenses, que por sinal é considerada a Carta da Alegria (Fp. 4.11,12). Essa é produzida pelo Espírito Santo na vida do crente (I Ts. 1.6), por isso é um gozo inefável e glorioso (I Pe. 1.8). Essa alegria está fundamentada na salvação que recebemos gratuitamente de Deus (Lc. 2.10,11). O simples fato de estamos na presença de Deus é fonte de alegria (Sl. 16.11), fazendo com que estejamos sempre alegres (Sl. 126.3). Mesmo diante das tribulações, não desvanecemos, pois temos esperança na redenção que se aproxima (Rm. 12.12). Nos alegramos até mesmo no fato de sermos participantes das aflições de Cristo (I Pe. 4.13). Sabemos inclusive que as aflições do tempo presente não se comparam com a glória que em nós há de ser revelada (Rm. 8.18). Mas essa alegria deve ser concretizada em ações, e uma delas é o ato de dar (At. 20.35; II Co. 9.7,10). Enquanto o mundo desanima, especialmente diante das adversidades, o crente se regozija no Senhor. Por causa dessa alegria espiritual seu rosto está sempre radiante (Pv. 15.13). Independentemente das circunstâncias, aquele cuja confiança está em Deus tem sempre um cântico nos lábios (Sl. 149.1-5). É essa alegria que dar força para o fiel seguir adiante, mesmo que as situações não sejam favoráveis (Ne. 8.10).
3. CULTIVE O CONTENTAMENTO
Os cristãos precisam fugir desse modelo mundano, que alimenta a ganância, e naturaliza a inveja. Para tanto devem saber que “é grande ganho a piedade com contentamento” (I Tm. 6.6). Por isso, devemos aprender a cultivar a satisfação, saber distinguir o que é necessário do supérfluo. De modo que, conforme instrui o autor da Epístola aos Hebreus, nossos costumes devem ser sem avareza, contentando-nos com o que temos (Hb. 13.5). Essa é uma prática que se concretiza ao longo da experiência com Deus, cultivando o fruto do Espírito, aprendendo a ser dependente, sabendo que Ele provê “o pão nosso de cada dia” (Mt. 6.11). Na escola de Cristo, aprendemos, como fez Paulo, a estar contente com o que se tem, saber estar abatido pela privação, e se for o caso, a ter em abundância (Fp. 4.11-13). Por deixarem de cultivar essa virtude do Espírito, muitos cristãos estão dobrados diante de Mamom (Mt. 6.24). Ao invés de investir neste mundo tenebroso, cuja riqueza perece e causa ansiedade (Mt. 6.19-21), busquemos primeiro o Reino de Deus, e o necessário nos será dado (Mt. 6. 33). O texto, no seu devido contexto, nos diz que “estas coisas”, isto é, alimentação e vestimenta, não “todas as coisas”, como apregoa a teologia da ganância. Tenhamos cuidado para não dar primazia ao dinheiro em nossas vidas, pois a esse respeito alertou o Apóstolo que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males (I Tm. 6.10). Uma vida cristã sadia não está pautada na inveja, na insatisfação defendida pela sociedade, mas na alegria que vem do Senhor, reconhecendo que Ele nos dá muito mais do que merecemos.
CONCLUSÃO
A inveja é um sentimento adoecedor, que gera rivalidades e prejudica os relacionamentos (Pv. 14.30). Existem várias pessoas enfermas, inclusive no contexto eclesiástico, que não conseguem encontrar satisfação. A fim de nos opor a esse sentimento degenerador, devemos cultivar a alegria do Senhor, que é fonte de grande contentamento. A piedade deve ser o “capital” espiritual que devemos desejar, e buscar viver mais para os outros, e menos para nós mesmos. Somente assim desfrutaremos da alegria que vem do Senhor, e nos dar força para seguir adiante (Ne. 8.10).
BIBLIOGRAFIA
FILHO, J. M. Vivendo a excelência: o cultivo do fruto do Espírito. Londrina: Descoberta, 2007.
OLIVEIRA, F. T. As obras da carne e o fruto do Espírito. São Paulo: Reflexão, 2016.