Textos: Rm. 9.5 – Rm. 1.1-7; Fp. 2.7
OBJETIVO: Mostrar que Cristo reúne, em si mesmo, tanto a natureza humana quanto à divina, mesmo após a encarnação.
INTRODUÇÃO: Jesus é tanto homem quanto Deus. Por isso, costuma-se dizer que Ele é Deus-Homem. Ao longo dos séculos, surgiram alguns equívocos a respeito da natureza humano-divina de Cristo. No estudo desta semana, abordaremos alguns desses equívocos, mostrando o ensinamento bíblico a respeito, e, por fim, faremos uma análise preliminar da doutrina kenótica do ponto de vista bíblico.
1. EQUÍVOCOS CRISTÓLOGICOS
1.1 Gnosticismo – Escola teológica que surgiu nos primórdios do cristianismo, que se opunha à doutrina dos apóstolos. Seus adeptos, devidos às influências filosóficas platônicas (Cl. 2.8), ostentavam ter um conhecimento perfeito de Deus. Consideravam a matéria como algo inerentemente mau, por isso, diziam que a humanidade de Cristo teria sido aparente, isto é, Ele não teria, de fato, se feito carne. O apóstolo João se opôs frontalmente a essa doutrina (Jo. 1.11;14; I Jo. 1.1).
1.2 Apolinarismo – de acordo com Apolinário, bispo de Laodicéia do Século IV, Cristo não teria assumido por completo a humanidade. Nessa perspectiva, a encarnação se limitaria à indução do Logos a ocupar o lugar da psique humana. Jesus seria, por conseguinte, metade Deus e metade Homem. Os ensino desse bispo foram rechaçados, pela Igreja, no Concílio de Constantinopla, em 381 d. C. Isso porque a Bíblia revela que Jesus é verdadeiramente homem (I Tm. 2.5), a semelhança de qualquer outro homem, mas sem pecado (Hb. 2.14-18; 4.15).
1.3 Monofisismo – doutrina que surgiu no Século V e defendia que Cristo teria apenas uma natureza, a divina; ou, então, uma única natureza composta, sem qualquer distinção entre o divino e o humano. Para seus adeptos, Ele teria absorvido a natureza humana fazendo-a tornar-se divina, assim sendo, o Logos teria se feito carne em Jesus, e, portanto, a carne de Jesus teria se tornado sua própria natureza divina. Não é possível estabelecer um paradigma preciso do Monofisismo porque ele assume formulações e implicações distintas. A Bíblia revela que, em Cristo, estão duas naturezas: divina e humana, distintas, e, ao mesmo tempo, integradas (Rm. 9.5).
2. JESUS CRISTO: DEUS-HOMEM: Como homem, Jesus nasceu da descendência de Davi, segundo a carne (Rm. 1.3), seguindo a linhagem desse rei de Israel (Sl. 22.22; Fp. 2.6-11; I Tm. 2.5; II Tm. 2.8). Uma das provas contundentes da humanidade de Jesus é a apresentação de sua genealogia, remetendo a Abraão, em Mt. 1.1-17, e Adão, em Lc. 3.2-28. Jesus nasceu de uma mulher (Mt. 1.18,20; Lc. 1.35), teve irmãos e irmãs (Mt. 12.47; 13.55-56), sentiu sono, fome, sede e cansaço (Mt. 21.18; Mc. 4.38; Jo. 46; 19.28), sofreu, chorou, angustiou-se (Mt. 26.37; Lc. 19.41; Hb. 13.12) e, finalmente, passou pela morte (Mc. 15.37; Lc. 23.46). Como Deus, Ele é o Verbo que se fez carne (Jo. 1.1), um com o Pai (Jo. 10.30-36), tendo os atributos de onipresença, onipotência, onisciência (Mt. 18.20; 28.18; Jo. 21.17; Hb. 13.8). Ele mostrou ter poder sobre a natureza (Lc. 24.19; At. 2.22), perdoou pecados (Lc. 5.21,24), recebeu adoração (Mt. 8.2; 9.18; Jo. 9.38). Uma das provas contundentes de sua divindade é a declaração, dEle mesmo, dizendo ser O “Eu Sou” (Ex. 3.14; Jo. 8.58).
3. A KENÓSIS BÍBLICA: O verbo “kenoo”, no grego, significa “esvaziar” ou “aniquilar”, e, em Fp. 2.7, Paulo se utiliza desse para falar a respeito da condição de Cristo quando se encarnou. Temos, aqui, um esclarecimento desse mistério, pois Jesus, sendo Deus, não poderia se desfazer de sua natureza divina, por conseguinte, Ele não deixou de ser Deus, antes “tomou” a natureza de servo. Isso poderia ser ilustrado por meio da metáfora de um rei que resolve viver entre os plebeus, e, para tanto, deixa de lado a sua glória, ainda que não perca, com essa decisão, a condição de rei. De igual modo, Jesus teria deixado a Sua glória celestial (Jo. 17.4), posição (Jo. 5.30; Hb. 5.8), riquezas (II Co. 8.9) e direitos (Jo. 5.19; 8.28; 14.10). Essa renúncia teve como objetivo a salvação da humanidade. Cristo tomou, para si, uma natureza humana com suas tentações, humilhações e fraquezas, porém, sem pecado (Hb. 4.15). A abdicação dessas prerrogativas divinas levou-O a depender do Espírito Santo para cumprir Suas responsabilidades (Mt. 12.28; Lc. 4.18; At. 10.38; Rm. 8.11; Hb. 9.14).
CONCLUSÃO: A completa divindade e humanidade de Cristo foi objeto de muitas controvérsias ao longo da história da igreja. A motivação para os equívocos, alguns ainda defendidos nos círculos religiosos nos dias atuais, é a dificuldade para a apropriada interpretação desse tema bíblico. Certamente, por isso, bem disse Paulo, em I Tm. 3.16: “grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória”. Por se tratar de um mistério, não tenhamos a pretensão, sob qualquer hipótese, de querer exaurir, por meio da razão humana, uma doutrina que precisa ser, prioritariamente, abraçada pela fé, por se tratar de algo que nos fora revelada, mas não, explicitamente, explicado. PENSE NISSO!