LEITURA BÍBLICA
Eclesiastes 5.1-5.
1 - Guarda o
teu pé, quando entrares na Casa de Deus; e inclina-te mais a ouvir do que a
oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal.
2 - Não te
precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra
alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu estás sobre a terra;
pelo que sejam poucas as tuas palavras.
3 - Porque da
muita ocupação vêm os sonhos, e a voz do tolo, da multidão das palavras.
4 - Quando a
Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de
tolos; o que votares, paga-o.
5 - Melhor é
que não votes do que votes e não pagues.
BREVE EXPLICAÇÃO PARA TRANSCENDÊNCIA E A IMANÊNCIA
TRANSCENDÊNCIA
[Do lat. transcendentia] O que ultrapassa
o conhecimento comum, e vai além da experiência meramente humana. A
transcendência é um dos atributos naturais de Deus.
IMANÊNCIA
[Do lat. immanentia] Qualidade do que
está em si mesmo, não transita a outrem. É o oposto de transcendência. Embora
seja Deus transcendente, não se encontra à parte de sua criação; acha-se
presente nesta através dos atributos de sua imanência: onipresença, onisciência
e onipotência; e por intermédio de seus atributos morais.
A imanência corrobora com a intervenção divina na criação. Seres
humanos, a natureza e tudo o que há no mundo pertencem ao nosso Deus.
Entretanto, a Sua transcendência não permite que Ele mesmo se confunda com sua
criação. O nosso Pai não é a natureza; não é o homem; nem, muito menos, o
animal. O nosso Deus é o Criador de tudo! E Ele se relaciona com a sua criação.
INTRODUÇÃO
Palavra Chave
Obrigação: Ação de
obrigar; fato de estar obrigado a fazer uma ação.
Na lição anterior, vimos que o pregador tratou sobre as coisas que
acontecem “debaixo do sol” (Ec 1 — 4). Ele demonstrou que o conhecimento sem o
temor de Deus não é sabedoria, mas loucura. Demonstrou ainda que a busca
desenfreada pelo prazer é correr “atrás do vento” e que a aquisição de bens
materiais não pode fazer de nós pessoas felizes. E, por último, ensinou que o
trabalho, sem a visão objetiva de Deus transforma-se em mero ativismo.
A partir do capítulo cinco, porém, Salomão versa sobre o estilo de vida
do adorador consciente dos seus direitos e obrigações diante de Deus. Esse
assunto é o que, à luz dos atributos divinos revelados nas Escrituras Sagradas
— santidade, transcendência e imanência —, buscaremos compreender. Nesta lição,
veremos que as nossas obrigações não se limitam ao “mundo
eclesiástico-religioso”, mas também ao universo que Deus criou.
I. OBRIGAÇÕES E
DEVOÇÃO
1. Obrigações de natureza político-social. Há um ditado
popular que diz: “Primeiro a obrigação, depois a devoção”. Aqui, há um dualismo
que separa a obrigação (vida social) da devoção (vida espiritual), como se
ambas fossem duas dimensões distintas. Tal máxima não é bíblica, pois o livro
de Eclesiastes denota uma perspectiva completamente oposta (Ec 8.2). As
Escrituras orientam-nos a priorizar o Reino de Deus sem perder de vista a
dimensão material em que estamos inseridos (Mt 6.33; 22.21).
Vivemos em um mundo em que há autoridades constituídas e onde,
consequentemente, direitos e deveres são estabelecidos. Somos cidadãos e possuímos
direitos e deveres para com o Estado. Pagamos os impostos, podemos votar e
receber votos. Enfim, não podemos eximir-nos das nossas obrigações para com a
nação. A nossa consciência cívica deve ter como base a Bíblia Sagrada.
2. Obrigações de natureza religiosa. Além da nossa obrigação
político-social, de natureza cível, há também a de natureza religiosa ou
espiritual. Elas acontecem na dimensão do culto, da adoração.
A palavra hebraica shachar mantém o sentido de
“prostrar-se com deferência diante de um superior” (Gn 22.5; Êx 20.5). É com
esse entendimento que Salomão fala da casa de Deus como o local de adoração (Ec
5.1). Construtor do grande templo, ele sabia que essa casa tinha como objetivos
centralizar o culto, a fim de assegurar os elementos mais sublimes de sua
liturgia: a adoração verdadeira a Deus e a unidade dos adoradores num único
povo.
II. OBRIGAÇÕES ANTE A
SANTIDADE DE DEUS
1. Reverência. Todo culto tem uma liturgia, e não há nada de errado nisso. A
palavra liturgia está associada ao culto da Igreja Primitiva.
Quando em Antioquia houve uma escolha e separação de obreiros para a obra
missionária (At 13.2), Lucas registra o fato utilizando a palavra grega leitourgeo para designar
serviço, e dessa palavra vem o vocábulo português liturgia. Esta
também faz parte da adoração a Deus.
Salomão sabia disso e advertiu-nos quanto ao cuidado que devemos ter
quando entrarmos na casa de Deus (Ec 5.1). Desligue o celular, não masque
chiclete, seja reverente! Seja um verdadeiro adorador!
2. Obediência. Obedecer a um conjunto de normas e regras sem atentar para os princípios
que o fundamentam é puro legalismo. Não vale a pena observar o preceito sem
atentar para o princípio existente por trás dele. O livro de Eclesiastes
demonstra isso com clareza (Ec 5.1), pois Deus não se interessa na observância
do sacrifício em si, e sim na obediência aos princípios que regulamentam a sua
prática. Foi exatamente isso que o profeta Samuel ensinou a Saul (1Sm 15.22).
III. OBRIGAÇÕES FRENTE
À TRANSCENDÊNCIA DE DEUS
1. Deus, o criador. Todas as religiões possuem a noção do sagrado
e demonstram respeito por ele. No cristianismo, como no judaísmo, a consciência
do sagrado revela-se na manifestação do Deus verdadeiro, que ao longo da
história deu-se a conhecer ao homem. O Deus Criador se distingue da própria
criação (Dt 4.15-20). A teologia bíblica denomina essa doutrina de “a
transcendência de Deus”. Deus está além de suas criaturas, como afirma o
Eclesiastes: “Deus está nos céus, e tu estás sobre a terra” (Ec 5.2b). Ele pode
humanizar-se, como já o fez (Jo 1.14), mas o homem não pode tornar-se divino.
Quem procurou ser igual a Deus foi expulso do céu (Ez 28.1,2; Is 14.12-15).
2. Homem, a criatura. O homem foi criado por Deus
como a coroa da criação. Ele não surgiu do acaso nem de uma mistura acidental
de elementos naturais. E a nós Deus se revelou, manifestou seus atributos,
vontades e apesar de estarmos condenados à morte eterna, Deus proporcionou em
Jesus Cristo a salvação que nos era necessária para que passássemos a
eternidade futura com o nosso Criador e Redentor.
IV. OBRIGAÇÕES DIANTE
DA IMANÊNCIA DE DEUS
1. Deus está próximo. O atributo da imanência divina
revela-nos um Deus que se relaciona com a sua criação. Isto significa que o Pai
Celeste não é um Deus distante que, após criar o mundo, ausentou-se dele! Pelo
contrário, Ele é um Deus presente, participa da sua criação e nela intervém.
O capítulo cinco de Eclesiastes narra Salomão falando do culto a Deus e
como o Senhor identifica-se com o homem que lhe oferece adoração, seja
aprovando-o ou reprovando-o (Ec 5.4b). Essa mesma verdade é confirmada em o
Novo Testamento (2Co 6.16). A proximidade de Deus com o homem deve fazer-nos
melhores crentes e pessoas.
2. O valor das orações e votos. Deus não apenas se faz
presente, mas também prometeu abençoar os seus filhos, atendendo nossas orações
e súplicas. Isso acontecerá quando orarmos de acordo com sua vontade (Jr
29.12,13; Jo 14.13,14).
Cientes dessa verdade, os judeus não somente oravam a Deus, como também
se empenhavam com votos (Nm 30.3-16; Dt 23.21-23). Não há dúvidas de que o
livro de Eclesiastes tem em mente essas passagens bíblicas, quando adverte
sobre a seriedade do voto (Ec 5.4). Em o Novo Testamento, não encontramos um
preceito específico concernente a essa prática, mas o seu princípio permanece
válido, pois o cumprimento de um voto, ou de um propósito diante de Deus, é
algo que ultrapassa gerações.
CONCLUSÃO
Nesta lição, abordamos as palavras de Salomão no contexto da adoração
bíblica. Conscientizamo-nos de que não há adoração verdadeira que não leve em
conta as obrigações diante de Deus e dos homens. Se quisermos viver uma vida
espiritual plena devemos ter em mente as implicações que a acompanham. De nada
adianta termos templos suntuosos, pregadores eloquentes e cantores famosos se
não estamos cumprindo as obrigações que uma verdadeira adoração requer.