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ETICA CRISTÃ E IDEOLOGIA DE GÊNERO

Texto Áureo: Gn. 2.17 – Texto Bíblico: Is. 5.18-24


INTRODUÇÃO
Nesses últimos anos, o embate se acirrou entre evangélicos e ativistas homossexuais, tal confronto tem resultado em excessos de ambos os lados. A fim de tentar moderar esse conflito, discutiremos a respeito do assunto, evitando os extremos comuns nessa disputa ideológica. Inicialmente, discorreremos sobre o gênero, e suas ideologias; em seguida, refletiremos sobre o drama daqueles que lutam contra a homossexualidade, especialmente seus familiares; e ao final, destacaremos a importância de demonstrar amor, ao invés de ódio pelos homossexuais.

1. O GÊNERO E AS IDEOLOGIAS
O conceito de gênero é bastante complexo, e é percebido de maneira diferente no contexto das ciências sociais. Para tratar sobre a categoria de gênero, faz-se necessário contextualizar, para melhor orientar a discussão. O gênero pode ser gramatical, biológico e/ou sociológico. O gênero gramatical diz respeito à flexão dos substantivos, se esses são masculino, feminino, em algumas línguas, neutro. Biologicamente, o gênero pode ser masculino ou feminino, determinado pelo órgão sexual, sendo macho ou fêmea. O gênero sociológico está relacionado à identificação, ou seja, a como as pessoas se veem e são percebidas pelos outros. A religiosidade judaico-cristã assume que o gênero é biológico-sociológico, e não concorda com aqueles que defendem um contínuo diversificado do gênero sociológico. É preciso considerar que ambas as posições têm algum fundamento, pois inicialmente Deus criou homem e mulher, o plano original no Gênesis é o da heterossexualidade. No entanto, por causa da queda, relatada em Gn. 3, a sexualidade humana, independentemente do sexo biológico, foi afetada resultando em pecado, tanto entre os homossexuais quanto heterossexuais. Os cristãos se contrapõem à defesa sociológica pela diversidade sexual denominando-a de “ideologia de gênero”. Essa opção semântica tem suas limitações, tendo em vista que ideologia é qualquer posicionamento a respeito de um assunto. Por conseguinte, a defesa dos cristãos também pode ser classificada, na perspectiva dos homossexuais, como uma “ideologia judaico-cristã”.

2. IDEOLOGIAS: CONFLITOS E EQUÍVOCOS
A pauta ideológica em defesa das questões de gênero tornou-se um ponto central nos movimentos sociais mais à esquerda no Brasil. É bem verdade que essa proposta tem forte influência marxista, por outro lado, não deve servir a generalizações. Nem todos aqueles que se alinham mais à esquerda são defensores da denominada “ideologia de gênero”. Nem todos aqueles que defendem a justiça social, e se alinham ao socialismo, são “esquerdopatas”. Existem cristãos sinceros, que inclusive leem Karl Marx, e conseguem extrair pontos positivos da sua teoria. Não podemos negar, a esse respeito, que o capitalismo selvagem também é outro extremo, e não cumpre o que promete, pois nem sempre os que mais lucram dividem suas riquezas com os que nada têm. O capitalismo teórico foi projetado no contexto do iluminismo de Adam Smith, e concebia um ser humano “iluminado”, capaz de lucrar e dividir com o próximo. O plano, porém, se frustrou, por desconsiderar a realidade do pecado, e a ganância do homem caído. Por isso, como cristãos, não podemos nos identificar nem como de Direita, e muito menos de Esquerda, antes de CIMA, pois somos cidadãos dos céus (Fp. 3.20). Podemos e devemos participar das decisões políticas, mas com bom senso, visando o bem-comum da polis, sem agressões e desrespeitos. Nosso posicionamento está fundamentado na Palavra de Deus, no ápice da revelação que nos chegou através de Cristo (Jo. 1.1; Hb.1.1). Todas as ideologias humanas devem ser avaliadas pelo crivo da Palavra, e essa deve ser interpretada apropriadamente, respeitando os princípios hermenêuticos, apelando sempre ao contexto. Ao mesmo tempo, é preciso ter cuidado para não ser agressivo, principalmente no tratamento apologético, e lembrar que também devemos pastorear, sobretudo os familiares daqueles que lidam com o drama de entes que se identificam com a homossexualidade. Os pais devem ser pacientes, e amarem seus filhos, mesmo que esses deixem de professar a fé cristã, se quiserem ter alguma chance de ganhá-los para Cristo.

3. UM CAMINHO EXCELENTE
Os homossexuais, que não professam a fé cristã, podem buscar seus direitos civis, desde que respeitem e sejam tolerantes também com a visão bíblica. Há um conflito de posicionamentos tanto de um lado quanto do outro. Os cristãos querem privar os homossexuais dos seus direitos civis, e os homossexuais querem que os cristãos deixem de professar sua fé. O respeito é fundamental para o convívio, se possível, pacífico entre cristãos e homossexuais. Aqueles têm o direito de se posicionarem dentro da esfera da fé, e com base em várias passagens bíblicas, que a prática homossexual é pecaminosa. Os homossexuais, por sua vez, precisam ponderar a respeito da compreensão cristã da família. Ao Estado, por meio da sua difusão cultural, inclusive educacional, compete orientar ao respeito, e a liberdade de pensamento, sem fazer apologia a qualquer um dos lados, pautado no princípio da laicidade. Os evangélicos precisam ponderar mais no que tange à interpretação de algumas passagens bíblicas, que são abordadas de maneira descontextualizada, incitando ao ódio, e em alguns casos, à homofobia. O texto de Rm. 1.25-32, por exemplo, é uma constatação paulina de que Deus entregou o homem caído à dissolução, não um mandato para os cristãos se envolverem em uma disputa cultural. Jesus não fez alusão direta à homossexualidade, e quando o fez indiretamente, ressaltou que alguns nasceram eunucos, outros assim se fizeram por causa do reino de Deus (Mt. 19.12). Portanto, nem todos aqueles que têm traços homossexuais o são, alguns foram influenciados pelo contexto no qual foram criados. Outros têm a tendência, mas não a praticam, preferem se dedicar à fé. A igreja precisa buscar sabedoria do alto para tratar cada caso, demonstrando amor tanto pelos de dentro quanto pelos de fora.

CONCLUSÃO
Se não ganharmos os homossexuais por amor, dificilmente o faremos por meio da agressão. Há líderes televisivos, alguns deles por interesse político, que estão incitando a guerra entre homossexuais e cristãos. Devemos ponderar a respeito, e evitar excessos nessas discussões, respondendo sempre "com mansidão" a razão da nossa fé (I Pe. 3.15) . O desvio dos padrões bíblicos é o cumprimento dos últimos dias da igreja (II Tm. 3.1-5), mas não compete a esta legislar sobre os padrões do mundo, considerando que esse jaz no maligno (I Jo. 5.19). Devemos pregar a boa nova de Jesus Cristo, e dar o exemplo em amor, principalmente no casamento, como foi no princípio: heterossexual, monogâmico e indissolúvel (Gn. 1.27; Mt. 19.3-9).

BIBLIOGRAFIA
CÉZAR, M. C. Entre a cruz e o arco-íris: a complexa relação dos cristãos com a homoafetividade. Belo Horizonte: Gutenberg, 2013.
MOURA, L. Cristão homoafetivo? Um olhar amoroso à luz da Bíblia. São Paulo: Mundo Cristão, 2017.