“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”(1Ts.5:23).
Genesis 1:
26.E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra.
27.E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou.
28.E Deus os abençoou e Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.
Genesis 2:
7.E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos da natureza do ser humano, um ser impressionantemente complexo, e essa complexidade passa pela materialidade e imaterialidade da pessoa que se revelam na constituição do corpo, da alma e do espírito. Com a alma amamos a Deus e ao próximo; com o corpo servimos a Deus; e com o espirito (na ajuda do Espirito Santo) adoramos e buscamos a Deus. O Espirito Santo testifica com nosso espirito que somos filhos de Deus (Rm.8:16), e alegra a nossa alma para glorificarmos e sermos agradecidos a Deus (Lc.1:46,47).
O ser humano, um ser pessoal, à semelhança de Deus, tem inteligência, vontade e emoções; tal condição lhe distingue dos animais. Enquanto estes apenas agem por instinto, conforme o que Deus programou para eles, aquele tem autoconhecimento e autodeterminação, por ter pessoalidade; e como tal, possui o que o irracional não tem: intelecto, consciência, vontade e emoções. O ser humano discerne, imagina, projeta, cria, inventa e produz coisas; o animal apenas repete o que lhe instiga a natureza. Além disso, o ser humano interage com Deus, conversa com Deus, adora a Deus de forma consciente e deliberada, pois nele há o elemento que se comunica com Deus: o espírito, elemento este que os animais não possuem.
I. A COMPLEXIDADE DO SER HUMANO
Desde a criação, o ser humano não é um aglomerado de células, como dizem os cientistas ateus e materialistas; é um ser completo, composto de corpo, alma e espírito. Deus fez o homem à Sua imagem, conforme a sua semelhança (Gn.1:26). Deus é triúno e o ser humano é tricotômico.
“Disse, então, Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador” (Lc.1:47,47).
“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5:23).
“Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hb.4:12).
1. A natureza de Deus
A natureza de Deus é identificada com mais frequência pelos atributos que não possuem nada em comum com a natureza do ser humano. Ele existe por si mesmo, não dependendo de outro ser. Ele é a fonte de origem de tudo, tanto em criar, como também em sustentar a criação.
· Deus é Espírito (João 4:24). Um espírito é uma substância imaterial, invisível e indestrutível. Ele não está confinado à existência material, e é imperceptível ao olho físico. Jesus disse que “espírito não tem carne nem ossos” (Lc.24:39).
· Deus é Eterno. Ele não é limitado ao tempo. Passado, presente e futuro é a mesma coisa para Ele. A Bíblia o apresenta com o qualificativo “eterno” – que existe desde a eternidade. A eternidade denota que Deus é livre de toda a distinção temporal de passado e de futuro. Ele não teve um começo nem terá fim em seu ilimitado Ser. Ele existe desde “antes dos tempos dos séculos” (Tt.1:2). Isto está muito claro na expressão “EU SOU O QUE SOU” (Êx.3:14). Esta expressão fala tanto da autossuficiência como da auto-existência divina. Expressou o salmista: “O teu trono está firme desde então; tu és desde a eternidade” (Sl.93:2); “Mas tu és o mesmo, e os teus anos nunca terão fim” (Sl.102:27).
· Deus é Onipotente. Ele é poderoso para fazer tudo que esteja de acordo coma sua natureza e seus propósitos. A onipotência de Deus ensina-nos que Ele tem todo o poder (Sl.62:11), ou seja, não existe ser mais poderoso do que Ele. Daí porque o Senhor afirmou através do profeta Isaias: “operando eu, quem impedirá?” (Is.43:13). O apóstolo Paulo verificando esta verdade indagou: “Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm.8:31), e o apóstolo João ressaltou: “Filhinhos, sois de Deus e já os tendes vencido, porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo” (1João 4:4). Disse o anjo a Maria: “Porque para Deus nada é impossível” (Lc.1:37).
· Deus é Onipresente. O espaço não pode limitá-lo, pois Ele está em todo lugar ao mesmo tempo (Jr.23:24). Esta presença de Deus é total, pois Ele enche os céus e a terra. Na verdade, como afirmou Salomão na oração que fez por ocasião da dedicação do templo, nem mesmo os céus e a terra O podem conter (1Rs.8:27).
-“Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? Diz o SENHOR. Porventura, não encho eu os céus e a terra? Diz o SENHOR” (Jr.23:24).
-“E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar” (Hb.4:13).
· Deus é Onisciente. Ele conhece todas as coisas passadas, presentes e futuras, sendo capaz de saber até o que pensamos (Sl.139:2; 1Co.3:20). A Onisciência de Deus excede todo o entendimento humano; é um desafio à nossa compreensão, mas é também uma realidade revelada.
-“Sabendo que, se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração e conhece todas as coisas” (1João 3:20).
-“SENHOR, tu me sondaste e me conheces. Tu conheces o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma palavra na minha língua, eis que, ó SENHOR, tudo conheces. Tu me cercaste em volta e puseste sobre mim a tua mão. Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta, que não a posso atingir. Para onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei da tua face?” (Sl.139:1-7).
-“Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe, e no teu livro todas estas coisas foram escritas, as quais iam sendo dia a dia formadas, quando nem ainda uma delas havia” (Sl.139:16).
2. A natureza dos anjos
Os anjos são criaturas espirituais e invisíveis aos seres humanos. Eles são sobrenaturais e, como os humanos, possuem natureza racional.
a) São criaturas de Deus. Os anjos são, assim como os homens, criaturas de Deus. Em Cl.1:16 está escrito que Deus foi o criador dos anjos, de forma que os anjos são criaturas, ou seja, seres inferiores a Deus, embora sejam superiores aos homens. Isto é muito importante, pois não temos como confundir os anjos com o próprio Deus, nem podemos atribuir a anjos quaisquer atributos divinos, pois Deus é o Criador, enquanto os anjos são apenas criaturas. É impossível fixar o tempo em que foram criados os anjos, mas a resposta de Deus a Jó declara que eles foram criados antes de todas as outras coisas (Jó 38:4,7).
b) São seres espirituais. A Bíblia mostra-nos que os anjos são seres espirituais, ou seja, ao contrário do homem que é formado de uma parte material (corpo) e de outra parte imaterial (alma e espírito), os anjos são puro espírito. O escritor da Epístola aos hebreus diz que os anjos são “espíritos ministradores enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação (Hb.1:14). Por serem espirituais, os anjos não estão sujeitos às leis da física e é por isso que os vemos, ao longo do texto bíblico, imunes às leis da física, podendo aparecer e desaparecer (Jz.6:21; Lc.1:11; 2:13); contrariar a lei da gravidade (Jz.13:20); ter poder de ferir milhares de pessoas ao mesmo tempo (2Sm.24:16,17; 2Rs.19:35; 1Cr.21:16; 2Cr.32:21; Is.37:36); fechar a boca de leões famintos (Dn.6:22); remover grandes pedras (Mt.28:2); fazer emudecer (Lc.1:20); entrar e sair de lugares que estão fechados (At.5:19; 12:7-11); ferir uma pessoa em particular de modo fulminante e fatal (At.12:23); entre outros poderes. Isto mostra que as leis vigentes para o mundo físico e material não atingem estes seres, já que são puramente imateriais.
c) possuem pessoalidade, pois são dotados de consciência, sentimento, entendimento e vontade.
· São dotados de consciência. No episódio da criação é dito que os anjos cantavam e rejubilavam, ou seja, demonstraram ter noção do que estava a acontecer e louvavam a Deus. Isto só é possível para seres que têm consciência de si mesmos e consciência de quem é Deus a ponto de reconhecerem Sua soberania e Sua dignidade para ser adorado. Os anjos têm plena consciência de que devem adorar a Deus e de que somente Deus deve ser adorado (Sl.103:20; Ap.22:9).
· São dotados de sentimento. Em Jó, vemos que os anjos estavam alegres enquanto Deus criava o mundo e, por isso, cantavam, tendo, também, com alegria, trazido a mensagem do nascimento de Jesus (Lc.2:10).
· São dotados de entendimento. Os anjos sabem o que são, o que fazem e o que está acontecendo ou vai acontecer. Os anjos, diz-nos a Bíblia, são seres que obedecem à voz de Deus (Sl.103:20), que transmitem fielmente as mensagens divinas, bem sabendo o seu teor (Dn.8:16; 9:22; 10:14; Lc.1:19), como também conhecem como funciona a dimensão celestial a que pertencem (Dn.10:12,13; Jd.9).
· São dotados de vontade. Assim como os homens, os anjos foram criados com o livre-arbítrio, ou seja, com o poder de escolher entre servir a Deus ou não. Tanto é assim que o “querubim ungido” escolheu o mal, quis ocupar o lugar de Deus e, por isso, pecou, tendo sido achado iniquidade nele, a ponto de ter perdido toda a glória que possuía neste lugar de proeminência diante do Senhor (Is.14:12-16; Ez.28:12-19). Isto só foi possível porque os anjos são dotados de livre-arbítrio. Entretanto, este livre-arbítrio só pode ser exercido uma única vez, visto que os anjos estão na dimensão celestial, onde não existe o tempo e, portanto, o arrependimento se torna impossível. Tendo feito a sua escolha, quando do pecado do “querubim ungido”, os seres angelicais a fizeram para sempre e, por isso, podemos, hoje, falar em “santos anjos” (Mt.25:31; Mc.8:38; Lc.9:26; At.10:22; Ap.14:10) ou “anjos de Deus” (Jó 4:18; Sl.91:11; Sl.148:2; Mt.4:6; 13:41; 16:27; 18:10; 24:31; Mc.13:27; Lc.4:10; Hb.1:7; Ap.3:5), como também em “anjos do diabo” (Mt.25:41; Ap.12:7,9), também chamados de “anjos que não guardaram o seu principado” (Jd.6).
d) São seres assexuados. Por serem plenamente espirituais, os anjos também são assexuados, ou seja, não são nem do gênero masculino, muito menos do gênero feminino. Não há, portanto, “anjos do sexo masculino” nem tampouco “anjas”. Jesus, certa feita respondeu a alguns saduceus desta maneira: “Porque, na ressurreição, nem casam, nem são dados em casamento; mas serão como os anjos no céu” (Mt.22:30), mostrando que os anjos são seres assexuados.
3. A natureza do ser humano
De acordo com as Escrituras Sagradas, a natureza do ser humano é dicotômica: constituída de duas partes: natureza material – constituída pelo corpo; e natureza imaterial – constituída pela alma e espirito.
-O corpo é a parte física, onde entra em contato com as coisas materiais, através dos cinco sentidos: ver, ouvir, cheirar, saborear e tocar.
-A alma e o espírito formam a parte imaterial do ser humano. Na alma está a minha personalidade, as emoções, vontade, centro decisório, sentimentos. A função do espírito é entender as coisas espirituais, as coisas de Deus, é a ligação com o Céu, é o elemento que se comunica com Deus.
Deus inspirou-se em si mesmo para formar a natureza do homem
''.... Façamos o homem à nossa imagem, conforme à nossa semelhança...'' (Gn.1:26).
“E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” (Gn.2:7).
-Pelo sopro de Deus o homem foi feito conforme à sua imagem. A imagem de Deus no homem refere-se à imagem espiritual e moral, conforme a semelhança de Deus; e também à imagem natural, pelo fato de o homem ser uma pessoa, à semelhança de Deus, que também é uma Pessoa. Nenhum animal foi criado nesta condição de imagem de Deus; por isto, nenhum outro ser material possui os atributos que o homem possui e que o faz diferente de toda espécie animal.
O homem foi criado com uma natureza espiritual e isto o faz conforme à imagem de Deus porque ‘‘Deus é Espírito...’’ (Gn.4:24). Esta natureza espiritual é formada por dois dos três elementos que compõem o homem: o espírito e a alma. Estes dois elementos foram formados no homem pelo sopro de Deus - “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida...” (Gn.2:7). Isto aconteceu apenas e tão somente em relação ao homem.
Essa imagem de Deus foi corrompida pelo pecado. Mas, quando o homem se volta para o Criador e aceita a salvação, através de Jesus Cristo, torna-se “a imagem e glória de Deus” (1Co.11:7). Nascido de novo, o salvo é revestido “do novo homem, que segundo Deus, é criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef.4:24). Nascido de novo, o homem é “nova criatura” (2Co.5:17) e se torna participante “da “natureza divina” (2Pd.1:4). Tal participação, no presente, é parcial, pois o homem está sujeito à fraqueza e ao pecado; mas, na glorificação, será restaurada a “semelhança” da “imagem de Deus”, pois “agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é O veremos” (1João 3:2).
-Por este sopro o homem recebeu a vida eterna. O homem é o único ser material criado que traz em si a eternidade – a alma do homem bem como seu espírito possuem vida eterna. Há quem diga, e até quem ensina, que Deus poderia ter destruído Adão e Eva por haverem pecado, criando um novo casal; afirmam que Deus não os destruiu porque isto seria uma vitória de Satanás – ele poderia dizer que Deus criou, mas ele impediu que vivessem; que por sua causa Deus teve que destrui-lo. Mas, acreditamos não ser correto esse entendimento. Na verdade, Deus havia lhe conferido a eternidade; não se pode destruir o que é eterno. O sopro saiu de dentro de Deus, era parte do próprio Deus. Tudo que sai de dentro de Deus é eterno. Por isto, acerca de sua própria Palavra, está escrito - “Para sempre, ó Senhor, a tua palavra permanece no céu” (Salmos 119:89). A palavra que sai da boca de Deus é eterna – porque ela saiu de dentro de Deus. Portanto:
- O homem recebeu uma natureza espiritual, formada pela alma e pelo espírito, por que Deus é Espírito - “Ora o Senhor é Espírito...” (2Co.3:17).
- Recebeu em si a eternidade, porque Deus é eterno – “...de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Salmos 90:2).
Portanto, o ser humano foi criado e recebeu de Deus a vida eterna; logo, não pode ser destruído ou aniquilado. Assim sendo, não há apoio nas Escrituras Sagradas o ensino de que os ímpios serão destituídos ou aniquilados; não se pode destruir o que tem a eternidade. O homem não é eterno, mas recebeu a eternidade, ou a vida eterna; eterno é aquele que não teve princípio e não terá fim. Todos os seres que foram criados por Deus, inclusive o “querubim ungido” que se transformou em Satanás, não são eternos, porque tiveram princípio ao serem criados, mas receberam a eternidade. Eterno é somente o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
O homem criado à semelhança de Deus é tricotômico
“E disse Deus: Façamos o homem...conforme à nossa semelhança...”(Gn.1:26).
-Tendo sido feito conforme à semelhança de Deus, o homem foi criado numa tri-unidade formado pelo corpo, alma e espírito. Assim como Deus é triúno, o homem é tricotômico (1Ts.5:23); Hb.4:12). A Bíblia não fala em três deuses – fala em um único Deus - “Ora, ao Rei dos Séculos, imortal, invisível, ao único Deus seja honra e glória para todo o sempre. Amém” (1Tm.1:17).
Deus é um, porém, em três Pessoas distintas, assim como o número cento e onze é um número, porém, formado por três números um:1-1-1; cada um dele é uma unidade em si mesmo, tem o seu valor e as suas funções, quando separados. Da mesma forma, à semelhança de Deus, o homem é um, tal como o número 111; porém, é tricotômico na sua constituição: é formado de corpo, alma e espírito, ou seja, 1-1-1.
II. AS CARACTERISTICAS DO CORPO HUMANO
O corpo humano é, sem dúvida, a mais bela obra-prima do Criador. O que o faz belo é a vida intelectual e espiritual que permitem a participação da própria vida de Deus. Esse corpo veio “do pó da terra”. Com os elementos químicos que se encontram no barro, ou na argila, Deus, de modo sobrenatural, formou cada parte do corpo humano, combinando-as de maneira jamais compreendida pela mente humana. No corpo humano existem os seguintes elementos químicos: oxigênio, carbono, hidrogênio, nitrogênio, cálcio, fósforo, potássio, enxofre, sódio, cloro, iodo, ferro, cobre, zinco, etc.; porém, o corpo com todos esses elementos da terra, sem os elementos divinos, são de ínfimo valor. Como Deus combinou os aminoácidos, as proteínas, os sais minerais e demais elementos para compor o corpo humano é algo que transcende a qualquer especulação cientifica.
1. Materialidade
Como já dissemos, o ser humano é constituído de três elementos: corpo, alma e espírito, sendo o corpo o elemento material, e esta parte material foi formada em sua natureza do pó da terra (Gn.2:7). Mesmo assim, originalmente falando, não se desgastaria com o tempo, nem estava sujeito às enfermidades que abatem o ser humano depois do pecado, porque ele foi criado para viver eternamente, como explicamos anteriormente. Porém, por causa do pecado, o homem recebeu o justo castigo de Deus. Esse castigo, além da morte espiritual, inclui também a morte do corpo que foi feito do pó e ao pó tornará (Gn.3:19). Percebemos em Genesis 2:17, que na sentença de Deus a morte é apresentada como algo anormal, um juízo por causa do pecado, estando ligada à desobediência. Ao desobedecer a Deus, o homem desencadeou sobre si e sobre toda a humanidade a ruína moral, em todas a suas formas (Rm.5:12,14).
“Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Rm.5:12).
2. Visibilidade e tangibilidade
O corpo é parte material do ser humano, logo ele é visível e tangível, ou seja, pode ser tocado. É visível e tangível, mas não pode fazer dele o que quiser. O corpo não pode ser usado para a impureza, ele deve ser usado para glória de Deus (1Co.6:13). Esse corpo, agora, não pertence a nós, pertence a Jesus Cristo, que o comprou e o redimiu. Se o nosso corpo é de Cristo devemos cuidar bem dele. O cuidado com o corpo insere-se dentre aquelas tarefas que foram cometidas ao ser humano na sua qualidade de “mordomo-mor” sobre a face da Terra.
Temos de cuidar de nosso corpo, porque a vida é um dom dado por Deus (Gn.2:7; 1Sm.2:6) e que nos está “emprestado”, motivo por que deveremos prestar contas do que tivermos feito com ele, em especial aqueles que alcançarem a salvação na pessoa de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2Co.5:10) – “Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal”.
O filósofo Platão via o corpo do ser humano como a parte desprezível, pois ele via na matéria um mal em si, a fonte de toda a imperfeição humana. Dentro desta linha de raciocínio é que temos de tomar cuidado com o chamado “ascetismo”, doutrina que consiste em negar direitos ao corpo, ou mesmo castigá-lo, como se isto tivesse um efeito positivo em favor da alma, purificando-o de desejos carnais e liberando a alma para melhor progredir no caminho da salvação. A prática do ascetismo inclui o celibato, a autoflagelação, a abstenção de alimentos e prazer, a reclusão e a mendicância. Paulo, porém, coloca o corpo humano no mesmo pé de igualdade da alma e do espirito. Os três têm que ser “conservados íntegros e irrepreensíveis” (1Ts.5:23).
3. Mortalidade
Como consequência do pecado o homem recebeu de Deus a sentença de morte, pela qual voltaria à terra – “No suor do teu rosto comerás o pão, até que te tornes à terra; porque dela fostes tomado, porquanto és pó, e em pó te tornarás” (Gn.3:19).
O que deve voltar à terra certamente é a substância material que compõe o homem, ou seja, o seu Corpo. O espírito e a alma foram formados pelo sopro de Deus, portanto, são substâncias espirituais, não podendo voltar à matéria, ou terra. Assim, condenando o homem a voltar ao pó da terra, Deus estava estabelecendo uma separação entre o corpo e a substância espiritual, formada pelo espírito e pela alma. Salomão, pelo Espírito de Deus, entendeu esta separação quando disse: “E o pó volte à terra, como era, e o espírito volte a Deus, que o deu” (Ec.12:7). Esta separação, no entanto, segundo a Bíblia, é uma separação temporária que perdurará entre a morte e a ressurreição do homem, salvo ou não – “E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno” (Dn.12:2).
III. A ALMA, O NOSSO ELO COM O MUNDO EXTERIOR
Alma e espírito formam o "homem interior", o homem imaterial. Com efeito, a Bíblia registra que Deus formou o corpo do homem da matéria, mas, para criar a parte imaterial do homem, "soprou em suas narinas"(Gn.2:17) - expressão bíblica que indica que o homem interior não tem qualquer relação com a matéria existente na Terra, mas decorre de uma criação que advém diretamente da personalidade divina, do Ser divino.
A alma precisa do corpo para expressar sua vida funcional e racional. De modo geral, a alma é aquele princípio inteligente que anima o corpo e usa os órgãos e seus sentidos físicos como agentes na exploração das coisas materiais, para expressar-se e comunicar-se com o mundo exterior; é responsável pela razão, vontade e sentimentos.
1. Significados da Alma
A palavra “alma", como a maioria das palavras, é "plurívoca", ou seja, tem muitos significados. Assim, não podemos deixar de observar que nem sempre a palavra “alma", quando se encontra na Bíblia Sagrada, quer dizer a mesma coisa, variando de passagem para passagem, até porque sabemos que o texto bíblico foi escrito, primeiramente, em três línguas (Antigo Testamento, em hebraico e alguns trechos em aramaico; Novo Testamento, em grego) por pessoas de diferentes classes sociais e em diversas circunstâncias e épocas, o que faz com que o significado de alguns termos tenham se alterado ao longo dos anos e tempos. Isto ainda acontece nos nossos dias, tanto que, naturalmente, quando falamos: “a propaganda é a alma do negócio"; "não acredito em almas penadas"; "a minha alma tem sede de Deus", evidentemente não estamos dando à palavra "alma" o mesmo significado.
Veja, a seguir, alguns significados que a Bíblia registra:
a) Alma com o sentido de respiração da vida. A palavra "alma" significa "respiração da vida", pois, como a vida física é indicada pela respiração, logo se criou a ideia de que a alma está relacionada com o ato de respirar. Por isso, usa-se a expressão "último suspiro" para indicar a morte. Portanto, a alma, que é a vida, foi associada ao ato de respirar, e a morte, à saída da alma. É o que vemos em passagens bíblicas como Gn.35:18 e 1Rs.17:21,22.
“E aconteceu que, saindo-se-lhe a alma (porque morreu), chamou o seu nome Benoni; mas seu pai o chamou Benjamim”(Gn.35:18).
“Então, se mediu sobre o menino três vezes, e clamou ao SENHOR, e disse: Ó SENHOR, meu Deus, rogo-te que torne a alma deste menino a entrar nele. E o SENHOR ouviu a voz de Elias; e a alma do menino tornou a entrar nele, e reviveu” (1Rs.17:21,22).
A alma não é respiração, mas só pode morar em um corpo que respira, por isso, às vezes é confundida com respiração. Deus, para levar alguém, só precisa retirar sua respiração.
“Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus e os desenrolou, e estendeu a terra e o que dela procede; que dá a respiração ao povo que nela está, e o espírito aos que andam nela” (Is.42:5).
“nem tampouco é servido por mãos humanas, como se necessitasse de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas” (Atos 17:25).
“Se ele retirasse para si o seu espírito, e recolhesse para si o seu fôlego, toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó” (Jó 34:14,15).
b) Alma significando o sangue (Dt.12:23; Lv.17:14). A alma está intimamente ligada ao sangue, pois se o homem ficar sem sangue ele morre fisicamente e a alma sai do corpo. A alma não é o sangue, mas precisa do sangue para continuar morando no corpo; por isso, às vezes é confundida com o sangue.
“Porque a vida da carne está no sangue; pelo que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas; porquanto é o sangue que faz expiação, em virtude da vida” (Lv.17:11).
c) Alma significando o indivíduo. A palavra "alma", muitas vezes, significa "pessoas", "indivíduos" no sentido de que a parte que distingue cada pessoa de outra é a alma. É assim que vemos a aplicação da palavra em Rm.13:1.
“Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus”.
2. Alma e o espírito são inseparáveis
Como já disse, a alma e o espírito formam a natureza espiritual do ser humano, formam o homem interior. Estes elementos advêm do sopro de Deus, quando da formação do ser humano. Eles são inseparáveis, e por serem assim, se a alma for para o inferno o espirito também irá; se o espirito for para o Céu, a alma também irá. Eclesiastes 12:7 diz: “... e o pó volte à terra, como era, e o espirito volte a Deus, que o deu”. Este versículo fala que o espirito (espirito e alma) fica à disposição de Deus após a morte. Deus se encarrega de destinar seu caminho: Paraíso (lugar intermediário dos salvos) ou Hades (lugar intermediário dos ímpios -local de tormento – a antessala do inferno, que é o Lago de fogo e enxofre – Ap.19:20; 20:10,14,15).
-O espirito e alma dos fiéis vão para o Paraíso onde gozarão de descanso, consolação e felicidade (Ap.14:13; Lc.16:23,25). Por isto é preciosa à vista do Senhor a morte dos santos (Sl.116:15).
-O espirito e alma dos injustos irão para o Hades, um lugar de tormentos, onde aguardarão a ressurreição para o julgamento final (Lc.16:22,23, Ap. 20:11,12).
3. A alma é a janela para o mundo exterior
Através da alma, o ser humano se expressa e tem acesso ao mundo que o cerca. Para que isso seja possível, a alma precisa usar elementos do corpo do ser humano. A alma e o corpo (que formam o homem natural – 1Com.2:14) comunica-se com o mundo natural. Através do corpo entramos em contato com a matéria, com o mundo material, afetamos e somos afetados por esse mundo.
Alma e corpo são muito interligados. Os cinco sentidos do corpo - ver, ouvir, cheirar, saborear e tocar -, são as janelas da minha alma. O que os cinco sentidos fazem é levar informações para minha alma. Vejo, ouço, daí reajo na minha personalidade, na minha alma. Jesus certa vez afirmou: “A candeia do corpo é o olho. Sendo, pois, o teu olho simples, também todo o teu corpo será luminoso; mas, se for mau, também o teu corpo será tenebroso” (Lc.11:34). É através do corpo, portanto, que a alma se comunica com o mundo exterior. É no rosto que aparecem as expressões de alegria, tristeza, ira, sono, calma, entusiasmo, rancor, mágoa e tantos outros sentimentos próprios da natureza humana.
O corpo tem ações físicas, porém a alma se expressa através do corpo. Quando você está alegre ou triste e as pessoas olham para seu rosto logo vão notar, pois o corpo reflete a nossa alma. Em Provérbios 15:13 está escrito: “o coração alegre aformoseia o rosto”. Veja ainda Provérbios 2:10,11.
Se a alma influencia o corpo, o corpo também influencia a alma. Há um intercâmbio muito grande entre alma e corpo. A Bíblia chama esse intercâmbio, esse relacionamento muito próximo, de homem exterior; é a manifestação da alma influenciada pelo corpo. A alma, influenciada pelo corpo, preocupa-se com o mundo natural. Recebendo informações através do corpo, a alma reage para com o mundo natural e para com os nossos semelhantes. Já o espírito age e reage para com as coisas espirituais, age e reage com o mundo espiritual.
4. A separação da alma do corpo gera a morte
A alma dá vida ao corpo; quando ela sai, então o corpo fica inerte. A mesma coisa acontece com os animais, conforme afirmou Salomão:
“Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais; a mesma coisa lhes sucede; como morre um, assim morre o outro, todos tem o mesmo fôlego” (Ec.3:19).
É bom ressaltar que os animais, também, têm alma, que é diferente da alma humana. Pela Bíblia sabemos que o homem e os animais foram criados de forma diferente. Animal tem alma, mas não tem espírito.
O homem foi a única criatura sobre a qual Deus declarou: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme à nossa semelhança”(Gn.1:26). Para criar o homem Deus inspirou-se em si mesmo, criando-o à sua imagem e conforme à sua semelhança.
As almas dos animais foram criadas junto com seus corpos – “Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente...” (Gn.1:20). Mas a alma do homem não foi criada junto com o corpo, ela foi colocada no corpo através do sopro de Deus – ”... e soprou em seus narizes o fôlego da vida...” (Gn.2:7). Assim, a alma dos animais é mortal, ela morre junto com o corpo; mas a alma do ser humano é imortal.
Portanto, homens e animais morrem quando a alma sai do corpo. Todavia, a alma do homem é espiritual e tem vida eterna. Juntamente com o espírito ela constitui a natureza espiritual do homem.
IV. O ESPÍRITO E NOSSO CONTATO COM DEUS
1. O que é o espírito
O espírito é a parte imaterial do homem, que, juntamente com a alma, forma “o homem interior”. Disse Paulo: “Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus” (Rm.7:22). O apóstolo ensina sobre a luta entre a carne, ou a natureza carnal do homem, e o espírito, que provém de Deus, e acentuava que o “homem interior” tinha prazer na lei de Deus.
O espírito é o elemento de comunicação entre Deus e o homem; ele vincula os seres humanos ao mundo espiritual e os ajuda a interagir nessa dimensão. Por ele: somos iluminados pelo Espírito de Deus; reverenciamos a Deus; adoramos a Deus; conectamo-nos com Deus.
2. O elo entre o nosso corpo e Deus
O espírito é a parte do homem que faz a relação dele com Deus; é a sede da consciência, que é o elemento que nos permite discernir o certo do errado, o elo de ligação entre Deus e o homem, a instância em que tomamos consciência da existência e da soberania de Deus. Por intermédio do espírito, entramos em contato com Deus. Por isso, deve o nosso espírito ser quebrantado (Sl.51:17), voluntário (Sl.51:12) e reto (Sl.51:10). O apóstolo Paulo afirma que servia a Deus em seu espírito (Rm.1:9).
Quando de nossa morte, entregamos a Deus o espírito (Lc.23:46; At.7:59). O espírito e alma dos ímpios, Deus os lançará no Inferno (Lc.16:19-31; Sl.9:17; Mt.13:40-42; 25:41,46), pois não se pode separar a alma do espírito, pois ambos formam uma unidade indivisível.
3. A sede de nossa comunhão com Deus
A consciência é o instrumento do espirito que provê testemunho interior sobre a conduta moral do indivíduo (Tt.1:15); é o conhecimento de si mesmo; é a faculdade de discernimento da alma (João 8:9; Hb.9:9).
Deus dotou o homem de consciência, ou seja, da capacidade de saber o que é certo e o que é errado, quase que como uma voz do próprio Deus no interior do homem, a permitir-lhe saber o que deve e o que não deve ser feito. Deste modo, através da consciência, o homem poderá saber qual é a vontade de Deus e, assim, poder estabelecer um relacionamento apesar da infinita distância entre o Senhor e o ser humano.
A consciência é, assim, a faculdade do espírito que nos permite saber o que é o certo e o que é errado, um verdadeiro tribunal que existe em nosso interior a nos dizer quando estamos acertando e quando estamos errando, algo que existe em todo ser humano, se bem que o pecado gere, como efeito, o embrutecimento do homem, a ponto de ele chegar a ter a própria consciência cauterizada (1Tm.4:2), ou seja, completamente sufocada e inoperante.
A consciência é a capacidade que temos de distinguir o certo do errado, mas, nem por isso, o homem está isento de errar. Através da consciência, Deus permitiu ao homem discernir entre o que é correto, o que está de acordo com a vontade divina e o que não é correto, mas, devemos lembrar que o homem é livre, ou seja, pode escolher entre fazer o certo ou não. Se fizer o errado, acabará dominado pelo pecado, sem condições de se libertar (cf. Gn.2:16,17; 4:6,7), a não ser por intermédio de Cristo Jesus (João 8:31-36).
Somente quando o espírito está em comunhão com Deus, somente quando há um verdadeiro relacionamento entre Deus e o homem, podemos ter uma consciência sensível e obediente à voz do Senhor (João 10:27). Esta é a consciência sem ofensa (At.24:16) e a consciência pura (1Tm.3:9).
CONCLUSÃO
Como vimos, de acordo com as Escrituras Sagradas, a natureza do ser humano é dicotômica, ou seja, é constituída de duas partes: natureza material – constituída pelo corpo; e natureza imaterial – constituída pela alma e espirito. Com o sopro divino, o homem recebeu vida para sempre, mas pela desobediência perdeu esse direito de vida eterna com Deus; porém, Jesus veio para nos dar vida eterna, e para alcançar a vida eterna que Deus soprou sobre Adão no Éden é preciso que a mentalidade humana volte a ser como o Criador a fez quando soprou sobre o homem; para isto é preciso nascer de novo, tornar-se nova criatura (João 3:3; 2Co.5:17). Pense nisso!