Texto Base: Gênesis 11:1-9
"Por isso, se chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o SENHOR a língua de toda a terra e dali os espalhou o Senhor sobre a face de toda a terra" (Gn.11.9).
Gênesis 11:
1-E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala.
2-E aconteceu que, partindo eles do Oriente, acharam um vale na terra de Sinar; e habitaram ali.
3-E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume, por cal.
4-E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.
5-Então, desceu o SENHOR para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam;
6-e o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam afazer; e, agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer.
7-Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro.
8-Assim, o SENHOR os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade.
9-Por isso, se chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o SENHOR a língua de toda a terra e dali os espalhou o SENHOR sobre a face de toda a terra.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos do primeiro projeto de federação materialista e humanista em oposição a Deus, que o pr. Claudionor de Andrade denominou de globalismo, implementado pelos descendentes de Noé. A ordem de Deus a Noé e seus filhos foi: “...frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra” (Gn.9:1). Depois é novamente repetida: “Sede fecundos e multiplicai-vos; povoai a terra e multiplicai-vos nela” (Gn.9:7). Porém, os descendentes de Noé não atentaram para esta ordenança divina; acharam uma planície agradável e insistiram ali ficar, sob um único governante; preferiram manter-se juntos, não espalhados (Gn.11:4). Espalhar-se para cuidar da terra para Deus era a última coisa que eles queriam.
Com esta rebeldia, deu-se origem o que se conhece hoje como globalismo: uma doutrina contrária ao propósito divino quanto à povoação e ao governo da Terra. Aparentemente, permanecer juntos era bom, mas Deus tinha mandado que se espalhassem (Gn.9:1). Este comportamento dos líderes da civilização pós-diluviana representa, até o Apocalipse, a ideia de federação humana materialista e humanista em oposição a Deus. As Escrituras revelam que um projeto global de poder que tire Deus do centro é, por natureza, maligno.
Atenção: Não confundir globalismo com globalização – um é oposto do outro. “O globalismo é um conceito político, já a globalização é um conceito econômico. Globalização econômica significa livre comércio e livre mercado; trata-se de um arranjo que surge naturalmente quando não há políticos e burocratas impondo obstáculos às transações humanas. O globalismo é uma política internacionalista, implantada por burocratas, que vê o mundo inteiro como uma esfera propícia para sua influência política. O objetivo do globalismo é determinar, dirigir e controlar todas as relações entre os cidadãos de vários continentes por meio de intervenções e decretos autoritários” (Thorsten Polleit).
“Em pleno século XXI assistimos a esse mesmo projeto global de poder. Suas cores foram modificadas, mas a essência continua a mesma: uma cultura secular que, no ‘espirito do Anticristo’, projeta um estilo de vida sem Deus, uma espiritualidade fabricada e uma religião produzida. Entretanto, como na civilização de Babel, Deus continua a intervir poderosamente no mundo, mostrando ao homem que seus intentos têm limites. Ele continua a governar o mundo” (LBM.CPAD).
I. A SEGUNDA CIVILIZAÇÃO HUMANA
Noé foi salvo pela graça de Deus, por um ato da soberania divina (Gn.6:8). Ele e sua esposa, seus três filhos e suas noras, ao saírem da Arca, entraram em um mundo purificado pelo juízo de Deus; figurativamente era uma nova criação e a civilização humana teria um novo começo; ele e sua família empreendem um novo mundo civilizatório e um novo governo.
Noé viria a ser o segundo pai da raça humana. O mundo antediluviano foi iniciado com duas pessoas, agora inicia-se com oito. As oito pessoas que foram salvas do Dilúvio dariam agora início a uma nova civilização. Era um novo período de tempo, denominado de governo humano por causa das leis humanas e governos que foram instituídos, para regular a vida dos homens após a longa Era de liberdade de consciência. Era necessário bastante ousadia, muito trabalho e determinação para reconstruir tudo de novo.
Noé recebeu instruções especificas do Criador, a fim de que ele e seus filhos cumpram fielmente a Sua vontade: edificar uma sociedade fundamentada no amor a Deus e ao próximo. Deus novamente delega ao homem a direção do planeta e a administração da justiça.
Mas, logo no início da nova civilização, Noé passou por problemas na família que teriam consequências indeléveis e trágicas ao novo mundo reconstruído.
1. A apostasia de Cam e de Canaã
Apostasia (deriva-se da expressão grega “apostasis”, que significa "estar longe de") tem o sentido de um afastamento definitivo e deliberado de alguma coisa, uma renúncia de sua anterior fé ou doutrinação.
No Antigo Testamento, a apostasia era considerada adultério espiritual. Israel era chamado de “esposa de Jeová”. Sempre que Israel seguia a outros deuses, ou se curvava diante de ídolos, era acusado de apostasia. Esta foi, inclusive, a causa principal do cativeiro babilônico.
No Novo Testamento, apostasia significa abandonar a fé cristã de forma consciente e deliberada. Então, para que haja apostasia é necessário que a pessoa tenha experimentado o novo nascimento, ou seja, que tenha certeza de sua salvação e aí, de forma consciente e resoluta, abandona a fé e passa a negar toda verdade por ela experimentada.
Após o Dilúvio, Noé planta uma vinha (Gn.9:20) - “E começou Noé a ser lavrador da terra e plantou uma vinha”. Esta é a primeira vez que a produção de vinho é aludida na Bíblia. Juntamente com a vinha, o patriarca constrói uma adega; e, com a ciência que trouxera da primeira civilização, põe-se a vinificar suas uvas. Desenvolvendo a enologia, produz a primeira safra de vinho da nova civilização. Mas essa sua nova atividade trar-lhe-ia constrangimento e desintegração espiritual ao lar (Gn.9:20-29). Infelizmente, Noé excedeu-se, ficou bêbado e dormiu, nu, dentro da sua tenda. É possível que isso tenha acontecido por causa da inexperiência do patriarca. A Bíblia não comenta a sua responsabilidade sobre o fato.
Cam, o filho mais novo, viu seu pai nu e não cuidou para que ele fosse devidamente coberto, mas, irreverentemente, desdenhou a seus irmãos a condição de Noé. Foi uma atitude desrespeitosa e aviltante aos padrões da época, não muito diferente dos habitantes de sua geração antediluviana. Segundo o Pr. Claudionor de Andrade, “tinha início, ali, uma apostasia que, se não fosse a interferência divina, comprometeria a ordem de povoar a Terra”. Mais tarde, esse tipo de atitude foi arrolado como falta grave pela Lei de Moisés (Lv.18:7).
Quando Noé acordou e soube do acontecido, amaldiçoou a Canaã, filho de Cam. Isso sugere que quem primeiro viu Noé nu foi o jovem Canaã. A maldição foi cumprida nos povos de Canaã condenados nos dias de Josué, quando Israel tomou posse da terra prometida.
É bom ressaltar que qualquer que tenha sido a falta de Noé, ele estava dentro de sua própria tenda, em privacidade (Gn.9:21). Todavia, Cam entrou, violando o princípio da privacidade. Como bem diz o pr. Claudionor de Andrade, quem ama não é indecente, mas discreto, lhano, gentil.
Se assim devemos portar-nos em relação aos estranhos, o que não faremos concernente aos nossos pais? O filho mais novo de Noé, porém, não se importava com tais questões. Imbuído ainda do espírito da geração que perecera no Dilúvio, estava sempre disposto a caçoar e irreverenciar a todos, inclusive o próprio pai. Levando-se em conta que Noé representava a Deus naquele momento, a irreverência de Cam avultava-se como gravíssima blasfêmia. Ele poderia ter sido punido com a morte.
A Palavra de Deus coloca a irreverência no mesmo patamar dos pecados grandes e temíveis. Paulo afirma que a Lei foi promulgada inclusive para castigar os irreverentes (1Tm.1:9). O mesmo apóstolo deixa claro que, nos últimos dias, a falta de respeito surgirá como um dos mais fortes sinais da chegada da apostasia final. Porventura, não é o que estamos vivenciando hoje?
O pecado de Cam trouxe reflexos devastadores para os seus descendentes, principalmente aos descendentes do seu filho Canaã, que historicamente se tornaram um povo marcado por moralidades sórdidas, como os habitantes de Sodoma e Gomorra, que, também, eram descendentes de Canaã (Gn.10:19).
Os descendentes de Canaã não demonstravam nenhum temor ao Deus de Noé; o principal deus deles era o ídolo Baal. A adoração dos cananeus a esse ídolo desceu às mais baixas profundezas da degradação moral e espiritual. Sendo assim, a sua destruição tornou-se inevitável.
“Assim como a cultura cainita induzira os filhos de Sete ao pecado, o modo de vida de Cam e de seu filho, Canaã, pôs-se a influenciar a descendência de Sem e de Jafé ao pecado e à iniquidade (1Co.15:33)”.
2. O enfraquecimento da doutrina de Noé
Noé, o pregoeiro da justiça (2Pd.2:5), colocou de lado o seu padrão moral que tanto cativou o coração de Deus, exagerando no consumo de vinho e embriagando-se (Gn.9:21) – “E bebeu do vinho e embebedou-se; e descobriu-se no meio de sua tenda”. É a primeira vez que a bebida alcoólica é falada na Bíblia e é coisa ruim, e continua sendo ruim na Bíblia toda. Noé, o grande herói da fé, caiu no pecado de embriaguez em seu próprio lar; ficou nu dentro de sua tenda. Este ato foi um mau exemplo para sua família; trouxe desgraças para um dos seus netos, Canaã, filho de Cam. Isto nos alerta que os longos anos de fidelidade não garantem que o homem seja imune a novas tentações.
Segundo George Herbert Livingston, Noé pode ter sido inocente, não conhecendo o efeito que a fermentação causa no suco de uva nem o efeito que o vinho fermentado exerce no cérebro humano. Isto, porém, não impediu que a vergonha entrasse no círculo familiar. Perdendo os sentidos, Noé tirou a roupa e se deitou nu. A nudez era detestada pelos primitivos povos semíticos, sobretudo pelos hebreus que a associavam com a libertinagem sexual (cf. Lv.18:5-19; 20:17-21).
Embora todas as pessoas ímpias tivessem morrido, a possibilidade do mal ainda existia nos corações de Noé e sua família. Isto nos mostra uma grande lição: até mesmo as pessoas fiéis estão sujeitas ao pecado e sua má influência afeta suas famílias. É bom lembrar que Satanás sempre está pronto para aproveitar a oportunidade de causar a Queda de um homem justo. É bom lembrar que a bebida alcoólica tira a inibição da pessoa deixando-a fazer muita coisa que normalmente não fazia; ela só dá vergonha e desgraça à pessoa e à família; evite-a, portanto.
3. O respeitoso gesto de Sem e Jafé
Cam viu a nudez de seu pai, e propagou-a a seus dois irmãos, uma demonstração de desrespeito à dignidade de Noé. Eles, porém, se recusaram a olhar. Cobriram a nudez do pai, sem que a vissem (Gn.9:23).
“Então, tomaram Sem e Jafé uma capa, puseram-na sobre ambos os seus ombros e, indo virados para trás, cobriram a nudez do seu pai; e os seus rostos eram virados, de maneira que não viram a nudez do seu pai”.
Sem e Jafé entraram na tenda, discretamente, de costas, e cobriram Noé. Eles agiram amorosa e nobremente. Eles agiram assim porque sabiam que ver a nudez de seu pai era um ato de profunda irreverência e desrespeito.
O procedimento de Sem e Jafé, ao usarem a capa para não ver a nudez de seu pai, parece meio radical numa sociedade sexualmente permissiva, principalmente num mundo relativista e liberal em que vivemos. Os programas de televisão (em todos os canais, abertos e fechados), bem como a internet, redes sociais, nos têm insensibilizado à nudez ou grosseria sensual. Acho que os habitantes de Sodoma e Gomorra teriam vergonha de conviver com os habitantes do século XXI.
-Noé Abençoou o seu filho Sem pelo o respeitoso gesto (Gn.9:26) – “E disse: Bendito seja o SENHOR, Deus de Sem; e seja-lhe Canaã por servo” (Gn.9:26). Deus abençoou Sem (e a sua descendência) como o povo que ia ser honrado com o serviço do Deus vivo: Tabernáculo, Templo, revelação divina (Velho Testamento e a maior parte do Novo), o Messias, o ato redentivo de Deus, as primeiras igrejas; tudo isto veio através de Sem.
-Noé abençoou, também, Jafé: “Alargue Deus a Jafé, e habite nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo” (Gn.9:27). Jafé foi abençoado com possessão territorial. Ele e a sua descendência receberam a bênção de poder segurar e habitar nas maiores e melhores partes do mundo. São os descendentes de Jafé que têm dominado e controlado o mundo daqueles dias até hoje. Este povo tenta fazer paz com Sem (“habite nas tendas de Sem”) e participa nas bênçãos de Sem (foi enxertado em lugar de Sem – Rm.11:17-19).
Além de Canaã receber a sua sentença imprecatória, esta foi reforçada em cada bênção pronunciada a seus irmãos. Os cananitas seriam escravos tanto dos semitas (o povo hebreu) quanto dos jafetitas (povos indo-europeus).
4. O descaso para com o mandamento divino
Deus deu a Noé determinadas leis para que tanto ele quanto sua família e todos os seus descendentes fossem governados por elas. O homem passou a ser responsável pelo seu próprio governo.
Uma dessas leis foi: “frutificai e multiplicai-vos; povoai abundantemente a terra e multiplicai-vos nela” (Gn.9:1,7). Todavia, os filhos de Noé ignoraram a ordem divina, rebelando-se contra Deus. Ao invés de se espalharem, aglomeraram-se desobedientemente num só lugar.
Os descendentes de Cam rebelaram-se contra Deus e inauguraram outro período de decadência e apostasia aos mandamentos divinos. Deus teve que intervir. Conquanto Deus tenha delegado ao homem o governo do mundo, Ele continua a comandar todas as coisas. Ele está no controle de tudo.
II. O GLOBALISMO DE BABEL
A organização da civilização pós-diluviana em uma só língua e em uma só cultura, detiveram o protótipo de uma sociedade ímpia e globalista. Para demonstrar isto, essa civilização construiu uma torre, a torre do orgulho, da rebeldia.
1. Uma só língua e um só povo
Os descendentes de Noé se multiplicaram e todos falavam uma mesma língua (Gn.11:1). Havia uma certa unidade de pensamento e de entendimento, que se manifestava de modo natural, porque era um só povo. Diz o texto sagrado: “Ora, em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar”.
Unidos pela comunicação, através de uma só língua, imaginaram fortalecer o poder humano, construindo uma cidade grande (Babel) e um monumento que indicasse o orgulho deles, algo para ser visto por todo o mundo.
Este monumento revelava a deterioração da condição moral e espiritual dos descendentes de Noé, tendo como figura de destaque Ninrode, neto de Cam. Alguns estudiosos julgam que Ninrode prefigura o homem "iníquo", que será o último e pior inimigo do povo de Deus (2Tes.2:3-10).
Isto foi uma demonstração cabal da rebeldia dessa nova civilização, no início de sua formação. Orgulhosos e rebeldes, facilmente esqueceram da aliança que Deus havia feito com Noé, logo após saírem da Arca.
Isto muito desagradou a Deus, e Ele teve que agir. Em Gênesis 11:6, Deus disse: “O povo é um e tem a mesma língua”. Esta declaração divina não significa que a unidade seja uma coisa má; entretanto, em relação àquele povo, ela tinha um fim negativo, pois visava confrontar a autoridade divina e estabelecer a autossuficiência humana.
A utilização regular de apenas uma língua facilitava a rápida disseminação do conhecimento, todavia, muito contribuía para proliferação da apostasia, de adorações a deuses falsos, obra da imaginação humana.
Portanto, o monolinguismo do povo pós-diluviano foi um dos fatores que contribuíram para que a depravação da geração pós-diluviana pululasse, pois já que não havia impedimento quanto a língua, os homens cheios de soberba, e com um espirito de rebelião, se uniram para fazer um monumento que seria símbolo da sua altivez. Como bem diz o Pr. Claudionor de Andrade, “o problema não era a unidade, mas a unificação que se estava formando. Certamente, o Anticristo se aproveitará de uma situação semelhante, a fim de implantar o seu reino logo após o arrebatamento da Igreja” (Ap.13:6-8).
2. A construção de Babel
Sob uma liderança forte, e dispostos a não cumprirem as leis estabelecidas por Deus, numa demonstração de rebelião, resolveram construir uma cidade forte e organizada sob a égide de uma liderança forte, despótica e de caráter globalista.
“E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume, por cal. Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra" (Gn.11:3,4).
Parece que Cam não gostou da maldição divina que incidiu sobre Canaã, e ficou cada vez mais rancoroso, ressentido e rebelde. Parece que ele passou este ódio e rebelião para o seu filho Cuxe e seu neto Ninrode. O rancor dele foi aumentando até que quando seu neto nasceu ele recebeu o nome de Ninrode, que significa "vamos rebelar, ou rebelde". Em vez de se submeter à vontade de Deus e servi-lo obedientemente e com plena submissão, rebelou-se contra Deus e disse: "Vamos dominar, governar e reinar sobre os outros".
O texto de Gn.10:8 dá uma noção do caráter de Ninrode: "este começou a ser poderoso na terra". Em Gn.10:9 está escrito que ele era "poderoso caçador diante da face do Senhor". A palavra “diante” neste versículo significa "contra" o Senhor. Tudo isto nos mostra que Ninrode era um guerreiro, rebelde, tirano e um líder de rebeldes na face do Senhor, e que se rebelou contra os mandamentos e a vontade de Deus.
Ninrode funda seu império em evidente agressão. Seu império incluía toda a Mesopotâmia, tanto a Babilônia ao sul (Gn.10:10) quanto a Assíria ao norte (Gn.10:10-12). Como principais centros de seu império, ele funda a grande cidade da Babilônia, mais notavelmente Babel (Gn.10:10); e, subsequentemente, tendo mudado para a Assíria, fundou Nínive ainda maior (Gn.10:11). Todas essas cidades adoravam deuses falsos, frutos da imaginação humana.
Da religião que Ninrode criou, como resultado de sua rebelião contra Deus, saiu toda religião falsa. Ela é chamada em Apocalipse 17:5 de "a grande Babilônia, a mãe das prostituições e abominações da terra". Ninrode e a sua esposa se tornaram os deuses desta religião blasfema.
A esposa de Ninrode (Semíramis) foi chamada a rainha dos céus e da Babilônia (Jr.44:17-19). Quando Ninrode morreu, Semíramis proclamou que ficou grávida milagrosamente (a verdade é que ela era adúltera) e o filho que nasceu era Ninrode reencarnado. Então, Semíramis e o seu filho (Tamuz) se tornaram a mãe e o filho que este povo idólatra adorou como seu deus. Este filho (Tamuz) se tornou o deus do sol, Baal, e Semíramis, a deusa Asterote.
À época de Jeremias o povo apóstata de Israel adorava Tamuz: “E disse-me: Tornarás a ver ainda maiores abominações do que as que estes fazem. E levou-me à entrada da porta da Casa do SENHOR, que está da banda do norte, e eis que estavam ali mulheres assentadas chorando por Tamuz. Pelo que também eu procederei com furor; o meu olho não poupará, nem terei piedade; ainda que me gritem aos ouvidos com grande voz, eu não os ouvirei” (Ez.8:13,14,18).
Ninrode se tornou o deus do povo que adorava as hostes dos céus (planetas, estrelas, lua e o sol principalmente). À época de Jeremias o povo apóstata de Israel, também, adorava o sol: “E levou-me para o átrio interior da Casa do SENHOR, e eis que estavam à entrada do templo do SENHOR, entre o pórtico e o altar, cerca de vinte e cinco homens, de costas para o templo do SENHOR e com o rosto para o oriente; e eles adoravam o sol, virados para o oriente” (Ez.8:16).
O povo liderado por Ninrode, de forma deliberada e consciente, deixou os mandamentos de Deus e adorou a criação de Deus em vez do Criador. Eles edificaram uma torre dedicada à adoração das hostes dos céus que eram seus deuses (Gn.11:4).
“Vinde, edifiquemos para nós ...uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra".
Isto era uma clara rebelião, um afrontamento contra o Deus que os salvou do Dilúvio. O Senhor abomina a altivez, o orgulho (Pv.6:17). Esse sentimento nefasto jamais poderá encontrar guarida no coração do servo de Deus.
III. A INTERVENÇÃO DE DEUS EM BABEL
A torre de Babel foi uma grande conquista humana, uma maravilha do mundo pós-diluviano; no entanto, foi um monumento para engradecer as pessoas, não a Deus. Podemos construir monumentos para nós mesmos (roupas caras, celulares de última geração, grandes mansões, carros luxuosos, empregos importantes) a fim de chamar atenção para as nossas realizações. Estas coisas podem não estar erradas em si mesmas, mas quando as utilizamos para promover nossa identidade e valor, elas tomam o lugar de Deus em nossa vida.
Deus teve que intervir em Babel porque a torre do orgulho que fora construída não O agradou. A civilização de Babel:
Ø Desobedeceu ao mandamento de que deviam espalhar-se e encher a terra (Gn.9:1; 11:4). Um dos motivos que os impulsionavam e pelo qual levaram a cabo a construção era que desejavam permanecer juntos, no mesmo território. Sabiam que os edifícios permanentes e uma coletividade firmemente estabelecida produziriam um modelo comum de vida que os ajudaria a permanecer juntos.
Ø Foi motivada pela intenção de exaltação pessoal ("façamo-nos um nome", disseram) e de culto ao poder, que posteriormente caracterizou a Babilônia. Uma torre elevada e visível para todas as nações seria um símbolo de sua grandeza e de seu poder para dominar os habitantes da terra.
Ø Excluía Deus de seus planos. Ao glorificar seu próprio nome, esqueciam-se do nome de Deus, nome por excelência, o Senhor.
Deus não estava ofendido com a construção ou com o tamanho da torre, mas com a arrogância que dominava, novamente, o coração do ser humano. Deus, portanto, desbaratou seus planos não só para frustrar-lhes o orgulho e independência, mas também para espalhá-los, a fim de que povoassem todo a terra, as mais distantes ilhas e continentes disponíveis para serem habitadas.
Somos livres para prosperar em muitas áreas, mas não para pensar em tomar o lugar de Deus. Quais “torres” temos construído em nossa vida?
1. A confusão das línguas
O capítulo 10 de Gênesis (cujo conteúdo situa-se cronologicamente depois do capítulo 11) registra que a humanidade foi dispersa conforme a língua de cada povo (Gn.10:5,20,31). Agora o texto nos informa o motivo dessa dispersão: em vez de se espalharem pela terra, conforme Deus ordenara, edificaram uma cidade e uma torre na terra de Sinear (Babilônia), dizendo: “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo topo chegue até os céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra” (Gn.11:4).
O projeto representava uma demonstração de orgulho (tornar célebre o nome deles) e rebeldia (evitar serem espalhados sobre a terra). Para nós, a torre também ilustra os incessantes esforços do homem caído para alcançar o céu com os próprios méritos, em vez de receber gratuitamente o presente da salvação.
Como punição, o Senhor confundiu a linguagem dos edificadores (Gn.11:5-7), e assim surgiram as diferentes línguas que o mundo possui atualmente.
“Então, desceu o SENHOR para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam; e o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e, agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer. Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro”.
No Pentecostes (At.2:1-11), ocorreu o inverso da torre de Babel, pois todos os expectadores do fenômeno ouviram as maravilhas das obras de Deus em sua própria língua. Babel, portanto, significa “confusão”, resultado inevitável de qualquer empreendimento que deixe Deus de lado ou não esteja de acordo com a sua vontade.
2. O efetivo povoamento da Terra
Para demonstrar que a unidade humana era superficial sem Deus, Ele introduziu confusão de som na língua humana. Imediatamente estabeleceu-se o caos. O grande projeto foi abandonado e a sociedade unida, mas sem temor de Deus, foi despedaçada em segmentos confusos.
Deus frustrou o propósito daquela geração, multiplicando idiomas em seu meio, de tal maneira que não podiam comunicar-se entre si. A diversidade de línguas resultou em balbucios ou fala ininteligível. Isso deu origem à diversidade de raças e idiomas no mundo.
E assim, Deus forçou os descendentes de Noé a se espalharem por todo a Terra, ocupando ilhas e territórios. Segundo o Pr. Claudionor de Andrade, “caso isso não tivesse acontecido, aquela geração teria o mesmo destino dos pré-diluvianos”.
Com a dispersão da comunidade única pós-diluviana após o juízo de Babel (Gn.11:9), naturalmente que os povos ali nascidos passaram a construir diferentes culturas, até porque a língua é um fator fundamental na formação de uma cultura, e Deus confundiu as línguas, impondo, pois, uma diversidade cultural para o mundo. Cada povo, uma língua, uma cultura e costumes bem característicos.
3. A eleição de Sem
Após Deus espalhar a comunidade de Babel por toda a terra, Ele começa a Se concentrar em um homem e, depois, em uma nação. Deus elegeu um homem, Abrão, com quem fez um pacto, deixando de lado as demais pessoas, mas não totalmente, pois mostra que, através da vida dele, iria abençoar todas as famílias da terra (Gn.12:3).
O governo humano, teve uma duração e 427 anos, com início logo após o dilúvio e estendendo-se até o chamado de Abraão, que se deu logo após a dispersão de Babel. Abrão era descendente de Sem, filho de Noé, o qual pelo o respeitoso gesto que teve para com o seu pai, cobrindo-o quando ele ficou nu, foi abençoado por ele – “E disse: Bendito seja o SENHOR, Deus de Sem; e seja-lhe Canaã por servo” (Gn.9:26).
Como eu disse anteriormente, Deus abençoou Sem e a sua descendência como o povo que ia ser honrado com o serviço do Deus vivo: o Tabernáculo, o Templo, as Escrituras Sagradas e, sobretudo, o Messias, o ato redentivo e a Igreja (o povo de Deus da Nova Aliança).
CONCLUSÃO
As intenções de homens rebeldes na construção da “cidade e da torre de Babel” estão presentes hoje quando o egoísmo, a autossuficiência e o orgulho impedem a submissão a Deus e a dependência dEle. Resultam em civilizações poderosas, mas cruéis e inimigas do reino de Deus. O seu juízo final é descrito em Apocalipses 18:1-3. Não é por acaso que o anjo anunciará: “Caiu! Caiu a grande Babilônia” (Ap.18:2).
A resposta do cristão a tudo isso tem que ser como a de Cristo, que cumpriu a vontade do Pai até as últimas consequências (1Co.15:24-28). Fazer a vontade do Pai é cumprir a grande ordenança de Cristo: “Ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos. Amém!" (Mt.28:18-20).
Não há uma missão tão poderosa contra o globalismo do que a Evangelização. Os salvos por Cristo não podem negligenciar essa ordem imperativa de Cristo (Mc.16:15). Porventura, permanecendo entre as paredes do templo, deixando de evangelizar, não estaremos agindo como aqueles da cidade de Babel? Pense nisso!