Texto Base: Jó 42:1-17
“E o SENHOR virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos; e o SENHOR acrescentou a Jó outro tanto em dobro a tudo quanto dantes possuía”(Jó 42:10).
1.Então, respondeu Jó ao SENHOR e disse:
2.Bem sei eu que tudo podes, e nenhum dos teus pensamentos pode ser impedido.
3.Quem é aquele, dizes tu, que sem conhecimento encobre o conselho? Por isso, falei do que não entendia; coisas que para mim eram maravilhosíssimas, e que eu não compreendia.
4.Escuta-me, pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu ensina-me.
5.Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te veem os meus olhos.
6.Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza.
7.Sucedeu, pois, que, acabando o SENHOR de dizer a Jó aquelas palavras, o SENHOR disse a Elifaz, o temanita: A minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois amigos; porque não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó.
8.Tomai, pois, sete bezerros e sete carneiros, e ide ao meu servo Jó, e oferecei holocaustos por vós, e o meu servo Jó orará por vós; porque deveras a ele aceitarei, para que eu vos não trate conforme a vossa loucura; porque vós não falastes de mim o que era reto como o meu servo Jó.
9.Então, foram Elifaz, o temanita, e Bildade, o suíta, e Zofar, o naamatita, e fizeram como o SENHOR lhes dissera; e o SENHOR aceitou a face de Jó.
10.E o SENHOR virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus amigos; e o SENHOR acrescentou a Jó outro tanto em dobro a tudo quanto dantes possuía.
11.Então, vieram a ele todos os seus irmãos e todas as suas irmãs e todos quantos dantes o conheceram, e comeram com ele pão em sua casa, e se condoeram dele, e o consolaram de todo o mal que o SENHOR lhe havia enviado; e cada um deles lhe deu uma peça de dinheiro, e cada um, um pendente de ouro
12.E, assim, abençoou o SENHOR o último estado de Jó, mais do que o primeiro; porque teve catorze mil ovelhas, e seis mil camelos, e mil juntas de bois, e mil jumentas.
13.Também teve sete filhos e três filhas.
14.E chamou o nome da primeira, Jemima, e o nome da outra, Quezia, e o nome da terceira, Quéren-Hapuque.
15.E em toda a terra não se acharam mulheres tão formosas como as filhas de Jó; e seu pai lhes deu herança entre seus irmãos.
16.E, depois disto, viveu Jó cento e quarenta anos; e viu a seus filhos e aos filhos de seus filhos, até à quarta geração.
17.Então, morreu Jó, velho e farto de dias.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos do fim da provação e da restauração de Jó. Após mostrar a Sua grandeza a Jó, Deus obtém o objetivo de toda a Sua argumentação: o reconhecimento por Jó da legitimidade da sua provação. A provação de Jó foi cessada num momento em que orava pelos seus amigos. Durante toda provação, ele se manteve íntegro e não lhe foi atribuída impiedade alguma. No sofrimento do justo sempre haverá um propósito divino que nada poderá impedir de ser realizado. O servo de Deus sempre tem um final feliz, se mantiver fiel ao seu Senhor.
I. A HUMILHAÇÃO DE JÓ
1. O Jó humilhado
Deus finalizou as suas baterias de perguntas, mas Jó não foi capaz de respondê-las. O próprio Jó já tinha dito que era incapaz de responder as inquirições de Deus – “Eis que sou vil; que te responderia eu? A minha mão ponho na minha boca” (Jó 40:4). Deus não queria apenas que Jó se calasse, mas que reconhecesse que Deus tinha o direito de prová-lo e de que o homem não pode querer contender com Deus quando submetido a uma prova, cujos propósitos sempre são favoráveis e bons para aqueles que O servem.
O patriarca, atônito, caiu em si e verificou que deveria reconhecer a soberania de Deus em termos mais amplos, ou seja, não poderia sequer arvorar-se no direito de querer entender o seu sofrimento. Reconheceu que Deus é soberano, mas, nesse reconhecimento, admitiu que Deus tem Seus planos e que deles não deve prestar contas a pessoa alguma. Deus tem os Seus planos, que se realizam sem que pessoa alguma possa impedi-los. Deus tem os Seus planos e os homens não devem contender quando Ele os pratica, mas tão somente a eles se submeter e confiar que o melhor está acontecendo para o que é alvo do plano divino - "Bem sei eu que tudo podes e que nenhum dos Teus pensamentos pode ser impedido" (Jó 42:2).
Com esta confissão, Jó humilhou-se diante de Deus no patamar desejado, abandonou completamente a "pontinha de auto-suficiência" que poderia ameaçar a sua vida espiritual e cumpriu o propósito divino para sua vida. Deus, então, fez passar o cativeiro de Jó quando este orava pelos seus amigos. Enquanto Jó estava se defendendo e curtindo sua dor, sentiu-se injustiçado; mas, quando viu a majestade de Deus, encontrou o caminho da humildade, do entendimento e a estrada da restauração.
Quando passamos pelo vale da dor, precisamos olhar para a majestade de Deus, e não para a profundidade das nossas feridas. Se olharmos para nós, entraremos em pânico; se olharmos para Deus, sentiremos paz no vale. Se observarmos os ventos contrários e o rugido da tempestade, naufragaremos, mas se fixarmos os olhos em Cristo, caminharemos sobre as ondas revoltas.
O começo da restauração de Jó não passou pelo entendimento de sua dor, mas pela compreensão da soberania de Deus. Foi quando seus olhos se abriram para ver a grandeza de Deus que as coisas passaram a se tornar claras para ele. Não podemos conhecer a nós mesmos sem antes conhecer Deus. Quanto mais focarmos em nós mesmos, mais aflitos ficaremos e mais longe da verdade estaremos. Quanto mais perto de Deus ficarmos, mais entenderemos a nós mesmos e as circunstâncias que nos cercam.
2. Reverência e submissão
Diante da espantosa visão da Criação de Deus, Jó exclamou: “Bem sei eu que tudo podes” (Jó 42:2). Isto demonstra sua atitude de reverência e submissão diante de Deus. Jó reconheceu que Deus está acima dos nossos pensamentos ou dos nossos projetos, e que não podemos querer indagar-lhe ou pedir que preste contas a nós.
O patriarca foi claro ao afirmar que os desígnios divinos não são nossos e não podem ser alvo de nosso interesse. Diante de Deus somos ignorantes, ou seja, pessoas que não têm o conhecimento de Deus, nem o podem ter. Por isso, Jó afirmou que, ao exigir que Deus viesse ao Seu encontro para explicar a situação, para lhe fazer entender o seu sofrimento apesar de sua retidão, "falava do que não entendia" (Jó 42:3).
O verdadeiro servo de Deus age como Jó, ou seja, reconhece que tratar dos desígnios divinos, tratar dos projetos de Deus, tentar perscrutar as razões de Deus estar agindo ou ter agido desta ou daquela maneira é falar do que não se pode entender, é, em última instância, ocupar indevidamente a posição que só cabe ao Senhor.
Como seria interessante que muitos de nós agíssemos com esta mesma consciência que Jó adquiriu e, de preferência, antes que passássemos por um estágio dolorido como o que Jó sofreu. Infelizmente, hoje, bem ao contrário do patriarca, há muitas pessoas que se colocam no lugar de Deus e passam a julgar os outros, a ditar ordens ao Senhor ou até a estabelecer projetos para as suas vidas e para as vidas dos semelhantes, sem sequer perguntar se esta é a vontade de Deus para nossas vidas (ler Tg.4:13,14). Que possamos nos pôr no lugar de servos e que reconheçamos, sempre, que não podemos, de forma alguma, falar do que jamais poderemos entender.
3. Uma experiência viva com Deus
“Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te veem os meus olhos” (Jó 42:5).
Jó estava perplexo diante da visão de Deus e de tudo que ouvira dEle. Reconheceu a soberania de Deus e confessou ter falado do que não entendia (Jó 42:3). Por fim, apresentou uma constatação das mais maravilhosas - ainda chaguento e pobre, o patriarca, após pedir ao Senhor que o ensinasse, deu testemunho de que toda aquela prova servira para que ele tivesse um maior entendimento de Deus. Sim, apesar de todo o sofrimento e de toda a prova, o patriarca podia dizer que, antes, apenas ouvia o Senhor, mas que agora O havia visto (Jó 42:5).
Agora que seus próprios olhos viram a Deus, Jó se arrependeu no pó e na cinza (Jó 42:6). Com esta expressão, o patriarca denotou que, até então, toda a sua vida de comunhão com Deus havia sido superficial - um "ouvir dizer" -, mas que, agora, com a experiência da prova, este conhecimento havia se ampliado muitíssimo, a ponto de não se ter apenas um "ouvir dizer", mas uma "visão". Havia ocorrido um aprofundamento no relacionamento entre Jó e Deus. Todavia, em nosso relacionamento com Deus, jamais devemos nos esquecer que Suas riquezas são inescrutáveis, de uma profundidade que jamais poderemos alcançar (cf.Rm.11:33-35).
Esta nova experiência com Deus resultou em humildade, reverência e submissão. Isto nos ensina que em nossa jornada não podemos nos contentar com um conhecimento teórico acerca de Deus, mas devemos experimentá-lo. Quando temos experiências vivas com o Altíssimo, renunciamos aos nossos “achismos” (Jó 42:3), confessamos nossa miséria “no pó e na cinza” (Jó 42:6), rejeitamos o nosso orgulho e rebeldia.
O comportamento de Jó nos traz uma importante reflexão. Se Jó era quem era, o homem mais excelente sobre a Terra no seu tempo, reto, sincero, temente a Deus e que se desviava do mal, tendo o próprio Deus como testemunha de sua fidelidade e, mesmo assim, admitiu ter um conhecimento superficial, de "ouvir dizer" a respeito de Deus, que poderemos falar em relação a nós e o nosso testemunho diante do Senhor? Será que poderemos dizer que conhecemos a Deus como o patriarca Jó conhecia? Será que podemos dizer que nossa intimidade com Deus se assemelha ao do patriarca Jó antes da provação?
Temos muito ainda a aprender, e devemos nos conscientizar de que nossa intimidade com Deus ainda é muito pequena. Se assim nos conscientizarmos dessa realidade, certamente teremos um grande progresso espiritual e seremos muito mais úteis à obra do Senhor e ao aperfeiçoamento dos santos do que temos sido na atualidade, até porque, por causa de nossas presunções de santidade, temos, muitas vezes, sido verdadeiras pedras de tropeço na caminhada de muitos.
II. A INTERCESSÃO DE JÓ
O objetivo divino da prova tinha sido alcançado. Jó crescera espiritualmente e aceitara depender de Deus em todos os aspectos de sua vida, sem qualquer sentimento de auto-suficiência, sem qualquer obstáculo que impedisse a atuação do Senhor em qualquer aspecto da sua vida. Mas Deus tinha algo a realizar, também, na vida dos amigos de Jó, pessoas que, também, tinham um conhecimento insuficiente a respeito de Deus. Vemos aqui que o propósito de Deus é dirigido a todas as pessoas, sem qualquer distinção.
1. A ira de Deus
Após ter se dirigido a Jó com uma série de indagações que Jó não foi capaz de respondê-las, o Senhor voltou-se para Elifaz, o temanita, com as seguintes palavras:
“A minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois amigos; porque não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó” (Jó 42:7).
Este texto mostra que Deus se irou contra os amigos de Jó porque não falaram de Deus o que era reto, como Jó falara. Os argumentos teológicos dos três amigos de Jó partiram de premissas falsas. A teologia deles não condiziam com a vontade de Deus. Eles defenderam Deus de forma enérgica e sincera, mas errada. Eles eram especuladores da fé; eram teóricos; falavam de sua cabeça, e não do coração; falavam do que tinham ouvido, e não de sua experiência; tinham conhecimento a respeito de Deus, mas não tinham intimidade com Deus. Isto mostra que uma teologia errada, certamente, conduz para uma crença igualmente equivocada. Deus mostrou para eles que o sofrimento de Jó não foi uma punição, mas uma provação, provação essa que poderá ocorrer com qualquer servo de Deus ao longo de sua jornada.
Embora a prova fosse de Jó, Deus não distinguiu entre eles e seus amigos, estando interessado em que os amigos de Jó também fossem alcançados pela bênção de Deus. Deus dirigiu-se a Elifaz e determinou a ele e a seus amigos que se arrependessem, que mudassem seus conceitos a respeito do Senhor e que fossem até Jó para que este intercedesse por eles, com um sacrifício em seu favor (Jó 42:8). Era a revelação do testemunho divino a respeito de Jó, testemunho que, de uma vez por todas, encerrava todas as razões e argumentações humanas que haviam sido proferidos por Elifaz, Bildade e Zofar.
E quanto a Eliú? O que ele disse a respeito de Deus era correto ou não? Como vimos, o discurso de Eliú avançou em relação aos dos três outros amigos de Jó, mas não era integralmente correto. Entretanto, como bem ensina a Bíblia de Estudo Plenitude, "…Deus nada diz referente a Eliú. Deus não confirma, não reconhece, não repreende, nem responde a Eliú. Esse dado sublinha o tema do Livro de Jó: Deus é soberano e Seus caminhos são inescrutáveis".
O testemunho que Deus dá de Seus servos faz com que todos os argumentos, todas as razões e todas as obras humanas cessem. Por isso, tenhamos confiança no Senhor e não nos deixemos intimidar pelo que os homens podem estar fazendo a nosso respeito, pois Deus é soberano e, no momento certo, fará prevalecer a Sua vontade, a despeito de todo e qualquer ordem que tenha provido do homem ou de suas instituições.
2. O pecado dos amigos de Jó
“... porque não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó” (Jó 42:7).
Este texto mostra que a fidelidade de Jó foi provada por Deus; ele continuava íntegro e com seu caráter reto, conforme sua humilhação demonstrou. Portanto, aquilo que Jó dissera estava correto. Isso não significa que tudo quanto Jó dissera era plenamente certo, mas que as respostas de Jó aos seus amigos eram inteiramente justas diante de Deus e que sua atitude lhe agradava.
Se Jó estava correto, então seus amigos estavam errados. Qual foi, então, o pecado dos amigos de Jó? O pecado dos amigos de Jó foi a insistência da apresentação da falsa teologia deísta, da falsa teologia da prosperidade e do sofrimento, evidente nas suas acusações contra o patriarca. Eles cometeram três erros que poderiam levar a destruição da reputação espiritual de Jó, caso este tivesse cedido:
Ø Ensinaram um princípio retributivo da prosperidade e do sofrimento - que os justos sempre são abençoados e que os ímpios são castigados. Para eles, todo sofrimento deveria ser uma consequência de um juízo divino como resposta a um pecado praticado. Como o livro de Jó demonstra, quando dentro dos propósitos de Deus, o sofrimento é uma manifestação de seu amor e graça e não uma forma de punição (Jó 1:8-12).
Ø Insistiram que Jó confessasse um pecado que ele não cometera, para livrar-se do sofrimento e receber a bênção divina. Pelo teor do seu conselho, eles tentaram Jó a voltar-se para Deus, visando ao seu proveito pessoal. Se Jó tivesse acatado o conselho deles, teria invalidado a confiança de Deus nele e confirmado a acusação de Satanás de que Jó temia a Deus apenas em troca de bênçãos e vantagens.
Ø Falaram com arrogância, alegando terem aprovação divina para sua doutrina e teologia falsas.
Nisto os amigos de Jó pecaram e, por isso, precisavam da intercessão de alguém, que fosse justo e reto diante de Deus. Jó era a pessoa qualificada para isso; por isso, Deus o escolheu, e ordenou que os três amigos o procurassem e fizesse um sacrifício em favor deles (Jó 42:8):
“Tomai, pois, sete novilhos e sete carneiros, e ide ao meu servo Jó, e oferecei holocaustos por vós. O meu servo Jó orará por vós; porque dele aceitarei a intercessão, para que eu não vos trate segundo a vossa loucura; porque vós não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó”.
3. A oração de Jó
Conforme Jó 42:8, Deus ordenou que os amigos de Jó fossem até ele para que este orasse por eles. Jó, que outrora foi acusado de pecador pelos seus amigos, agora intercedia por eles por meio da oração. Como bem disse o Pr. Claudionor de Andrade, “mesmo em frangalhos, e mesmo não passando de ruínas, deveria Jó, naquele momento, atuar como sacerdote daqueles que muito o feriram com suas palavras. Que incrível semelhança com o Senhor Jesus Cristo! Nosso Salvador, embora tenha sido retratado pelo profeta como alguém desprovido de parecer e formosura, intercedeu por nós pecadores” (Is.53:2,3,12).
Jó, mesmo em frangalhos, caber-lhe-ia orar por seus amigos, e por seus amigos oferecer os sacrifícios prescritos pelo Senhor. O Senhor aceitou a oração de Jó, e Deus perdoou os seus amigos.
Durante todo o livro, Jó se colocou na defensiva e ergueu sua voz para se defender. Mas Deus agora ordenou a Jó que saísse do campo de defesa para entrar na brecha da intercessão. Quando nos defendemos, o nosso foco está concentrado em nós mesmos. Quando oramos, nosso foco está na pessoa que é alvo da nossa oração. É impossível orar por alguém e continuar magoado com essa pessoa. E impossível odiar alguém e interceder por essa pessoa ao mesmo tempo. Jesus Cristo foi enfático, quando ensinou: “Quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que também o vosso Pai que está no céu vos perdoe as vossas ofensas” (Mc 11.25
A determinação divina para que os amigos de Jó efetuassem um sacrifício para remissão dos pecados cometidos em seus debates com o patriarca, traz-nos importantíssimas lições. Em primeiro lugar, mostra-nos que não só nossas ações, mas também nossas palavras são levadas em conta diante de Deus. Quantos de nós são descuidados com o que falam e quantos acabam falando algo de suas cabeças como se fossem palavras vindas da parte do Senhor. Tais palavras estão todas colocadas diante de Deus e o Senhor requererá de seus pronunciadores uma atitude de arrependimento sem o que poderão até perder a salvação. Esta é uma grande responsabilidade que muitos não têm consciência, mas que o referido texto bíblico revela-nos de forma insofismável, de modo claro e evidente.
Os amigos de Jó, por terem falado o que não convinha, eram culpados, haviam pecado e precisavam de imediata expiação. Como, então, os faladores da atualidade podem achar que suas palavras não são levadas em conta pelo Reto e Supremo Juiz? Tenhamos muito cuidado com o que falamos, pois tudo está sendo anotado perante o Senhor (cf.Mt.12:36).
III. A RESTAURAÇÃO DE JÓ
Quando Satanás investiu contra Jó, atacou cinco áreas fundamentais da sua vida:
-Primeiro, a área financeira. Satanás levou Jó à falência. Arrancou tudo o que ele tinha num único dia. Pessoas e circunstâncias fizeram da riqueza colossal de Jó apenas uma neblina que se dissipou.
-Segundo, a área dos filhos. Satanás provocou um acidente grave, envolvendo todos os filhos de Jó no mesmo dia da sua falência financeira, provocando a morte de todos eles no mesmo instante. Jó precisou sepultar todos os seus dez filhos no mesmo dia.
-Terceiro, a área da saúde. Jó, depois de perder seus bens e filhos, perdeu também sua saúde. Foi acometido por tumores malignos que brotaram no seu corpo desde a planta do pé ao alto da cabeça. Seu corpo ficou chagado; sua pele, necrosada. Jó ficou todo enrugado. Seu vigor tornou-se sequidão de estio.
-Quarto, a área do casamento. Jó, depois de perder os bens, os filhos e a saúde, perdeu, ainda, o apoio de sua mulher. Esta, revoltada contra Deus, sugeriu ao marido a rebelar-se contra Deus e cometer suicídio.
-Quinto, a área das amizades. Jó, tendo perdido todas as conexões dentro de sua casa, agora é atacado violentamente pelos próprios amigos, que se tornaram um peso para ele, e não um bálsamo. Recebeu dos amigos as mais duras críticas, as mais injustas acusações, as setas mais venenosas.
Mas, no fim da prova, Deus restaurou tudo que Jó tinha perdido. A sua restauração começou quando ele ainda estava enfermo:
· Primeiramente, iniciou-se no interior da sua alma, quando ele reconheceu que nada é diante do Senhor (Jó 42:6). Os olhos de sua alma foram abertos para compreender a majestade de Deus e a sua fraqueza.
· Depois, parte para uma demonstração exterior, mas ainda espiritual, através da ministração do sacrifício em favor de seus amigos (Jó 42:9).
· A seguir, Jó, cremos nós, enquanto orava pelos seus amigos, foi instantaneamente curado de sua chaga, uma evidência exterior de que cessara seu sofrimento (Jó 42:10) -“Mudou o Senhor a sorte de Jó, quando este orava pelos seus amigos; e o Senhor deu-lhe o dobro de tudo o que antes possuíra”.
· Em seguida, Jó é visitado pelos seus familiares, o que significa a reabilitação social do patriarca, com a criação de um fundo patrimonial, base para o início da nova opulência de Jó (Jó 42:11).
· E, ao longo dos anos, Deus reconstruiu a família de Jó, que, com sua mulher que nunca lhe abandonou, teve outros dez filhos. Do interior para o exterior - assim atua o Senhor na vida das pessoas.
Veja, a seguir, com mais detalhe, as cinco áreas atingidas na vida de Jó e que Deus as restaurou (adaptado do livro “As teses de Satanás, de Hernandes Dias Lopes”):
1. Deus restaurou a saúde de Jó
“Mudou o Senhor a sorte de Jó, quando este orava pelos seus amigos...”.
A cura física de Jó, creio eu, aconteceu quando ele deixou de se queixar, deixou de se defender e começou a orar pelos seus amigos. Enquanto se queixava, enquanto bradava inocência, enquanto discutia com seus amigos, enquanto reconhecia sua condição vil diante de Deus, Jó continuava chaguento e desprezado. Mas, no momento em que orou pelos seus amigos, no instante mesmo em que deixou de se ver a si próprio e passou a amar o próximo, foi mudado o seu cativeiro e, cremos nós, durante aquela oração, suas chagas desapareceram milagrosamente, tendo sido restituída a sua saúde, numa demonstração inequívoca da aceitação divina e numa prova indelével de que a provação havia cessado. Isto nos leva à própria suma que Jesus fez da lei, quando afirmou que ela se resumia a dois mandamentos: “amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo”.
Jó, ao orar pelos seus amigos, demonstrou amor integral e completo ao semelhante, não apenas um amor solidário ou filantrópico, mas um amor espiritual, uma compaixão pela alma de seus amigos. Às vezes, o que nos impede de termos o fim de tantas lutas e tantos sofrimentos é a ausência de compaixão pelas pessoas que nos cercam, é a ausência da plenitude do amor de Cristo em nossas vidas.
2. Deus restaurou os bens de Jó
Está escrito: ... [o SENHOR] lhe deu o dobro do que possuía antes (Jó 42:10). Observemos bem que a restauração de Jó se deu de forma paulatina e com a colaboração inestimável do patriarca.
Quando Jó foi visitado pelos seus parentes, eles trouxeram presentes ao patriarca, que serviu de fundo inicial para a reconstrução da riqueza. O texto bíblico diz-nos que o patriarca recebeu uma peça de dinheiro e um pendente de ouro (Jó 42:11) e que, por bênção de Deus, teve o dobro de tudo quanto dantes possuía (Jó 42:12). Como tornou uma peça de dinheiro e um pendente de ouro recebido de cada parente que o visitou em catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de bois e mil jumentas? A resposta é uma só: com trabalho. Jó soube aproveitar a bênção que recebeu e fazer com que aquele fundo patrimonial lhe rendesse.
A prosperidade material, quando desejada por Deus a um servo Seu, não vem senão dentro dos princípios éticos estabelecidos pelo Criador a este mundo, ou seja, mediante o trabalho, algo bem diverso da mágica preconizada pelos teólogos da prosperidade.
-O que Jó possuíra? Está registrado: “Possuía sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas. Tinha também muitos servos que trabalhavam para ele, de modo que era o homem mais rico de todos do oriente” (Jó 1:3).
-O que Jó passou a possuir? A Bíblia responde: “Assim, o SENHOR abençoou o último estado de Jó mais do que o primeiro; pois Jó chegou a ter catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de bois e mil jumentas (Jó 42:12).
Se Jó era o homem mais rico de sua época, passou a ser duplamente rico. Vale destacar que a riqueza de Jó é uma expressão clara da bondade de Deus; é fruto da bênção do Altíssimo. É Deus quem adestra as nossas mãos para adquirirmos riquezas. Riquezas e glórias vêm de Deus.
A Bíblia diz que a alma generosa prosperará.
3. Deus restaurou o casamento de Jó
Muitos casamentos não suportam o teste da pobreza; outros não se mantêm no glamour da riqueza. Quando Jó estava no fundo do poço, sua mulher ordenou-lhe a abrir mão de seus absolutos, amaldiçoar a Deus e morrer. Ela disse a Jó: “... Tu ainda te manténs íntegro? Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó 2:9). Ela não suportou a sucessão de tantas perdas. Decepcionada com Deus, estava disposta a virar a mesa e abandonar todos os valores e princípios que haviam regido até então sua vida. Isto mostra que sua fidelidade a Deus era condicional - mantinha sua devoção apenas nos dias áureos; sua fé era circunstancial e sua ética, situacional. Mesmo mergulhado num caudal de sofrimento e dor, Jó respondeu à sua mulher com firmeza inexorável: “Tu falas como uma louca. Por acaso receberemos de Deus apenas o bem e não também a desgraça?” (Jó 2:10).
Imagine Jó agora curado, cheio de vida, rico, cercado de parentes e amigos!
Imagine o comentário percorrendo todo o Oriente, acerca da mudança radical ocorrida em sua vida! Imagine esse homem, outrora surrado pela adversidade, agora novamente no topo do sucesso!
Imagine esse homem voltando a fita do tempo e lembrando-se de sua mulher querendo empurrá-lo para o abismo, sugerindo a ele pisotear seus valores, abandonar sua fé e lançar-se nos braços da morte! Se fosse hoje, talvez esse homem dissesse: "Mulher, quando eu estava na pior, você queria que eu morresse. Agora, estou com vigor e dinheiro no bolso; como você não me queria na pobreza, também não quero mais você na abundância". Claro, não foi isso o que aconteceu. O mesmo Deus que curou o corpo de Jó, curou também sua alma. O mesmo Deus que sarou as feridas de seu corpo, também lancetou os abcessos de seu coração. Jó certamente perdoou sua esposa. Aquele relacionamento estremecido foi restaurado. Aquele sentimento seco como uma palha jogada ao vento foi remoçado. Deus traz um novo alento ao coração deles, e o casamento se ergue das cinzas. Agora, surgem e florescem novos sonhos, novos alvos, novos filhos.
4. Deus restaurou os filhos de Jó
Não somente o casamento de Jó foi restaurado, mas também seus filhos; ele teve outros dez filhos, sete filhos e três filhas, ou seja, uma prole semelhante àquela que havia perdido (Jó 42:13). Com esta restauração, que, muito provavelmente envolveu até um milagre para que a mulher de Jó pudesse voltar a ter filhos, o Senhor quis mostrar, para todos os Seus servos de todos os tempos, que o adversário não tem poder para destruir a família enquanto instituição divina.
A Bíblia diz que as filhas de Jó se destacavam pela sua formosura. Os nomes das três filhas são mencionados: Jemima, Quezia e Quéren-Hapuque. Elas são descritas como as mulheres mais formosas do mundo (Jó 42:14,15. E Jó, na contramão da cultura vigente, lhes deu herança entre seus irmãos (Jó 42:14,15), numa evidência maior de que Jó estava, agora, totalmente submisso à vontade de Deus, agindo de acordo com outro princípio divino, que é o da igualdade entre homem e mulher (Gn.1:27,2:23), princípio que foi deturpado com o pecado (Gn.3:16). Não apenas Jó teve o privilégio de ter novos filhos, mas teve a ventura de ver os filhos de seus filhos, até a quarta geração (Jó 42:16).
5. Deus restaurou os amigos de Jó
A ira de Deus se acendeu contra os amigos de Jó, mas Deus ordenou-lhes que fossem até ele para que orasse por eles. Jó intercedeu por eles, e Deus aceitou sua oração, restaurando a vida de seus amigos (Jó 42:7-9). A restauração dos relacionamentos não veio como resultado dos argumentos e contra-argumentos, mas por meio da intercessão. Enquanto ambas as partes se entregaram ao arrazoamento, as feridas só foram abertas e os muros só se tornaram mais altos. No momento, porém, em que Jó se colocou na brecha da intercessão, e que Deus interveio, a amizade foi restaurada e o relacionamento de seus amigos com Deus foi restabelecida.
6. Deus deu a Jó uma vida abundante
Jó não somente foi restaurado em sua saúde, também ganhou um novo vigor, a ponto de ter vivido mais cento e quarenta anos depois do final de sua prova, tendo, inclusive, visto até a quarta geração; uma longevidade que é o dobro do normalmente existente naquela época (cf.Sl.90:10) e maior até do que a dos homens da fase final do período antediluviano (Gn.6:3). Tudo indica que Jó, após a prova, adquiriu uma nova vitalidade celular, uma nova configuração genética que lhe permitiu toda esta longevidade.
No entanto, o que é importante observar é que Jó não teve uma vida longa, mas uma vida de qualidade. A Bíblia fala-nos que Jó morreu, velho e farto de dias (Jó 42:17), ou seja, uma vida abundante, uma vida de qualidade, uma vida que valeu a pena ser vivida. Muitos pensam, atualmente, em uma vida de muita prosperidade quantitativa, mas não se preocupam em ter uma vida de qualidade. Deus, pelo contrário, quer nos dar uma vida feliz, uma vida que valha a pena ser vivida.
Enfim, tudo quanto Satanás intentou contrário, Deus reverteu. Satanás queria macular o caráter de Deus e afastar Jó de Deus; o que ele conseguiu foi apenas colocar Jó mais perto de Deus e deixar mais patente a majestade divina.
CONCLUSÃO
Chegamos ao final de mais um trimestre letivo. Estudamos sobre o sofrimento e a restauração de Jó. Aprendemos que, mesmo que Satanás se lance contra nós, Deus reverterá isso em bênção. Mesmo que ele queira nos destruir, sairemos dessa batalha mais crentes, mais fortes, mais perto de Deus. Creia nisso!
Satanás pode até lançar sobre nós seus dardos inflamados, porém, Deus nos cobrirá com suas asas. Satanás pode até nos atacar com sua fúria indômita, mas os planos de Deus para nós, estabelecidos na eternidade, jamais poderão ser frustrados. A soberania de Deus não pode ser abalada pelo ataque de Satanás, nem nossa segurança em Deus pode ser estremecida por esse ataque. Nada nem ninguém, nem agora nem no porvir, pode nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus. Estamos firmados e seguros nEle, e isso nos basta!
Deus restaurou a sorte de Jó, mas não lhe explicou por que estava ele estava sofrendo. É claro que nem sempre Deus nos explica os motivos do nosso sofrimento. Mas, quando não pudermos entender o que Deus está fazendo com a nossa vida, podemos entender Deus. Ele é soberano e está no controle do Universo. Até o nosso sofrimento mais atroz está debaixo do seu controle. Quando Albert Einstein veio à América, depois de seu sucesso com a teoria da relatividade, um repórter perguntou à esposa dele: "A senhora compreende a complexa teoria da relatividade pela qual seu marido é tão famoso no mundo?". Ela respondeu: "Não, eu não compreendo a complexa teoria da relatividade pela qual meu marido é tão famoso no mundo, mas compreendo o meu marido". Nós não podemos compreender o que Deus está fazendo, mas podemos compreender Deus. Ele é Todo-Poderoso e, também, é nosso Pai.