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O ZELO DO APÓSTOLO PAULO PELA SÃ DOUTRINA


Texto Base: 1 Timóteo 6:3-6,11; 2 Timóteo 3:14-17

 

“Tem cuidado de ti mesmo e da dou trina; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1Tm.4:16).

V.P.: “A igreja de Cristo é a única instituição divina na terra que preserva e defende a să doutrina diante dos enganos e males das heresias”.

1 Timóteo 6:

3.Se alguém ensina alguma outra doutrina e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com a doutrina que é segundo a piedade.

4.é soberbo e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas,

5.contendas de homens corruptos de entendimento e privados da verdade. cuidando que a piedade seja causa de ganho. Aparta-te dos tais.

6.Mas é grande ganho a piedade com contentamento.

11.Mas tu, o homem de Deus, foge destas coisas e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão.

2 Timóteo 3:

14.Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido.

15.E que, desde a tua meninice, sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus.

16.Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça.

17.para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos da Paulo e o seu zelo pela sã doutrina. A Bíblia Sagrada é a revelação de Deus para a humanidade; esta revelação contém ensinos preciosos e indispensáveis para que o homem viva. Estes ensinos é que constituem a “doutrina bíblica” ou “sã doutrina”. Não pode ser confundida com costumes, que são hábitos guardados por determinados grupos de pessoas ou seguimento religioso dentro de um período. Em tempos de ventos de doutrinas perturbadoras, torna-se urgente, a partir da vida e ministério do apóstolo Paulo, reafirmar o nosso compromisso com a Sã Doutrina esposada na Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus.

I. ORTODOXIA VERSUS HETERODOXIA

1. Dois termos técnicos importantes

Ortodoxia e Heterodoxia são dois termos técnicos utilizados na teologia cristã para se compreender a distinção entre ensino correto e desvios quanto à doutrina bíblica. Ortodoxia refere-se à doutrina Cristã enquanto for coerente com o que Cristo e os apóstolos ensinaram. Heterodoxia refere-se a tudo o que for diferente da Ortodoxia. Estes termos nos ajudam a entender a preocupação de Paulo com a proliferação de doutrinas heréticas nas Igrejas Locais. Veja o que Paulo disse aos pastores da Igreja de Éfeso: “Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue. Porque eu sei isto: que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não perdoarão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si” (Atos 20:28-30).

2. Conceito de Ortodoxia

Ortodoxia - do grego “orthos (direito) mais “doxa” (opinião). Na teologia cristã, ortodoxia diz respeito ao que é verdadeiro, certo; o que se acha de acordo com a Palavra de Deus e com os cânones, concílios e Declaração de Fé estabelecidos pela Igreja; refere-se ao modelo bíblico das “sãs palavras”. Exorta o apóstolo Paulo: “Conserva o modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido, na fé e na caridade que há em Cristo Jesus” (2Tm.1:13). Logo, a Doutrina é Cristã é ortodoxa enquanto for coerente com o que Cristo e os apóstolos ensinaram. Portanto, a definição técnica para a palavra “ortodoxia” diz respeito à “absoluta conformidade com um princípio ou doutrina”.

O pr. Silas Daniel argumenta que “um dos sintomas da influência da mentalidade pós-moderna no meio cristão é a aversão que alguns cristãos manifestam hoje em relação à ortodoxia bíblica, isto é, à Verdade. Infelizmente, o cristão pós-moderno tem a tendência de ignorar, e até mesmo criticar, a importância da doutrina correta. O termo ‘verdade absoluta’ causa arrepios em muitas pessoas. E a razão é simples: cansados das disputas teológicas intermináveis (a maioria em relação a doutrinas bíblicas secundárias) que marcaram os últimos séculos, muitos cristãos de hoje resolveram tomar uma atitude radical e tola: abraçar a ideia de que o que importa realmente são relacionamentos corretos e não doutrinas corretas. Porém, a ideia de que uma coisa é mais importante do que a outra é uma premissa absolutamente falsa. Ambas – relacionamentos corretos e doutrinas corretas – são importantes. E isso não é uma inferência particular. A própria Bíblia as trata como igualmente importantes, e a experiência da vida corrobora.

“Alguém pode ser um primor de ortodoxia, mas um péssimo cristão em termos práticos, em termos de comportamento. Isso porque o fato de saber a verdade não impede a pessoa de errar. Vide o caso do rei Salomão. O homem mais sábio do mundo cometeu uma tolice, pecou absurdamente, mesmo sabendo mais do que todos que a sua atitude era reprovável diante de Deus.

“Por outro lado, aquele que valoriza o comportamento correto em detrimento da ortodoxia esquece que é impossível termos um comportamento completamente correto se nos falta a compreensão da Verdade. É justamente por isso que, invariavelmente, aqueles que colocam relacionamentos acima de doutrina aceitam e reproduzem, às vezes inconscientemente, posicionamentos e comportamentos absolutamente equivocados. Ou seja, ortodoxia e ortopraxia se completam. Para que haja real ortopraxia, é preciso ortodoxia; e para que a ortodoxia gere frutos, é necessário que ela seja encarnada na vida, se manifeste nas ações; é necessário que seja algo mais do que mero conhecimento; é necessário que se materialize em ortopraxia. Ortodoxia sem ortopraxia é verdade sem vida; já ortopraxia nem existe em sua plenitude sem ortodoxia, pois não há vida se ignoramos a Verdade” (http://silasdaniel.blogspot.com/2008/06/sobre-verdade-meios-e-fins.html).

3. Conceito de Heterodoxia

“Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência” (1Tm.4:1,2).

Heterodoxia, do grego heterodoxos, é aquilo que tem uma opinião diferente. Em nosso caso específico, heterodoxia é qualquer doutrina que contrarie os ensinos das Escrituras Sagradas. Como adjetivo, heterodoxo é aquele que não é ortodoxo, é aquele que se opõe aos princípios da ortodoxia bíblica; herético.

O apóstolo Paulo advertiu a Timóteo que a Igreja deve manter a unidade doutrinária da fé e combater com veemência as “doutrinas de demônios”. Adverte ele: “Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios” (1Tm.4:1). Esta advertência é um antidoto para nós nos dias de hoje. Portanto, a Igreja deve ser ortodoxa, e a sua unidade doutrinária deve ser continuamente fortalecida. Atente para as seguintes palavras de estudiosos pentecostais: “Reconhecemos também que somente a Bíblia, por ser a Palavra de Deus, tem a resposta definitiva. Todas as palavras meramente humanas são, na melhor das hipóteses, meros ensaios, e só são verdadeiras à medida que se harmonizam com a revelação da Bíblia” (Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal, CPAD, p.44).

II. A AMEAÇA DE CORRUPÇÃO DOUTRINÁRIA

1. A advertência do apóstolo Paulo

“Como te roguei, quando parti para a Macedônia, que ficasses em Éfeso, para advertires a alguns que não ensinem outra doutrina” (1Tm.1:3).

Neste texto, Paulo chamou a atenção de Timóteo para que ele advertisse alguns que não ensinassem outra doutrina diferente daquela que ele tinha ensinado aos crentes de Éfeso; e isto se aplica a todos nós.

É provável que Paulo, após sua primeira prisão em Roma, tenha visitado Éfeso com Timóteo. Quando Paulo se mudou para a Macedônia, instruiu Timóteo a ficar em Éfeso durante algum tempo para ensinar a Palavra de Deus e alertar os cristãos contra os falsos mestres. Da Macedônia, Paulo aparentemente viajou para a cidade de Corinto, e talvez tenha sido nessa cidade que escreveu a Primeira Epístola a Timóteo. No texto acima, na verdade, o apóstolo está dizendo: “Como te instruí, anteriormente, repito essas instruções agora”. Timóteo estava em Éfeso em missão temporária, admoestando alguns homens na Igreja a não ensinar doutrinas contrárias ou complementares à verdadeira fé cristã. As principais doutrinas falsas em questão eram o legalismo judaico e o gnosticismo. A Igreja de Éfeso estava ameaçada por falsas doutrinas e corria sérios riscos em virtude da infiltração de perigosas heresias. Timóteo precisava admoestar as pessoas que se haviam infiltrado na Igreja para pregar uma mensagem heterodoxa.

Concordo com o pr. Hernandes Dias Lopes quando afirma que a “sã doutrina é absoluta e não admite que outro evangelho seja pregado. Nada é mais nocivo para a saúde espiritual da Igreja do que as falsas doutrinas. Ninguém é mais perigoso para a Igreja do que os falsos mestres. Algumas pessoas estão sempre ansiosas para receber de bom grado tudo o que é novo e diferente, como os atenienses na época de Paulo (Atos 17:21). Geralmente, o que eles consideram ‘novo’ é heresia antiga, vestida com roupagem modernas”.

Vivemos hoje a época conhecida como pós-modernidade. A pós-modernidade está construída sobre o tripé da pluralização, da privatização e da secularização. John Stott aponta como um dos princípios centrais do “pós-modernismo” a inexistência de uma verdade objetiva, muito menos de uma verdade universal e eterna. Pelo contrário, cada pessoa tem a sua própria verdade; você tem a sua e eu tenho a minha, e as nossas verdades podem divergir totalmente umas das outras e até mesmo contradizer-se. Consequentemente, a virtude mais apreciada é a tolerância, uma qualidade que tudo tolera, exceto a intolerância daqueles que defendem que certas ideias são verdadeiras, e outras, falsas; que certas práticas são boas, e outras, más.

2. Quais eram os problemas de ordem doutrinária? 

Paulo disse: “...que não ensinem outra doutrina” (1Tm.1:3). Aqui, a palavra “outra” é “hetero”, diverso. Para Paulo, “outra doutrina” significa uma falsa doutrina. Uma falsa doutrina pode ser a negação de uma verdade da fé cristã ou mesmo uma adição a ela.

Que doutrina seria essa que se infiltrava na Igreja por intermédio de certas pessoas? O texto deixa claro que havia um pano de fundo judaico, pois Paulo menciona “fábulas e genecologias sem fim” (1Tm1:4) e acrescenta que esses falsos mestres pretendiam passar por “mestres da lei” (1Tm.1:7). Mas há fortes indícios de que Paulo também se referisse a uma heresia de cunho gnóstico, pois o texto menciona a “loquacidade frívola (1Tm.1:6-ARA) e “o abandono da fé e da boa consciência” (1Tm.1:19-ARA).

O pr. Elienai Cabral afirma que “as igrejas plantadas por Paulo e outros apóstolos, no primeiro século, sofreram com a infiltração de conceitos filosóficos pagãos e judaizantes na interpretação da doutrina apostólica. Nas igrejas como a de Corinto e Éfeso, havia os que afirmavam crer no Evangelho, mas não renunciavam os costumes pagãos. Outros traziam uma bagagem religiosa do legalismo judaico, aliada ao gnosticismo (1Co.1:12)”.

O gnosticismo era na verdade uma mistura de elementos do judaísmo com a filosofia grega. O resultado desse amálgama produziu uma das mais avassaladoras heresias que atingiu a Igreja no segundo século. Tal heresia, pelo menos de forma embrionária, foi combatida vigorosamente na Epístola de Paulo aos Colossenses e no evangelho segundo escreveu João.

Segundo argumento de William Barclay, “o movimento gnóstico começava abordando os problemas da origem do mal, do pecado e do sofrimento. De onde provém tudo isso? Se Deus é totalmente bom, não poderia ter criado o mal. Como, então, o mal entrou no mundo? A resposta gnóstica é que o mundo não surgiu do nada, pois a matéria é eterna. A matéria é também má, imperfeita e maligna, e o mundo foi criado dessa matéria. Com essas ilações é que se explicavam o pecado, o sofrimento e a imperfeição deste mundo.

“De acordo com o pensamento gnóstico, se Deus é essencialmente bom e a matéria é essencialmente má, então Deus não pode ter tocado nem moldado essa matéria. O que Deus fez então? Lançou uma emanação, eon, e esta deu lugar a outra, e esta deu lugar a mais outra, e assim sucessivamente, até chegar uma emanação que estava tão longe de Deus que pôde tocar a matéria e manipulá-la. Dessa forma, foi essa emanação - e não Deus - que criou o Universo, afirmavam eles.

“De acordo com os gnósticos, essas emanações conheciam cada vez menos Deus e acabaram tornando-se hostis a ele. A conclusão dos gnósticos é que o deus que havia criado o mundo ignorava o Deus real e verdadeiro e era completamente hostil a ele. Mais tarde, os gnósticos foram ainda mais longe, ao considerar o Deus do Antigo Testamento o Deus criador, ignorante e hostil, e o Deus do Novo Testamento o Deus verdadeiro e real. Os gnósticos criaram, assim, uma complicada mitologia de deuses e emanações, cada um com sua história, biografia e genealogia. Para os gnósticos, Jesus era a maior das emanações, aquele que estava mais perto de Deus.

“O gnosticismo tornou-se finalmente esnobe, pois somente uma aristocracia intelectual poderia penetrar nessas muitas lucubrações que derivaram” (William Barclay. 1 e 2Timóteo, Tito e Filemon).

Segundo Hernandes Dias Lopes, o problema do gnosticismo não era apenas intelectual, mas também ético. O movimento desembocou em duas posturas perigosas:

  • O ascetismo - se a matéria é má, o corpo também o é; logo, o corpo deve ser subjugado, desprezado e oprimido. Os gnósticos criaram então leis austeras proibindo alimentos e até mesmo o casamento (1Tm.4:3).
  • A licenciosidade - se o corpo é mau, diziam os gnósticos, o que fazemos com ele não importa; o que importa é o espírito. Assim, é permitido que o homem sacie todos os seus impulsos e apetites. Desta forma, o gnosticismo terminou em imoralidade (2Tm.3:6; Tt.1:1,6).

Todas essas doutrinas heréticas tendiam a se infiltrar nas Igrejas dos primeiros séculos e, por que não dizer, em todos os séculos seguintes até chegar nos dias de hoje.

Paulo foi clínico em sua advertência sobre a pertinácia desses falsos mestres em quererem desviar a Igreja da doutrina ortodoxa. Paulo advertiu que durante toda a sua existência, a Igreja sofreria ataques externos e internos. Falsos mestres, lobos em pele de ovelhas, se infiltrariam no rebanho e não teriam misericórdia. Dentro das igrejas, homens aspirariam pelas posições de poder, distorceriam a verdade e tentariam arrastar ao erro os fiéis servos do Senhor Jesus (Atos 20:29,30).

Infelizmente, vivemos dias difíceis; dias em que é notório o abandono do ensino da Palavra de Deus nas igrejas. Muitos dentre aqueles que que se dizem ser cristãos, como nos afirmam o apóstolo Paulo, “não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos” (2Tm.4:3); ou seja, não quererão se render aos ensinos da Palavra de Deus, e os distorcerão, a fim de poderem praticar os seus pecados, construindo para si doutores que justifiquem seus pecados e iniquidades. São dias difíceis, mas nós, que conhecemos a Palavra, que fomos ensinados na sã doutrina, sabendo que estas coisas iriam mesmo acontecer, só devemos ser cautelosos e, sobretudo, submissos aos ensinos do Senhor, pois o ensino da Palavra de Deus é essencial ao crescimento espiritual do cristão.

3. Fábulas e genealogias intermináveis (1Tm.1:4)

“nem se deem a fábulas ou a genealogias intermináveis, que mais produzem questões do que edificação de Deus, que consiste na fé; assim o faço agora” (1Tm.1:4).

A Igreja de Éfeso pode ter sido contaminada pela mesma heresia que ameaçava a Igreja de Colossos: o ensino de que para ser aceitável a Deus era necessário que a pessoa descobrisse certos conhecimentos ocultos e adorasse os anjos (Cl.2:8,18). Pensando que ajudaria em sua salvação, alguns efésios inventaram histórias míticas baseadas no Antigo Testamento ou nas genealogias. Os falsos mestres eram motivados por seus próprios interesses ao invés de serem motivados pelos interesses de Cristo. Eles envolveram a Igreja em “fábulas ou genealogias intermináveis”, em questões irrelevantes e controversas, desperdiçando um tempo precioso que deveria ter sido empregado no estudo da Verdade.

Paulo, então, pediu a Timóteo que advertisse esses falsos mestres a não se ocuparem com essa falsa doutrina na Igreja de Éfeso. É impossível saber definitivamente o que eram essas “fábulas e genealogias”. Alguns as identificam como lendas surgidas entre alguns mestres judeus; outros acham que se referem a mitos e a genealogias de gnósticos. É interessante perceber que os falsos cultos de hoje têm essas mesmas características. Muitas histórias extravagantes surgiram acerca dos fundadores de falsas religiões, e as genealogias ocupam um lugar importante no mormonismo. A doutrina dos falsos mestres não promove a glória de Deus e nem o bem da Igreja. O que ela faz é promover a especulação e a controvérsia.

Segundo William Macdonald, tais temas desprezíveis servem somente para provocar questionamentos e dúvidas na mente das pessoas. O completo plano de redenção foi projetado por Deus não para provocar dúvidas e discussões, mas, ao contrário, para induzir fé no coração das pessoas. A Igreja de Éfeso não devia dar atenção a tais temas sem valor, mas devia se dedicar às grandes verdades da fé cristã, as quais inspiram fé e não suscitam dúvidas nos ouvintes.

Hoje, também, acontece discussões fúteis e irrelevantes, discussões estas que afastam as pessoas da mensagem de Cristo que transforma vida. Devemos ficar longe da especulação e dos argumentos religiosos e teológicos sem sentido. Essas práticas consomem o tempo que devemos usar para compartilhar as Boas Novas com outras pessoas. Devemos evitar qualquer coisa que nos impeça de fazer a obra de Cristo.

III. A IGREJA COMO GUARDIÃ DA SÃ DOUTRINA

1. A Igreja é “coluna e firmeza da verdade”

“Escrevo-te estas coisas [...] para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e firmeza da verdade” (1Tm.3:14,15).

- “Escrevo-te estas coisas...”. Paulo instrui o jovem pastor Timóteo acerca da correta conduta na Igreja de Deus. John Stott afirmou que, se as instruções do apóstolo (não somente do apóstolo Paulo, mas de todos os demais apóstolos) com respeito à doutrina, ética, unidade e missão da Igreja tivessem sido dadas apenas sob a forma oral, a Igreja teria ficado como um viajante sem mapa ou como uma embarcação sem leme. Contudo, pelo fato de as instruções dos apóstolos terem sido dadas por escrito, sabemos algo de que de outro modo não teríamos tido conhecimento; ou seja, qual deve ser a conduta dos crentes e dos pastores-líderes nas Igrejas Locais.

- “Coluna e firmeza da verdade”. A Igreja é comparada com uma coluna e um fundamento. Este atributo da Igreja só é real na medida em que se baseia em Cristo, pois Ele é o fundamento da Igreja (1Co.3:11). O próprio Cristo é a Verdade (João 14:6). Como a coluna sustenta o teto e como o fundamento sustenta toda a estrutura do edifício, assim a Igreja sustenta a gloriosa verdade do evangelho no mundo. A Igreja sustenta a verdade por ouvi-la e obedecer-lhe (Mt.13:9), por usá-la corretamente (2Tm.2:15), por guardá-la no coração (Sl.119:11), por defendê-la (Fp.1:16), por proclamá-la (Mt.28:18-20). Portanto, diante das falsas doutrinas, falsas crenças, a Igreja é a coluna e firmeza da sã doutrina. A Igreja mantém e defende a sã doutrina contra todo o erro, oposição intelectual, filosófica e religiosa dos falsos mestres.

O pr. Hernandes Dias Lopes, citando William Barclay, explica que a palavra “coluna” tinha um significado muito importante na cidade de Éfeso, onde Timóteo era pastor. A maior glória de Éfeso era o templo de Diana (Atos 19:28). Esse templo era uma das sete maravilhas do mundo antigo. Uma de suas características era suas colunas. Havia nesse templo 127 colunas jônicas de mais de 18 metros de altura; todas eram feitas de mármore, e algumas continham pedras preciosas incrustradas ou estavam cobertas de ouro.

A ideia neste texto é que o dever da Igreja é levantar a Verdade de tal forma que todos a vejam. A palavra “firmeza” no texto significa aquilo que sustenta um edifício, que mantém o edifício em equilíbrio e intacto; é o fundamento.

John Stott, analisando essas duas metáforas, assevera que a Igreja tem dupla responsabilidade em relação à Verdade. Primeiro, como “fundamento” - sua função é sustentar a Verdade com firmeza, de tal forma que ela não caia por terra sob o peso de falsos ensinos. Segundo, como “coluna” - tem a função de mantê-la nas alturas, de modo que não fique escondida do mundo. Sustentar com firmeza a Verdade é a defesa e a confirmação do evangelho; mantê-la bem alto é a proclamação do evangelho. A Igreja é chamada para esses dois ministérios. Há uma estreita conexão entre a Igreja e a Verdade. A Igreja depende da Verdade para sua existência, e a Verdade depende da Igreja para sua defesa e proclamação.

2. O objetivo do zelo pela sã doutrina

O objetivo do zelo pela sã doutrina é preservar o amor de um coração totalmente sincero e leal a Cristo, e de uma fé não fingida. O amor, sem dúvida, inclui o amor para com Deus, para com os cristãos e para com o mundo em geral. Deve brotar de um coração puro. Se a vida interior é impura, dificilmente o verdadeiro amor cristão fluirá dela. Esse amor pode também ser o fruto da boa consciência, que é a consciência totalmente livre da ofensa a Deus e ao ser humano. Esse amor deve ser resultado da fé sincera (literalmente “não hipócrita), que é a fé sem máscaras.

A falsa doutrina nunca poderá produzir o amor divino e a fé sincera no coração do ser humano. Como bem diz o pr. Elienai Cabral, “o falso ensino e os falsos mestres geram contenda, dissensões e gangrenas na comunhão”. É o ensinamento da graça de Deus que produz um “coração puro, uma boa consciência, fé não fingida e que, portanto, resulta no amor” (1Tm.1:5), e “não há cristianismo ortodoxo sem a prática do amor de um coração puro e de uma fé não fingida”.

3. A primazia do amor

“Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro...” (1Tm.1:5).

Paulo exortou Timóteo a conscientizar-se de que o mais importante não é apenas produzir ortodoxia, mas o “amor que procede de um coração puro”. O amor é mais notável do que habilidades, conhecimento, obras e realizações. Ele provém de Deus e não muda com as circunstâncias ou com a falta de correspondência do ser amado. Ele espera, entende, é altruísta, coloca-se como escudo, sabe agradar, socorrer, relevar, esquecer as injúrias (1Co.13).

Paulo sempre orava para que os cristãos de Éfeso estivessem “arraigados e firmados em amor” (Ef.3:17). O zelo do apóstolo se dava justamente para impedir que o “espírito” dos falsos mestres se infiltrasse na Igreja. Nesse caso, o amor como “fim do mandamento” é o antidoto perfeito; ele aparece como um freio, um instrumento de estabilização no combate às falsas doutrinas.

Paulo disse que precisamos combater o erro sem magoar as pessoas. A defesa da verdade não pode ocorrer em prejuízos do amor. A verdade precisa ser dita em amor, e o amor precisa acompanhar a ortodoxia. Quando admoestar, essa admoestação precisa brotar de um coração puro; ou seja, a motivação precisa ser certa. Também esse amor precisa fluir de uma fé sem hipocrisia e de uma consciência boa, ou seja, sem a contaminação do pecado. O aspecto positivo de uma boa consciência é a fé, porque uma boa consciência não somente aborrece o mal, mas tampem adota o que é certo. Por isso, essa fé é verdadeira e genuína.

CONCLUSÃO

O apóstolo Paulo, em seus escritos, sempre demonstrou sua preocupação para que a sã doutrina tivesse sempre um espaço privilegiado não só na vida de cada crente, mas nas Igrejas Locais, pois entendia que ser salvo era ter adotado a nova doutrina (Rm.6:17); que os inimigos dos crentes são os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina (Rm.16:17); que um culto não tem sentido se não houver doutrina (1Co.14:6,26); que a vida familiar deve ser construída, notadamente a educação dos filhos, pela doutrina do Senhor (Ef.6:4); que a vida do pastor-líder está indissociavelmente vinculada ao ensino e à observância da sã doutrina (1Tm.1:3,10; 4:6,16; 5:17; 6:1,3; 2Tm.4:2,3; Tt.2:1,7,10). A exemplo de Paulo, somos chamados para zelar pelo ensino de Cristo a fim de edificar a Igreja do Senhor.

Seguir a sã doutrina, portanto, é seguir a vontade de Deus; é por isso que muitos se têm levantado contra a doutrina bíblica, porque ela implica na renúncia do eu, na renúncia do ego, na renúncia de nós mesmos, sem o que é impossível seguir a Jesus (Mt.16:24). Daí porque Jesus foi interrogado pelo sumo sacerdote a respeito de sua doutrina (João 18:19).