Texto Base: João 16:7-13
“Assim, pois, as igrejas em toda a Judeia, e Galileia, e Samaria tinham paz e eram edificadas; e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e na consolação do Espírito Santo” (Atos 9:31).
João 16:
7.Todavia, digo-vos a verdade: que vos convém que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, se eu for, enviar-vo-lo-ei.
8.E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo:
9.do pecado, porque não creem em mim;
10.da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais;
11.e do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado.
12.Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora.
13.Mas, quando vier aquele Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade, porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula, estaremos diante de um assunto muito importante e essencial: a atuação do Espírito Santo no Plano Divino da Redenção. O Espírito Santo é a mais misteriosa das três Pessoas que compõem a Santíssima Trindade; isto talvez possa ser explicado no fato de o Espírito Santo, em seu ministério, não revelar a si mesmo, mas a verdade, a Jesus e o poder de Deus (João 16:13,14). Ainda que se note mais evidente a sua atuação no Novo Testamento, Ele está presente desde quando tudo começou (Gn.1:2; Gn.2:7). O Espírito Santo atua de maneira contínua e dinâmica para salvação. Sem o Espírito Santo seria quase impossível um pecador se converter a Cristo. Além de Ele atuar para convencer o pecador, o Espírito capacita o pregador da mensagem, dando-lhe poder e manifestando sinais sobrenaturais para confirmá-la.
I. O ESPÍRITO SANTO COMO PROMESSA
A participação do Espírito Santo como promessa é vista na promessa messiânica, na Antiga Aliança e na Pessoa de Jesus Cristo. A Sua influência é muito importante no Plano da Salvação do ser humano. Deus fez o homem perfeito, mas ele caiu. Agora, o homem caído e escravizado pelo pecado, é alvo do plano salvador de Deus. Neste Plano estão envolvidas as três Pessoas da Trindade. A Bíblia Sagrada mostra que cada Pessoa da Trindade exerce função específica para salvar o ser humano.
Neste Plano salvador de Deus, a Sua relação com este homem passa por dois crivos: seu amor e sua justiça. Devido a sua santidade e justiça, Deus deve punir o homem por sua transgressão. Devido ao seu amor, Deus quer salvar o ser humano. A justiça divina exige que o homem seja punido, receba o justo castigo por seus atos, contudo, o Seu amor não admite a ideia de abandonar o homem em seu estado de miséria e desgraça, longe de seu Criador e em permanente conflito espiritual. Como conciliar tal dilema? A dívida do homem para com Deus é imensa, impagável. Quem pode restituir plenamente a um Deus que foi ofendido em sua justiça e santidade? Não há como pagar; no entanto, Deus em seu amor quer resgatar o homem de tão terrível situação. O meio encontrado por Deus foi a encarnação da segunda Pessoa da Trindade - o Filho, e nesta encarnação esteve a imprescindível participação do Espírito Santo (Mt.1:20; Lc.1:35). O Filho de Deus foi gerado pelo Espírito Santo no ventre de Maria. Ele nasceu, cresceu e morreu; por meio de Sua morte na cruz, o Filho de Deus proveu uma solução que satisfez tanto a justiça como o amor de Deus.
1. A Promessa Messiânica
Deus tomou a decisão de salvar o homem antes da fundação do mundo. Este foi o primeiro ato do processo da salvação. Se Deus não tivesse querido salvar o ser humano, jamais ele poderia ter a oportunidade da salvação. Movido pelo seu amor, o Senhor decidiu que o ser humano teria esta chance e, por isso, planejou a salvação, e esta salvação é fruto da manifestação da vontade soberana de Deus. O Senhor escolheu salvar o ser humano, mesmo sabendo que ele haveria de pecar, e previamente determinou que todos aqueles que crerem em Cristo serão salvos e os que não crerem serão condenados (Mc.16:16). A salvação é para todos os seres humanos (Is.55:1; Tt.2:11), sem qualquer distinção, tanto que o primeiro casal foi expulso do Éden e impedido de tomar da árvore da vida para que toda a humanidade tivesse a mesma oportunidade de salvação, até porque Deus é imparcial e não faz acepção de pessoas (Dt.10:17; At.10:34). Já antes mesmo da fundação do mundo, o Senhor estipulou condições para que tal salvação acontecesse, mas nem por isso deixou de querer que todos os homens se salvem (1Tm.2:4).
O Plano de Deus para a salvação do ser humano, revelado à humanidade no momento mesmo da aplicação da penalidade pela prática do pecado, foi sendo executado desde então.
-O primeiro ato de Deus após a entrada do pecado no mundo foi imolar um animal, derramar seu sangue e com a pele providenciar vestes para o primeiro casal (Gn.3:21). Sangue fala do meio para a redenção e vestes dos resultados, isto é, o usufruto da salvação (cf.Is.61:10; Ap.19:8; 3:18).
-O segundo ato deste plano foi a proibição de o homem ter acesso à árvore da vida por causa do pecado (Gn.3:22), acompanhado da expulsão do Éden (Gn.3:23). Com estas medidas, Deus impediu que o homem, a exemplo dos anjos pecadores, vivesse numa dimensão eterna, condenado à inevitável e sempiterna separação de Deus, possibilitando ao homem que, mediante o arrependimento enquanto estivesse na dimensão terrena, pudesse desfrutar de uma eternidade com o Senhor.
-A partir de então, a Divina Trindade iniciou a execução de seu plano que alcançou o seu ápice quando da própria encarnação do Deus Filho, momento que as Escrituras denominam de “a plenitude dos tempos” (Gl.4:4), instante em que Deus cumpriu a sua promessa Messiânica - de providenciar, da semente da mulher, o único e suficiente Salvador, Jesus, o próprio Filho de Deus (Mt.1:21; Lc.2:11; Jo.3:16,17; At.4:12). Eis a razão pela qual a Bíblia, mais de uma vez, diz que Deus é o Deus da nossa salvação (1Cr.16:35; Sl.24:5; 51:14), bem como que a salvação provém dEle (Sl.3:8; 37:39; 62:1).
2. Na Antiga Aliança
A Bíblia narra que na Antiga Aliança houve várias atuações do Espírito Santo. Cito algumas:
-Ele vinha sobre alguém - "O Espírito de Deus se apoderou de Zacarias (2Cr.24:20).
-Ele capacitava pessoas para obras especificas - "Eu o enchi do Espírito de Deus" (Êx.31:3).
-Ele dava habilidades para liderança militar (Jz.3:10) – “E veio sobre ele [Otniel] o Espírito do Senhor, e julgou a Israel e saiu à peleja...”.
-Ele dava habilidade para liderança política (cf.Zc.4:6) – “E respondeu e me falou, dizendo: Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel, dizendo: Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos”.
-Ele usou em profecia até mesmo pessoas que não eram profetas (Nm.11:24,25) – “E saiu Moisés, e falou as palavras do Senhor ao povo, e ajuntou setenta homens dos anciãos do povo e os pôs em roda da tenda. Então, o Senhor desceu na nuvem e lhe falou; e, tirando do Espírito que estava sobre ele, o pôs sobre aqueles setenta anciãos; e aconteceu que, quando o Espírito repousou sobre eles, profetizaram; mas, depois, nunca mais”.
-A atuação do Espírito Santo foi notória sobre juízes, profetas e reis. Estes eram ungidos com óleo, símbolo de que eles estavam sendo revestidos com o poder do Espírito Santo, como podemos ver na unção de Davi por Samuel, em 1Sm.16:13 - ". . . daquele dia em diante o Espírito do Senhor se apossou de Davi".
-Ele atuava para fertilizar mulheres que eram estéreis. Uma mulher casada que não conseguia ter filhos, sabendo que quem dá a vida é o Espírito, ia ao Tabernáculo ou ao Templo; lá, ou ela orava ou o sacerdote pedia a Deus que abrisse o seu ventre. Ana, por exemplo, é uma ilustração clássica para isto. Ela foi para o Tabernáculo para orar por um filho. O sumo sacerdote Eli a princípio pensou que ela estivesse bêbada, mas ela lhe disse que era uma mulher atribulada que tinha derramado seu coração diante do Senhor. Eli respondeu: "Vai-te em paz, e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste" (1Sm.1:17). Mais tarde ela deu à luz ao profeta Samuel. Apesar de o Espírito Santo não ser mencionado na história, a nossa compreensão das suas funções, de acordo com o Salmo 104 (e Jó 33:4), nos mostra que cabia ao Espírito de Deus conceder vida.
3. A Promessa do Consolador
“E, no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, que venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre. E isso disse ele do Espírito, que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado” (João 7:37-39).
Houve uma promessa do Consolador, mas para que essa promessa fosse concretizada um acontecimento muito importante e essencial deveria acontecer: a Ressurreição de Jesus Cristo e a Sua volta ao Céu. Está escrito: “Todavia, digo-vos a verdade: que vos convém que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, se eu for, enviar-vo-lo-ei”.
Jesus deixou claro aos seus discípulos que, antes de o Espírito Santo descer, Ele próprio precisava subir. O Pentecostes somente pode acontecer depois da assunção de Jesus. Apenas a ida de Jesus para cruz e para o Trono do Pai tornou possível que Ele enviasse o Espírito Santo, o Consolador. Dessa maneira, a saída de Jesus não apenas representa alegria para Si mesmo (João 14:28), mas também ajuda para seus discípulos. Jesus já havia dito aos discípulos que Sua partida tinha o propósito de preparar-lhes lugar (João 14:2), capacitá-los a fazerem obras maiores (João 14:12), dar-lhes maior conhecimento (João 14:20) e chegar mais perto deles, no Espírito (João 14:22).
A promessa do Espírito Santo, portanto, foi concretizada nas Escrituras Sagradas e ao longo da história da Igreja. Ainda hoje, milhares de pessoas experimentam dia após dia a doce presença dessa Bendita Pessoa Divina.
II. O ESPÍRITO SANTO CONSOLA E ENSINA
O Espírito Santo é uma Pessoa - Ele consola, ensina e ajuda.
1. O Consolador (João 16:7)
Consolador - do grego Parakletos, significa “aquele que anda ao lado”, como um eterno companheiro (João 14:16-26). A palavra Consolador, a princípio, sugere passividade, como alguém que aparece apenas em momentos maus para prestar socorro e trazer alento ao coração. Porém, o sentido é maior que este. O Espírito Santo é um companheiro inseparável, que sempre encoraja e exorta. Talvez a tradução mais correta seja advogado, que é alguém que luta pela justiça em defesa de outrem.
Jesus disse aos seus discípulos que partiria, mas apesar de ter perguntado de maneira geral para onde Ele ia, eles não pareciam muito envolvidos (João 16:5). Eles estavam mais preocupados com o próprio futuro que com o de Jesus (cf. João 16:6) – “...o vosso coração se encheu de tristeza”. Eles estavam cheios de tristeza com relação aos seus problemas. Na verdade, perante eles estavam a cruz e o túmulo; perante eles estava a perseguição no seu serviço para Cristo.
Mas eles não seriam deixados sem auxílio e conforto do alto. Cristo enviaria o Espírito Santo a fim de ser o Consolador deles (João 16:7). Era sobremaneira importante para os discípulos que o Consolador viesse; Ele os capacitaria, encorajaria, ensinaria e tornaria Cristo mais real para eles. Mas, o Consolar não viria até que o Senhor Jesus voltasse ao Céu e fosse glorificado. Naturalmente, o Espírito Santo havia estado no mundo antes disso, como já vimos, mas viria de maneira nova: para convencer o mundo e ministrar aos redimidos.
2. O Ensinador
“Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (João 14:26).
Muitos dos que negam a personalidade do Espírito costumam apegar-se ao ensino de Cristo de que o Espírito Santo dirigiria a Igreja (João 16:13), querendo, com isto, ter base para suas ideias antibíblicas de consideração do Espírito como uma força, porque, dizem eles, uma força se caracteriza por guiar, dirigir um ser a um determinado lugar, chegando, mesmo, a nos trazer os conceitos físicos a respeito dos atributos das forças, entre os quais está a direção.
No entanto, analisando as palavras de Cristo, vemos que tal argumento não se sustenta, porque a direção mencionada pelo Senhor não é, em absoluto, este atributo cego indicado pelos falsos mestres, mas, sim, a direção proveniente de um Mestre.
O Espírito Santo nos dirige porque nos ensina e, naturalmente, que uma força não tem o condão de ensinar quem quer que seja, mas tão somente uma Pessoa. Só uma Pessoa pode ensinar, somente uma Pessoa pode ser Mestre, e o Espírito Santo tem como uma de suas principais funções a de ensinar os discípulos do Senhor Jesus enquanto aqui estiverem aguardando o seu Salvador.
Neste ponto, também, cumpre aqui observar que estes falsos mestres também gostam de mencionar a afirmativa de Cristo de que o Espírito Santo nos faria lembrar as coisas que o Senhor nos tivesse dito (João 14:26), querendo, com isto, dar a entender que o Espírito não passaria de uma força de evocação, de uma espécie de “remédio para a memória” do crente, de um estímulo vindo da parte de Deus para o exercício de nossa “memória espiritual”. Porém, isto não condiz com a verdade.
Quando Jesus diz que o Espírito Santo nos faria lembrar de tudo quanto o Senhor Jesus nos tem dito, está a nos revelar uma face maravilhosa deste Professor e Mestre que é o Espírito Santo. Ele não só é um Mestre (algo que uma força não pode ser), como também é um Mestre dedicado, um Professor comprometido com os Seus alunos. Como tem ensinado a psicologia educacional, um bom professor é aquele que está preocupado em verificar se os seus alunos aprenderam e, por isso, sempre os faz lembrar daquilo que os ensinou.
É exatamente este o papel do Espírito Santo. Quando Ele nos faz lembrar, não é porque seja uma força cega, um “remédio para a memória”, mas, bem ao contrário, é um Professor dedicado, que mostra ser uma Pessoa não só porque ensina, mas também porque ama e quer o melhor para os Seus alunos, quer que Seus alunos efetivamente aprendam o que lhes foi ensinado. Tanto assim é que sua ação não é meramente de lembrança, mas também de juízo de conveniência, pois nos lembrar o que convém falar é algo que uma força jamais poderia fazer – “Porque na mesma hora vos ensinará o Espírito Santo o que vos convenha falar” (Lc.12:12).
3. O Ajudador
Em João 14:16 está escrito que Jesus rogaria ao Pai a fim de dar “outro Consolador”, para estar para sempre com a Igreja, consolá-la em suas angústias e guiá-la pelas veredas da verdade. A palavra Consolador (Parakletos) quer dizer alguém convocado ao lado do outro para ajudar; é o ajudador ou defensor, um amigo no tribunal. É também traduzida como Advogado (1João 2:1). O Senhor Jesus é nosso Advogado ou Auxiliador, e o Espírito Santo é “outro Consolador”, não outro de um tipo diferente, mas outro de natureza semelhante. O Espírito Santo estaria sempre com os cristãos. No Antigo Testamento, o Espírito Santo descia sobre os homens em vários tempos, mas muitas vezes os deixava; agora, Ele viria ficar “para sempre” (João 14:16b), a fim de ajudar a Igreja do Senhor, protegê-la e livrá-la. O Espírito jamais deixaria os discípulos; daria a eles consolo, direção e poder - nas horas mais amargas, daria consolo; nas horas mais confusas, daria direção; nas horas mais cruciais, daria poder.
III. O ESPÍRITO SANTO REPROVA E CONVENCE O MUNDO
O ministério precípuo do Espírito Santo é levar o pecador ao Salvador e torná-lo parecido com Ele. Sua obra tem início em nós ao convencer-nos do pecado – “E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo: do pecado, porque não creem em mim” (João 16:8,9). Convencer quer dizer “expor os fatos, convencer alguém da verdade, acusar, refutar ou interrogar uma testemunha”. Vejamos algumas atuações do Espírito Santo na vida do ser humano.
1. O Espírito Santo convence o mundo do pecado (João 16:9)
“do pecado, porque não creem em mim”.
O pecado do mundo é a falta de fé em Jesus. O maior pecado é a recusa em crer em Jesus (João 3:18). Aqueles que rejeitam a Jesus estão correndo o risco da separação eterna de Deus.
Diz-nos Jesus que o Espírito Santo teria como uma de suas principais atividades nesta dispensação a do convencimento do mundo do pecado; mundo aqui é entendido como o conjunto de pessoas perdidas, a humanidade sem Deus e sem salvação. O convencimento do pecado seria devido ao fato de os homens não crerem em Jesus. Ora, é por isso que Deus concede aos homens a fé salvadora, que é a aptidão para crer em Jesus.
O Espírito Santo, portanto, é o Agente que promove o contato entre o homem e o Deus Criador, através do Redentor Jesus Cristo (João 6:44). No Antigo Testamento a base desse contato era a Lei e os Profetas; no Novo Testamento é a Pessoa de Jesus Cristo (Rm.3:21-24); caso aceite o convite da graça, o pecador é convencido de seu pecado e conduzido ao arrependimento (Ap.3:20).
É bom que entendamos que o trabalho de convencimento do ser humano é do Espírito Santo e não dos homens. Por isso, na nossa tarefa de evangelização, não devemos ter a presunção de “convencer” as pessoas. Certa feita, alguém declarou que a salvação é um processo simples, pois se reduz a um exercício racional dos mais evidentes. O que é melhor: viver eternamente ou morrer eternamente? Evidentemente que a pessoa dirá que é viver eternamente. Entretanto, não é algo tão simples assim. Não há raciocínio humano que consiga gerar a fé salvadora; ela é um dom de Deus e somente é recebida em nosso homem interior se formos convencidos pelo Espírito Santo, somente se nos dispusermos a crer em Cristo. Todavia, para que isto ocorra, faz-se necessário que o homem assuma a sua condição pecaminosa. É preciso ser convencido do pecado, ou seja, o homem precisa reconhecer que é um pecador, que desobedece a Deus e que deve servi-lo. Este gesto somente será tomado se a pessoa atender ao Espírito de Deus, se abrir o seu coração a Deus e permitir que Ele faça morada nele (Jo.14:23).
Este reconhecimento de que se é pecador e que é preciso mudar seu comportamento diante de Deus é o arrependimento, que é um ato do processo da salvação que depende única e exclusivamente do homem. É por este motivo que todos não serão salvos, pois a salvação não depende exclusivamente de Deus, mas tem participação humana, que é a apropriação da fé e, consequentemente, o reconhecimento de que se é um pecador e que se precisa de um Salvador.
O arrependimento é o que devemos proclamar. Jesus, ao iniciar a pregação do Evangelho, tinha como mensagem principal a do arrependimento - “Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc.1:15). A palavra grega para “arrependimento” é “metanóia”, cujo significado é “mudança de mentalidade”, “mudança de pensamento”, “mudança de atitude”. O arrependimento, pois, envolve uma modificação de desejos, ações e concepções de vida. Não é possível uma salvação sem arrependimento. Não é possível uma salvação com base em emoções passageiras. Não é possível uma salvação em que as pessoas continuam a praticar as mesmas coisas do passado.
Por isso, devemos diferenciar entre arrependimento e remorso. O remorso é, assim como o arrependimento, uma tristeza que vem ao homem por causa de atos praticados; entretanto, enquanto o arrependimento gera uma mudança de atitudes, o remorso é tão somente esta tristeza, sem qualquer mudança de comportamento. O remorso é incapaz de gerar salvação, como nos mostram os exemplos bíblicos de Caim (Gn.4:13,14), Esaú (Hb.12:7), Faraó (Ex.10:16,17), Judas Iscariotes (Mt.27:3-5).
Portanto, o Espírito Santo é indispensável para que o homem seja convencido do pecado e, assim, resolva se arrepender dos seus pecados e mudar a direção da sua vida, que é o que denominamos de "conversão". A fé salvadora, como nos explica Paulo, é um dom de Deus e, como tal, é algo que é trazido ao nosso ser pelo Espírito Santo. Não é possível que alguém se arrependa de seus pecados sem que o faça por força da atuação do Espírito Santo.
2. O Espírito Santo convence o mundo da Justiça (João 16:10)
“da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais”.
A justiça de Deus foi plenamente manifestada ao mundo no sacrifício de Cristo na cruz. Ao se tornar nosso substituto e morrer em nosso lugar, Ele cumpriu por nós cabalmente todas as demandas da Lei e satisfez todos os reclamos da justiça divina. O Espírito Santo veio ao mundo para convencer o ser humano dessa verdade gloriosa. Por sua ressurreição e ascensão, Jesus provou ser um Homem justo, e tudo quanto afirmou de Si, com relação à divindade, foi dado como justo e autêntico. A ressurreição e a ascensão de Jesus ainda hoje são o fundamento sobre o qual o Espírito Santo convence o mundo que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus.
3. O Espírito Santo convence o mundo do Juízo (João 16:11)
“e do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado”.
O Espírito Santo também convence o mundo “do juízo” vindouro. O fato de Ele estar aqui significa que o Diabo já foi condenado na cruz e que todos os que recusam o Salvador compartilharão do seu terrível julgamento num Dia ainda futuro.
A atuação do Espírito Santo é mostrar que, por meio da morte e ressurreição de Cristo, “já o príncipe deste mundo está julgado” e condenado. Embora Satanás ainda se esforce ativamente para insensibilizar, intimidar e iludir os que estão neste mundo (1Pd.5:8), nós devemos tratá-lo como um criminoso condenado, pois Deus determinou a ocasião da sua execução (cf. Ap.20:2,7-10). Portanto, sua condenação foi decidida, e sua sentença já foi declarada. Cada vez que Cristo é proclamado na pregação, sob o poder do Espírito Santo, Satanás sofre mais uma perda, e cada alma salva é nova prova de que o Diabo está “julgado”.
Pode ser que a derrota de Satanás não seja evidente, quando lemos os jornais e ligamos a televisão, mas Satanás é um inimigo vencido em princípio. Ele ainda arrisca sua guerra de pecado, mas sua destruição total e afastamento da terra estão próximos. Até lá ele vai intensificar suas atividades. Perversões, permissividade, violência e centenas de outras tendências sinistras se manifestam em todo o mundo com uma intensidade que houve provavelmente só nos dias de Noé. O Espírito Santo veio para nos mostrar estas coisas, porque Ele tem muito a ver com as profecias bíblicas.
CONCLUSÃO
Aprendemos aqui quão importante é atuação do Espírito Santo no Plano da Redenção. A Bíblia ensina, e todos nós sabemos isto de experiência própria, que todos pecaram e estão afastados da presença gloriosa de Deus (Rm.3:23). Um pecador não pode herdar a vida eterna. Todos que nasceram neste mundo revivem a queda de Adão. Todos nascem com a semente do pecado dentro de si, e ao chegarem à idade responsável não tardam a ser culpados de multidão de pecados. É bom entender que há diferença entre pecado e pecados. O pecado é a raiz, os pecados são os frutos. Pode ser que alguém não esteja consciente de que seu maior problema é o pecado, ou que o pecado o separou da comunhão com Deus. Por isso é tarefa do Espírito Santo alertá-lo e convencê-lo do seu pecado. Ele não pode experimentar a salvação sem que isto aconteça.
Vimos que o Espírito Santo não só convence de pecado, Ele convence as pessoas também que Jesus é a justiça de Deus. Ele mostra aos pecadores que Jesus é o caminho, a verdade e a vida, e que ninguém vem ao Pai a não ser por Ele.
Vimos, também, que o Espírito Santo também convence o mundo do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado, e todos os que recusarem a oferta de vida eterna que Deus faz também serão julgados. Quando o apóstolo Paulo, diante do rei Agripa, falando do que Cristo tinha feita em sua vida, disse que na estrada para Damasco, na hora da sua conversão, Deus lhe tinha revelado o tipo do seu ministério - seria apóstolo entre os gentios, para "lhes abrir os olhos a fim de que se convertessem das trevas à luz, e do poder de Satanás a Deus, para que recebessem remissão de pecados..." (Atos 26:18). Enfim, sem a presença do Espírito Santo, o mundo seria deveras ainda mais tenebroso. Bendito seja a Sua gloriosa presença!