Texto Base: 1Coríntios 12:27-29; Efésios 4:11-13.
“E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente, apóstolos, em segundo lugar, profetas, em terceiro, doutores, depois, milagres, depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas"(1Co.12:28).
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos do Dom Ministerial de Profeta. Estudaremos alguns aspectos deste Dom considerando o contexto histórico e cultural do Antigo e do Novo Testamento. Na Aula 05, quando discorremos sobre os Dons de Elocução, fizemos comentários sobre o Dom Espiritual de Profecia (1Co.12:10. De início, parece não haver diferença entre um e outro, mas há alguns aspectos a considerar. Uma pessoa pode ter o Dom Espiritual de Profecia sem ter o Dom Ministerial de Profeta. No Novo Testamento, o ministério de “Profeta” foi instituído por Cristo (Ef.4:7,11), para a Igreja, com o propósito de ser o porta-voz de Deus, não mais para a revelação do plano de Deus ao homem, mas para trazer mensagens divinas ao Seu povo no sentido de encorajar o povo a se manter fiel à Palavra e para nos fazer lembrar as promessas contidas nas Escrituras. Na Nova Aliança, a profecia precisa ser entendida dentro de um contexto específico; ela não pode ser considerada superior à revelação escrita, ou seja, a própria Escritura Sagrada. Nenhuma palavra profética pode ter o objetivo de substituir ou revogar a Revelação escrita, pois esta é a suprema profecia. Hoje, o Dom de Profeta, envolve a iluminação da Palavra divina, e não sua revelação.
I. O PROFETA DO ANTIGO TESTAMENTO
O profeta do Antigo Testamento era um homem de Deus que, espiritualmente, estava muito acima de seus contemporâneos. Nenhuma categoria, em toda a literatura, apresenta um quadro mais dramático do que os profetas do Antigo Testamento. Os sacerdotes, juízes, reis, conselheiros e os salmistas, tinham cada um lugar distintivo na história de Israel, mas nenhum deles logrou alcançar a estatura dos profetas, nem chegou a exercer tanta influência na história da redenção.
Os profetas exerceram considerável influência sobre a composição do Antigo Testamento. Tal fato fica evidente na divisão tríplice da Bíblia hebraica: a Torá, os Profetas e os Escritos (cf. Lc.24:44). A categoria dos profetas inclui seis livros históricos, compostos sob a perspectiva profética: Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis. É provável que os autores desses livros fossem profetas. Em segundo lugar, há dezessete livros proféticos específicos (Isaías até Malaquias). Finalmente, Moisés, autor dos cinco primeiros livros da Bíblia (a Torá), era profeta (Dt.18:15). Sendo assim, dois terços do Antigo Testamento, no mínimo, foram escritos por profetas.
1. Conceito
Profeta era o porta-voz que emitia palavras sob o poder impulsionador do Espírito de Deus. A palavra grega “profetes”, da qual se deriva a palavra "profeta" em português, significa "aquele que fala em lugar de outrem". Os profetas falavam, em lugar de Deus, ao povo do concerto, baseados naquilo que ouviam, viam e recebiam da parte dEle.
No Antigo Testamento, o profeta também era conhecido como "homem de Deus" (ver 2Rs.4:21), "servo de Deus" (cf. Is.20:3; Dn.6:20), homem que tem o Espírito de Deus sobre si (cf. Is.61:1-3), "atalaia" (Ez.3:17), e "mensageiro do Senhor" (Ag.1:13). Os profetas também interpretavam sonhos (por exemplo, José, Daniel) e interpretavam a história - presente e futura - sob a perspectiva divina.
O profeta não era simplesmente um líder religioso, mas alguém possuído pelo Espírito de Deus (Ez.37:1,4). Em Israel, no período do Antigo Testamento, muitos foram os homens e mulheres que Deus vocacionou para profetizarem em seu nome. Por exemplo: Samuel, o último dos juízes e o primeiro dos profetas para a nação de Israel (1Sm.3:19,20); Elias e Eliseu (1Rs.18:18-46; 2Rs.2:1-25); a profetisa Hulda (2Rs.22:14-20); e muitos outros, como os profetas literários Isaías, Jeremias e Daniel.
Sabe-se que, mesmo antes da organização dos profetas como uma ordem, eles remontam aos primórdios bíblicos: Abraão, Moisés, e o próprio Samuel, são usados como referências (Dt.18:15; Jz.4:4; 2Rs.22:14; 1Sm.3:20). Abraão foi a primeira pessoa a quem a Bíblia chama de profeta (Gn.20:7 cf. Sl.105:15). A normatização veio posteriormente através da vida e pessoa de Moisés, que passou a constituir padrão de comparação para todos os profetas futuros (Dt.18:15-19; 34:10).
Pelo fato do Espírito Santo e a Palavra estarem nele, o profeta do Antigo Testamento possuía estas três características:
a) Conhecimentos divinamente revelados. Ele recebia conhecimentos da parte de Deus no tocante às pessoas, aos eventos e à verdade redentora. O propósito primacial de tais conhecimentos era encorajar o povo a permanecer fiel a Deus e ao seu concerto. A característica distintiva da profecia, no Antigo Testamento, era tornar clara a vontade de Deus ao povo mediante a instrução, a correção e a advertência. O Senhor usava os profetas para pronunciarem o seu juízo antes de este ser desferido. Do solo da história sombria de Israel e de Judá, brotaram profecias específicas a respeito do Messias e do reino de Deus, bem como predições sobre os eventos mundiais que ainda estão por ocorrer.
b) Poderes divinamente outorgados. Os profetas eram levados à esfera dos milagres à medida que recebiam a plenitude do Espírito de Deus. Através dos profetas, a vida e o poder divinos eram demonstrados de modo sobrenatural diante de um mundo que, de outra forma, se fecharia à dimensão divina.
c) Estilo de vida característico. Os profetas, na sua maioria, abandonaram as atividades corriqueiras da vida a fim de viverem exclusivamente para Deus. Protestavam intensamente contra a idolatria, a imoralidade e iniquidades cometidas pelo povo, bem como a corrupção praticada pelos reis e sacerdotes. Suas atividades visavam mudanças santas e justas em Israel. Suas investidas eram sempre em favor do reino de Deus e de sua justiça. Lutavam pelo cumprimento da vontade divina, sem levar em conta os riscos pessoais.
2. O Ofício
O ofício profético organizado em Israel remonta aos dias do profeta Samuel. Foi ele quem deu origem ao ofício de profeta como uma ordem ou classe organizada. Nesse sentido, ele é “o primeiro dos profetas” – distinção que as Escrituras neotestamentárias reconhecem perfeitamente - “E todos os profetas desde Samuel, todos quantos depois falaram, também anunciaram estes dias” (Atos 3:24; cf. 13:20; Hb.11:32).
As escolas de profetas foram fundadas a partir dos dias de Samuel e não anteriormente. A primeira menção dessa classe organizada é a escola por ele fundada, que ficava em Ramá (1Sm.19:20). Essas escolas eram centros de vida religiosa, onde se buscava a comunhão com Deus mediante a oração e meditação. É evidente que estudavam as profecias, inquirindo sobre o tempo de seu cumprimento (1Pd.1:10-12), além de recordarem os grandes feitos de Deus no passado. Através dessas escolas, cresceu em Israel uma ordem profética reconhecida (2Rs.2:3,5).
A função principal do Profeta veterotestamentário era proclamar a mensagem recebida de Deus. Ele transmitia a mensagem divina através do Espírito Santo, para encorajar o povo de Deus a permanecer fiel, conforme os preceitos da Antiga Aliança. Na verdade, ele era o "porta-voz" de Deus (Êx.4:10-16; 7:1); era alguém que falava em nome do Senhor - "Serás como a minha boca" (Jr.15:19).
Através da inspiração divina o profeta recebia uma revelação que desvendava o oculto, anunciava juízos, emitia conselhos e advertências divinas. Às vezes eles também prediziam o futuro conforme o Espírito lhes revelava. Expressões como “veio a mim a palavra do Senhor” e “assim diz o Senhor” eram fórmulas usuais para o profeta começar a mensagem (Jr.1:4; Is.45:1). Nunca aparecia o “eu”: “eu profetizo”!
Também, eram educadores ungidos pelo Senhor para ensinar ao povo a viver em santidade, tornando-lhe conhecida Sua revelação e desvendando-lhe as coisas futuras (Nm.12:6). Eles se utilizavam de métodos variados para ensinar (Oséias 12:10; Hb.1:1).
Tinham, ainda, como missão: lutar contra a idolatria, zelar pela pureza religiosa, justiça social e fidelidade a Deus. Suas mensagens deveriam ser recebidas integralmente por toda a nação como Palavra de Deus (2Cr.20:20). Não hesitavam em enfrentar reis desobedientes, governadores, sacerdotes ou qualquer tipo de liderança que não seguisse a Palavra de Deus (1Rs.18:18).
Após a divisão do Reino de Israel, o profeta passou a ser perseguido, pois sua profecia confrontava diretamente a prepotência da nobreza, a dissimulação dos sacerdotes e a injustiça social (Jr.1:18,19; 5:30,31; Is.58:1-12).
Também, os profetas do Antigo Testamento vaticinaram a vinda do Jesus Cristo, o Messias prometido. O apóstolo Pedro assim se expressou: “Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado: que o Cristo havia de padecer” (Atos 3:18). A obra redentora de Cristo Jesus pode ser encontrada, tipológica e profeticamente, na Lei de Moisés e nos Profetas - "E todos os profetas, desde Samuel, todos quantos depois falaram, também anunciaram estes dias"(Atos 3:24). Neste texto, o apóstolo Pedro apresenta o perfil de Cristo no Antigo Testamento, provando, assim, que os últimos episódios eram o cumprimento das Escrituras Sagradas.
3. O profetismo
No ministério mosaico iniciou-se a atividade profética em Israel (Nm.11:25). Entretanto, o profetismo, como movimento, surgiu séculos depois, no período aproximado do século VIII a.C.; de forma mais efusiva quando da divisão da monarquia de Israel. Nos períodos monárquicos dos reinos de Judá e de Israel (reino do Norte), observamos a ação dos profetas exortando, denunciando e repreendendo os reis (cf.1Rs.18:18). O profeta Joel deu início esse movimento, e João Batista não somente encerrou o profetismo em Israel, mas também foi o arauto de Cristo.
O objetivo precípuo desse movimento era restaurar o monoteísmo, combater a idolatria, denunciar as injustiças sociais e proclamar o Dia do Senhor, com o objetivo de reacender a esperança messiânica no povo. Nesse período, sobressaiu a característica do sofrimento e marginalização dos profetas; de homens dignos de reverência passaram a homens “dignos” de tratamentos mais baixos possíveis em virtude de sua mensagem denunciar os interesses escusos das lideranças religiosas e políticas de Israel e Judá (ler Hb.11:36-38). Eles foram cruelmente surrados, presos e mortos com requintes e crueldade (Hb.11:37)
Atualmente, está em voga o profetismo sem Bíblia. Frequentemente, escutamos: “eu profetizo...!”; “profetize para seu irmão”; “eu profetizo que a tal cidade será do Senhor!”. A Bíblia ensina que a profecia não depende do "eu" querer - “... porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirado pelo Espírito Santo” (2Pd.1:21).
É bom observarmos que os homens santos de Deus não usaram a frase “eu profetizo”; ao contrário, quando profetizaram, disseram: “Assim veio a mim a palavra do Senhor...” (Jr.1:4); “Assim diz o Senhor...” (Jr.2:5; Is.56:1; 66:1); “Ouvi a palavra do Senhor...” (Jr.2:4); “E veio a mim a palavra do Senhor”(Jr.2:1; 16:1); “disse o Espírito Santo...” (Atos 13:2); “... Isto diz o Espírito Santo...” (Atos 21:11); “Mas o Espírito expressamente diz...” (1Tm.4:1). Em todos os casos, não aparece o "eu", aparece a Pessoa divina. Tenhamos cuidado de não sermos ludibriados com o profetismo sem Bíblia!
II. O PROFETA EM O NOVO TESTAMENTO
No princípio da Igreja, o Ministério Profético, em conjunto com o Ministério Apostólico, teve um papel fundamental: lançar o fundamento do Edifício (a Igreja), tendo como Pedra Angular o Senhor Jesus Cristo. Ele mesmo disse: “...sobre esta pedra edificarei a minha igreja...” (Mt.16:18). A Bíblia afirma que os concidadãos dos santos e da família de Deus estão edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas - “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina” (Ef.2:20). Esses “profetas” “falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2Pd.1:21), mas isto não significa que eles nem os apóstolos foram o fundamento da Igreja. Cristo é o Fundamento da Igreja (1Co.3:11), porém, foram eles que lançaram o fundamento através das doutrinas que ensinaram sobre a Pessoa e obra do Senhor Jesus.
Esses “profetas” foram mestres inspirados a quem veio a Palavra de Deus, os quais a transmitiram a outras pessoas fielmente. Era um pequeno grupo de mestres inspirados, associados aos apóstolos, que juntos davam testemunho de Cristo e cujo ensino era fruto da revelação (Ef.3:5). Em termos práticos, isso significa que a Igreja está edificada sobre as Escrituras do Novo Testamento. Veja o que Paulo afirma aos crentes de Éfeso: “pelo que, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo, o qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora, tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas, a saber, que os gentios são coerdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho” (Ef.3:4-6).
1. A importância do termo "profeta" em o Novo Testamento
O Ministério de Profeta, juntamente com o de Apóstolo, era um dos pilares da Igreja do primeiro século (Ef.2:20). O profeta era porta-voz de Deus, recebia revelações diretamente do Senhor e as transmitia à Igreja; aquilo que falava por meio do Espírito Santo era a Palavra de Deus. Portanto, os Profetas são partes do fundamento da Igreja, por meio dos quais a revelação salvífica foi dada, conforme registrada na Bíblia Sagrada. Neste sentido, a profecia se findou com a formação do último livro do Novo Testamento, não havendo mais qualquer revelação salvífica que devamos esperar para o plano redentivo, pois este está concluído na revelação bíblica.
Hoje em dia não temos mais profeta no sentido técnico da palavra; seu ministério acabou quando a fundação da Igreja foi concluída e o cânon do Novo Testamento se completou. Contudo, a função profética por meio da proclamação de Palavra para a edificação da Igreja (cf. At 13:1,2) e evangelização dos incrédulos, continua presente nos dias de hoje. O Dom de Profeta, hoje, envolve a iluminação da Palavra divina, e não sua revelação; atualmente, homens e mulheres de Deus, visionários e santos, pessoas cheias da Palavra do “espírito de sabedoria e de revelação” (Ef.1:7), continuam a ser necessárias para instruir e liderar a Igreja “até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à unidade da estatura completa de Cristo”. Neste sentido, e somente neste sentido, o termo “profeta” é importante.
2. O ofício do Profeta neotestamentário
Os profetas do Novo Testamento, no princípio da Igreja, exerceram autoridade semelhante à dos profetas do Antigo Testamento. A missão principal dos profetas do Antigo Testamento era transmitir a mensagem divina através do Espírito Santo, para encorajar o povo de Deus a permanecer fiel, conforme os preceitos da Antiga Aliança. Às vezes eles também prediziam o futuro conforme o Espírito lhes revelava. Basicamente, o ofício do Profeta no princípio da Igreja incluía o seguinte:
a) Proclamava e interpretava, cheio do Espírito Santo, a Palavra de Deus, por chamada divina. Sua mensagem visava admoestar, exortar, animar, consolar e edificar (Atos 2:14-36; 3:12-26; 1Co.12:10; 14.3).
b) Quanto ao futuro: profetizaram acerca do surgimento de falsos mestres, de seitas e heresias (Atos 20:29,30; 1Tm.4:1; 2Pd.2:1-3; 2Pd.3:7-18)); predisseram pelo Espírito Santo o arrebatamento da Igreja e a ressurreição dos mortos(1Ts.4:13-17); predisseram a manifestação do Anticristo e o período da grande Tribulação (2Ts.2:3-11); predisseram o galardão dos justos(1Co.3:12-15; 2Co.5:10), a vinda de Jesus, o fim do mundo e a eternidade dos salvos (2Pd.3:7-18), dentre outros acontecimentos futuros. O livro de Apocalipse, escrito por João, é essencialmente profético, é a conclusão de todas as Escrituras e lança luz sobre as profecias do Antigo Testamento, principalmente as de Ezequiel, Daniel e Zacarias, de Jesus em Mateus 24, 25, e do apóstolo Paulo (1Ts.4-5; 2Ts.2).
c) Como ocorria no Antigo Testamento, os “profetas” desmascaravam o pecado, proclamavam a justiça, advertiam do juízo vindouro e combatiam o mundanismo e frieza espiritual entre o povo de Deus.
Como já disse, hoje não temos mais profeta no sentido técnico da palavra, haja vista que eles (Profetas e Apóstolos) foram chamados para lançar o fundamento da Igreja; porém, a função profética continua sendo imprescindível ao propósito de Deus para a Igreja.
Em resumo, atualmente, o “profeta” desempenha prioritariamente as seguintes funções:
Ø É um instrutor do povo de Deus dentro da Palavra de Deus. Ele ensina os preceitos da Nova Aliança, e proclama, em nome de Deus, a maneira correta de proceder. Ele fala não apenas em nível individual, mas também em nível coletivo. Mostra os pecados de pessoas e de instituições. Denuncia o pecado individual e estrutural, e aponta o caminho correto: arrependimento. A crise de alguns segmentos de nossas denominações, e de outros órgãos evangélicos, não deve ser camuflada nem varrida para baixo do tapete. Se há pecado, se há desvios de recursos, se há desonestidade, ou simplesmente incompetência, isso deve ser tratado como tal. Também, o “profeta” não se conforma com o pecado estrutural. Os profetas do Antigo Testamento não denunciavam apenas os pecados da Assíria, Egito e Babilônia, mas também os do povo de Deus; não só de pessoas, mas da instituição. Assim deve ser o “profeta” neotestamentário.
Ø É um consolador. O “profeta” não é apenas anunciador de catástrofes, como alguns presumem, mas é o arauto de um novo tempo, é pregoeiro do amor e da misericórdia de Deus; mostra o que Deus pode fazer na vida das pessoas. Ao mesmo tempo em que anuncia o juízo e chama ao arrependimento, traz a mensagem de Isaías 40.1: “Consolai, consolai o meu povo”.
3. O objetivo do Dom Ministerial de Profeta
Conforme Efésios 4:16, o objetivo da função profética do Novo Testamento é o aperfeiçoamento da Igreja, com vistas à sua maturidade espiritual, pois como um organismo vivo, a Igreja deve desenvolver-se para a edificação em amor. Se à pessoa, que desempenha a função profética, não for permitido trazer a mensagem de repreensão e de advertências denunciando o pecado e a iniquidade (João 16:8-11), então a Igreja já não será o lugar onde se possa ouvir a voz do Espírito Santo. Desta feita, a Igreja caminhará para decadência, desviando-se para o mundanismo e o liberalimo quanto aos ensinos das Escrituras Sagradas (1Co.14:3; cf. Mt.23:31-38; Lc.11:49; Atos 7:1,52). Precisamos ter cuidado para que a política eclesiástica e a direção humana não tomem o lugar do Espírito Santo (2Tm.3:1-9; 4:3-5; 2Pd.2:1-3,12-22).
III. DISCERNINDO O VERDADEIRO PROFETA DO FALSO
A Palavra de Deus adverte-nos de que haverá entre nós, na própria Igreja Local, falsos profetas (2Pd.2:1-3; Leia também Atos 20:30; 1Tm.4:1; 1João 4:1). Apesar da aparência de piedade, não passam de agentes de Satanás. Sua missão principal é corromper a fé dos salvos e destruir a unidade da Igreja (Mt.7:15-23). Como identificá-los? Como saber se estão em nosso meio?
1. Observar as características contrastantes: simplicidade x arrogância
A simplicidade é uma das características marcantes na vida do homem de Deus, que desempenha a função profética. Um homem de Deus, jamais é arrogante. A Bíblia diz que Deus resiste aos soberbos (Tg.4:6). A arrogância do homem, que o levam a se achar poderoso e a querer a glória para si, ao invés de reconhecer a onipotência de Deus e a glória que só a Ele é devida, tem sido a principal causa de derrota e fracasso na vida de muitos. A soberba transformou um anjo de luz em demônio.
O Rev. Hernandes Dias Lopes diz que a arrogância é a porta de entrada do fracasso e a sala de espera da ruína. Nabucodonosor foi retirado do trono e colocado no meio dos animais por causa da sua arrogância (cf. Dn.4:30-37). O rei Herodes Antipas I morreu comido de vermes porque ensoberbeceu seu coração em vez de dar glória a Deus (Atos 12:21-23). O rei Saul, primeiro rei de Israel, perdeu o trono por causa de sua perseverante arrogância. O reino de Deus pertence aos humildes de espírito, e não aos orgulhosos de coração.
A arrogância, infelizmente, também tem grassado Igrejas Locais. A Bíblia registra um exemplo: a Igreja de Laodicéia. Essa Igreja, a começar do seu líder, enchia o peito e dizia para todos, com evidente e louca arrogância: “rico sou e de nada tenho falta” (Ap.3:17). Ora, é nesta tola manifestação de arrogância que se verifica a fraqueza espiritual. Ao dizer que não precisava de coisa alguma, aqueles crentes mostravam o seu estado de “mornidão espiritual”, pois só temos força espiritual quando reconhecemos a nossa insignificância, a nossa pequenez, o nosso nada diante de Deus.
A autoglorificação é desprezível. A Igreja de Laodicéia exaltou-se dando nota máxima a si mesma em todas as áreas. Mas, Cristo a reprovou em todos os itens. A Bíblia diz: ”Louve-te o estranho, e não a tua boca; o estrangeiro, e não os teus lábios” (Pv.27:2). Deus abomina o louvor próprio. Jesus explicou essa verdade na parábola do fariseu e do publicano; aquele que se exaltou foi humilhado, mas o que se humilhou, desceu para sua casa justificado.
Muitos pastores, líderes e pregadores gostam do termo “profeta”, e gostam mais ainda de usá-lo para si, para terem o direito de falarem o que querem, arrogando-se a famosa “voz profética”. Via de regra, quando alguém alega ter “voz profética”, é bom ficar em espírito de oração, pois certamente virá impropérios contra pessoas. É uma postura arrogante de quem emite conceitos sobre a vida alheia com muita facilidade, e não raro, descuidando da sua vida pessoal. Escrito está: “Em vindo a soberba, sobrevêm a desonra, mas com os humildes está a sabedoria” PV.11:2).
2. Pelos Frutos os conhecereis
Jesus advertiu aos discípulos a respeito dos falsos profetas da seguinte forma:
“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar frutos bons. Toda árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis” (Mt.7:15-20).
Jesus foi contundente ao afirmar que são pelos frutos que se conhece o verdadeiro e o falso profeta. Portanto, não nos preocupemos com os sinais, prodígios e maravilhas que alguém venha a fazer. Isto não prova que essa pessoa é um homem ou mulher de Deus. Judas fez sinais e maravilhas, porém era um falso apóstolo (cf. Mc.6:7,13). Devemos atentar, sim, com a presença do caráter cristão na sua vida. Também não nos preocupemos com a vestimenta que alguém está usando, mas com a presença do caráter cristão na sua vida. O caráter é o conjunto de qualidades boas ou más de um indivíduo, que determina a sua conduta em relação a Deus, a si mesmo e ao próximo. Essas especificidades são responsáveis pela maneira como uma pessoa age, regulando suas escolhas e decisões (Pv.16:2,9; 20:6,11).
Portanto, o caráter de uma pessoa não apenas define quem ela é, mas também descreve seu estado moral e a distingue das demais de seu grupo (Pv.11:17; 12:2;14:14:20:27); é o traço distintivo de uma pessoa; é a sua marca – “O homem benigno faz bem à sua própria alma, mas o cruel perturba a sua própria carne” (Pv.11:17).
O apóstolo Paulo denomina o caráter do autêntico cristão de “Fruto do Espírito” (Gl.5:22). Portanto, não devemos diferençar o verdadeiro profeta do falso pela "performance" ou pelo "espetáculo", pela fama, mas pelos frutos que eles produzem.
3. Ainda sobre o falso profeta
Vivemos tempos difíceis, o povo de Deus está famélico da mensagem profética autêntica. Infelizmente, muitos falsos profetas têm se levantado nestes últimos dias enganando o povo com mensagens falsas e antibíblicas, plenamente nocivas ao crescimento espiritual da Igreja do Senhor, e que tem enganado muitos crentes incautos à apostasia, desviando-as do foco principal: a Salvação e a maturidade espiritual. A Igreja precisa aprender a julgar as profecias e discernir os espíritos. A profecia precisa ser confrontada com a Palavra de Deus, já que o nosso Deus nunca se contradiz, e foi Ele, através do seu Espírito, quem a inspirou. Paulo orienta os crentes a serem ouvintes criteriosos. Ele diz: “[...] e os outros julguem” (1Co.14:2). O que é julgar? Porventura significa que você deve ir ao Templo com um espírito crítico? Não! Devemos fazer a seguinte avaliação:
a) A mensagem é de Deus? Você precisa questionar se a mensagem está sendo um instrumento para a glorificação de Deus ou para a exaltação do pregador. Se Deus não está sendo glorificado, então, essa profecia não é verdadeira. O apóstolo Pedro ordena: “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá, para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o poder para todo o sempre. Amém” (1Pe 4:10,11).
b) A mensagem está de acordo com as Escrituras? O apóstolo Pedro escreveu: “Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus” (1Pd.4:11). Nós não podemos ser ouvintes sem discernimento espiritual. Paulo elogiou a Igreja de Beréia, que examinava as Escrituras para ver se o que ele estava falando era de fato a verdade (Atos 17:11). Cabe aos membros da Igreja ouvir o pregador com a Bíblia aberta, examinando as Escrituras para saber se de fato o pregador está ensinando de acordo com a Palavra de Deus.
c) A mensagem pregada edifica a Igreja? (1Co.14:3,4,5,12,17,26). A profecia tem como finalidade a edificação da Igreja. O apóstolo Paulo é claro quanto a isso: “Mas o que profetiza fala aos homens, edificando, exortando e consolando” (1Co.14:3). Quando alguém fala uma mensagem sobre sua vida dizendo que é profecia, mas o deixa cheio de condenação ou medo, esta mensagem não vem de Deus.
d) A profecia produz frutos, e concorda em conduta e caráter? Uma pessoa que se diz profeta e não pagar suas contas é um falso profeta. Uma pessoa que se diz profeta e vive em imoralidade sexual ou irresponsabilidade financeira está em engano profundo, e é um falso profeta. A profecia deve concordar com a conduta e o caráter. Jesus afirmou que os falsos profetas vêm como lobos em pele de cordeiro (Mt.7:15,16) - parecem boas pessoas; até agem como cordeiros, mas seus propósitos são devorar e enganar a Igreja de Cristo.
Portanto, chequemos o caráter daqueles que estão em evidência e são capazes de influenciar a vida espiritual de um indivíduo ou de uma coletividade. Devemos aferir suas atitudes com base na Palavra de Deus. A primeira coisa que um falso profeta ou qualquer pessoa que está em engano nos dirá é: “não me julgue!”. Você não está julgando, está simplesmente checando seus frutos. Estamos nos últimos dias da Igreja do Senhor nesta Terra, não devemos, pois, vacilarmos no final da nossa jornada de fé rumo à Terra Prometida (Fp.3:20). Amém?
CONCLUSÃO
Vimos nesta Aula que o Ministério de Profeta, juntamente com o de Apóstolo, era um dos pilares na liderança da Igreja do primeiro século (Ef.2:20). Como disse anteriormente, hoje em dia não temos mais profeta no sentido técnico da palavra, esse ministério acabou quando a fundação da Igreja foi concluída e o cânon do Novo Testamento se completou. Contudo, a função profética por meio da proclamação da Palavra para a edificação da Igreja (cf. At 13:1,2) e evangelização dos incrédulos, continua presente nos dias de hoje.
O “profeta” neotestamentário não tem a missão de ungir líderes ou seu sucessor, mas tem a imperativa responsabilidade de transmitir a mensagem de Deus, nos momentos necessários, no tempo certo, para pessoas não cristãs ou para a comunidade cristã. Essa mensagem é de grande valia, para denunciar as ameaças ou existência de pecados que comprometem a integridade espiritual do Corpo de Cristo.
A missão profética da Igreja está implícita na Grande Comissão que lhe foi outorgada por Cristo. Vários textos dos Evangelhos e dos Atos dos Apóstolos falam da abrangência ilimitada da missão profética da Igreja (Mt.28:18-20; Mc.16:15-20; Lc.24:46,47; Atos 1:8). Essa missão profética de pregar o evangelho tem seu alicerce na autoridade de Jesus. É função da Igreja proclamar a todos que se arrependam, para que sejam perdoados os seus pecados (Mc.1:14), e possam ingressar no Reino de Deus.