Texto Base: Efésios 4:7-16.
“E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores” (Ef.4:11).
Efésios 4:
7.Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo.
8.Pelo que diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens.
9.Ora, isto - ele subiu - que é, senão que também antes tinha descido às partes mais baixas da terra?
10.Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas.
11.E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores,
12.querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;
13.até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo.
14.Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente.
15.Antes, seguindo a verdade em caridade, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo.
16.Do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor.
INTRODUÇÃO
A partir desta Aula trataremos dos Dons Ministeriais, que são habilidades vindas da parte de Jesus ao crente para o aperfeiçoamento dos santos, para edificação da Igreja (Ef.4:11,12). A palavra “Ministério” vem da palavra grega “diakonia”, que quer dizer “servir”. Quem exerce o ministério é o “Ministro”, e a palavra “Ministro” vem do latim “ministru” que significa “servo”. Então, “Ministério” é a vida de serviço na Igreja; é quando Deus, em sua sabedoria, escolhe algumas pessoas para certas funções. Ele as chama e concede dons para um ministério específico. Esse Dom é uma graça (capacitação) que alguém recebe para desempenhar determinada função no Corpo de Cristo.
É importante que se faça distinção entre os Dons Ministeriais e os “títulos ministeriais” ou os “cargos eclesiásticos”. Nos nossos dias, muitos têm confundido estes dois aspectos, que são completamente diferentes.
-O Dom Ministerial é uma concessão de Cristo, que vem diretamente do Senhor para o crente, dom este que é percebido pelo crente através da comunhão que tem com Deus e pela presença do Espírito Santo na sua vida, e que independe de qualquer reconhecimento humano, mesmo da Igreja Local.
-Os “títulos ministeriais” e os “cargos eclesiásticos”, são posições sociais criadas dentro das Igrejas Locais, posições estas que, em sua nomenclatura, muitas vezes estão baseadas na relação de Ef.4:11, como a indicar que o seu ocupante tem o referido Dom Ministerial, mas que, nem sempre, corresponde a este Dom. Como a Igreja Local, geralmente, é também uma organização humana, acabam sendo criados “títulos” e “posições” com o propósito de esclarecer a hierarquia administrativa, a própria estrutura de governo da organização eclesiástica, dados que, se apenas refletem uma necessária ordem que deve existir em todo grupo social, nada tem que ver, a princípio, com os Dons Ministeriais.
De acordo com as Epístolas aos Efésios e aos Coríntios, são cinco os Dons Ministeriais concedidos por Deus à Igreja, a saber: Apóstolos, Profetas, Evangelistas, Pastores e Mestres (Ef.4:11; 1Co.12:27-29). Veremos o quanto esses Ministérios são necessários à vida da Igreja Local para cumprir a missão ordenada pelo Senhor ante o mundo e, simultaneamente, crescer “na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pd.3:18). Nesta Aula trataremos do Dom de Apóstolo.
I. O COLÉGIO APOSTÓLICO
“aconteceu que, naqueles dias, subiu ao monte a orar e passou a noite em oração a Deus. E, quando já era dia, chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze deles, a quem também deu o nome de apóstolos: Simão, ao qual também chamou Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote; Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que foi o traidor” (Lc.6:12-16).
1. O termo “Apóstolo”
Segundo o dicionário Wycliffe, o termo grego “apóstolos” vem do verbo “apostellein”, e significa literalmente “enviado” ou “mensageiro”. No Novo Testamento a palavra “apóstolo” é usada tanto em um sentido amplo quanto estrito. Todo apostolado é centrado em Jesus, que é o Apóstolo (Hb.3:1-6) enviado por Deus para ser o Salvador do mundo (1João 4:14). Embora João não use o substantivo, ele frequentemente usa o verbo e descreve as funções do Senhor Jesus como o Apóstolo de Deus. Ele foi enviado por Deus (João 7:28,29; 8:42) para falar as palavras de Deus (João 3:34), para fazer as obras (João 5:36; 6:29) e a vontade (João 6:38) de Deus, para revelar a Deus (João 5:37-47), para dar a vida eterna (João 17:2,3). Todo o apostolado subsequente tem seu centro em Deus através de Jesus Cristo (João 17:18-26; 20:21-23).
Mateus e Marcos usam o termo “apóstolo” apenas uma vez para se referirem aos Doze que foram enviados em uma viagem missionária (Mt.10:2; Mc.6:30). Em Efésios 4:11, este termo designa uma função ao invés de uma posição.
Paulo usa o termo “apóstolo” em um sentido amplo para um mensageiro ou agente (2Co.8:23; Fp.2:25; e possivelmente em Rm.16:7). Este uso mais amplo tornou possível falar de falsos apóstolos (Ap.2:2). Porém, geralmente, Paulo usa a palavra para um grupo de testemunhas que havia visto o Senhor ressurrecto e que havia recebido um chamado específico para um apostolado. Este grupo era maior que os Doze (Atos 15:5,6). Incluído neste grupo estava Tiago, o irmão do Senhor (Atos 15:13; Gl.1:19), Paulo (Rm.1:1; 1Co.1:1; 9:1,2; 15:8-10; Gl.2:7,8), provavelmente Barnabé (1Co.9:1-6; Gl.2:9; cf. Atos 14:4,14), e possivelmente outros (Rm.16:7). No entanto, o Senhor ressurrecto, de quem Paulo se tomou uma testemunha é idêntico ao Jesus histórico de quem os Doze também testemunharam. Consequentemente, a proclamação de Paulo deve ser idêntica à dos Doze (1Co.15:11; Gl.1:18; 2:7-10; cf. Atos 15).
2. O Colégio apostólico
O Colégio apostólico refere-se ao grupo dos doze primeiros discípulos de Jesus convidados por Ele a auxiliarem o seu ministério terreno. Jesus tinha muitos discípulos, mas apenas doze apóstolos. O Salvador os separou e nomeou. Um discípulo é um seguidor, um apóstolo é um comissionado. Em sentido especial, os doze apóstolos constituíram o início do alicerce da Igreja (cf. Ef.2:20; 3:5; Mt.16:18; Ap.21:14). Eles tinham autoridade ímpar na Igreja, no tocante à revelação divina e à mensagem original do evangelho, como ninguém mais até hoje (Ef.3:5). Por esta razão, este ofício inicial de apóstolo do Novo Testamento é ímpar e não repetido. Como testemunhas e mensageiros diretos do Senhor Jesus, com exceção de Judas Iscariotes, eles edificaram o alicerce da Igreja de Jesus Cristo, alicerce este que nunca poderá ser alterado, nem admitir acréscimo. Daí, aquele grupo de apóstolos não ter sucessores; são “Apóstolos do Cordeiro” num sentido único (Ap.21:14; 1Ts.2:6; Jd,17).
Segundo Wycliffe, durante o ministério de Jesus, os Doze não eram, a princípio, mensageiros, mas homens selecionados, que foram iniciados no reino vindouro e, portanto, consideravam seu dever conclamar o povo de Israel ao arrependimento e, em última análise, julgá-lo (Mt.19:28-30).
Lucas, frequentemente, e quase que exclusivamente, chama os Doze de “apóstolos” (Lc.6:13; 9:10; 17:5; 22:14; 24:10; Atos 1:26; 2:43; 4:35,37; 5:2,12,18; 8:1. Exceções: Lc.11:49; Atos 14:4,14). Os apóstolos foram testemunhas oculares do ministério de Jesus na terra e consequentemente testificaram que Jesus era o Senhor ressurrecto (Lc.24:45-48; 1João 1:1-3). Os pré-requisitos para a substituição apostólica nesta função única são dados em Atos 1:21,22. A lista de apóstolos de Lucas (Lc.6:14-16; Atos 1:13) corresponde à lista dos Doze dada em Mateus 10:2-4 e Marcos 3:16-19.
No período inicial, os 12 apóstolos eram os únicos ensinadores e líderes da Igreja, e outros ofícios foram derivados deles (Atos 6:1-6; 15:4). O apostolado não implicava em uma liderança permanente. Embora Pedro tenha iniciado missões aos judeus (Atos 2) e aos gentios (Atos 10:1-11:18), Tiago o substituiu como líder entre os judeus, e Paulo como líder entre os gentios.
Pedro, Tiago e João formavam um círculo íntimo dentre os Doze, e estavam presentes no episódio da transfiguração (Mt.17:1-9; Mc.9:2-10; Lc.9:28-36) e no Getsêmani (Mt.26:36-46; Mc.14:32-42; Lc.22:39-46). Os Doze foram selecionados para ser os companheiros de Jesus e proclamar o Evangelho (Mc.3:14). Durante o ministério de Jesus, os Doze serviram como seus representantes, uma função compartilhada por outros (Lc.10:1).
Aparentemente, a posição dos apóstolos não foi fixada permanentemente antes da ressurreição (Mt.19:28-30; Lc.22:28-34; cf. João 21:15-18). O Cristo ressurrecto fez deste grupo seleto de testemunhas do seu ministério e ressurreição, apóstolos e testemunhas permanentes de que Ele é o Senhor, os comissionou como missionários, os instruiu a ensinar e batizar (Mt.28:18-20; Mc.16:15-18; Lc.24:46-48), e completou o processo com o envio do Espírito Santo no Pentecostes (Lc.24:49; Atos 1:1-8; 2:1-13).
3. A singularidade dos Doze
O apostolado dos Doze tinha uma singularidade bem destacada em relação aos demais apóstolos narrados no livro de Atos e nas epístolas. Para se qualificar como apóstolo é preciso que atenda cumulativamente os seguintes requisitos:
a) Ter visto Jesus Cristo após a ressurreição (ser testemunha ocular da ressurreição (Atos 1:21,22). Aqui neste texto Pedro diz que o substituto de Judas deve “se tornar testemunha conosco de sua ressurreição”. Além disso, foi aos apóstolos que escolhera que “depois de ter padecido se apresentou vivo, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante quarenta dias” (Atos 1:2,3; 4:33).
b) Ter sido especificamente convocados pelo Senhor como apóstolo (Mt.10:1; Lc.6:13). Mesmo que o termo “apóstolo” não seja comum nos evangelhos, os doze discípulos são chamados “apóstolos” especificamente em um contexto em que Jesus os comissiona, “enviando-os” para pregar em seu nome (cf.Mt.10:1-7). Multidões seguiam Jesus por onde Ele passava (Mt.4:25), e muitos se tornavam seguidores de Jesus, mas para iniciar o trabalho da Grande Comissão, apenas doze foram convocados pessoalmente por Ele.
c) Ter o ministério autenticado com milagres especiais (Mc.16:17,18). Os Doze foram revestidos de autoridade de Deus para expulsar os demônios, curar enfermos, operar maravilhas e pregar o Evangelho (Mc.16:17,18; cf. Atos 2:4).
d) Andaram com Jesus durante todo o seu ministério. Desde o batismo do Senhor até a crucificação, os Doze andaram com o Mestre, aprenderam e conviveram com Ele (Mc.6:7; João 6:66-71; Atos 1:21-23).
II. O APÓSTOLO PAULO
1. Saulo e sua conversão
O apóstolo Paulo era inicialmente chamado de Saulo. Nasceu na cidade de Tarso, capital da província romana da Cilícia, costa sul da atual Turquia (Atos 9:11; 21:39; 22:3). Era fabricante de tendas (ofício que deve ter aprendido quando criança e adolescente em Tarso – cfr. 1Ts.2:9; Atos 18:3). Depois de Jesus é considerado a figura mais importante do cristianismo. Era um judeu da Diáspora (Dispersão), de uma importante e rica família hebraica tradicional (2Tm.1:3; Fp.3:5; 2Co.11:22; Gl.1:14). Começou a receber desde cedo a formação rabínica, sendo criado de uma forma rígida no cumprimento das rigorosas normas dos fariseus, classe religiosa dominante daquela época, e ensinado a ter o orgulho racial tão peculiar aos judeus da antiguidade.
Quando se mudou para Jerusalém, para se tornar um dos principais dos sacerdotes do Templo de Salomão, deparou-se com uma “seita” iniciante que tinha nascido dentro do judaísmo, mas que era contrária aos principais ensinos farisaicos.
Dentro da extrema honestidade para com a sua fé e sentindo-se profundamente ofendido com esta “seita”, que se chamava cristã, começou a persegui-la, culminando com a morte de Estêvão, que foi o primeiro mártir do cristianismo.
Com a anuência dos principais dos sacerdotes, Saulo viajou para Damasco atrás de seguidores do cristianismo. Na entrada desta cidade, teve uma visão de Jesus, que em espírito lhe perguntava: "Saulo, Saulo, por que me persegues?". Ficou cego imediatamente. Foi então levado para a cidade. Depois de alguns dias, um discípulo de Jesus, chamado Ananias, foi incumbido de orar por ele. A partir de então, se tornaria o "Apóstolo dos Gentios", ou seja, aquele enviado para disseminar o Evangelho para o povo não judeu. De perseguidor, passou a perseguido; de Saulo, o fariseu, a Paulo, o apóstolo dos gentios.
A conversão de Paulo se deve apenas a graça soberana de Deus. A graça divina faz com que os seres humanos sejam verdadeiramente humanos. É o pecado que encarcera, mas a graça liberta. A graça de Deus nos liberta da escravidão do nosso orgulho, preconceito e egocentrismo, fazendo-nos capaz de nos arrepender e crer. Não podemos fazer outra coisa, senão engrandecer a graça de Deus que teve misericórdia de um fanático enfurecido como Paulo, e de criaturas tão orgulhosas, rebeldes e obstinadas como nós.
A narrativa da conversão de Paulo mostra que, antes de se encontrar com o Senhor, o então perseguidor da Igreja era alguém que “respirava ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor”. Paulo, no seu “zelo religioso”, apenas trazia ameaças e mortes contra o próximo. O “zelo religioso”, sem a presença de Jesus Cristo na vida do religioso, somente redunda em ameaças e mortes. Não é de surpreender, portanto, que o “zelo religioso” tenha promovido mortes e tragédias ao longo da história da humanidade e continuará a fazê-lo, inclusive o fará durante o tenebroso governo do Anticristo durante a Grande Tribulação. Não nos esqueçamos das palavras de Jesus: “… vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus”(João 16:2).
2 Um homem preparado para servir
Paulo estudou em escola de Tarso, onde teve acesso a todo o pensamento filosófico estóico, que tanto lhe serviria ao longo do seu ministério (que o diga o seu discurso perante o Areópago em Atenas - Atos 17:15-31 -, que é uma demonstração de erudição da filosofia grega). Embora tivesse nascido em Tarso e gozasse da cidadania romana, Paulo era, antes de tudo, um israelita, da tribo de Benjamim (Rm.11:1) e sua erudição e inteligência foram, certamente, os principais motivos que o levaram a estudar a lei com Gamaliel em Jerusalém (Atos 22:3), o grande mestre fariseu (Atos 5:34), já que, tudo indica, seu pai pertencia a esta seita judaica (Atos 23:6). O farisaísmo era uma seita ligada ao judaísmo que valorizava a obediência à lei e a prática dos ritos judaicos.
Em Jerusalém, Paulo completa a sua educação, instruindo-se na lei judaica e dela se tornando um exímio conhecedor. Tornou-se um religioso contumaz (Fp.3:6). Ele mesmo afirmava que em sua nação, excedia em judaísmo a muitos de sua idade, sendo extremamente zeloso das tradições de seus pais (Gl.1:14). Era um profundo conhecedor do Antigo Testamento (Rm.1:17; 3:4,510-18; 9:6-33), das tradições de seu povo(Atos 26:24; 28:17,18; Gl.1:13-14) e da língua hebraica(Atos 22:1,2).
Percebemos, assim, nitidamente, que Deus permitiu que Paulo fosse formado nas letras judaicas, gregas e romanas, para que fosse um eficaz vaso na propagação do Evangelho entre os gentios a partir de sua conversão. Tudo quanto aprendera seria utilizado no seu ministério. Eis uma demonstração cabal de que o conhecimento secular não é obstáculo, mas um auxiliar poderoso no ministério de cada cristão, e como não têm razão alguma os inimigos do estudo, os anti-intelectualistas, que, lamentavelmente, ainda existem aos milhares nas Igrejas Locais. Se o estudo secular fosse um mal, um entrave na obra do Senhor, por que Deus teria preparado durante décadas o apóstolo Paulo? Graças aos seus estudos seculares e da Palavra de Deus, ele era um homem preparado para servir.
Graças ao seu vasto conhecimento das Escrituras Sagradas, sem falar da inspiração do Espírito Santo e dos dons espirituais a ele concedido, ele escreveu pelo menos treze livros do Novo Testamento – de Romanos a Filemon. Através de suas cartas/epístolas, Paulo transmitiu às comunidades cristãs, ao longo da história do cristianismo, uma fé fervorosa em Jesus Cristo, na sua morte e ressurreição.
Fez quatro grandes viagens missionárias, sendo que na última foi à Roma como prisioneiro, para ser julgado, e nunca mais retornou para a Judéia.
No ano de 68 d.C., foi morto pelas Legiões Romanas, nas perseguições aos Cristãos instauradas por Nero, depois do grande incêndio de Roma. Na antessala do martírio, ele não reclamou de sua fatídica situação, mas proclamou uma das frases de vitória mais linda do Novo Testamento: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2Tm.4:7).
3. “O menor dos Apóstolos”
Paulo não pertenceu ao grupo dos Doze apóstolos. Ele próprio, humildemente, ao escrever à Igreja de Corinto, diz que se considerava o “menor dos apóstolos” e até não era digno de ser chamado apóstolo, uma vez que havia perseguido a Igreja de Deus, e até mesmo considerava-se um “abortivo”, como que nascido fora de tempo, o menor de todos (1Co.15:8,9). Todavia, mesmo considerando-se "o menor dos apóstolos", Paulo revelou-se um grande servo de Deus. Ele foi, indubitavelmente, o maior evangelista, o maior teólogo, o maior missionário e o maior plantador de Igrejas de toda a história do cristianismo. Nenhum homem exerceu tanta influência sobre a nossa civilização; nenhum escritor foi tão conhecido e teve suas obras tão divulgadas e comentadas quanto ele.
Embora tenha vivido sob fortes pressões internas e externas, Paulo não deixou jamais sua alma ficar amargurada. Ele foi o maior bandeirante do cristianismo, seu arauto mais eloquente, seu embaixador mais ilustre. Pregou com zelo aos gentios e aos judeus, nas escolas, cortes, palácios, sinagogas, praças e prisões. Com a mesma motivação, pregou quando tinha fartura e também quando passava por privações (2Co.6:4; 11:9). Ele enriqueceu muitos, sem nada possuir. Embora tenha experimentado fome e frio, suportado cadeias e tribulações, passado os últimos dias numa masmorra e enfrentado o martírio por ordem de um imperador insano e déspota, sua vida ainda inspira milhões de pessoas em todo o mundo. Sua última doxologia, mesmo diante do patíbulo e já “sendo oferecido por aspersão de sacrifício”, foi: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda“; a Ele “seja glória para todo o sempre. Amém!” (2Tm.4:7,8,18b).
III. APOSTOLICIDADE ATUAL (Ef.4:11)
1. Ainda há Apóstolos?
Os Apóstolos, no sentido restrito, designam os Doze (Lc.6:13; Atos 1:26; 2:14) - os onze discípulos originais que continuaram após a morte de Judas, e Matias, que o substituiu (Atos 1:26). Esses Apóstolos “originais” eram testemunhas da ressurreição de Cristo (Atos 1:22; 1Co.9:1), escolhidos pessoalmente pelo Senhor (Mc.3:13-19; Gl.1:1), formando ao lado dos profetas do Novo Testamento o fundamento sobre o qual a Igreja está construída (Ef.2:20; cf. Atos 2:42). Tão importante era esse grupo original de doze apóstolos que lemos que seus nomes estão escritos nos fundamentos da Santa Jerusalém, e estão sobre estes os “doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro” (Ap.21:14). Nesse sentido restrito, o dom de Apóstolo não existe mais.
2. Apóstolos fora dos Doze
“E ele designou alguns para apóstolos...” (Ef.4:11)
À época do Novo Testamento existia o círculo dos Doze: doze apóstolos como representantes das doze tribos de Israel, que era o grupo mais próximo de Jesus. Além desses, houve também outros apóstolos, como Matias, que foi escolhido em substituição ao traidor Judas Iscariotes, bem como Paulo (Rm.1:1; 1Co.9:1; Gl.1:1), o último dos apóstolos (1Co.15:8), que viu o Senhor (mesmo que fosse de modo diferente dos outros), e outros mais, que foram enviados em missão para estabelecer a base da Igreja de Cristo; entre esses “outros” apóstolos além dos Doze, havia Barnabé, Apolo, Júnias, Epafrodito, Andrônico, Tiago, etc (cf. Atos 14:4; Gl.1:19; Rm.16:7; 1Co.4:6,9). Estes primeiros mensageiros (Apóstolos) foram enviados para estabelecer a base da Igreja (Ef.2:20). E tendo em vista que o alicerce já está colocado não é possível colocar um outro sobre o ele, apenas outra pessoa continua a construção. Por isso, a função de Apóstolo foi extinta na primeira geração, no princípio da Igreja.
Enfim, o apostolado não é um título pomposo, especial; também não é um cargo hierárquico; aliás, não há sucessão apostólica, essa é uma doutrina formada pela religião romana para justificar a existência do poder papal.
Resumindo: os primeiros apóstolos eram (a) testemunhas oculares da vida e da ressurreição de Jesus Cristo, ou (b) tiveram um outro chamado direto de Cristo. Em lugar algum as Escrituras relatam que eles tivessem recebido a incumbência de continuar instituindo apóstolos na “segunda geração”, o que eles de fato não fizeram. Estejamos, pois, alertas e críticos quando hoje aparecem pessoas reivindicando o título de “apóstolos” afirmando que foram chamados pelo Senhor! Trata-se de um típico sinal do fim dos tempos (ver 2Co.11:13-15).
3. O ministério apostólico atual
Como já foi dito anteriormente, não há sucessão apostólica. O que há atualmente é o ministério de caráter apostólico. Como o termo “apóstolo” significa “enviado”, esse dom permanece na Igreja contemporânea com uma conotação estritamente missionária, distinguindo os cristãos separados por Deus para a tarefa missionária (Rm.1:5; 1Co.9:2; Gl.2:8); eles são capacitados e “enviados” para fundar e consolidar Igrejas (2Co.11:28) por meio das missões culturais ou transculturais. Assim, o termo “apóstolo”, em sentido extensivo, é sinônimo do termo “missionário” (cf.At.9:13-17; 14:21-28; 1Co.9:19-23; Gl.1:15-17; 2:7-14; Ef.3:6-8). Portanto, atualmente, missionários enviados para evangelizar povos não alcançados pelo Evangelho são dignos de serem reconhecidos como verdadeiros apóstolos de Cristo.
CONCLUSÃO
A revelação dos apóstolos, conforme temos no Novo Testamento, nunca poderá ser substituída ou anulada por revelação, testemunho ou profecia posterior (At 20:27-31; 1Tm 6:20). Portanto, os cristãos autênticos que amam e aceitam as Escrituras Sagradas como a Palavra de Deus devem: (a) Aceitar o ensino e revelação originais dos apóstolos a respeito do evangelho, conforme o Novo Testamento registra, e procurar manterem-se fiéis a eles (At 2:42). Rejeitar os ensinos dos apóstolos é rejeitar o próprio Senhor (João 16:13-15; 1Co.14:36-38; Gl.1:9-11); (b) Continuar a missão e ministério apostólicos, comunicando continuamente sua mensagem ao mundo e à Igreja, através da proclamação e ensino da Palavra de Deus, no poder do Espírito (Atos 1:8; 2Tm.1:8-14; Tt.1:7-9); (c) Não somente crer na mensagem apostólica, mas também defendê-la e guardá-la contra todas as distorções ou alterações.