Texto Base: Mateus 7:28,29; Atos 13.1; Romanos 12:6,7; Tiago 3:1
"De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada: [...] se é ensinar, haja dedicação ao ensino" (Rm.12:6,7).
Mateus 7:
28.E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina,
29.porquanto os ensinava com autoridade e não como os escribas.
Atos 13:
1.Na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé, e Simeão, chamado Níger, e Lúcio, cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo.
Romanos 12:
6.De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada: se é profecia, seja ela segundo a medida da fé;
7.se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino;
Tiago 3:
1.Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos do Dom Ministerial de Mestre. O ensino das Escrituras Sagradas é de fato um Ministério. Está escrito: “Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres”. O Ministério de ensino das Escrituras Sagradas é o Ministério do discipulado, um Ministério contínuo e permanente.
Na Grande Comissão de Jesus, Ele ordenou: ”fazei discípulos...ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho mandado” (Mt.28:18-20). No princípio da Igreja, “todos os dias, no templo e nas residências, não cessavam de ensinar, e de pregar Jesus, o Cristo” (At.5.42).
O apóstolo Paulo fez a seguinte recomendação na epístola aos Romanos: “se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino” (Rm.12:7). Ao instruir Timóteo acerca do seu ministério, ele afirmou: “... aplica-te à leitura, à exortação, e ao ensino” (1Tm.4:13); “Prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende, exorta, com toda longanimidade e ensino” (2Tm.4:2). Disse mais: “É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, temperante, sóbrio, ordeiro, hospitaleiro, apto para ensinar” (1Tm.3:2).
A Palavra de Deus é um tesouro inesgotável e indispensável para o nosso crescimento espiritual. Por isso, precisamos estudá-la periódica e sistematicamente, a fim de que os resultados do ensino sejam evidentes na vida dos nossos irmãos em Cristo.
I. JESUS, O MESTRE POR EXCELÊNCIA
Se houve um título que Jesus sempre aceitou foi o de Mestre (João 13:13). Na terra, Ele era o Mestre por excelência. Como Filho de Deus, Sua missão era instruir aos outros como conhecer a Deus. Ele ensinava enquanto andava com os seus seguidores - “Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas...” (Mt.4:23). Ele ensinou em praias, em montes, em casas, caminhando, em sinagogas e no templo. Os métodos foram os mais variados, mas Ele preferia usar uma história ou uma parábola, isto é, as coisas simples e usuais do cotidiano. Lucas, ao sintetizar o ministério terreno de Jesus, no início do livro de Atos dos Apóstolos, disse que Jesus, na terra, veio “fazer e ensinar” (Atos 1:1). Em resumo, Jesus era o Mestre por excelência porque:
- Ensinava com “autoridade” (Mt.7:29). Este era o fator que distinguia o Seu ensino de todos os outros mestres de seu tempo. O que causava admiração nas pessoas não era o que Jesus ensinava, pois a maioria dos seus ensinos já era do conhecimento do povo, mas o fato de que Ele, ao contrário dos escribas e fariseus, tinha um testemunho de vida condizente com o que ensinava. Jesus vivia o que ensinava - o grande diferencial entre seu ensino e o dos demais mestres; daí porque seu ensino tinha “autoridade”.
- O Seu ensino era acessível a todo povo. Ao contrário dos “sabichões” da sua época e dos nossos dias, não queria demonstrar conhecimento, mas tinha por missão fazer com que Deus fosse compreendido pelo povo. Utilizando-se de circunstâncias da vida de seus ouvintes, permitia-lhes enxergar as “coisas de cima”, as realidades espirituais que, se fossem ensinadas em sua profundidade e dificuldade, estariam acima da capacidade de qualquer doutor, como Jesus deixou claro em seu diálogo com o “mestre de Israel” Nicodemos (João 3:9-12).
- Usava uma linguagem acessível, universal. Nunca Jesus fez uso de histórias fantasiosas, de coisas complexas, de enigmas que exigissem capacidade invulgar para decifrá-los. Ele ensinava por Parábolas, ou seja, Ele revelava verdades desconhecidas com base em verdades e fatos conhecidos - eram histórias retiradas do cotidiano, do dia-a-dia dos seus contemporâneos, cuja profundidade é mostrada com elementos absolutamente triviais e simples. Ele usava figuras, ou pessoas que todo povo conhecia, tal como a figura de um Semeador que saiu a semear; da Semente que caiu na boa ou na terra ruim; de um Pastor que perdeu uma ovelha; de um Filho que abandonou a casa de seu pai; de uma Moeda perdida por uma mulher; de um Vestido novo que não podia ser remendado com pano velho; de um Pescador jogando sua rede para pescar; de um Construtor que construiu sua casa sobre a areia. Eram dezenas de histórias e de figuras sobejamente conhecidas. Isto é uma eloquente demonstração da “simplicidade que há em Cristo” (2Co.11:3). Ao contemplarmos este modelo de ensino de Jesus, devemos sempre lembrar que na Igreja Local o Ministério de ensino deve ser exercido com simplicidade, pois não será a complicação, a erudição excessiva, que conferirá profundidade ao ensino, e as parábolas são a prova disto.
- Ensinava pelo exemplo. O exemplo é essencial para que o ensino tenha eficácia, e Jesus foi, em todos os aspectos, um exemplo como Mestre, demonstrando na prática as verdades que anunciava. Uma das grandes características dos ensinos religiosos dos dias de Jesus era, precisamente, a dissintonia entre o que era falado e o que era vivido. A maior crítica que Jesus fez aos fariseus, tidos e havidos como os “mais santos” do período, era o fato de que ensinavam, mas não viviam o que ensinavam (ler Mt.23:3,4). Jesus, ao contrário, primeiro praticou para depois ensinar (Atos 1:1) e, por isso, seu ensino tinha autoridade. Quando confrontado por seus inimigos em relação ao pagamento de tributos, pegou uma moeda e deu-lhes uma lição importante acerca do respeito ao Estado. César Moisés de Carvalho, pedagogo e autor do livro Marketing para a Escola Dominical, editada pela CPAD, disse certa vez que o problema de muitos cristãos de nossos dias não é a ortodoxia – saber fazer o que é certo à luz da Bíblia -, e sim a ortopraxia – viver aquilo que sabemos ser o certo à luz da Bíblia. Aqui reside um dos maiores desafios para os que se dedicam ao ensino.
1. O Mestre da Galileia
O apóstolo Mateus afirmou que “Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, e pregando o evangelho do Reino [...] (Mt.4:23). Estrategicamente, o Mestre da Galiléia começou seu ministério de ensino nas sinagogas. A sinagoga era a instituição mais importante na vida de um judeu. Só havia um Templo, o Templo de Jerusalém, mas havia uma sinagoga em cada comunidade judaica. Se o Templo era o lugar dos sacrifícios, a sinagoga era o ambiente do ensino. Barclay diz que “as sinagogas eram as universidades religiosas daquela época”.
Segundo o pr. Hernandes Dias Lopes, “Jesus foi o Mestre dos mestres, o mensageiro e a mensagem, o profeta e a profecia, o professor e o conteúdo do seu ensino. Não ensinou a doutrina dos rabinos nem o pensamento de sua época; Ele ensinou as Escrituras, mostrando que Ele era o cumprimento de toda a esperança prometida no Antigo Testamento. Jesus não foi um alfaiate do efêmero, mas o escultor do eterno. Ele não ensinou nulidades, mas a verdade eterna.
Jesus ensinou nas sinagogas, lugar onde as pessoas se reuniam para ouvir a leitura da Lei. Ensinou no lugar onde as pessoas buscavam conhecimento. Ensinou com fidelidade, com regularidade, com irretocável precisão”. Segundo o pr. Elinaldo Renovato, “os que o ouviam só tinham duas opções: amá-lo ou odiá-lo. Era impossível ouvi-lo e ficar indiferente. Jesus transtornava a consciência do acomodado e aquietava o coração do perturbado”.
Nós, de igual forma, imitando a Jesus, devemos, no cumprimento da Grande Comissão, ensinar a Palavra de Deus aqui e acolá, em nossa terra e além-fronteira, usando todos os métodos legítimos e disponíveis, até que as pessoas cheguem à maturidade e alcancem a estatura de varão perfeito.
2. O Mestre divino
Por ser divino, Jesus dava às Escrituras o sentido divino, porque o Espírito de Deus nEle estava. As palavras que saíam de sua boca eram “palavras de graça”, ou seja, palavras que vinham com poder, como resultado de uma intimidade entre Deus-Pai e Ele. Nicodemos, um mestre em Israel, fariseu, certa feita visitou Jesus e ficou admirado com a excelência de seu ensino, reconhecendo que Jesus era uma Pessoa incomum de seu tempo (João 3:1,2). Ele disse a Jesus: “... Rabi, bem sabemos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele” (João 3:2). Embora Nicodemos tivesse reconhecido Jesus como um Mestre vindo da parte de Deus, ou seja, um Mestre divino, com capacidade de operar grandes sinais e maravilhas, sua fé era deficiente, pois se baseava apenas no testemunho dos milagres (João 3:2). Jesus, porém, destacou a necessidade da fé salvadora que produz a transformação da vida.
3. O Mestre da humildade
Jesus era o Mestre por excelência porque ensinava com humildade sincera. Uma das passagens do Novo Testamento que mostra a humildade de Jesus é a de João 13:4,5, quando Ele lavou os pés dos discípulos. O texto diz o seguinte:
“levantou-se da ceia, tirou as vestes e, tomando uma toalha, cingiu-se. Depois, pôs água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido”.
À época de Jesus, era costume que, antes de se assentarem à mesa, as pessoas lavassem os pés. Os discípulos tinham vindo de Betânia, e seus pés estavam cobertos de poeira. Eles não podiam assentar-se à mesa antes de lavar os pés. Só que lavar os pés era serviço de escravo, principalmente do escravo mais humilde de uma casa. Jesus estava no cenáculo com eles, e ali não havia servos. Jesus, então, esperou que eles tomassem a iniciativa de lavar os pés uns dos outros. Mas eles eram orgulhosos demais para fazer um serviço de escravo. Ninguém tomou a iniciativa. Aliás, os discípulos abrigavam no coração a dúvida de quem era o mais importante entre eles (cf. Lc.22:24-30). O vaso de água, a bacia, a toalha-avental dispostos ali à vista de todos, os acusavam. Esses utensílios constituíam uma acusação silenciosa contra aqueles homens. Mesmo assim, ninguém se mexia. Eles pensavam que privilégios implicava grandeza, reconhecimento, aplausos e regalias. Jesus, porém, reprovou a atitude deles, mostrando-lhes que, entre os que o seguem, mede-se a grandeza de qualquer um pelo serviço prestado.
Foi no meio de tais homens que se sentiam muito importantes, entre eles Judas Iscariotes, o traidor, que Jesus se levantou; mesmo sabendo que era o Filho de Deus e que tinha vindo do Céu e voltava para o Céu, Jesus cingiu-se com uma toalha, deitou água em uma bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha. Jesus repreendeu o orgulho dos discípulos com sua humildade. Jesus mostrou que, no Reino de Deus, maior é o que serve.
O que Jesus teve em mente não foi um rito externo, o lava-pés, mas uma atitude interna de humildade e vontade de servir. A grandeza no Reino de Deus não é medida por quantas pessoas estão a seu serviço, mas a quantas pessoas você está servindo. Devemos ter o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus. Ele, sendo Deus, não julgou com usurpação o ser igual a Deus. Ele se esvaziou. Ele se humilhou. Ele sofreu morte humilhante, e morte de cruz.
Jesus, sendo o Soberano do Universo, cingiu-se com uma toalha. Sendo o Rei dos reis, inclinou-se para lavar os pés sujo dos seus discípulos. Ah, como precisamos dessa lição de Jesus hoje! Temos hoje muitas pessoas importantes na Igreja, mas poucos servos. Muita gente no pedestal, mas poucas inclinadas com a bacia e a toalha na mão. Muita gente querendo ser servida, mas poucas prontas a servir. A humidade de Jesus repreende o nosso orgulho. Devemos nos revestir de humildade, porque aquele que se humilhar será exaltado. O cristão mais pobre, o mais fraco e o mais ignorante pode todos os dias encontrar uma ocasião para praticar amor e humildade. Cristo nos ensinou a fazer isso.
II. O ENSINO DAS ESCRITURAS NA IGREJA DO PRIMEIRO SÉCULO
Na Igreja do primeiro século da era cristã, o Ministério de Mestre incluía não só o ensino aos discípulos, mas também a defesa da Palavra diante dos adversários da fé cristã. Estas duas esferas de atuação faziam parte do ministério da liderança didática, objetivando o cumprimento da Grande Comissão: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século “ (Mt.28:19,20).
1. Uma ordem de Jesus
Foi na Galileia, num Monte designado pelo Senhor, que Jesus entregou aos seus discípulos a Grande Comissão. Observe que Jesus não deu uma grande sugestão, mas uma grande Comissão, ou seja, uma ordem expressa, e a ordem é: “Ide...fazei discípulos... batizando-os...ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei...” (Mt.28:19,20). Qualquer ordem dada pela autoridade máxima do universo exige atenção e respeito total. Portanto, ao proferir a ordem, Jesus quer ser obedecido de forma clara, completa e urgente.
Observe que Jesus não mandou fazer fãs; quem precisa de fãs são os artistas. Jesus não mandou fazer admiradores; os atores e jogadores de futebol é que buscam admiradores. Jesus não mandou apenas evangelizar e ganhar almas, abandonando os bebês espirituais; Ele quer discípulos. Jesus não mandou apenas recrutar crentes e encher as Igrejas de pessoas; Ele quer convertidos maduros.
Um discípulo é um seguidor, e isto implica renunciar a tudo por amor a Jesus e guardar as palavras de Jesus. Segundo o Rev. Hernandes Dias Lopes, “hoje, temos muita adesão e pouca conversão; temos grandes ajuntamentos e pouco quebrantamento; temos Igrejas cheias de pessoas vazias de Deus e vazias de pessoas cheias de Deus; temos grandes multidões que buscam as bençãos, mas não a Deus. São religiosos, mas não discípulos de Cristo”.
Observe que uma das implicações no cumprimento da Grande Comissão é o ensino das Escrituras Sagradas. Três coisas merecem destaque nesse ensino:
- Em primeiro lugar, ensinar o que Jesus mandou (Mt.28:19). Não se trata de ensinar doutrinas de homens, modismos, tradições humanas e legalismo, mas ensinar o que Jesus ordenou.
- Em segundo lugar, ensinar todas as coisas (Mt.28:19). Ensinar não apenas as coisas mais agradáveis. Devemos ensinar toda a verdade, toda a Palavra, e dar não apenas o leite, mas também o alimento sólido.
- Em terceiro lugar, ensinar a guardar (Mt.28:19). Ensinar não é apenas guardar na cabeça doutrinas certas, mas é obedecer a essas doutrinas. O discípulo é aquele que obedece. Hoje, as pessoas querem conhecer, mas não querem obedecer. Jesus disse: ”Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (João 15:14). Que assim seja!
2. A doutrina dos apóstolos
“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações” (Atos 2:42).
Neste texto é informado que no princípio da Igreja os discípulos “perseveravam na doutrina dos apóstolos”. Essa “doutrina” tinha como fundamento os ensinos de Cristo. Esses ensinamentos foram transmitidos incialmente de forma oral e, hoje, preservados no Novo Testamento. Foi fundamentada nessa “doutrina” que a Igreja primitiva em apenas três anos chegou aos pontos mais distantes do Império Romano (Rm.1:8). Qual o segredo? O segredo foi que eles estavam consolidados no ensino da Palavra de Deus, mantinham-se firmes “na comunhão, no partir do pão e nas orações”. Em cada alma havia temor e reverência. E muitas maravilhas eram operadas pelo Senhor através deles (Atos 2:42-47). A preocupação dos apóstolos era orar e ensinar a Palavra de Deus à Igreja, ou seja, dar doutrina (Atos 6:2,4). E os líderes atuais o que dizem sobre isso?
3. Ensinamento persistente
No início da Igreja o ensino das Escrituras Sagradas era persistente e sistemático. O povo era desejoso pelo alimento espiritual, e os apóstolos eram constantes e incansáveis no mistério de ensino. Depreendemos isso do próprio texto sagrado: “E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar...” (At 5:42).
Paulo foi um exemplo de dedicação e persistência no ensino das Escrituras Sagradas. Ele não mediu tempo para ensinar, instruir os crentes. Ele disse: “como nada, que útil seja, deixei de vos anunciar e ensinar publicamente e pelas casas” (Atos 20:20). Em Trôade, ministrou aos irmãos até altas horas – “No primeiro dia da semana, estando nós reunidos como o fim de partir o pão, Paulo, que devia seguir viagem no dia seguinte, exortava-os e prolongou o discurso até à meia-noite” (Atos 20:7,8). Nem o incidente que aconteceu com o jovem Êutico lhe arrefeceu o entusiasmo e o ardor doutrinário – “Subindo de novo, partiu o pão, e comeu, e ainda lhes falou largamente até ao romper da alva” (Atos 20:11). O ardor pelo ensino também aconteceu em Antioquia - “todo um ano se reuniram naquela Igreja e ensinaram muita gente” (Atos 11:26). Também em Corinto Paulo permaneceu “um ano e seis meses, ensinando entre eles a Palavra de Deus” (Atos 18:11b).
Pedro também era persistente e insistente no ensino - “Pelo que não deixarei de exortar-vos sempre acerca destas coisas, ainda que bem as saibais e estejais confirmados na presente verdade” (2Pd.1:12). Ele sabia que os crentes aos quais a sua Carta foi enviada já possuíam certeza dos ensinos fundamentais, porém dava instrução contínua. Pedro sabia que em breve partiria para a glória (2Pd.1:14), e seu desejo era que, após a sua partida para estar com o Senhor, o ensino bíblico estivesse na mente de todos (2Pd.1:15).
A Bíblia diz que o conhecimento é vital. O Israel do Antigo Testamento se apostatou da fé em Deus porque deixou os caminhos do Senhor, porque deixou de conhecer a Jeová. Por causa disso o Senhor destruiu Israel espalhando-o por todo o mundo. O Senhor lamentou essa situação: “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento” (Oseias 4:6). E conhecimento não se adquire sem um ensino persistente e inspirado pelo Espírito Santo. Vivemos dias em que este ministério nunca foi tão necessário.
III. A IMPORTÂNCIA DO DOM MINISTERIAL DE MESTRE
Ensinar é um Ministério espiritual por ser o manejar da Verdade revelada pelo Espírito Santo. O propósito divino deste Ministério é o desenvolvimento espiritual de cada crente, até Cristo ser formado em cada coração (Gl.4:19). Paulo considerou o Ministério de Mestre como algo destacado e importante nos planos de Deus. Ele afirmou ser “constituído pregador, apóstolo e mestre” (2Tm.1:11). Frequentemente tem sido dito: “Se você não puder ser pastor, evangelista ou missionário, seja um professor!”. Tal conceito não tem apoio na Bíblia, pois o Mestre é classificado com o pastor e o evangelista, como sendo um dom à Igreja.
1. Uma necessidade urgente da Igreja
Sem dúvida, o Dom Ministerial de Mestre é necessidade urgente e essencial, pois o ensino da Palavra de Deus é uma necessidade urgente, necessidade esta que a Igreja Local deve estar sempre consciente. Entretanto, é com tristeza que vemos que, assim como a Igreja está dispersa com respeito à evangelização, também o está, e até com maior intensidade ainda, com respeito ao ensino persistente e sistemático da Palavra de Deus.
Mas, para cumprir a tarefa do ensino da Palavra, é preciso, em primeiro lugar, que a Igreja se veja dotada de homens e mulheres preparados para ensinar. Um dos grandes problemas que temos visto nas Igrejas Locais da atualidade é o despreparo das pessoas para ensinarem a Palavra de Deus. Quando falamos em preparo, não estamos nos referindo a escolaridade ou a conhecimento secular de alguém, mas, sobretudo, a seu conhecimento bíblico, a sua capacidade de manejar bem a Palavra da Verdade (1Tm.2:15).
Atualmente temos visto que, à medida que a escolaridade secular nas igrejas evangélicas tem subido, o conhecimento bíblico tem decrescido. Não temos medo de errar ao dizer que, se em décadas passadas, grande parte dos obreiros das Assembleias de Deus era composta de pessoas iletradas, semialfabetizados, mas que tinham profundo conhecimento bíblico, hoje em dia estamos repletos de obreiros dotados de diplomas universitários, mas que, biblicamente, são completamente analfabetos. O que é isto? Falta de estudo contínuo da Palavra de Deus.
Para que o povo de Deus adquira maturidade espiritual é indispensável que demos o devido valor à Palavra de Deus, Palavra esta que o próprio Deus engrandeceu a tal ponto de a pôr acima de Si mesmo (Sl.138:2).
Sem esta atitude, de nada adiantará desenvolver “cursos teológicos”, “cursos bíblicos”, “cursos de preparação de obreiros”, e tantas outras coisas que têm sido inventadas e postas em prática na atualidade. Se as pessoas não se conscientizarem de que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a Palavra que procede da boca de Deus (Mt.4:4), um discipulado (crente novo ou antigo na fé) não terá êxito em qualquer Igreja Local. Foi isto que os apóstolos sempre fizeram, a ponto de terem arrogado para si esta tarefa e tê-la posto como prioridade absoluta no princípio da Igreja.
A ausência de ensino nas Igrejas Locais é um dos fatores primordiais pelos quais se dá o esfriamento do amor da esmagadora maioria das pessoas que se disseram serem cristãs (Mt.24:12). Precisamos pertencer ao grupo minoritário, ao grupo daqueles que, por terem fome e sede de justiça, serão fartos (Mt.5:6); aqueles que, mesmo tendo a multidão sido despedida, mantém-se aos pés do Senhor com interesse em dEle aprender (Mt.13:36); aqueles que não se acham autossuficientes, como a Igreja de Laodicéia (Ap.3:17), mas que, como o salmista, se acha pobre e necessitado (Sl.40:17a), carente do aprendizado de Cristo.
2. A responsabilidade de um discipulado contínuo
É importante dizer que o discipulado cristão nunca termina quando o novo convertido é batizado nas águas. Ninguém deixa de ser discípulo pela idade ou por tempo de serviço. O discipulado cristão é para toda a vida!
Na Igreja do primeiro século o exercício deste ministério era contínuo; diz o texto bíblico: "E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar..." (Atos 5:42). Sem o ensino, os crentes ficam sem o conhecimento indispensável ao seu crescimento na graça e no conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. 2Pd.3:18).
Notadamente nos dias de apostasia em que vivemos, muitas Igrejas Locais não têm sido mais “luzes do mundo” nem tampouco “sal da terra”. Em vez de iluminarem o mundo, estão se envolvendo com as trevas; em vez de conservarem a pureza, o sabor e o fervor espiritual, estão elas completamente comprometidas com o pecado, não mais se distinguem dos incrédulos, sendo verdadeiros “icebergs” espirituais. Por que isto está acontecendo? Porque muitas Igrejas Locais estão, a exemplo das dez tribos do reino do norte (o reino de Israel), sendo destruídas por falta de conhecimento das Escrituras, por falta de conhecimento para confrontar os falsos mestres. A Palavra de Deus não é mais ensinada nessas Igrejas; nelas, a Bíblia foi substituída por outros livros, por outros ensinamentos. Discursos de teólogos, psicólogos, filósofos, cantores e compositores tomaram o lugar da Palavra. Os poucos que realmente se convertem a Cristo nestes lugares ficam desamparados, sem instrução nem nutrição espiritual e, por causa disso, crescem sem raiz, sem firmeza e, como Jesus ensinou na parábola do semeador, não resistem à angústia e perseguição (Mt.13:21).
A falta de Palavra de Deus, a falta de ensino faz, também, com que muitos, embora tenham algum crescimento, ante o sufocamento de doutrinas falsas, deixam-se levar pelas riquezas ou pelos cuidados deste mundo e, por causa disto, também morrem espiritualmente (Mt.13:22).
3. Requisitos necessários ao Mestre
Em linhas gerais, aquele que aspira o Ministério de Mestre precisa ser um crente fiel, vocacionado por Jesus para esta nobre função (2Tm.2:10-13), espiritual e seguro conhecedor das doutrinas bíblicas, além de ter comprovada capacidade para ensinar. Os vocacionados têm esmero (dedicação) - “... se é ensinar, haja dedicação ao ensino" (Rm.12:7b). Esmero ou dedicação significa integralidade de tempo no Ministério - estar com a mente, o coração e a vida nesse Ministério. É bom ressaltar que ser Mestre é diferente de ocupar o cargo de mestre.
Apresentamos alguns requisitos importantes para a Igreja reconhecer pessoas com o Dom Ministerial de Mestre
a) Um salvo em Cristo. Sem dúvida, aquele que é detentor do Dom de Mestre, antes de tudo, é uma pessoa salva em Cristo Jesus. Essa pessoa tem um relacionamento vital e real com Jesus Cristo. Cristo é seu Salvador Pessoal - salvou-o de todo o pecado, e é também Senhor e dono da sua vida. Além disso, vive na dependência do Espírito Santo. Jesus, o Mestre divino, não realizou este trabalho sem está cheio do Espírito Santo (Is.61:1). Em todas as coisas, Jesus dependia do Espírito Santo. Os discípulos foram impulsionados pelo Espírito Santo (João 14:17; At.5:42). O Apóstolo Paulo teve uma vida cheia do Espírito. O Espírito pensava através da mente de Paulo, sentia através do coração de Paulo, olhava através dos olhos de Paulo, falava através da voz de Paulo e operava através das mãos de Paulo (1Co.2:4-5; 2Co.1:21-22).
b) O hábito de ler. Como ensinaremos se não lermos, se não estudarmos dedicadamente? O apostolo Paulo levava muito a sério o hábito da leitura (cf. 1Tm.4:13; 2Tm.4:13). Em Romanos 2:21 está escrito: “Tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo?”. De acordo com Myer Pearlman, o professor não pode compartilhar o que não compreende, nem pode falar com autoridade se não tiver um conhecimento completo da matéria que ensinará. Se você tem a intenção de entregar-se à dura tarefa de ensinar, leia e estude sem cessar, leia com diligência acerca de tudo o que a Palavra de Deus ensina em diversos níveis, e faça um estudo sistemático das Escrituras.
c) Preparo intelectual. Em 2Timóteo 2:15 está escrito que devemos procurar, isto é, nos esforçarmos ao máximo para nos apresentarmos a Deus aprovados, como obreiros que não têm de que se envergonhar, que maneja bem a Palavra da Verdade. “Maneja”, aqui, denota “saber dividir”, como um profissional que, com perícia, utiliza a sua ferramenta de trabalho. Além de compreender o mundo da Bíblia (suas questões culturais, linguísticas, exegéticas etc.), o mestre deve estar inteirado com o conhecimento secular. O avanço das ciências, das tecnologias, as mudanças rápidas no comportamento social, provocam questões que exigem, não só o conhecimento bíblico e teológico, mas também secular.
d) Um coração em chamas. Aquele que é vocacionado ao Ministério do ensino, precisa ter um coração em chamas, ou seja, um coração fervoroso. Para alcançarmos as mentes e os corações das pessoas em nossos dias é indispensável que tenhamos uma mente preparada e um coração de grande fervor espiritual.
Jesus, em Carta dirigida à Igreja de Éfeso, disse: “tenho uma coisa contra ti, é que tu abandonaste o teu primeiro amor” (Ap,2:4). E aqui há um grande risco, é que às vezes na defesa da verdade, a Igreja pode perder a piedade. Conserva-se a ortodoxia, mas perde o seu fervor. Conserva-se a sã doutrina, mas perde o seu entusiasmo. É ortodoxa de cabeça, mas herege de conduta. Tem fogo, tem luz na mente, mas não tem fogo no coração. Isto é dramático! Em nossas Igrejas, é raro ver heresia, mas falta fervor. Como dizia Joao Wesley aos seus alunos: “meus filhos, ponham fogo no seu sermão ou ponham o seu sermão no fogo”. Martin Loyd-Jones dizia que a verdadeira pregação era teologia em fogo. Hoje nas Igrejas, falta fervor, falta corações em chama!
e) Uma vida exemplar. “Assim falai, assim procedei” (Tg.2:12). Na escola secular, o professor pode ser um mero transmissor de conhecimentos. Na igreja é diferente: o professor tem que ser didático e exemplar. Ensinar não é passar conhecimento simplesmente por meio de uma aula expositiva; é muito mais do que isso. Uma Aula fica completa quando existe coerência entre o que é “falado” e o que é “vivido”. Pense nisso! Amém?
CONCLUSÃO
Diante do que foi exposto, conclui-se que, na Igreja, o Dom ministerial de ensino é sobremodo importante, pois visa o aperfeiçoamento da fé e edificação dos crentes, quer seja novos convertidos ou não. Ser Mestre não é sinal de superioridade diante dos que não possuem este Dom, significa mais responsabilidade diante de Deus. Tiago exorta que se a pessoa deseja ser Mestre precisa tomar um grande cuidado: “meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo" (Tg.3:1). Não que seja ilegítimo aspirar este Dom, principalmente se Deus lhe deu essa capacidade, mas saiba de uma coisa, o Mestre terá um juízo maior. Pelas nossas palavras seremos inocentados, ou pelas nossas palavras seremos condenados.
Considerando que o mestre é compelido a falar e que a língua é o último membro a ser dominado (Tg.3:2), deve-se ter muito cuidado, ao aspirar tal responsabilidade. Quanto mais conhecimento e experiência você tiver, mais responsável você se torna diante de Deus e dos homens. O critério do juízo vai ser mais rigoroso. E aí Tiago começa a colocar a questão da língua num aspecto muito interessante, que é a questão do tropeço. Nós tropeçamos em muitas coisas, aquele que não tropeça no falar é perfeito varão, é capaz de manter o controle de todo seu corpo (Tg.3:2). Lembre-se: uma palavra falada é como uma flecha lançada, não tem jeito de retorná-la, é como um saco de penas soltas do alto de uma montanha, não podemos mais recolhê-las. Que o Espírito Santo nos conceda a Sua graça!