Texto Base: 1 Reis 16:29,30; 17:1-7; 18:17-21
“Saberás, pois, que o SENHOR, teu Deus, é Deus, o Deus fiel, que guarda o concerto e a misericórdia até mil gerações aos que o amam e guardam os seus mandamentos” (Dt.7:9).
V.P.: “Deus é pai de amor, bondade e misericórdia abundantes, contudo, todo pecado e desobediência ao Senhor trazem consequências inevitáveis à vida humana”.
1 Reis 16:
29.E Acabe, filho de Onri, começou a reinar sobre Israel no ano trigésimo oitavo de Asa, rei de Judá; e reinou Acabe, filho de Onri, sobre Israel em Samaria, vinte e dois anos.
30.E fez Acabe, filho de Onri, o que era mal aos olhos do SENHOR, mais do que todos os que foram antes dele.
1 Reis 17:
1.Então, Elias, o tisbita, dos moradores de Gileade, disse a Acabe: Vive o Senhor, Deus de Israel, perante cuja face estou, que nestes anos nem orvalho nem chuva haverá, senão segundo a minha palavra.
2.Depois, veio a ele a palavra do SENHOR, dizendo:
3.Vai-te daqui, e vira-te para o oriente, e esconde-te junto ao ribeiro de Querite, que está diante do Jordão.
4.E há de ser que beberás do ribeiro; e eu tenho ordenado aos corvos que ali te sustentem.
5.Foi, pois, e fez conforme a palavra do SENHOR, porque foi e habitou junto ao ribeiro de Querite, que está diante do Jordão.
6.E os corvos lhe traziam pão e carne pela manhã, como também pão e carne à noite; e bebia do ribeiro.
7.E sucedeu que, passados dias, o ribeiro se secou, porque não tinha havido chuva na terra.
1 Reis 18:
17.E sucedeu que, vendo Acabe a Elias, disse-lhe Acabe: És tu o perturbador de Israel?
18. - Então, disse ele: Eu não tenho perturbado a Israel, mas tu e a casa de teu pai, porque deixastes os mandamentos do SENHOR e seguistes os baalins.
19.Agora, pois, envia, ajunta a mim todo o Israel no monte Carmelo, como também os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal e os quatrocentos profetas de Asera, que comem da mesa de Jezabel.
20.Então, enviou Acabe os mensageiros a todos os filhos de Israel e ajuntou os profetas no monte Carmelo.
21.Então, Elias se chegou a todo o povo e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus, segui-o; e, se Baal, segui-o. Porém o povo lhe não respondeu nada.
INTRODUÇÃO
Acabe sucedeu seu pai, Onri, no trono de Israel (1Rs.16:28). Ele reinou sobre Israel vinte e dois anos (1Rs.16:29). O período do seu reinado é considerado uma das eras mais sombrias da história do Reino do Norte. O texto de 1Reis 16:30-33 faz um resumo sobre os atos desastrosos desse rei durante o seu reinado:
“E fez Acabe, filho de Onri, o que era mal aos olhos do Senhor, mais do que todos os que foram antes dele. E sucedeu que (como se fora coisa leve andar nos pecados de Jeroboão, filho de Nebate), ainda tomou por mulher a Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios; e foi, e serviu a Baal, e se encurvou diante dele. E levantou um altar a Baal, na casa de Baal que edificara em Samaria. Também Acabe fez um bosque, de maneira que Acabe fez muito mais para irritar ao Senhor, Deus de Israel, do que todos os reis de Israel que foram antes dele”.
Acabe governou entre os anos de 874 e 853 a.C., e o seu reinado marcou a conciliação dos elementos do culto cananeu com a adoração a Jeová. Uma primeira leitura dos capítulos 16:30 a 22:40 do livro de 1Reis, revela que essa mistura provou ser desastrosa ao povo de Israel. Na prática, o culto ao Deus verdadeiro foi substituído pela adoração ao deus falso Baal, trazendo como consequência uma apostasia sem precedentes, pondo em risco até mesmo a identidade do povo de Deus. Os estudiosos estão de acordo em dizer que pela primeira vez a verdadeira fé no Deus vivo corria real perigo. A apostasia, que teve raízes no final do reinado de Salomão, que cresceu durante o reinado de Jeroboão, e que havia se generalizado no reinado de Acabe, tornara-se a razão principal do Senhor ter levantado o profeta Elias, um dos maiores profetas da história bíblica.
Acabe foi grandemente influenciado por Jezabel, sua malévola esposa, os quais fizeram de tudo para eliminar a adoração a Deus em Israel. Mas o próprio Deus, usando o profeta Elias, entrou no conflito e decisivamente derrotou os deuses pagãos, trazendo o povo de volta à fé verdadeira, e dizer: “Só o Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus!” (1Reis 18:39).
I. O CASAMENTO DE ACABE COM JEZABEL
1. Consequências de escolhas erradas
O Casamento do rei Acabe com Jezabel, filha do rei de Sidom (1Rs.16:31), trouxe consequências nefastas ao povo do Reino do Norte. Jezabel ocupa o lugar de esposa mais ímpia na Bíblia. Ela era devota de Baal e Aserá, dois falsos deuses adorados pelas nações vizinhas de Israel (1Rs.16:31; 18:19). A Bíblia até usa seu nome como um exemplo das pessoas que rejeitam completamente o Senhor (Ap.2:20,21).
Muitas mulheres pagãs casaram-se em Israel sem reconhecer o Deus que seus maridos adoravam; elas trouxeram consigo as suas religiões. Mas, nenhuma foi tão determinada quanto Jezabel para fazer com que todo o Israel adorasse os seus falsos deuses; ela transformou o rei Acabe num adorador de Baal. Esse casamento levou quase todo o Israel à apostasia, num dos períodos mais críticos da história de Israel. Esse casamento foi tão nefasto que acabou por levar o rei de Judá, Josafá, a casar seu filho Jeorão com uma das filhas de Acabe, Atalia (2Cr.18:1; 2Rs.8:18), casamento este que, além de ter desvirtuado Jeorão, tornando-o um péssimo rei para Judá (2Cr.21:1,20), também gerou outro rei muito ruim, Acazias (2Cr.22:2,3), pondo em sério risco a própria descendência de Davi à frente do povo de Judá, o que significou o próprio risco à ascendência de Cristo (2Cr.22:10).
Assim como seu pai, Onri, Acabe se entregou a uma vida pecaminosa e idólatra que, certamente, ofuscou tudo aquilo que conseguiu realizar. O seu exemplo de iniquidade teve continuidade na vida de seu filho e filha, que governaram os dois reinos. A Bíblia diz que “ninguém fora como Acabe, que se vendera para fazer o que era mau aos olhos do Senhor, porque Jezabel, sua mulher, o incitava” (1Reis 21:25).
Um casamento de um crente com um ímpio pode causar muitos males! Os casamentos mistos trazem a destruição da Igreja, mesmo efeito que tem ocorrido com a proliferação de divórcios que hoje contagia o povo de Deus. Não há arma mais eficaz para se retirar a santidade das igrejas locais; não há instrumento mais poderoso para comprometer o povo de Deus com o pecado e o mundo. Tomemos cuidado, pois as consequências de escolhas erradas podem trazer sérios danos a si mesmos e a todos que o cercam!
2. A rainha perversa
A história de Jezabel encontra-se em 1Reis 16:31 a 2Reis 9:37. Seu nome é usado como um simbolismo para a grande iniquidade em Apocalipse 2:20. Ela era uma mulher muito má e de um feminismo extremada. No reino, seu marido praticamente nada mandava; era ela que ditava as regras. Não só controlava seu marido, Acabe, mas tinha também 850 sacerdotes pagãos sob seu controle. Estava comprometida com seus deuses e a conseguir o que desejava.
Depois de seu casamento com o rei Acabe, Jezabel surge como o poder por trás do trono. Sua união representou uma aliança política, na intenção de trazer vantagens para ambas as nações. Também foi uma oportunidade para ela promover a propagação da sua religião maligna, tendo como deus principal o ídolo Baal; em seus cultos era praticado o sexo ritual com muitas prostituas no ambiente de culto.
Pela sua influência e de seus ímpios sacerdotes, o povo fora ensinado que os ídolos que haviam sido erguidos eram divindades que regiam por seu místico poder os elementos da terra, fogo e água. Todas as dádivas do Céu – os riachos, as fontes de águas vivas, o suave orvalho, as chuvas que refrigeravam a terra e faziam que os campos produzissem com abundância – eram atribuídos ao favor de Baal e Astarote, em vez de tributar ao Doador de toda boa dádiva e todo dom perfeito. O povo esqueceu-se de que montes e vales, rios e fontes, estão no controle do Deus vivo, que controla o Sol, as nuvens do céu e todos os poderes da Natureza.
Jezabel odiava a religião hebraica monoteísta, e quando ela se tornou rainha, os israelitas foram impedidos de adorar o Deus Jeová e forçados a adorar os falsos deuses Baal e Aserá. Como sinal da aversão à religião judaica, ela destruiu os profetas do Senhor (1Rs.18:4), procurou de forma determinada matar o profeta Elias (1Rs.19:2), ordenou injustamente a morte de Nabote para satisfazer a ganância do marido (1Rs.21:10), e ainda praticou a prostituição e a feitiçaria (2Rs.9:22). Portanto, era uma mulher extremamente perversa.
Porém, sua perversidade não ficou impune. O profeta Elias predisse que ela não seria sepultada, mas que os cães a devorariam, pois sua maldade e abominação contrariaram a justiça divina (1Rs.21:23-27). Antes de morrer, sofreu a perda do seu marido em combate e seu filho nas mãos de Jeú, que tomou o trono à força. A morte de Acabe veio comprovar a profecia de Elias (1Reis 21:19) e de outros profetas (1Reis 20:22,20) – “E, lavando-se o carro no tanque de Samaria, os cães lamberam o seu sangue” (1Rs.22:38). Jezabel faleceu da mesma maneira hostil e desdenhosa como viveu. “Deus é misericordioso, mas julga com rigor aqueles que insistem em permanecer na prática do mal”.
II. ELIAS PREVÊ A GRANDE SECA
A idolatria e a insistente desobediência do rei de Israel provocaram, da parte de Deus, uma grande seca que durou muito tempo (1Rs.17:1). A total falta de discernimento espiritual para perceber o que Deus estava fazendo através de Elias, e a impossibilidade de se arrepender, mesmo com todas as evidências de que ele era o culpado de todos os males que estavam acontecendo (1Rs.18:17,18), trouxeram consequências ainda mais danosas sobre Israel.
1. A intervenção divina
Chegou o momento da intervenção divina. A idolatria, a imoralidade e a injustiça social foram uma tríade pecaminosa que atraiu a justa ira de Deus. O cálice da Sua ira foi se enchendo até que os pecados do rei Acabe e de toda a sua casa, e do povo, atraíram inevitavelmente o juízo divino.
Elias, profeta do Senhor, foi o homem que Deus usou para falar contra as perversidades do reinado de Acabe e de sua mulher - a malévola Jezabel. A punição de Deus sobre as atrocidades desta mulher tinha chegado ao extremo. Ela praticamente havia eliminado quase todos os profetas; os que ainda restavam, estavam no ostracismo. O terror foi espalhado sobre o reino. Baal tinha sido decretado como o deus de Israel. Para Jezabel, a lei era seu desejo, a ordem era seu pensamento. Mas, a Palavra de Deus veio a Elias para decretar a sentença:
“Então Elias, o tisbita, dos moradores de Gileade, disse a Acabe: Vive o Senhor Deus de Israel, perante cuja face estou, que nestes anos nem orvalho nem chuva haverá, senão segundo a minha palavra” (1Reis 17:1).
A ordem de Deus foi imperativa, Elias tinha que chegar até o rei Acabe e dizer as palavras que o Senhor havia ordenado. Imagine a revolta de Jezabel, por ter sido desacreditada, pois, quem mandava no reino era ela!
Quando Deus dá uma ordem aos seus servos, não precisamos se preocupar com o futuro, pois Ele está no controle de tudo. Começava, assim, a punição de Deus através da seca; foram três anos e meio sem chover (Tg.5:17). Animais mortos, a plantação não existia mais, a fome e as doenças proliferavam todo Israel. Nem mesmo diante de tal situação, Acabe se arrependeu dos seus vis pecados. A apostasia causa esse tipo de transtorno: a cauterização da mente do ser humano (Pv.29:1).
2. O preço da obediência a Deus
Obedecer de coração a Deus é melhor do que qualquer forma exterior de adoração, serviço a Deus, ou abnegação pessoal. O culto, a oração, o louvor, os dons espirituais e o serviço a Deus não têm valor aos seus olhos, se não forem acompanhados pela obediência explícita e consciente, a Ele e aos seus padrões de retidão. A obediência é o que Deus requer do ser humano, é a sua única exigência (Dt.10:12,13). É uma das condições para termos nossas orações respondidas (1João 3:22). Está escrito que obedecer é melhor do que sacrificar e o atender é melhor do que a gordura de carneiros (1Sm.15:22).
Porém, em muitas situações, há um preço a pagar. No caso de Elias, ele teve de enfrentar a perseguição insistente do rei e de sua mulher, Jezabel, e de seus asseclas, que o ameaçaram de morte (1Rs.19:2); enfrentou as dificuldades da falta d’água e de alimento. Muitos profetas contemporâneos de Elias pagaram com a própria vida por terem sido obedientes e fiéis ao Deus de Israel (1Rs.19:14).
Mas, Deus cuidou de seu servo em todos os momentos. Ele deu uma ordem explícita a Elias: “Retira-te daqui, e vai para o oriente, e esconde-te junto ao ribeiro de Querite, que está diante do Jordão. E há de ser que beberás do ribeiro; e eu tenho ordenado aos corvos que ali te sustentem. Partiu, pois, e fez conforme a palavra do Senhor; foi habitar junto ao ribeiro de Querite, que está ao oriente do Jordão” (1Reis 17:2-5). Ao receber a ordem de Deus para esconder-se junto ao ribeiro de Querite, Elias não hesitou, obedeceu-a prontamente.
Contudo, denunciar o pecado e anunciar o juízo divino não é uma tarefa fácil; o serviço a Deus traz inevitável aborrecimento do mundo e dos pecadores. Não pensemos nós que servir ao Senhor é alcançar popularidade, respeito e medo dos ímpios. Não. Mas bem ao contrário, é acirrar os ânimos das hostes espirituais da maldade contra nós. Deus mandou que Elias fugisse e fosse até a um ribeiro, provavelmente situado na região de Gileade, para que ali ficasse protegido e não sofresse os danos da seca que havia anunciado.
Certamente não foi fácil para Elias acatar a ordem divina de desafiar o próprio rei, mas, ao fazê-lo, Deus, que bem sabia os riscos que o profeta passaria a correr, encarregou-se de providenciar ao profeta proteção e sustento, já que o juízo divino afetaria a própria subsistência do povo.
Deus passou a sustentar o profeta junto a um ribeiro, onde havia água necessária à sua sobrevivência; ali, passou a ser alimentado por corvos, que lhe traziam pão e carne pela manhã e pela noite (1Rs.17:6). Como diz o apóstolo Paulo, “…Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias, e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes, e Deus escolheu as coisas vis deste mundo e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são: para que nenhuma carne se glorie perante Ele” (1Co.1:27-29).
Como poderia Elias ser alimentado por corvos, animais que se alimentam daquilo que está apodrecendo, daquilo que está se desfazendo, e num momento em que passou a haver escassez de alimentos? Como ser alimentado por um animal tão asqueroso, tão repugnante? Entretanto, como disse o Senhor, Ele havia dado uma ordem aos corvos para alimentar o profeta e, ante a ordem divina, não há como haver recusa. Elias, toda manhã e toda noite, era servido pelos corvos, que, pontualmente, cumpriam a ordem do Senhor. Deus, assim, mostrava ao profeta, duas vezes ao dia, que Ele estava no controle de todas as coisas, e que toda a natureza estava sob as Suas ordens.
Quando estamos abrigados em Deus, podem vir as maiores pestes, fome, doenças, etc., pois Deus é quem nos sustenta. Hoje passamos por momentos difíceis, salário baixo, desemprego, assistência médica sendo insuficiente, educação deficitária, isolamento social, etc. O mundo atravessa maus momentos, mas assim como Deus sustentou e protegeu Elias, Ele também pode nos sustentar, desde que sejamos obedientes à Sua Palavra.
A desobediência foi sempre a razão do fracasso de todos quantos decidiram servir a Deus (Dt.8:20; Dn.9:11; Atos 7:39). O pecado é desobediência e a desobediência gera a indignação e a ira divinas (Rm.2:8). Aos desobedientes é negado o repouso divino (Hb.3:18), bem como reservado um triste fim (1Pd.4:17). É válido ressaltar que obedecer é um princípio fundamental da vida cristã. Lembremo-nos de que Jesus foi obediente até a morte, pelo que Deus, o Pai, o exaltou soberanamente (Fp.2:5-8).
3. Deus sempre cuida dos seus filhos
Apesar das dificuldades pelas quais passou o profeta, a bondade e o cuidado de Deus o acompanharam, pois foi alimentado com pão e carne duas vezes ao dia (1Rs.17:6). E, quando a água do ribeiro de Querite secou, Deus deu novamente uma ordem ao profeta para ir até a cidade de Zarefate, que pertencia a Sidom, pois ali o Senhor havia ordenado a uma viúva que sustentasse o profeta (1Rs.17:9). Vemos, aqui, que Deus, depois de mostrar que tinha controle sobre a natureza, estava agora a mostrar ao profeta que também era o controlador da humanidade e das estruturas sociais.
Ao mandar que Elias fosse para Zarefate, uma cidade sob o domínio de Sidom, o Senhor dava mais uma demonstração de sua superioridade em relação a Baal. Ora, Sidom era, precisamente, o reino que cultuava a Baal. Jezabel era filha do rei de Sidom e, portanto, Deus iria providenciar, nas próprias terras dedicadas a Baal, a sobrevivência do seu profeta. Deus mostrava que tinha domínio sobre todas as estruturas políticas do mundo, passando a sustentar o seu profeta na “terra do inimigo”. Por isso, não devemos temer “as investidas do vil tentador”, porque, mesmo neste mundo que repousa no colo do diabo, quem tem o controle da situação é o nosso Deus. Aleluia!
Ao chegar naquele lugar, o profeta encontrou a viúva apanhando lenha, e pediu-lhe que trouxesse um vaso com pouco d’água para que bebesse e, depois, lhe pediu um bocado de pão. Ante a afirmativa da mulher de que não tinha senão o suficiente para uma última refeição, o profeta mandou-lhe que, primeiro, fizesse um bolo pequeno para ele e, depois, então, preparasse alimento para ela e para seu filho, pois, enquanto houvesse seca, haveria alimento para eles (1Rs.17:14,15). Elias já sabia que Deus garantiria a sua sobrevivência, e se havia ordenado que aquela viúva lhe sustentasse, esta garantia se estendia também a casa dela.
Foi nesse lugar, na casa dessa viúva, que aconteceu o primeiro caso de “ressurreição de mortos” registrado nas Escrituras Sagradas, e teve como objetivo a glorificação do nome do Senhor e a demonstração de que Ele é o verdadeiro Deus, e não Baal, que, como considerado deus da saúde, não tinha podido impedir o filho da viúva de adoecer, nem tampouco pôde restituir a vida ao moço, algo que também era atribuído a Baal, que dizia ser o responsável pelo “renascimento” da natureza após o inverno, após uma luta em que sempre conseguia vencer o “deus da morte”. Vemos, assim, que a experiência inédita de Elias tinha como propósito a exaltação do nome do Senhor e a consolidação da necessária experiência pessoal que Elias tinha de ter com Deus, para ter plena certeza de que “Javé é Deus”.
III. O ENCONTRO DE ELIAS COM ACABE
1. Um coração endurecido
Decorridos mais de três anos, Elias recebera uma nova ordem do Senhor: teria de comparecer novamente perante o rei Acabe. Então, resignado, lá estava o servo do Senhor obedecendo-lhe (1Rs.18:1,2). Foi nessa ocasião que ocorreu o grande desafio entre Elias e os profetas de Baal (1Rs.18:19). O encontro entre Elias e Acabe bem mostra como não há comunhão entre a luz e as trevas (2Co.6:14).
Elias havia profetizado e a profecia se cumpriu integralmente, o que mostrava ser ele um profeta que vinha da parte de Deus (Dt.18:21,22). Deveria, pois, o rei Acabe respeitá-lo, considerá-lo. Mas, a total falta de discernimento espiritual para perceber o que Deus estava fazendo através Elias, e a impossibilidade de se arrepender, mesmo com todas as evidências de que ele era o culpado de todos os males que estavam acontecendo (1Rs.18:17,18), com consequências graves sobre a nação, não trouxeram arrependimento ao rei Acabe. Pelo contrário, ao se encontrar com Elias, o rei o chamou de “o perturbador de Israel” (1Rs.18:17). O seu coração estava tão endurecido em razão da recorrência do pecado, que não havia mais jeito de ele voltar atrás e rever seu deplorável estado espiritual.
Sem temer por sua própria vida, Elias respondeu ao rei num tom condenatório; culpou-o pelo sincretismo do culto a Jeová e a Baal, e o desafiou a reunir os profetas idólatras para um confronto no monte Carmelo, a fim de determinar quem era o Deus verdadeiro (cf. 1Reis 18:16-19) - “Eu não tenho perturbado a Israel, mas tu e a casa de teu pai, porque deixastes os mandamentos do Senhor e seguistes os baalins. Agora, pois, envia, ajunta a mim todo o Israel no monte Carmelo, como também os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal e os quatrocentos profetas de Aserá, que comem da mesa de Jezabel” (1Reis 18:18,19). Mesmo vendo bem de perto Deus operar de forma extraordinária, o rei Acabe não se arrependeu da sua idolatria; o seu coração estava empedernido. Os apóstatas são assim mesmo!
2. A sequidão espiritual do rei
A seca espiritual sobrevém sobre uma pessoa quando ela atinge o ápice da falta de comunhão com Deus. Foi o que ocorreu com o rei Acabe; ele apostatou-se, abandonou o Deus de Israel e os seus mandamentos de modo precipitado e consciente. Um apóstata dificilmente se volta novamente para Deus, sua mente está cauterizada (Pv.29:1). O escritor aos Hebreus faz um relato sobre isto: “Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e as virtudes do século futuro, e recaíram sejam outra vez renovados para arrependimento...” (Hb.6:4-6).
O pior de tudo é que, no caso do rei Acabe, sua apostasia levou também o povo de Israel à sequidão material e espiritual (1Rs.17:1). Por causa dessa situação, Deus impediu que chovesse durante três anos e meio (Tg.5:17) nas terras de Israel e vizinhanças. Muito antes, Deus tinha advertido sobre este tipo de juízo, caso o povo se desviasse de Deus (cf. Dt.11:13-17). Esse juízo humilhou o deus falso Baal, pois seus adoradores criam que ele controlava a chuva e que era responsável pela abundância nas colheitas. A verdade é inconteste: “Só o Senhor é Deus, só o Senhor é Deus”.
CONCLUSÃO
No reinado de Acabe, o culto a Baal substituiu o verdadeiro culto a Deus. Havia uma idolatria institucionalizada e financiada pelo poder estatal. Desde a sua criação como nação eleita, Israel foi identificado como povo de Deus (Ex.19:5). A identidade dessa nação como povo escolhido é algo bem definido nas Escrituras Sagradas. Todavia, nos dias do rei Acabe o povo estava dividido. As palavras de Elias: “até quando coxeareis entre dois pensamentos?” (1Rs.18:21), revela a crise de identidade dos israelitas do Reino do Norte. A adoração a Baal havia sido fomentada com tanta força pela casa real que o povo estava totalmente dividido em sua adoração. Quem deveria ser adorado, Baal ou o Senhor? Sabemos pelo relato bíblico que Deus havia preservado alguns verdadeiros adoradores, mas a grande massa estava totalmente propensa à falsa adoração. A nação que sempre fora identificada pelo nome do Deus a quem servia, estava agora perdendo essa identidade.
A fim de que a nação não viesse a perder de vez a sua identidade espiritual e até mesmo deixar de ser vista como povo de Deus, o Senhor enviou o seu mensageiro para trazer um tratamento de choque à nação. Sem dúvida, Elias se distinguia dos falsos profetas, porque enquanto estes prediziam o que o povo gostaria de ouvir, aquele anunciava o que estava na mente de Deus. E hoje, que tipo de profecia estamos ouvindo? Parece que os “profetas” de hoje se renderam à inspiração triunfalista, pois somente “profetizam” o que é bom. Um verdadeiro profeta de Deus não se rende aos apelos da cultura que o cerca!