Texto Base: Atos 26:1-7
“Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel." (At 9.15)
V.P.: “Segundo a sua soberana vontade, Deus usa as circunstâncias para fazer uma grande obra”.
Atos 26:
1.Depois, Agripa disse a Paulo: Permite-se-te que te defendas. Então, Paulo, estendendo a mão em sua defesa, respondeu:
2.Tenho-me por venturoso, ó rei Agripa, de que perante ti me haja, hoje, de defender de todas as coisas de que sou acusado pelos judeus,
3.mormente sabendo eu que tens conhecimento de todos os costumes e questões que há entre os judeus; pelo que te rogo que me ouças com paciência.
4.A minha vida, pois, desde a mocidade, qual haja sido, desde o princípio, em Jerusalém, entre os da minha nação, todos os judeus a sabem.
5.Sabendo de mim, desde o princípio (se o quiserem testificar), que, conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu.
6.E, agora, pela esperança da promessa que por Deus foi feita a nossos pais, estou aqui e sou julgado,
7.à qual as nossas doze tribos esperam chegar, servindo a Deus continuamente, noite e dia. Por esta esperança, ó rei Agripa, eu sou acusado pelos judeus.
INTRODUÇÃO
Iniciamos mais um trimestre de estudos da Palavra de Deus por ocasião da Escola Bíblica Dominical, o quarto e último trimestre de 2021. Trataremos da vida e do ministério de um dos maiores personagens do Novo Testamento usado por Deus: o apóstolo Paulo. É uma oportunidade especial para aprendermos e colocarmos em prática princípios eternos que nortearam a vida desse mui digno homem de Deus. Sem dúvida, Saulo de Tarso, o apóstolo Paulo, é um dos personagens bíblicos mais conhecidos por todos os cristãos; ele é considerado o maior líder do cristianismo. Nesta primeira Aula, vamos estudar sobre o “mundo do apóstolo Paulo”; trataremos, de forma bem superficial, da atuação do apóstolo Paulo nos três “mundos” de então: o romano, o grego e o judeu. Como cidadão romano, ele teve certa liberdade para peregrinar dentro do império e propagar as Boas Novas de Salvação em Cristo Jesus aos judeus e ao povo gentil (romanos e gregos). Se comunicou na língua predominante da época, o grego koinê, bem como fez uso da vasta literatura de seu tempo. À luz do mundo político, cultural e religioso vivido por esse grande apóstolo de Cristo, o que podemos aplicar na pregação do Evangelho no mundo de hoje, cujas circunstâncias são diametricamente diferentes?
I. O MUNDO DE PAULO NO IMPÉRIO ROMANO
1. Entendendo a origem de Paulo
Paulo, nome romano de Saulo, nasceu em Tarso na Cilícia (Atos 16:37; 21:39; 22:25). Esta era uma cidade universitária que ficava próxima da costa nordeste do Mar Mediterrâneo. Segundo o próprio apóstolo, Tarso era uma “cidade não pouco célebre na Cilícia” (Atos 21:39); ao contrário, era um grande centro da cultura grega. Embora tenha nascido um cidadão romano, Paulo era um judeu da Dispersão, um israelita circuncidado da tribo de Benjamin, e membro zeloso do partido dos Fariseus (Rm.11:1; Fp.3:5; Atos 23:5).
Desde seu nascimento até seu aparecimento em Jerusalém como perseguidor dos cristãos, conforme os relatos do livro de Atos dos Apóstolos, há pouca informação sobre a vida do apóstolo Paulo. Sobre o seu nascimento, não temos data precisa; talvez tenha ocorrido no ano 5 a.C. Dessa forma, quando o nosso Senhor foi crucificado, Paulo poderia ter entre 30 e 35 anos de idade.
Paulo foi educado em Jerusalém, sob o ensino do renomado doutor da lei, Gamaliel, neto de Hillel. Paulo conhecia profundamente a cultura grega. Ele também falava o aramaico, era herdeiro da tradição do farisaísmo, estrito observador da Lei e mais avançado no judaísmo do que seus contemporâneos (Gl.1:14; Fp.3:5,6). Considerando todos estes aspectos, pode-se afirmar que sua família desfrutava de posição proeminente na sociedade.
O apóstolo Paulo possuía cidadania romana. Sobre isso, ele próprio afirmou ser cidadão romano de nascimento (Atos 22:28). Provavelmente essa declaração indica que sua cidadania foi herdada de seu pai. Estima-se que naquele tempo pelo menos dois terços da população do Império Romano não possuíam cidadania romana. Não se sabe ao certo como o pai do apóstolo conseguiu tal cidadania. Algumas pessoas importantes e abastadas conseguiam comprar a cidadania (Atos 22:28); outras, conseguiam tal cidadania ao prestar algum trabalho relevante ao governo romano. A cidadania romana concedia alguns privilégios, dentre os quais citamos:
Ø A garantia do julgamento perante César, se exigido, nos casos de acusação.
Ø Imunidade legal dos açoites antes da condenação.
Ø Não poderia ser submetido à crucificação, a pior forma de pena de morte da época.
2. A geografia do mundo de Paulo
À época de Paulo o mundo estava sob o domínio do Império Romano, que se estendia do Rio Reno para o Egito, chegava à Grã-Bretanha e à Ásia Menor. Desta forma, estabelecia uma conexão com a Europa, a Ásia e África. Assim, era considerada a maior civilização da história ocidental. Durou cinco séculos - começou em 27 a.C. e terminou em 476 d.C. Até 117 d.C., ao menos 6 milhões de quilômetros quadrados estavam sob o domínio do Império Romano. Segundo os historiadores, sob o domínio deste poderoso Império, estavam 6 milhões de habitantes. Roma, nessa fase, segundo os historiadores, foi habitada por 1 milhão de habitantes. Entre os pontos fundamentais para o sucesso do império estava o exército, que era profissional e atuava como uma legião. Sob o comando de astutos generais, Roma expandiu o poderio para o Mediterrâneo.
Conforme historiadores, os imperadores romanos contemporâneos de Paulo, desde seu nascimento até sua morte, foram: Tibério, Calígula, Claudio e Nero, o seu carrasco.
Devido à grande extensão geográfica do Império, e a permissão para que os povos dominados praticassem a sua própria religião, e devido a chamada "pax romana", a geografia e os meios de transporte urbanos e do campo, contribuíram para a propagação do Evangelho. Segundo informes da história, a malha viária abrangia em torno de 300 mil quilômetros, sendo que 90 mil quilômetros apresentavam condições excelentes para viajar. As estradas do império, bem como as vias marítimas, foram de grande importância para a expansão da fé cristã. Deus permitiu todas estas possibilidades para que os seguidores de Cristo difundissem o santo Evangelho por todo o império. Na verdade, os maiores inimigos do apóstolo Paulo não foram os dominadores e governantes romanos, mas os próprios judeus; estes foram os mais danosos inimigos e perseguidores do apóstolo Paulo, desde a sua conversão.
Portanto, a geografia do mundo paulino teve papel essencial para a implantação das primeiras igrejas. Por isso, devemos pensar nas oportunidades que Deus nos dá para a eficiência da evangelização urbana e do campo. É claro que o mundo de hoje é totalmente diferente daquele; vivemos num mundo globalizado e de uma dinâmica inteligente e célere. Para se falar com alguém do outro lado do planeta não se demora mais do um minuto, e ao vivo; isto no mundo de Paulo era inimaginável. Os recursos que temos para evangelizar para o mundo inteiro está na palma da nossa mão. É difícil não acreditar que o evangelho não esteja no mundo inteiro, a não ser naqueles lugares onde ainda não há meios de comunicação rápida e inteligente, como a internet. Fiquei impressionado quando soube que no ano de 2019 existia mais de um milhão de crentes no Irã, e de mais cem milhões de crentes na China. Isto é um feito extraordinário, pois nestes países o cristianismo é perseguido com muita fúria. Deus seja louvado! Oremos pela igreja na China e no Irá.
3. Paulo, chamado para evangelizar aos gentios
A conversão de Paulo e seu chamado para evangelizar aos gentios foram os fatos mais marcantes na história da Igreja depois do Pentecostes. Lucas ficou tão impressionado com a importância da conversão de Paulo, que a relata três vezes em Atos (cap.:9,22,26). O primeiro aspecto da mudança na vida do apóstolo Paulo pode ser percebido quando, imediatamente, ele respondeu à voz de Cristo: “Senhor, que queres que eu faça?” (Atos 9:6). Essa pergunta marcou o começo de seu novo relacionamento com Cristo (Gl.2:20) e a disposição de cumprir qualquer missão que lhe fosse dada. Nenhum homem exerceu tanta influência no evangelismo como o apóstolo Paulo.
Jesus trabalhou na vida de Paulo antes de ele se render no caminho de Damasco; vários fatos ocorreram para que ele enxergasse a Verdade. Paulo era como um touro bravo que recalcitrava contra os aguilhões (Atos 26:14). Ele teve que ser derrubado como se fosse um touro bravo. De acordo com a própria narrativa de Paulo, Jesus lhe disse: “Dura cousa é recalcitrares contra os agulhões” (Atos 26:14). Jesus comparou Paulo a um touro jovem, forte e obstinado.
Antes de se render no caminho de Damasco, Jesus espetava sua consciência quando ele viu Estêvão sendo apedrejado e pediu ao Senhor para perdoar seus algozes. A oração de Estevão latejava na alma de Paulo. Também, Jesus espetava a consciência de Paulo quando ele prendia os cristãos e dava seu voto para matá-los, e eles morriam cantando.
Mas, como esse “touro” selvagem não amansou com as espetadas, Jesus apareceu a ele, o derrubou ao chão e o subjugou totalmente no caminho de Damasco. Paulo precisou ser jogado ao chão e ficar cego para se converter. Na época de Daniel, Nabucodonosor precisou ir para o campo comer capim com os animais para se dobrar e reconhecer que só o Senhor é Deus.
Enfim, o “touro bravo” foi rendido e os seus olhos espirituais foram abertos, e sua consciência foi despertado para reconhecer que Jesus é o Senhor. A sua pergunta – “Senhor, que queres que eu faça?” (Atos 9:6) -, logo foi respondida: ele seria chamado para levar as Boas Novas do Evangelho aos gentios (Atos 9:15), Boas Novas estas que chegaram até nós. O próprio Senhor Jesus disse que Paulo fora escolhido para levar sua Palavra aos gentios – “este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios...” (Atos 9:15). Um ministério que lhe traria muito sofrimento por amor ao nome de Jesus – “E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome” (Atos 9:16).
Agora, o perseguidor seria perseguido; e o Livro de Atos mostra que ele foi severamente perseguido: foi perseguido em Damasco, rejeitado em Jerusalém, apedrejado em Listra, preso e açoitado em Filipos, escorraçado de Tessalônica e Bereia, chamado de tagarela em Atenas e de impostor em Corinto, foi preso em Jerusalém e acusado em Cesareia, foi levado preso a Roma e mais tarde foi decapitado pela guilhotina do imperador Nero.
II. O MUNDO CULTURAL DE PAULO
1. A língua mundial daqueles dias era o grego
Na época de Paulo o hebraico e o aramaico eram as línguas nativas; todavia, em virtude do domínio do império romano, que impôs como língua comum do império o grego koiné, então prevaleceu entre o povo do médio-oriente esta língua. O Novo Testamento foi escrito no grego koinê, e o apóstolo Paulo falava e escrevia fluentemente tanto o grego como o hebraico e o aramaico.
Mas, o que era a língua koiné? Koiné é a palavra grega para "comum". Muitas pessoas podem reconhecer a palavra koiné da palavra koinonia, que significa "comunhão"; comunhão é ter algo em comum. Portanto, o grego koiné era simplesmente a língua comum do mundo mediterrâneo no primeiro século. Quando Alexandre, o Grande, conquistou o "mundo civilizado" de seu tempo, ele espalhou a língua e a cultura gregas. Assim como o inglês tem se tornado hoje a língua internacional, o grego se tornou a "língua internacional" mais comum e difundida da época. Visto que a maioria das pessoas conseguia entender o koiné, ele era o único adequado para proclamar o evangelho em todo o mundo. Obviamente Deus estava nesse negócio, pois lhe interessava que sua Palavra fosse difundido e compreendida numa língua comum.
O grego koiné não era apenas comum no sentido de ser amplamente utilizado por todo o Império Romano, mas também era comum no sentido de que não era a língua das elites intelectuais e acadêmicas. O grego clássico era usado pela classe instruída; o grego koiné era a língua do trabalhador, do camponês, do vendedor e da dona de casa - não havia nada de pretensioso nele; era o vernáculo, ou linguagem vulgar, da época. As grandes obras da literatura grega foram escritas no grego clássico. Nenhum erudito hoje se importaria em estudar qualquer coisa escrita em grego koiné, exceto pelo fato de que é a língua do Novo Testamento. Deus queria que Sua Palavra fosse acessível a todos e escolheu a linguagem comum da época, o koiné. Deus faz uso de uma linguagem comum e humilde para expressar as verdades incríveis do Evangelho.
2. O mundo cultural do apóstolo Paulo
No mundo da época de Paulo, que estava sob o domino do Império Romano, prevalecia a cultura grega, cultura essa que estava intimamente associada à religião e se manifestava por meio da literatura, da música e do teatro. As manifestações artísticas eram utilizadas para homenagear os feitos dos heróis e de sua relação com os deuses gregos que eram adorados no monte Olimpo. Como bem diz o Pr. Elienai Cabral, “o Império Romano respeitava a diversidade religiosa, desde que se respeitassem os deuses do império. Em Roma, havia os cultos a entidades gregas como Eteusis, Dionísio, Atis, que se integravam com divindades egípcias como Osíris, Ísis, Serapis, bem como as divindades orientais Mitras e Asclépio, uma divindade de cura”.
Essa liberdade de religião que era adotada pelo Império Romano facilitou sobremaneira para que o apóstolo Paulo tivesse pleno acesso a todos os lugares e, de forma inteligente, difundisse as Boas Novas do Evangelho, como ele fez de forma eficiente no areópago de Atenas (Atos 17:15-34). Observe neste texto que o apóstolo não chegou criticando a religião e os falsos deuses que eram adorados na Grécia e nos diversos lugares do Império Romano. É isto que um bem treinado pregador transcultural deve agir. Bem diz o pr. Elienai Cabral: “a realidade atual das diversidades culturais e religiosas pode abrir caminhos para que, de maneira inteligente, evangelizemos o mundo, nos termos do apóstolo Paulo, no areópago de Atenas”.
3. A influência da filosofia grega
A liberdade religiosa e cultural no Império Romano foram sobremodo importante, mas a influência da cultura da época expôs suas raízes em muitos cristãos incautos que deram espaços para essas raízes daninhas entrarem em suas vidas; não foram vigilantes o suficiente para manterem suas vidas submissas à doutrina apostólica aplicada.
À medida que o cristianismo se expandia no mundo romano, a Igreja Primitiva enfrentava muitas questões e desafios novos, e os apóstolos e profetas do Novo Testamento não mediram esforços para orientar e advertir o novo povo de Deus a ficarem livres da influência cultural predominante da época, principalmente o gnosticismo, que era multo forte e que influenciou o pensamento de muitos cristãos do primeiro século. O gnosticismo era uma espécie de filosofia religiosa que tentava fazer um concubinato entre a fé cristã e a filosofia grega. Os gnósticos, influenciados pelo dualismo grego, acreditavam que a matéria era essencialmente má e o espírito essencialmente bom. Esse engano filosófico desembocou em grave erro doutrinário. Os gnósticos diziam que o corpo, sendo matéria, não podia ser bom. Por conseguinte, negavam a encarnação de Cristo. Muitos cristãos incautos caíram nesta arapuca.
As principais crenças do gnosticismo são: a impureza da matéria e a supremacia do conhecimento. O gnosticismo ensinava que a salvação podia ser obtida por intermédio do conhecimento, em vez da fé. Esse conhecimento era esotérico e somente poderia ser adquirido por aqueles que tinham sido iniciados nos mistérios do sistema gnóstico.
O gnosticismo ensinava que o corpo era uma vil prisão em que a parte racional ou espiritual do homem estava encarcerada, e da qual precisava ser libertada pelo conhecimento (gnosis). Os gnósticos acreditavam na salvação pela iluminação. Essa iluminação podia ser mediante a comunicação de um conhecimento esotérico em alguma cerimônia secreta de iniciação.
Diante de tão vil perseguição, “os líderes da Igreja da época tiveram de refutar com veemência as teorias do gnosticismo, cujos adeptos queriam misturá-las com a doutrina pura de Cristo. Naturalmente, pelo fato de ter vivido naquele mundo, Paulo teve de fortalecer a doutrina cristã sobre Deus, fé, Jesus, Espírito Santo, graça e salvação. O apóstolo, indiscutivelmente, se tornou o grande defensor do Evangelho de Cristo”.
Como proclamadores do Evangelho, devemos pensar em estratégias a fim de que nossos jovens e adolescentes, e também os adultos poucos maduros na fé, possam expressar com firmeza e sabedoria as razões da fé diante dos não crentes (1Pd.3:15).
III. O MUNDO RELIGIOSO DE PAULO
1. Paulo se identifica como judeu
Paulo era judeu por nascimento. Seus pais eram judeus. O sangue que corria em suas veias era o mesmo que corria nas veias do patriarca Abraão. Em sua defesa em Jerusalém, após sua dramática prisão, teve a oportunidade de se dirigir à multidão alvoroçada, dizendo: “Eu sou judeu, nasci em Tarso da Cilícia...” (Atos 22:3). Ao combater a ideia errada dos falsos mestres judaizantes, que nutriam uma falsa confiança na sua linguagem judaica, Paulo respondeu: “Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus...” (Fp.3:4,5). Paulo era um judeu puro de sangue. Um judeu da gema. Procedia da mais importante tribo israelita, a tribo de Benjamim.
2. Paulo foi criado dentro da fé judaica
Paulo nasceu em Tarso da Cilícia. Seus pais o educaram na fé judaica, uma vez que foi circuncidado ao oitavo dia (Fp.3:5). Desde sua infância, bebeu o leite da piedade e aprendeu os preceitos da lei de Deus. Jamais foi um jovem devasso. O zelo sempre ardeu em seu peito. Seu propósito em servir a Deus foi o vetor que governou sua vida. Dominava com grande desenvoltura o conhecimento da Lei e as opiniões mais importantes dos grandes mestres de sua época. Ele se destacava dentro do judaísmo. Chegou mesmo a declarar: “E, na minha nação, quanto a judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais” (Gl.1:14).
Perante grande multidão em Jerusalém, Paulo dá seu testemunho: “...criei-me nesta cidade e aqui fui instruído aos pés de Gamaliel, segundo a exatidão da Lei de nossos antepassados, sendo zeloso para com Deus, assim como todos vós o sois no dia de hoje” (Atos 22:3). Jerusalém era a cidade santa. Lá estavam os escribas e doutores da Lei. Lá estavam o Templo e os sacrifícios. Lá estavam a Lei e as cerimônias. Lá estavam os sacerdotes e os rabinos. Lá estavam o sinédrio. Essa cidade transpirava a religião judaica. Tudo girava em torno do sagrado. Nessa cidade, Paulo foi instruído aos pés de Gamaliel, o maior e o mais ilustre rabino daquela época, homem culto, sábio e piedoso. Ele foi instruído segundo a exatidão da Lei dos seus antepassados. Conhecia bem de perto as tradições do seu povo. Sabia de cor as inúmeras regras e preceitos criados pelos anciãos. A tradição oral, fruto da interpretação meticulosa e extravagante dos escribas, era observada cuidadosamente por esse jovem brilhante.
Paulo era fariseu, membro da seita mais rigorosa dos judeus. Escrevendo aos filipenses, descreveu sua vida pretérita nestes termos: “...quanto à lei, [eu era] fariseu...” (Fp.3:5). Diante do rei Agripa, quando estava sendo acusado, em Cesareia, disse: “...porque vivi fariseu conforme a seita mais severa da nossa religião” (Atos 26:5). Como fariseu, Paulo era zeloso da Lei. Como fariseu, era extremamente zeloso das tradições de seus pais (Gl.1:14). Como fariseu, frequentava assiduamente a sinagoga. Como fariseu, dava o dízimo criteriosamente e jejuava regularmente. Ele chegou a afirmar que, quanto à justiça que há na Lei, era irrepreensível (Fp.3:6). Os fariseus eram separados. Eles compunham o grupo religioso mais ortodoxo de Israel. Os fariseus estavam de lado oposto dos saduceus, grupo religioso que negava a ressurreição e a existência dos anjos.
Paulo era membro do sinédrio judaico, que era governado principalmente pelos sacerdotes, da seita dos saduceus. O sinédrio era o concilio maior dos judeus, composto de setenta homens maduros, cuja função principal era legislar e julgar a vida religiosa e moral do povo judeu. Paulo era o maior embaixador do sinédrio judaico no sentido de promover a fé de seus pais. Ser membro do sinédrio era ser considerado um dos principais dos judeus (João 3:1). Este posto de honra dava a Paulo projeção e grande destaque na sociedade. Era um homem respeitado pelo seu conhecimento, pela sua religiosidade e pelo zelo com que se devotava à causa do seu povo.
3. O mundo: palco da mensagem de Paulo ao povo gentílico
Paulo tornou-se o maior embaixador de Cristo e o maior pregador do evangelho (Atos 9:20-22). Deus mesmo escolheu Paulo para levar o evangelho aos gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel (Atos 9:15). Ele pregou nas sinagogas de Damasco afirmando que Jesus é o Filho de Deus (Atos 9:20) e, mais tarde, demonstrando que Jesus é o Cristo (Atos 9:22). Paulo pregou a tempo e fora de tempo; pregou em prisão e em liberdade; pregou com saúde ou doente; pregou nos lares, nas sinagogas, no templo, nas ruas, nas praças, na paria, em navio, nos salões dos governos, nas escolas; pregou com senso de urgência, com lágrimas e no poder do Espírito Santo. Aonde Paulo chegava, os corações eram impactados com o evangelho. Ele pregava usando não apenas palavras de sabedoria, mas com demonstração do Espírito Santo e de poder (1Co.2:4; Tt.1:5).
Paulo foi o maior evangelista, missionário, pastor, pregador, teólogo e plantador de igrejas da história do cristianismo. Ele iniciou igrejas na região da Galácia, na Europa e na Ásia. Não apenas fundou igrejas, mas as pastoreou com intenso zelo, profundo amor e grande senso de responsabilidade. Pesava sobre ele a preocupação com todas as igrejas (2Co.11:28). Ele pregou em Israel, na Ásia e na Europa. Por ter os judeus rejeitado o Evangelho, o mundo dos gentios foi o palco que o Espírito Santo montou para que Paulo pregasse o nome de Jesus e estabelecesse novas igrejas por onde passasse. Nosso Senhor continua a chamar pessoas para o ministério missionário; elas precisam estar sensíveis à voz do Espírito Santo a lhes chamar.
CONCLUSÃO
O mundo que o apostolo Paulo viveu era bem diferente do de hoje; a cultura, os meios de comunicação, a dinâmica de locomoção, da economia, do relacionamento entre as pessoas são muito diferentes; e a pandemia do covid-19 dificultou ainda mais a pregação e implantação de igrejas. Contudo, a mesma carência de salvação que o mundo (a população) de Paulo apresentava, o mundo de nossa época necessita, talvez muito mais ainda. Urge que preguemos o evangelho de Salvação através dos meios que dispomos (que não são poucos) e sejamos sensíveis à chamada do Espírito Santo, pedindo a Deus que nos mostre estratégias inovadoras nestes tempos difíceis em que vivemos.