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A BÍBLIA COMO UM GUIA PARA A VIDA

 

Texto Base: Salmos 119:97-105


“Lâmpada para os meus pés é tua palavra e luz, para o meu caminho” (Sl.119:105).

 

Salmos 119:

97.Oh! Quanto amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia.

98.Tu, pelos teus mandamentos, me fazes mais sábio que os meus inimigos, pois estão sempre comigo.

99.Tenho mais entendimento do que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos.

100.Sou mais prudente do que os velhos, porque guardo os teus preceitos.

101.Desviei os meus pés de todo caminho mau, para observar a tua palavra.

102.Não me apartei dos teus juízos, porque tu me ensinaste.

103.Oh! Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! Mais doces do que o mel à minha boca.

104.Pelos teus mandamentos, alcancei entendimento; pelo que aborreço todo falso caminho.

105.Lâmpada para os meus pés é tua palavra e luz, para o meu caminho.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos da Bíblia como um verdadeiro guia para a nossa vida. Ela é o livro divino que nos ensina a sabedoria de todas as áreas da vida. Ela é lâmpada para os nossos pés e luz que clareia o nosso caminho (Sl.119:105). Quando atentamos para os seus ditames, ela transforma a nossa natureza e nos conduz pela vereda da salvação (Tg.1:21). Quem põe em prática seus ensinamentos será considerado um verdadeiro sábio. Cristo nos adverte a examinarmos as Escrituras porque nelas estão reveladas as palavras de vida eterna (João 5:39).

I. A BÍBLIA É UM ALICERCE PARA A VIDA

1. A Palavra de Deus é alicerce

A Palavra de Deus é um alicerce para aqueles que obedecem e praticam os seus ditames. Jesus disse:

“Todo aquele que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante. É semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala e lançou o alicerce sobre a rocha; e, vindo a enchente, arrojou-se o rio contra aquela casa e não a pôde abalar, por ter sido bem-construída. Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre a terra sem alicerces, e, arrojando-se o rio contra ela, logo desabou; e aconteceu que foi grande a ruína daquela casa” (Lc.6:47-49).

Nessa ilustração de Jesus, a casa simboliza a vida. A vida deve ser edificada nos ensinos de Cristo a fim de alcançar a virtude e um destino glorioso (João 5:24). Nesse texto, Jesus usa a figura do construtor sábio que investiu na fundação de sua casa, cavando, abrindo profunda vala e lançando o alicerce sobre a rocha, e a figura do construtor insensato que construiu sua casa sobre a terra sem alicerces. As duas casas, aos olhos desatentos, eram iguais. A diferença não estava naquilo que era visto pelos homens, mas naquilo que só podia ser visto por Deus. Sobre ambas as casas aconteceu a mesma coisa: a enchente chegou e arrojou o rio contra elas. A casa construída sobre a rocha (que simboliza o próprio Cristo - 1Co.10:4) não se abalou, por ter sido bem construída; porém, a outra casa logo desabou e foi grande a sua ruína. Ouvir a Palavra sem obedecer é insensatez. Falar a Palavra sem praticar é tolice. Não é suficiente conhecer a Palavra, é preciso praticar a Palavra. Não é suficiente ter boa teologia, é preciso ter uma ética consistente. Não é suficiente ter uma fé ortodoxa, é preciso ter piedade. Não podemos separar o que Deus uniu: teologia e ética, doutrina e vida, ortodoxia e piedade. Portanto, o construtor sábio edifica a sua casa – isto é, sua vida – sobre Cristo, a Rocha sólida. Ele empenha-se, em oração, para regular sua vida em harmonia com as palavras de Jesus, reveladas nas Escrituras Sagradas. Portanto, o cristão que edifica sua vida na Palavra de Deus e que espera a vinda do Salvador, dificilmente será enganado por falsos mestres. Como bem diz o pr. Douglas, “a síntese desse grande ensinamento de Jesus é que nem as crises dessa vida e nem a eternidade poderá abalar quem está firmado em Cristo e na sua Palavra” (Mt.7:25).

2. A Palavra de Deus é luz

O apóstolo Pedro compara a Palavra de Deus a uma luz que brilha na escuridão – “E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça em vosso coração” (2Pd.1:19). A Palavra de Deus aponta o caminho, que é Jesus Cristo (Joao 14:6), e mostra os perigos, porque ela é “lâmpada para os nossos pés” e “luz para o caminho” (Sl.119:105); ela dissipa a escuridão espiritual e nos conduz em segurança pelo caminho da vida eterna. O caminho da vida eterna é Jesus Cristo (João 14:6).

A Palavra de Deus, portanto, tem uma dupla finalidade: revelar-nos a vontade de Deus e levar-nos a uma experiencia pessoal com Cristo, a “Estrela da alva”; Jesus é essa “estrela da alva” (Nm.24:17; Ap.22:16). Não somente Ele é a estrela da alva, mas também a Luz do mundo, e quem O segue não andará em trevas (João 8:12); trevas do pecado.

3. A Palavra de Deus é imutável

A Palavra de Deus é imutável porque a sua origem está ancorada em Deus (2Pd.1:20,21), que não muda. A Bíblia tem sua origem no Céu, e não na terra; procede de Deus, e não do homem. Ela é inspirada por Deus; é o sopro de Deus, e não o destilar dos pensamentos humanos. Os seus escritores foram instrumentos usados para escrever o seu conteúdo e as profecias. Foi o Espírito Santo quem os inspirou, revelando-lhes o conteúdo infalível e imutável. Portanto, a Palavra de Deus é imutável porque o seu autor é imutável. Está escrito: “Eu, o Senhor, não mudo” (Ml.3:6).

Em Deuteronômio, capítulo 4, versículo 2, Deus exorta o povo de Israel: “Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando”. Israel recebeu a ordem de obedecer aos estatutos e juízos do Senhor quando entrasse na terra de Canaã. Não podia acrescentar nem remover nada dos mandamentos. Isto se aplica também a nós cristãos, hoje; não devemos ter a pretensão de querer alterar o que está escrito nas Escrituras Sagradas, pois elas são imutáveis. Em Apocalipse 22:18,19, Jesus advertiu que, quem fizer qualquer acréscimo ao Livro de Apocalipse, sofrerá os flagelos descritos nele. Uma vez que os temas do livro de Apocalipse encontram-se entretecidos com todas as Escrituras, então esses textos condenam a alteração da Palavra de Deus em geral. O castigo é a condenação eterna - Deus “tirará a sua parte da árvore da vida”. Essa pessoa não terá parte nas bençãos daqueles que possuem vida eterna.

 “Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro” (Ap.22:18,19).

Portanto, a Palavra de Deus nunca pode ser mudada; ela permanece para sempre (Mc.13:31). Os homens morrem, mas a Palavra vive. As experiências passam, mas a Palavra permanece. O mundo escurece, mas a luz profética resplandece cada vez mais. Sendo assim, segundo argumenta o pr. Douglas, “os princípios bíblicos têm aplicação hoje, assim como o tiveram antigamente (Is.55:11). Os padrões da ética e da moral cristã não sofrem mudanças (1Pd.1:20). Portanto, os valores cristãos são permanentes, pois a fonte de autoridade é permanente “(Mt.5:18).

II. A BÍBLIA NOS TORNA PESSOAS SÁBIAS

1. O conceito de sabedoria

O que é sabedoria? Sabedoria é olhar para a vida com os olhos de Deus; é viver regido pelo ensino da Palavra de Deus; é andar nos conselhos de Deus, e não segundo os ditames do mundo. O pr. Marcelo Gomes, em seu livro “Sabedoria – para viver e ser feliz”, argumenta que somos a sociedade do conhecimento. Nossa informação é produzida em larga escala e está disponível amplamente. Avançamos em ciência, tecnologia e comunicação. Temos satélites, e internet, e muito mais vem por aí. Somos a sociedade das especialidades. Na medicina, nas ciências humanas, nas ciências da natureza, nos esportes, na tecnologia, enfim, em todas as áreas temos especialistas em alguma questão ou campo de interesse. Apesar de tudo isso, somos também uma sociedade desigual, injusta, corrupta e violenta, sob vários aspectos. O mesmo conhecimento que nos trouxe conquista e conforto, trouxe-nos guerras e morte. Contudo, não nos trouxe redenção. O sonho da modernidade fracassou. Tanto não alcançamos felicidade pelo livre e pleno exercício da razão, como multiplicamos alternativas emocionais, hedonista, utilitárias e egocêntricas para a vida comum.

Diante desse quadro, uma conclusão: temos muito conhecimento, mas pouca sabedoria. Conhecimento é domínio da informação que se refere ao objeto de interesse; sabedoria é a capacidade de utilizar o conhecimento em prol da vida e dos relacionamentos. O sábio não é, necessariamente, aquele que tem muito conhecimento, mas aquele que canaliza adequadamente para as ações e decisões do dia-a-dia todo o conhecimento que tem. Assim, um morador da periferia, um profissional artesanal, um administrador de negócio próprio sem formação acadêmica, uma dona de casa ou um jovem que trabalha no campo, pode ser mais sábio que um doutor ou um professor universitário.

Precisamos de sabedoria, carecemos compreender sua essência e importância prática. Devemos associá-la ao conhecimento, de forma que este seja sempre usado para o bem comum. O conselho do sábio Salomão é: “porque melhor é a sabedoria do que joias e, de tudo o que se deseja, nada se pode comparar com ela” (Pv.8:11). Diz mais: “Quem procura ter sabedoria ama a sua vida, e quem age com inteligência encontra a felicidade” (Pv.19:8).

Sabedoria faz a diferença - capacita para a vida e os relacionamentos; tranquiliza o coração, valoriza os cuidados com a alma, aquieta os pensamentos; lembra que a vida não é feita só de acertos, sucessos e ascensões meteóricas, mas também de fracassos, frustrações, decepções e derrotas, com os quais sempre é possível aprender. Segue a sugestão do apóstolo Tiago: “Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida” (Tiago 1:5). E do aposto Paulo: “examinem todas as coisas e retenham o que é bom” (1Tes.5:21).

2. Deus é a fonte da sabedoria

Está escrito em Provérbios 2:6 que Deus é a fonte da sabedoria – “Porque o SENHOR dá a sabedoria, e da sua boca vem o conhecimento e o entendimento”. Portanto, a verdadeira sabedoria não se recebe nos bancos de uma escola nem se aprende com a leitura de bons livros. Sabedoria não é um dote natural, é um dom exclusivo de Deus; emana das alturas; procede do Céu.

Existe uma sabedoria terrena, mas não é sobre essa sabedoria que estamos falando; falamos sobre a sabedoria divina, celestial; esta deve ser desejada e pedida, deve ser buscada como o garimpeiro busca a prata e o ouro. Aqueles que pedem a Deus sabedoria, esses a recebem. Só Deus concede esse dom. Só de Deus procede essa boa dádiva. Da boca de Deus emanam a inteligência e o entendimento. A compreensão da vida e o discernimento dos propósitos da existência são o resultado de conhecermos a Deus. Aqueles que andam com Deus são sábios. Aqueles que amam a Deus tem inteligência e compreensão para discernir entre o bem e o mal, para separar o precioso do vil. É da boca de Deus, ou seja, de sua Palavra, que procede a verdadeira compreensão acerca de Deus e da humanidade, do tempo e da eternidade, da vida e da morte.

Se Deus é a fonte da sabedoria, então ousemos a pedir a Ele sabedoria, pois somente ela confere a lucidez necessária para uma autocrítica que promova mudanças de atitude. Se eu for mais sábio, pensarei melhor antes de agir, falarei com melhores intensões e palavras, prevenir-me-ei de armadilhas que minhas emoções preparam e conhecerei mais profundamente minhas motivações ou anseios íntimos. Se for mais sábio, pararei de fingir que a culpa de todas as minhas desgraças é dos outros; estarei pronto a assumir erros e mais propenso a pedir perdão – a Deus e aos que me cercam.

3. O temor é o princípio da sabedoria

Em Provérbio 9:10 está escrito: ”O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência” (Pv.9:10). Temer ao Senhor não é ter medo de Deus, mas demonstrar a Ele reverência. A motivação para um filho obedecer a seu pai deve ser o respeito e o amor a ele, mais do que o medo de ser castigado. Aqui está a gênese de toda a sabedoria e também a sua própria essência. O temor ao Senhor é o grande freio moral que nos protege das propostas sedutoras do enriquecimento ilícito e nos blinda da sedução perigosa das aventuras sexuais. Foi o temor a Deus que livrou José do adultério e Neemias da corrupção. O temor ao Senhor nos afasta dos caminhos escorregadios e firma os nossos passos nas veredas da justiça. O temor ao Senhor nos desvia de companhias erradas e de lugares errados. Temer a Deus é conhecê-lo, honrá-lo, obedecer-lhe. Temer a Deus é colocar os pés na estrada da santidade e beber das torrentes da felicidade. Quando tememos a Deus, nossos dias são dilatados na terra e somos poupados de muitas aflições. Este é o grande conselho que Deus nos dá:

“De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más” (Ec.12:13,14).

4. Os benefícios da sabedoria

Muitos são os benefícios da sabedoria. Dentre eles, citamos:

Ø  Acumula conhecimento (Pv.10:14). Como já foi dito, o sábio não é, necessariamente, aquele que tem muito conhecimento, mas aquele que canaliza adequadamente às ações e decisões do dia-a-dia todo o conhecimento que tem. Quanto mais conhecimento, maiores as chances de uma sabedoria que oriente a vida. O conhecimento, portanto, é melhor do que o ouro, é mais seguro do que a moeda mais valorizada do mercado. Os ladroes podem roubar nossos tesouros, e as traças podem corroer nossas relíquias, mas o conhecimento é uma riqueza que ninguém pode nos tirar. Os sábios entesouram o conhecimento e, com ele, vem a reboque as riquezas da terra. O conhecimento é a melhor poupança, o mais lucrativo investimento.

Ø  Ganha almas (Pv.11:30). A maior expressão da sabedoria é investir na salvação dos perdidos. Aquele que ganha almas faz um investimento eterno e ajunta tesouros que os ladrões não podem roubar nem a traça pode destruir. Investir na salvação de almas é investir numa causa de consequências eternas. Uma alma vale mais do que o mundo inteiro. De nada adianta ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma. De nada adianta ajuntar tesouros na terra se esses bens não estão a serviço de Deus para ganhar almas. O melhor e mais duradouro investimento que podemos fazer é investir na salvação de vidas.

Ø  Torna-se próspero (Pv.19:8). A sabedoria traz consigo a vitória e a realização; não porque acerte sempre ou seja um roteiro de sucesso pessoal, mas porque faz crescer com os maus resultados e levantar após a queda. Não pode ser considerada sábia uma pessoa apenas porque tudo lhe vai bem, mas porque, quando as coisas vão mal, encontra alternativas, absorve prejuízos e repara danos ocasionais. Na crise, reinventa a si mesma, escolhe com melhores critérios e avança na construção de alicerces mais sólidos. Prospera. Desenvolve-se. Chega longe. Alarga as fronteiras de sua alma e de sua mordomia neste mundo.

Ø  Exerce domínio próprio (Pv.29:11). O domínio próprio não é apenas uma virtude natural; é, sobretudo, fruto do Espírito Santo. Quando o Espírito de Deus assume o controle de nossos sentimentos - palavras, ações e reações -, então temos domino próprio. O individuo descontrolado, rixoso, briguento, explosivo é uma ameaça à sua família e à sociedade; suas palavras são incendiárias; suas ações são intempestivas; sua vida é uma tragédia. O sábio, porém, sabe lidar com seus sentimentos; ele é senhor de suas emoções, e não escravo delas. Por dominar a si mesmo, é mais forte do que aquele que conquista uma cidade. Ao reprimir sua ira, torna-se uma ponte de contato, em vez de ser um abismo de separação. Em vez de jogar uma pessoa contra a outra, torna-se um pacificador.

Precisamos de sabedoria porque ela nos faz ser diferentes e nos possibilita fazer a diferença. O salmista declara que o ato de meditar na Palavra de Deus, o tornou mais sábio do que todos à sua volta (Sl.119:98-100). Acredito que nenhuma outra virtude traz mais benefícios a seu portador do que a sabedoria. Bondade sem sabedoria, por exemplo, vira frustração. Coragem sem sabedoria, temeridade. Paciência sem sabedoria, complacência. Humildade sem sabedoria, acanhamento. Sinceridade sem sabedoria, inconveniência. Honestidade sem sabedoria, estagnação. Erudição sem sabedoria, arrogância. Assim por diante. Qualquer virtude, por mais importante que seja, precisa estar acompanhada da sabedoria que ensina a praticá-la segundo a necessidade e a correção, e não segundo as inclinações da autoestima ou da vontade de reconhecimento e valorização.  Em vista disso, somos advertidos a empregar esforços na busca da sabedoria (Pv.4:7).

III. A BÍBLIA E A PRUDÊNCIA PARA A VIDA

1. O conceito de prudência

Prudência é a virtude por excelência da vida prática. De um modo geral, essa virtude está associada à sabedoria, à introspecção e ao conhecimento. Trata-se da capacidade de julgar entre ações maliciosas e virtuosas, não só num sentido geral, mas com referência a ações apropriadas num dado tempo e lugar. Ela ajuda a razão a discernir em todas as circunstâncias o verdadeiro bem e a escolher os justos meios para o atingir. Segundo Hernandes Dias Lopes, “prudência é a percepção lúcida daqueles que compreendem o âmago das coisas e não se deixam enredar pelas meras aparências. Prudência é evitar o caminho escorregadio do erro e colocar os pés na estrada da virtude, mesmo quando instigado pela pressão da maioria. Até as pessoas mais simples, quando são governadas pela Palavra de Deus, agem com prudência”.

A sabedoria e a prudência andam juntas, é como um barco a remo, temos que remar de ambos os lados para seguirmos na direção certa. O mundo seria menos violento se as pessoas agissem com prudência e sabedoria; muitas questões seriam resolvidas pacificamente sem precisar de ir a julgamento se as pessoas fossem coerentes e usassem a prudência e sabedoria.

Em termos gerais, a prudência é a virtude que evita ações temerárias. Nesse aspecto, com cautela e bom senso, uma pessoa prudente é capaz de discernir e fazer a escolha correta. Na Parábola das dez virgens (Mt.25:1-13) as prudentes conheciam o que se passava à sua volta, conheciam o noivo, seus atributos e tinham como provável a sua demora e, portanto, a necessidade de um abastecimento de azeite até o momento de sua chegada. Jesus mostra-nos, portanto, que não há como entrar na casa do “noivo” a não ser através da prudência, ou seja, do prévio conhecimento do noivo, do prévio conhecimento das circunstâncias que nos rodeiam.

As Virgens Prudentes estavam dispostas a seguir o cerimonial estabelecido, em seguir o noivo para sua nova casa, mas queriam tanto fazê-lo que não aceitaram a hipótese de faltar azeite durante a iluminação do caminho até a casa do noivo. O dia já declinava, durante todo o dia haviam procurado preparar a noiva, e não iriam, no último instante, descuidar deste importante pormenor: o azeite. Vejamos que a única coisa que poderia dar errado, nesta altura do dia, em que todos os preparativos já haviam sido tomados, era a falta de azeite. As lâmpadas já estavam em suas mãos, e tinha apenas de esperar o noivo, que certamente viria. Assim, o que dependia das virgens era apenas tomar o cuidado de não deixar faltar o azeite até a chegada na nova moradia dos nubentes. Esta é, precisamente, a situação em que se encontra a Igreja genuína, a Igreja militante, a Igreja que está preparada para se encontrar com o Senhor. Ela percebe que se está no final do Dia, ou seja, no final da dispensação da graça. A noite está chegando, quando ninguém mais poderá trabalhar (João 9:4) e, desta forma, é hora de segurar a lâmpada, mas devemos tomar todo o cuidado para que não falte o azeite para abastecê-la.

Outro exemplo de prudência na Bíblia é a de Neemias. Ele foi um líder prudente. Quando chegou a Jerusalém, ele agiu com muita prudência e discrição. Neemias chegou discretamente a Jerusalém e passou vários dias observando e avaliando cuidadosamente o estado dos muros. Ele manteve em segredo a sua missão e inspecionou os muros sob a luz do luar para evitar comentários sobre a sua chegada e para evitar que os inimigos conhecessem os seus planos. Um anúncio prematuro poderia ter causado rivalidade entre os judeus sobre o melhor modo de começar o trabalho. Neste caso, Neemias não precisou de tediosas reuniões de planejamento; ele precisava de um plano que produzisse resultados imediatos. Está escrito: “Todo prudente procede com conhecimento, mas o insensato espraia a sua loucura” (Pv.13:16). Portanto, um líder prudente e sábio analisa os problemas discretamente antes de encorajar seus liderados publicamente. Quando o líder sabe o que precisa ser feito, e aonde quer chegar, e como chegar, seus liderados são encorajados a realizar a obra.

2. A prudência dos justos

Este termo é empregado pelo evangelista Lucas quando descreve o ministério de João Batista. A missão dele era converter o coração “dos pais aos filhos” e os rebeldes à “prudência dos justos” (Lc.1:17). Segundo o pr. Douglas Baptista, isto significa que o Evangelho tem como desígnio trazer as pessoas de volta para Deus. E, quando isso acontece, os ignorantes, desobedientes e rebeldes de outrora se tornam sábios, justos e prudentes. Essa sabedoria prática que orienta e corrige o viver diário é o resultado da verdadeira conversão a Cristo. Aqueles que experimentam o novo nascimento desenvolvem o caráter e praticam a boa conduta dos justos. Neste sentido, a mensagem da salvação em Cristo não apenas restaura o pecador, mas também o faz andar por veredas de retidão. Salomão assegura que “a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv.4:18). O pr. Hernandes Dias Lopes analisando este texto afirma que “a vereda dos justos não se trata apenas de um caminho iluminado, mas um caminho cuja luz vai crescendo como a luz do sol até ser dia perfeito. A vida do justo vai sendo aperfeiçoada de glória em glória. O brilho da face de Cristo resplandece no justo. O fulgor da glória de Deus irradia sobre ele. O justo cresce no conhecimento e na graça. Avança para o alvo. Sua história começa na conversão e avança no processo da santificação, mas seu alvo é a glorificação, o dia perfeito”. Para estarmos em tal patamar espiritual é imprescindível nos manter em oração constante, dedicação à leitura e ao estudo das Escrituras e ter comunhão inquebrável com o Espírito Santo (1Ts.5:17; 2Tm.3:14,15; Ef.5:18).

3. Os benefícios da prudência

Muitos sãos os benefícios da prudência. O pr. Douglas Baptista, em seu livro didático, destaca alguns: o autocontrole para não revidar ofensas (Pv.12:16); a humildade para exibir conhecimento (Pv.12:23); a correta tomada de decisões (Pv.13:16); o pensar antes de agir para não ser influenciado (Pv.14:15); o alcance de boa reputação e alta posição (Pv.14:35); a sujeição ao aprendizado e a correção (Pv.15:5); o desviar-se do perigo por meio de soluções antecipadas (Pv.22:3). Jesus Cristo enfatizou que a pessoa prudente tem a Palavra de Deus como regra de vida (Mt.7:24); procede com retidão e cumpre seus deveres com fidelidade (Mt.24:45); por fim, a pessoa prudente cuida com esmero da sua vida espiritual e mantém acesa a chama do Espírito (Mt.25:4). O benefício da prudência de Neemias foi o êxito da construção dos muros de Jerusalém. O benefício das virgens prudentes foi a luz permanente de suas lamparinas e, consequentemente, a entrada na casa do noivo. Myer Pearlman considera que “as virgens prudentes representam aqueles crentes que, reconhecendo possível demora do Noivo, não somente o aguardam pacientemente, como conservam-se diligentemente num estado espiritual apropriado a qualquer chamada repentina”. Em vista disso, a Bíblia nos exorta a viver prudentemente, e não como néscios (Ef.5:15).

CONCLUSÃO

A Bíblia é a revelação escrita de Deus aos seres humanos. Ela nos oferece todos os propósitos da vida; é um guia seguro para a nossa caminhada cristã. Ela é o consolo do aflito, regozijo dos fiéis, a prova irrefutável da existência do Altíssimo. Ela é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm.3:16,17). Ela nos mostra o caminho da salvação, que é Cristo Jesus (João 14:6). Nela encontramos o antídoto que afasta o inimigo de nossas almas. Como filhos de Deus, não podemos afastar-nos jamais das Sagradas Escrituras; delas, todos dependemos vitalmente. Quanto mais as estudarmos, mais íntimos seremos de seu Autor. Ela é a nossa regra de fé e prática, é o mapa do viajor, o cajado do peregrino, a bússola do piloto, a espada do soldado e o mapa do cristão. Devemos lê-la para sermos sábios, crermos nela para estarmos seguros e devemos pra­ticar o que nela está escrito para sermos santos. Ela contém luz para nos dirigir, alimento para nos suster e consolo para nos animar.