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O SERMÃO DO MONTE: O CARÁTER DO REINO DE DEUS

 


Texto Base: Mateus 5:1-12


“Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa” (Mt.5:11).

Mateus 5:

1.Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos;

2.e, abrindo a boca, os ensinava, dizendo:

3.Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus;

4.bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;

5.bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;

6.bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;

7.bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;

8.bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;

9.bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;

10.bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus;

11.bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa.

INTRODUÇÃO

Neste 2º trimestre de 2022 vamos estudar um dos textos mais belos e conhecidos da Bíblia Sagrada: o Sermão do Monte. Inicialmente, nesta primeira Aula, trataremos do tema: “O Sermão do Monte: o caráter do Reino de Deus”. John Stott afirma que o Sermão do Monte é o mais lido, o menos compreendido e o menos praticado de todos os ensinos de Jesus. Ao estudá-lo, precisamos aceitar os seus ensinamentos com o máximo de seriedade, pois ele contém os mais altos padrões, os maiores valores, as prioridades do cristianismo. Encontramos nele tudo aquilo que devemos ser e fazer.

O evangelista Mateus introduz o Sermão de uma forma singela: “Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos; e, abrindo a boca, os ensinava...” (Mateus 5:1,2). Muitas vezes, Jesus apresentava seus ensinos sobre um monte. Seus discípulos vinham até Jesus e Ele se sentava para ensinar. A multidão de pessoas se reunia e se sentava nas encostas abaixo dele. Provavelmente, Jesus dirigia esses ensinos principalmente aos doze discípulos, mas as multidões estavam presentes e ouviram suas palavras. Este Sermão desafiava os ensinos dos orgulhosos e legalistas líderes religiosos daquela época. Ele conclamava o povo para ouvir as mensagens dos profetas do Antigo Testamento que, como Jesus, haviam ensinado que Deus quer obediência sincera, e não mera e legalista obediência às leis, tradições e rituais.

Ao estudarmos o Sermão do Monte, devemos ir além do seu ensino moral, ético e espiritual; precisamos ultrapassar a beleza das suas expressões e ilustrações, o perfeito equilíbrio da sua estrutura, a harmonia dos seus ensinamentos, para chegarmos à pessoa do seu Pregador: Jesus, o Mestre por excelência. O valor e a autoridade desse sermão estão no próprio Jesus - Ele é mais importante que Seu sermão. Quando tomamos consciência de que o Mestre era o próprio Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, nosso Salvador, não temos outra coisa a fazer a não ser aceitar e praticar os Seus ensinos.

I. A ESTRUTURA DO SERMÃO DO MONTE

1. Por que Sermão do Monte?

Porque foi proferido sobre um monte, nas proximidades de Cafarnaum, no início do Seu ministério público, após o Seu batismo e tentação. Depois de uma das suas pregações do novo reino (Mt.4:23-25), chamou os doze discípulos sobre um monte, e depois que os discípulos se acomodaram, Jesus proclamou o mais conciso e ordenado código de ética e padrão de conduta, que abrangeu todos os seus ensinamentos, e que os apóstolos deveriam saber de cor, e deviam observá-lo como regra principal para permanência no Reino de Deus.

O Sermão do Monte é um dos mais famosos ensinos de Jesus; no entanto, nem sempre é fácil de interpretar, sendo frequentemente mal-entendido. É radical, revolucionário, provocativo e simples; não obstante, profundo. Talvez não seja acidental que Jesus comece seu ensino sobre a ética do novo Reino numa montanha, da mesma maneira que Moisés deu a Lei no Monte Sinai. Ademais, Jesus cita a antiga Lei neste Sermão, prossegue falando com autoridade sobre ela e a amplia como se Ele estivesse maior autoridade que Moisés (cf.Mt.5:17,18). Para ensinar, Jesus se senta, e os discípulos e a multidão sentam-se à sua volta – habitual postura pedagógica dos rabinos naquela época.

Nesse Sermão, Jesus faz uma síntese das leis morais que regem a humanidade. É considerado a constituição do Reino de Deus, sendo todos os seus dispositivos - capítulos e versículos – pétreos, ou seja, imutáveis e perpétuos. Não é por acaso que esse Sermão está situado no início do Novo Testamento; essa posição indica sua elevada importância. Nesse Sermão, o Rei resume o caráter e a conduta esperados dos seus súditos.

Antes do sermão começar, vemos no capítulo 4 o início do ministério de Jesus, quando anuncia a vinda do Reino de Deus (Mateus 4:17,23). Para consolidar as leis desse Reino, Jesus transmite este sermão com o objetivo de tornar claro a conduta esperada dos seus súditos (seus seguidores, os cristãos de todo o período da graça). Ali se achava tudo o que a alma necessitava saber a respeito de Deus, da criação e da vida quotidiana, tanto naquela época como nas vindouras. Além dos discípulos, uma numerosa multidão o aguardava para ouvir o seu verbo redentor. Foi ali que, introdutoriamente, comunicou à humanidade inteira as oito regras básicas para todo o comportamento dos seus súditos – as Beatitudes (Mt.5:3-12):

3.Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus;

4.bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;

5.bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;

6.bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;

7.bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;

8.bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;

9.bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;

10.bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus;

11.bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa.

12.Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.

2. A Estrutura do Sermão do Monte

O Sermão do Monte está estruturado em cinco grandes discursos proferidos por Jesus Cristo e tem como público-alvo todos aqueles que nasceram de novo em Cristo Jesus. É um discurso que pode ser lido no Evangelho de Mateus (Caps. 5-7) e no Evangelho de Lucas (fragmentado ao longo do livro). Nesses discursos, Jesus Cristo profere lições de conduta e moral, ditando os princípios que normatizam e orientam a vida cristã. Os cinco sermões de Jesus: (a) As Bem-aventuranças (Mt.5:3-12); (b) Sal e Luz (Mt.5:13-16); (c) Jesus é o cumprimento da Lei (Mt.5:17-48); (d) Os atos de justiça (Mt.6:1-18); (e) Declarações de sabedoria (Mt.6:19-7:27). Pormenorizando melhor, podemos destacar a estrutura do Sermão do Monte da seguinte maneira:

2.1. Introdução

a) As Bem-Aventuranças (Mt.5:3-12). Bem-aventurado significa "é feliz aquele". Essa é uma estrutura comum na poesia e sabedoria hebraica para indicar onde está a felicidade ou quem é feliz e por quê. Jesus surpreende seus ouvintes no seu ensino sobre a felicidade, porque todos os que são bem-aventurados são pessoas que estão sofrendo de alguma forma.

b) O sal da terra e a luz do mundo (Mt.5:13-16). A missão básica dos seguidores de Jesus no mundo: conservar e guiar.

Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte (Mt.5:13,14).

c) Jesus cumpre a Lei (Mt.5:17-20). Jesus explica sua própria missão, que não é de revogar ou negar a Lei de Moisés, mas de colocá-la em prática.

Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir (Mt.5:17).

2.2. O que não deve fazer

a) Homicídio (Mt.5:21-26). Jesus amplia o nível da Lei de Moisés. Antes, o homicídio era o assassinato na prática; agora, só o ódio já é considerado um homicídio, e quem ofende o próximo está correndo risco de ser incriminado.

Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo (Mt.5:21,22).

b) Adultério (Mt.5:27-30). No Sermão do Monte, Jesus dá um tom mais forte a este pecado. Antes, apenas o adultério na prática era pecado; agora, só de pensar em possuir outra pessoa já é adultério.

Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela (Mt.5:28).

c) Divórcio (Mt.5:31-32). A vontade de Deus nunca foi que maridos e mulheres se separassem, mas abriu uma única exceção: o adultério. Todo divórcio que não se deu por esse motivo, é como se não existisse aos olhos de Deus, e o casal continuasse casado.

d) Juramentos (Mt.5:33-37). Jesus se opõe a má prática de juramento, que estava sendo abusada pelos judeus. Ao invés de jurarem, Jesus instrui que ninguém jure como forma de validar suas palavras, mas que cada um sempre cumpra o que disse.

e) Vingança (Mt.5:38-42). Jesus ensina que vingança não é sinônimo de justiça, e que na lógica do Reino de Deus devemos retribuir positivamente aquilo que recebemos negativamente.

Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra (Mt.5:39).

f) Odiar os inimigos (Mt.5:43-48). Subvertendo a ordem de que as pessoas deveriam odiar os seus inimigos, Jesus instrui que amá-los é o jeito certo de tratar os inimigos. Ele diz, inclusive, para que as pessoas orem a Deus em favor daqueles que os perseguem – “Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt.5:44). E mais, ele disse que para sermos filhos de Deus temos que cumprir este duro mandamento – “para que vos torneis filhos do vosso Pai Celeste....” (Mt.5:45).

2.3. O que deve fazer

a) Ajudar os necessitados (Mt.6:1-4). A prática de ajuda ou auxílio àqueles que mais precisam é uma ordem clara de Cristo. Ele adverte, ainda, para que ninguém anuncie isso esperando aprovação das outras pessoas.

Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai Celeste (Mt.6:1).

b) Oração (Mt.6:5-15). A oração é a ação mais básica esperada de um cristão, e Jesus ensina seus discípulos a orarem com a conhecida Oração do Pai Nosso. Sua advertência anterior também está presente: não anuncie que está orando, mas faça isso em secreto, porque o Pai que vê em secreto assim recompensará.

c) Jejum (Mt.6:16-18). A terceira prática esperada dos cristãos é o jejum, e a sua advertência continua presente: não mostrar aos outros que está jejuando.

2.4. Cuidados gerais

a) Os tesouros no Céu (Mt.6:19-24). Quem se preocupa demais com os bens materiais, se preocupa com aquilo que irá naturalmente se degradar ou se perder. Quem se preocupa com as coisas do céu, se preocupa com o que é eterno. Jesus ensina que ao invés de nos preocuparmos em acumular tesouros nessa vida, devemos nos empenhar em acumular tesouros na vida eterna.

b) As preocupações da vida (Mt.6:25-34). Jesus instrui que as pessoas devem se preocupar com as coisas eternas, em vez de coisas passageiras. O Reino de Deus e a sua justiça deve ser a maior preocupação do cristão, não bens materiais, que são efêmeros.

buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas (Mt.6:33).

c) Julgamento ao próximo (Mt.7:1-6). Esse é um trecho muito mal interpretado, pois aqui Jesus não está proibindo as pessoas de julgarem, mas as instrui para julgarem de maneira correta. Antes de dizer que alguém está errado ou fazendo algo errado, deve-se investigar a si mesmo para ver se não está tropeçando na mesma coisa, pois seria hipocrisia.

Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão (Mt.7:5).

d) Persistência na oração (Mt.7:7-12). Nesse trecho Jesus ressalta a confiança que as pessoas devem ter em Deus, e que Ele suprirá nossas necessidades. Por isso, devemos continuar orando e pedindo a Deus.

2.5. A Prática da verdade

a) Porta estreita e porta larga (Mt.7:13-14). Este é um dos discursos mais duros que Jesus já proferiu. Aqui ele explica que entrar no Reino dos Céus não é algo fácil, e a vida de quem segue a Deus também não será, mas envolverá perdas e restrições. Por outro lado, o caminho do mundo e da libertinagem é muito mais fácil, mas certamente não levará ninguém a Deus.

Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela) (Mt.7:13).

b) A Árvore e seu Fruto (Mt.7:15-23). Esse trecho serve para saber quem é de Deus e quem não é de Deus. Pelos frutos se conhece a árvore. Quem possui bons frutos, deve ser uma pessoa boa; mas quem tem maus frutos, deve ser uma pessoa má. Ainda assim, deve-se ter em vista que Jesus está se referindo, em especial, aos falsos mestres (Mt.7:15), ou seja, sua maior preocupação é com a qualidade do ensino que as pessoas estão apreendendo.

c) O Prudente e o Insensato (Mt.7:24-27). Nesse trecho Jesus mostra a importância do seu ensino. Quem o ouve e pratica os seus ensinamentos é sábio e salva sua vida. Quem o ouve, mas não pratica os seus ensinamentos, é tolo e encontrará somente perdição.

Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína.

3. A quem se destina o Sermão do Monte

O Sermão do Monte foi dirigido, incialmente, aos seus discípulos (Mt.5:1,2), e a intenção é ser a constituição, ou o sistema de leis e princípios que governam os súditos do Rei no seu reinado. Portanto, não é uma apresentação do plano de salvação, nem seus ensinamentos têm como alvo os descrentes. O Sermão do Monte tem um valor distintamente judaico, como visto nas alusões ao Sinédrio (Mt.5:22), ao altar (Mt.5:23,24) e a Jerusalém (Mt.5:35); mesmo assim, seria errado dizer que os ensinamentos são exclusivamente para os crentes israelitas no passado ou futuro; são para todos os que, em qualquer época, reconhecem Jesus Cristo como Rei. Quando Cristo estava na terra, a aplicação direta do Sermão do Monte era aos Seus discípulos; agora, que nosso Senhor reina dos céus, aplica-se a todos os que o coroam como Rei no coração. Enfim, será o código de comportamento dos seguidores de Cristo durante o período da graça e durante Seu futuro reinado na Terra.

II. AS BEM-AVENTURANÇAS E O CARÁTER DOS FILHOS DE DEUS

1. O que são as Bem-aventuranças?

Há pelo menos quatro considerações sobre as bem-aventuranças: (a) São um código de ética para os discípulos e um padrão de conduta para todos os cristãos; (b) contrastam os valores do Reino, que é eterno, com os terrenos, que são temporários; (c) contrastam a fé superficial dos fariseus com a fé real que Cristo exige; (d) demonstram que as expectativas do Antigo Testamento cumprir-se-ão no Reino de Cristo.

Cada bem-aventurança diz respeito a uma bênção de Deus, e abrange três seções: o estado (isto é, “bem-aventurado”), a condição e a recompensa. Elas não prometem riso, prazer ou prosperidade terrena. Para Deus, bem-aventurado é aquele que tem uma experiência de esperança e alegria, independentemente das circunstâncias exteriores. Para encontrar essa forma mais profunda de felicidade, a pessoa precisa seguir a Jesus a despeito do preço a pagar. Jesus, nas bem-aventuranças, nos dá a receita da verdadeira felicidade. Ele põe diante de nós o mapa que nos leva a esse paraíso cobiçado. Os tesouros riquíssimos da verdadeira felicidade estão ao nosso alcance, A felicidade não é uma utopia, mas algo factível, concreto, tangível, ao nosso alcance. A boa notícia é que a felicidade não é algo que compramos com dinheiro ou conquistamos com status, mas um presente que recebemos de Deus.

O mundo tem o seu próprio conceito de bem-aventurança, onde feliz é o homem forte, rico, popular e satisfeito consigo mesmo. Mas, segundo afirma Hernandes Dias Lopes, a felicidade não está nas coisas que vemos; é uma atitude do coração. Não é um pagamento de nossas virtudes, mas um presente da graça de Deus. Não é algo que conquistamos pelo nosso esforço, mas um dom que recebemos pela fé. O que o mundo promete e não consegue dar, Jesus oferece gratuitamente. É importante afirmar que esse roteiro está na contramão de todas as orientações dadas pelo mundo. Não é algo que o homem faz para agradar a Deus, mas o que Deus faz para o homem. A verdadeira felicidade não é prêmio, é presente; não é merecimento, é graça.

2. O Reino de Deus e seu caráter

O Reino de Deus é onde Jesus é rei. Na Bíblia, o Reino de Deus é um reino espiritual que um dia dominará tudo. Esse reino começou agora, dentro do coração de cada pessoa que aceitou Jesus como seu Senhor e Salvador. Deus reina sobre tudo, nada acontece sem sua permissão. O mundo todo pertence a Deus, porque Ele o criou. Mas quando o pecado entrou no mundo, o ser humano se rebelou contra a soberania de Deus. Deus continua sendo o rei sobre tudo e sobre todos, mas enquanto o ser humano estiver sob o poder do pecado ele rejeitará a autoridade de Deus sobre ele; torna-se escravo do diabo. Por isso, Deus enviou Jesus para restabelecer o Reino, através de Sua morte e ressurreição. Quem aceita Jesus como seu salvador deixa de pertencer ao reino das trevas e se torna cidadão do Reino de Deus (Cl.1:13,14).

O Reino de Deus ainda não foi completamente estabelecido, mas já começou. Jesus explicou isso na parábola do grão de mostarda - a semente do Reino foi lançada e continua crescendo (Lc.13:18-19). Cada pessoa que aceita Jesus faz crescer o Reino. Um dia o Reino encherá toda a terra, mas até lá ele cresce dentro de nossos corações. No fim dos tempos, quando Jesus voltar, o Reino de Deus será restabelecido para sempre. Será o tempo no qual cumprir-se-á a profecia de Daniel em que os reinos deste mundo serão destruídos, o mal aniquilado, restabelecer-se-á a comunhão perfeita com Deus e o Senhor reinará com justiça para sempre. Não será o resultado da utopia socialista, do avanço dos conhecimentos científicos, da unificação dos credos em uma só religião mundial, nem de qualquer desenvolvimento moral da sociedade, mas do propósito original para a criação.

Na presente manifestação do Reino de Deus, ser salvo implica a libertação do poder e dos valores do mundo, em Deus deter o poder de Satanás e dos demônios, mas em sua dimensão escatológica traduz a ideia da redenção do corpo – “o livramento da mortalidade” – em que o crente redimido assemelhar-se-á ao próprio Senhor em sua imortalidade. Nessa bendita Era, o inimigo e os seus agentes já terão sido banidos para o lago de fogo, o inferno. Com a plena ausência do mal e o pleno triunfo do bem, será também a época em que a comunhão restaurada em sua plenitude terá como símbolo maior o banquete entre Cristo e a Igreja. Não haverá mais tristeza nem sofrimento, e a justiça e a paz reinarão (Rm.14:17). Quem aceitar Jesus como seu salvador e não desistir herdará a vida eterna no Reino de Deus.

3. Os súditos do Reino de Deus

Os súditos do reino de Deus são os justos, os redimidos, aqueles que obedecem e praticam o código de ética e padrão de conduta estabelecido por Jesus. Jesus disse que se a justiça dos discípulos não excedesse em muito a dos escribas e fariseus, jamais eles entrariam no Reino de Deus, ou seja, não seriam súditos do Reino (Mt.5:20). Jesus deixa claro que os escribas e fariseus, que torciam a lei e oprimiam o povo com um discurso legalista, ostentando uma santidade aparente e uma justiça apenas exterior, estavam foram do reino de Deus. Para entrar no Reino de Deus é necessário não ostentar, mas ser humilde de espírito. É necessário não se gabar de sua justiça, mas chorar pelos seus pecados. É necessário não defender seus direitos, mas ser manso. É necessário ter fome não de prestígio, mas de justiça. É necessário não oprimir os necessitados e indefesos, mas ser misericordioso. É necessário não agasalhar hipocritamente toda sorte de imundícia no coração, mas ser limpo de coração. É necessário não criar contendas e odiar as pessoas em nome de Deus, mas se dispor a sofrer por causa da justiça. Essa é a justiça que excede em muito a justiça dos escribas e fariseus.

III. SOMOS BEM-AVENTURADOS

1. A beatitude na vida dos salvos

Beatitude significa Bem-aventurança; estado de plenitude, de felicidade profunda, experienciada pela presença de Deus na vida. As Beatitudes descrevem como os seguidores de Cristo devem viver. O salvo em Cristo vive as beatitudes do Sermão do Monte de maneira sincera e obediente. Cada uma das Beatitudes mostra como o crente pode ser bem-aventurado. Ser bem-aventurado significa ter mais do que felicidade; significa receber o favor e a aprovação de Deus. De acordo com os padrões mundanos, os tipos de pessoas descritos por Jesus não parecem ser particularmente abençoados por Deus. Mas a forma de vida que agrada a Deus geralmente contradiz a forma de vida do mundo. Os súditos do Rei certamente receberão a recompensa pelo modo de viver explicitado no Sermão do Monte. A consumação final de todas as recompensas se encontra no futuro, na plenitude do Reino de Deus. Entretanto, os crentes já podem compartilhar o Reino (que já foi revelado), vivendo de acordo com as palavras de Jesus.

2. A prova de que o cristão é bem-aventurado

A prova que o cristão é bem-aventurado pode ser inferida quando o seu caráter cristão é aprovado por Deus. John Stott afirma que as bem-aventuranças enfatizam oito sinais principais da conduta e do caráter cristãos, especialmente em relação a Deus e aos homens. Assim como o fruto do Espírito (Gl.5:22) expressa o caráter do cristão, e não as diversas facetas dele, de igual forma as bem-aventuranças são oito atributos do mesmo grupo de pessoas. Um cristão maduro tem todas essas oito qualidades, e não apenas algumas delas. As oito qualidades (fruto do Espírito) juntas constituem as responsabilidades; e as oito bençãos (as bem-aventuranças), os privilégios, a condição de cidadãos do Reino de Deus. Portanto, um cristão bem-aventurado é resultado de um estreito relacionamento com Deus, consigo mesmo e com o próximo. As oito bem-aventuranças apontam para esse quádruplo relacionamento: atitude em relação a si mesmo (Mt.5:3,4); em relação ao pecado (Mt.5:5,6); em relação a Deus (Mt.5:7-9); em relação ao mundo (Mt.5:10-12). Contudo, é bom enfatizar que as bem-aventuranças não são qualidades inatas ou adquiridas pelo esforço humano. Nenhuma pessoa poderia possuir essas bem-aventuranças à parte da graça de Deus.

CONCLUSÃO

“O Sermão do Monte é a base ética do Reino de Deus. Nele, constatamos o lado divino de uma atitude amorosa do cristão para com Deus, bem como para com o próximo. Se cada crente fizesse do Sermão do Monte o seu norte ético de vida, as polêmicas não teriam lugar entre nós, não haveria espaço para meras opiniões intelectuais, visto que o propósito desse Sermão é que cada crente seja como Deus quer que ele seja” (Pr. Osiel Gomes).