“Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor” (Lv.19:18).
Mateus 5:
38.Ouvistes o que foi dito: Olho por olho e dente por dente.
39.Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;
40.e ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a vestimenta, larga-lhe também a capa;
41.e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.
42.Dá a quem te pedir e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.
43.Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo.
44.Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem,
45.para que sejais filhos do Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos.
46.Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?
47.E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?
48.Sede vós, pois, perfeitos, com o é perfeito o vosso Pai, que está nos céus.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos do mandamento da não retaliação; retribuir com o bem a pessoa que nos fez o mal é um desafio enorme a enfrentar. Quando se recebe uma ofensa, a reação natural é devolvê-la com outra. Entretanto, o Senhor Jesus nos convida a agir de uma maneira quase sobrenatural, pondo em prática a instrução de Jesus proferida no Sermão do Monte. No Antigo Testamento a lei dizia: “olho por olho, dente por dente” (Êx.21:24; Lv.24:20; Dt.19:21); mas, no Sermão do Monte, Jesus aboliu totalmente a retaliação. Ele mostrou aos discípulos que, onde a retaliação era permitida legalmente, a não resistência era agora graciosamente possível. Jesus instruiu seus seguidores a não oferecer resistência ao perverso, e sim fazer o bem àqueles que nos ofendem; ao invés da vingança, devemos amar e perdoar. Não é fácil cumprir essa determinação de Jesus, mas a nossa posição de filhos de Deus exige que ajamos dessa maneira (Mt.5:45) – “para que sejais filhos do Pai que está nos céus...”. Somente o crente cheio do Espírito Santo é capaz de viver esse ensino do Sermão proferido pelo nosso Senhor.
I. A VINGANÇA NÃO É NATUREZA DO REINO
1. A Lei de Talião
A Lei de Talião é uma das mais antigas leis do mundo; baseia-se no princípio da retaliação equitativa. Segundo os estudiosos, essa lei chama-se “lex talionis”. Foi incluída na lei mosaica. Encontra-se três vezes no Antigo Testamento:
“Mas, se houver dano grave, então, darás vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferimento por ferimento, golpe por golpe” (Êx.21:23-25).
“fratura por fratura, olho por olho, dente por dente; como ele tiver desfigurado a algum homem, assim se lhe fará” (Lv.24:20).
“Não o olharás com piedade: vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé” (Dt.19:21).
Embora esta lei pareça ser um instrumento de vingança, a intenção original era restringir a vingança ilimitada; deveria ser entendida como apenas “olho por olho” e apenas “dente por dente”. Além disso, nunca teve o objetivo de propiciar qualquer retaliação individual; se tratava de uma norma para os tribunais civis, que no seu propósito desejava que em particular a pessoa jamais praticasse a vingança pessoal; deveria ser aplicável somente pelos juízes.
Na época de Jesus, porém, os fariseus interpretavam erroneamente essa Lei, usando-a com o propósito de justificar a vingança, a retribuição pessoal, descaracterizando-a do seu real significado e objetivo. Todavia, em momento algum, a Lei de Moisés defendia a busca pela vingança.
Embora possa parecer primitivo, na verdade o princípio de justiça da lei assegurava o bem-estar social e a justiça em Israel. Enquanto a maioria das nações usavam métodos arbitrários para punir os criminosos, o padrão de justiça estabelecido por Deus para a época reflete a preocupação com a verdade e a imparcialidade, pois assegurava aos que violavam a Lei que não seriam punidos com mais severidade do que mereciam pelo crime que cometeram, ao mesmo tempo que evitava o falso testemunho, visto que quem forjasse acusação contra alguém receberia a punição imputada ao culpado.
A Bíblia, mesmo no Antigo Testamento, proíbe terminantemente a vingança pessoal. Veja os seguintes textos bíblicos:
“Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor” (Lv.19:18).
“Não sejas testemunha sem causa contra o teu próximo, nem o enganes com os teus lábios. Não digas: Como ele me fez a mim, assim lhe farei a ele; pagarei a cada um segundo a sua obra” (Pv.24:28,29).
“Se o que te aborrece tiver fome, dá-lhe pão para comer; e, se tiver sede, dá-lhe água para beber” (Pv.25:21).
“Dê a face ao que o fere; farte-se de afronta. O Senhor não rejeitará para sempre” (Lm.3:30,31).
É muito fácil não perceber a misericórdia contida na Lei, mas os textos citados acima comprovam que Deus projetou um sistema de justiça com misericórdia; porém, este foi deturpado ao longo dos anos e considerado uma licença para a vingança. Jesus sabia disso, por isso Ele combateu esta aplicação equivocada da Lei mosaica (Mt.5:38,39): “Ouvistes o que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao perverso...”.
2. O cristão e a vingança
O cristão é aquele que parece com Cristo; que age como Cristo agiu; que ama com Cristo amou. Logo, o cristão nunca pode cometer vingança pessoal, fazendo justiça com as próprias mãos. No Sermão do Monte, Jesus eliminou a antiga Lei da vingança pessoal, que permitia a retaliação, e introduz a reação transcendental diante das injustiças sofridas (Mt.5:38-41). Mesmo que as pessoas nos desonrem, ferindo nosso rosto; mesmo que as pessoas nos constranjam a andar, ferindo nossa vontade; mesmo que as pessoas tomem de nós a roupa do corpo, bem inalienável, devemos reagir de maneira transcendente. No Reino de Deus, o súdito domina não apenas suas ações, mas também suas reações. No Reino de Deus, o amor é a identidade do cristão - ele prega e vive o amor, não o ódio, e tem consciência plena de que Deus tem reservado um dia em que há de julgar todos os pecados da humanidade, tomando vingança de tudo (At.17:31; At.10:42; Rm.2:16; 14:10). Paulo foi muito contundente quando afirmou:
“Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm12:19-21).
Paulo nos aconselhou a sermos amigáveis, em vez de retribuirmos em justa medida, quando alguém nos ofende profundamente. Entretanto, na época em que vivemos, onde há muitas ações judiciais e incessante reivindicação por direitos legais, a prática recomendada por Paulo parece ser quase impossível de ser praticada. Por que o apostolo Paulo nos disse para perdoarmos os nossos inimigos? Porque:
- O perdão pode quebrar um ciclo de retaliações e levar a uma reconciliação mútua.
- O perdão pode levar o inimigo a envergonhar-se e a mudar de comportamento.
- Ao pagar o mal com o mal, vamos ferir-nos tanto quanto ferimos nosso inimigo. Mesmo que este nunca se arrependa, ao perdoá-lo, vamos libertar-nos do grande peso da amargura.
O perdão envolve atitudes e ações. Se você considera difícil sentir-se disposto a perdoar alguém que acabou de ofendê-lo, tente responder com atos de bondade. Se for o caso, diga a essa pessoa que gostaria de recuperar seu relacionamento com ela. Estenda a mão, seja empático. Você descobrirá que ações corretas levam a sentimentos corretos.
II. O AMOR É A EXPRESSÃO NATURAL DO REINO
No Reino de Deus, o amor deve reger nossos relacionamentos. O amor é o sistema circulatório do corpo espiritual do crente, permitindo que todos os membros funcionem de maneira saudável e harmonioso. A exortação de Paulo aos Romanos ecoa em toda a Igreja: “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal” (Rm.12:10a). No Reino de Deus não há espaço para o ódio, para retaliação, para a vingança; o amor é a expressão maior (1Co.13:13).
No Reino de Deus, o perdão é o botão que deve ser acionado no momento de discórdia. Muitas pessoas são capazes de viver em paz com aqueles que lhes tratam com amor, mas são incapazes de perdoar aqueles que lhes prejudicam. Jesus ilustra isso no Sermão do Monte (Mt.5:39-41); Ele diz que quando uma pessoa nos ferir a face direita, devemos voltar-lhe a outra face. Quando a pessoa nos forçar a andar uma milha, devemos ir com ela duas milhas e quando ela procurar nos tirar a túnica, devemos dar-lhe também a capa. O que, na verdade, Jesus estava ensinando? Ele não estava falando de ação, mas de reação. O que representa essas três figuras alistadas por Jesus?
- Primeiro, quando uma pessoa nos fere no rosto, ela agride a nossa honra.
- Segundo, quando uma pessoa nos força a fazer o que não desejamos, ela agride a nossa vontade.
- Terceiro, quando uma pessoa nos toma as vestes pessoais, ela agride o nosso bem mais íntimo e sagrado.
Mas, Jesus realça dizendo que mesmo que os pontos mais vitais da vida sejam atingidos - como a honra, a vontade e os bens inalienáveis -, devemos reagir transcendentalmente, ou seja, com perdão. Segundo Hernandes Dias Lopes, o perdão é a transcendência do amor; é vencer o mal com o bem. Perdoar é tratar o outro não como ele merece, mas segundo a misericórdia exige. O perdão não é a execução da justiça, mas o braço estendido da misericórdia. Perdoar é não se ressentir do mal, mas vencer o mal com o bem, abençoando o próprio malfeitor.
É bom enfatizar que o Senhor Jesus também condena as guerras agressivas ou as ofensivas que as nações fazem entre si, mas não necessariamente a guerra defensiva ou a defesa contra o roubo e o assassinato. Segundo A.T. Robertson, “o pacifismo profissional pode ser mera covardia”.
1. Virar a outra face
“...se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra” (Mt.5:39). Ao receber um tapa no rosto, não é fácil suportar passivamente. É uma atitude que afronta a honra de uma pessoa. Muitas das vezes, quando a nossa honra é aviltada, a primeira reação é agir com as mesmas armas do ofensor, e, às vezes, até mesmo de maneira mais intensa. Todavia, reagir no mesmo padrão de violência e ignorância, complica ainda mais a situação.
Na época de Jesus, macular a honra de uma pessoa, era um ato difícil de ser suportado; até hoje revela a maior ofensa possível. Mas, se isto acontecer, a atitude correta que o crente deve proceder, segundo a orientação de Jesus, é não retaliar, mas perdoar. Isso não é uma coisa natural, é sobrenatural. Somente Deus pode nos dar forças para que amemos como Ele ama. Quem tem amor, tem perdão, brandura e tolerância.
As pessoas que não têm Cristo no coração defendem a vingança; cada um cuida de si e protege seus “direitos pessoais”. Todavia, os seguidores de Jesus não devem se prender rigorosamente aos seus “direitos”, e preferir esquecer esses direitos por amor do Evangelho e do Reino de Deus. Entretanto, estar disposto a abandonar os direitos pessoais não significa que o crente deve sentar passivamente enquanto o pecado caminha livremente.
2. Arrastar para o tribunal
De acordo com a Lei judaica, aquele que agredia a face de alguém enfrentava um castigo e uma pesada multa. Desse modo, a lei tomava o partido da vítima. Mas no Sermão do Monte, Jesus disse que em tal situação a pessoa agredida não deve recorrer aos tribunais, mas oferecer a outra “face” para que seja igualmente agredida. Parece um contrassenso, mas Jesus não pediu que os seus seguidores fizessem alguma coisa que Ele mesmo nunca faria; Ele recebeu esse tratamento e fez como havia mandado que os outros fizessem (cf. Mt.26:67,68; veja também Isaías 50:6; 1Pd.2:23). Jesus queria que seus seguidores tivessem aquela atitude abnegada que prontamente segue o caminho da cruz ao invés do caminho dos direitos pessoais. Eles deviam confiar inteiramente em Deus, que um dia colocará todas as coisas em seus devidos lugares.
Para a maioria dos judeus, essas afirmações de Jesus eram uma afronta. Qualquer Messias que oferecesse a outra face não seria líder militar da revolta contra o império ocupante, que era Roma. Como os judeus estavam sob o domínio romano, eles queriam uma retaliação contra os inimigos, a quem odiavam. Mas, Jesus estava sugerindo uma nova e radical resposta à injustiça; ao invés de exigir os direitos, deviam desistir deles livremente. De acordo com Jesus, é mais importante oferecer justiça e misericórdia do que recebê-las. Ser cristão de verdade não é fácil!
3. Largar também a capa
“e ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a vestimenta, larga-lhe também a capa” (Mt.5:40). Aqui, Jesus está afirmando que, quando uma pessoa nos toma as vestes pessoais, ela agride o nosso bem mais íntimo e sagrado. Era muito difícil fazer vestimentas, e consumia muito tempo. A “vestimenta” (ou túnica) era uma veste interna usada junto à pele. A “capa” (ou manto) representava um bem precioso. As capas eram muito caras e a maioria das pessoas possuía apenas uma. A capa podia ser usada como cobertor, como saco para carregar coisas, como almofada para sentar, como penhor de uma dívida, como cama (Êx.22:26,27; Dt.24:12,13; Am.2:8) e, naturalmente, para vestir. Portanto, quando Jesus disse que se alguém “tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa” (Mt.5:40), Ele estava pedindo uma atitude muito difícil aos seus seguidores; mas Ele esperava que eles deveriam se desprender das suas posses em prol de um bem maior - a paz com todos. Jesus ensina que mesmo que os pontos mais vitais da vida sejam atingidos - como os bens inalienáveis -, devemos reagir transcendentalmente, ou seja, com perdão. O perdão não é a execução da justiça, mas o braço estendido da misericórdia. Perdoar é renunciar aos nossos direitos.
4. Obrigar a fazer algo
“e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas” (Mt.5:41). Aqui, Jesus está ensinando que, quando uma pessoa nos força a fazer o que não desejamos, ela agride a nossa vontade. Aquele que é mais forte, por força da hierarquia, pode obrigar alguém a cumprir determinada ordem, mesmo sem respeitar a sua vontade, como ocorreu com o Simão Cirineu, que foi obrigado a carregar a cruz de Jesus (Mt.27:32). Assim, quando alguém anda a primeira “milha”, geralmente o faz por obrigação; entretanto, para caminhar voluntariamente a segunda “milha’, só o faz quem é nascido de novo, e por amor a Jesus. Apesar da agressão contra a nossa vontade, a atitude do seguidor de Cristo é o exercício do perdão. Muitas pessoas são incapazes de perdoar aqueles que lhes prejudicam. O perdão é a transcendência do amor, é vencer o mal com o bem.
Essa passagem de Mateus 5:41 é uma alusão ao trabalho forçado que os soldados podiam exigir dos cidadãos comuns para transportar sua carga por certa distância (uma milha era o termo usado para mil passos). Os judeus odiavam essa lei porque os forçava a mostrar sua submissão a Roma. No entanto, Jesus disse para tomar a carga e carregá-la por duas milhas. Jesus estava pedindo uma atitude servil (como Ele mostrou ao longo de Sua vida, e especialmente na cruz). As suas palavras provavelmente surpreenderam os ouvintes. A maioria dos judeus, que esperava um Messias militar, nunca esperaria ouvir Jesus pronunciar uma ordem contra a retaliação, e de cooperação com o odiado império Romano. Mas estas palavras de Jesus estavam revelando que seus seguidores pertenciam a outro Reino; eles não precisavam tentar lutar contra Roma, porque isso não estava de acordo com o plano de Deus; deveriam, antes, trabalhar em benefício do Reino de Deus. Se isso significasse caminhar uma milha a mais carregando a carga de um soldado romano, então era exatamente isso que deveriam fazer. Ser cristão de verdade não é fácil! Só o Espírito Santo pode nos mover à obediência de caminhar uma milha a mais carregando a carga do inimigo!
5. Fazer alguma coisa por alguém
“Dá a quem te pedir e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes” (Mt.5:42). Aqui, Jesus reafirma o que Moisés ensinara em Deuteronômio 15:7-11. Nunca devemos nos negar a dar. Dar é tanto um privilégio como uma responsabilidade. “Mas bem-aventurado é dar que receber” (Atos 20:35). Os seguidores e Jesus, portanto, devem estar dispostos a colocar as necessidades dos outros à frente das suas próprias necessidades.
III. BUSCANDO A PERFEIÇÃO DE CRISTO
1. Uma justiça mais elevada
A justiça, exigida por Cristo no Sermão do Monte (Mt.5:43-48), é mais elevada porque ela estabelece um padrão que é incompatível com a natureza humana caída. Ali, Jesus explica que os seus seguidores devem viver de acordo com um padrão mais elevado do que aquele esperado pelo mundo, e, até mesmo, dos padrões aceitos pelas religiões do mundo. Disse Jesus: “Amai a vossos inimigos... e orai pelos que vos maltratam e vos pespeguem” (Mt.5:44). Por que o mandamento de amar os inimigos? Porque isso identificará os seguidores de Jesus como pessoas diferentes, que têm o coração e a mente dirigidos somente a Deus, que é o único que pode ajudá-los a agir deste modo. Qualquer um que pode amar alguém que o ama, isso acontecia naturalmente até com os corruptos publicanos (coletores de impostos). Da mesma maneira, “se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim?” (Mt.5:47). Se nossos padrões não são mais altos que os do mundo, é óbvio que nunca causaremos um impacto no mundo. Portanto, se você puder amar o vosso inimigo e orar pelos que vos maltratam e vos perseguem, então você estará mostrando realmente que Jesus é o Senhor da sua vida. Aqueles discípulos que vivem para Cristo e são radicalmente diferentes do mundo receberão sua recompensa.
2. O amor mais perfeito
Disse Jesus: “Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos...” (Mt.5:43,44). Este ensino de Jesus concernente à mais alta retidão exigida no seu Reino nos manda amar o nosso inimigo, caso exista, claro. A lei tinha ensinado aos israelitas a amar o próximo (Lv.19:18), mas os rabinos alteraram a lei de Deus, acrescendo ao mandamento: “...e aborrecerás o teu inimigo” (Mt.5:43). Essa declaração não aparece na Lei. Não consta em Levítico 19:18. Foi um acréscimo ilegítimo dos mestres da Lei. Textos como Êxodo 23:4,5 indicam exatamente o contrário. Jesus repudiou firmemente essa conclusão rabínica.
Em Romanos 12:20, Paulo cita Provérbios 25:22 para exortar que devemos tratar os nossos inimigos amavelmente. Jesus nos ensinou a orar pelos nossos inimigos - “amai a vossos inimigos” (Mt.5:44), e Ele mesmo o fez quando estava pendurado na cruz. O amor aqui descrito é ágape, que significa benevolência invencível, infinita boa vontade. Isso significa que devemos amar a pessoa, não importa quem ela seja ou que tenha feito contra nós. Esse amor não é questão apenas de sentimentos, mas, sobretudo, de atitude, atitude benevolente.
É claro que amar o inimigo não é o mesmo que as afeições naturais, porque não é natural amar os que o maltratam e o odeiam. Amar o inimigo é uma graça sobrenatural, e somente pode ser manifestada pelos que nasceram de novo e têm o Espírito Santo em sua vida. Jesus disse que seus seguidores deveriam retribuir o mau com o bem, a fim de que pudessem ser filhos do Pai celeste (Mt.5:45). Ele não está querendo dizer que esse é o caminho para se tornar filho de Deus; pelo contrário, é para mostrarmos que somos filhos de Deus. Já que Deus não mostra parcialidade aos maus e bons (ambos se beneficiam do sol e da chuva), deveríamos agir com todos de forma graciosa e honesta. “O perfeito amor é um interesse ativo por todas as pessoas, em todos os lugares, independentemente de elas receberem ou não esse amor” (Roberto H. Mounce. Mateus).
3. Perfeitos como o Pai
Disse Jesus: “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está no céu” (Mt.5:48). O que Jesus quer dizer aqui? A perfeição para a qual Jesus conclama seus seguidores está definida no contexto. Não significa sem pecado ou impecável. Os versículos anteriores explicam que para ser perfeito, precisamos amar os que nos odeiam, orar pelos que nos perseguem e mostrar bondade tanto para com os amigos como para com os inimigos. Os seguidores de Cristo poderão ser perfeitos, se o comportamento for apropriado ao seu nível de maturidade espiritual, isto é, perfeitos, mas, ainda com muito espaço para crescer. Perfeição, aqui, portanto, é a maturidade espiritual que faz o cristão capaz de imitar Deus, ministrando bênçãos e perdão a todos sem parcialidade.
Com frequência, Mateus 5:48 tem sido mal interpretado; tem servido como texto-base para a doutrina da perfeição cristã, que requer do cristão impecabilidade moral absoluta. Isso jamais acontecerá aqui, pois a nossa natureza carnal não foi removida quando da nossa conversão. Ainda buscamos a medida da estatura completa de Cristo (Ef.4:13), que se concretizará somente na nossa glorificação, que ocorrerá quando formos arrebatados pelo Senhor Jesus por ocasião de sua volta; nesse glorioso evento, o nosso corpo, que é mortal, se revestirá da imortalidade (1Co.15:54) e, portanto, a presença do pecado será debelada para sempre. Portanto, “convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade e que isto que é mortal se revista da imortalidade” (1Co.15:53), para que nos tornemos perfeitos como o Pai celestial.
CONCLUSÃO
O nosso Senhor resumiu toda a lei ao dizer que o seu objetivo é levar os homens à plenitude do amor. Portanto, quer cumprir a Lei de Deus de todo coração? Ame indistintamente. Contra o amor não há lei. Por quê? Porque o amor é o cumprimento da lei (Rm.13:10). Em vez de decorarmos uma lista de "pode e não pode", devemos fazer tudo baseado no amor divino, então cumpriremos a lei de Deus na íntegra. Disse o apóstolo Paulo: “... tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor" (Rm.13:9,10).