I – O QUE É MOTIM - Prosseguindo o estudo dos relacionamentos familiares, veremos hoje a necessidade da obediência ao Senhor na vida familiar. - Antes de fazermos a análise do caso bíblico e dele extrair os princípios e diretrizes concernentes a este tema, verifiquemos qual é o papel da obediência ao Senhor na vida familiar. - O título da lição é elucidativo: “motim em família”. O que é um motim? Motim é uma rebelião, um movimento de insubmissão. A palavra vem do francês “mutin”, que significa “insubmisso, rebelde” e que passou a significar “sedição, rebelião, revolta”. - Podemos, pois, entender que o primeiro “motim” ocorrido no Universo foi a rebelião provocada por Satanás, quando uma terça parte dos anjos o seguiu na sua vã tentativa de tomar o lugar de Deus, de assentar acima do Seu trono (Cf. Is.14:12-15. Ez.28:13-19; Ap.12:3,4). - Este movimento de rebelião somente é possível porque o Senhor dotou tanto os anjos quanto os homens de livre-arbítrio, ou seja, a capacidade de escolha entre o bem e o mal, sendo o bem aquilo que é recomendado, aconselhado e querido por Deus e o mal, aquilo que é censurado, desaconselhado e que Deus disse que não quer que seja feito. - Tem-se, pois, um “motim” quando se faz um movimento em desacordo com a vontade divina, quando se age contrariamente aos desígnios do Senhor. - A expressão é comumente usada nas embarcações, no ambiente marítimo, pois as rebeliões feitas nas embarcações contra o comando exigiam, antigamente, muito “movimento”, o deslocamento de pessoas na embarcação para tomar as posições de quem comanda ou está a serviço de quem comanda a nave.- Tem-se, pois, que, num “motim”, há uma mudança de comando, uma modificação de rumo, uma alteração de rumo, rota ou percurso. - A rebelião nada mais é que esta mudança naquilo que é traçado pelo “Supremo Comandante”, uma mudança de rumo, percurso, rota, que leva, como ocorre nas embarcações, a um destino outro que não o previamente planejado por quem estava na condução do navio. - Pois bem, enquanto estamos nesta “peregrinação terrena” (Cf. I Pe.1:17), “navegando no mar desta vida”, e é elucidativo que as águas, notadamente os mares sejam, rotineiramente, figuras das nações existentes na face da Terra no texto bíblico (Cf. Ap.17:15), temos de ter como piloto o Senhor, uma vez que Ele nos quer bem e pode nos levar, seguros, até o destino por Ele querido, que é o de habitarmos com Ele eternamente na Nova Jerusalém, a cidade que nos preparou para desfrutarmos da sempiterna comunhão para a qual o ser humano foi criado (Cf. Ap.21:3). - No entanto, se houver um “motim” ao longo da jornada, se tirarmos o piloto da condução desta embarcação, haverá uma alteração de rumo, percurso e rota e, por conseguinte, não chegaremos àquele porto seguro desejado por Deus para nós e, por nossa própria conta e risco, acabaremos em outro lugar, que é precisamente aquele que foi destinado aos primeiros amotinados, que, como vimos, foi o diabo e seus anjos, que é o lago de fogo e enxofre (Cf. Mt.25:41). - Nesta “peregrinação terrena”, não estamos sós. Não é bom que o homem esteja só (Cf. Gn.2:18) e, por isso mesmo, o Senhor providenciou que o ser humano tivesse a companhia de seus semelhantes nesta jornada, a começar da família, criada precisamente para que o homem não se sentisse solitário. - Nesta “embarcação da vida”, portanto, iniciamos na companhia de nossos pais e, depois, despertados do “sono de Adão”, unimo-nos a alguém do sexo oposto pelos laços do matrimônio, compartilhando com ele da nossa embarcação, onde surgem os frutos do amor conjugal, os filhos, que conosco caminham parte da jornada, até formarem as suas próprias embarcações. - Nesta vida familiar, não pode haver motins, não podemos nos rebelar contra o Senhor, que deve ser o comandante do barco. Aquele que estabelece o plano de navegação, pois só Ele pode nos levar até o destino seguro, que, como vimos, é a morada eterna aonde nos quer levar. - A família é a companhia que temos para chegarmos ao destino querido por Deus a nós. É o lugar primeiro onde desfrutamos não só a comunhão com o próximo, mas também com o próprio Senhor. Adão e Eva conviviam entre si no Éden, mas também tinham a visita diária de Deus na viração do dia (Cf. Gn.3:8), pois a família é o primeiro local onde Deus Se manifesta ao homem. - Na vida familiar, portanto, temos de estar sob a direção de Deus, é Ele o nosso piloto, o nosso comandante, o nosso capitão. Aquele que nos conduzirá até a Canaã celestial. Por isso, é dito que o homem é a cabeça da mulher, mas Cristo, a cabeça do homem e Deus, a cabeça de Cristo (Cf. I Co.11:3). - Devemos ser fiéis a Deus em nossas casas, ou seja, em nossas famílias, como foi Moisés (Cf. Hb.3:2), mas não podemos jamais nos esquecer que quem edifica a casa é o próprio Senhor (Cf. Hb.3:3,6) e esta casa somos nós e a nossa família e, para tanto, como nos ensina o escritor aos hebreus, precisamos conservar firme a confiança e a glória da esperança até o fim (Hb.3:6). - A proposta do Evangelho é a salvação de cada um de nós e, também, de nossa família, como deixou claro o apóstolo Paulo ao pregar a Palavra ao carcereiro de Filipos (At.16:31). - Sob a direção divina, a família é abençoada (Cf. Gn.1:28;). A família é, por assim dizer, o primeiro lugar em que Deus quer abençoar o homem, tanto que a primeira bênção dada ao homem o foi em família, pois o Senhor não abençoou Adão quando o criou, nem tampouco Eva, quando a criou, mas quando ambos já existiam, aí, sim, os abençoou (Gn.1:28) e, de igual modo, no recomeço da Terra, abençoou a Noé e sua família (Gn.9:1). - Além de abençoar, o Senhor, como já dissemos, quis manter uma convivência com a família, encontrando se com o primeiro casal toda viração do dia. A família é o primeiro local de adoração a Deus, o primeiro lugar onde se deve manifestar a presença divina. - Tanto assim é que, após a queda, vamos ver que Adão e Eva ensinaram seus filhos a oferecer sacrifícios a Deus, a adorá-l’O, a cultuá-l’O, o que foi feito por ambos, Caim e Abel, desde o instante em que puderam fazê-lo. E Deus mantinha diálogo com eles. - Diferente não foi na família onde nasceu o próprio Jesus. Vemos como o Senhor tudo dirigiu, a fim de que José e Maria se casassem, apesar da concepção de Jesus, como também sempre os guiou para que não só as profecias se cumprissem, mas fossem eles protegidos da fúria do inimigo. - Deus quer abençoar a família, estar presente com os integrantes da família, a fim de que possa dirigilos sempre. É o “comandante do barco”, que, sendo seguido e obedecido, fará com que todos os integrantes da família cheguem até o destino pretendido: a Nova Jerusalém. - Ao longo da viagem, surgem, sim, tormentas, aparecem, sim, inimigos, mas, quando temos o Senhor no barco, a tempestade passa, os inimigos são repelidos, e, deste modo, chegamos ao porto seguro. - No entanto, se houver motim, se houver rebelião, se tomarmos a direção do barco, se pusermos para fora o comandante e traçarmos nós mesmos os planos e os destinos, não chegaremos ao porto seguro, perderemos a bênção, a companhia e a direção e o fracasso é certo. - Não é porventura o que temos visto e assistido à nossa volta, inclusive entre cristãos que se dizem ser? As rotas e comportamentos traçados por Deus têm sido abandonados. Não há mais a busca da presença de Deus, não se tem mais adoração, nem diálogo com o Senhor. - Não se atendem aos planos traçados pelo Senhor e são construídos outros projetos, outros destinos e o Senhor não é mais ouvido, é deixado à parte como fizeram os discípulos no meio daquela tempestade no mar da Galileia (Mt.8:24; Mc.4:37,38; Lc.8:26). - O resultado disto é que o Senhor Se afasta, nós O pomos fora do barco, como fez o anjo da igreja de Laodiceia (Cf. Ap.3:20) e, como consequência disso, não perdemos o rumo, como também a proteção. Lembremos que, quando os discípulos acordaram Jesus no barco, disseram que estavam a perecer (Cf. Mt.8:25; Mc.4:38; Lc.8:24) e é exatamente a morte que esperam todos os integrantes de uma família que deixa de seguir a Jesus, de ser dirigida por Ele. - Não demorará e a família sucumbirá nas “águas do mar da vida”, deixando de chegar ao porto seguro e atracando no lago de fogo e enxofre, onde somente a aguarda o tormento eterno (Mt.25:46). - Não há outro caminho que a vida familiar deva seguir senão o de buscar a presença de Deus, de obedecer rigorosamente ao Seu comando e aos Seus planos, o que exige uma vida de comunhão com Deus e obediência à Palavra de Deus. - Vejamos que, no chamado “salmo da família” (Sl.128), todo o bem-estar familiar tem como ponto de partida o temor ao Senhor e o andar nos Seus caminhos, ou seja, na observância da Palavra de Deus, na obediência (Sl.128:1).
- O salmista é
bem claro ao nos mostrar que a comunhão em família, não só conjugal, mas também
com os filhos decorre destas duas atitudes (Sl.128:3) e que daí advém a bênção
que, inclusive, se espraia pela sociedade (Sl.128:5,6). - Bem diferente é o
caminho de quem prefere o “motim”. Quando nos rebelamos contra Deus, a família
toda padece e, por vezes, é destruída. Não foi o que ocorreu com Acã e sua
família, ao desobedecerem ao anátema estabelecido por Deus em Jericó (Cf.
Js.7:20-26)? - Foi o que ocorreu, igualmente, com as famílias de Datã e Abirão,
que ousaram se rebelar contra a liderança instituída por Deus na pessoa de
Moisés e que, por causa disso, foram engolidas vivas pela terra (Nm.16:27- 33).
- Notemos, aliás, neste episódio que os filhos de Corá não acompanharam seu
pai, ao contrário das famílias de Datã e Abirão e por terem permanecido fiéis
ao Senhor, não só não pereceram como passaram a criar uma tradição de adoração
a Deus que fez com que, séculos depois, fossem os descendentes de Corá um grupo
de salmistas, que pessoas que participaram da própria elaboração das Escrituras
Sagradas (são da autoria dos filhos de Corá os salmos 42 a 49, 85, 87 e 88). -
Saul, também, em virtude de sua rebeldia, levou à destruição de toda a sua
família, tendo restado somente Mefibosete, e isto por causa da piedade de
Jônatas e de sua submissão à vontade divina quando da escolha de Davi para
suceder a Saul (I Cr.10:6,13). - A desobediência a Deus, também, foi a razão
pela qual todas as dinastias do reino do norte, o reino das dez tribos, foram
igualmente destruídas ao longo da história daquele reino (I Rs.13:33,34;
14:7-14; 15:29; 16:3-7; 21:22; II Rs.10:11; 15:10-12,14,25,30).
II – CASUÍSTICA
BÍBLICA: O MOTIM DE ARÃO E MIRIÃ CONTRA MOISÉS - Para falar a respeito do motim
em família, nosso comentarista bíblico escolheu a passagem de Números 12,
quando Arão e Miriã se levantam contra seu irmão Moisés, aumentando ainda mais
a contestação à autoridade deste líder do povo de Deus, em momento delicado por
que passava Israel no deserto. - O povo estava há quase dois anos no deserto e
se aproximava da Terra Prometida. Era grande a ansiedade para o início da
conquista e, quando há ansiedade, tem-se, naturalmente, uma sensação de demora,
de que o tempo não passa. - Aproveitando-se de tal circunstância, alguns
começaram a se queixar desta demora e do estado de coisas que estavam a passar,
caminhando dia e noite no deserto e nunca chegando a Canaã. Esta queixa
generalizou-se e isto foi mal aos ouvidos do Senhor que, então, mandou um fogo
consumidor, que consumiu os que estavam na última parte do arraial (Nm.11:1). -
Tem-se aqui uma eloquente demonstração de que o Senhor não Se agrada da
murmuração, das queixas dos homens que refletem uma ingratidão a Deus que a
todos dá, todos os dias, o sol e a chuva, as condições para a nossa
sobrevivência, independentemente de nossa conduta diante d’Ele (Mt.5:45). - A
única coisa pela qual podemos nos queixar são os nossos pecados (Lm.3:39),
porque estes, sim, causam-nos mal, pois trazem consequências em virtude da lei
da semeadura e se não houver arrependimento, levarnos-ão para a perdição
eterna. - Mas, mesmo com o fogo consumidor, o povo não se endireitou. O vulgo
que estava entre os israelitas, ou seja, aqueles que saíram junto com os filhos
de Israel (Ex.12:38), começaram a ter grande desejo dos alimentos do Egito e
acabaram por influenciar todo o povo que passou a ter também este desejo,
passando a ser saudade do Egito e, inclusive, a desprezar o maná que o Senhor
lhes dava diariamente (Nm.11:4-6).
- Eis o
problema de convivermos e termos comunhão com “a mistura de gente”, com os
mundanos que estão em nosso meio dizendo-se irmãos, com os quais não devemos
sequer comer (I Co.5:11). - Temos aqui já uma lição; não podemos ter comunhão
com os “falsos irmãos”, inclusive e em especial, em nossos lares. Devemos
evitar a convivência com pessoas que, dizendo-se cristãs, têm mau testemunho,
revelam não serem pertencentes ao povo de Deus, mas apenas “um vulgo” que está
em nosso meio, mas não faz parte do corpo de Cristo. - Tais pessoas somente
irão provocar “o desejo” em nossas famílias, fazê-las desenvolver uma
carnalidade, um mundanismo, fazê-las desprezar “as coisas de cima”.
Lamentavelmente, muitos lares cristãos estão a se distanciar dos caminhos do
Senhor por dar ouvido a este tipo de gente. Tomemos cuidado, amados irmãos! - A
murmuração generalizada abalou a estrutura emocional de Moisés. O povo todo
passou a chorar e a se lamentar e o líder foi contagiado por esta
circunstância, sendo tentado a desistir da tarefa que Deus lhe cometera. -
Moisés, então, também se queixou diante de Deus, achando muito pesado o encargo
de que fora investido (Nm.11:11-15). Veja, irmão, como é terrível a murmuração.
Como diz Emílio Conde (1901-1971): “No mundo murmura-se tanto entre os que
cristãos dizem ser, em vez de louvores, há pranto, fraqueza em lugar de poder”
(primeira estrofe do hino 302 da Harpa Cristã). A murmuração traz fraqueza
espiritual, que contagia a todos quantos a ouvem. - A situação chegou a tal
ponto que Moisés pediu a própria morte, e, diante deste estado de coisas, o Senhor,
então, mandou que Moisés ajuntasse setenta homens dos anciãos de Israel,
pusesse-os perante a tenda da congregação e, então, o Senhor passaria do
Espírito que estava em Moisés aos setenta, para que eles, juntamente com o
líder, pudessem liderar a Israel (Nm.11:16,17). - Além desta providência para
retirar o pesado encargo do governo daquele povo dos ombros de Moisés, o Senhor
disse que mandaria carne para o povo, que, durante um mês, haveria de se
alimentar de carne (Nm.11:18-20), em que Moisés não acreditou, sendo
repreendido por esta incredulidade pelo Senhor (Nm.11:23). - Aconteceu como
Deus havia dito. Os setenta anciãos profetizaram uma única vez, para comprovar
ao povo que estavam passando a repartir o ônus da liderança com Moisés e o povo
começou carne até enjoar. - Entretanto, a murmuração não tinha parado aí o seu
prejuízo. Ela também atingiu os dois irmãos de Moisés, Arão e Miriã. A ebulição
das queixas e ressentimentos fez ressurgir, entre os dois irmãos do líder, as
mágoas e desacertos que havia entre eles e a mulher de Moisés, a cuxita, que
não era, como dizem, uma “segunda mulher de Moisés”, mas era a mesma Zípora,
com quem Moisés se casara em Midiã. - A lembrança do Egito, feita pelo vulgo,
fez renascer nos corações de Arão e Moisés as diferenças que tinha com a mulher
de Moisés, mulher de temperamento extremamente difícil, que, inclusive, havia
abandonado Moisés e voltado para a casa de seu pai quando Moisés iniciou seu
retorno ao Egito onde iria libertar o povo (Ex.4:20-26). - Zípora não tinha
sido uma boa escolha de Moisés, que com ela se casou num momento em que estava
espiritualmente abalado e fora da direção do Senhor. Agora, quando ia
finalmente cumprir o seu papel de libertador, é abandonado pela mulher,
justamente porque Deus exigiu que seus filhos fossem circuncidados. - Após a
libertação, porém, Jetro, sogro de Moisés, traz de volta a mulher e os filhos
para o líder (Ex.18:1-7). Moisés, para poder liderar o povo, tinha que também
liderar a sua própria família!
- Arão
encontrou-se com Moisés logo após a separação de Zípora (Ex.4:27) e,
certamente, desde então nutriu uma opinião não muito agradável da cunhada, até
porque recebeu informações a respeito dela por meio de Moisés num momento em
que mágoa e ressentimento deveriam ser imensos. - Miriã era a irmã mais velha
de Moisés e por ele nutria grande admiração, pois fora ela, inclusive, a grande
responsável por Moisés ter sido criado por sua própria mãe Joquebede, o que foi
fundamental para incutir nele os valores e princípios divinos, que deram a
Moisés a base para que fosse o líder dos filhos de Israel. - Além do mais,
Miriã era profetisa (Ex.15:20), ou seja, o Senhor a havia escolhido para que
anunciasse a Sua Palavra ao povo, e isto mui provavelmente durante o tempo em
que Moisés esteve em Midiã. - Tendo toda esta afeição por Moisés e sendo sua
irmã mais velha, natural que também não nutrisse por Zípora simpatia, até
porque, ao reencontrar seu irmão, encontrá-lo-á na mesma situação emocional
adversa com que se encontrara com Arão. - A erupção de mágoas e ressentimentos
quando se tem uma situação de murmuração é uma constante e, então, Arão e
Miriã, envolvidos por este clima de fraqueza, acabam por se rebelar contra
Moisés. - Arão e Miriã questionaram a liderança de Moisés, entendendo que eles
tinham, também, que serem respeitados como autoridade diante do povo. Traziam,
assim, entreveros familiares para o trato da própria liderança do povo,
procedimento que sempre se deve evitar. - É bem verdade que não se pode
conceber uma liderança diante do povo de Deus que não seja uma liderança
exemplar no seio de sua família. É requisito para o episcopado, para o
ministério que a pessoa saiba bem governar a sua casa, pois quem não o faz
logicamente não poderá bem governar a casa de Deus (I Tm.3:4,5). - Entretanto,
isto não autoriza, em absoluto, que o exercício da liderança diante do povo de
Deus seja um “negócio familiar”, que a família do líder faça valer desta
circunstância para intervir e até compartilhar a liderança, como se se tratasse
de uma “empresa familiar”. - Arão e Miriã devem ter ficado magoados e
ressentidos pelo fato de terem sido excluídos do compartilhamento da liderança
de Moisés, não estava Arão entre os setenta anciãos, nem tampouco Miriã, até
porque se tratava de uma mulher. - Talvez, quem sabe, tivessem culpado Zípora
pelo fato de não terem sido escolhidos entre os setenta, ou, ainda, de terem
efetivamente perdido influência diante desta repartição de poder, mas o fato é
que quiseram confundir a posição familiar com a posição de liderança e avocar
para si um papel que Deus não os tinha dado diante do povo de Israel. - Notemos
que Arão era sumo sacerdote, portanto havia recebido de Deus um importantíssimo
encargo, mas também se achava no direito de querer opinar quanto ao governo
cotidiano do povo e aqui se tem uma eloquente demonstração de que o Senhor
nunca quis que, em Israel, o sumo sacerdócio se confundisse com o governo. -
Com relação a Miriã, deve ter ela sentido também diminuir sua posição frente ao
povo, porquanto era ela a única profetisa além de Moisés e agora setenta
anciãos haviam profetizado, perdera ela, assim, a sua “exclusividade”. - Diante
de tal quadro, ambos passaram a falar contra Moisés, questionando a liderança
do irmão, dizendo que Deus não só havia falado por Moisés, mas também por eles
dois, querendo, com isso, Arão dizer que era tanto líder quanto Moisés, por ser
o sumo sacerdote e Miriã, por todo o histórico, também dizer que, por ser
profetisa, tinha, também, o poder de falar em nome de Deus, como Moisés.
- O grande
problema da rebelião está, precisamente, em se pôr no lugar de Deus. O primeiro
rebelde, o querubim ungido, o foi precisamente porque ser semelhante ao
Altíssimo (Is.14:13,14), não quis ficar na posição que lhe havia sido atribuída
pelo Senhor. - Moisés era exatamente o avesso desta condição, tanto que o texto
é claro ao dizer que Moisés era o varão mais manso que havia sobre a terra
(Nm.12:3) e uma das características da mansidão, notadamente na palavra
original hebraica que aqui é utilizada é de submissão, humildade e
subserviência. Embora fosse o líder, Moisés estava sempre pronto a obedecer a
Deus, tanto que o Senhor o chama de “servo fiel em toda a Minha casa”, ou seja,
Moisés era, antes de tudo, um servo e assim será identificado por Deus mesmo
após a sua morte (Js.1:1). - Arão e Miriã não se contentaram com a posição que
lhes fora dada pelo Senhor e quiseram, assim, derrubar Moisés da sua posição,
para poder ocupá-la. A rebelião, quase sempre, está aliada a um sentimento de
inveja e de tentativa de prejuízo de alguém. - Em nossa vida familiar, devemos
saber qual o papel que o Senhor nos destinou, consoante a Sua Palavra, devendo
ser a família um local onde deva sempre prevalecer o princípio da autoridade,
até porque a máxima autoridade ali sempre será Deus (I Co.11:3). - Nos dias
hodiernos, há uma campanha orquestrada para que se banalize e se despreze o
princípio da autoridade, havendo, mesmo, um incentivo e estímulo à rebelião no
seio familiar. - A própria legislação, em nosso país, não mais reconhece o pai
e marido como o chefe do casal, criando uma direção compartilhada entre marido
e mulher que, quando dá em impasse exige a intervenção estatal. - Com relação
aos filhos, então, há também um esforço para que sua autoridade seja cada vez mais
diminuída, ao mesmo tempo em que o Estado vem assumindo protagonismo crescente
na própria educação das crianças e adolescentes. - Tudo isto nada mais é que a
operação do “espírito do Anticristo” (I Jo.4:3), do “mistério da injustiça” (II
Ts.2:7), que prepara o caminho para o estabelecimento do governo mundial da
besta, prestes a tomar o poder. - O texto sagrado diz que Deus ouviu o que Arão
e Miriã estavam a falar e, assim como não Se agradou da murmuração anterior do
povo e até mesmo de Moisés, também ficou desagradado com o que ouviu. Deus ouve
tudo que falamos, amados irmãos! - O Senhor, então, mandou que os três irmãos
saíssem à tenda da congregação e se manifestou em uma nuvem, onde reafirmou a
liderança de Moisés, inclusive dizendo que seria ele um profeta singular, que
boca a boca falaria com o Senhor, enquanto que os demais profetas somente
teriam manifestações em visões e sonhos. - O Senhor mostra, assim, toda a Sua
soberania. Ele havia escolhido Moisés e para uma posição singular no meio do povo
de Israel, singularidade que é tanta que o próprio Cristo será mostrado como
sendo “um profeta como Moisés” (Dt.18:18). Deste modo, não poderiam Arão e
Miriã questionar a posição de Moisés. - O Senhor, ainda, realçou que Moisés era
fiel em toda a casa de Deus, ou seja, havia se portado com fidelidade em todos
os momentos em Israel, o que não era o caso de Arão, que já havia falhado no
episódio do bezerro de ouro, e de Miriã, que agora falhava. - Quando a nuvem se
desviou sobre a tenda, Miriã estava leprosa como a neve, porque havia pecado
gravemente, pois a rebelião era pecado de rebelião.
- Mas por que
Arão não ficou leproso também? Por que só Miriã? Porque Arão era o sumo
sacerdote, sobre ele havia a unção do sacerdócio e, ademais, era ele quem
deveria declarar que Miriã estava leprosa. - Com tal gesto, também, o Senhor
mostrou que cada um tinha o seu devido lugar, precisamente aquilo que ambos os
rebeldes estavam a questionar. - Ademais, Arão, assim que viu Miriã leprosa,
pediu perdão, arrependendo-se do que havia feito, enquanto Miriã ficou sem
qualquer reação, a indicar que não havia demonstrado arrependimento. Arão não
somente se arrependeu como também intercedeu por sua irmã, exercendo, assim,
precisamente o seu papel de sumo sacerdote. - Temos aqui que aquele que
confessa e deixa alcança misericórdia (Pv.28:13). Deus nunca despreza um
coração contrito e quebrantado (Sl.51:17). No episódio do bezerro de ouro,
aliás, temos também sinais do arrependimento de Arão e de seu papel
intercessório subsequente (Ex.32:22-25). - Moisés, ante este pedido de Arão,
clamou ao Senhor pelo restabelecimento da saúde de sua irmã. Vejamos que, por
mais afeição que tivesse por Miriã, por maior mal que ela lhe estava a fazer,
Moisés não tomou nenhuma atitude pessoal. Ante o pedido de Arão, clama a Deus,
deixando ao Senhor a decisão, reconhecendo a soberania divina, não pedindo nem
bem nem mal pela sua irmã. Moisés não confundia as coisas, sabia ser o
libertador de Israel e o irmão de Miriã. - O Senhor ouve o pedido de Moisés,
mas quer mostrar ao povo o grave pecado cometido. Compara a murmuração e motim
feito por Miriã ao cuspe no rosto feito pelo pai, gesto que demonstrava que o
filho havia desonrado, aviltado a autoridade paterna. Foi exatamente isto que
Miriã fez ao questionar a autoridade de Moisés. - Segundo a lei, quem sofresse
este gesto, deveria ficar por sete dias envergonhado, separado da sociedade,
passando vergonha pela sua rebelião. Por isso, Miriã ficou sete dias separada,
como leprosa, de todo o Israel, fechada, ou seja, sem se locomover, quando,
então, foi curada por Deus e pôde retornar ao convívio social. - O povo ficou
sete dias naquele lugar (Hazerote) até que Miriã sarasse, tempo que Deus deu
para o povo meditar sobre a necessidade de obedecer à autoridade e de jamais se
rebelar contra a ordem instituída por Deus. - Que não precisemos passar
vergonha nem causar um prejuízo para toda a sociedade para aprendermos a mesma
lição e cumpramos, cada um, o seu papel em família, sem confundir este papel
com os demais encargos que nos forem dados pela sociedade e por Deus, para que
não sejamos prejudicados, nem causemos prejuízos a ninguém. Amém!