Texto Base: Romanos 3:9-20
“Por isso, nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm.3:20).
Romanos 3:
9.Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma! Pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado,
10.como está escrito: Não há um justo, nem um sequer
11.Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus.
12.Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só.
13.A sua garganta é um sepulcro aberto; com a língua tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo de seus lábios;
14.cuja boca está cheia de maldição e amargura.
15.Os seus pés são ligeiros para derramar sangue.
16.Em seus caminhos há destruição e miséria;
17.e não conheceram o caminho da paz.
18.Não há temor de Deus diante de seus olhos.
19.Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus.
20.Por isso, nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado.
INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos como a deturpação da doutrina bíblica do pecado pode distorcer a compreensão espiritual. A Queda do homem no Éden trouxe sérios transtornos para todos os seres humanos subsequentes, e para toda a criação. Além da morte física e espiritual (Rm.5:12), a Queda maculou o coração do ser humano e corrompeu a sua natureza, levando-o à inclinação do erro de forma contumaz e irremediável. Disse o apóstolo Paulo: “Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Rm.5:12). Mas, a morte vicária de Cristo na cruz do calvário trouxe salvação para toda a humanidade; agora, todo aquele que nele crer tem a vida eterna (João 3:16).
No entanto, a presença e o poder do pecado ainda cercam a natureza humano. É preciso, então, ter cuidado com o pecado, pois ele é maligníssimo; ele pode levar a pessoa mais longe do que ela quer ir - ele promete prazer e paga com o desgosto; levanta a bandeira da vida, mas seu salário é a morte; tem um aroma sedutor, mas no final cheira a enxofre e sofrimento eterno. Ele é pior do que a pobreza, do que a solidão, do que a doença; enfim, o pecado arruína o corpo, a alma e afasta a pessoa eternamente de Deus. Apenas os loucos brincam com o pecado. A maneira correta de lidarmos com ele é nos arrependermos sinceramente e buscar em Deus o perdão, a graça e a misericórdia (Sl.51; Hb.4:16; 7:25). Mas, infelizmente, em muitos redutos que se dizem cristãos, a Doutrina do Pecado vem sendo deturpada e enfraquecida, e esse processo tem aberto as portas para a normalização do pecado. Certamente, Jesus Cristo levará isto em conta no dia de Sua volta (cf.Mt.7:22,23).
I. O ENSINO BÍBLICO DA NATUREZA PECAMINOSA
1. Definição de Pecado
O apóstolo João nos dá a verdadeira definição de pecado: “O pecado é a transgressão da lei [de Deus]” (1João 3:4). Concordo com pr. Douglas Baptista quando ele afirma que “a palavra abrange não apenas errar o alvo, mas deliberadamente acertar o alvo errado. Trata-se de rebelião e desobediência contra Deus e a sua Palavra (1Sm.15:22,23)”. John Stott afirma que “o pecado é a revolta do eu contra Deus; é destronar Deus; é autodeificar-se; é a atrevida determinação de ocupar o trono que pertence somente a Deus”.
O apóstolo João diz que a essência do pecado é a ilegalidade. Segundo John Stott, o pecado não é apenas uma falha negativa (hamartia), uma injustiça ou falta de retidão (adikia), mas essencialmente uma ativa rebelião contra a vontade de Deus e uma violação da sua santa Palavra (anomia). Este fato é tão sério que o anticristo, o homem da iniquidade, o filho da perdição, é chamado pelo apóstolo Paulo de “ho anthropos tes anomias” - o homem sem lei, o homem da injustiça (2Ts.2:3).
Warren Wiesbe afirma que “os pecados são frutos, mas o pecado é a raiz, pois qualquer que seja a atitude exterior do pecador, sua atitude interior é a rebelião”. Nesta mesma linha de pensamento, Augustus Nicodemos, analisando 1João, afirma que pecado é transgressão da lei, seja ao fazer aquilo que ela proíbe, seja ao deixar de fazer aquilo que ela manda. Portanto, o crime do pecador é essencialmente a transgressão da Lei de Deus, pela desobediência, descaso, desprezo ou indiferença para com ela. Todo pecado, portanto, é uma rebelião contra a vontade de Deus.
João diz que “aquele que pratica o pecado procede do diabo; porque o diabo vive pecando desde o princípio...” (1João 3:8). O diabo é o pai do pecado. O pecado vem dele; logo, pecar é obedecer àquele que peca desde o princípio, em vez de obedecer a Deus.
Portanto, pecado é a condição do homem rebelde, não regenerado, não nascido de novo, não justificado, não reconciliado com Deus. Para resolver esta situação desastrosa, o ser humano precisa se tornar nova criatura em Cristo Jesus (2Co.5:19).
2. A universalidade do Pecado
“Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Rm.5:12).
A queda de Adão foi o maior desastre da História. Dessa queda decorrem todos os desastres subsequentes. Embora o pecado já tivesse ocorrido no mundo angelical com a queda de Lúcifer, na história humana o pecado foi introduzido pela queda de Adão.
O pecado é uma conspiração contra Deus, é uma transgressão da sua lei, é um ato de rebelião e desobediência a Deus. Sendo livre, Adão escolheu desobedecer a Deus; tornou-se escravo do pecado e por meio do seu pecado precipitou toda a raça humana num estado de rebelião contra Deus. O pecado, então, foi universalizado!
Todos os seres humanos pecaram em Adão, estando nos lombos do seu primeiro pai, o cabeça e o representante da raça humana. Estamos nele de modo especial, não apenas porque ele é a raiz que nos gerou, mas também porque é nosso representante e cabeça. Não apenas herdamos o pecado de Adão, mas somos como ele. Agora, cada qual é seu próprio Adão.
Pelo menos em cinco ocasiões, em Romanos 5:15-19, é apresentado e repetida a realidade de que, pelo pecado de um único homem, todos nós pecamos: “Pela ofensa de um só, morreram muitos” (5:15); “O julgamento derivou de uma só ofensa, par a condenação” (5:16); “Pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte” (5:17); “Por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação” (5:18) e “Pela desobediência de um só, muitos se tornaram pecadores” (5:19).
Portanto, como afirma o pr. Douglas Baptista, o pecado não é passado adiante meramente pela força do mau exemplo, mas é um mal inerente à natureza humana (Rm.7:14-24). Em consequência disso, todo ser humano está debaixo da escravidão do pecado e da condenação da morte (Rm.3:23; 6:23). Apesar de corrompida pelo pecado, a natureza humana pode ser eficazmente regenerada pela fé em Cristo (Rm.3:24; 2Co.5:17).
3. Corrupção Total
Romanos 3:10-12:
10.como está escrito: Não há um justo, nem um sequer; 11.Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus; 12.Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só”.
Estes textos indicam que, por causa da Queda, todo o ser interior do ser humano foi corrompido e está sob o controle do pecado: sua mente (“não há quem entenda”); seu coração (não há quem busque a Deus”) e sua volição (“não há quem faça o bem”). A corrupção é total!
Por causa da injustiça que é praticado por todos (Rm.3:10), nenhum ser humano consegue cumprir as exigências da santa Palavra de Deus. Não há justo, nenhum sequer. Todos estão aquém do padrão da perfeição, e a transgressão da Lei de Deus (1João 3:4) torna o ser humano culpado perante Deus. Há um obscurantismo intelectual em todos os seres humanos (Rm.3:11). A mente do pecador tornou-se obtusa e obscurecida para compreender as coisas espirituais. O diabo cegou o entendimento dos incrédulos. Mediante a graça comum, o homem consegue grandes avanças na ciência e é capaz de extraordinárias façanhas, mas espiritualmente ele vive imerso no mais tosco obscurantismo. Paulo se revoltou com a idolatria de Atenas, a cidade mais culta do mundo antigo; ele considerou a cultura dos grandes influentes da filosofia grega como tempos de ignorância (Atos 17:30).
Aos Romanos, Paulo diz que todos os seres humanos se extraviaram (Rm.3:12). Em vez de reconhecerem a majestade de Deus na obra da criação, perverteram o culto a Deus em vil idolatria. Essa apostasia não foi por falta de luz, mas por rebeldia deliberada. O homem sacudiu de sobre si o jugo de Deus; abandonou a fonte da vida para cavar cisternas rotas; abandonou o Deus verdadeiro para se prostrar diante de ídolos criados por suas próprias mãos (Is.2:8). Abonar a Deus, porém, é desembocar na degradação moral (Rm.5:12). Porque os homens abandonaram a Deus, chafurdaram-se no pântano nauseante das práticas mais aviltantes. Todos os seres humanos deixaram a prática do bem para se entregar à prática do mal.
Diante de tão desastrosa situação, por causa do pecado, somente por meio da graça de Deus o ser humano pode receber capacidade para crer, arrepender-se e ser salvo (R.3:24,25); sozinho, ele não consegue se libertar da escravidão do pecado, é preciso da ajuda do Espírito Santo e de sua graça maravilhosa, divinamente ofertada (R.6:23; Ef.2:8,9).
II. AS TEOLOGIAS MODERNAS
1. Teologia do pecado social
“A teologia latino-americana aponta, além dos pecados litúrgicos, também os pecados sociais evidenciados por meio dos problemas sociais, econômicos e políticos, pecados cometidos por aqueles que fazem uso do seu poder de compra, do seu “capital” para manipular e explorar aqueles que nada tem, não levando em consideração o direito ou dignidade do ser humano, apenas o que é de interesse pessoal das classes mais abastadas. A partir dessa perspectiva pode-se enxergar a existência do pecado estrutural, através do qual se dá a destruição das vidas humanas. Porém, se faz necessário dizer que o pecado está nos mantenedores deste contexto social, que se entregam às estruturas de poder e se usufruem suas facilidades” (Alexandre Alves da Silva).
Eu diria que o pecado social (estrutural) é uma consequência do pecado pessoal, moral, que é o gerador de todos os distúrbios que a sociedade padece, principalmente o distúrbio social. Vive-se num mundo injusto e desigual em todos os sentidos - econômico-financeiro, social, político etc.-, por causa do pecado moral. Este pecado gera injustiça, ou seja, toma indevidamente algo que não é seu, em que acrescenta demasiadamente para um e faz faltar para outrem. Assim, se, ao pecar, afastamo-nos de Deus, o resultado disto é a injustiça, a iniquidade, a desigualdade. Um Dia, o ímpio prestará conta de toda a iniquidade carregada consigo e ouvirão a dura sentença: “nunca vos conheci” (Mt.7:21-23), precisamente porque tem o mal dentro do seu coração (Sl.28:3).
João Paulo II, em sua encíclica sobre a justiça social (Sollicitudo Rei Socialis), disse que "pecado social" ou "pecado estrutural" procede do acúmulo de pecados pessoais. "Trata-se", diz o Papa, "de uma questão de mal moral, o fruto de muitos pecados que conduz às 'estruturas de pecado'".
Considerando que a fonte do "pecado social" ou "pecado estrutural" é o pecado pessoal, a solução encontra-se em nossas ações pessoais. Devemos fazer mais do que mudar "o sistema", devemos mudar a nós mesmos.
Portanto, priorizar a solução das questões sociais como, por exemplo, eliminar a pobreza, a injustiça e a desigualdade, não levando em consideração que a degradação moral é a fonte geradora de todos os males sociais, é uma inversão de valores e uma deturpação do ensino a respeito do pecado. A Igreja de Cristo é terminantemente contra a situação do pecado que traz ao mundo a desigualdade social. A justiça de Deus não compactua com a corrupção, com a fome e o sofrimento dos mais carentes. É mandamento bíblico: “Abre a sua mão ao pobre, e estende as suas mãos ao necessitado” (Pv.31:20).
Enquanto houver governo humano e Satanás continuar solto (ler Ap.20:2), sempre haverá desgraças no mundo, principalmente injustiça e desigualdade social. Por isso, o nosso clamor cotidiano deve ser: “Venha o Teu Reino” (Mt.6:10).
2. Teologia da libertação
A Teologia da Libertação é um movimento apartidário que engloba várias correntes de pensamento interpretando os ensinamentos de Jesus Cristo como libertadores de injustas condições sociais, políticas e econômicas. Ela não se baseia na interpretação bíblica fiel, mas na realidade da pobreza e da exclusão social. Apesar de sua internacionalização, a América Latina reúne seus maiores representantes como o padre peruano Gustavo Gutiérrez, o brasileiro Leonardo Boff e o uruguaio Juan Luís Segundo. Para eles, o estudo teológico não deve estar centrado em doutrinas bíblicas para libertar o homem do pecado, mas na indignação social para libertar o homem da injustiça social, econômica e cultural. Desse impulso surgem as teologias de cunho emancipatório de gênero (transexualidade), de sexualidade (homossexualidade) e de raça. Uma de suas vertentes é a Teologia da Missão Integral (TMI). Ao agregar várias correntes de pensamento, o movimento absorveu crenças da Umbanda, do Espiritismo, do Islamismo e até do Xamanismo.
A Teologia da Libertação foi acusada de deturpar a doutrina cristã ortodoxo tradicional e é criticada por adotar o marxismo como base ideológica. Ela prega um conceito marxista inspirado nas teorías comunistas de Karl Marx, segundo o qual haverá um paraíso na Terra quando os pobres retirarem dos ricos as riquezas e as distribuírem, criando assim uma sociedade sem classes (sic). O mecanismo desta revolução seria a "luta de classes" - os pobres, revoltando-se contra a sua pobreza; agindo assim, conquistariam o poder e assegurariam uma distribuição igualitária de todos os bens materiais. Para o marxista, logo, para a Teologia da Libertação, o único pecado que existe é a acumulação de riquezas, vista por eles como essencialmente ruim. Do mesmo modo, eles veem em qualquer hierarquia um pecado contra a "igualdade" que eles creem existir entre os homens. Assim, este movimento considera que o que realmente importa é pregar entre os pobres a revolta contra os ricos, com o fim de estabelecer uma sociedade igualitária.
Até mesmo a Instituição Católica não concordou com as doutrinas marxistas desse movimento, e dedicou dois documentos a ela na década de 1980, considerando-a herética e incompatível com a sua doutrina e dogmas. Sem dúvida, esse movimento é uma heresia gravíssima e de cunho materialista, tendo como pilar principal as ideias socialistas de Karl Marx. Ele apresenta uma visão de mundo contrária à ortodoxia da doutrina cristã bíblica, e que está disfarçada com um vocabulário aparentemente cristão.
Infelizmente, muitos que cristãos dizem ser, têm caído nas redes deste movimento marxista enganoso. E, apesar de seu declínio nestes últimos tempos, ainda apresenta forte influência no orbe do cristianismo, inclusive em vários segmentos do orbe evangélico tradicional. Isto é um erro crasso, que demonstra um desconhecimento cabal das doutrinas bíblicas ortodoxas. Enquanto a presença e o poder do pecado estiverem impregnados na natureza do ser humano, haverá injustiça e desigualdade social; isto só será extinto quando Jesus voltar para instalar o seu Reino milenial em que será debelada toda a injustiça que hoje impera em todas as instituições governadas pelo ser humano.
3. Liberalismo teológico
O Liberalismo Teológico é uma corrente teológica que tem como premissa principal a negação da inspiração, suficiência, autoridade e inerrância das Escrituras Sagradas.
Por muitos séculos, ou por mais de mil anos, desde que o Cristianismo foi declarado como sendo a religião oficial do Império Romano, isto ainda no início do século IV, a Igreja na medida em que foi assumindo o poder secular foi, também, impondo aquilo que o alto Clero entendia como sendo a Verdade. A Igreja não permitia que seus fiéis, no uso da fé, buscassem eles mesmos a Verdade, conforme revelada na Palavra de Deus. Só os escolhidos, especialmente o Clero alto da instituição, podiam interpretar as Escrituras. A tradição da igreja ocupava lugar de relevo, juntamente com a alegorização das Escrituras. Na Idade Média era comum o emprego de encadeamentos — cadeias de interpretações formadas a partir dos comentários dos pais da igreja. A maior parte dos encadeamentos medievais estava baseada nos pais latinos Ambrósio, Hilário, Agostinho e Jerônimo.
Terminada a Idade Média, com o declínio do poder Papal, a “Igreja” perdeu aquele poder de exigir lealdade absoluta e fidelidade às verdades por ela proclamada. Surgiu, então, o Iluminismo, e a ordem era: tudo o que não puder ser provocado pela razão, deve ser negado. O Iluminismo foi o movimento cultural que se desenvolveu na Inglaterra, Holanda e França, nos séculos 17 e 18. Os filósofos e economistas deste movimento julgavam-se propagadores da luz e do conhecimento, por isso, o nome iluminista. Esse movimento foi fundado de forma especial no Racionalismo proposto por um materialista ateu, um ímpio francês a serviço de Satanás, chamado René Descartes (1596 – 1650).
Assim, baseado na necessidade da prova racional, a fé foi abolida e, com ela, a própria existência de Deus e, por conseguinte, a criação dos céus e da terra, incluindo, é claro, a criação do homem, conforme descrito na Bíblia. Também a própria Bíblia deixava de ser aceita como sendo a Palavra de Deus, pois o próprio Deus, segundo essa teoria, não existia.
No entanto, esta negação radical de verdades tão profundas, arraigadas nas mentes ou nos corações das pessoas, não era assim tão fácil de ser imposta à população. Deus, Sua Palavra, a fé, os sinais sobrenaturais, os milagres registrados na Bíblia, não poderiam ser taxados, abruptamente, como sendo tudo mentira, tudo invenção da Igreja. Satanás sabia que seria necessário suavizar um pouco a negação total das verdades até então aceitas ou impostas. Então nasceu a Teologia Liberal, que foi lançada com o objetivo de se opor ao Racionalismo extremado do Iluminismo. Lançar a dúvida seria melhor que negar de forma categórica – pode ter sido o plano engenhoso de Satanás.
O Iluminismo negou tudo o que o povo conhecia como sendo Verdade - negou a existência de Deus, de sua Palavra, da fé, dos milagres. Só seria aceito como Verdade o que pudesse ser comprovado pela Razão. Porém, se primeiro for lançada a dúvida sobre a honestidade de alguém, essa dúvida passando de pessoa a pessoa, acaba sendo aceita como se fosse verdade. Diríamos que a Teologia Liberal foi sendo aceita dentro deste princípio.
Abriu-se a possibilidade para a dúvida, para a especulação, para o homem pensar e tirar as suas conclusões. Permitiu-se duvidar da autenticidade da Bíblia, da sua inspiração Divina, da sua Inerrância, ou seja, da Doutrina Ortodoxa, segundo a qual a Bíblia não contém qualquer erro, ou seja, que ela é a infalível Palavra de Deus. Permitiu-se duvidar da realidade dos fatos sobrenaturais, ou milagres por ela narrados e transformar em mitos acontecimentos reais que só podem ser aceitos pela fé. Tudo começou quando um daqueles que “dizendo-se sábios, tornaram-se loucos” (Rm.1:22), por nome de Jean Astruc, que viveu entre 1684 e 1766, e que, por inspiração satânica, escreveu um livro no qual pôs em dúvida a autoria dos cinco primeiros livros da Bíblia, como sendo de Moisés.
Conforme afirmamos, pelo caminho da dúvida é mais fácil, com o tempo, fazer crer que uma mentira se pareça com a Verdade. Embora tenha sido esta a raiz história da Teologia Liberal, ela, na verdade, se firmou no final do século XVIII, mas as ideias, deduções e princípios teológicos liberais, humanistas e corrompidos tiveram seu início na primeira parte do século XIX.
Vejamos, suscintamente, alguns pressupostos da teologia liberal:
a) A Bíblia é um documento humano, e não inspirado. A primeira característica da teologia liberal é considerar que a Bíblia é um documento humano, ou seja, não creem no caráter sobrenatural das Escrituras. Consideram-na um livro igual a qualquer outro, um livro que reproduz a história de Israel (Antigo Testamento) e da Igreja primitiva (Novo Testamento), mas que seriam resultado da cultura e da história, tendo o mesmo valor que outros textos religiosos e mitológicos que têm sido encontrados pelos historiadores.
b) Os milagres bíblicos são duvidosos. A teologia liberal se caracteriza por procurar se basear nos estudos científicos e filosóficos atuais, mais do que nas próprias Escrituras Sagradas. Ela utiliza-se de conceitos, princípios e pensamentos de cientistas e filósofos do seu tempo e aplicá-los aos estudos das Escrituras.
Nada há de errado, a priori, do uso de conceitos e de métodos estabelecidos na ciência e na filosofia, mas o teólogo deve, em primeiro lugar, tomar como ponto de partida não a razão, mas, sim, a revelação que se encontra na Bíblia Sagrada, pois são as Escrituras que testificam de Cristo (João 5:39). A verdade é a Palavra (Jo.17:17). Tudo passa, menos a Palavra de Deus (Mt.24:35; 1Pd.1:25).
c) Jesus não é o Filho de Deus. Negando a autenticidade da Bíblia, transformando-a num livro mitológico, negando a veracidade dos milagres nela registrados, é claro que não haveria possibilidade de aceitar o Senhor Jesus como o Filho de Deus, enviado como Redentor da humanidade. Eles chegam, mesmo, a duvidar da existência de Cristo; apenas admitem a existência de um “Jesus histórico”, ou seja, que Jesus foi um grande pensador, um grande profeta, um grande filósofo, um homem extraordinário, cuja mensagem conseguiu transformar o mundo de seu tempo, mas que não conseguem ver nEle o Salvador do mundo. Não podendo negar a sua existência, pois para isso teriam que negar a própria história, aceitam-no como homem comum, porém, negando seu nascimento virginal e a sua divindade.
Temos, pois, que a Teologia Liberal simplesmente abdica do seu papel de sistematizadora da mensagem divina, para substituí-la por uma mensagem ética, moral, sociológica, filosófica, ou seja lá o que for, mas que não vislumbra, em momento algum, o “estudo de Deus”. Portanto, ela deixa de ser, em essência, uma teologia para ser apenas um estudo humanístico, uma vertente filosófica, uma vã filosofia, que se constrói segundo os rudimentos do mundo, segundo a tradição dos homens e não segundo Cristo (Cl.3:8).
O liberalismo teológico ainda continua vivo e distribuindo morte espiritual por onde passa. Sua sombra continua a ser sentida domingo após domingo em púlpitos por todo o mundo, inclusive no Brasil. O seu ideário de oposição às doutrinas bíblicas ortodoxas, que se fundamentam na revelação das Escrituras (2Tm.4:3), continua em plena sustentação - “troca-se a mensagem da salvação de arrependimento, confissão de pecados e mudança de caráter por uma visão progressista que enfatiza a transformação social pelo paradigma do marxismo. Assim, o pecado é relativizado, o ecumenismo religioso é propagado e toda experiência espiritual é considerada válida”.
Mas, a verdadeira teologia bíblica proveniente da doutrina do Senhor não perdeu o seu espaço; ao contrário, ela continua firme e crescente através do empenho de homens comprometidos com Deus e com a defesa da fé mediante a exposição correta e ungida das Escrituras Sagradas.
III. A NORMALIZAÇÃO DO PECADO
1. Crise ética e moral
Ética é o conjunto de padrões, de valores, que regulam a conduta de um indivíduo, e a prática dessa conduta recebe o nome de moral. Toda atividade humana tem um padrão a ser observado, tem a sua ética.
A discussão a respeito de como deve o homem se comportar é algo que vem sendo efetuado desde os primórdios da civilização humana, pois Deus fez o homem como um ser moral, ou seja, como um ser responsável, que tem consciência do que deve, ou não, fazer, porque e para que deve agir num determinado sentido. Tanto assim é que, logo após ser colocado no Jardim do Éden por Deus, o primeiro casal recebeu uma determinação de Deus: "De toda a árvore do jardim, comerás livremente; mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás, porque, no dia em que dela comeres, certamente, morrerás" (Gn.2:16b,17). Como se percebe, portanto, o homem foi feito um ser eminentemente moral, ou seja, um ser ético.
O resultado da desobediência do homem e da sua tentativa de construir para si padrões de conduta alheios à vontade de Deus resultou nos grandes dilemas que hoje, como em nenhum outro momento da história humana, vivemos nesta "grande aldeia global" em que se tornou o nosso planeta, dilemas estes que, não raro, abalam a fé de muitos servos de Deus que, à revelia da própria Palavra de Deus, acabam cedendo a padrões, princípios e procedimentos que são radicalmente contrários aos ditames da Bíblia e à vontade do Senhor.
O homem, imerso no pecado (Rm.3:9-12,23), separado de Deus (Is.59:2), cegado pelo deus deste século (2Co.4:4), não pode ter senão comportamentos e condutas que desagradam a Deus, estabelecendo-se, pela sua arrogância, um relativismo ético, ou seja, um conjunto de condutas e de regras de comportamentos que se alteram conforme a conveniência e de acordo com as circunstâncias, a gerar uma tolerância ilimitada, um verdadeiro caminho largo, em que tudo é permitido (Mt.7:13). Vemos nestes tempos pós-modernos de cultura degradante, a normalização de temas progressistas que violam a ética e a moral bíblicas, tais como: a imoralidade sexual, o aborto e o uso de drogas ilícitas. Isto tem levado a sociedade atual a impolidez ética e se tornado moralmente desajustada.
O seguidor de Cristo jamais deve se amoldar a estas paixões mundanas (1Pd.1:14) que deturpam o caráter cristão (Rm.12:2); deve, sim, buscar a santificação em todo o procedimento (1Pd.1:15), porque está escrito: “sede santos, porque eu sou santo” (1Pd.1:16), e, sem santificação, ninguém verá o Senhor (Hb.12:14).
2. Imoralidade sexual
“Portanto, não permitam que o pecado continue dominando os seus corpos mortais, fazendo que vocês obedeçam aos seus desejos” (Rm.6:12).
Nunca se viu tanta imoralidade como ocorre hoje em todo o mundo. As redes e as mídias sociais têm favorecido largamente a sua proliferação. O sexo criado por Deus para ser utilizado no casamento formal entre um homem e uma mulher (Gn.2:24) foi banalizado. Dizem, atualmente, que não se deve oprimir o corpo, e em defesa da liberdade (liberdade ou libertinagem?) de decisão sobre o corpo, banaliza-se o sexo pré-conjugal, normaliza-se o sexo extraconjugal e a homossexualidade (Rm.1:26,27).
Há um afrouxamento, sem par, da ética e da moral como foram estabelecidas por Deus. A propagação midiática e gráfica da ideologia de gênero, e a erotização da infância, têm se alastrados, com a devida anuência das instituições governamentais, nas mídias sociais e adentrado as escolas sem nenhum obstáculo ou impedimento pelos órgãos do judiciário. Estamos vivendo num mundo de trevas, onde o poder e a presença do pecado têm dominado as pessoas com facilidade.
Quando o pecado reina, os indivíduos se tornam capachos de sua implacável tirania. O reinado do pecado é um domínio de opressão. O pecado escraviza e mata. Os súditos do pecado vivem prisioneiros de suas paixões e oferecem os membros do seu corpo à iniquidade.
No reinado do pecado, as pessoas são escravas, e não livres; elas se afundam no atoleiro dos vícios e perversões e usam seu corpo para atender os ditames do pecado. Assim, o pecado é tolerado, a família é desconstruída e a doutrina da santidade é negligenciada (Hb.13:4).
Mas, no reinado da graça, aqueles que são seguidores fiéis de Cristo, uma vez que não estão debaixo do domínio do pecado, não devem oferecer o seu corpo para servi-lo nem os membros do seu corpo para fazer sua vontade. Nosso corpo deve estar a serviço do Reino de Deus. Os membros do nosso corpo não devem ser janelas abertas para o pecado, mas devem ser instrumentos da realização da vontade de Deus. Não precisamos dar uma parte da nossa vida a Deus e outra parte ao mundo. Como diz William Barclay, “para Deus é tudo ou nada”.
3. A dessacralização da vida
Nunca se vulgarizou tanto a vida física e espiritual como neste século vinte um. Nunca o ser humano afrontou tanto o seu Criador como nestes últimos tempos. A vulgarização do pecado fomenta ideologias que desprezam a sacralidade e a dignidade humana. A sociedade está cada vez mais mergulhada na libertinagem sob o auspicio de um pseudodireito de fazer o que quer com o corpo físico sem as devidas limitações éticas e morais. Aliás, ética e moral estão desaparecidos do dicionário desta cultura degradante pós-moderna. O slogan “meu corpo, minhas regras” reivindica o falso direito de a pessoa usar drogas, prostituir-se, abortar, cometer suicídio e eutanásia. Entretanto, a vida pertence a Deus (1Sm.2:6); logo, é inviolável e deve ser valorizada (2Pd.1:3), e o corpo humano, invólucro da alma, deve ser cuidado, alimentado e preservado (Ef.5:29).
A Bíblia não mudou e nem nunca mudará, porque o seu autor, Deus, não muda (Ml.3:6). Ela diz que o corpo do crente em Cristo Jesus é o “templo do Espírito Santo”, logo, não deve ser profanado (1Co.6:19). Sendo templo, é algo que é sagrado, algo que se encontra dedicado para o serviço de Deus. Sendo assim, devemos manter o nosso corpo em santificação, porque Deus é santo. Não só não podemos usar nosso corpo como instrumento do pecado, porque isto é comportamento de quem não alcançou a salvação (Rm.6:12,13), como também devemos ter o corpo pronto para ser oferecido em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o nosso culto racional (Rm.12:1).
CONCLUSÃO
O salário do pecado é a morte, que significa separação de Deus por toda a eternidade. A única esperança para o ser humano é o Senhor Jesus, o único que pode restaurar o ser humano a Deus. Está escrito: "E em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu nenhum outro nome há dado entre os homens, em que devamos ser salvos" (Atos 4:12). Como conseguir esta Esperança? Aceitando Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Está escrito: "Porque, se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo; pois é com o coração que se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação" (Rm.10:9,10). Você pode ter esta Esperança agora. A Bíblia diz: "Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo" (Rm.10:13); "No tempo aceitável te escutei e no dia da salvação te socorri; eis aqui agora o dia da salvação" (2Co.6:2). Uma vez regenerado pela fé em Cristo, a pessoa repudia atos imorais, as injustiças, as desigualdades sociais contra o seu próximo (Rm.1.18; 1Co.13:6), e segue os ditames das Escrituras Sagradas como regra de fé e conduta, porque são elas que testificam de Cristo (João 5:39).