Romanos 1:
18.Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça.
19.Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou.
20.Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;
21.Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu.
22.Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos.
23.E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis.
24.Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si;
25.Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém.
INTRODUÇÃO
Nesta Lição trataremos do antropocentrismo e da idolatria. Refletiremos sobre a tendência humana ao egocentrismo e a influência cultural dos ensinos da filosofia pós-moderna, centrados no homem, querendo ser maior que seu Criador, e também sobre os perigos individuais e coletivos desse mal. Antropocentrismo é o conjunto de ações e de doutrinas filosóficas que colocam o ser humano no centro de todas as coisas.
Após a Queda, o ser humano, em todas as eras, esteve sempre em rebelião contra Deus, e distante de suas verdades absolutas; entronizou o EU como soberano, tornando-se o centro da atenção e das atividades gerais, querendo ser mais importante que o Criador.
O coração perverso e a escolha pelos prazeres da carne colocaram o ser humano em inimizade contra Deus (2Tm.3:4). O orgulho, a insensatez, sempre acompanhou o ser humano, antes e depois do dilúvio, mantendo-o afastado do seu criador, Deus. Esta mentalidade da natureza humana é sempre inimiga de Deus (Rm.8:7). No entanto, como sabemos, a verdadeira identidade do ser humano não se encontra no antropocentrismo, mas nos ensinos das Escrituras Sagradas, cujo Criador Todo-Poderoso é soberano sobre todas as coisas.
O problema do homem não é a ignorância da verdade de Deus, mas abafar e sufocar essa verdade. Não é o desconhecimento involuntário da verdade de Deus, mas a rejeição consciente dessa verdade. Deus se revelou ao homem, mas ele sufocou esse conhecimento, banindo Deus deliberadamente da sua vida. Precisamos identificar as sutilezas deste comportamento ególatra, na qual caiu o próprio Diabo (Is.14:12-15) e hoje a utiliza com o mesmo propósito de afastar o ser humano do Deus Todo-Poderoso.
I. O DESPREZO À VERDADE
1. A impiedade e a injustiça
Impiedade é o caráter ou qualidade de ímpio; ausência de piedade. Piedade é a virtude que implica devoção a Deus, e que se reflete numa ação motivada pela compaixão e pelo amor. Alguém piedoso sente misericórdia ou clemência (compaixão) pelo próximo.
O apóstolo Paulo disse que “a ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça”(Rm.1:18).
Impiedade é rebelião contra Deus; perversão é rebelião contra o próximo. Impiedade é a quebra da primeira tábua da Lei; perversão é a quebra da segunda tábua da Lei. A impiedade diz respeito àquela perversão de natureza religiosa, ao passo que a “perversão” se refere àquilo que tem caráter moral; a primeira pode ser ilustrada pela idolatria, a última, pela imoralidade. E essa impiedade para com Deus resulta em injustiça para com os homens.
Já a injustiça significa “sem retidão”. A palavra carrega a ideia de não ser reto diante de Deus e nem com o próximo (2Pd.2:15). Nas palavras de Granfield, “a impiedade se refere a violações dos quatro primeiros mandamentos, e a injustiça, à violação dos seis últimos; porém, mais verossímil é que as duas palavras sejam empregadas como duas expressões para a mesma coisa” (C.E.B Granfield. Comentário de Romanos).
A impiedade e a injustiça revelam a situação geral da humanidade não regenerada (Rm.1:18), sua idolatria, o culto à criatura (Rm.1:19-23), a perversidade e a depravação moral (Rm.1:25-32), que expressam a decisão deliberada do homem em desprezar a verdade divina (Rm.1:19,20).
2. A insensatez humana
O homem, ao recusar o conhecimento do Deus incorruptível, verdadeiro e infinito, retrocede à insensatez e a depravação moral (Rm.1:22-25). De forma consciente rejeita a revelação de Deus (Rm.1:19,20). Tratando dessa situação, escreveu Paulo; “tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis” (Rm.1:21-23).
Inúmeras pessoas não creem em Deus porque não querem, porque são rebeldes; mas a consciência delas prega continuamente que elas precisam, urgentemente, se reconciliar com o seu Criador. Deus deixou sobre sua obra criada as “impressões digitais” de sua glória, que se torna manifesta a todos. Ao olhar para a natureza, para o sol, a lua e as estrelas, qualquer um pode dizer que existe Deus. John Stott destaca que “a criação é uma manifestação visível do Deus invisível”. Portanto, a revelação geral de Deus, por meio da natureza, é suficiente para mostrar a Sua majestade e tornar o ser humano indesculpável acerca da realidade divina e de seu eterno poder (Rm.1:20). Todos os seres humanos são indesculpáveis perante Deus porque a verdade de Deus tem-se manifestado a eles tanto na luz da consciência como no testemunho da criação.
Apesar de ter conhecimento de Deus por meio de suas obras, o ser humano não o glorifica como Deus, nem lhe rende graças por tudo o que Ele é e fez (Rm.1:21). Antes, entregam-se a filosofias e especulações fúteis acerca de falsos deuses e, em decorrência disso, perdem a capacidade de compreender e pensar claramente.
Os indivíduos que rejeitam o conhecimento de Deus são sempre caracterizados por duas coisas: tornam-se insuportavelmente presunçosos e, ao mesmo tempo, terrivelmente ignorantes. Ao se tornarem cada vez mais presunçosos em seus pretensos conhecimentos, o ser humano mergulha mais profundamente em ignorância e absurdidade. Suas ideologias rejeitam, pervertem e substituem a verdade de Deus pela mentira do homem. Dessa insensatez resulta a idolatria e a perversão moral (Rm.1:22-25).
3. O culto à criatura
Após a Queda, o ser humano sempre quis ser venerado, cultuado como se fosse um deus. Em lugar de reconhecer o Criador, o Deus verdadeiro, o ser humano age como se não fosse criatura e se comporta como se fosse divino (Gn.3:5). Mas, a verdade prega com muita agudeza que o ser humana é uma simples criatura, e sem Deus não é nada, aliás, menos do que nada. Está escrito: “Todas as nações são como nada perante ele; ele as considera menos do que nada e como uma coisa vã” (Isaías 40:17).
Quando o ser humano se mostra resistente à graça de Deus e se lambuza no pecado, Deus então o entrega “à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si” (Rm.1:24). Deus entrega esses “filhos da ira” (Ef.2:3) desprotegidamente a si próprios, a saber, à degradação do próprio corpo (Rm.1:24), às paixões infames (Rm.1:26), a uma disposição mental reprovável (Rm.1:28), ou seja, à maneira que eles próprios escolheram para viver. Em outras palavras, Deus os entrega à sensualidade (Rm.1:24,25), à perversão sexual (Rm.1:26,27), e à vida antissocial (Rm.1:28-32).
O homem pretende fugir de Deus, o seu Criador e dono; por isso, Deus simplesmente tira as rédeas da vida dele. As pessoas escolheram abrir mão da verdade, e Deus abre mão das pessoas. O que acontece é que Deus tira a culpa. O homem consegue pecar e a consciência não o acusa mais. Aí ele se gloria no pecado e aplaude o vício, a impureza sexual e a concupiscência do seu coração. As pessoas mergulham no pântano mais asqueroso da imoralidade e se corrompem ao extremo sem nenhum constrangimento. Por que Deus não manda fogo e enxofre e destrói esses ímpios como fez com Sodoma e Gomorra? Pior é entregar o pecador ao fogo do seu coração, preparando-o para o fogo do juízo divino.
Não há castigo maior para o ser humano do que Deus o entregar a si mesmo. Deus pergunta: “é isso que você quer? Seja feita a sua vontade”. Esse é o maior juízo de Deus – entregar o homem a si mesmo, à sua própria vontade. Os homens que tanto amam o esgoto do pecado são enviados para lá; o que querem, eles terão. Assim, os perdidos gozam para sempre da horrível liberdade que sempre pediram; porém, essa liberdade é a mais perturbadora escravidão.
Como bem diz o pr. Douglas Baptista, “a corrupção moral do ser humano deriva de sua rebelião contra Deus. Sua natureza caída troca a verdade pelo engano e prefere honrar e servir a criatura em lugar do seu Criador (Rm.1:25a). Assim, na religião os seres criados passam a ser cultuados; nas ciências, a matéria é colocada acima de Deus; na sociedade, o artista, o atleta, o político ou o líder religioso se tornam uma referência de idolatria em afronta ao Criador, que é bendito eternamente (Rm.1:25b)”
II. A REVOLUÇÃO DO PENSAMENTO HUMANO
1. Renascentismo
O Renascimento foi um movimento cultural e intelectual que ocorreu na Europa entre os séculos XIV e XVI. Foi caracterizado pela redescoberta e revalorização das artes, ciências e filosofias da antiguidade clássica, especialmente a cultura greco-romana. O termo "renascimento" se refere à ideia de renovação e ressurgimento das ideias e conhecimentos clássicos.
Durante o Renascimento, houve uma mudança de foco do teocentrismo medieval para o antropocentrismo, colocando o ser humano como centro do universo e enfatizando a sua capacidade de pensar, criar e agir. As pessoas buscavam conhecimento, exploravam as artes, as ciências, a literatura e a filosofia com uma nova perspectiva. No lugar de ver o mundo a partir das lentes do Criador, os homens passaram a enxergá-lo a partir das lentes da criatura. O homem passou ser o centro do pensamento do próprio homem.
Algumas das características desse período incluem:
· Humanismo: O humanismo foi uma corrente filosófica e intelectual central no Renascimento. Valorizava a natureza humana, a razão, a educação e a busca pelo conhecimento, incentivando o desenvolvimento integral do ser humano.
· Arte e arquitetura: Durante o Renascimento, houve um florescimento das artes visuais. Artistas como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael produziram obras-primas que ainda são admiradas até hoje. A arquitetura renascentista também se destacou, com a utilização de elementos clássicos, como colunas, cúpulas e proporções equilibradas.
· Ciência e descobertas: O Renascimento foi um período de avanços significativos na ciência. Astrônomos como Copérnico e Galileu contestaram a visão geocêntrica do universo e desenvolveram teorias heliocêntricas. Também ocorreram avanços em áreas como anatomia, botânica, física e matemática.
· Literatura: A literatura renascentista foi marcada pelo resgate das obras clássicas e pela criação de novas formas de expressão literária. Autores como William Shakespeare, Miguel de Cervantes e Dante Alighieri produziram obras de grande importância cultural.
· Expansão cultural e geográfica: Durante o Renascimento, ocorreram expedições marítimas e descobertas de novas terras, o que trouxe uma maior circulação de ideias e conhecimentos. A invenção da imprensa por Gutenberg também contribuiu para a disseminação do conhecimento e a democratização da informação.
O Renascimento teve um impacto duradouro na sociedade e na cultura ocidental, influenciando o desenvolvimento subsequente das artes, ciências, filosofia e educação. Ele marcou uma transição importante entre a Idade Média e a era moderna, inaugurando uma nova mentalidade que valorizava a razão, a liberdade individual e o progresso humano.
Desse modo, foi a partir do Renascentismo que surgiram os primeiros efeitos do processo de secularização da cultura, quando a vida social passou a ceder o espaço para o racionalismo e o ceticismo, acreditar quando ver, quando tocar, como aconteceu com Tomé (João 20:25,29). Nesse sentido, a revolução científica e literária, que se deu a partir do Renascimento, contribuiu para o surgimento do Humanismo.
2. Humanismo
O humanismo foi um movimento de glorificação do homem e da natureza humana, que surgiu nas cidades da Península Itálica, em meados do século XIV. Segundo este movimento, o homem, a obra mais perfeita do Criador, seria capaz de compreender, modificar e até dominar a natureza. Assim, o humanismo veio a significar uma verdadeira religião na qual a glória do homem deveria ser promovida e exaltada. Essa ênfase na atuação humana está na origem de uma concepção antropocêntrica, isto é, na valorização do ser humano como centro do Universo; e um dos resultados do antropocentrismo foi o surgimento da noção de racionalismo, isto é, a valorização da razão humana como instrumento transformador da natureza, da sociedade e da política. Assim, segundo essa perspectiva, o ser humano ocupa um lugar de destaque no Universo.
Os humanistas aprofundaram seus estudos na história antiga a fim de desconstruir os livros sagrados. Por isso, os humanistas buscavam interpretar o cristianismo utilizando escritos de autores da Antiguidade, como Platão. Achavam que estavam valorizando os direitos individuais do cidadão. Porém, essa não é uma bandeira próprio do Humanismo, pois a Bíblia possui um arcabouço de concepções libertárias e igualitárias (cf. Dt.6:1-9) que antecedem muitos dos direitos que iriam reaparecer apenas em tempos modernos. Destaca-se ainda que a Bíblia prega a igualdade entre raças, classe social e gênero (cf. Gl.3:28) – “Não há mais judeu nem gentio, escravo nem livre, homem nem mulher, pois todos vocês são um em Cristo Jesus”.
Para os humanistas, a ética e a moral dependem do homem – a base de todos os valores -, e não de Deus. Fomentam o relativismo, a ausência de valores absolutos e o culto ao homem.
Apesar de alguns humanistas identificarem-se como cristãos, foram os conceitos secularistas e racionalista que prevaleceram. Por essa razão, muitos historiadores afirmam que os séculos XV e XVI foram períodos de irreligiosidade e ateísmo.
3. Iluminismo e Pós-modernismo
O Iluminismo foi um movimento intelectual e cultural que se desenvolveu na Europa durante os séculos XVII e XVIII. Também conhecido como Era da Razão, o Iluminismo defendia a primazia da razão humana, a liberdade individual, a igualdade e a busca pelo conhecimento como meio de progresso social.
Alguns pontos-chave do Iluminismo incluem:
· Razão e ciência: Os filósofos iluministas acreditavam que a razão humana era capaz de compreender e explicar o mundo. Eles valorizavam a ciência, o empirismo e o método científico como ferramentas para adquirir conhecimento objetivo e superar superstições e dogmas religiosos.
· Liberdade e direitos individuais: Os iluministas defendiam a liberdade individual como um direito fundamental. Eles criticavam o absolutismo e o poder tirânico, promovendo a ideia de governos baseados no consentimento dos governados. Também defendiam a igualdade perante a lei e a liberdade de expressão.
· Progresso social e reformas: Os iluministas acreditavam no progresso contínuo da sociedade e defendiam reformas políticas, sociais e econômicas. Eles buscavam melhorar a educação, o sistema jurídico, a economia e as condições sociais, com o objetivo de criar uma sociedade mais justa e próspera.
· Tolerância religiosa: Em oposição à intolerância religiosa predominante na época, os iluministas defendiam a tolerância religiosa e o respeito às diferentes crenças e opiniões. Eles promoviam a separação entre Igreja e Estado e a liberdade de culto. No entanto, o tendiam a reduzir a religião a uma mera questão de superstição e ignorância. Questionavam dogmas religiosos, buscavam explicações racionais para fenômenos naturais e promoviam uma visão mais secularizada da sociedade.
· Nas artes e na literatura: O Iluminismo também teve um impacto nas artes e na literatura. Houve uma ênfase na clareza, simplicidade e racionalidade na expressão artística. O neoclassicismo foi um movimento artístico que se inspirou na antiguidade clássica e na busca pela ordem, proporção e harmonia.
O Iluminismo, sobretudo, defendia a primazia da razão humana; colocava a sabedoria e a capacidade humana acima da revelação divina. Isso desafiava a autoridade das Escrituras e questionava a importância da fé como base para a compreensão do mundo. Negava tudo o que o povo conhecia como sendo Verdade - negava a existência de Deus, a sua Palavra, a fé, os milagres. Só seria aceito como Verdade o que pudesse ser comprovado pela Razão. Os filósofos e economistas deste movimento julgavam-se propagadores da luz e do conhecimento, por isso, o nome iluminista.
Também, o Iluminismo promovia a ideia de que a moralidade poderia ser derivada exclusivamente da razão humana, sem a necessidade de princípios religiosos. Isso levantou preocupações sobre a possibilidade de uma sociedade secularizada e moralmente relativista, sem uma base moral sólida baseada nas Escrituras Sagradas.
Esse movimento foi fundado de forma especial no Racionalismo proposto por um materialista ateu, um ímpio francês a serviço de Satanás, chamado René Descartes (1596 – 1650). Assim, baseado na necessidade da prova racional, a fé foi abolida e, com ela, a própria existência de Deus e, por conseguinte, a criação dos céus e da terra, incluindo, é claro, a criação do homem, conforme descrito na Bíblia. Também a própria Bíblia deixava de ser aceita como sendo a Palavra de Deus, pois o próprio Deus, segundo essa teoria, não existia. Os adeptos desse movimento rejeitavam a tradição, buscavam respostas na razão, entendiam que o homem era o senhor do seu próprio destino e que a igreja era uma instituição dispensável.
Na mesma direção do Iluminismo, a partir da metade do século XX, a Pós-modernidade ou Modernidade Líquida surgiu. Nesta sociedade pós-moderna os valores que eram “absolutos” tornaram-se “relativos”. Como bem diz o pr. Douglas, no aspecto social, a coletividade foi substituída pelo egocentrismo; as relações humanas tornaram-se superficiais e baseadas no interesse. Um dos imperativos desta nova sociedade é o hedonismo, o narcisismo e o consumismo. Na busca do bem-estar humano tudo se torna válido: o uso das pessoas, o abuso do corpo, a depravação e o consumismo desenfreado. O mundo ímpio está correndo com o pé no acelerador, sem freio, em direção ao lago de fogo e enxofre, para a morte eterna.
III. TIPOS DE AUTOIDOLATRIA
1. Idolatria da autoimagem
A idolatria da autoimagem é um fenômeno contemporâneo em que as pessoas atribuem um valor excessivo à sua aparência física, status social, popularidade e sucesso material. Nesse contexto, a busca por uma imagem perfeita e a validação externa se tornam prioridades, muitas vezes em detrimento de valores mais profundos e significativos.
A idolatria da autoimagem é alimentada por uma série de fatores, como a cultura da mídia, que promove padrões inatingíveis de beleza e perfeição. As redes sociais também desempenham um papel importante ao criar uma plataforma para a autopromoção, onde as pessoas buscam constantemente a aprovação e a validação dos outros através de curtidas, comentários e seguidores.
Essa obsessão pela autoimagem pode levar a uma série de consequências negativas. Primeiro, cria uma pressão intensa e insalubre para alcançar padrões irreais de beleza e sucesso, levando à insatisfação pessoal e à baixa autoestima. As comparações constantes com os outros podem levar ao desenvolvimento de sentimentos de inadequação e insegurança.
Além disso, a idolatria da autoimagem muitas vezes leva a uma superficialidade nas relações humanas. As pessoas tendem a valorizar mais a aparência física e o status social do que as características intrínsecas e os valores morais. Isso pode levar a relacionamentos superficiais e uma falta de conexão genuína entre as pessoas.
Outra consequência é a negligência de aspectos mais profundos da vida, como o desenvolvimento pessoal, os relacionamentos significativos, a saúde mental e emocional, e a busca de um propósito maior. Ao focar exclusivamente na imagem externa, as pessoas podem perder de vista o que realmente importa e acabar vivendo uma vida vazia e superficial.
Em suma, a idolatria da autoimagem é um fenômeno que coloca uma ênfase excessiva na aparência física e na busca por validação externa. Isso pode levar a consequências negativas, como insatisfação pessoal, relacionamentos superficiais e negligência de aspectos mais profundos da vida. É importante promover uma abordagem equilibrada, valorizando a diversidade, o desenvolvimento pessoal e os relacionamentos autênticos.
Enfim, tudo aquilo que, em nosso coração, tira a primazia de Deus é idolatria. É idolatria, por exemplo, o excessivo apego que se tem a uma pessoa ou objeto (Cl.3:5). É idolatria também o apego exacerbado à própria imagem, a autoimagem. Isto é obra da carne. Ao relacionar as obras da carne, Paulo coloca a idolatria no mesmo nível destas (Gl.5:20). Na elaboração do Decálogo, Deus proibiu o culto a qualquer imagem (Ex.20:3-5).
Para combater a idolatria da autoimagem, é importante cultivar uma consciência crítica em relação aos ideais de beleza impostos pela sociedade e pela mídia. É necessário promover uma mentalidade de aceitação e valorização das diferenças individuais, reconhecendo que a verdadeira beleza e o valor pessoal vão além da aparência física. Além disso, é fundamental cultivar relacionamentos saudáveis e significativos, baseados em valores e conexões genuínas. Investir em desenvolvimento pessoal, saúde mental e emocional também é essencial para encontrar um equilíbrio entre cuidar da própria imagem e nutrir o bem-estar interior.
A palavra de Deus nos exorta a não nos conformemos com este mundo. Se o mundo tem se importado mais com a beleza estética do que propriamente com o seu espírito, que priorizemos a santidade, pois, “sem a qual ninguém verá o Senhor”; não uma santidade arquitetada pelos usos e costumes fundamentados em uma teologia extrabíblica, mas aquela que preza o outro, e que não visualiza o fundamental pela ótica ferida do mundo, mas antes pelo critério que a Palavra de Deus mesmo disponibiliza.
2. Idolatria no coração
Na Bíblia, o que significa o coração? Em quase todos os casos, refere-se ao aspecto interior e imaterial do homem, o qual deve ser plenamente dedicado a Deus. A Bíblia inclui três principais operações do homem interior: (a) Mente - inclui os pensamentos, crenças, compreensões, memórias, julgamentos, consciência e discernimento (Mt.13:15; Rm.1:21; Lc.24:38; 1Tm.1:5); (b) Afeições - incluem os anseios, desejos, sentimentos, imaginações, emoções (Sl.20:4; Ec.7:9; 11:9; Is.35:4; Tg.3:14; Hb.12:3); (c) Vontade - realiza escolhas e determina ações (Dt.30:19; Js.24:15; Is.7:15; Dt.23:15,16; Sl.25:12).
Está escrito que "o coração humano é mais enganoso que qualquer coisa e é extremamente perverso” (Jr.17:9), pois do seu interior saem os maus pensamentos, as imoralidades, a avareza, a soberba e a insensatez (Mc.7:21,22). Somente o Senhor conhece se o coração é mau ou bom, e examina os pensamentos, e dá a recompensa de acordo com suas ações” (Jr.17:10). Tendo em vista que o coração é enganoso e perverso, Deus condena a idolatria no coração (Ez.14:3).
O que significa idolatria no coração? Refere-se a ídolos colocados no coração, no lugar do Senhor (ler Ez.14:3-5). Essa substituição é a raiz do pecado e uma transgressão do mandamento de Deus, que diz: “Não terás outros deuses diante de mim” (Ex.20:3). Em Mateus 22:37 Jesus destacou a importância de que todo o interior do homem seja completamente devotado ao Senhor: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento (mente, entendimento, pensamentos)".
O que é o ídolo do coração? Podemos entender “ídolo do coração” como sendo tudo aquilo que o homem adora e por acreditar encontrar nisso a satisfação para os seus desejos mais profundos. É tudo aquilo que o ser humano ama mais do que a Deus, e que ocupa o lugar de Deus em sua vida, mesmo que apenas momentaneamente. Esses ídolos são desejos, legítimos ou não, que assumem uma posição ilegítima dentro do coração. São exigências que a pessoa tem, que ficam acima do desejo supremo de agradar a Deus numa vida de santificação e de genuína adoração.
Uma pessoa entroniza ídolo no coração, quando, no seu íntimo, prioriza a reputação pessoal, busca o prazer como bem maior, nutre tendências supersticiosas e possui excessivo apego aos bens materiais. Também, a pessoa tem um ídolo no coração quando está disposto a pecar para ter algo. Exorta Tiago: “Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras” (Tg.4:2a). Os desejos descritos por Tiago - “os prazeres que militam na vossa carne” (Tg.4:1) -, são os desejos abrigados no coração no lugar do desejo de agradar a Deus. O apóstolo João nos exorta: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos (1João 5:21).
Devemos fazer de tudo para agradar a Deus em tudo o que fizermos, pois prestaremos conta de tudo o que fazemos. Diz-nos Paulo: “É por isso que também nos esforçamos, quer presentes, quer ausentes, para lhe sermos agradáveis. Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo” (2Co.5:9,15).
3. Idolatria sexual
A idolatria sexual é um fenômeno em que as pessoas atribuem um valor excessivo à sexualidade e à busca por prazeres sexuais. Nesse contexto, o sexo é colocado no centro da vida e é visto como a principal fonte de satisfação e felicidade. A sociedade contemporânea, com sua cultura sexualmente hiperativa e a fácil acessibilidade à pornografia, contribui para a promoção dessa idolatria.
A idolatria sexual pode ter várias consequências negativas. Primeiramente, ela pode levar à objetificação e à exploração do corpo humano, reduzindo as pessoas a meros objetos sexuais. Isso pode levar a relacionamentos superficiais, falta de respeito mútuo e à perda de conexões emocionais genuínas.
Além disso, a idolatria sexual pode levar à insatisfação constante e à busca incessante por experiências sexuais cada vez mais intensas. Isso pode resultar em um ciclo vicioso de busca de prazer, que muitas vezes não é sustentável a longo prazo, causando frustração e vazio emocional.
A idolatria sexual também pode gerar uma visão distorcida do próprio corpo e da sexualidade, levando a problemas de autoestima, ansiedade e disfunções sexuais. As expectativas irreais promovidas pela pornografia e pela mídia podem criar pressões e inseguranças em relação ao desempenho e à aparência sexual.
Se no coração da pessoa está edificado um altar de idolatria sexual, então, nesse coração, a adoração a Deus é trocada pelo culto ao corpo a fim de satisfazer o ídolo da perversão e da lascívia (1Pd.4:3; Mc.7:21).
A Idolatria sexual, atualmente, tem atingido milhares de pessoas, talvez milhões. Ela tem se estabelecida em um coração que está disposto a fazer de tudo para satisfazer seus desejos, impulsos, inclusive virar as costas para Deus, a família e a igreja. Para se combater a idolatria sexual é necessário fazer um Raio X em nossos corações, em outras palavras, fazer uma avaliação de nossos pensamentos e atitudes. As Escrituras afirmam: “Pois é da vontade de Deus: a vossa santificação, que vos abstenhas da prostituição; e que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e honra” (1Ts.4:3,4). Se não conseguimos nos abster da imoralidade sexual e tudo o que a envolve, consequentemente, temos uma forte evidência que um ídolo foi criado e está sendo adorado através de nossos pensamentos e atitudes, revelando nossa idolatria sexual.
Vencer a idolatria sexual requer abandoar tudo que envolve sexo fora dos padrões bíblicos como, por exemplo, masturbação, fornicação, adultério, exibicionismo, voyeurismo (pratica que consiste num individuo conseguir obter prazer sexual através da observação de pessoas), zoofilia, pedofilia etc. Toda busca por satisfação sexual fora do padrão estabelecido por Deus nas Escrituras e para o casamento é pecaminosa. E, algumas dessas práticas sexuais, além de serem pecaminosas são tratadas como criminosas pela sociedade.
Não é fácil se desfazer desse ídolo do coração. Na luta contra o pecado sexual muitos têm buscado consertar seus hábitos pecaminosos simplesmente por abandoná-lo, porém, isso não é suficiente. Ou seja, o pecado revelado através de atitudes ou comportamentos só mostra o coração corrompido na busca de satisfazer a idolatria sexual. A orientação bíblica para escapar desse mal é a seguinte: “vivam no Espírito e vocês jamais satisfarão os desejos da carne” (Gl.5:16 – NAA).
Não devemos desanimar e nem nos abater assim que iniciamos um processo de luta contra a idolatria sexual. Devemos lutar com todas as forças para vencê-la, e, caso venhamos a falhar, devemos lembrar acima de tudo, que temos um advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo (cf. 1João 2:1).
A idolatria sexual é um ídolo penoso a ser derrubado, mas não podemos recuar diante de uma queda, aflição ou tentação, temos que recordar sempre das palavras de Jesus “tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16:33).
CONCLUSÃO
O ser humano, ao se colocar como medida única de todas as coisas, eleva seu interesse acima da vontade divina; as consequências são a autoidolatria, a depravação moral, a decadência social e espiritual. A Bíblia, porém, alerta que a ira divina permanece sobre os que são desobedientes à verdade divina (Rm.2:8). Deus não tolera a rebelião porque ela questiona a base que sustenta o Universo, ou seja, o seu Senhorio. Se existe algo que Deus não pode abrir mão é do governo sobre todas as coisas.
Ao criar o homem e colocá-lo no Jardim do Éden com todo o respaldo para viver feliz e desfrutar da Terra, o Senhor Deus deixou claro que a única condição para que tudo permanecesse bem, era que Adão e seus descendentes se sujeitassem a Ele. A figura da “árvore do conhecimento do bem e do mal” colocada no meio do jardim com seu fruto proibido era um ícone da autoridade divina, um aviso que o homem deveria entender assim: “Você pode dominar sobre tudo, mas quem manda em você sou Eu, o Senhor”. Ao comer daquele fruto, Adão e Eva estavam se insurgindo, proclamando sua independência e, como resultado, receberam toda a maldição do pecado, não somente sobre si, mas sobre toda a raça humana que os seguiu. Portanto, a rebelião e a obstinação do ser humano contra o seu Criador são um tremendo erro que resultará numa punição inevitável e dolorosa, de forma permanente. Pense nisso!