Texto Base: Ester 1:10-12,16,17,19; 2:12-17
“Antes, dá maior graça. Portanto, diz: Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes” (Tiago 4:6).
Ester 1:10-12,16,17,19
10.E, ao sétimo dia, estando já o coração do rei alegre do vinho, mandou a Meumã, Bizta, Harbona, Bigtá, Abagta, Zetar e a Carcas, os sete eunucos que serviam na presença do rei Assuero,
11.que introduzissem na presença do rei a rainha Vasti, com a coroa real, para mostrar aos povos e aos príncipes a sua formosura, porque era formosa à vista.
12.Porém a rainha Vasti recusou vir conforme a palavra do rei, pela mão dos eunucos; pelo que o rei muito se enfureceu, e ardeu nele a sua ira.
16.Então, disse Memucã na presença do rei e dos príncipes: Não somente pecou contra o rei a rainha Vasti, mas também contra todos os príncipes e contra todos os povos que há em todas as províncias do rei Assuero.
17.Porque a notícia deste feito da rainha sairá a todas as mulheres, de modo que desprezarão a seus maridos aos seus olhos, quando se disser: Mandou o rei Assuero que introduzissem à sua presença a rainha Vasti, porém ela não veio.
19.Se bem parecer ao rei, saia da sua parte um edito real, e escreva-se nas leis dos persas e dos medos, e não se revogue que Vasti não entre mais na presença do rei Assuero, e o rei dê o reino dela à sua companheira que seja melhor do que ela.
Ester 2:12-17
12.E, chegando já a vez de cada moça, para vir ao rei Assuero, depois que fora feito a cada uma segundo a lei das mulheres, por doze meses (porque assim se cumpriam os dias das suas purificações, seis meses com óleo de mirra e seis meses com especiarias e com as coisas para a purificação das mulheres),
13.desta maneira, pois, entrava a moça ao rei; tudo quanto ela desejava se lhe dava, para ir da casa das mulheres à casa do rei;
14.à tarde, entrava e, pela manhã, tornava à segunda casa das mulheres, debaixo da mão de Saasgaz, eunuco do rei, guarda das concubinas; não tornava mais ao rei, salvo se o rei a desejasse e fosse chamada por nome.
15.Chegando, pois, a vez de Ester, filha de Abiail, tio de Mardoqueu (que a tomara por sua filha), para ir ao rei, coisa nenhuma pediu, senão o que disse Hegai, eunuco do rei, guarda das mulheres; e alcançava Ester graça aos olhos de todos quantos a viam.
16.Assim, foi levada Ester ao rei Assuero, à casa real, no décimo mês, que é o mês de tebete, no sétimo ano do seu reinado.
17.E o rei amou a Ester mais do que a todas as mulheres, e ela alcançou perante ele graça e benevolência mais do que todas as virgens; e pôs a coroa real na sua cabeça e a fez rainha em lugar de Vasti.
INTRODUÇÃO
Nesta lição, abordaremos o intrigante tema da deposição da rainha Vasti e a ascensão de Ester ao trono. A narrativa se desenrola no grandioso cenário do Império Persa, sob o reinado de Assuero (Xerxes I). Vasti, a rainha, é destituída de sua posição após se recusar a atender uma ordem do rei durante um banquete. Esse evento precipitou uma busca por uma nova rainha, culminando na escolha de Ester, uma jovem judia, que por sua beleza e graça, conquistou o favor do rei. Esse episódio, além de ser uma fascinante narrativa de reviravoltas palacianas, serve como prelúdio para os acontecimentos posteriores que evidenciam a providência divina.
A ascensão de Ester ao trono não é apenas um conto de superação pessoal, mas também um elemento crucial no plano de Deus para salvar o povo judeu de um plano genocida. Assim, ao estudarmos a deposição de Vasti e a ascensão de Ester, veremos como Deus orquestra eventos históricos e pessoais para cumprir Seus propósitos soberanos.
I. O BANQUETE DE ASSUERO E A RECUSA DE VASTI
1. O rei Assuero
Assuero, também conhecido pelo nome grego Xerxes, era filho de Dario e governou o vasto Império Persa por duas décadas (486-465 a.C.). Seu reino se estendia "desde a Índia até a Etiópia, sobre cento e vinte e sete províncias" (Ester 1:1), refletindo a grandeza e o poder de seu domínio. No terceiro ano de seu reinado, Assuero organizou um evento monumental, convidando a nobreza imperial e os líderes das províncias para exibir a grandiosidade de seu reino e suas riquezas. Essa celebração opulenta durou 180 dias.
Historicamente, acredita-se que durante esse evento, Assuero discutiu com seus generais e conselheiros os planos para uma expedição militar contra a Grécia. Essa campanha, conforme detalhado pelo historiador grego Heródoto (484-425 a.C.), resultou em um grande fracasso para os persas. Esta tentativa de expansão e o seu consequente insucesso demonstram a complexidade e as dificuldades enfrentadas por Assuero em seu reinado, que buscava tanto a glória militar quanto a estabilidade interna. A narrativa do Livro de Ester se insere neste contexto de poder, opulência e desafios, ilustrando as intrigas e os eventos que moldaram a história do império persa.
2. Um banquete público, outro exclusivo
No final dos 180 dias de celebração, o rei Assuero, em uma demonstração de sua generosidade e poder, ofereceu um grande banquete para todo o povo de Susã, a capital do império. Esse evento foi realizado no pátio do jardim de seu palácio e destacava-se pelo luxo e a ostentação que refletiam a riqueza do império persa. A festa, planejada para durar sete dias, oferecia uma abundância de comida e bebida, sem restrições, permitindo que todos se entregassem à celebração sem limites (Ester 1:5-8).
A decoração do banquete de Assuero era magnífica. O jardim estava adornado com cortinas brancas e azuis, amarradas com cordões de linho fino e púrpura, e os convidados reclinavam-se em sofás de ouro e prata sobre um pavimento de alabastro, mármore, madre-pérola e pedras preciosas (Ester 1:6). Os servos serviam vinho real em abundância, conforme a generosidade do rei, e a bebida era oferecida em vasos variados, cada um diferente do outro, enfatizando ainda mais a singularidade e o esplendor do evento (Ester 1:7).
Paralelamente ao banquete de Assuero, a rainha Vasti, cuja identidade alguns estudiosos associam à Améstris mencionada por Heródoto, organizou um banquete exclusivo para as mulheres no palácio real (Ester 1:9). Este evento restrito, embora menos grandioso em termos de convidados, refletia o papel importante que as mulheres da corte desempenhavam e a tradição de eventos separados por gênero nas culturas antigas.
Os dois banquetes, embora separados por gênero, simbolizavam a coexistência das esferas pública e privada no império persa. O banquete público de Assuero era uma afirmação de poder e magnanimidade, um evento político e social que reafirmava a estabilidade e a opulência do seu reinado. Por outro lado, o banquete de Vasti, restrito às mulheres, sublinhava a importância e a influência das mulheres na corte, mesmo que suas ações e decisões fossem frequentemente confinadas ao âmbito privado.
O cenário dos banquetes estabelece o palco para os eventos subsequentes do Livro de Ester. A narrativa sugere que, embora Assuero estivesse no auge de seu poder, a tensão nas relações pessoais e a dinâmica de gênero na corte persa poderiam ter implicações significativas. O pedido de Assuero para que Vasti se apresentasse perante seus convidados masculinos, e a subsequente recusa de Vasti, desencadeariam uma série de eventos que culminariam na ascensão de Ester como rainha.
Em resumo, os banquetes de Assuero e Vasti são mais do que meras festividades; eles são uma representação das complexas interações sociais e políticas do império persa. A opulência e a segregação de gênero nos banquetes refletem as hierarquias e as normas culturais da época, preparando o leitor para entender as tensões e as resoluções que seguirão na narrativa do Livro de Ester.
No sétimo dia do banquete oferecido pelo rei Assuero, a atmosfera estava carregada de euforia e celebração. O rei, tendo consumido uma quantidade significativa de vinho, estava em um estado de grande exultação e agitação – “o coração do rei estava alegre do vinho” (Ester 1:10). Este contexto de embriaguez e exaltação é crucial para entender o que ocorreu a seguir.
Movido por um desejo de exibir o esplendor de seu reino e a beleza de sua rainha, Assuero ordenou que Vasti fosse trazida à sua presença, “com a coroa real, para mostrar aos povos e aos príncipes a sua formosura, porque era formosa à vista” (Ester 1:11). Este ato, embora aparentemente uma simples demonstração de orgulho, carrega implicações significativas sobre a dinâmica de poder e gênero na corte persa.
A ordem do rei, embora aparentemente uma simples demonstração de orgulho e vaidade, carrega consigo profundas implicações. Assuero queria mostrar a todos a formosura de Vasti, tratando-a como um troféu para aumentar sua própria glória e prestígio. A solicitação do rei foi entregue por sete eunucos, simbolizando a formalidade e a seriedade do decreto real.
A rainha Vasti, ao receber a ordem do rei através dos sete eunucos que ele enviou, tomou uma decisão audaciosa: recusou-se a comparecer (Ester 1:12). Veremos a repercussão e as consequências deste ato no próximo tópico.
II. VASTI RESISTE À ORDEM DO REI E É DEPOSTA
1. A recusa da rainha
No sétimo dia do grandioso banquete oferecido pelo rei Assuero, o clima de festividade estava no auge, exacerbado pelo consumo abundante de vinho (Ester 1:10). Nessa atmosfera de embriaguez e exaltação, Assuero, desejando exibir não apenas as riquezas de seu reino, mas também a beleza de sua rainha, ordenou que Vasti fosse trazida à sua presença, adornada com a coroa real, para ser exibida diante de seus convidados (Ester 1:11).
Surpreendentemente, Vasti recusou-se a comparecer. Ao desobedecer a uma ordem direta do rei, Vasti desafiou a autoridade de Assuero. Este ato de desobediência foi extremamente ousado, considerando a cultura persa, onde a palavra do rei era lei e a desobediência poderia resultar em severas consequências.
A recusa de Vasti causou um grande tumulto. Assuero ficou extremamente irado, e seus conselheiros expressaram preocupações sobre as implicações dessa desobediência. Eles temiam que a atitude de Vasti pudesse inspirar outras mulheres a desobedecerem a seus maridos, minando a ordem social e a autoridade masculina em todo o reino (Ester 1:16-18). Para evitar tal crise, os conselheiros sugeriram uma medida drástica: Vasti deveria ser destituída de seu título de rainha, e uma nova rainha deveria ser escolhida.
Justificativas para a desobediência de Vasti
Fontes extrabíblicas e interpretações tradicionais às vezes justificam a desobediência de Vasti, alegando que a ordem do rei era indecorosa ou mesmo absurda. Alguns sugerem que Assuero queria que Vasti aparecesse vestindo apenas a coroa real, o que seria uma grave violação de decoro.
No entanto, a Bíblia não fornece detalhes sobre a natureza específica do pedido do rei, limitando-se a dizer que Vasti foi convocada para mostrar sua formosura aos convidados do banquete.
Perigos da Eisegese
A utilização de fontes extrabíblicas pode enriquecer nossa compreensão do contexto histórico e cultural dos eventos bíblicos. No entanto, é importante distinguir entre exegese, que busca extrair o significado original do texto, e eisegese, que projeta interpretações e significados alheios ao texto bíblico. Quando fontes externas são usadas para sugerir interpretações que não são sustentadas pelo texto bíblico, corre-se o risco de distorcer o sentido das Escrituras.
A Narrativa bíblica
A narrativa bíblica é concisa e simples: uma festa pública estava em andamento, e a rainha Vasti recusou-se a atender ao chamado do rei. A Bíblia não dá detalhes sobre os motivos de Vasti ou a natureza precisa da ordem do rei. Alguns estudiosos modernos e tradições interpretativas têm tentado pintar Vasti como uma figura de dignidade e virtude, resistindo a uma ordem indecorosa. Contudo, o texto bíblico não apoia explicitamente essa leitura.
Amestris e Vasti
A identidade de Vasti é outro ponto de debate. Alguns sugerem que Vasti poderia ser a mesma Amestris mencionada por Heródoto, descrita como uma mulher astuta e sanguinária. Se Vasti é de fato Amestris, então a interpretação de seu caráter e suas ações pode ser influenciada por essas descrições extrabíblicas. Amestris é retratada como uma figura de poder e intriga, o que poderia contrastar com a imagem de uma rainha virtuosa resistindo a um pedido indecoroso.
Em resumo, o episódio da recusa de Vasti e sua subsequente deposição levanta questões importantes sobre poder, autoridade, e a posição das mulheres na sociedade persa antiga. Enquanto as fontes extrabíblicas podem oferecer contextos adicionais, é crucial interpretar a narrativa bíblica com base no que o texto realmente revela. A Bíblia nos fornece uma narrativa clara: Vasti recusou-se a obedecer ao comando do rei durante um banquete, resultando em sua deposição. Especulações sobre os motivos e o caráter de Vasti devem ser cuidadosamente avaliadas para evitar projeções indevidas que possam obscurecer a mensagem e a intenção original do texto bíblico.
A recusa de Vasti foi um ato que, aos olhos do rei e seus conselheiros, não apenas desafiava a autoridade de Assuero, mas também podia incitar desobediência entre outras mulheres do império.
Apesar da fúria inicial, Assuero não tomou uma decisão imediata e arbitrária. Ele suportou o constrangimento de ver seus eunucos voltarem sem a rainha e submeteu o caso à consideração de seus conselheiros sábios, entendidos na lei dos medos e persas (Ester 1:13,14).
Este ato de consultar os sábios demonstra a prudência do rei e o respeito pelas normas legais. Assuero reconhecia a importância de uma decisão que não apenas refletisse sua autoridade, mas que também fosse consistente com a lei do império.
Então, Assuero perguntou aos sábios e entendidos sobre a lei: “O que, segundo a lei, se devia fazer da rainha Vasti, por não haver cumprido o mandado do rei Assuero?” (Ester 1:15). Esta questão indica a preocupação do rei em assegurar que sua resposta à desobediência de Vasti estivesse em conformidade com a legislação vigente.
A questão também destaca a dificuldade da situação: o rei precisava reafirmar sua autoridade, não apenas sobre a rainha, mas sobre todo o império. A capacidade de Assuero de governar seria posta em dúvida se ele não tomasse uma medida decisiva e legalmente respaldada.
Veja que, mesmo em um estado de fúria e constrangimento, o rei demonstrou prudência ao buscar orientação legal antes de tomar uma decisão. Este episódio sublinha a importância das normas legais e do processo judiciário no governo persa, refletindo uma sociedade onde o respeito às leis era fundamental para a manutenção da ordem e da autoridade.
3. A sentença de Vasti
Após a rejeição pública de Vasti em aparecer diante do rei e seus convidados, Assuero, embora irritado, não tomou uma decisão imediata. Em vez disso, consultou seus conselheiros, evidenciando uma liderança que valoriza o conselho e a prudência, mesmo sob pressão. Esta consulta visava entender a implicação da recusa de Vasti dentro do contexto das leis persas e medas.
Entre os conselheiros estava Memucã, que interpretou a ação de Vasti como uma ameaça à ordem social e familiar em todo o reino. Ele argumentou que a desobediência da rainha poderia incitar outras mulheres a desprezar seus maridos, causando um desrespeito generalizado e desordem (Ester 1:16-18).
Para evitar essa repercussão negativa, Memucã aconselhou que Vasti fosse deposta e seu título de rainha fosse dado a outra mulher que fosse mais obediente e respeitasse o rei. Ele propôs também que um decreto fosse enviado a todas as províncias, afirmando que cada homem deveria ser o senhor em sua própria casa, reforçando a autoridade masculina no lar (Ester 1:19-22).
O conselho de Memucã agradou a Assuero e seus nobres e implementou as seguintes recomendações:
ü Deposição de Vasti. Vasti foi formalmente destituída de seu título e posição como rainha. Esta ação não apenas a punia pela desobediência, mas também servia como um exemplo para todas as mulheres do império sobre as consequências de desrespeitar a autoridade de seus maridos.
ü Decreto real. Um decreto foi emitido e enviado a todas as províncias do império persa. O decreto, escrito nas línguas de cada povo, estabelecia que cada homem deveria ser o senhor em sua casa, reforçando a hierarquia familiar e a importância da autoridade masculina (Ester 1:22).
Análise e reflexão
A sentença de Vasti pode ser vista sob várias perspectivas:
a) Perspectiva social e política. A decisão de depor Vasti e o subsequente decreto buscavam manter a ordem social e evitar qualquer desafio à autoridade estabelecida. Isso mostra a preocupação do governo persa em preservar a estrutura social e a estabilidade do império.
b) Liderança e responsabilidade. A decisão de Assuero de consultar seus conselheiros antes de tomar uma decisão final demonstra prudência e a importância de liderança baseada em conselhos sábios. Isso também reflete a ideia de que um líder deve ser capaz de tomar decisões difíceis para preservar a ordem e a autoridade. Para líderes cristãos e estudiosos da Bíblia, esta história oferece uma lição sobre a importância da prudência, da consulta e da liderança responsável.
c) Implicações para o futuro. A deposição de Vasti abriu caminho para a ascensão de Ester, que se tornaria uma figura crucial no livramento dos judeus da ameaça de extermínio. Esta mudança na liderança real foi um ponto de virada que teve implicações significativas para a história do povo judeu.
III. ESTER, A JUDIA, SE TORNA RAINHA EM TERRA ESTRANHA
1. Quatro anos depois
Quatro anos após a deposição de Vasti, a busca por uma nova rainha para o império persa teve início. Esse evento não foi apenas uma questão de realeza, mas estava profundamente entrelaçado com as circunstâncias políticas e militares da época, bem como com a dinâmica pessoal do rei Assuero (Xerxes I).
Em 480 a.C., Assuero liderou uma grande expedição militar contra a Grécia, culminando na Batalha de Salamina. Esta batalha naval foi um desastre para os persas, resultando na quase total destruição de sua frota. O fracasso militar teve profundas repercussões, não apenas enfraquecendo o poder persa, mas também afetando o moral e a autoridade do rei Assuero.
Desmoralizado e frustrado, Assuero retornou a Susã, a capital do império, para reorganizar seu governo e reassumir o controle após a derrota. Foi durante este período de reflexão e reorganização que a memória de Vasti voltou à sua mente (Ester 2:1). Assuero começou a lembrar-se de Vasti e do decreto que havia emitido contra ela. Este reflexo de saudade e arrependimento é mencionado em Ester 2:1, onde se sugere que o rei ponderou sobre suas ações e a perda de Vasti.
Para lidar com a solidão e a necessidade de uma nova rainha, os conselheiros mais próximos de Assuero sugeriram a organização de um concurso para escolher uma nova rainha. Esta proposta visava não apenas preencher o vazio deixado por Vasti, mas também revitalizar a corte com a presença de uma nova figura real (Ester 2:2-4).
2. O Concurso real
A escolha de uma nova rainha para substituir Vasti, ocorrida após a desastrosa campanha militar de Assuero contra os gregos, foi um evento significativo tanto política quanto espiritualmente.
O plano envolvia reunir as mais belas jovens virgens do império persa, que deveriam passar por um extenso período de preparação e embelezamento sob os cuidados de Hegai, o eunuco responsável pelo harém real (Ester 2:3). Este processo de seleção e embelezamento era rigoroso e detalhado, refletindo a grandiosidade e a complexidade da corte persa. As jovens passavam por doze meses de tratamentos de beleza antes de serem apresentadas ao rei (Ester 2:12).
Entre as muitas jovens escolhidas para participar do concurso estava Hadassa, conhecida como Ester, uma jovem judia criada por seu primo Mardoqueu. Ester se destacou rapidamente aos olhos de Hegai e, eventualmente, ganhou o favor do rei Assuero (Ester 2:7-9, 2:17).
Em 479 a.C., Ester foi coroada rainha, substituindo Vasti. Esta elevação de uma jovem judia ao posto de rainha do poderoso império persa é um testemunho da providência divina e da soberania de Deus, que coloca pessoas estratégicas em posições de influência para cumprir Seus propósitos.
Ester não foi apenas uma figura decorativa; sua posição como rainha lhe deu uma plataforma de influência significativa. Ela utilizaria essa posição para interceder pelo povo judeu, demonstrando coragem e sabedoria em tempos de crise. Embora o livro de Ester não mencione diretamente Deus, a narrativa mostra como Ele trabalha através de circunstâncias e decisões humanas para proteger e promover o Seu povo.
3. A obediência de Ester
A obediência de Ester é um aspecto fundamental na narrativa do livro que leva seu nome, destacando-se por sua fidelidade e respeito a Mardoqueu, seu primo e tutor. Esta virtude de Ester é um tema recorrente que demonstra a dinâmica de confiança e sabedoria entre eles.
Mardoqueu instruiu Ester a não revelar sua origem e sua família (Ester 2:10). A razão exata dessa ordem não é explicitada no texto, mas pode-se inferir que Mardoqueu estava protegendo Ester de possíveis preconceitos ou perigos que poderiam surgir devido à sua etnia judaica. Embora o processo de seleção da nova rainha não fosse restrito por questões étnicas, Mardoqueu pode ter previsto situações em que o preconceito contra judeus poderia prejudicar Ester ou sua posição.
Ester seguiu as instruções de Mardoqueu rigorosamente, demonstrando uma obediência que não exigia explicações detalhadas. Essa atitude reflete uma relação de confiança mútua e respeito profundo. A obediência de Ester é uma expressão de sua humildade e lealdade, qualidades que a destacam como uma figura admirável na narrativa.
Mardoqueu mostrava uma preocupação constante pelo bem-estar de Ester, passando diariamente pelo pátio da casa das mulheres para saber como ela estava (Ester 2:11). Esta vigilância contínua revela o afeto e a responsabilidade que ele sentia por ela, assim como a importância que Ester tinha para ele.
A relação entre Mardoqueu e Ester é marcada por respeito e cuidado mútuo. Ele desempenhava o papel de protetor e guia, enquanto Ester, por sua vez, demonstrava respeito e confiança em suas decisões. Este relacionamento é fundamental para a narrativa, pois estabelece a base de apoio emocional e estratégico que Ester necessitará para enfrentar os desafios futuros.
Ester passou pelos doze meses de preparação, como era costume para todas as virgens que se apresentavam ao rei (Ester 2:12). Esse período de preparação incluía tratamentos de beleza e cuidados especiais, o que sublinha a importância e o rigor do processo de seleção da nova rainha.
Quando chegou a sua vez de ser apresentada ao rei Assuero, Ester destacou-se entre todas as outras mulheres. O rei a amou mais do que a todas as outras e ela encontrou graça e benevolência diante dele. Assuero colocou a coroa real na cabeça de Ester e a fez rainha em lugar de Vasti (Ester 2:17).
CONCLUSÃO
O tema da deposição da rainha Vasti e a ascensão de Ester destaca-se como uma narrativa rica em lições sobre providência divina, obediência e sabedoria estratégica. A história começa com a deposição de Vasti, que recusou o comando do rei Assuero, levando a uma decisão legal e ponderada para manter a ordem e o respeito no reino. Em contraste, a ascensão de Ester, marcada por sua obediência e humildade, demonstra como a confiança nas instruções de Mardoqueu e a providência de Deus podem mudar o destino de uma pessoa e de um povo.
A transição de Vasti para Ester como rainha não apenas mostra a importância de liderança e submissão, mas também prepara o caminho para a atuação crucial de Ester na salvação de seu povo. Ester, ao seguir os conselhos de Mardoqueu e confiar na sabedoria divina, exemplifica a força e a coragem necessárias para enfrentar grandes desafios. Assim, a história ressalta que, mesmo nas circunstâncias mais adversas, a providência divina pode operar para transformar situações difíceis em oportunidades de redenção e vitória.