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O LIVRO DE ESTER

Texto Base: Ester 1:1-9

“Porque, se de todo te calares neste tempo, socorro e livramento doutra parte virá para os judeus, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?” (Ester 4:14).

Ester 1:

1.E sucedeu, nos dias de Assuero (este é aquele Assuero que reinou, desde a Índia até à Etiópia, sobre cento e vinte e sete províncias);

2.naqueles dias, assentando-se o rei Assuero sobre o trono do seu reino, que está na fortaleza de Susã,

3.no terceiro ano de seu reinado, fez um convite a todos os seus príncipes e seus servos (o poder da Pérsia e Média e os maiores senhores das províncias estavam perante ele),

4.para mostrar as riquezas da glória do seu reino e o esplendor da sua excelente grandeza, por muitos dias, a saber, cento e oitenta dias.

5.E, acabados aqueles dias, fez o rei um convite a todo o povo que se achou na fortaleza de Susã, desde o maior até ao menor, por sete dias, no pátio do jardim do palácio real.

6.As tapeçarias eram de pano branco, verde e azul celeste, pendentes de cordões de linho fino e púrpura, e argolas de prata, e colunas de mármore; os leitos eram de ouro e de prata, sobre um pavimento de pórfiro, e de mármore, e de alabastro, e de pedras preciosas.

7.E dava-se de beber em vasos de ouro, e os vasos eram diferentes uns dos outros; e havia muito vinho real, segundo o estado do rei.

8.E o beber era, por lei, feito sem que ninguém forçasse a outro; porque assim o tinha ordenado o rei expressamente a todos os grandes da sua casa que fizessem conforme a vontade de cada um.

9.Também a rainha Vasti fez um banquete para as mulheres da casa real do rei Assuero.

INTRODDUÇÃO

Com esta Lição iniciamos a segunda parte do estudo deste Trimestre letivo. Vamos estudar agora o Livro de Ester. Este Livro é uma narrativa fascinante e única no cânon bíblico. Apesar da ausência de menção explícita a Deus, sua história é uma poderosa demonstração da providência e da soberania de Deus sobre as circunstâncias da vida.

O Livro de Ester oferece lições valiosas sobre a soberania de Deus, a importância da coragem moral e a lealdade à fé e ao povo de Deus; ele nos ensina que, mesmo quando Deus parece ausente, Ele está ativamente envolvido na proteção e provisão para Seu povo. As histórias de intervenção divina, justiça e redenção que permeiam o livro continuam a ressoar com poder e relevância na vida dos crentes contemporâneos.

Ao estudarmos o Livro de Ester, somos lembrados de que Deus está presente em todas as circunstâncias da vida, trabalhando para o bem daqueles que O amam. A história de Ester nos encoraja a confiar na providência divina, a defender o que é justo e a permanecer firmes em nossa fé, sabendo que Deus é soberano sobre todas as coisas.

I. A ORGANIZAÇÃO DO LIVRO

1. A Categorização de Ester

O Livro de Ester é um componente essencial das Escrituras, com uma categorização única tanto na Bíblia Hebraica quanto na Bíblia Cristã.

Na Bíblia Hebraica

O Livro de Ester pertence aos Ketuvim, a terceira seção da Bíblia Hebraica. Esta seção inclui onze livros variados em estilo e tema, abrangendo poesia, sabedoria e narrativa histórica.

Dentro dos Ketuvim, Ester é um dos cinco livros conhecidos como Megillot, ou "Rolos". Estes livros são: Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester. Cada um desses livros é lido publicamente durante uma das principais festas judaicas:

  • Cântico dos Cânticos é lido na Páscoa.
  • Rute é lido no Pentecostes (Shavuot).
  • Lamentações é lido no Tisha B'Av.
  • Eclesiastes é lido no Sucot.
  • Ester é lido no Purim.

Ester é particularmente significativo durante o Purim, uma festa que celebra a salvação dos judeus da destruição planejada por Hamã. Durante Purim, o Livro de Ester é lido integralmente na sinagoga, lembrando os fiéis do heroísmo de Ester e da providência divina.

Na Bíblia Cristã

Na Bíblia Cristã, Ester é categorizado entre os livros históricos, um agrupamento que traça a história de Israel desde a entrada na Terra Prometida até o período pós-exílico. Esta seção inclui livros como Josué, Juízes, Rute, Samuel, Reis, Crônicas, Esdras, Neemias e Ester.

Ester é reconhecido pela sua canonicidade e aceito como parte da revelação divina escrita. A canonicidade do livro é destacada por sua inclusão na lista dos livros inspirados das Escrituras Sagradas, conforme mencionado em 2Timóteo 3:16,17, que afirma que toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, repreensão, correção e instrução na justiça.

Importância teológica e litúrgica

Embora Deus não seja mencionado explicitamente no Livro de Ester, a narrativa é um testemunho poderoso da providência divina. A ausência de menção direta a Deus serve para enfatizar como Ele opera por trás das cenas, usando pessoas e circunstâncias para cumprir Seus propósitos.

Ester também destaca a importância da identidade e da fé judaica em um contexto de dispersão. O livro mostra como a fidelidade ao povo de Deus pode levar à proteção e preservação divina, mesmo em terras estrangeiras.

A história de Ester e Mardoqueu oferece lições valiosas de coragem, liderança, e a importância de se posicionar pelo que é justo e verdadeiro, mesmo diante de grande perigo.

2. Características literárias

O Livro de Ester, com sua narrativa vibrante e intricada, possui várias características literárias que o distinguem e realçam seu valor teológico, histórico e literário. A seguir, exploramos algumas dessas características:

Narrativa e estrutura

ü Intriga e suspense. A narrativa de Ester é rica em intriga e suspense. Desde a deposição da rainha Vasti até o desmascaramento e queda de Hamã, a história mantém o leitor engajado com uma série de reviravoltas dramáticas. A tensão é habilmente construída, especialmente na cena em que Ester se aproxima do rei sem ser convocada, um ato que poderia ter resultado na sua morte.

ü Estrutura Quiástica. A estrutura quiástica (“construção de palavras e ideias contrastantes que auxiliam na compreensão e no destaque da mensagem”) é evidente no Livro de Ester, onde os eventos iniciais são espelhados nos eventos finais. Exemplos: a elevação de Hamã e o decreto para exterminar os judeus é contrastada com a humilhação de Hamã e o decreto que salva os judeus; a ascensão de Ester e Mardoqueu é espelhada pela queda de Vasti e Hamã.

Personagens e desenvolvimento

ü Caracterização. Os personagens são bem delineados e desenvolvidos ao longo da narrativa. Ester evolui de uma jovem judia anônima a uma rainha corajosa e decisiva. Mardoqueu é apresentado como um homem íntegro e sábio, cujo papel de liderança é crucial para a sobrevivência dos judeus. Hamã é caracterizado como o vilão arquetípico, cuja arrogância e ódio levam à sua própria destruição.

ü Diálogo e monólogo. Os diálogos no livro são vitais para o desenvolvimento da trama e para a revelação das motivações e caráter dos personagens. Os monólogos, especialmente de Hamã, revelam seu orgulho e intenções malignas, enquanto os diálogos entre Ester e o rei mostram sua sagacidade e coragem.

Temas e motivos

ü Providência divina. Um dos temas centrais é a providência divina. Embora Deus não seja mencionado explicitamente, a narrativa sugere fortemente que os eventos são guiados por uma mão invisível. A escolha de Ester como rainha, o descobrimento da conspiração contra o rei por Mardoqueu, e a série de coincidências que levam à queda de Hamã são todos vistos como atos da providência divina.

ü Reversão e ironia. A reversão de destinos é um motivo recorrente. Hamã, que planejou a morte de Mardoqueu, acabou sendo enforcado na forca que ele mesmo preparou. Mardoqueu, que estava destinado à morte, foi exaltado. Esta ironia dramática sublinha a justiça retributiva presente no livro.

ü Identidade e lealdade. A identidade judaica e a lealdade à comunidade são temas centrais. Ester deve escolher entre sua segurança pessoal e seu dever para com seu povo. Mardoqueu se recusa a se curvar a Hamã, demonstrando sua lealdade a Deus e sua identidade judaica.

Estilo e linguagem

ü Formalidade e protocolo. O livro usa uma linguagem que reflete a formalidade e o protocolo da corte persa. O uso de banquetes e decretos reais como dispositivos narrativos reforça o cenário imperial.

ü Uso de festas e banquetes. Os banquetes desempenham um papel crucial na trama, servindo como pontos de virada importantes. O banquete de Vasti leva à sua deposição, e os banquetes organizados por Ester são usados para revelar a conspiração de Hamã.

ü Simbolismo e metáfora. A narrativa emprega simbolismo e metáforas para enriquecer a história. Por exemplo, a coroa que Ester recebeu simboliza não apenas sua realeza, mas também sua responsabilidade para com seu povo. A forca preparada por Hamã se tornou um símbolo de sua própria destruição.

Estilo literário

ü Ausência de menção explicita de Deus. Uma característica notável é a ausência de qualquer menção explícita a Deus, oração, ou leis judaicas, o que é incomum em textos bíblicos. Isso força os leitores a reconhecerem a providência divina nas entrelinhas da narrativa.

ü Influência Persa. A influência da cultura e política persa é evidente no estilo literário. A atenção aos detalhes sobre a vida na corte persa e o uso de termos específicos da administração persa enriquecem a autenticidade do contexto histórico.

Em resumo, o Livro de Ester é uma obra-prima literária com uma narrativa envolvente, personagens complexos e uma estrutura sofisticada. A ausência de menção explícita a Deus e a presença de reviravoltas dramáticas servem para destacar a providência divina e a justiça moral. Sua categorização tanto na Bíblia Hebraica quanto na Cristã reflete sua importância teológica e literária. Essas características fazem de Ester uma narrativa poderosa sobre identidade, coragem, e a soberania de Deus nas circunstâncias da vida.

3. Autoria e data

3.1. Autoria

A autoria do Livro de Ester é tradicionalmente anônima, e o texto em si não atribui explicitamente a autoria a nenhum indivíduo. No entanto, diversas teorias e tradições surgiram ao longo do tempo:

a) Esdras ou Neemia

Alguns estudiosos sugerem que Esdras ou Neemias poderiam ser os autores do livro, devido ao estilo e à época em que viveram. Ambos tiveram papéis significativos na restauração da comunidade judaica após o exílio babilônico.

b) Mardoqueu

Outra tradição, particularmente presente no Talmude, sugere que Mardoqueu, uma das figuras centrais da narrativa, pode ter sido o autor ou, ao menos, uma fonte de informações essenciais para a composição do livro.

c) Autores anônimos da corte Persa

Alguns estudiosos acreditam que o autor poderia ter sido um judeu familiarizado com a corte persa, o que explicaria o conhecimento detalhado sobre a cultura, política e costumes persas presentes no texto.

3.2 Data

A data da composição do Livro de Ester também é um assunto de debate entre estudiosos. No entanto, há algumas pistas que nos ajudam a estimar um período aproximado:

a) Período do reinado de Xerxes I (Assuero)

O rei Assuero mencionado no livro é geralmente identificado como Xerxes I, que reinou sobre o Império Persa de 486 a 465 a.C. O contexto histórico e os eventos descritos sugerem que a narrativa se desenrola durante este período.

b) Data pós-exílica

A maioria dos estudiosos concorda que o livro foi escrito algum tempo após os eventos que descreve, provavelmente no período pós-exílico, entre o final do século V e o início do século IV a.C.; provavelmente, por volta do ano de 460 a.C. Isso é apoiado pela menção de práticas e costumes que refletem uma comunidade judaica já restabelecida.

c) Indícios textuais

O uso de termos persas, detalhes sobre a administração persa e o estilo literário indicam que o autor estava bem informado sobre a vida e a estrutura do Império Persa, sugerindo uma data próxima aos eventos descritos.

d) Tradições judaicas

As tradições judaicas que celebram o festival de Purim, instituído como resultado dos eventos narrados no livro, também sugerem que a composição do livro ocorreu enquanto essas tradições estavam sendo firmemente estabelecidas, o que corrobora uma datação não muito distante dos acontecimentos originais.

II. O CONTEXTO HISTÓRICO

1. O povo Hebreu no exílio

Para compreender plenamente o contexto histórico do Livro de Ester, é essencial examinar os eventos que levaram ao período do exílio e como isso influenciou a vida do povo hebreu.

a) Queda do reino do Norte (Israel) - 722 a.C.

Em 722 a.C., o Reino do Norte (Israel) caiu sob o poder dos assírios, conforme relatado em 2Reis 17:6. Este evento marcou o início de uma série de cativeiros que afetariam significativamente o povo hebreu. Os assírios deportaram muitos israelitas, dispersando-os por todo o seu império, o que resultou na famosa "dispersão" ou diáspora.

b) Queda do reino do Sul (Judá) e o cativeiro Babilônico - 605, 597, 586 a.C.

Pouco mais de 100 anos depois, o Reino do Sul (Judá) também enfrentou um destino semelhante. A Babilônia, sob o reinado de Nabucodonosor, levou Judá ao cativeiro em três levas distintas:

  • Primeira deportação (605 a.C.). Esta primeira deportação ocorreu quando Nabucodonosor derrotou o Egito e tomou controle do Território de Israel. Durante esta leva, nobres e jovens promissores de Judá, incluindo Daniel e seus amigos, foram levados para a Babilônia.
  • Segunda deportação (597 a.C.). Esta deportação seguiu uma revolta malsucedida contra a Babilônia, liderada pelo rei Joaquim. Nabucodonosor sitiou Jerusalém, capturou o rei Joaquim e levou mais cidadãos de Judá para o exílio, incluindo o profeta Ezequiel.
  • Terceira deportação (586 a.C.). Após outra revolta, Jerusalém foi completamente destruída. O templo foi queimado e a cidade arrasada. Este evento marcou a destruição total de Judá como uma entidade política independente, e muitos mais foram levados ao exílio babilônico.

c) Profecias de Jeremias e o período de exílio

O profeta Jeremias havia profetizado que o exílio na Babilônia duraria 70 anos (Jeremias 25:11; 29:10-14). Este período foi visto como um tempo de disciplina e purificação para o povo de Judá, particularmente no que diz respeito à idolatria que havia contaminado a nação. Ezequiel, contemporâneo de Jeremias, também abordou esse tema, enfatizando a necessidade de Israel abandonar seus ídolos e voltar-se para o Deus verdadeiro (Ezequiel 36:16-25).

A idolatria era uma das principais razões para a disciplina divina sobre Judá. Esta disciplina visava extirpar a idolatria do coração do povo e restaurar sua lealdade exclusiva ao Senhor. Deus abomina todo pensamento, sentimento e comportamento idolátrico, como claramente exposto em Romanos 1:18-25. A idolatria não é meramente a adoração de imagens, mas qualquer coisa que ocupa o lugar de Deus em nossos corações (1João 2:15-17).

d) Retorno e reconstrução

Após o término dos 70 anos de exílio, conforme profetizado por Jeremias, Ciro, o rei da Pérsia, permitiu que os judeus retornassem à sua terra natal para reconstruir o templo e Jerusalém. Este retorno ocorreu em várias ondas, com Zorobabel, Esdras e Neemias desempenhando papéis fundamentais na restauração da nação judaica.

2. O fim do exílio

Durante o exílio babilônico, Deus não apenas julgava Judá por sua idolatria, mas também exercia Seu justo juízo sobre a própria Babilônia por sua iniquidade. O profeta Jeremias havia predito que Babilônia seria punida após 70 anos de dominação (Jeremias 25:12). Anteriormente, Deus já havia julgado a Assíria por meio do profeta Naum, deixando claro que Ele não inocenta o culpado (Naum 1:2,3).

A queda da Babilônia e a ascensão da Pérsia

Em 539 a.C., Ciro, o Grande, rei da Pérsia, derrotou Babilônia e anexou seu território ao império persa. Esta mudança de poder foi significativa para o povo judeu. Logo no primeiro ano de seu reinado, "despertou o Senhor o espírito de Ciro, rei da Pérsia", levando-o a emitir um decreto que permitia o retorno dos judeus a Jerusalém e a reconstrução do templo (Esdras 1:1-3). Esta decisão foi em resposta à oração fervorosa de Daniel, que jejuou e orou intensamente pela restauração de Jerusalém, confessando os pecados de Israel (Daniel 9:1-19).

Lições sobre soberania e intervenção divina

O ensino bíblico sobre nosso relacionamento com as estruturas de poder terreno enfatiza a confiança na soberania de Deus e a busca humilde por Sua intervenção. Conforme 2Crônicas 7:14, Deus promete ouvir e curar a terra se Seu povo se humilhar, orar, buscar Sua face e se converter de seus maus caminhos. Este princípio é reiterado no Novo Testamento, onde Paulo exorta a igreja a orar por todos os homens, especialmente por aqueles em autoridade, para que possamos viver vidas tranquilas e piedosas (1Timóteo 2:1-4). A oração e a intercessão são ferramentas poderosas que contribuem para o cumprimento do maior propósito de Deus: a salvação de todos os homens, inclusive daqueles que não governam segundo os valores divinos.

3. O Pós-Exílio

O Livro de Ester narra eventos que ocorreram na capital do império persa, Susã, entre o primeiro e o segundo retorno dos judeus para Jerusalém. Após a queda da Babilônia em 539 a.C., o rei Ciro da Pérsia emitiu um decreto permitindo que os judeus retornassem à sua terra natal para reconstruir o Templo em Jerusalém (Esdras 1:1-3). No entanto, apesar deste decreto, a maioria dos judeus optou por permanecer nas cidades onde haviam se estabelecido na Babilônia, devido à estabilidade e à prosperidade que ali encontraram.

O Primeiro Retorno

Apenas cerca de 50 mil judeus retornaram a Jerusalém sob a liderança de Zorobabel, no segundo ano do reinado de Ciro, aproximadamente em 538 a.C. Este retorno é detalhado nos capítulos 1 a 6 do Livro de Esdras. Aqueles que voltaram enfrentaram enormes desafios, incluindo a reconstrução do Templo em meio à oposição dos habitantes locais e a necessidade de restabelecer a vida religiosa e social em Jerusalém.

Intervalo Entre os Retornos

Entre os capítulos 6 e 7 do Livro de Esdras, há um intervalo de cerca de 60 anos. É nesse período que se situam os eventos descritos no Livro de Ester, especificamente entre 483 e 473 a.C. Esse período é crucial para entender a situação dos judeus que permaneceram na diáspora.

A Situação dos Judeus na Diáspora

Estima-se que mais de um milhão de judeus viviam na região da Babilônia durante esse período. Embora tivessem a opção de retornar a Jerusalém, muitos preferiram ficar devido à estabilidade econômica e social que encontraram na Babilônia e nas cidades persas. Essa decisão criou uma comunidade judaica significativa e influente na diáspora, que teve que navegar a vida sob o domínio persa, preservando sua identidade e fé.

O Livro de Ester se passa nesse contexto de dispersão judaica e narra a história de Ester, uma jovem judia que se torna rainha da Pérsia, e seu primo Mardoqueu. Eles enfrentaram a ameaça existencial representada por Hamã, um oficial persa que planejou exterminar os judeus. Através da coragem e da astúcia de Ester e Mardoqueu, o plano de Hamã foi frustrado, e os judeus foram salvos.

III. PROPÓSITO E MENSAGEM DO LIVRO DE ESTER

1. A providência divina

O principal propósito do Livro de Ester é destacar o cuidado providencial de Deus com Seu povo, mesmo quando eles fazem escolhas que parecem estar fora de Seu propósito explícito. A decisão dos judeus de permanecer na Babilônia, sob o domínio do Império Persa, foi motivada por uma busca de estabilidade não só econômica, mas também cultural, social e religiosa. Os persas eram conhecidos por sua política de benevolência e tolerância, especialmente em relação à liberdade religiosa, o que tornou a vida na diáspora aparentemente mais atraente.

Escolha pela estabilidade

Os judeus que decidiram não retornar a Jerusalém fizeram isso com base em uma avaliação das condições que enfrentariam. Retornar à terra natal significava enfrentar a dura realidade de reconstruir uma cidade destruída, um templo em ruínas e uma sociedade desestruturada. Além disso, a viagem em si seria penosa e cheia de dificuldades. Em contraste, permanecer na Babilônia oferecia uma continuidade de vida relativamente estável e próspera.

A escolha pela segurança e estabilidade na Babilônia é comparada em Provérbios 14:12, que diz: "Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte". Este versículo adverte sobre a confiança excessiva nas próprias percepções e julgamentos, que podem parecer corretos à primeira vista, mas levam a consequências negativas.

Ação providencial de Deus

Apesar das escolhas do povo judeu, o Livro de Ester revela que Deus continua a agir de forma soberana e providencial para proteger e preservar Seu povo. A história mostra que, mesmo na diáspora, Deus não abandonou os judeus. Ele usou Ester e Mardoqueu para frustrar os planos de Hamã e garantir a sobrevivência do povo judeu.

Lições espirituais

a)   Fidelidade de Deus. A narrativa de Ester demonstra que a fidelidade de Deus não está limitada pelas fronteiras geográficas ou pelas decisões humanas. Mesmo quando os judeus escolheram permanecer na Babilônia, Deus ainda cuidou deles e interveio em seu favor.

b)   Aparências enganosas. A escolha aparentemente lógica e segura de permanecer na Babilônia não foi isenta de perigos. A história de Ester mostra que a verdadeira segurança está em confiar na providência divina, não nas circunstâncias humanas.

c)   Providência oculta. O nome de Deus não é mencionado no Livro de Ester, mas Sua mão é claramente visível nos eventos que ocorrem. Este aspecto do livro ensina que Deus pode estar operando de maneira oculta e sutil para realizar Seus propósitos.

d)   Coragem e ação humana. A providência divina muitas vezes se manifesta através das ações corajosas de indivíduos fiéis. Ester e Mardoqueu são exemplos de como a coragem, a sabedoria e a fé podem ser instrumentos nas mãos de Deus para cumprir Seus planos.

2. Uma falsa estabilidade

O Livro de Ester transmite uma mensagem clara sobre o perigo de confiar nas falsas estabilidades que as estruturas do mundo oferecem, as quais podem parecer mais vantajosas e seguras. Inicialmente, os judeus em Susã viviam com uma sensação de estabilidade sob o domínio persa. O império persa era conhecido por sua benevolência e tolerância, especialmente em relação à liberdade religiosa, o que parecia proporcionar uma base sólida para uma vida estável e próspera.

Tudo parecia ir bem para os judeus em Susã até que surgiu a ordem de extermínio total dos judeus, decretada por Hamã (Et.3:7-13). Este decreto revelou a fragilidade da segurança que eles pensavam ter. A situação mudou drasticamente, e a estabilidade que parecia inabalável foi substituída pelo medo e pela incerteza. Este evento mostrou que a confiança nas estruturas humanas é sempre precária e pode ser destruída por mudanças repentinas nas circunstâncias políticas e sociais.

Dependência da intervenção Divina

Com a ameaça de aniquilação, o povo de Judá mais uma vez se viu completamente dependente da intervenção divina para sua sobrevivência. O livro de Ester mostra como Deus agiu de forma providencial para proteger Seu povo, movendo as estruturas humanas e usando Ester e Mardoqueu como instrumentos para a salvação dos judeus. Este relato ilustra que, mesmo em um império poderoso como o persa, a verdadeira segurança e estabilidade só podem ser encontradas em Deus.

Ester nos lembra que é melhor confiar no Senhor do que nos homens (Sl.118:9). A confiança em Deus proporciona uma segurança verdadeira e duradoura, enquanto a confiança nas estruturas humanas é sempre incerta e pode ser rapidamente abalada.

3. A festa de Purim

O Livro de Ester tem como propósito adicional registrar a instituição da Festa de Purim, estabelecida por Mardoqueu após o grande livramento que os judeus receberam (Ester 9:20-28). Purim, sendo o plural da palavra "Pur" que significa "lançar sorte", remete ao método usado por Hamã para determinar a data do extermínio dos judeus (Ester 3:7).

A festa de Purim comemora a reversão da sorte, a transformação do decreto de destruição dos judeus em um dia de alegria e celebração. Hamã, ao lançar sortes para escolher o dia da destruição dos judeus, acabou inadvertidamente escolhendo uma data que se tornaria um símbolo da intervenção divina e da salvação dos judeus através das ações de Ester e Mardoqueu.

Celebração de Purim

Purim é celebrado anualmente no 14º e 15º dias do mês de Adar (geralmente fevereiro ou março no calendário gregoriano), marcando a libertação dos judeus do perigo iminente de extermínio. A festa é caracterizada por:

a)   Leitura do Livro de Ester (Meguilá). Durante a festa, é tradicional ler o Livro de Ester em voz alta nas sinagogas. Cada vez que o nome de Hamã é mencionado, os participantes fazem barulho com matracas ou batem os pés para simbolicamente "apagar" seu nome.

b)   Troca de presentes e alimentos. Os judeus trocam presentes de comida e enviam porções a amigos e familiares. Este ato é conhecido como "mishloach manot" e simboliza a alegria e a comunhão.

c)   Doações aos pobres. Também é costume fazer doações aos necessitados, conhecido como "matanot la'evyonim", garantindo que todos possam participar da celebração.

d)   Festas e refeições. Purim é uma ocasião de festas e celebrações, incluindo uma refeição festiva especial conhecida como "seudat Purim".

Significado Espiritual

Purim não é apenas uma celebração histórica, mas também possui profundo significado espiritual:

a)   Providência Divina. A festa lembra os judeus da providência divina e da soberania de Deus. Apesar de Deus não ser mencionado explicitamente no Livro de Ester, Sua presença e intervenção são claramente percebidas.

b)   Resiliência e Fé. Purim destaca a resiliência do povo judeu e a importância da fé e confiança em Deus durante tempos de adversidade.

c)   Reversão de sorte. A história de Purim é um poderoso exemplo de como Deus pode transformar situações de desespero e destruição em momentos de salvação e alegria.

CONCLUSÃO

O Livro de Ester é uma poderosa narrativa sobre a providência divina e a soberania de Deus nas circunstâncias da vida. Situado no contexto histórico do exílio e pós-exílio dos judeus, Ester destaca a importância da fé, coragem e ação diante das adversidades.

Em essência, o Livro de Ester nos ensina sobre a importância de confiar em Deus, mesmo quando Ele parece ausente, e nos desafia a sermos corajosos e fiéis em nossas próprias circunstâncias, sabendo que Deus trabalha em todas as coisas para o bem daqueles que O amam.