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O PLANO DE LIVRAMENTO E O PAPEL DE ESTER

 

Texto Base: Ester 4:5-17; 5:1-3,7,8

“Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti, que trabalhe para aquele que nele espera” (Is.64:4).

Ester 4:

5.Então, Ester chamou a Hataque (um dos eunucos do rei, que este tinha posto na presença dela) e deu-lhe mandado para Mardoqueu, para saber que era aquilo e para quê.

6.E, saindo Hataque a Mardoqueu, à praça da cidade que estava diante da porta do rei,

7.Mardoqueu lhe fez saber tudo quanto lhe tinha sucedido, como também a oferta da prata que Hamã dissera que daria para os tesouros do rei pelos judeus, para os lançar a perder.

8.Também lhe deu a cópia da lei escrita que se publicara em Susã para os destruir, para a mostrar a Ester, e lha fazer saber, e para lhe ordenar que fosse ter com o rei, e lhe pedisse, e suplicasse na sua presença pelo seu povo.

9.Veio, pois, Hataque e fez saber a Ester as palavras de Mardoqueu.

10.Então, disse Ester a Hataque e mandou-lhe dizer a Mardoqueu:

11.Todos os servos do rei e o povo das províncias do rei bem sabem que para todo homem ou mulher que entrar ao rei, no pátio interior, sem ser chamado, não há senão uma sentença, a de morte, salvo se o rei estender para ele o cetro de ouro, para que viva; e eu, nestes trinta dias, não sou chamada para entrar ao rei.

12.E fizeram saber a Mardoqueu as palavras de Ester.

13.Então, disse Mardoqueu que tornassem a dizer a Ester: Não imagines, em teu ânimo, que escaparás na casa do rei, mais do que todos os outros judeus.

14.Porque, se de todo te calares neste tempo, socorro e livramento doutra parte virá para os judeus, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?

15.Então, disse Ester que tornassem a dizer a Mardoqueu:

16.Vai, e ajunta todos os judeus que se acharem em Susã, e jejuai por mim, e não comais nem bebais por três dias, nem de dia nem de noite, e eu e as minhas moças também assim jejuaremos; e assim irei ter com o rei, ainda que não é segundo a lei; e, perecendo, pereço.

17.Então, Mardoqueu foi e fez conforme tudo quanto Ester lhe ordenou.

Ester 5:

1.Sucedeu, pois, que, ao terceiro dia, Ester se vestiu de suas vestes reais e se pôs no pátio interior da casa do rei, defronte do aposento do rei; e o rei estava assentado sobre o seu trono real, na casa real, defronte da porta do aposento. 2.E sucedeu que, vendo o rei a rainha Ester, que estava no pátio, ela alcançou graça aos seus olhos; e o rei apontou para Ester com o cetro de ouro, que tinha na sua mão, e Ester chegou e tocou a ponta do cetro.

3.Então, o rei lhe disse: Que é o que tens, rainha Ester, ou qual é a tua petição? Até metade do reino se te dará.

7.Então, respondeu Ester e disse: Minha petição e requerimento é:

8.se achei graça aos olhos do rei, e se bem parecer ao rei conceder-me a minha petição e outorgar-me o meu requerimento, venha o rei com Hamã ao banquete que lhes hei de preparar, e amanhã farei conforme o mandado do rei.

INTRODUÇÃO

Nesta Lição, estudaremos o tema "O Plano de Livramento e o Papel de Ester", que aborda a intervenção divina e a coragem humana frente às adversidades. Diante das artimanhas de Hamã, que tramou o extermínio dos judeus, Deus providenciou um grande livramento através de seus servos fiéis, Mardoqueu e Ester. A lição examina o meticuloso plano de Mardoqueu para salvar seu povo, o processo de convencimento de Ester para que assumisse seu papel crucial, e a preparação dela para se apresentar diante do rei Assuero, arriscando sua vida para rogar pelo livramento dos judeus.

Esta narrativa nos mostra como Deus trabalha através de pessoas comuns, dotando-as de coragem e sabedoria para enfrentar desafios aparentemente insuperáveis. Ester, uma jovem judia no meio de um império hostil, se torna uma figura central na providência divina, destacando a importância da obediência, do sacrifício pessoal e da fé inabalável.

Ao estudarmos esse episódio, somos lembrados de que, mesmo nos momentos mais sombrios, a intervenção divina pode transformar situações desesperadoras em vitórias notáveis. Este relato não apenas reforça a fé no cuidado e na justiça de Deus, mas também inspira a agir com coragem e determinação em defesa do que é justo e bom.

I. O PERIGOSO PLANO E O TEMOR DE ESTER

1. Lamento, choro e compadecimento

Mardoqueu não escondeu seu abatimento diante da terrível notícia da conspiração de Hamã. O trágico decreto de extermínio dos judeus fez com que ele rasgasse suas vestes, se cobrisse de pano de saco e cinza, e clamasse em alta voz pela cidade (Ester 4:1). Ester, dentro do palácio, ficou sabendo da condição de seu primo e se compadeceu dele, mas inicialmente desconhecia os motivos por trás de seu sofrimento. Em uma tentativa de ajudar, enviou roupas para que ele vestisse, mas Mardoqueu recusou, pois queria que ela soubesse da gravidade da situação.

A preocupação de Ester era genuína, e ela imediatamente enviou Hataque, um dos eunucos do rei, para perguntar a Mardoqueu o que estava acontecendo (Ester 4:5). Mardoqueu, em seu desespero, não estava apenas buscando chamar a atenção de Ester; ele expressava um sentimento sincero de desolação compartilhado por todos os judeus das províncias diante da ordem real de matança. Era crucial que Ester soubesse dos eventos para que pudesse tomar uma atitude.

Compartilhar nossos sentimentos com as pessoas certas é essencial e nos proporciona alívio e compreensão (Rm.12:15). Em momentos de profunda agonia, até Jesus abriu seu coração aos discípulos e pediu que eles permanecessem com Ele (Mateus 26:36-38). Da mesma forma, a sinceridade de Mardoqueu e seu desejo de informar Ester sobre a situação mostram a importância de comunicar nossas angústias e buscar apoio nos momentos de crise.

2. Um obstáculo real

Por intermédio de Hataque, Mardoqueu informou Ester detalhadamente sobre o ardiloso plano de Hamã, incluindo uma cópia do decreto de Assuero que ordenava o extermínio dos judeus. Ele implorou que ela fosse ao rei e suplicasse pela vida de seu povo. No entanto, havia um grande obstáculo: A lei que proibia qualquer pessoa, homem ou mulher, de entrar no palácio sem ser chamada pelo rei. A violação dessa norma resultava em sentença de morte, a menos que o rei estendesse o cetro de ouro, sinalizando sua clemência.

Essa rigorosa norma provavelmente existia devido ao temor dos reis de serem vítimas de conspirações, um risco que muitos monarcas enfrentaram ao longo da história, resultando em suas mortes no trono. Ester estava consciente do perigo que enfrentava e da necessidade de sabedoria e coragem para abordar o rei, especialmente porque ela não havia sido chamada à presença dele nos últimos trinta dias (Ester 4:11).

3. Autoritarismo e morte

A rígida norma que impedia qualquer pessoa de se aproximar do rei sem ser chamada, sob pena de morte, mostra o clima de desconfiança e medo no palácio. Tal medida extrema visava proteger o rei de possíveis conspirações, mas também isolava o monarca, contribuindo para um governo mais despótico e distante de seus súditos.

Infelizmente, o que Assuero temia acabou acontecendo: ele foi assassinado por um dos oficiais do palácio em 465 a.C., oito anos após os eventos narrados no livro de Ester. Anteriormente, dois de seus guardas já haviam tramado sua morte (Ester 2:21). A morte de Assuero reflete a instabilidade e o perigo constante em regimes autoritários. Ditadores e líderes autoritários frequentemente enfrentam tragédias similares, pois o poder absoluto tende a criar muitos inimigos. A história recente oferece exemplos claros, como a execução do ditador líbio Muammar Gaddafi (1942-2011) por seus próprios cidadãos.

Em contraste com a abordagem autoritária, a mansidão e a humildade, exemplificadas por Moisés, que era descrito como o homem mais manso da terra (Números 12:3), são atributos que trazem paz e proteção. A Bíblia nos ensina que a mansidão e a justiça podem prevenir muitos conflitos e perigos (Provérbios 15:1).

Quando enfrentamos ameaças ou injustiças, podemos confiar que Deus será nossa defesa (Êxodo 23:22; Salmos 5:11). A história de Assuero é um lembrete de que o poder absoluto e o autoritarismo frequentemente levam à desconfiança e ao perigo, enquanto a justiça e a mansidão oferecem um caminho mais seguro e harmonioso.

II. MARDOQUEU CONVENCE ESTER

1. Confiando na providência divina

Ester mandou dizer a Mardoqueu que não podia se apresentar ao rei sem ser convidada, pois seria morta, conforme a lei vigente, e nos últimos 30 dias não havia sido chamada pelo rei. A resposta de Ester não convenceu Mardoqueu, e mandou um recado a ela: que não confiasse em sua posição de rainha, pois a ordem do rei era o extermínio de todos os judeus, sem exceção (Ester 4:13).

Porém, se Ester não se dispusesse a interceder junto ao rei, Mardoqueu confiava que a providência divina se manifestaria de outra forma. A expressão “socorro e livramento de outra parte virá” (Ester 4:14) revela que Mardoqueu confiava em Deus, acima de tudo. Quando supervalorizamos pessoas, por mais importantes que sejam, nos esquecendo que nosso socorro vem de Deus, fazemos delas nossos ídolos (Sl.121:1,2). Deus abomina todo o tipo de idolatria (Jr.17:5).

A insistência de Mardoqueu reflete uma profunda compreensão da soberania divina e da responsabilidade humana. Ele sabia que, embora Deus fosse plenamente capaz de salvar o Seu povo por outros meios, Ester estava em uma posição única para agir. Esta dualidade entre confiar na providência divina e a responsabilidade humana é um tema recorrente nas Escrituras. Por exemplo, vemos isso na história de José, que reconheceu a mão de Deus nas circunstâncias adversas que enfrentou (Gênesis 50:20).

Além disso, Mardoqueu não permitiu que o medo ou a aparente impossibilidade paralisassem sua ação. Em vez disso, ele desafiou Ester a perceber que seu papel como rainha podia ter um propósito maior: a salvação de seu povo (Ester 4:14). Essa ideia de ser colocado em uma posição específica para cumprir os propósitos de Deus é ecoada em outras partes da Bíblia, como na história de Moisés e no chamado de Isaías (Êxodo 3:10; Isaías 6:8).

A confiança de Mardoqueu na providência divina é um exemplo para os crentes de que, independentemente das circunstâncias, Deus é soberano e está no controle. Ele nos chama a agir com coragem e fé, confiando que Ele usará nossos esforços para cumprir Seus propósitos. Isso não significa que devemos ser passivos ou esperar que Deus resolva tudo sem a nossa participação. Pelo contrário, somos chamados a ser instrumentos ativos em Suas mãos, dispostos a assumir riscos e a enfrentar desafios pelo bem maior.

A mensagem de Mardoqueu a Ester também nos alerta contra a complacência e o egoísmo. Ester estava em uma posição confortável no palácio, mas Mardoqueu a lembrou de que sua segurança não era garantida e que sua verdadeira lealdade deveria ser para com seu povo e com Deus. Isso nos ensina que nossas bênçãos e posições não são apenas para nosso benefício, mas para que possamos servir a outros e glorificar a Deus.

Ao refletir sobre essa parte da história de Ester, somos desafiados a examinar nossa própria confiança em Deus e nossa disposição de agir em fé. Somos lembrados de que, independentemente das circunstâncias, nosso socorro vem do Senhor, o Criador dos céus e da terra (Salmos 121:2). Confiar na providência divina nos dá a coragem de enfrentar desafios aparentemente insuperáveis, sabendo que Deus pode operar milagres através de nossas ações de fé.

2. Primeiro Deus, depois o homem

Ester convenceu-se de que precisaria agir. Antes de tudo, porém, era preciso clamar a Deus, para que a dirigisse e lhe desse graça diante do rei. Em sua resposta a Mardoqueu, pediu que ajuntasse todos os judeus de Susã e jejuassem por ela durante três dias. Ela faria o mesmo junto com as moças que assistiam no palácio (Ester 4:16).

Ester demonstrou uma compreensão profunda da necessidade de buscar a orientação divina antes de tomar qualquer ação significativa. O jejum e a oração representavam um reconhecimento da soberania de Deus e a dependência total d'Ele para o sucesso de sua missão. Este ato de humildade e entrega reflete a atitude correta que todos os crentes devem ter diante dos desafios e decisões importantes da vida.

A importância do equilíbrio e prudência espiritual

Equilíbrio e prudência espiritual nos fazem entender o tempo e o lugar de Deus e o nosso no cotidiano da vida. Antes de Ester procurar o rei, os judeus deveriam buscar a Deus. Esse princípio é essencial para uma vida cristã bem-sucedida. Reconhecer a necessidade de colocar Deus em primeiro lugar é crucial, especialmente em situações de crise.

A resposta de Ester também sublinha a importância da comunidade de fé. Ao pedir que todos os judeus de Susã jejuassem e orassem com ela, Ester estava mobilizando uma rede de apoio espiritual. Este exemplo nos ensina sobre o poder da oração corporativa e a importância de intercedermos uns pelos outros em tempos de necessidade.

O contraste com o secularismo e o materialismo modernos

Uma triste característica de nossos dias são o secularismo e o materialismo (Lc.18:8). Inspirados no ateísmo, rejeitam e negam as realidades espirituais e veem o homem como o senhor de sua existência e de seu destino. Autoconfiança e soberba humana são de origem maligna (Tg.4:13-16).

O secularismo e o materialismo promovem uma visão de mundo onde a dependência de Deus é substituída pela confiança na capacidade humana e na ciência. Essa perspectiva ignora a realidade espiritual e a necessidade de buscar a orientação divina. A história de Ester é um poderoso lembrete de que, embora o homem tenha um papel importante a desempenhar, é Deus quem dirige os passos e concede o sucesso.

A humildade diante de Deus

Ester exemplificou a humildade e a dependência de Deus que todos devemos ter. Antes de qualquer ação, ela buscou a aprovação e a ajuda divina, reconhecendo que sem Deus, seus esforços seriam em vão. Esta atitude contrasta fortemente com a autossuficiência promovida pelo secularismo e materialismo modernos.

A verdadeira sabedoria e sucesso vêm de reconhecer nossa limitação humana e nossa total dependência de Deus. Quando colocamos Deus em primeiro lugar e buscamos Sua orientação, Ele nos concede a graça e a sabedoria necessárias para enfrentar qualquer desafio.

Em resumo, a preparação de Ester antes de abordar o rei nos ensina a importância de buscar a Deus antes de agir. Este princípio de colocar Deus em primeiro lugar é essencial para uma vida cristã equilibrada e bem-sucedida, e é um poderoso antídoto contra as influências corrosivas do secularismo e materialismo modernos.

3. Confiar em Deus não é tentá-lo

Ester confiava em Deus, mas não agiu de forma a tentá-lo (Mt.4:5-7). Através do jejum, os judeus pediam a intervenção divina para que o rei aceitasse a presença de Ester e ela alcançasse o que pretendia. Todavia, isso poderia não acontecer. Por isso, mesmo confiando, Ester estava disposta a morrer. Disse ela: “se eu tiver de morrer, morrerei” (Ester 4:16).

A confiança de Ester em Deus foi demonstrada através de uma preparação espiritual sincera e um compromisso firme, sem a presunção de exigir um resultado específico de Deus. Ela reconhecia a soberania de Deus sobre a situação e se submetia completamente à Sua vontade, mostrando uma fé madura e profunda.

Exemplos de fé e disposição no passado

Décadas antes, na Babilônia, três outros judeus haviam demonstrado a mesma fé e disposição (Dn.3:16-18): Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Estes homens de Deus ao serem confrontados com a ordem de adorar a estátua de ouro, afirmaram sua confiança em Deus para livrá-los, mas também estavam preparados para enfrentar a morte se Deus assim permitisse. Este exemplo de fé inabalável nos ensina a confiar em Deus sem tentar manipulá-Lo ou exigir um resultado específico.

Crenças errôneas modernas

Em nossos dias são difundidas crenças errôneas que acreditam ser possível mandar em Deus e pô-lo “na parede”. A soberania divina não pode ser desafiada por ninguém (Jó 2:9,10). Essas doutrinas, que muitas vezes se manifestam em práticas de prosperidade e declarações de fé autoritativas, distorcem a natureza da relação entre Deus e o homem.

A tentativa de forçar Deus a agir conforme nossa vontade é uma forma de tentar a Deus, o que é claramente condenado nas Escrituras. Jó, em sua dor, foi aconselhado por sua esposa a desafiar Deus, mas ele rejeitou tal atitude, reconhecendo a soberania e a bondade de Deus em todas as circunstâncias (Jó 2:9,10).

A soberania divina

A história de Ester, assim como a dos três jovens na Babilônia, nos ensina que a verdadeira fé em Deus reconhece Sua soberania absoluta. Mesmo quando enfrentamos situações de extremo perigo ou incerteza, devemos confiar em Deus, sabendo que Ele é capaz de nos salvar, mas também aceitando que Seus caminhos e Seus planos são perfeitos, mesmo que não os compreendamos completamente.

Ester não tentou forçar a mão de Deus, mas colocou sua confiança Nele e se dispôs a aceitar o resultado, qualquer que fosse. Esse tipo de fé, que confia sem exigir e se submete sem reservas, é o que devemos buscar cultivar em nossa vida cristã. Deus nos chama a uma confiança plena e reverente, reconhecendo que Ele é o Senhor soberano sobre todas as coisas.

III. O PLANO: ESTER ENTRA À PRESENÇA DO REI E PROPÕE UM BANQUETE

1. Prudência, preparação e ação

Ao decidir entrar à presença de Assuero, Ester estava sujeita a qualquer reação dele quando a visse: vida ou morte. Era um grande desafio. Por isso, Ester se preparou espiritual, emocional e fisicamente. Depois de três dias de jejum, pôs sua veste real e foi ao pátio interior da casa do rei, diante do salão onde ficava o trono (Ester 5:1). Este ato de coragem e preparação de Ester não foi impulsivo; foi resultado de uma cuidadosa reflexão e uma busca sincera por direção divina.

A conduta de Ester nos ensina como devemos ser precavidos para tomar atitudes importantes que podem impactar nosso futuro (Pv.19:2). Ester não apenas confiou na providência divina, mas também tomou medidas práticas para se preparar da melhor maneira possível. Sua abordagem combina fé com ação, um equilíbrio essencial na vida cristã.

Como afirma o Pr. Silas Queiroz, mulheres sábias, como Ester e Abigail, conseguem resolver grandes problemas e evitar grandes tragédias (1Sm.25:18-35). Abigail, por exemplo, mostrou uma sabedoria e prudência semelhantes ao interceder para evitar um desastre iminente, demonstrando como a intervenção sensata e a preparação adequada podem mudar o curso dos eventos.

Por outro lado, imprudências e precipitações, podem levar a prejuízos irreparáveis (Pv.14:1). Tomar decisões sem a devida preparação ou sem buscar orientação divina pode resultar em consequências desastrosas. A história está repleta de exemplos de decisões precipitadas que levaram a grandes perdas, tanto em contextos pessoais quanto coletivos.

A prudência envolve uma avaliação cuidadosa das circunstâncias, um entendimento claro das possíveis consequências e uma disposição para buscar a sabedoria e a orientação de Deus antes de agir. Ester exemplificou esta prudência ao se preparar adequadamente para o encontro com o rei, mostrando que a fé e a ação prudente devem andar juntas.

Aplicações práticas para a vida cristã

Para os cristãos de hoje, a história de Ester oferece lições valiosas sobre como abordar situações difíceis e potencialmente perigosas. A preparação espiritual, através da oração e do jejum, é fundamental. Além disso, a preparação emocional e física não deve ser negligenciada. A confiança em Deus não elimina a necessidade de prudência e preparação; pelo contrário, ela deve nos motivar a agir com ainda mais cuidado e sabedoria.

Portanto, ao enfrentar desafios, devemos seguir o exemplo de Ester: buscar a direção de Deus, preparar-nos adequadamente e agir com coragem e prudência. Esta abordagem não só nos protege contra os perigos da imprudência, mas também nos posiciona para ver a mão de Deus trabalhando poderosamente em nossas vidas e nas vidas daqueles ao nosso redor.

2. Estendendo o cetro

Assentado em seu trono, Assuero viu Ester e estendeu para ela seu cetro de ouro (Ester 5:2). Esse gesto era crucial, pois significava que o rei aceitava sua presença e, portanto, sua vida estava a salvo. Para Ester, isso deve ter sido um grande alívio. Ela se aproximou e tocou a ponta do cetro, cumprindo o protocolo legal. Esse ato de tocar o cetro era mais que um simples gesto de respeito, era um símbolo de aceitação e favor real.

A prontidão do rei para ouvir

Como era incomum alguém se apresentar diante do rei sem ter sido chamado, Assuero logo perguntou o que estava acontecendo: “Que é o que tens, rainha Ester, ou qual é a tua petição? Até a metade do reino se te dará" (Ester 5:3). Esta expressão, embora impressionante, era uma fórmula comum de demonstração de generosidade e prontidão para ouvir. Assuero estava comunicando sua disposição de atender ao pedido de Ester, indicando sua estima e confiança nela.

Paralelos históricos e bíblicos

A disposição de vontade do rei foi manifestada com o uso de uma frase que era comum nessas ocasiões, mas que, segundo estudiosos, não se interpretava de forma literal. Herodes usou essa mesma expressão em relação a Herodias, quando prometeu até metade do seu reino em um banquete (Marcos 6:21-23). Essas palavras simbolizavam uma abertura para negociações e uma demonstração de favor real, embora sem a intenção de cumprir literalmente.

Significado espiritual e lições práticas

O ato de Assuero estender o cetro a Ester pode ser visto como uma metáfora da graça e misericórdia divina. Assim como Ester se aproximou do trono do rei com temor, mas também com confiança após jejuar e orar, os crentes são incentivados a se aproximar do trono de Deus com confiança, sabendo que Ele é misericordioso e disposto a ouvir nossas petições (Hebreus 4:16).

Ester mostrou coragem e sabedoria ao se preparar espiritualmente antes de agir. Sua abordagem nos ensina a importância de nos prepararmos adequadamente, tanto espiritual quanto emocionalmente, quando enfrentamos desafios. Assim, aprendemos que devemos buscar a direção de Deus antes de tomar decisões importantes, confiando que Ele estenderá Seu "cetro" de graça e favor em resposta às nossas orações sinceras.

A resposta de Ester e a estratégia

A resposta de Ester à pergunta do rei também revela sua sabedoria e estratégia. Em vez de revelar imediatamente seu pedido, ela convidou o rei e Hamã para um banquete que preparou (Ester 5:4). Este movimento estratégico permitiu que ela ganhasse tempo, criasse um ambiente favorável e demonstrasse respeito e paciência. Esta abordagem nos ensina que, muitas vezes, é necessário criar as condições adequadas antes de apresentar nossos pedidos ou tomar ações decisivas.

Assim, o episódio do cetro estendido não é apenas um momento de alívio para Ester, mas também um testemunho de como a prudência, a preparação espiritual e a sabedoria podem abrir portas e assegurar o favor necessário para enfrentar grandes desafios.

3. Em sintonia com Deus

As circunstâncias narradas no livro de Ester indicam que ela, em seu coração, estava em plena sintonia com Deus. Mesmo diante da disposição imediata do rei em atendê-la, Ester agiu com extrema cautela e sabedoria. Ao invés de revelar de imediato o seu pedido, ela convidou o rei Assuero e Hamã para um banquete (Ester 5:4). Essa decisão não foi impulsiva, mas sim uma demonstração de discernimento espiritual e estratégico.

Estratégia e paciência

Na ocasião do primeiro banquete, o rei renovou sua disposição em atender a qualquer pedido de Ester (Ester 5:6). Porém, mesmo com essa segunda oportunidade, Ester discerniu que ainda não era o momento adequado para fazer seu pedido. Demonstrando paciência e estratégia, ela convidou Assuero e Hamã para um segundo banquete no dia seguinte (Ester 5:8). Este intervalo permitiu que os eventos se desenrolassem conforme os desígnios divinos.

A importância do timing (melhor momento, oportunidade)

A decisão de Ester de adiar seu pedido reflete uma profunda compreensão da importância do timing na execução dos planos de Deus. Ela sabia que precisava esperar o momento certo, que foi providencialmente preparado por Deus. Essa espera resultou em uma noite decisiva que mudaria o curso da história (Ester 6). Durante essa noite, o rei foi levado a lembrar-se de Mardoqueu e seus serviços não recompensados, o que preparou o terreno para a petição de Ester e a queda de Hamã.

Providência divina em ação

Os desígnios de Deus são perfeitos e estavam claramente guiando Ester em todos os detalhes de sua abordagem. A providência divina não só orientou Ester em suas ações, mas também nos eventos que ocorreram em torno dela. O episódio do rei lembrando-se de Mardoqueu durante a noite entre os banquetes é uma clara evidência da mão de Deus em ação, preparando o caminho para a salvação dos judeus (Ester 6:1-3).

Lições espirituais

A história de Ester nos ensina várias lições espirituais. Primeiramente, a importância de estar em sintonia com a vontade de Deus, buscando Sua orientação em momentos de crise. Ester também exemplifica a sabedoria de agir com cautela e paciência, esperando o momento certo para agir. Sua história reforça a confiança na providência divina, que trabalha de formas misteriosas, mas sempre perfeitas para cumprir Seus propósitos.

Aplicação prática

Em nossa vida cotidiana, é essencial buscar a orientação de Deus em oração e agir com discernimento e paciência. Como Ester, devemos confiar que Deus está no controle, mesmo quando os desafios parecem insuperáveis. A história de Ester é um lembrete poderoso de que, quando estamos em sintonia com Deus e buscamos Sua vontade, Ele nos guiará através de todas as adversidades, usando até mesmo os obstáculos para o cumprimento de Seu propósito maior.

Ester, ao agir com prudência e confiar na providência divina, nos mostra como a fé e a sabedoria podem transformar situações desesperadoras em grandes vitórias.

CONCLUSÃO

Esta Lição que acabamos de estudar revela como Deus, em Sua providência, usou a coragem e a sabedoria de Ester para salvar os judeus da conspiração de Hamã. A preparação espiritual, emocional e física de Ester, sua prudência e confiança em Deus, demonstram a importância de buscar a direção divina em momentos críticos. Este relato nos ensina sobre a soberania de Deus e a necessidade de fé e ação coordenada em harmonia com Seus desígnios. Em todas as circunstâncias, a glória é devida ao Senhor, que controla a história e guia Seu povo para a vitória.