A INTERCESSÃO DE JESUS PELOS DISCÍPULOS

Texto Base: João 17:1-3,11-17 

“E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (João 17:3).

João 17:

1.Jesus falou essas coisas e, levantando os olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti,

2.assim como lhe deste poder sobre toda carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste.

3.E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste.

11.E eu já não estou mais no mundo; mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós.

12.Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse.

13.Mas, agora, vou para ti e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em si mesmos.

14.Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.

15.Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal.

16.Não são do mundo, como eu do mundo não sou.

17.Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.

INTRODUÇÃO

A oração sacerdotal de Jesus registrada em João 17 é um dos momentos mais sublimes do Evangelho, revelando o profundo amor e compromisso de Cristo com os seus discípulos e com todos os que viriam a crer nele ao longo da história. Diferente das orações feitas em momentos anteriores, nesta passagem, Jesus não apenas intercede por seus seguidores, mas também declara a consumação de sua missão e reafirma sua comunhão eterna com o Pai.

Esta oração está estruturada em três partes essenciais: (1) Jesus ora por sua própria glorificação, destacando sua entrega sacrificial como parte do plano redentor; (2) intercede pelos discípulos, pedindo que sejam guardados do mal e santificados na verdade; e (3) clama por todos os futuros crentes, demonstrando sua visão abrangente e atemporal do Reino de Deus.

Ao estudarmos essa oração, compreendemos a profundidade do amor de Cristo, que nos inclui em seu propósito eterno e intercede continuamente por nós diante do Pai. Esse capítulo não apenas fortalece nossa fé, mas também nos desafia a viver em santidade, unidade e fidelidade à missão que Jesus nos confiou.

I – A ORAÇÃO DE JESUS E SUA GLORIFICAÇÃO 

1. A oração de Jesus (João 17:1-26)

A oração registrada em João 17 é a mais sublime das Escrituras, revelando o coração de Jesus em um momento crucial antes da cruz. Aqui, o Deus Filho conversa com o Deus Pai, permitindo-nos vislumbrar os mais profundos anseios de Cristo por sua missão e por seus discípulos.

F.F. Bruce destaca que “essa oração representa a consagração de Jesus ao sacrifício redentor, no qual Ele é tanto o sacerdote quanto a oferta. Ao mesmo tempo, é uma intercessão pelos discípulos e por todos os que viriam a crer por meio do testemunho deles”.

Warren Wiersbe observa que “a oração se divide em três partes: (1) Jesus ora por si mesmo, declarando ter concluído sua obra na Terra (João 17:1-5); (2) intercede pelos discípulos, pedindo ao Pai que os guarde e os santifique (João 17:6-19); e (3) clama por todos os futuros crentes, rogando pela unidade e pela participação na sua glória (João 17:20-26)”.

William McDonald, citando Marcus Rainsford, ressalta que “Jesus não menciona falhas ou quedas de seus discípulos, mas foca no propósito eterno do Pai para suas vidas. Sua oração não inclui pedidos por riquezas, status ou influência terrena, mas sim por bênçãos espirituais e celestiais: proteção contra o mal, santificação, capacitação para a missão e, por fim, a comunhão eterna com Ele. Isso nos ensina que a verdadeira prosperidade está na alma e na permanência na vontade de Deus”.

2. A oração de Jesus pela sua glorificação

“Jesus falou essas coisas e, levantando os olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti” (João 17:1).

A súplica de Jesus por sua glorificação não era motivada por um desejo egoísta, mas por um propósito redentivo. Ele tinha plena consciência de sua missão e sabia que a cruz seria o ápice de sua obra salvífica. Ao afirmar: "É chegada a hora" (João 17:1), Jesus reconhece que o momento determinado pelo Pai havia chegado. Essa glorificação não se referia apenas à exaltação após sua ressurreição e ascensão, mas incluía também o sofrimento e a morte no Calvário, que revelariam plenamente a glória divina no plano da redenção.

A glorificação mencionada por Cristo está diretamente relacionada à revelação de quem Ele é: o Filho de Deus e o Salvador do mundo (João 17:3,4). A cruz, que à primeira vista poderia parecer um sinal de derrota, era na verdade o trono onde Cristo venceria o pecado, pisaria a cabeça da serpente (Gn.3:15) e despojaria os principados e potestades (Cl.2:15). Dessa forma, a cruz se torna o centro da glorificação do Filho, pois, por meio de seu sacrifício, o mundo conheceria o imenso amor de Deus e a vida eterna seria oferecida a todos os que cressem.

O ministério de Jesus nunca esteve sujeito ao acaso. Desde o seu nascimento até sua morte, tudo foi conduzido segundo o plano eterno de Deus. Ao longo de seu ministério, Jesus reiterou que sua "hora" ainda não havia chegado (João 2:4; 7:30; 8:20), mas agora Ele declara que o tempo determinado pelo Pai havia chegado. Ele não caminha para a cruz como um derrotado, mas como um Rei que segue para sua entronização por meio do sacrifício supremo. A oração de João 17 ocorre na mesma noite da angústia no Getsêmani e antecede diretamente os eventos da paixão, marcando a transição final para o cumprimento da redenção.

3. A mesma glória com o Pai

“e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (João 17:5).

Ao afirmar: "E, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo" (João 17:5), Jesus declara sua pré-existência eterna e sua divindade. Essa súplica revela que a encarnação não foi o início da existência de Cristo, mas um momento em que Ele temporariamente deixou sua glória celestial para cumprir o plano redentor. Como o Verbo eterno, Ele compartilhava a glória com o Pai antes da criação do mundo (João 1:1,2), mas ao assumir a natureza humana, esvaziou-se voluntariamente, renunciando às prerrogativas divinas e se humilhando até a condição de servo (Fp.2:6-8).

Agora, prestes a completar sua missão na Terra, Jesus pede ao Pai para reassumir a glória que sempre lhe pertenceu desde a eternidade. A cruz, que à primeira vista parece um caminho de humilhação, na verdade marca o retorno de Cristo à sua posição glorificada. Ele voltaria ao céu não apenas como o Verbo eterno, mas também como o Redentor vitorioso, exaltado sobre todas as coisas e recebendo um nome acima de todo nome (Fp.2:9-11).

Entretanto, a oração de Cristo não se restringe à sua glorificação pessoal. Em João 17:24, Ele expressa o desejo de que sua Igreja contemple e participe dessa mesma glória. Os salvos não apenas habitarão no céu, mas reinarão com Cristo e desfrutarão da comunhão eterna com Ele (1João 3:2; Ap.22:3-5). Essa promessa aponta para o destino final dos crentes: não somente a salvação, mas a glorificação plena, onde seremos transformados à imagem do Filho e viveremos em sua presença gloriosa por toda a eternidade. Essa é a esperança suprema da Igreja, a consumação do propósito divino em trazer muitos filhos à Sua glória (Hb.2:10).

Sinopse I – A ORAÇÃO DE JESUS E SUA GLORIFICAÇÃO

-No capítulo 17 de João, encontramos a mais sublime oração registrada nas Escrituras, onde Jesus intercede por si mesmo, por seus discípulos e por todos os que viriam a crer. Ele inicia sua oração pedindo ao Pai que o glorifique, não como um ato egoísta, mas como a consumação de sua missão redentora. A glorificação de Cristo se daria por meio da cruz, onde Ele manifestaria plenamente o amor e a justiça de Deus, trazendo salvação à humanidade.

-Ao falar de sua glorificação, Jesus destaca que essa não era uma conquista terrena, mas o retorno à glória eterna que Ele já possuía antes da criação do mundo. Durante sua encarnação, Ele velou sua majestade, assumindo a forma de servo, mas agora pede para reassumir sua posição celestial. Além disso, Ele anseia que sua Igreja também contemple essa glória e participe dela, reinando com Ele por toda a eternidade.

-Essa oração revela não apenas o profundo relacionamento entre o Pai e o Filho, mas também o propósito eterno de Deus: glorificar Cristo por meio da redenção e conceder aos crentes a esperança da glorificação futura, onde viverão em perfeita comunhão com Ele.

II – A ORAÇÃO DE JESUS PELOS DISCÍPULOS 

1. Intercessão pela proteção dos discípulos

“Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra” (João 17:6).

Na oração sacerdotal de João 17, Jesus intercede diretamente ao Pai em favor dos seus discípulos, reconhecendo que eles pertencem primeiramente a Deus e foram entregues a Ele para serem ensinados e preparados para a missão. A afirmação “Manifestei,0 o teu nome aos homens que do mundo me deste” (João 17:6) demonstra que Jesus revelou plenamente o caráter e a vontade do Pai aos seus seguidores, tornando-os conhecedores da verdade e guardiões da Palavra de Deus.

A expressão “homens que do mundo me deste” enfatiza a soberania divina na eleição e no chamado dos discípulos. Eles não vieram por vontade própria, mas foram escolhidos pelo Pai e entregues ao Filho para serem moldados à imagem de Cristo. Essa realidade também reflete a doutrina da graça, pois a salvação não é iniciativa do homem, mas uma dádiva divina.

Sete vezes Jesus afirmou que os discípulos lhe foram dados pelo Pai. Não apenas Jesus é o presente de Deus para a igreja, a igreja é o presente do Pai para Jesus. Não fomos nós que encontramos Deus; foi ele que nos encontrou. Não fomos nós que incialmente amamos a Deus; foi ele que nos amou primeiro. Não fomos nós que escolhemos Deus; foi ele que nos escolheu. Não fomos nós que chegamos a Cristo; foi o Pai que nos levou a ele. A segurança da nossa salvação não está fundamentada no nosso caráter, mas no caráter de Deus e na obra perfeita de Cristo. É ele quem nos guarda. É ele quem nos livra. É ele quem nos salva, nos conduz e nos leva para o céu. Jesus deixou claro que aqueles que o Pai lhe dá, esses é que vêm a ele, e aquele que vêm a ele, de maneira alguma os lançará fora (João 6:37-40).

Ao longo de aproximadamente três anos e meio, Jesus investiu espiritualmente nesses discípulos, e agora, prestes a completar sua obra, intercede para que sejam protegidos e sustentados na verdade. A segurança da salvação e a perseverança dos discípulos não dependem do esforço humano, mas da fidelidade de Deus. É Ele quem guarda os seus, livrando-os do mal e conduzindo-os até a consumação da redenção.

Essa intercessão não se limitava aos apóstolos, mas abrange todos os que viriam a crer por meio da mensagem do Evangelho. Assim, a oração de Jesus é uma demonstração de seu amor e cuidado por sua Igreja, garantindo que aqueles que pertencem a Deus sejam preservados na fé e na missão para a qual foram chamados.

2. Os discípulos receberam a Palavra

“...e guardaram a tua palavra” (João 17:6).

Ao declarar que os discípulos “guardaram a tua palavra” (João 17:6), Jesus evidencia a resposta fiel daqueles que receberam sua mensagem e a assimilaram em suas vidas. A aceitação e a obediência à Palavra de Deus são marcas do verdadeiro discípulo, pois não basta apenas ouvir a mensagem do Evangelho, é necessário vivê-la e testemunhá-la com integridade e compromisso.

Jesus enfatiza que a Palavra de Deus é um presente divino concedido à humanidade. Ele não apenas proclamou a Palavra (João 17:8), mas também a entregou como um legado permanente (João 17:14). Essa Palavra, que é a própria verdade (João 17:17), tem o poder de santificar, separar os crentes para Deus e moldá-los conforme a vontade divina. Assim, o crescimento espiritual do cristão está intrinsecamente ligado ao conhecimento e à aplicação das Escrituras. Sem essa base, não há maturidade na fé.

A Palavra de Deus também desempenha um papel fundamental na luta contra o mundo e suas influências. Ela fortalece os crentes com alegria genuína (João 17:3), que, segundo Neemias 8:10, é a fonte da verdadeira força espiritual. Além disso, a Palavra assegura ao cristão o amor de Deus, mesmo em meio ao ódio do mundo (João 17:14), e concede poder para viver uma vida de santidade (João 17:17).

O impacto da Palavra de Deus não se limita à edificação pessoal; ela é também o meio pelo qual Deus chama as pessoas à salvação (João 17:20). A Igreja não é a criadora da mensagem, mas a proclamadora. Não é a eloquência humana ou os métodos modernos que convertem as almas, mas sim o poder transformador da Palavra. No entanto, vivemos em uma geração que, apesar do acesso a recursos digitais e informação abundante, muitas vezes carece do conhecimento profundo das Escrituras. Isso ressalta a necessidade urgente de resgatar o compromisso com a leitura, o estudo e a prática da Palavra de Deus para que a Igreja permaneça firme em sua missão e imune às influências destrutivas do mundo.

3. Protegidos do mundo

“Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo” (João 17:14).

Ao orar pelos seus discípulos, Jesus expressa sua profunda preocupação com a hostilidade do mundo contra eles. O Senhor já havia alertado que o mundo os odiaria porque não pertenciam mais a ele (João 17:14). Esse "mundo" não se refere apenas à criação física, mas ao sistema de valores e princípios espirituais dominados por Satanás, que se opõem radicalmente a Deus e ao Seu Reino (Efésios 2:2). Como discípulos de Cristo, somos chamados a viver no mundo sem sermos moldados por ele, o que torna essencial a proteção divina.

Jesus fez dois pedidos fundamentais em favor dos discípulos:

a) Que eles fossem guardados do mundo (Joao 17:14). Jesus pede ao Pai que guarde os discípulos do mundo, pois sua missão não seria removê-los da sociedade, mas protegê-los da influência corruptora do sistema mundano (João 17:14,15). O mundo, sob o governo do "príncipe deste século" (João 12:31; 14:30; 16:11), rejeita a verdade de Deus e busca seduzir os crentes com suas ideologias, prazeres e filosofias. A história de Demas, que amou o mundo e abandonou a fé (2Tm.4:10), serve como um alerta de que a atração pelo mundo pode afastar os crentes do propósito de Deus.

No entanto, a segurança do discípulo não está em sua própria força, mas no poder de Deus. Jesus sabia que seus seguidores enfrentariam tentações, perseguições e pressões culturais para abandonar a fé. Por isso, sua oração é um lembrete de que a única maneira de resistir ao mundo é permanecer na dependência do Pai e enraizado em Sua Palavra.

b) Que eles fossem guardados do mal (João 17:15). Além de pedir proteção contra o mundo, Jesus roga para que seus discípulos sejam guardados do "mal" (João 17:15). A palavra "mal", usada aqui, pode ser traduzida mais precisamente como "maligno", referindo-se ao próprio Satanás, que é descrito como aquele que cega o entendimento dos incrédulos (2Co.4:4), engana e trama ciladas contra os santos (Ef.6:11).

O apóstolo Pedro adverte que o diabo age como um leão voraz, buscando a quem possa devorar (1Pedro 5:8). Satanás não apenas influencia o mundo, mas ataca diretamente os discípulos de Cristo, tentando levá-los ao pecado e à apostasia. Judas Iscariotes foi um trágico exemplo de alguém que se rendeu à influência maligna (João 13:27).

Todavia, a oração de Jesus assegura que aqueles que pertencem a Ele não estão sozinhos na batalha. Ele intercede continuamente pelos crentes junto ao Pai (Rm.8:34), e sua intercessão é eficaz para garantir a segurança e a perseverança dos santos (Hb.7:25). A vitória sobre o maligno não vem da força humana, mas da dependência em Cristo, do uso da armadura espiritual (Ef.6:10-18) e da confiança na proteção divina.

Enfim, a oração de Jesus revela que os discípulos não seriam poupados das dificuldades do mundo, mas seriam sustentados pela graça e pelo poder de Deus. Sua segurança não estava na ausência de aflições, mas na certeza de que o Pai os guardaria. O mesmo princípio se aplica à Igreja hoje: vivemos em um mundo hostil à fé cristã e enfrentamos constantes ataques espirituais, mas temos a promessa da intercessão contínua de Cristo. Ele nos preserva, nos fortalece e nos conduz à vitória final, garantindo que nenhum dos seus se perderá.

Sinopse II – A ORAÇÃO DE JESUS PELOS DISCÍPULOS

Na oração sacerdotal, Jesus intercede de maneira especial pelos seus discípulos, demonstrando seu profundo amor e cuidado por aqueles que dariam continuidade à sua missão na Terra. Ele faz três súplicas fundamentais ao Pai: proteção, santificação e preservação dos discípulos diante do mundo e do maligno.

1. Intercessão pela proteção dos discípulos

Jesus reconhece que seus discípulos pertencem ao Pai e que foram confiados a Ele para serem preparados e capacitados para a obra do Reino (João 17:6). Ele enfatiza que a segurança da salvação não está no mérito humano, mas na fidelidade de Deus. Assim, Cristo intercede para que seus seguidores sejam guardados e fortalecidos, pois enfrentarão desafios e perseguições ao proclamar o Evangelho.

2. Os discípulos receberam a Palavra

O Senhor ressalta que seus discípulos aceitaram e guardaram a Palavra de Deus (João 17:6,8,14). A Palavra é um dom divino, instrumento de santificação e fonte de força para resistir às adversidades. Jesus ensina que o conhecimento e a obediência às Escrituras são essenciais para o crescimento espiritual e para o testemunho cristão. Ele também alerta sobre o perigo do afastamento da Palavra, o que pode levar ao enfraquecimento da fé.

3. Protegidos do mundo

Jesus pede ao Pai que proteja seus discípulos do mundo e do maligno (João 17:14,15). O “mundo”, aqui, representa um sistema contrário a Deus, governado por Satanás (Efésios 2:2). Assim como Cristo não pertence ao mundo, seus discípulos também não. No entanto, eles não seriam retirados do mundo, mas preservados de sua influência corruptora. Além disso, Jesus roga para que sejam guardados do maligno, pois o diabo é um inimigo real que busca afastá-los da fé.

Essa intercessão se estende também à Igreja, que hoje enfrenta desafios semelhantes. A promessa da proteção divina e a segurança da intercessão de Cristo nos asseguram que, apesar das tribulações, Ele nos preservará até o fim.

III – A ORAÇÃO DE JESUS PELOS QUE VIRIAM A CRER 

1. Oração pela unidade da Igreja (João 17:21-26)

“para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu, em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim e que tens amado a eles como me tens amado a mim” (João 17:21-23).

Na terceira parte de sua oração sacerdotal, Jesus intercede pela unidade dos seus discípulos e, por extensão, de toda a Igreja. No entanto, essa unidade não se trata de uma uniformidade organizacional ou denominacional, tampouco de um ecumenismo que relativiza a verdade. A verdadeira unidade pela qual Cristo orou é espiritual, baseada na comunhão com Deus e na fidelidade à Sua Palavra (Ef.4:1-6).

Jesus deseja que seus seguidores sejam um, assim como Ele e o Pai são um. Essa unidade não é um mero acordo superficial, mas uma conexão profunda enraizada no amor e na verdade divina. A fragmentação do Corpo de Cristo, caracterizada por divisões, contendas e desavenças, enfraquece a missão da Igreja e gera escândalos diante do mundo. Como bem se afirma: "As igrejas que competem entre si não podem evangelizar o mundo".

A verdadeira unidade não significa ausência de diversidade, mas sim um propósito comum: glorificar a Deus e proclamar o Evangelho. A Igreja deve estar unida contra o mundo e sua oposição à verdade, permanecendo firme na doutrina e no amor fraternal. Assim, o testemunho da unidade cristã se torna um poderoso argumento para que o mundo creia que Jesus é o enviado do Pai (João 17:21-23).

Cristo nos ensina que a unidade da Igreja deve refletir a harmonia celestial. Quando há amor genuíno entre os irmãos, o nome de Deus é exaltado e o Evangelho é proclamado com poder. Dessa forma, a oração de Jesus nos desafia a buscar uma comunhão verdadeira, rejeitando divisões desnecessárias e mantendo-nos firmes na verdade que nos une em Cristo.

2. Propósito da unidade

A unidade espiritual da Igreja tem um propósito claro e essencial: testemunhar ao mundo que Jesus Cristo é o Enviado de Deus Pai (João 17:21). Essa unidade não é um fim em si mesma, mas um meio pelo qual a glória de Cristo é manifestada na terra, demonstrando a autenticidade do Evangelho e a transformação que ele opera na vida dos crentes.

A unidade espiritual dos salvos se expressa de diversas formas:

a)   União como membros do Corpo de Cristo (1Co.12:12). Todos os salvos fazem parte do mesmo Corpo espiritual, onde Cristo é a cabeça. Assim como um corpo físico depende da harmonia entre seus membros para funcionar adequadamente, a Igreja deve operar em cooperação, evitando divisões que enfraquecem seu testemunho.

b)   União promovida pelo crescimento no conhecimento de Cristo (2Pd.3:18). A maturidade espiritual é um fator essencial para a unidade cristã. O conhecimento progressivo de Cristo gera humildade, paciência e amor entre os irmãos, reduzindo conflitos e fortalecendo a comunhão. Quanto mais nos aproximamos de Cristo, mais nos aproximamos uns dos outros.

c)   União evidenciada pelo Fruto do Espírito (Gl.5:22,23). A presença do Espírito Santo na vida do crente gera frutos como amor, paz, paciência e domínio próprio. Esses atributos são fundamentais para a manutenção da unidade, pois promovem relacionamentos saudáveis e afastam contendas, invejas e divisões que são obras da carne (Gl.5:19-21).

d)   União manifestada na glória dos filhos de Deus (João 17:22). Jesus declarou que concedeu aos seus seguidores a mesma glória que recebeu do Pai. Essa glória se manifesta na identidade dos crentes como filhos de Deus e na posse da vida eterna. A unidade final e perfeita será plenamente revelada na glória celestial, quando todos os salvos estiverem juntos na presença de Deus, reinando com Cristo por toda a eternidade.

Portanto, a unidade espiritual da Igreja não é apenas um ideal a ser buscado, mas uma realidade que deve ser vivida e demonstrada diariamente. Quando a Igreja caminha em unidade, o mundo pode ver a verdade do Evangelho refletida no amor, na comunhão e na transformação operada por Deus em seu povo.

3. Oração por encorajamento à unidade (João 17:21,22)

Em sua oração sacerdotal, Jesus roga ao Pai para que seus discípulos sejam encorajados a permanecer unidos a Ele. A fé em Cristo como o único e suficiente Salvador é a base essencial dessa unidade, e o testemunho cristão no mundo depende dessa realidade.

O mundo perdido não pode ver Deus diretamente, mas pode observar a vida dos cristãos. Se os descrentes enxergam amor e harmonia na Igreja, isso confirma a mensagem de que Deus é amor. No entanto, se veem ódio e divisão, a mensagem do Evangelho perde credibilidade. A unidade da Igreja é a mais poderosa defesa da fé cristã; o amor entre os crentes é a prova definitiva do discipulado, conforme Jesus ensinou“Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (João 13:35).

A desunião entre os crentes enfraquece o testemunho da Igreja. Uma comunidade dividida não tem autoridade para pregar arrependimento ao mundo quando está em constante conflito interno. Em vez de serem testemunhas fiéis, muitos cristãos assumem o papel de acusadores e juízes, afastando os pecadores da graça de Deus.

Jesus falou sobre três níveis de amor: o amor ao próximo, o amor sacrificial e o amor trinitário. É este último, o amor perfeito que flui entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, que Ele deseja ver entre os crentes. Uma ilustração prática pode esclarecer essa verdade: batatas colhidas de um mesmo pé podem estar juntas em um saco ou na prateleira de um supermercado, mas ainda são distintas. Apenas quando são cozidas e transformadas em purê, tornam-se uma unidade inseparável. Assim também deve ser a unidade na Igreja: não apenas uma proximidade superficial, mas uma fusão genuína em amor e propósito.

Sem essa unidade fundamentada na fé e no amor, o testemunho cristão perde sua força e credibilidade. Quando a Igreja permanece unida, ela brilha como um farol no mundo, apontando para Cristo e evidenciando o poder transformador do Evangelho.

4. Oração para que os discípulos vejam sua glória e estejam no céu com Ele (João 17:24-26)

“Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me hás amado antes da criação do mundo. Pai justo, o mundo não te conheceu; mas eu te conheci, e estes conheceram que tu me enviaste a mim. E eu lhes fiz conhecer o teu nome e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja”.

A oração de Jesus atinge seu ápice quando Ele intercede pela glorificação futura da Igreja, rogando ao Pai que seus discípulos estejam com Ele no céu e contemplem Sua glória. Esse anseio celestial ressalta a comunhão eterna que teremos com Cristo, trazendo uma profunda reflexão: se estaremos juntos na eternidade, como podemos alegar que não conseguimos conviver em harmonia aqui na Terra? Desde já, devemos aprender a viver como família de Deus.

Essa parte da oração transborda doçura e consolo inefáveis. Atualmente, não vemos Cristo com nossos olhos físicos; conhecemos Sua história pelas Escrituras, ouvimos Seu nome, cremos n'Ele e depositamos nossa esperança em Sua obra consumada. Contudo, ainda caminhamos pela fé, e não pela visão. Mas essa realidade mudará quando estivermos na glória.

Na eternidade, veremos Cristo face a face e O contemplaremos em toda Sua majestade. Conheceremos a plenitude de Sua glória e seremos transformados para sermos semelhantes a Ele. Como afirmou Paulo: "E assim estaremos para sempre com o Senhor" (1Ts.4:17). Essa promessa não apenas fortalece nossa fé, mas também nos exorta a consolar uns aos outros com essa bendita esperança (1Ts.4:18).

Se hoje já experimentamos alegria indizível ao andar pela fé, quanto maior será nossa felicidade quando estivermos glorificados, em comunhão perfeita com Cristo e com a grande assembleia dos santos! Essa certeza nos impulsiona a viver com expectativa, nutrindo a unidade e o amor que refletirão a glória de Deus já nesta vida.

Sinopse III – A ORAÇÃO DE JESUS PELOS QUE VIRIAM A CRER

No ápice de Sua oração sacerdotal, Jesus intercede não apenas pelos discípulos presentes, mas por todos aqueles que, ao longo dos séculos, viriam a crer n'Ele através da pregação do Evangelho (João 17:20). Essa intercessão revela Sua preocupação com a unidade, a missão e o destino eterno de Sua Igreja.

  1. A oração pela unidade da Igreja (João 17:21-23). Jesus suplica ao Pai que Seus seguidores sejam um, assim como Ele e o Pai são um. Essa unidade não é meramente organizacional, mas espiritual, baseada na verdade e no amor. A verdadeira comunhão entre os crentes deve refletir a própria comunhão divina e servir de testemunho para que o mundo creia na missão redentora de Cristo.
  2. Propósito da unidade (João 17:21). A unidade da Igreja tem um propósito evangelístico: demonstrar ao mundo a veracidade do envio de Cristo. Essa unidade se manifesta na identidade dos salvos como membros do Corpo de Cristo (1Co.12:12), no crescimento espiritual pelo conhecimento de Cristo (2Pd.3:18), na manifestação do Fruto do Espírito (Gl.5:22,23) e na glória eterna dos redimidos (João 17:22).
  3. Oração por encorajamento à unidade (João 17:21,22). Jesus deseja que Seus discípulos sejam motivados a permanecer unidos, pois a fé n'Ele é o alicerce dessa unidade. A igreja dividida perde credibilidade diante do mundo, enquanto a verdadeira comunhão e o amor cristão são provas inegáveis do Evangelho. A unidade é a última apologética da Igreja, pois, sem ela, o testemunho cristão perde sua força e impacto.
  4. Oração para que os discípulos vejam Sua Glória e estejam no Céu com Ele (João 17:24-26). No clímax de Sua oração, Jesus pede ao Pai que os crentes desfrutem da glória eterna ao Seu lado. Embora hoje andemos pela fé, um dia veremos Cristo face a face, experimentando plena comunhão com Ele. Essa esperança futura deve nos fortalecer e nos consolar (1Ts.4:17,18), encorajando-nos a viver em unidade e santidade, antecipando a gloriosa reunião dos santos na eternidade.

Essa oração de Jesus nos convida a viver desde já como cidadãos do céu, manifestando a unidade, o amor e a santidade que testemunham ao mundo a verdade do Evangelho e a glória do nosso Redentor.

CONCLUSÃO

A oração sacerdotal de Jesus em João 17 revela Seu profundo amor e cuidado pelos discípulos e por todos os que viriam a crer n'Ele. Ele intercede pela preservação espiritual dos Seus seguidores, pedindo que sejam guardados do mal e do sistema mundano que se opõe a Deus. Além disso, roga ao Pai que os santifique na verdade, capacitando-os para a missão de proclamar o Evangelho.

A unidade dos crentes também é um ponto central de Sua súplica. Jesus deseja que Seus discípulos vivam em perfeita harmonia, refletindo a comunhão entre o Pai e o Filho, para que o mundo creia na veracidade do Evangelho. Essa unidade não se baseia em uniformidade organizacional, mas na verdade e no amor que unem os membros do Corpo de Cristo.

Por fim, o Senhor intercede para que todos os crentes compartilhem da glória eterna com Ele, reforçando a esperança de que, um dia, estaremos na presença d’Ele, desfrutando da plenitude da comunhão celestial. A intercessão de Jesus assegura nossa segurança espiritual, fortalece nossa fé e nos motiva a viver em santidade, amor e unidade, como legítimos representantes do Reino de Deus na terra.