Texto Base: João 14.16-18,26;
16.7,8,13; 20.21,22
INTRODUÇÃO
- Na sequência do estudo do
Evangelho segundo João, continuaremos a analisar o sermão das últimas
instruções, mais precisamente a promessa do Espírito Santo.
- O Espírito Santo é o nosso
atual Consolador.
I – O ANÚNCIO DA VINDA DO
ESPÍRITO SANTO
- Na sequência do estudo do
Evangelho segundo João, continuaremos a analisar o sermão das últimas
instruções, agora com relação à promessa do Espírito Santo.
- Jesus apresentou-Se aos
discípulos como o caminho, a verdade e a vida, quando indagado pelos discípulos
para onde iria, já que dissera que para onde iria, os discípulos não podiam
segui-l’O de imediato.
- Ao dizer que Se separaria
dos Seus discípulos, naturalmente que houve, por parte deles, um sentimento de
tristeza e até de orfandade, pois se veriam privados da companhia do
Mestre.
- Para evitar a permanência
desta frustração, que o Senhor denominou de “turbação do coração”, por
primeiro, Cristo disse que voltaria para levar os discípulos para o lugar para
onde iria, como também que era Ele o caminho, a verdade e a vida, de modo
que não haveria como, se eles perseverassem, deixar de chegar até a “casa do
Pai”.
- Mas isto era insuficiente. Haveria
um tempo entre a partida de Jesus e o Seu retorno para vir buscar os discípulos,
um tempo em que se deveria percorrer o caminho, andar na verdade e manter a
vida, que é a comunhão com o Senhor.
- Jesus sabia que os discípulos
já haviam aprendido que Sua presença, Sua companhia tinha sido indispensável
para que os discípulos tivessem chegado até o final daquele verdadeiro curso
proporcionado pelo Mestre. Jesus, cumprindo as profecias messiânicas, tinha
sido o “Emanuel”, ou seja, o “Deus conosco”.
- Desta maneira, para que os
discípulos não temessem o que estava por vir, o novo tempo que se anunciava
após a Sua partida, o Senhor, então, diz que rogaria ao Pai e Ele lhes daria
outro Consolador, que ficasse com eles para sempre (Jo.14:16).
- Jesus sentira que os
discípulos estavam se sentindo abandonados, órfãos. Assim, para afastar tal
sentimento, diz que lhes mandaria um “Consolador”. Esta palavra é a
tradução de “Parakletos” (παρακλητος), cujo significado é “aquele que é chamado
para ficar ao lado”.
- Jesus prometia que mandaria
alguém para ficar ao lado dos discípulos, assim como o próprio Cristo tinha
estado até então. E este Consolador, este Paráclito seria “outro” e aqui temos
a palavra grega “allós” (αλλός), que significa “alguém da mesma natureza”.
- Jesus, então, diz que, ao ir
para a casa do Pai, mandaria outra Pessoa Divina para ficar ao lado dos
discípulos, de modo que não haveria qualquer perda por parte dos discípulos com
a partida de Jesus. Eles continuariam tendo ao lado para realizar a obra uma
Pessoa Divina, como tinham tido até aquele momento.
- Este “outro Consolador”
ficaria com os discípulos para sempre, ou seja, ao contrário de Jesus que
ficaria um tempo com eles, indo para a casa do Pai, o “outro Consolador”
ficaria com os discípulos para sempre, ininterruptamente, ou seja, até que eles
passassem para a dimensão da eternidade.
- Este “outro Consolador” é,
então, apresentado como “o Espírito da verdade”. É um com Jesus, porque,
além de ser uma Pessoa Divina, Ele também é a verdade, assim como o Filho.
Sendo “o Espírito da verdade”, Ele estaria com os discípulos neste caminho rumo
a casa do Pai, onde se deve andar na verdade. Sendo “Espírito”, Ele é também
vida, assim como Jesus, pois as palavras do Senhor são “espírito e vida” e o
espírito que vivifica (Jo.6:63).
- Tem-se, portanto, o companheiro
adequado para a jornada que se propõe aos discípulos: uma Pessoa Divina, que é
verdade e vida, assim como Jesus, e que, portanto, fará o papel até então
desempenhado pelo Filho do homem. O Espírito Santo é o verdadeiro Vigário de
Cristo, pois é Ele quem vem substituir o Senhor Jesus no papel que estava a
desempenhar desde o início do Seu ministério terreno junto a Seus discípulos.
- Diante desta circunstância,
tem-se uma verdadeira blasfêmia quando se denomina o Papa de Vigário de Cristo,
dando-se a um homem um papel que é reservado tão somente a uma Pessoa Divina. O
atual chefe da Igreja Romana, o Papa Francisco, aliás, mandou retirar este
título do Anuário Pontifício a partir de 2020.
- Jesus, então, ensina os
discípulos que, por ser o “Espírito da verdade”, o mundo não pode recebê-l’O
(Jo.14:17). O mundo está no maligno (I Jo.5:19) e o príncipe deste mundo, além
de nada ter em Jesus (Jo.14:30), é o pai da mentira e homicida desde o princípio
(Jo.8:44).
- Há, portanto, uma
insuperável incompatibilidade e contraditoriedade entre o Espírito Santo e o
mundo. Assim como Jesus não era do mundo, mas estava no mundo (Jo.17:14), o
Espírito Santo seria enviado ao mundo para que ficasse com os discípulos do
Senhor Jesus, que, igualmente, não são do mundo (Jo.17:16).
- O mundo não vê nem conhece o
Espírito Santo (Jo.14:17). Não vê o Espírito porque são cegos espirituais, têm
o entendimento cegado pelo deus deste século, o diabo, para que não lhes
resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus (II
Co.4:4).
- A luz resplandece nas trevas
mas as trevas não a compreenderam (Jo.1:5). Ao ouvirem o Evangelho, a Palavra
de Deus que testifica da luz verdadeira que alumia todo homem que vem ao mundo
(Jo.1:9), recusam-se a glorificar a Deus e, por conseguinte, há o obscurecimento
do seu coração insensato e se desvanecem em seus discursos (Rm.1:21) e o
maligno arrebata a palavra ouvida dos seus corações (Mt.13:19).
- O mundo não conhece o Espírito
Santo porque não estabelece um relacionamento com Ele, não se deixa envolver
por Ele, não lhe dá ouvido, não procura saber quem Ele é. Bem ao contrário,
ante a recusa de glorificação a Deus, assume uma atitude de soberba e de
resistência à voz do Espírito Santo (At.7:51).
- Para receber o Espírito Santo,
é preciso, primeiro, vê-l’O. Só pode ver o Espírito Santo quem nasce de novo,
porque o nascido de novo vê o reino de Deus (Jo.3:3), que é precisamente o
reino que não é deste mundo (Jo.18:36).
- Após ter visto o Espírito
Santo, necessário se faz conhecê-l’O e o conhecimento nada mais é que o
estabelecimento de um relacionamento íntimo com Ele, deixar-se envolver por
Ele. Isto se dá mediante a comunhão que se estabelece entre o homem e Deus
mediante o arrependimento e confissão dos pecados e seu consequente perdão, com
a purificação pelo sangue de Cristo (I Jo.1:7).
- Este conhecimento do
Espírito Santo faz com que se forme uma unidade entre o nosso espírito, que
é a parte do homem que estabelece a ligação com Deus, e o Espírito Santo,
unidade esta que nos faz conscientes de que passamos a ser filhos de Deus
(Rm.8:15,16).
- O Espírito Santo, então, é-nos
dado e passa não só a ficar conosco, mas também a estar em nós, e isto é o
recebimento do Espírito Santo, algo que só acontece porque os pecados são
tirados mediante a purificação do sangue de Cristo, operada naqueles que creem
no Senhor Jesus.
- O Senhor já havia dito que quem
n’Ele cresse rios de água viva correriam do seu ventre (Jo.7:38) e João nos
esclarece que esta expressão se referia ao dom do Espírito Santo a todo o que
cresse em Jesus, o que passaria a ocorrer depois que Cristo Jesus fosse
glorificado (Jo.7:39).
- É precisamente isto que ocorreu
na tarde do domingo da ressurreição de Jesus, quando o Senhor soprou sobre os
discípulos e lhes deu o Espírito Santo (Jo.20:22), bem como acontece com todos
aqueles que, ouvindo o Evangelho, invocam o nome do Senhor, creem em Jesus e
são salvos (Ef.1:13).
- Este novo tempo de
relacionamento de Deus com a humanidade, decorrente da glorificação de Jesus,
teria, portanto, a Pessoa Divina do Espírito Santo no mundo, mas a Santíssima
Trindade no interior do salvo.
- O Espírito Santo seria
recebido pelo discípulo de Jesus e estaria em cada um deles (Jo.14:17), mas
também o Pai e o Filho fariam morada no salvo, porque quem guarda as palavras
de Jesus, comprovando seu amor por Ele, terá a manifestação de Jesus e o amor
do Pai e ambos virão e farão morada neste crente (Jo.14:23). Por isso mesmo, o
apóstolo Paulo diz que somos morada de Deus no Espírito (Ef.2:22).
- Eis a razão pela qual Jesus diz
que não deixaria os Seus discípulos órfãos mas voltaria para eles (Jo.,14:18).
Alguns têm interpretado equivocadamente esta passagem, dizendo que Jesus foi
para os céus e que deixou o Espírito Santo conosco e que, portanto, não é Jesus
que está aqui mas, sim, o Espírito Santo.
- Não é isto que Jesus está a
dizer, porém. Jesus não está mais conosco, fazendo-nos companhia neste mundo.
Quem agora é o “Deus conosco” é a Pessoa Divina do Espírito Santo.
- No entanto, o Senhor Jesus
está em nós, assim como o Pai e o Espírito Santo. A Santíssima Trindade
está em nós, somos morada de Deus e é bem por isso que o apóstolo Paulo diz que
não mais vivia, mas Cristo vivia nele (Gl.2:20), como esperava que Cristo fosse
formado nos crentes gálatas (Gl.4:19), como também que o “mistério entre os
gentios” era “Cristo em vós, esperança da glória” (Cl.1:27).
- Como se não bastasse isso,
Jesus, embora não seja o companheiro diuturno dos salvos neste novo tempo,
nesta dispensação da graça ou dispensação do Espírito, tem uma presença
especial no meio dos Seus discípulos quando dois ou três estiverem reunidos em
Seu nome (Mt.18:20).
- O Espírito Santo não viria
apenas para fazer companhia aos discípulos, como fazia Jesus, e isto já seria,
por si só, maravilhoso, mas também teria a missão de ensinar os discípulos
todas as coisas e lembrar o que Jesus ensinara (Jo.14:26).
- O Espírito Santo ensina os
discípulos, dá-lhes a instrução, razão por que, por vezes, é chamado de
“Preceptor”, ou seja, aquele que ensina, instrui, que lança mão de algo
antecipadamente”.
- O Espírito Santo não traz
novidade alguma, mas faz lembrar o que Jesus disse (Jo.17:26). A suprema
revelação de Deus ao homem se deu na pessoa de Jesus (Jo.15:15), nada ficou
para ser revelado depois.
- Por isso, não se pode admitir o
discurso de alguns que entendem que o Espírito Santo continuou a trazer
revelações à Igreja, como, por exemplo, os “sete sacramentos”, baseado no fato
de que o Espírito Santo ensinaria a Igreja e que Jesus não teria esgotado o
ensino (e para tanto citam Jo.16:12).
- No entanto, o Senhor Jesus
deixa claro que o Espírito Santo nos ensinaria, mas Seu ensino não é
acrescentador, mas baseado em tudo quanto Jesus disse, fazendo lembrar tudo
quanto Jesus ensinou.
- Bem por isso se costumou
denominar o Espírito Santo de “Preceptor” em vez de “Mestre”, já que o
preceptor é aquele que ensina algo que já foi dito antecipadamente por outrem.
- O Espírito da verdade
guia-nos em toda a verdade e esta verdade é o que Jesus revelou, aquilo que
ouviu do Pai (Jo.15:15) e nada mais do que isto. O Espírito nada falaria de Si
mesmo (Jo.16:13), mas dirá tudo o que tiver ouvido e anunciará o que há de vir
(Jo.16:13).
- Não se tem, pois, qualquer
possibilidade de “acréscimo” proveniente do Espírito Santo, porque Ele não fala
de Si mesmo, mas só Aquilo que ouviu, que foi o que Jesus disse. Por isso, o
próprio Senhor Jesus disse que o Espírito receberia do que era de Jesus e o
anunciaria (Jo.16:13), ou seja, não se tem novidade alguma, mas apenas o que
Jesus já disse.
- Aquilo que Jesus disse que
ainda teria de falar aos discípulos, Ele o disse, seja depois de ressurreto e
antes de ascender aos céus (At.1:3), seja o que disse a Paulo (At.26:16) e, por
extensão, aos demais escritores do Novo Testamento, cujos registros são
Escrituras inspiradas (I Pe.1:20,21 e 3:15,16), como, por fim, o que revelou a
João na ilha de Patmos, como havia dito ainda antes de ascender aos céus,
revelação que completou de modo definitivo o que tinha de ser revelado
(Jo.21:22,23 e Ap.1:1; 22:8,18-20).
- O Espírito Santo anunciará o
que há de vir, ou seja, para fortalecimento da fé dos salvos, revela, por
meio dos dons espirituais de ciência, fatos que confirmam as profecias
bíblicas, como também demonstram o absoluto controle de Deus sobre todas as
coisas, como, por exemplo, quando revelou aos salvos a fome que haveria no
mundo no reinado do imperador romano Cláudio César (At.11:28) ou o naufrágio do
navio em que estava o apóstolo Paulo (At.27:9,10).
- O Espírito Santo somente viria
se Jesus fosse para o céu. Isto mostra como Deus trabalha com o necessário e
útil, não havendo da parte da Divindade qualquer ação dispensável ou
desnecessária.
- O homem, por si só, não
consegue salvar-se. Para permanecer salvo até a glorificação, depende da ajuda
divina, da companhia divina e o Senhor Jesus é Deus feito homem e, portanto,
enquanto estivesse no mundo, teria de fazer companhia aos salvos, guardando em
o nome do Pai aqueles que Lhe tivessem sido dados para que fossem um com Eles
(Jo.17:11).
- O envio do Espírito Santo,
portanto, é uma necessidade para que se opere a salvação, cuja obra foi
consumada com a morte e ressurreição de Jesus, explicando porque, a partir de
então, temos uma ação do Espírito Santo no mundo e de forma disseminada, por
meio de cada membro em particular do corpo de Cristo.
- O Espírito Santo é enviado
pelo Pai e pelo Filho. Jesus diz que o Pai O enviaria (Jo.14:16), mas
também diz que O enviaria (Jo.16:7). Portanto, o Espírito Santo foi enviado
tanto pelo Pai como pelo Filho, como constou no chamado Credo
Niceno-Constantinopolitano, “in verbis”: “…[CREIO] no Espírito Santo, o Senhor
e Vivificador, o que procede do Pai e do Filho, o que juntamente com o Pai e o
Filho é adorado e glorificado, o que falou por meio dos profetas…” (apud DFAD.
Apêndice.3, p.219).
- Sem razão, portanto, o que
defende a Igreja Ortodoxa, que entende que o Espírito Santo procede apenas do
Pai, porque ao se dizer que procederia do Pai e do Filho se estaria confundindo
as duas Pessoas que são distintas. O texto bíblico mostra claramente que tanto
o Pai quanto o Filho enviaram o Espírito Santo, de modo que não há qualquer
indistinção ao se dizer que o Espírito procedeu do Pai e do Filho (esta
expressão “e do Filho”, em latim, “Filioque”, inserida na versão latina do
Credo e ausente até hoje na versão grega é que deu origem à polêmica, que foi
um dos pretextos para o cisma entre os católicos romanos e os ortodoxos em
1054).
II – O PAPEL DO ESPÍRITO SANTO
- O Espírito Santo, vindo ao
mundo, passou a convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo.16:8).
- Assim como Jesus, cheio do
Espírito Santo (Lc.4:1) pregava, ensinava e fazia sinais (Jo.4:23; 9:35) e,
deste modo, as pessoas criam n’Ele e alcançavam a salvação, agora, o Espírito
Santo, que está no interior de cada crente, convence o pecador do pecado, da
justiça e do juízo, convencimento que vem por meio da pregação, ensino e
realização de sinais por parte daqueles que creem em Jesus.
- O Espírito Santo está em cada
crente como também com cada crente, de modo que pode realizar este
convencimento.
- Como disse Jesus, o
convencimento do pecado é levar o pecador a crer em Jesus, o que se dá
mediante a pregação e ensino da Palavra de Deus (Rm.10:17; Ef.1:13) e/ou a
realização de sinais, prodígios e maravilhas em nome de Jesus (Mc.16:20;
Hb.2:3,4).
- Observemos que, por vezes, pode
ocorrer de serem utilizados meios extraordinários para que se chame a atenção
do pecador, como, por exemplo, a aparição de um anjo a Cornélio, mas sempre com
o objetivo de levar a pessoa a ouvir a pregação do Evangelho (At.10:1-6), como
tem sido relatado por diversas pessoas em países onde se tem praticamente
impossibilitado a evangelização, como nos países muçulmanos.
- O Espírito Santo, vindo ao
mundo, passou a convencer o mundo da justiça. Este convencimento é o de
fazer a pessoa crer no que é dito a respeito de Jesus com base nas Escrituras,
fazendo com que as pessoas creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e,
crendo, tenham vida em Seu nome (Jo.20:31).
- Enquanto Jesus estava no mundo,
as pessoas criam n’Ele por causa de Seu testemunho (Jo.10:41,42), muitas vezes
a partir dos sinais por Ele realizados (Jo.5:36; 9:4; 10:38; 14:10-12).
- Não mais estando o Senhor Jesus
no mundo, o Espírito Santo agora tem de convencer que Jesus é o Deus feito
homem, o homem que nunca pecou e que entregou Sua vida por nós.
- Este convencimento dá-se pela
demonstração da veracidade das Escrituras, que testificam de Jesus, como também
pelo testemunho daqueles que creram em Jesus, que, cada vez mais conformados à
imagem do Filho, são testemunhas do Senhor em toda a terra (Mt.5:13-16;
Jo.17:23; At.1:8; Fp.2:15).
- Bem por isso o apóstolo Paulo
disse que os salvos são cartas de Cristo conhecidas e lidas por todos os
homens, escritura esta feita precisamente pelo Espírito Santo nas tábuas de
carne do coração (II Co.3:2,3).
- Quando, pois, produzimos o
fruto do Espírito Santo (Gl.5:22), somos instrumentos do Espírito Santo para o
convencimento dos pecadores. Eis o motivo pelo qual quer o diabo que nos
transformemos em instrumento de escândalo, de tropeço espiritual das pessoas
(Mt.18:7; Rm.14:13; I Co.8:9; 10:32; II Co.6:3; Fp.1:10; I Jo.2:10).
- O Espírito Santo, vindo ao
mundo, passou a convencer o mundo do juízo. Este convencimento é o de fazer
crer o pecador de que o príncipe deste mundo, ou seja, o diabo, já foi julgado,
ou seja, de que o diabo é o pai da mentira e homicida desde o princípio, que
não se deve fazer o que ele deseja, que é preciso se livrar dele, pedir a
Cristo que seja resgatado e livre do poder de Satanás (At.26:18; Cl.1:13),
porque brevemente ele será lançado no lago de fogo e enxofre preparado para ele
e seus anjos (Mt.25:41).
- O Senhor também diz que o
Espírito Santo glorificaria a Jesus, porque haveria de receber tudo o que
era de Cristo e o anunciaria. Jesus faz questão de dizer que tudo que dizia que
era Seu era do Pai (Jo.16:14,15).
- Assim como o Pai glorifica o
Filho (Jo.17:1), o Espírito Santo glorifica o Filho (Jo.16:14), sendo que o
Filho também glorifica as demais Pessoas Divinas (Jo.13:31; 17:4). Há uma
perfeita unidade entre as três Pessoas Divinas, unidade que é o parâmetro para
a unidade que deve haver entre os salvos e o único e verdadeiro Deus
(Jo.17:21).
- Esta expressão de Cristo Jesus
afasta, por completo, a ideia equivocada de que não se pode glorificar o
Espírito Santo e que, inclusive, chegou, inclusive, a ser adotada numa
frustrada tentativa de modificação da Harpa Cristã no século passado.
- A referida ideia baseava-se
nesta passagem bíblica em que Jesus diz que seria glorificado pelo Espírito
Santo. Ora, o próprio Jesus glorificou o Pai (Jo.17:4) e, nem por isso, alguém
diz que não se deve glorificar ao Senhor Jesus, o que já prova que o texto
aludido não permite tal interpretação.
- O Espírito Santo é Deus, da
mesma natureza do Pai e do Filho, como deixou Jesus claro ao chamá-l’O de
“outro” (“allós”) Consolador e, deste modo, deve ser adorado e glorificado.
- Esta expressão do Senhor,
também, afasta a ideia de que o Espírito Santo procede apenas do Pai, como já
dito supra, porquanto diz que há distinção entre Pai e Filho, embora tudo que
seja do Pai, também seja do Filho.
- O Senhor Jesus mostra aos
discípulos, em seguida, a grande importância do momento que estavam a viver.
Sabia que, apesar deste ensino, os discípulos estavam tomados pela tristeza e
preocupação, tristeza e preocupação que aumentariam com a Sua retirada da
Terra.
- Diz aos apóstolos que, um pouco
e não seria mais visto por eles; depois, seria novamente visto por eles, mas
Ele iria para o Pai (Jo.16:16).
- O Senhor, ante a indagação dos
discípulos sobre este dito, di-los abertamente que lhes sobreviria tristeza e
lamentação por causa de Sua paixão e morte, enquanto o mundo se alegraria com o
episódio, mas que esta tristeza e lamentação seriam substituídas pela alegria,
uma alegria que, ao contrário da do mundo, não mais teria fim (Jo.16:22).
- Jesus compara a situação ao das
dores que antecedem ao parto de uma criança, dores que se intensificam mas que
depois trazem uma alegria que não mais tem fim para a mãe (Jo.16:21).
- A paixão e morte de Jesus
traria imensa tristeza e consternação aos discípulos, mas era algo
absolutamente necessário para que se consumasse a obra salvífica e os
discípulos tivessem a retirada dos seus pecados e passassem a ser templo do
Espírito Santo, morada de Deus no Espírito.
- Um novo tempo estava para
surgir, um tempo em que os discípulos, sendo morada de Deus no Espírito,
receberiam o poder do Espírito Santo e seriam testemunhas de Jesus por toda a
terra e teriam o poder de Deus para, em nome de Jesus, pregarem o Evangelho e
confirmarem a Palavra com sinais (Mc.16:20).
- A obra salvífica de Cristo
seria consumada e os discípulos, recebendo o Espírito Santo em seu interior,
teriam o derramamento do amor de Deus em seus corações (Rm.5:5) e este amor se
desdobraria nas qualidades do fruto do Espírito (Gl.5:22), dos quais a primeira
era a alegria da salvação, alegria que jamais findaria em suas vidas
(Jo.16:24).
- Neste novo tempo, o
relacionamento com Cristo seria ainda mais íntimo, como estava sendo o próprio
sermão das últimas instruções, em que o Senhor não mais recorria a parábolas
mas falava abertamente acerca do Pai (Jo.16:25).
- Jesus, uma vez indo para a casa
do Pai, passaria a rogar pelos discípulos, a adotar uma atitude intercessora
nos céus, não só pedindo para que o Espírito Santo fosse enviado ao mundo, mas
pedindo por nós ao Pai, confiado no amor que o Pai tem por nós (Jo.16:26).
- Jesus passa a ser o nosso
intercessor nos céus, o grande sumo sacerdote que adentrou ao santuário
celestial, ao derramar o Seu sangue na cruz do Calvário (Hb.10:19-21), tanto
que o véu do templo se rasgou de alto a baixo (Mt.27:51; Mc.15:38; Lc.23:45),
mostrando que o pecado não mais fazia separação entre Deus e os homens
(Is.59:2).
- Vê-se, pois, que não há base
bíblica alguma para dizer que Jesus somente teria entrado no santuário
celestial em 1844, como defendem os adventistas. O sacrifício de Jesus no
Calvário teve efeito de imediato e já o Senhor adentrou ao santuário celestial
e, desde então, temos pleno acesso ao trono da graça (Hb.4:16).
- Cristo diz que Seus discípulos
teriam esta nova condição porque haviam amado a Jesus e crido que Ele havia
saído de Deus (Jo.16:26), ou seja, somente é salvo quem crê em Jesus como único
e suficiente Salvador e que Ele é Deus feito homem para nos salvar.
- Jesus, então, sintetiza a Sua
obra salvífica; “Saí do Pai e vim ao mundo; outra vez,
deixo o mundo e vou para o Pai” (Jo.16:28).
- Os discípulos, ante tão clara e
explícita afirmação, disseram que criam que Jesus havia saído de Deus, mas o
Senhor, porém, reafirma que todos O deixariam, mas Ele não ficaria só, porque o
Pai estaria com Ele (Jo.16:32).
- O realismo de Cristo confirma
ser ele a verdade, como havia dito. Apesar de estar mostrando aos discípulos o
que ocorreria e como se instauraria a nova dispensação, bem sabia que eles não
iriam absorver tudo quanto estava sendo dito e que, poucas horas depois,
fugiriam e O deixariam só.
- Por isso, faz questão de dizer
isto a eles, para que, no futuro, todos soubessem que Ele tinha o pleno
controle de todas as coisas e, mais, que as Suas palavras eram verdadeiras e
dignas de crédito.
- O fracasso dos discípulos era
uma cabal demonstração de que a vinda do Espírito Santo era uma necessidade,
pois, na ausência do Mestre, os Seus seguidores não poderiam enfrentar qualquer
adversidade. Sem Jesus, como o próprio Cristo dissera neste sermão das últimas
instruções, nada pode ser feito (Jo.15:5).
- Precisavam os discípulos da
paz de Cristo, que Ele prometeu dar (Jo.14:27), uma paz diferente da do
mundo, concedida a eles quando o Senhor Se apresenta a eles no cenáculo na
tarde do domingo da ressurreição (Jo.20:19,21).
- Todo o sermão fora proferido
com esta perspectiva de que os discípulos tivessem paz em Jesus, porque, no
mundo, teriam aflições (Jo.16:33).
- As aflições do mundo em que
estão os discípulos de Jesus somente são superadas com a paz que temos em
Cristo. Ele é o Príncipe da Paz (Is.9:6). Ele é o único que nos põe em
comunhão com Deus e esta completude gerada pela Sua obra salvífica que se
denomina “paz”, “shalom” em hebraico (שלם ), a
integração entre Deus e os homens, o preenchimento no interior do homem do “vazio do tamanho de Deus”.
- Tirando o pecado do mundo
como Cordeiro de Deus, Jesus restabeleceu a amizade entre Deus e os homens,
de modo que Deus confirma o Seu amor para com o mundo, não só enviando Seu
Filho (Jo.3:16), mas também pela morte d’Ele na cruz do
Calvário (Rm.5:8).
- Em resposta a este amor
precedente (I Jo.4:19), o homem, ao crer em Jesus, passa a obedecer-Lhe,
provando que ama a Jesus (Jo.14:21; 15:14; 16:27) e, assim, recebe o amor de
Deus em seu coração (Rm.5:5).
- Justificado pela fé, temos paz
com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo (Rm.5:1). Assim como se prometeu à
linhagem sacerdotal de Fineias em virtude do zelo do terceiro sumo sacerdote
israelita um concerto de paz, que envolvia o sacerdócio perpétuo (Nm.25:11-13),
assim também, feitos reis e sacerdotes por Cristo (Ap.1:5,6), os discípulos de
Cristo Jesus desfrutam de paz.
- Por fim, o Senhor Jesus diz aos
discípulos que tivessem bom ânimo, que não desfalecessem em seus ânimos diante
das aflições, porque Ele vencera o mundo (Jo.16:33).
- A vitória de Jesus é a força
que nos anima a prosseguir rumo aos céus, pois, assim como Jesus suportou as
contradições dos pecadores contra Si mesmo, suportou a cruz, desprezando a
afronta pelo gozo que Lhe estava proposto e Se assentou à destra do trono de
Deus (Hb.12:2,3), nós também não podemos desfalecer, perseverando na fé, para
que nos assentemos no trono de Cristo, como Ele Se assentou no trono do pai
(Ap.3:21). Aleluia!