Textos: Pv. 1:1-7
INTRODUÇÃO: Até o final do ano estudaremos
os livros sapienciais de Provérbios e Eclesiastes. Esses dois textos bíblicos
tratam a respeito da sabedoria, não a dos homens, mas a de Deus. Neste estudo
faremos uma apresentação panorâmica desses livros, destacando sua importância
não apenas no cenário judaico, mas principalmente no cristão. A leitura
centralizada no evangelho dessas orientações fará com que homens e mulheres
sejam sábios, sobretudo tementes a Deus.
1. A
SABEDORIA DOS HOMENS E A SABEDORIA DE DEUS: O
conhecimento e a sabedoria sempre cativaram os seres humanos, a investigação a
respeito das coisas é justamente a origem da filosofia. Esse ramo do
conhecimento humano trata da possibilidade do conhecimento, e também do próprio
conhecimento da realidade. O termo filosofia vem da junção de duas palavras
grega, filo (amigo) e sofia (sabedoria). Os filósofos, por conseguinte, são
amantes da sabedoria. Os gregos se destacaram por serem versados na filosofia,
entre eles estiveram grandes filósofos, tais como Platão e Aristóteles. O conhecimento
filosófico, nos dias atuais, está desassociado da revelação bíblica.
Antigamente, nos tempos de Agostinho, havia uma relação profícua entre
filosofia e teologia. Mas com o advento do Iluminismo, a Era da Razão, o
pensamento humano se desvinculou da revelação. Essa é a principal diferença
entre Filosofia e Teologia Crista, enquanto que a primeira se baseia na mera
razão, a última está alicerçada na revelação. Na Bíblia a palavra sabedoria
também tem um significado primordial, tanto no Antigo quanto no Novo
Testamento. A palavra hebraica hokmah diz respeito ao conhecimento intelectual,
e tem a ver, por exemplo, com a compreensão (Pv. 10.23). A fonte da sabedoria,
nos livros sapienciais, é o próprio Deus (Jó 28.20-23). O salmista, bem como os
autores dos Provérbios, assume que o temor ao Senhor é o princípio da sabedoria
(Sl. 111.10). Esse tipo de sabedoria, na perspectiva judaica, precisa ser
diferenciado do simples conhecimento. Isso porque a sabedoria é uma aplicação
prática, daqueles que atentam para os conselhos de Deus (Pv. 13.10). O capítulo
8 de Provérbios é um arauto à sabedoria divina, pois antes mesmo da criação, a
sabedoria já se encontrava com Deus (Pv. 8.22-31). No Novo Testamento, o termo
grego para sabedoria é sophia, que também denota a capacidade para a
compreensão (At. 6.3), mas diferentemente da sabedoria dos homens, que é falsa
(Cl. 2.23), a de Deus é dada pelo Espírito (I Co. 2.5-16). A sabedoria de Deus
é o próprio Jesus, nEle repousa a plenitude da revelação de Deus, a mensagem da
cruz é loucura para os homens. Mas Deus destrói a sabedoria dos sábios, no
Cristo Crucificado se encontra a ápice da mensagem divina (I Co. 1.17-19;
2.1-2; ; Hb. 1.1-3).
2. O
LIVRO DE PROVÉRBIOS: O PRINCÍPIO DA SABEDORIA: O livro
de Provérbios mostra que a sabedoria voltada para Deus é condição fundamental
para viver. O livro, em linhas gerais, pode ser assim dividido: o valor da
sabedoria (Pv. 1.1-1.7), conselhos de um pai sobre a vida (Pv. 1-9), os
princípios de sabedoria para a vida piedosa (Pv. 10-24), os princípios de
sabedoria para relações saudáveis (Pv. 25-29), a humildade, a vida justa, o
aprendizado com a sabedoria (Pv. 30), e a descrição da mulher virtuosa (Pv.
31). O livro de Provérbios foi compilado por volta de 950 d. C. O tema central
do livro são as escolhas que as pessoas fazem na vida, para alguns ter uma vida
boa é desfrutar de prazer, para outros, é servir e temer a Deus. O autor,
Salomão, filho de Davi, destaca seu propósito em Pv. 1.2-6, destacando a
importância de buscar a sabedoria, para viver bem. Certo pensador bem destacou
que ler provérbios é fácil, toma apenas alguns segundos, memoriza-los também,
em minutos, mas vive-los leva a vida toda. O versículo-chave de Provérbios se
encontra em Pv. 1.7, no qual nos deparamos com a máxima: “O temor do Senhor é o
princípio da sabedoria”. A expressão “o temor do Senhor”, nos livros de
sabedoria, significa que devemos amar a Ele, não ter medo. João, em sua
Epístola, já destacou que o perfeito amor retira todo medo, no amor não há
terror, antes obediência (I Jo. 4.18). O capítulo 3 de Provérbios destaca os
conselhos de um pai para seu filho, ele alerta quanto aos perigos da vida,
especialmente sobre a sexualidade. O principal conselho se encontra em Pv.
3.5,6, a fim de que o filho confie no Senhor de todo coração, e que não se
fundamente no seu próprio entendimento. No capítulo 8, dois caminhos da vida
são personificados, um através da sabedoria, o outro pela tolice. No capítulo
10 Salomão trata a respeito de vários aspectos da vida, e dá conselhos
diversos, principalmente para os momentos de tomada de decisão. O livro de
Provérbios ressalta a limitação do conhecimento humano (Pv. 14.12). O sucesso,
nesse texto sapiencial, nada tem a ver com os cursos de motivação oferecidos no
mercado. Ter êxito, para o homem e a mulher piedosa, significa confiar em Deus
(Pv. 16.20-22). Ao longo do livro há conselhos diversos, a respeito do controle
das emoções (Pv. 16.32). Tal como em Gl. 5.22, a maturidade é resultante do
equilíbrio, da observância de algumas virtudes, produzida no relacionamento com
Deus. O domínio da língua é importante nos conselhos de Provérbios, pois mesmo
o tolo passa por sábio ao ficar calado (Pv. 17.28). O relacionamento amoroso
também tem seu lugar nesse livro, aqueles que encontram um cônjuge, recebem o
favor de Deus (Pv. 18.22). A natureza da vida humana também é discutida em
Provérbios (Pv. 20.27). A relevância da orientação aos filhos, ensinando-os no
caminho justo, é um procedimento sábio (Pv. 22.6). O capítulo 25 inicia uma
segunda coleção de Provérbios de Salomão, a respeito de assuntos diversos. Em
Pv. 28.27 aprendemos que nenhum homem é uma ilha, que todos estamos
interligados. Por isso, devemos nos preocupar com aqueles que se encontram em
condição de necessidade. Os capítulos 30 e 31 tratam a respeito da busca pela
satisfação e da mulher virtuosa. Esse é um livro que deve ser lido e relido, a
fim de crescermos em sabedoria, e para aplicar seus princípios, avaliados
sempre à luz do evangelho.
3. O
LIVRO DE ECLESIASTES: SABEDORIA COMO OBEDIÊNCIA: O Livro
de Eclesiastes se destaca por ser o único livro das Escrituras que reflete um
ponto de vista humano, não divino da existência. Isso não quer dizer que não
seja inspirado, o Espírito soprou sobre o autor, para revelar posicionamentos
humanos (II Tm. 3.16,17). Por isso precisa ser lido com base na revelação de
Deus, não como um texto dogmático. Existem críticos das Escrituras que utilizam
as passagens desse livro para distorcer a Palavra de Deus. Não podemos esquecer
que cada aspecto da vida, no livro de Eclesiastes, é analisado “debaixo do
sol”. A visão humana da realidade é limitada, se encontra em uma perspectiva
horizontal, inclusive da revelação divina. Eclesiastes, como o próprio título o
expressa, é o livro do homem da assembleia, o Qoelet em hebraico. Esse é
Salomão, o filho de Davi, rei de Jerusalém, um homem sábio, que investiga o
sentido da vida. O livro pode ser assim dividido: 1) declaração da inutilidade
de tudo (Ec. 1.1-11); 2) investigações e demonstração da inutilidade da vida
longe de Deus (Ec. 1.12-6.12); e 3) conclusão e conselho a “temer o Senhor”
(Ec. 7-12). O versículo-chave de Eclesiastes se encontra em Ec. 1.2, em que
está escrito que “tudo é vaidade”. A palavra “vaidade”, nesse livro, diz
respeito à “vanidade”, isto é, a ausência de sentido em tudo que se faz. O
universo, como também é percebido atualmente pela ciência, é visto como uma
engrenagem (Ec. 1.6,7). Essa visão científica pode reduzir a natureza a um mero
maquinário, a ideia de um motor, como concebido por Aristóteles. A consequência
é uma percepção da vida como conjunto de células, e do universo como um
engenho, sem a intervenção divina. Como a vida é desprovida de significado
nesse contexto, o autor do Eclesiastes pensa que o prazer pode ser a única
coisa que faz sentido (Ec. 2.1). Ou, quem sabe, as posses, as riquezas
materiais, algo que tem sido amplamente aceito na sociedade moderna (Ec.
2.9,10). Até mesmo o conhecimento não passa de vaidade, pois ao final, os
diplomas ficarão na parede, a única coisa que permanece é a sabedoria (Ec.
2.13-17). No capítulo 3, a semelhança dos filósofos modernos, tais como
Neitzche, Heidegger e Sartre, o pensador existencialista adere ao fatalismo. O
vazio o levou à conclusão que somente pode viver no tempo, para o qual tudo tem
um propósito (Ec. 3.1-4,11). Nos capítulos 4 e 5 o pensador lamenta a opressão
que visualiza no mundo dos negócios, e que até mesmo a religião não faz
sentido. Nos capítulos 6 e 7 o homem da assembleia constata que o rico não
encontra satisfação no que tem, e que a felicidade e a tristeza são as mesmas
coisas, que o rico e o pobre perecem de igual modo (Ec. 7.15). No restante do
livro, dos capítulos 8 a 10, Salomão avalia que apesar dos nossos esforços, a
vida é extremamente injusta, e desprovida de significado.
CONCLUSÃO: O final
do livro de Eclesiastes ecoa com o tema do livro de Provérbios, a máxima que
somente o temor do Senhor é verdadeira sabedoria. Ao avaliar todas as coisas
“debaixo do sol”, o homem da assembleia conclui que precisamos “lembrar do
Criador” e que temê-LO é o dever de todo homem (Ec. 12.13,17). O sentido da
vida, nos livros de Sabedoria, está justamente em temer, e amar o Senhor, em
obediência, fora a isso, a vida é pura vaidade, é “correr atrás do vento”. PENSE NISSO!
Deus é Fiel e Justo!