Textos: Ef. 4.28 – Ex. 20.15; 22.1-9
INTRODUÇÃO
No estudo desta semana mais uma das dez palavras, trata-se de uma reflexão bíblico-teológica sobre o princípio da propriedade. Inicialmente, mostraremos a percepção bíblica do furto/roubo na Bíblia. Em seguida, nos voltaremos para os diferentes tipos de furtos/roubos na sociedade. Ao final, ressaltaremos a importância do trabalho, como forma legítima de sustento, além de dar glória a Deus.
1. O FURTO/ROUBO NA BÍBLIA
A palavra hebraica para “furtarás” é ganaf e significa, literalmente, “carregar algo, de forma sorrateira”. Tecnicamente furtar é se apoderar de algo que não pertence à pessoa. No contexto da sociedade judaica, esse verbo era usado para se referir ao arrombamento, assalto por meio de violência, pilhagem e sequestro, ou mesmo obtenção de recursos por meios indevidos. O verbo também tem a ver com peculato - tomar fraudulosamente dinheiro ou bens de alguém; extorsão – receber dinheiro de alguém através de ameaça ou abuso de autoridade; e estelionato – obtenção de dinheiro ou recursos por meios ilegais. Como se pode perceber, ganaf tem um alcance bastante, de modo que abarca diferentes situações de furto e roubo na sociedade contemporânea. A partir de Lv. 19.9-13, é possível identificar também furtos na relação senhor e servo. Em termos aplicativos, existe o risco dos empregadores explorarem seus trabalhadores, retendo aquilo que lhes é de direito (Tg. 5.4). Por outro lado, os empregados não podem furtar seus empregadores. Antes devem trabalhar como ao Senhor, fazendo tudo para a glória de Deus (Cl. 3.20-23). O furto deve ser abandonado, ninguém deve agir com desonestidade, mesmo que essa prática seja considerada normal (Ef. 4.28). Os funcionários públicos que se envolveram em atos de corrupção devem seguir o exemplo de Zaqueu, e se arrependerem dos seus pecados (Lc. 19.8).
2. LADRÕES E LADRÕES
Acã é um exemplo bíblico de ladrão, quando o Senhor entregou Jericó nas mãos dos israelitas, Josué deu orientações para que ninguém se apropriasse do anátema (Js 6.16-19). Depois de seguir as instruções de Yahweh, o povo obteve êxito na empreitada, mas Acã resolveu desobedecer, e ficar com parte dos despojos da batalha (Js. 7.21). Talvez ele achasse que ninguém iria perceber, que o Deus de Israel não levaria isso em consideração. Mas os olhos do Senhor estão fitos nos atos pecaminosos dos homens. Ele viu o pecado de Acão, advertindo quanto às consequências para o povo (Js. 7.10-12). Existem ladrões e ladrões, todos são pecadores, e dignos do juízo divino. Contudo, há furtos/roubos que trazem maiores consequências à comunidade. Há quem pense que o desvio de determinadas quantias do erário público não causará grandes danos. A mídia alimenta essa crença, pois busca punição apenas para os ladrões que realizam pequenos furtos. Aqueles que roubam os mais pobres são acobertados, considerando que alguns têm foro privilegiado, e o controle dos meios de comunicação. Enquanto isso, milhares de pessoas estão nos corredores dos hospitais, tantas outras nas ruas sem emprego, e crianças sem uma educação pública de qualidade. Ao que tudo indica, o dinheiro é enviado para atender às demandas sociais, mas acabam sendo desviados, a fim de favorecer determinadas empresas, que elegem aqueles que deveriam representar o povo. A democracia é uma conquista cristã, objetivando o equilíbrio entre os poderes executivo, legislativo e judiciário. Mas para isso precisamos investir em seu avanço, defendendo urgentemente uma ampla reforma política. As grandes corporações não podem manobrar os partidos políticos, a fim de obterem enriquecimento ilícito, em detrimento dos recursos que deveriam ser destinados aos mais pobres. As campanhas eleitorais precisam ser mais econômicas, com controle de financiamento público e privado. Faz-se necessário por fim à impunidade, principalmente nos casos dos crimes “de colarinho branco”.
3. A DIGNIDADE DO TRABALHO
Ao invés de furtar ou roubar, a palavra de Deus direciona o ser humano ao trabalho, ressaltando sua dignidade (I Ts. 4.10-12), qualquer prosperidade decorrente de práticas ilícitas não é benção de Deus. É vergonhoso ver supostos cristãos na mídia orando, agradecendo a Deus por uma propina recebida. Os cristãos também são responsáveis pelo bem estar cultural, social e ambiental. Desde o início Deus deu a Adão a responsabilidade lavrar e guardar o jardim do Éden (Gn. 2.15), antes mesmo da Queda. Esse princípio se aplica aos cristãos dos dias atuais. A nós é dada a missão de guardar o habitat, o meio ambiente no qual nos encontramos. Não estamos isentos da atribuição de cuidar do jardim, contribuindo para o processo de redenção da natureza, que se dará plenamente por ocasião da volta de Cristo (Rm. 8.22-24). Precisamos nos opor à cobiça e ao materialismo que resulta em ansiedade, um dos males da contemporaneidade (Mt. 6.24-34). A orientação bíblica é a de demonstrar amor ao próximo, promovendo a generosidade (Mt. 22.37-40). Ninguém deve ser impulsionado à preguiça (Pv. 6.10,11), nem tão pouco fazer apologia à pobreza (Pv. 30.8,9). Não somos adeptos da teologia da prosperidade (ou da ganância), e muito menos da privação (miséria), mas da provisão necessária. Devemos trabalhar com honestidade, a fim de obter uma condição financeira suficiente para o bem estar pessoal, familiar e social (I Ts. 4.11,12), agradecendo a Deus pelo pão nosso de cada dia (Mt. 6.11), aprendendo a cultivar o contentamento (Fp. 4.12), e exercitando a generosidade (II Co. 9.6-15).
CONCLUSÃO
Jesus foi crucificado entre dois ladrões, um a sua direita e outra à esquerda (Mt. 27.38). Não se enganem existem ladrões em todos os lados, não apenas aqueles apresentados pela mídia. Um dos ladrões reconheceu o Seu pecado, e teve tempo para se arrepender (Lc. 23.42). Por causa disso, o Senhor prometeu que esse estaria com Ele no paraíso (Lc. 23.42,43). Há esperança para aqueles que comentem o pecado do furto/roubo, como Zaqueu poderão se arrepender dos seus pecados, e encontrar salvação em Cristo (Lc. 19.10).