Texto áureo: Lv. 26.11 – Leitura Bíblica: Lv. 27.28-34
INTRODUÇÃO
Neste trimestre estudaremos o livro de Levítico, um dos compêndios do Pentateuco. Esse é um manual de adoração para o povo judeu, e que oportuniza aplicações para o culto cristão. Nesta primeira aula o contextualizaremos, destacando o gênero literário, a data e autoria. É importante, nesses estudos, que não fiquemos apenas na descrição da religiosidade judaica, mas que também atentemos para sua dimensão espiritual, e possibilidades práticas para a adoração cristã, desde que estejam fundamentadas no evangelho.
1. AUTORIA, DATAÇÃO E GÊNERO
O livro de Levítico, bem como os demais livros do Pentateuco é atribuído a Moisés, cuja autoria é reconhecida pelo próprio Jesus (Mt. 5.17). A maioria dos estudiosos concorda que o material da Torah foi escrito por volta de 1445 a. C., no período em que Moisés levantou o tabernáculo no deserto. Alguns teólogos liberais modernos, fundamentados na crítica literária, tentaram questionar a autoria mosaica, mas essa tem sido cada vez mais consolidada, tanto pelas evidências externas quanto internas da obra. Entre os gêneros bíblicos, essa obra pode ser categorizada como um manual do culto divino, ou uma espécie de estatuto para a purificação religiosa nacional, considerando que o povo de Israel vivia debaixo de uma aliança, sendo uma nação governada por Deus. Quanto ao propósito de Levítico, podemos ressaltar que se trata de uma orientação para os sacerdotes no seu ofício, em conformidade com a aliança de Deus e Israel. É importante ressaltar que o santuário havia sido construído, por isso Deus apresenta os fundamentos da adoração judaica. Essa é uma demonstração de que Deus não pode ser adorado de qualquer jeito, mas em conformidade com suas especificações. No contexto da aliança israelita, o próprio YHWH apresenta os termos pelos quais deveria ser adorado. Ao assim fazê-lo, o povo hebreu seria preservado, e ao obedecer às leis do Senhor, não seria contaminado pelas práticas pecaminosas das nações vizinhas. À luz do evangelho, sabemos que Deus tabernaculou no meio dos homens, pois o Verbo se fez carne e habitou no meio de nós (Jo. 1.1,14). Por esse motivo, podemos ter a certeza de que fazemos parte de uma nova aliança, consagrada por Cristo no calvário. Nessa nova aliança, fomos feitos sacerdotes com Aquele que é o Sumo-Sacerdote Eterno (Hb. 7.17).
2. A ESPECIFICIDADE DE LEVÍTICO
Levítico é o terceiro livro dos cinco livros da Torah, a palavra inicial do livro é wayyiqra, expressão hebraica que significa “e Ele chamou”, se referindo aos sacerdotes, que foram chamados pelo Senhor. A versão grega do Antigo Testamento – Septuaginta – optou por denominá-lo de leutikon, cuja tradução é “a respeito dos levitas”. A versão latina da Bíblia – Vulgata – traduziu com o título de Leviticus, do qual derivou o nome dado na língua portuguesa. Esse é um Manual de Regulamentos e Procedimentos Sacerdotais, de modo que identificamos a predominância de considerações rituais e legais. É preciso considerar também que há uma relação imediata do livro de Êxodo com o de Levítico, por isso o próprio título em hebraico trazer uma vav conjuntivo, uma espécie de conjunção aditiva. Isso mostra que o ofício sacerdotal deveria ser realizado dentro do contexto da religiosidade hebraica. A função sacerdotal, por conseguinte, tinha a ver com a instrução do povo na Torah, servindo como manual de orientação para o serviço, e adoração no tabernáculo do Senhor. Em linhas gerais, deve ser considerado um Código de Santidade, destacando a importância do sacrifício, a fim de que os sacerdotes recém-consagrados soubessem se portar no santuário, e conduzindo-se de maneira a agradar ao Senhor, pautando o modo de viver do povo, para que não esquecessem que era uma nação separada por Deus. A esse respeito, o livro de Levítico encontra eco no Novo Testamento, na medida em que destacamos que somos uma nação santa, um povo separado por Deus, chamado das trevas para sua maravilhosa luz (I Pe. 2.9). A igreja do Senhor Jesus é “os chamados para fora” – ekklesia – por isso deve viver em adoração, não mais em meros rituais religiosos, mas em espírito e verdade (Jo. 4.22-24).
3. A TEOLOGIA DE LEVÍTICO
A teologia fundamental de Levítico é a da “santidade ao Senhor”, e “sede santos porque eu sou santo” (Lv. 10.13), pois o Deus que retirou o povo de Israel do Egito é Santo (Lv. 11.44). Ele não é uma mera divindade nacional, mas o Único Deus Verdadeiro, que resgatou o povo da servidão. Desse modo, se a nação permanecesse debaixo dessa aliança, teria a certeza de que esse mesmo Deus o guardaria, e o preservaria dos seus inimigos. Outro enfoque que merece destaque no livro é o da adoração, podemos afirmar que o Deus de Israel é digno de ser adorado, e que esse apresenta as especificações rituais, para que a adoração aconteça. Os sacrifícios se faziam necessários por causa da condição pecaminosa do ser humano, e ao mesmo tempo, ressalta a gravidade do pecado, diante da santidade de Deus. Algumas dessas temáticas são reafirmadas no Novo Testamento, principalmente a de que nenhum ser humano é capaz de salvar a si mesmo (Rm. 3.23; Ef. 2.8,9), e que o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo (Rm. 6.23). Na verdade, alguns temas que se encontram em Levítico foram reafirmados por Jesus, dentre eles, o do supremo mandamento do amor, primeiramente a Deus, e ao próximo como a nós mesmos (Lv. 19.18; Mt. 22.39). Paulo também fez referência a essa “regra áurea” em Rm. 13.9 e Gl. 5.14, de modo que, nesse contexto, os crentes são sacerdotes consagrados ao serviço do Senhor. O sacerdócio dos crentes, diferentemente daquele levítico, é dura para sempre e em todos os lugares A santidade, por sua vez, não está atrelada apenas a rituais externos, mas a um estilo de vida, tendo o próprio Deus como padrão (I Pe. 1.15). Nessa nova condição, nos tornamos habitação de Deus pelo Espírito Santo, que também opera em nós a santificação (Gl. 2.11).
CONCLUSÃO
Na condição de crentes santos e santificados por Cristo, temos diante de nós a responsabilidade de viver em santidade, agradando ao Deus Vivo e Verdadeiro (I Ts. 4.1-12). E para isso, devemos reconhecer que temos uma nova mentalidade, somos templo e morada do Espírito Santo (I Co. 6.19), e como tal, não podemos mais nos conformar a esse mundo, antes vivermos de acordo com a vontade boa, perfeita e agradável de Deus, que é nosso culto racional (Rm. 12.1,2).
BIBLIOGRAFIA
HARRISON, R. K. Levítico: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2011.
TIDBALL, D. The message of Leviticus. Leicester: Interversity-Press, 2005.