Texto Áureo: I Jo. 2.16 – Leitura Bíblica: Mt. 4.1-11
INTRODUÇÃO
Jesus foi tentado, partindo desse pressuposto, devemos considerar, por conseguinte, que ninguém está imune à tentação. Na aula de hoje, estudaremos a respeito da tentação de Jesus, com base no texto de Mt. 4.1-11, considerando, inicialmente, particularidades do texto grego, em seguida, interpretaremos o texto, e ao final, faremos as devidas aplicações, com o objetivo de sermos fortalecidos pelo Senhor, a fim de resistir no momento da tentação.
1. ANÁLISE TEXTUAL
Jesus foi conduzido – anago, se encontra na voz passiva – para o deserto – pelo Espírito – pneumatos – a fim de ser tentado – peirasthenai – mais uma vez na voz passiva – pelo diabo. No texto está escrito que isso aconteceu após o jejum – nesteusas, ter jejuado - de Jesus – por quarenta noites e quarentas dias, e que Ele estava faminto – epeinasen, teve fome. Então, veio até Ele o tentador – peirazon, aquele que tenta ou coloca a pessoa sob teste ou provação. E esse abordou o Senhor, e se aproximando – proselthon – disse: se – ei – partícula condicional – és o Filho de Deus – ordene – eipe, no imperativo – que essas pedras se transformem em pães. Jesus, porém, respondeu dizendo: está escrito – gegraptai – não só de pão viverá – zesetai – o homem, mas de toda (ou cada) palavra – rhema – que vem através – dia – boca de Deus. Em seguida, o diaboo conduziu – paralambanei auton – para a Cidade Santa – ten hagian polin – colocando-o sobre o pináculo – prerugion – do templo – tou ieron. E disse a Ele: Se é Filho de Deus, lança a te mesmo – bale seauton – daqui abaixo, porque (ou como) está escrito – gegraptai – pois aos seus anjos, mesnageiros – angelos – ordenará – enteleitai – a teu respeito, e tomar-te-ão nas mãos, para que nunca tropeces – proskopses – em pedra. Disse-lhe Jesus: está escrito – gegraptai – não colocarás em teste – ekpeiraseis – testarás, provarás, tentarás – o Senhor, teu Deus. Novamente, o tomou – paralambanei – o diabo a um monte muito alto, e mostrou-lhe – deiknusin autô – todos os reinos da terra – pasas tas basileias tou kosmou, e a glória deles – then doxan auton. E disse-lhe: tudo isto te darei – dôsô – se – ean – te prostares – pesôn – e me adorares – proskuneô moi. Então, disse Jesus a ele, vai-te, saia daqui, parta agora – hupage – Satanás, pois está escrito – gar gegraptai – o Senhor teu Deus somente adorarás – proskuneseis – e a Ele somente servirás – latreuseis. Então, o diabo o deixou, e os anjos – angeloi, mensageiros – vieram e o serviram – diekonoun autô.
2. INTERPRETAÇÃO TEXTUAL
Jesus foi conduzido pelo Espírito ao longo da sua vida, na verdade Seu ministério desenvolveu-se na direção do Espírito Santo. De igual modo, Seus seguidores devem viver na dependência desse mesmo Espírito (Gl. 5.16-18). No caso em foco, o Espírito o levou para ser tentado, que em grego é peirazo, palavra que tanto pode significar provar, quanto testar, ou mesmo tentar. É nesse contexto que Tiago afirma que Deus aninguém tenta (Tg. 1.13), ainda que use as circunstâncias para provar o caráter das pessoas (Hb. 11.17). A esse respeito, é importante considerar que a mesma palavra em grego é usado, por isso a dependência do contexto é necessária, para uma interpretação apropriada. Jesus foi tentado pelo diabo, que em grego é o acusador, com destaque para o artigo definido, portanto, não se trata de um tentador qualquer, mais de um diabo específico (v. 1). Jesus havia jejuado por quarenta dias e quarenta noite, uma experiência alusiva aos 40 anos que Israel esteve peregrinando, e sendo provado pelo deserto (Dr. 8.2-3), de igual modo, Moisés jejuou e orou por 40 dias e noites em duas ocasiões (Ex. 24.18; 34.28; Dr. 9.9-25; 10.10). O evangelista afirma que Jesus apenas teve fome, não diz que ele tenha tido sede, há quem diga, com base nessa declaração, que Jesus o jejum foi apenas de comida, mas não de água (v. 2). Jesus era e é o Filho de Deus, mas o objetivo do diabo é o de sempre questionar as verdades divinas, por isso questiona com um “se” (v. 3). Desde o princípio, Satanás pretende fazer com que as pessoas se distanciem dos parâmetros divinos, fazendo suas próprias vontades, ao invés da vontade de Deus (Gn. 3). A declaração “está escrito” aparece várias vezes nesse texto, demonstrando, assim, que a base para a vitória de Jesus sobre Satanás era as Escrituras (v. 4). Na verdade, o Senhor mais uma vez fazia referência a Israel, que foi provado ao longo do deserto, tendo tido fome, e recebendo a provisão divina, com o maná do céu (Dt. 8.2). Em seguida, o diabo o leva até o pináculo do templo, na cidade santa que é Jerusalém, esse era o Templo erigido por Herodes (v. 5). O Senhor declara outra vez: “está escrito”, quando o diabo tenta usar as Escrituras contra o próprio Deus. É preciso ter cuidado, pois Satanás conhece as Escrituras, e pode distorcê-las, a fim de realizar seus intentos (v. 6,7). Há pessoas que utilizam as Escrituras para satisfazer suas vontades, recorrendo a textos descontextualizados, sem atentar para as regras de interpretação. O objetivo do diabo era fazer com que Jesus se prostrasse aos seus pés e o adorasse, prometendo entregar a Cristo todos os reinos do mundo. Na verdade, o mundo jaz no maligno, o diabo é o príncipe deste século, fazer com que Jesus fugisse da cruz era o intento do inimigo, mas não existe glória antes de se passar pela cruz (v. 9,10). Por fim, depois de Jesus ter resistido, por meio da Palavra de Deus (Tg. 4.7; I Pe. 5.9), os anjos vieram para servi-lo.
3. APLICAÇÃO TEXTUAL
A tentação é algo real, e acontece por diversas razões, uma delas é por causa da natureza pecaminosa. Ser tentado não é pecado em si, apenas se através da tentação, o pecado for concretizado. Jesus nos ensinou a orar, pedindo para que o Pai não permitisse que caíssemos em tentação. A tentação vem através dos sentidos, Eva foi seduzida porque olhou para o fruto, e percebeu que esse era desejável para comer (Gn. 3.6). A concupiscência dos olhos e a soberba da vida tem conduzido muitas pessoas à ruína espiritual (I Jo. 2.16,17). A tentação e a vitória de Jesus servem de instrução para todos aqueles que querem vencer o pecado. Inicialmente, devemos atentar para a Palavra de Deus, essa deve ser nosso fundamento de fé e prática. Mas também é preciso ter cuidado, pois o próprio Satanás pode citar indevidamente as Escrituras. E mais, devemos permanecer atentos às suas investidas, sobretudo aos seus questionamentos, quando coloca dúvidas em nossas mentes, a respeito da nossa filiação divina, e do nosso relacionamento com Deus. Ele também deseja espetáculo, que usemos o evangelho a fim de chamar a atenção das pessoas, isso pode acontecer por meio de crenças triunfalistas, pessoas que querem antecipar o reino de Deus, e transformar os governos terrenos em celestiais. Há quem acredite em um evangelho sem sofrimento, apenas de prosperidade financeira, mas isso não tem qualquer respaldo bíblico. É paradoxal que tudo aquilo que Jesus rejeitou na sua tentação esteja seduzindo a igreja dos tempos modernos. A alternativa para o cristão sincero, que está fundamentado na Palavra de Deus, é resistir as propostas de Satanás, e mais que isso, ordenar para que esse se afaste de nós. A vitória sobre a tentação passa pelo caminho da renúncia, pela negação das nossas vontades, para que estejamos de acordo com a Palavra de Deus, sejamos verdadeiros discípulos de Cristo (Mt. 16.24).
CONCLUSÃO
Somos testados e provados continuamente, Deus permite que Satanás, que é o deus deste século nos prove (II Co. 4.4), mas a vitória sobre as tentações é uma oportunidade para crescermos na fé. Sejamos, pois, firmes na Palavra de Deus, e cientes que nenhuma provação é maior do que possamos suportar, mas isso porque Deus nos dá o escape, pelo Espírito Santo que nos dá vitória, para andarmos em Cristo, e sermos feitos conforme a Sua imagem.
BIBLIOGRAFIA
BORGMAN, B., VENTURA, R. Spiritual warfare. Grand Rapids: RHB, 2014.
STEDMAN, R. C. Batalha espiritual. São Paulo: Abba Press, 1995.