Texto Áureo: Lc. 24.49 – Leitura Bíblica: At. 8.5-13; 18-21
INTRODUÇÃO
Na luta contra as hostes celestiais da maldade, conforme já estudamos anteriormente, é imprescindível recorrer à Armadura de Deus. Mas há também outros recursos, os quais devemos lançar mão, caso queiramos obter êxito na batalha espiritual. Na aula de hoje, estudaremos a respeito do poder do alto, enquanto capacitação divina, a fim de testemunhar da morte e ressurreição de Cristo (At. 1.8). Esse poder – dunamis em grego – é necessário também para a realização de milagres, sinais que evidenciam a chegada do reino de Deus.
1. ANÁLISE TEXTUAL
O livro de Atos, escrito por Lucas, é o relato dos primórdios da igreja, que se iniciou em Jerusalém, seguiu para Judeia e Samaria, e até aos confins da terra. Após um período de perseguição intensa da igreja, os discípulos de Jesus tiveram que sair da Judéia. Em At. 8, Lucas registra a pregação do evangelho em Samaria, uma das regiões consideradas inóspitas pelos judeus. Samaria fez parte das dez tribos de Israel que se dispersaram, quando o rei da Assíria, Salmaneser a sitiou, por volta do ano 722. a. C. Os judeus menosprezavam os samaritanos, por considerarem esse um povo mestiço, indigno da misericórdia de Deus. Mas Jesus, ainda no início do Seu ministério terreno, ordenou que o evangelho fosse pregado aos samaritanos, Ele mesmo deu exemplo (Lc. 9.52,53; Jo. 4.25-28). No texto em foco, Filipe é conduzido pelo Espírito à Samaria, onde se encontrava pregando Cristo a eles – ekerussen autois ton Christon. O verbo kerusso tem o sentido de proclamar, anunciar ou mesmo mostrar algo, a partir de comprovações (v. 5). É importante ressaltar que a multidão estava atenta ao que Felipe dizia, porque ouviam e viam os sinais – semeia – que apontavam para a chegada do Reino de Deus (v. 6). Enquanto anunciava, os espíritos imundos saiam de muitos que os tinham, e muitos eram curados – etherapreuthesan – na voz passiva, a cura vinha de Deus, por intermédio de Filipe (v. 7). Houve naquela cidade um avivamento, demonstrada por grande alegria – pollê chara, não se trata de mera felicidade, mas uma alegria que vem do Espírito (v. 8). Mas estava ali um homem chamado Simão, que exerceu no passado arte mágica – mageoun – realizava magia, práticas exotéricas. Esse homem, se utilizava de tais artes para ganhar dinheiro, tinha iludido – existanon, causava espanto, levava a êxtase (v. 9). Esse homem, literalmente, enfeitiçava as pessoas com suas práticas, por isso era tido como grande virtude de Deus – he dunamis tou theou. A palavra dunamis tem significado no contexto, pois é a mesma para o poder do Espírito, não por acaso era denominado “o grande” – megalê (v. 10). Ele exercia influencia sobre as pessoas, por casusa das práticas mágicas – mageiais – com a qual os iludia – exestakenai autous, levando as pessoas ao delírio (v. 11). A mensagem de Filipe era a do Reino de Deus – basileia tou Theou – bem como do nome de Jesus Cristo – tou onomatos Iêsou Christou. Por conseguinte, muitos foram batizados, tanto homens como mulheres (v. 12). Esse Simão mágico também creu, tendo sido batizado, vendo os sinais – te sêmeia – e os milagres – dunameis, ficando ele mesmo extasiado – existato (v. 13). Quando Simão viu que pela imposição das mãos dos apostos era dado o Espírito Santo, ofereceu dinheiro – proskênegken autois chrêmata. A palavra chrêmata – que se refere ao dinheiro – significa também fortuna (v. 18). Ele ficou interessado naquele poder, por isso queria também impor as mãos sobre as pessoas, para que elas recebessem o Espírito Santo – Pneuma Hagion (v. 19). Pedro compreendeu as intenções de Simão, por isso declarou que o dinheiro dele fosse para perdição – apôleian – destruição, sendo enfático que o dom de Deus – tem dôrean tou Theou – não se alcança por dinheiro (v. 20). E acrescente que Simão não tem parte – meris, participação, domínio, nem sorte – kleros, porção ou partilha, pois o coração dele não era reto – eutheia, direito - diante de Deus.
2. INTERPRETAÇÃO TEXTUAL
O testemunho de Filipe, a respeito do Reino de Deus, transpôs as fronteiras de Jerusalém, mostrando que Deus não está restrito a uma nação, ou mesmo a um povo terreno (At. 10. 34). Ele seguiu para pregar entre os samaritanos, em uma demonstração que Deus não faz acepção de pessoas (v. 4). Esse povo era considerado indigno pelos judeus, mesmo mantendo a tradição mosaica, e adorando a Deus ao pé do monte Gerezim, que consideravam sagrado (v. 5). Esse é um dos motivos do diálogo de Jesus com a mulher que se encontrava no poço de Siquém, e que era uma samaritana (Jo. 4.4-21). Os samaritanos receberam a mensagem proclamada por Filipe, a respeito de Jesus como o Messias Prometido. Do mesmo modo que os apóstolos, Filipe recebeu o poder do Espírito, para expulsar espíritos imundos e curar os enfermos (v. 6). O poder do Espírito Santo foi prometido por Jesus, a fim de que Seus discípulos tivessem autoridade, para testemunhar de Cristo (At. 1.8). Expulsar demônios e curar enfermos não é um fim em si mesmo, mas um sinal que aponta para o Reino de Deus, a proeminência está na mensagem do evangelho. O Simão que aparece no relato lucano, dizia ter poderes divinos, e se intitulava O Grande, atraindo atenção das pessoas para ele mesmo, como um enviado da divindade (v. 9). Esse creu e foi batizado, o texto não deixa claro se essa crença foi autêntica, ou apenas aparente. O contexto da passagem sugere que a fé de Simão foi interesseira, pois quando viu que as pessoas recebiam o Espírito Santo, pela imposição de mãos dos apóstolos, quis comprar o dom com dinheiro (v. 17). É possível que houvesse uma manifestação física, como o ato de falar em línguas, como aconteceu no dia de Pentecostes (At. 2). De acordo com Lucas, o recebimento do poder do alto, fez toda diferença no ministério apostólico, capacitando os discípulos de Jesus a testemunhar, com poder e autoridade. Mas não estava imune a investidas de Satanás, tentado minar a autenticidade da comunhão cristã, a partir da hipocrisia de Ananias e Safira (At. 5), bem como com a tentativa de ganhar dinheiro por meio da Palavra, como quis fazer Simão. Esse foi repreendido por Pedro, dizendo que Simão não teria parte nem sorte, ou seja, não fazia parte dos discípulos de Cristo, pois não passava de um impostor, que queria se aproveitar das pessoas, por meio do evangelho pregado pelos apóstolos (v. 21).
3. APLICAÇÃO TEXTUAL
A narrativa lucana, ao longo de livro de Atos, destaca que Deus não faz acepção de pessoas. Várias passagens desse registro dos primórdios da Igreja ressaltam como o poder do Espírito Santo dirigiu os seus passos. A pregação do evangelho aos Samaritanos, iniciada pelos próprio Jesus, durante Seu ministério terreno, reforça o alcance do Seu ide, não apenas a Jerusalém, mas até aos confins da terra. A igreja tem uma tendência a se acomodar, mas Deus se utiliza das suas estratégias, e não poucas vezes, recorre à perseguição, para que essa saia da zona de conforto. A escolha para a pregação do Reino de Deus não depende da igreja, mas do próprio Deus que optou por incluir a todos, independente das fronteiras geográficas. Os tempos atuais são marcados pela segregação, o nacionalismo pode ser positivo, mas se não tivermos cuidado, pode resultar em xenofobia. Devemos amar nosso país, orar e trabalhar, para que tenhamos dias melhores, mas não podemos colocar a atuação do Estado acima da igreja. A esta compete, pelo poder do Espírito Santo, anunciar as boas novas de Cristo, não apenas àqueles que nos interessam, mas a toda criatura. Os inimigos dos cristãos não podem ser odiados, Jesus ensinou a amar até mesmo aqueles que são contrários a nós, por isso não podemos impor limites para levá-los o evangelho. Essa mensagem tem proeminência, e dependendo da operação do Espírito, pode ser acompanhada por sinais e maravilhas. Mas esses não podem ser o ponto central da pregação evangélica, o conteúdo do reino e de Jesus Cristo, é mais importante. Há igrejas evangélicas que fazem verdadeiros shows em nome da fé, e se apropriam indevidamente dos recursos financeiros das pessoas, como fez Simão nos tempos apostólicos. O movimento evangélico cresceu significativamente neste país, mas não tem tido a relevância necessária, a não ser para capitalização de votos nos períodos eleitorais. Por causa disso, há muita simonia no contexto evangélico, pessoas que se aproximam das igrejas apenas com interesses econômicos ou eleitoreiros. De maneira profética, devemos nos pronunciar contra o pecado da simonia, e deixar bem claro que essas pessoas não têm parte nem sorte no reino de Deus. Como Pedro, devemos diferenciar a verdade do engano, o evangelho genuíno das artes mágicas. Os que se utilizam do evangelho, para se tornarem grandes, ou que se infiltram nas comunidades cristãs, a fim de buscar enriquecimento, serão julgados por Aquele que é o Senhor da Igreja.
CONCLUSÃO
A Igreja cristã depende do poder do alto para a proclamação do evangelho, por isso Jesus foi enfático ao pedir que essa ficasse em Jerusalém, até que fosse revestida do poder do Espírito Santo (Lc. 24.49; At. 1.8). Temos uma tendência a depender das nossas forças, ou de poderes terrenos, para que esses favoreçam a atuação da igreja no mundo. Mas não podemos esquecer de uma verdade fundamental, é pelo poder do Espírito cumpriremos nossa missão. Para sermos testemunhas poderosas de Jesus, precisamos receber o poder indispensável do Espírito Santo.
BIBLIOGRAFIA
BORGMAN, B., VENTURA, R. Spiritual warfare. Grand Rapids: RHB, 2014.
STEDMAN, R. C. Batalha espiritual. São Paulo: Abba Press, 1995.