INTRODUÇÃO
Segundo a Bíblia, a origem do tempo está na intervenção de Deus ao criar o planeta Terra e o ser humano. No plano original, o ser humano foi criado para viver infinitamente. Mas, após a Queda, ele perdeu o direito à imortalidade e passou a experimentar um relacionamento finito com o tempo, onde passado, presente e futuro trazem a dimensão temporal da vida terrena. Assim, o ser humano percebe que sua existência é efêmera. Portanto, nesta lição estudaremos o conceito de tempo, sua mordomia e proveito.
I. CONCEITOS IMPORTANTES
1. A palavra tempo. Tempo significa “série ininterrupta e eterna de instantes. Medida arbitrária da duração das coisas. Época determinada”. Ele “é a duração dos fatos, é o que determina os momentos, os períodos, as épocas, as horas, os dias, as semanas, os séculos etc.”. Nesse sentido, a palavra tempo pode ter significados variados, dependendo do contexto em que é empregada. O tempo também é sinônimo de época, período, prazo, tempo musical, tempo verbal etc.
2. O tempo na Bíblia e na Teologia. Deus criou o tempo. Ele o formou com o objetivo de estabelecer ciclos para suas obras criadas (Gn 1.14). Nesse aspecto, o homem também buscaria o seu Criador no tempo (At 17.26,27). Assim, sem a dimensão do tempo, o homem não compreenderia sua origem, começo, nem muito menos, o conceito de “eternidade”.
A Bíblia emprega significados variados, sentidos reais e metafóricos, do tempo. Vejamos:
2.1. No princípio — a eternidade. No Gênesis, o livro das origens de todas as coisas, o primeiro capítulo inicia dizendo: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). No hebraico, a expressão “no princípio” é bereshit, “princípio de tudo”. A maioria dos estudiosos da Bíblia concorda que esse “princípio” é indefinido, pois é o “tempo de Deus”, ou o seu kairós. João 1.1,2 expressa esse mesmo princípio.
2.2. Yom. A palavra hebraica que corresponde ao dia natural de 24 horas. Ou seja, cada dia da semana, do mês, do ano. É o dia a dia no qual Deus nos concede viver. A mordomia do tempo insere-se nesse tempo de Yom, o dia natural.
2.3. Chronos. É o termo grego para “tempo”, que pode ser medido, contado e definido. Na teologia é considerado o “tempo do homem”, isto é, o tempo cronológico. Além de incluir o “dia” de 24 horas, também refere-se a semanas, meses, anos, décadas etc. É o tempo que pode ser medido, dividido, analisado ou estudado. Nesse sentido, o salmista escreveu: “Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio” (Sl 90.12,14).
2.4. Kairós. É “o tempo de Deus”, que só pode ser definido por Ele mesmo. O apóstolo Pedro revelou que, para Deus, o tempo não pode ser avaliado com as mesmas categorias humanas de medição: “Mas, amados, não ignoreis uma coisa: que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos, como um dia” (2Pe 3.8 — grifos meus). Jesus também ensinou que não se pode definir o tempo de Deus (Kairós). “E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder” (At 1.7).
II. A MORDOMIA DO TEMPO
1. Remindo o tempo. O tempo é o único bem que não podemos recuperar. Por isso, a Palavra de Deus exorta-nos: “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porquanto os dias são maus” (Ef 5.15,16). Segundo o relatório “2018 Global Digital”, o Brasil está entre os três países do mundo em que a população passa, em média, mais de nove horas do dia navegando na Internet. É um dos dois únicos países onde o tempo médio diário, gasto nas redes sociais, supera as três horas e meia, portanto, bem acima da média mundial. Remir o tempo significa não desperdiçá-lo.
2. Contar o tempo. O salmista escreveu: “Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio” (Sl 90.12). Será possível contar os dias? Entender que são limitados, finitos e terrenos é conscientizar-se do nosso limite humano. Não somos, pois, seres infinitos. Nosso Senhor declarou assim: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal” (Mt 6.34). Aprendamos, pois, contar o tempo que Deus nos deu!
3. A prestação de contas. Um dia nos apresentaremos diante de Deus, a fim de prestar contas dos bens espirituais e materiais que Ele nos concedeu. Tudo o que administramos com relação ao nosso corpo — as faculdades físicas e emocionais —, daremos conta a Deus. Sim, o Criador nos cobrará acerca do que fizemos com o nosso tempo.
III. COMO APROVEITAR BEM O TEMPO
1. Use o tempo para Deus. O crente e, especialmente, os obreiros, precisam reservar tempo para Deus. São momentos da vida devocional diária, oração e estudo Palavra, que não podem faltar em nossa vida piedosa.
1.1. Na oração. Na Bíblia, os homens de Deus que se destacaram na vida devocional sempre deram valor à oração, (a) Davi e Daniel oravam três vezes ao dia (Sl 55.16,17; Dn 6.10,11); (b) Jesus orava diariamente (Mt 26.41-44). Ou seja, o ensino acerca de uma vida vigorosa de oração permeia as Escrituras.
1.2. Na leitura da Palavra. A Bíblia declara que Davi tinha prazer em ler a Palavra de Deus (Sl 119.97) e escondê-la em seu coração (Sl 119.11). Todo crente que ama a Deus tem prazer em meditar na palavra divina. O obreiro do Senhor precisa ler e estudar a Bíblia diariamente para a edificação pessoal, bem como o preparo na doutrina, ensino, exortação, orientação e advertências a Igreja de Cristo.
2. Use o tempo para você mesmo. O apóstolo Paulo exortou a Timóteo a cuidar de si mesmo em primeiro lugar (1Tm 4.16). O apóstolo João desejou ao destinatário de sua terceira carta que tudo fosse bem em toda as coisas (3Jo v.2). Assim, além de cuidar da vida espiritual, a Palavra de Deus mostra que é importante cuidar da parte emocional, buscando o equilíbrio interior, que tanto beneficia a mente e o corpo.
3. Use tempo para sua família. Há líderes que têm tempo para a igreja, para viagens, seminários, conferências e convenções, mas deixam sua família em segundo ou terceiro plano. Há casos de casamentos destruídos por falta de valorização do cônjuge para com a sua família. Ora, não podemos deixar de priorizá-la.
Um dos recursos necessários para a edificação de sua família é o culto doméstico (Dt 6.7; 11.19). Pense nisso! Que o conselho de Paulo possa calar fundo em nossa alma: “Mas, se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel” (1Tm 5.8).
CONCLUSÃO
Após a Queda, o homem passou a experimentar as agruras e os pesares da ação do tempo. Veio a envelhecer, enfermar-se e, finalmente, morrer. Mas, agora, em Cristo, somos exortados a remir o tempo, aproveitando-o de modo a glorificar a Deus e a honrá-lo enquanto estivermos na Terra, com os nossos olhos voltados para “Sião”. Ali, junto ao Pai Celeste e ao Cordeiro, desfrutaremos plenamente da vida eterna. A morte não terá poder sobre nós. PENSE NISSO!