4º Trimestre/2019
Texto Base: 1Smauel 3:1-10
“Então, veio o SENHOR, e ali esteve, e chamou como das outras vezes: Samuel, Samuel. E disse Samuel: Fala, porque o teu servo ouve” (1Sm.3:10).
1Samuel 3:
1-E o jovem Samuel servia ao SENHOR perante Eli. E a palavra do SENHOR era de muita valia naqueles dias; não havia visão manifesta.
2-E sucedeu, naquele dia, que, estando Eli deitado no seu lugar (e os seus olhos se começavam já a escurecer, que não podia ver)
3-e estando também Samuel já dei- tado, antes que a lâmpada de Deus se apagasse no templo do SENHOR, em que estava a arca de Deus,
4-o SENHOR chamou a Samuel, e disse ele: Eis-me aqui.
5-E correu a Eli e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas ele disse: Não te chamei eu, torna a deitar-te. E foi e se deitou.
6-E o SENHOR tornou a chamar outra vez a Samuel. Samuel se levantou, e foi a Eli, e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas ele disse: Não te chamei eu, filho meu, torna a deitar-te.
7-Porém Samuel ainda não conhecia o SENHOR, e ainda não lhe tinha sido manifestada a palavra do SENHOR.
8-O SENHOR, pois, tornou a chamar a Samuel, terceira vez, e ele se levantou, e foi a Eli, e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Então, entendeu Eli que o SENHOR chamava o jovem.
9-Pelo que Eli disse a Samuel: Vai-te deitar, e há de ser que, se te chamar, dirás: Fala, SENHOR, porque o teu servo ouve. Então, Samuel foi e se deitou no seu lugar.
10-Então, veio o SENHOR, e ali esteve, e chamou como das outras vezes: Samuel, Samuel. E disse Samuel: Fala, porque o teu servo ouve.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos da chamada profética de Samuel. O Senhor o chamou em tenra idade para ser profeta (1Samuel 3). Samuel foi um grande profeta e juiz de Israel; ele restaurou a lei, a ordem religiosa e a adoração ao Senhor (1Sm.4:15–18; 7:3–17).
Deus chamou Samuel, provavelmente, quando ele tinha cerca de 12 anos de idade (1Sm.3:1-4), ou seja, a mesma faixa-etária de Jesus quando foi levado a Jerusalém por seus pais (Lc.2:42). Ana pediu a Deus que lhe desse um filho, o Senhor por sua vez lhe deu um profeta, juiz e sacerdote. Como profeta de Deus, Samuel ungia reis; como intérprete da Palavra de Deus, aconselhou e desafiou reis. Ele foi líder de líderes, conselheiro-chefe de reis e capitães militares de Israel. Quando ele falava, todos escutavam. Na verdade, Samuel foi um divisor de gerações; a geração que não ouvia a Deus estava ficando para trás e a fidelidade de Samuel atraiu o amor de Deus para si.
Como podemos saber se uma pessoa foi chamada por Deus para uma missão especial? A Bíblia mostra alguns fatores indicativos pelos quais podemos tirar uma conclusão.
§ Para alguns, isso se dá em meio a situações dramáticas - como as enfrentadas por Moisés com a sarça ardente; Isaías, no templo; ou Paulo, na estrada para Damasco.
§ Outros, antes de nascer, como foi a chamada de Jeremias – “...antes que saísse da madre, te santifiquei e às nações te dei por profeta” (Jr.1:5).
§ Outros, através de atitudes que demonstram firme comprometimento com a Obra de Deus, como foi o exemplo de Eliseu, o qual, quando chamado, deixou tudo para fazer a obra de Deus, o que pode ser comprovado pela ação de sacrificar os bois e a sua carroça (1Rs.19:21).
§ Já para a maioria das pessoas comuns, trata-se de simplesmente de uma convicção crescente e inegável de que Deus tem sua mão sobre elas. Quando se é chamado, há uma convicção íntima que não lhe permite investir a vida em nenhuma outra vocação. Cito algumas expressões:
Ø O apóstolo Paulo: “Tornei-me tudo para todos, para de todo e qualquer modo salvar alguns” (1Co.9:22).
Ø Knox. Assim rogava a Deus: “Dá-me a Escócia ou eu morro!”.
Ø Whitefield implorava: “Se não queres dar-me almas, retira a minha!”.
Ø John Wesley: “Dai-me cem homens que nada temam senão o pecado, e que nada desejam senão a Deus, e eu abalarei o mundo”.
Ø Mateus Henry: “Sinto maior gozo em ganhar uma alma para Cristo, do que em ganhar montanhas de ouro e prata para mim mesmo”.
Ø D. L. Moody: “Usa-me, então, meu Salvador, para qualquer alvo e em qualquer maneira que precisares. Aqui está meu pobre coração, uma vasilha vazia, enche-me com a Tua graça”.
Ø Henrique Martyn. Ajoelhado na praia da Índia, onde fora como missionário, dizia: “Aqui quero ser inteiramente gasto por Deus”.
Ø Praying Hyde. Missionário na Índia, suplicava: “Ó Deus, dá-me almas ou morrerei!”.
Assim, quem é chamado não tem outra visão, ou sentimento, outra vontade, a não ser a de realizar a Obra de Deus, por isso está sempre pronto a dizer como o profeta Isaías: “Depois disso, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Então, disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim” (Is.6:8).
I. DEFININDO O “PROFETA” EM ISRAEL
1. Definição de profeta
Profeta, palavra originária do grego que significa aquele que proclama; biblicamente, aquele que proclama a mensagem de Deus; é “aquele que anuncia”, e sua missão não é predizer, mas sim passar adiante a Palavra do Senhor; ou seja, o profeta é um porta-voz de Deus.
Nesse aspecto, o profeta seria mensageiro de Deus, cuja missão era levar o povo a obedecer à vontade do Todo-Poderoso. Quem ouvisse e obedecesse esse porta-voz teria sucesso, pois o profeta comunica o que Deus lhe diz, fala o que o Senhor lhe falou. Os profetas bíblicos falavam principalmente dos males de sua época. Mas a profecia bíblica também descrevia o que aconteceria se as pessoas fizessem ou não fizessem determinadas coisas, e o que o profeta esperava para o futuro de seu povo.
Atualmente, temos visto pessoas sendo ungidas e reconhecidas como profetas pelo fato de serem usadas no dom da profecia. No Novo Testamento, o dom de profecia é para todos: "Todos podereis profetizar" (1Co.14:31). O ministério profético, não: "São todos profetas?" (1Co.2:29).
No Antigo Testamento, o profeta era um pregador especial, com mensagem especial. Sua mensagem apelava à consciência da pessoa em relação a Deus, a si própria, ao pecado e à santidade. É só conferirmos as mensagens dos livros proféticos.
O forte do profeta de Deus era expor os padrões da justiça divina para o povo. Ele era um arauto da santidade de Deus. Com autoridade e unção divinas, estava sempre a condenar o pecado (Is.58.1). Seu espírito fervia com isso e ele gemia por isso, pois para isso era chamado.
A Palavra de Deus saia da boca do profeta como flechas de fogo divino. João 5:35 diz assim de João Batista, o profeta: "Ele era a candeia que ardia". O profeta de Deus fazia o homem carnal estremecer, parar e considerar o seu mau caminho.
Tenhamos cuidado com os falsos profetas. Assim como nos tempos bíblicos do Antigo Testamento, hoje existem falsos profetas - "E veio a mim a Palavra do Senhor, dizendo...Ai dos profetas loucos, que seguem o seu próprio espírito e coisas que não viram" (Ez.13:1-3). Tenhamos, pois, discernimento.
2. A menção de “profeta” no livro de Samuel
Antes de Samuel, o profeta era conhecido como “vidente” (1Sm.9:9), referindo-se ao fato da visão profética; sem dúvida, esse era o nome popular para os homens de Deus nos tempos antigos, antes de Samuel.
O profeta é aquele que “vê” com os olhos espirituais; ele tem referência particular à proclamação pública da vontade de Deus, conforme discernido através da visão profética, como se observa na primeira menção feita a um “profeta” no Livro de Samuel (1Sm.2:27-36).
“E veio um homem de Deus a Eli e disse-lhe [...] eu suscitarei para mim um sacerdote fiel, que procederá segundo o meu coração e a minha alma, e eu lhe edificarei uma casa firme, e andará sempre diante do meu ungido” (1Sm.2:27,35).
“E veio um homem de Deus a Eli...”. Este texto é uma credencial de profeta. Aparentemente foi um homem de Deus, não identificado, que confrontou o sacerdote Eli.
Profeta se tornou um dos títulos de maior honraria a partir da época de Samuel. O registro de Atos 3:24 – “E todos os profetas, desde Samuel, todos quantos depois falaram, também anunciaram estes dias” -, indica que Samuel foi o primeiro de uma nova ordem ou linha de profetas.
“E o jovem Samuel servia ao SENHOR perante Eli. E a palavra do SENHOR era de muita valia naqueles dias; não havia visão manifesta” (1Sm.3:1).
Após Samuel, nos chamados tempos bíblicos do Antigo Testamento, o povo de Deus aprendeu a ouvir e crer nos profetas. O conselho era: “Crede no Senhor, vosso Deus, e estareis seguros; crede nos Seus profetas e prosperareis” (2Cr.20:20). Este era o grande segredo: crer em Deus e nos seus profetas. Estes se tornaram tão importantes entre os judeus, que eram consultados pelo povo e pela classe dominante. Deus os considerava tanto que disse que não faria coisa alguma sem antes revelar aos seus servos, os profetas – “Certamente o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas”(Am.3:7).
3. Samuel e os demais profetas
Segundo os estudiosos, foi com Samuel que teve início o movimento profético formal em Israel. O profeta era alguém que falava em nome do Senhor: "Serás como a minha boca" (Jr.15:19); “...Eis que ponho as minhas palavras na tua boca” (Jr.1:9).
Deus escolheu, preparou e inspirou seus servos, os profetas, para admoestar seu povo. Eles se utilizavam de métodos variados para ensinar (Os.12:10; Hb.1:1). Eram educadores ungidos pelo Senhor para ensinar ao povo a viver em santidade, tornando-lhe conhecida sua revelação e desvendando-lhe as coisas futuras (Nm.12:6; 1Rs.19:16; Jr.18:18).
Com Samuel deu-se o início à prática de os profetas ungirem reis. Segundo o texto bíblico, o próprio Samuel comunicou as palavras de Deus a Saul, de que este seria rei, e ungiu Davi para ser o sucessor de Saul (1Sm.cap.16).
Foi a partir do ministério de Samuel que surgiram os profetas da corte, ou seja, aqueles que atuavam junto aos reis. Alguns desses profetas não apenas aconselhavam os soberanos, mas também eram seus escrivães; por exemplo, Samuel, Natã e Gade fizeram alguns registros reais. Eles não hesitavam em enfrentar reis desobedientes, governadores, sacerdotes ou qualquer tipo de liderança que não seguisse a Palavra de Deus (1Sm.13:13,14; 1Rs.18:18).
Tinham, ainda, como missão: lutar contra a idolatria, zelar pela pureza religiosa, justiça social e fidelidade a Deus. Suas mensagens deveriam ser recebidas integralmente por toda a nação como Palavra de Deus (2Cr.20:20).
Além de instruir o povo de Israel, os profetas do Antigo Testamento, também, vaticinaram a vinda do Profeta por Excelência, Jesus Cristo, o Messias prometido. O apóstolo Pedro assim se expressou: “Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado: que o Cristo havia de padecer”(At.3:18).
A obra Redentora de Cristo Jesus pode ser encontrada, tipológica e profeticamente, na Lei de Moisés e nos Profetas.
"E todos os profetas, desde Samuel, todos quantos depois falaram, também anunciaram estes dias"(Atos 3:24).
II. O DESENVOLVIMENTO DO MINISTÉRIO DE SAMUEL
1. O crescimento profético de Samuel
“...e o jovem Samuel crescia diante do SENHOR” (1Sm.2:21).
Quando Ana entregou Samuel a Eli, para que ele fosse educado na Casa do Senhor, Ana proferiu as seguintes palavras:
“Por este menino orava eu; e o SENHOR me concedeu a minha petição que eu lhe tinha pedido. Pelo que também ao SENHOR eu o entreguei, por todos os dias que viver; pois ao SENHOR foi pedido. E ele adorou ali ao SENHOR” (1Sm.1:27,28).
Desde aquele momento, ele assistiu aos sacerdotes e ministrou diante do SENHOR. A última frase do versículo 28 – “E ele adorou ali ao SENHOR “ - inclui Samuel. Apesar da pouca idade era um adorador, pois havia sido dedicado ao serviço do Senhor. Aqui mostra que Ana teve um cuidado especial que seu filho estivesse envolvido com a obra de Deus.
Os dois primeiros capítulos de 1Samuel alternam relatos desfavoráveis a respeito da casa de Eli (1Sm.2:12-17,22-25,27-36) com observações favoráveis e sucintas a respeito do relacionamento cada vez mais próximo de Samuel com o Senhor (1Sm.2:18-21,26).
Aos cuidados de Eli, Samuel crescia e se fortalecia em sabedoria e no conhecimento do Senhor, resultando num dos profetas mais importantes da história de Israel. Enquanto os filhos do sacerdote Eli praticavam pecados abomináveis, o jovem Samuel crescia com integridade diante de Deus e do povo.
“E o jovem Samuel ia crescendo e fazia-se agradável, assim para com o SENHOR como também para com os homens” (1Sm.2:26).
Como bem diz o pr. Osiel Gomes, se os nossos filhos servirem a Deus com a disposição de Samuel, educados pela sua família na presença do Pai celestial, eles influenciarão de maneira impactante a sua geração. Os cristãos precisam se conscientizarem que somos um povo diferente, que nossos valores não podem ser misturados com os valores do mundo.
Se os cristãos não fizerem um esforço para influenciar o mundo a seu redor, serão de pouco valor para Deus. Se formos semelhantes ao mundo, não teremos importância. Os valores cristãos não devem ser misturados com os mudamos, a fim de que influenciemos as outras pessoas positivamente, da mesma maneira que o tempero na comida necessita o melhor sabor. Assim ensina Jesus:
“Vós sois o sal da terra; e, se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta, senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens” (Mt.5:13).
2. A formação profética de Samuel
“E o jovem Samuel servia ao SENHOR perante Eli. E a palavra do SENHOR era de muita valia naqueles dias; não havia visão manifesta” (1Sm.3:1).
Desde cedo, Samuel foi preparado para assumir uma grande missão: profeta do povo de Deus. Enquanto não chegava o tempo, ele recebia o treinamento e o ensino necessário aos pés do sumo sacerdote Eli. Lendo 1Smuel 2:18-21 nota-se como estava sendo a formação profética de Samuel.
“Porém Samuel ministrava perante o SENHOR, sendo ainda jovem, vestido com um éfode de linho. E sua mãe lhe fazia uma túnica pequena e, de ano em ano, lha trazia quando com seu marido subia a sacrificar o sacrifício anual. E Eli abençoava a Elcana e à sua mulher e dizia: O SENHOR te dê semente desta mulher, pela petição que fez ao SENHOR. E voltavam para o seu lugar. Visitou, pois, o SENHOR a Ana, e concebeu e teve três filhos e duas filhas; e o jovem Samuel crescia diante do SENHOR”.
O texto mostra o comprometimento de Samuel com as coisas de Deus. Enquanto os filhos de Eli estavam atolados no pecado, Samuel, sendo uma mera criança, não imitava seus procedimentos pecaminosos.
Um detalhe importantíssimo que pode ser visto nesse relato de 1Samuel 2:18-21 é que se descreve Samuel vestido com uma estola de linho ministrando ao Senhor; isso porque só quem podia se vestir assim era o sacerdote (Êx.28:4; 2Sm.6:14). Podemos crer que foi Eli quem deu essa vestimenta para o jovem Samuel, tendo em vista que sua mãe lhe trazia túnica, ou seja, um sobretudo. Desse modo, Eli pôde notar características presentes em Samuel que o qualificavam para estar ali.
Note a expressão: “ministrava perante o Senhor” (1Sm.2:18). Aqui, entende-se que o jovem Samuel estava a serviço de Deus (1Sm.3:1). No ato de Eli e Ana se envolverem na providência de um vestuário sacerdotal para Samuel, posto que o Talmude Babilônico relata que a mãe de um sacerdote poderia fazer túnica para ele, prova que os dois viam claramente na vida dessa criança um chamado especial para a obra de Deus. O que Eli não viu nos seus filhos, via tudo agora no pequeno Samuel que estava diante de seus olhos: ele seria um grande homem para a nação do povo de Deus.
Certamente, foi um privilégio para Samuel aprender aos pés de um homem de grande experiência, qual foi Eli. Paulo sentiu-se assim também em aprender aos pés de instrutores extraordinários, como foi Gamaliel (At.22:3); Timóteo é outro exemplo de homem que se sentiu privilegiado em aprender aos pés do apóstolo Paulo. Qual a pessoa não sentiria a mesmo sentimento? Todavia, como bem diz o pr. Osiel Gomes, muitos hoje não querem mais aprender com os mais experientes, pois julgam-se importantes e desprezam o aprendizado aos “pés de alguém”. Mas, além de disposição para aprender, precisamos de disposição para ouvir a voz de Deus. Isso só é possível por meio de uma vida de oração e busca fervorosa pelo Senhor. Isaías exorta:
“Buscai ao SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto” (Is.55:6).
3. A disciplina de Samuel
Desde sua tenra idade, Samuel aprendeu a ser disciplinado. A princípio, sua mãe teve um papel mui importante na formação do seu caráter. Desde cedo ele aprendeu a ouvir a voz do Senhor. Todos os líderes necessitam aprender a reconhecer a voz de Deus, mesmo quando ainda jovens como Samuel.
Certa noite, Samuel estava deitado no chão perto da Arca de Deus e o Senhor o chamou: “Samuel, Samuel!”. No começo, Samuel ouviu, mas não reconheceu a voz do Pai. Porém, continuou ouvindo e, depois, recebeu uma mensagem a respeito do juízo vindouro sobre o sacerdote Eli e a família deste.
Samuel teve uma longa noite de insônia, paralisado por medo, ao pensar que devia repetir o que o Senhor lhe havia contado. Mas, Eli convenceu Samuel que seria muito mais perigoso reter a verdade do que revelar o que Deus lhe tinha dito (1Sm.3:17). Assim, Samuel expôs a verdade, e, por causa da sua obediência e disciplina, Deus elevou o jovem a líder e a profeta entre o seu povo (1Sm.3:20).
“E todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado por profeta do SENHOR”.
Samuel estava confirmado como profeta do Senhor. Ele foi um grande exemplo bíblico de liderança correta. Isto demonstra que o homem ou a mulher, que está apto para liderar o povo de Deus, é pessoa que aprendeu a ouvir a voz do Senhor, é pessoa que aprendeu dar atenção às palavras dele e falar a verdade, sem importar-se com as consequências terrenas.
Deus nunca escolheu seus líderes com base no carisma ou na eloquência deles. Pelo contrário, Ele busca aqueles que têm a coragem de ouvir e falar exatamente o que Ele lhes diz.
III. O MINISTÉRIO PROFÉTICO NA ATUALIDADE
Certa feita, Moisés reuniu setenta homens e os pôs em roda da Tenda do Encontro (Nm.11:24). Ali, o Senhor os visitou com uma capacitação do seu Espírito Santo - o mesmo Espírito que repousava em Moisés - e eles profetizaram. Por alguma razão, dois dos que foram convocados não estavam presentes na Tenda do Encontro, a saber, Eldade e Medade (Nm.11:26-28). Apesar disso, o Senhor também derramou do seu Espírito sobre eles e testemunharam no arraial (Nm.11:26) da mesma maneira que os outros. Um moço saiu às pressas para contar a Moisés (Nm.11:27). Em vista disso, Josué (Nm.11:28) recomendou que Eldade e Medade fossem proibidos de profetizar, mas Moisés não permitiu que proibissem esses dois homens de profetizar, e advertiu Josué da seguinte forma:
“Porém Moisés lhe disse: Tens tu ciúmes por mim? Tomara que todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o seu Espírito! (Nm.11:29).
Estas palavras de Moisés mostram, mesmo naqueles dias antigos, a universalidade do Dom do Espírito Santo. Nesta proclamação, Moisés projeta este derramamento do Espírito Santo como possibilidade para todos os filhos de Deus, assim como o profeta Joel projetou (Joel 2:28,29).
“E há de ser que, depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões. E também sobre os servos e sobre as servas, naqueles dias, derramarei o meu Espírito”.
1. O ministério de profeta no Novo Testamento
No Novo Testamento, o ministério profético foi instituído por Cristo (Ef.4:7,11), para a Igreja, com o propósito de ser o porta-voz de Deus, não mais para a revelação do plano de Deus ao homem, mas para trazer mensagens divinas ao Seu povo no sentido de encorajar o povo a se manter fiel à Palavra e para nos fazer lembrar as promessas contidas nas Escrituras.
“E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores”.
Na Nova Aliança, a profecia precisa ser entendida dentro de um contexto específico. Ela não pode ser considerada superior à revelação escrita, ou seja, a própria Bíblia Sagrada. Nenhuma palavra “profética” pode ter o objetivo de substituir ou revogar a Revelação Escrita, pois esta é a suprema profecia.
Assim como no Antigo Testamento, a função instintiva do profeta do Novo Testamento é transmitir e interpretar a Palavra de Deus através do Espírito Santo, para admoestar, exortar, animar, consolar e edificar o povo de Deus(At.2:14-36; 3:12-26; 1Co.12:10; 14:3).
É dever do profeta do Novo Testamento, assim como foi do Antigo Testamento, desmascarar o pecado, proclamar a justiça, advertir do juízo vindouro e combater o mundanismo e frieza espiritual entre o povo de Deus. Por causa da sua mensagem de justiça, o profeta pode esperar ser rejeitado por muitos nas igrejas, em tempos de mornidão e apostasia.
A obrigação profética da Igreja não é, em absoluto, a autorização para que, mediante uma “tradição”, acrescente o que foi revelado pelas Escrituras a respeito de Cristo (João 5:39), mas tão somente a divulgação, o anúncio, a explicação daquilo que está contido na Bíblia Sagrada, que é a Verdade (João17:17) e que se encontra em posição superior à própria Igreja, seja porque é fonte de sua santificação, seja porque a Palavra se encontra engrandecida acima do próprio nome do Senhor (Sl.138:2), nome que está acima de todo o nome (Fp.2:9), precisamente por ser Jesus o Verbo (João 1:1), aquele que é a própria Palavra de Deus (Ap.19:13). Por isso, quando não se conhecem as Escrituras, corre-se o risco de se tornarem falsos profetas e cometerem erros gravíssimos (Mt.22:29).
2. A mensagem profética na atualidade
Na atualidade, a mensagem profética da Igreja é constituída, principalmente: (a) pela anunciação do arrependimento dos pecados; (b) e pela proclamação do retorno triunfante de Cristo para buscar a sua Igreja e julgar os ímpios.
a) Arrependimento (At.2:38; 3:19; 17:30). Jesus ordenou que em seu nome se pregasse o arrependimento a todas as nações (Lc.24:47). A mensagem de João Batista (Mt.3:2), de Jesus (Mt.4:17) e dos apóstolos (At.2:38) era uma veemente chamada ao arrependimento: “Arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc.1:15).
Uma igreja morna perde sua função profética e não prega o arrependimento dos pecados. Todavia, a Igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade (1Tm.3:15), não se associa ao mundo inconverso e perdido; ao contrário, conclama a todos que se arrependam e se convertam, para que sejam perdoados de seus pecados (At.3:19).
b) A segunda vinda de Cristo (1Ts.4:13-18). O mundo precisa ouvir esta mensagem, e é responsabilidade da Igreja transmiti-la. Mas esta mensagem é difícil de ser aceito pelo mundo, e desperta reações desencontradas. Muitas seitas bizarras e falsos ensinadores poluíram a mente de inúmeras pessoas com ensinos deturpados e fantasiosos. Usando o nome de Jesus e manipulando a Bíblia de forma falaciosa, colocaram a ridículo a mais nobre esperança da Igreja, que é a volta de Jesus Cristo. Uma dessas seitas, que nos escusamos de nomear, marcou várias datas para a volta de Cristo, falhando, obviamente, em todas elas. Finalmente, resolveu o problema afirmando que Cristo já veio, embora ninguém o tenha visto. Mas, isto contradiz claramente as Escrituras. O apóstolo Paulo assim nos ensina sobre a primeira fase da segunda vinda de Cristo:
“Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras”(1Ts.4:13-18).
O apóstolo João, sob a revelação do Espírito Santo, assim nos fala sobre a segunda fase da segunda vinda de Cristo:
“Eis que vem com as nuvens, e todo o olho o verá, até os mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele” (Ap.1:7).
Esperar Jesus voltar uma segunda vez é hoje, para muitos, tão difícil de aceitar como era a ressurreição de Jesus no primeiro século. Mas, esta mensagem tem de ser entregue porque é demasiado importante, essencial e urgente para ser desconhecida.
Por que podemos ter a certeza de que Cristo vai voltar? Porque, da mesma forma que as profecias relativas à sua primeira vinda se cumpriram há mais de 2.000 anos, as que dizem respeito à sua segunda vinda se irão cumprir também. O próprio Senhor o prometeu (João 14:1-3; ler Atos 1:10,11).
“Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós também” (João 14:1-3)
3. O Dom da Profecia
O Dom de Profecia é um dom de manifestação sobrenatural de mensagem verbal pelo Espírito, para a edificação, exortação e consolação da Igreja de Jesus Cristo (1Co.12:10; 1Co.14:3); ele é concedido não por mérito, mas é dado “a cada um para o que for útil”(1Co.12:7), e repartindo particularmente a cada um como o Espírito Santo quer (1Co.12:11).
O maior valor da profecia é que ela, uma vez proferida, sendo de Deus, edifica a coletividade e não unicamente o que profetiza, ao contrário das línguas estranhas (que edifica a própria pessoa).
A profecia é necessária para impedir a corrupção espiritual e moral do povo de Deus. Apresenta-se, assim, como uma verdadeira manifestação de alívio e de descanso ao crente que, revigorado pela profecia, tem alento para prosseguir na sua caminhada rumo ao céu.
Atualmente, o Dom de profecia não tem a mesma autoridade canônica das Escrituras (2Pd.1:20), que são infalíveis e não passíveis de correção. A profecia atual deve ser julgada e que o profeta deve obedecer ao ensino bíblico (1Co.14:29-33). Pode acontecer que a pessoa que é detentora do dom de profecia receba a revelação do Espírito Santo e, por fraqueza, imaturidade e falta de temor de Deus, fale além do que deve.
Portanto, quem profetiza deve ter o cuidado de falar apenas o que o Espírito Santo mandar, não alegando estar "fora de si" ou "descontrolado", pois "os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas" (1Co.14:32).
Em nossos dias, temos visto que os termos ”profecia“ e ”profetizar“ têm sido mal utilizados; muitas pessoas falam de si mesmas palavras boas como se estas fossem verdadeiras profecias, e ainda motivam outras pessoas a fazerem o mesmo. Desejar uma bênção para o próximo ou ter palavras de vitória não é uma profecia; é um erro terrível pensar que isso seja profecia, pois os verdadeiros profetas falavam o que recebiam do Senhor.
“Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”(2Pd.1:21).
Portanto, à luz da Bíblia, nem todas as pessoas são profetas, e a vontade do homem, por mais bondosa que seja, não pode originar uma profecia verdadeira.
CONCLUSÃO
O Ministério de Profeta foi um dos pilares da Igreja do primeiro século (Ef.2:20). O profeta era porta-voz de Deus, recebia revelações diretamente do Senhor e as transmitia à Igreja e aquilo que falava por meio do Espírito Santo era a Palavra de Deus.
Por meio dos profetas, a revelação salvífica foi dada, conforme registrada na Bíblia Sagrada. Findou-se com a formação do último livro do Novo Testamento, o Apocalipse, não havendo mais qualquer revelação salvífica que devamos esperar para o plano redentivo, pois este está concluído na revelação bíblica.
Hoje em dia não temos mais profeta no sentido técnico da palavra; seu ministério acabou quando a fundação da Igreja foi concluída e o cânon do Novo Testamento se completou. Contudo, a função profética por meio da proclamação de Palavra para a edificação Da Igreja (cf. At 13:1,2) e evangelização dos incrédulos, continua presente nos dias de hoje.
Hoje há muitos pastores (pastores?) que fundam a sua própria igreja, se lambuzam de óleo e dizem que são ungidos e profetas de Deus. Não se enganem, estes são falsos pastores e falsos profetas, portanto, não merecem nenhuma confiança. PENSE NISSO!