SISTEMA DE RÁDIO

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DAVI É UNGIDO REI

Texto Base: 1Samuel 16:1-13

17/11/2019
“Então, Samuel tomou o vaso do azeite e ungiu-o no meio dos seus irmãos; e, desde aquele dia em diante, o Espírito do SENHOR se apoderou de Davi. Então, Samuel se levantou e se tornou a Ramá” (1Sm.16:13).
1 Samuel 16:1-13
1-Então, disse o SENHOR a Samuel: Até quando terás dó de Saul, havendo-o eu rejeitado, para que não reine sobre Israel? Enche o teu vaso de azeite e vem; enviar-te-ei a Jessé, o belemita; porque dentre os seus filhos me tenho provido de um rei.
2-Porém disse Samuel: Como irei eu? Pois, ouvindo-o Saul, me matará. Então, disse o SENHOR: Toma uma bezerra das vacas em tuas mãos e dize: Vim para sacrificar ao SENHOR.
3-E convidarás Jessé ao sacrifício; e eu te farei saber o que hás de fazer, e ungir-me-ás a quem eu te disser.
4-Fez, pois, Samuel o que dissera o SENHOR e veio a Belém. Então, os anciãos da cidade saíram ao encontro, tremendo, e disseram: De paz é a tua vinda?
5-E disse ele: É de paz; vim sacrificar ao SENHOR. Santificai-vos e vinde comigo ao sacrifício. E santificou ele a Jessé e os seus filhos e os convidou ao sacrifício.
6- E sucedeu que, entrando eles, viu a Eliabe e disse: Certamente, está perante o SENHOR o seu ungido.
7-Porém o SENHOR disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o SENHOR não vê como vê o homem. Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o SENHOR olha para o coração.
8-Então, chamou Jessé a Abinadabe e o fez passar diante de Samuel, o qual disse: Nem a este tem escolhido o SENHOR.
9-Então, Jessé fez passar a Samá, porém disse: Tampouco a este tem escolhido o SENHOR.
10-Assim, fez passar Jessé os seus sete filhos diante de Samuel; porém Samuel disse a Jessé: O SENHOR não tem escolhido estes.
11-Disse mais Samuel a Jessé: Acabaram-se os jovens? E disse: Ainda falta o menor, e eis que apascenta as ovelhas. Disse, pois, Samuel a Jessé: Envia e manda-o chamar, porquanto não nos assentaremos em roda da mesa até que ele venha aqui.
12-Então, mandou em busca dele e o trouxe (e era ruivo, e formoso de semblante, e de boa presença). E disse o SENHOR: Levanta-te e unge-o, porque este mesmo é.
13-Então, Samuel tomou o vaso do azeite e ungiu-o no meio dos seus irmãos; e, desde aquele dia em diante, o Espírito do SENHOR se apoderou de Davi. Então, Samuel se levantou e se tornou a Ramá.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos da unção de Davi para ser rei de Israel no lugar de Saul (1Sm.16:1-13).  Enquanto Samuel ainda estava angustiado por causa de Saul (1Sm.15:35), o Senhor afirmou com todas as letras que tinha rejeitado o rei e escolhido outro homem para governar Israel (1Sm.16:1). É bom enfatizar que o Senhor quando escolhe alguém e capacita-o à uma missão especial Ele não exclui dele o livre arbítrio, que é o maior patrimônio de um ser humano; porém, se essa pessoa, no uso de seu livre arbítrio, resolve rejeitar o Senhor que o escolheu, então Ele se afasta dele; foi o que ocorreu com Saul. O Senhor ordenou que Samuel fosse a Belém e ungisse um dos filhos de Jessé para ser rei no lugar de Saul. A unção fazia parte da cerimônia dos sacerdotes (Êx.29:7; 40:13; Lv.6:22; 8:12; Nm.35:25) dos reis (1Sm.10:1; 1Sm.16:13) e nalgumas vezes dos profetas (1Rs.19:16; cf.Is.45:1). A ida de Samuel foi bastante sigilosa, pois ele estava com receio que Saul soubesse da intenção da sua ida (1Sm.16:2). Sigilo não significa falsidade, significa cautela. Deus, então, instruiu Samuel a informar que sua ida a Belém era para prestar um sacrifício ao Senhor (1Sm.16:2). Deus não instruiu Samuel a mentir acerca de suas intenções em Belém, pois, de fato, ele foi à cidade sacrificar (cf.1Sm.16:5). A unção do novo rei, porém, seria mantida em segredo por vários anos.
A unção do rei Davi, por intermédio de Samuel, é uma declaração da escolha divina para cumprir seus propósitos. O apóstolo João diz que nós, povo de Deus da nova Aliança, recebemos a unção do Espírito Santo (1João 2:20,27). Este nos capacita para fazermos qualquer obra no Reino de Deus.

I. DAVI: O REI UNGIDO

“Então, Samuel tomou o vaso do azeite e ungiu-o no meio dos seus irmãos; e, desde aquele dia em diante, o Espírito do SENHOR se apoderou de Davi. Então, Samuel se levantou e se tornou a Ramá” (1Sm.16:13).
A unção é o que dava legitimidade e autoridade ao rei. Davi foi ungido por Samuel para ser rei em lugar de Saul que havia abandonado os mandamentos do Senhor. A unção de Davi não se tratou apenas de um simbolismo, mas da presença do Espírito Santo na vida de Davi, capacitando-o para o reinado, enchendo-o de coragem nas batalhas e contra o gigante Golias, guiando-o e inspirando-o. Mas é bom enfatizar que Davi só assumiu o trono de Israel após a morte de Saul, 14 (quatorze) anos após a sua unção, e nunca teve a ousadia de forçar a saída de Saul, mas manteve-se sob o auspício de Deus, esperando o momento certo do que Deus faria dele – “até que saiba o que Deus há de fazer de mim” (1Sm.22:3).

1. Significado e propósito da unção

Unção é a capacitação especial que o Espírito Santo concede a uma pessoa, vocacionado por Deus, para realizar a Sua obra. No Antigo Testamento, antes mesmo da monarquia judaica, a unção já era usual. Na época dos juízes, estes eram separados e ungidos para propósitos específicos (Jz.9:8-15). À época da lei judaica e da monarquia, a prática da unção de reis e sacerdotesacontecia para que fossem separados para desempenhar sua missão conforme as normas divinas (Êx.40:13-15; 1Sm 9:16; 10:1; 16:13). No caso do profeta, sua unção não era feita por homem algum, mas vinha diretamente de Deus (1Rs.19:16).
No Novo Testamento, biblicamente falando, não há unção na separação de pessoas para missões específicas ou para o ministério eclesiástico. O procedimento é, simplesmente, efetivado com imposição de mãos. Paulo e Barnabé estavam ministrando em Antioquia quando o Espírito Santo os chamou para uma tarefa específica – “E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram” (At.13:2,3).
No Antigo Testamento, objetos sagrados eram separados e eram ungidos para o serviço de Deus (cf.Êx.30:26-28). No Novo Testamento, porém, depois que Jesus veio e cumpriu a sua missão, realizando-se, assim, aquilo que fora figurado na Antiga Aliança, não há mais motivo algum para que se proceda à unção de objetos, pois um objeto não é santificado ou consagrado pelo derramamento de azeite em si, mas, sim, nós, como filhos de Deus, é que devemos ter a unção do Espírito Santo e, em função da nossa santificação, utilizarmos dos nossos bens para que façamos boas obras e, por meio destas obras, os homens glorifiquem ao nosso Pai que está nos céus (Mt.5:16).
Os que defendem a unção de objetos - tais como carro, casa, chave -, dizem que devemos ungi-los apenas como um “reforço à fé”, uma “materialização” da fé, um “meio” para que a fé das pessoas progrida, cresça, desenvolva-se. Este argumento, porém, não tem cabimento algum; é o mesmo argumento utilizado pelos adeptos do catolicismo romano para justificar o uso de imagens e pinturas em seus cultos, ou seja, é um argumento idólatra, que, por isso mesmo, deve ser repudiado pelos sinceros e verdadeiros servos do Senhor. A fé existe quando não precisamos “ver algo”. Ela é a prova das coisas que não se veem (Hb.11:1). A fé não é por vista (2Co.5:7), mas, pelo contrário, quem realmente crê é aquele que não vê (João 20:29).
A única unção que está autorizada no compêndio neotestamentário da Igreja é a unção com óleo sobre os crentes enfermos (Tg.5:14), a ninguém mais; e essa unção com óleo deve ser feita à moda bíblica, ou seja, na cabeça, pois assim é a unção que se encontra nas Escrituras (2Rs.9:3,6; Sl.133:2). Outrossim, não há qualquer base para se fazer a unção nas partes enfermas, como tem sido feita em algumas igrejas, para não dizer de unção de partes íntimas para “santificação”, “purificação sexual” ou “libertação da prostituição”, como se veem nos chamados “encontros” gedozistas.
Fora esta hipótese, não se deve proceder a qualquer unção, pois a “necessidade de unção” em outras hipóteses, mesmo sobre pessoas, é fruto de superstição, é resquício de animismo, e não tem qualquer base bíblica.

2. O simbolismo da unção

No Antigo Testamento, cada rei e sumo sacerdote de Israel eram ungidos com óleo, símbolo do Espírito Santo; isto os comissionava como representantes de Deus para a nação. Metaforicamente, o Espírito Santo é chamado de “óleo fresco” (Sl.92:10), “óleo precioso” (Sl.133:2), “excelente óleo” (Amós 6:6), “óleo de alegria” (Sl.45:7).
O óleo, portanto, tomado neste sentido, simboliza o Espírito Santo como “unção especial” para os salvos em Cristo, o qual quer dizer “ungido”. Jesus foi ungido para desempenhar com eficiência a Obra de Deus (Is.61:1; Lc.4:18). Seu ministério foi marcado por milagres, curas, maravilhas, pregação e ensino poderoso, porque, de fato, estava ungido. Assim, Jesus era um servo ungido sob a dependência do Espírito Santo para fazer a obra do Pai (At.10:38). Paulo descreveu essa mesma unção sobre os cristãos (2Co.1:21,22).
No Antigo Testamento, quando uma pessoa era ungida, declarava-se que ela estava sendo separada para um propósito especial e que a partir de então estaria sobre essa pessoa a presença do Espírito Santo de Deus, que a guiaria e orientaria para desempenhar com sucesso a missão para a qual fora designada – “E o Espírito do SENHOR se apoderará de ti, e profetizarás com eles e te mudarás em outro homem” (1Sm.10:6).
Davi foi ungido em meio aos seus irmãos e, a partir daí, o Espírito do Senhor se apoderou de Davi, concedendo-lhe sabedoria, poder, orientação, para que pudesse cumprir os propósitos divinos.
“Então, Samuel tomou o vaso do azeite e ungiu-o no meio dos seus irmãos; e, desde aquele dia em diante, o Espírito do SENHOR se apoderou de Davi” (1Sm.16:13).
Com o Espírito Santo na vida, o rei, o profeta e o sacerdote podiam desempenhar com coragem a obra de Deus. Isto nos ensina que unção é revestimento de poder do Espírito Santo sobre a vida daquela pessoa que foi ungida. O sucesso na obra de Deus só acontece se estivermos debaixo da unção do Espírito Santo, razão pela qual Paulo fala de sermos cheios dEle (Ef.5:18).
No Novo Testamento, portanto, a unção passou a simbolizar o derramamento do Espírito do Senhor sobre os cristãos, dotando-os de poder para testemunhar as verdades do Evangelho (Atos 1:8: 1João 2:20,27) e cumprir com eficácia a missão para a qual foram designados (Rm.1:1).

3. A unção sobre Davi

A unção de Davi foi uma missão arriscada, pois Saul ainda continuava sendo o monarca, apesar do Espírito de Deus não está mais nele. Ele faria qualquer coisa para destruir algum empecilho no seu caminho; e Samuel era cônscio do risco que corria, por isso perguntou ao Senhor: “Como irei eu? Pois, ouvindo-o Saul, me matará” (1Sm.16:2). Ele, então, foi orientado por Deus a fazer um banquete e um sacrifício naquela região. Certamente, o sacrifício foi realizado (cf.1Sm.16:5).
Davi foi ungido rei, mas em segredo; nem o pai e nem os irmãos de Davi sabiam o propósito da unção naquele instante, pois o real proposito não havia sido revelado; por isso, alguns pensavam que tal unção era para que ele fosse discípulo de Samuel ou, quem sabe, no futuro, um profeta. Somente muito mais tarde Davi foi apresentado publicamente como sendo o rei escolhido por Deus (2Sm.2:4; 5:3).
A unção com óleo sobre a cabeça de Davi significava separação. Essa cerimônia era utilizada para separar pessoas ou objetos ao serviço de Deus. É bom ressaltar que, por ocasião daquela cerimônia particular, Saul era legalmente o monarca, mas Deus preparava o filho de Jessé para assumir responsabilidades futuras. Embora Deus rejeitasse a monarquia de Saul e não permitisse que qualquer um de seus filhos sentasse no trono de Israel, ele permaneceu em sua função até falecer.
No contexto da efetivação da unção de Davi por Samuel, dois detalhes importantes podem ser destacados:
a) A piedade de Samuel por Saul (1Sm.16:1) – “Até quando terás dó de Saul, havendo-o eu rejeitado, para que não reine sobre Israel? Enche o teu vaso de azeite e vem; enviar-te-ei a Jessé, o belemita; porque dentre os seus filhos me tenho provido de um rei”.
A compunção de Samuel é profunda e dolorosa, pois ele gostava muito de Saul; mas, o Senhor confronta Samuel e ordena que ele siga adiante. Fica evidente que ele não faz parte de uma conspiração contra Saul; por fim o rei perde o trono por desaprovação divina, e não por traição humana. Devido a seus pecados, Saul não poderia continuar como rei. Então Deus busca na casa de Jessé, o belemita, neto de Boaz e Rute, um de seus filhos para reinar (Rt.4:17).
b) A eleição pela aparência (1Sm.16:6). No cumprimento da ordenança divina para ungir o próximo homem que assumiria o trono de Israel, Samuel usou os olhos físicos para observar quem seria esse homem escolhido por Deus. Samuel, provavelmente, tentava encontrar alguém que parecesse com Saul – alto, bonito e impressionante - para ser o próximo rei de Israel, mas Deus o advertiu de que não seria pela aparência que o homem de sua preferência seria escolhido (1Sm.16:7).
A aparência não revela como a pessoa é na verdade ou quais são os seus verdadeiros valores. Felizmente, Deus julga pela fé e pelo caráter, não pela aparência. E porque só Deus pode ver o interior, apenas Ele pode julgar com precisão.
A maioria das pessoas preocupa-se muito com sua aparência externa; mas, elas deveriam fazer muito mais para desenvolver seu caráter. Enquanto todos podem ver o seu rosto, apenas você e Deus sabem como é realmente o seu coração. Que passos devemos dar para melhorar a atitude do nosso coração?

4. Em que se baseou o Senhor para escolher Davi

Certamente, o Senhor baseou a escolha de Davi na qualidade do seu caráter. Quando Saul foi escolhido para ser rei, a aparência física imponente dele contou muito; os israelitas consideravam este aspecto muito pertinente, a exemplo das nações circunvizinhas (1Sm.8:5; 9:2; 10:23,24). O próprio Samuel mostrou esse modo superficial de pensar, quando concluiu que, dos filhos de Jessé, Eliabe, rapaz bem apessoado (1Sm.16:7), seria o rei escolhido por Deus (veja também suas palavras em 1Sm.10:24). Mas Deus disse, exortativamente, a Samuel:
“...Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o SENHOR não vê como vê o homem. Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o SENHOR olha para o coração” (1Sm.16:7).
O coração é considerado a sede das emoções (1Sm.1:8; 4:13; 17:32; 25:36; 28:5), da volição (1Sm.6:6; 7:3), das motivações (1Sm.17:28), da razão (1Sm.21:12) e da consciência (1Sm.25:31; 2Sm.24:10). O “coração” ou a mente da pessoa é relativamente inacessível a outros seres humanos, mas o Senhor é capaz de sondar até suas regiões mais profundas e avaliar seu verdadeiro caráter (Jr.11:20; 20:12).
Os seres humanos têm a tendência de observar a aparência exterior ao avaliarem a aptidão de alguém para realizar uma tarefa, ao passo que Deus se preocupa mais com o que há em seu coração. Deus se conformou aos desejos e critérios do povo quando escolheu Saul, mas escolheu o substituto de Saul de acordo com seus próprios critérios.
“...já tem buscado o SENHOR para si um homem segundo o seu coração e já lhe tem ordenado o SENHOR que seja chefe sobre o seu povo, porquanto não guardaste o que o SENHOR te ordenou” (1Sm.13:14).
Hoje, estamos vivendo a síndrome de Samuel: escolher pela aparência, pelo Ter e não pelo Ser. Se os líderes do povo de Deus fossem escolhidos sob a ótica dEle, a Igreja não estaria passando por tantas oscilações espirituais. O apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, deu as diretrizes corretas para escolher aqueles que liderarão o povo de Deus; só precisa cumprir o que está escrito em 1Tm.3:1-13, e a Igreja terá líderes segundo o coração de Deus.

II. DAVI: O REI QUE ERA SERVO

Conquanto tenha recebido a unção de Deus através do profeta Samuel, Davi nunca se vangloriou ou quis sobrepor-se aos demais que o cercavam. A unção não lhe tirou da posição que ele sempre quis estar, a de servo. Jamais procurou demonstrar espírito de grandeza ou orgulho; antes, continuou em sua simplicidade, desempenhando o trabalho de um servo. Davi veio a ser o que foi porque soube muito bem conduzir-se desta maneira. Mesmo ungido por Samuel, ele não criou nenhum tipo de rebelião contra Saul para tomar posse do trono. O próprio Deus, que é presciente, deu testemunho disto: “Achei a Davi, meu servo; com o meu santo óleo o ungi” (Sl.89:20).

1. O ungido de Deus servindo com humildade e sem alarde

Davi foi chamado para servir na residência oficial do rei - “Davi, porém, ia a Saul e voltava, para apascentar as ovelhas de seu pai, em Belém” (1Sm.17:15).
Mesmo servindo na corte real, Davi jamais relatou a Saul a unção de Samuel sobre sua vida, ou seja, que seria o rei de Israel. Na verdade, ele contentava-se com cada momento que lhe era concedido por Deus, nunca ambicionando coisas altas demais, como mais tarde o apostolo Paulo proferiu (Rm.12:16). Davi demonstrou ser um homem simples e humilde, características estas de um autêntico servo de Deus.
A convivência de Davi com o rei Saul em seu palácio(1Sm.18:2) foi uma experiência totalmente diferente para ele. Acostumado à beleza do campo onde passava a maior parte do seu tempo, cuidando de suas ovelhas, em contato direto com a natureza, ocasião em que dedilhava a sua harpa e entoava belos hinos ao Senhor, como podemos perceber no registro dos Salmos, certamente ele não se achou muito à vontade nos primeiros dias naquele suntuoso lugar onde tudo era controlado e orientado. Mesmo ali, naquele ambiente de luxo e de fartura, Davi preservou um coração simples e temente a Deus. Não se envaideceu, não se precipitou e nem mesmo se achou injustiçado por não ter sido levado ao trono e recebido a coroa real, mesmo sabendo que Deus já havia rejeitado Saul. A Bíblia diz que há um tempo para todas as coisas(Ec.3:1-8), e quem espera os acontecimentos no tempo certo, com toda a certeza será bem-sucedido.
Quando Saul pediu a Davi que o servisse, obviamente não sabia que aquele filho de Jessé fora ungido rei secretamente (1Sm.16:12). O convite do monarca de Israel apresentou uma excelente oportunidade para que o jovem e futuro rei obtivesse informações em primeira mão sobre como liderar uma nação.
Às vezes nossos planos – mesmo os que pensamos serem aprovados por Deus – não podem ser considerados definitivos. Como Davi, podemos usar esta espera de forma proveitosa. Podemos aprender e crescer espiritualmente em quaisquer circunstâncias da vida.

2. O Espírito do Senhor se retirou de Saul (1Sm.16:14)

“E o Espírito do SENHOR se retirou de Saul, e o assombrava um espírito mau, da parte do SENHOR”.
O fato de o Espírito do Senhor ter saído de Saul indicava que ele não era mais o rei escolhido pelo Senhor e que não tinha mais o poder do Senhor durante uma batalha (cf.1Sm.10:6,10; 11:6). Se o Espírito do Senhor saíra de Saul, então outro ocuparia o espaço; foi o que ocorreu: um espírito maligno o assombrava. A chegada do “espírito maligno” indicava que Saul era, agora, objeto de juízo divino e inimigo de Deus (cf.1Sm.28:16-18). Segundo estudiosos, a palavra hebraica traduzida como “maligno” pode referir-se a um desastre ou uma calamidade enviada por Deus como castigo; neste caso, o espírito maligno foi enviado para solapar a eficácia de Saul como líder e evidenciar sua rejeição pelo Senhor.
Devido a ausência do Espírito Santo em Saul (1Sm.16:14), e o espírito maligno ter passado a atormentá-lo (1Sm.16:15), então buscou-se alguém que soubesse tocar bem um instrumento e que o acalmasse; e Davi foi eleito para cumprir essa missão, haja vista que sua fama como bom tocador de harpa era notória (1Sm.16:18).
Davi podia multo bem ter dito: “em hipótese nenhuma eu irei, pois fui ungido para ser rei e não para tocar instrumento musical, e nem para ser exorcista”. Não, ele não disse nada disso, e nem pensou nisso, pois tinha um coração de servo; era ungido, mas era servo. Ele aceitou, sem reserva, a tarefa de servir ao rei como músico no afã de expulsar o espírito maligno. Aliás, sem o efeito calmante da música de Davi, Saul não conseguia fazer coisa alguma (1Sm.16:23). Ainda hoje, a música é uma forma reconhecida de terapia, frequentemente prescrita para reverter estados de perturbação mental.
“E sucedia que, quando o espírito mau, da parte de Deus, vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa e a tocava com a sua mão; então, Saul sentia alívio e se achava melhor, e o espírito mau se retirava dele” (1Sm.16:23).
Além de exímio músico, Davi possuía outras qualidades: “...valente, e animoso, e homem de guerra, e sisudo em palavras, e de gentil presença; o SENHOR é com ele” (1Sm.16:18). Está escrito aqui que Davi era “homem de guerra”. Ora, Davi nunca tinha ido a uma guerra e não pertencia ao exército de Saul, como então podem dizer que ele era homem de guerra? Certamente, o narrador quis dizer que Davi era visto como homem e não como um adolescente incapaz e covarde. Ele mesmo, um dia, disse para seu filho Salomão: esforça-te e sê homem (1Rs.2:2). Ser homem de guerra é ser responsável e disposto a enfrentar os desafios e as lutas com destemor. Um covarde nunca será homem de guerra. Ir à guerra é pôr a mão no arado e não olhar para traz.
Por meio das palavras do servo de Saul, o texto enfatiza as muitas qualidades de Davi, mas, talvez, a mais importante era: “ o Senhor é com ele”.  Poderia haver algo mais sublime do que essa constatação e testemunho a respeito de alguém? Acredito eu, que esse último tópico do currículo de Davi apresentado por aquele jovem servo de Saul, suplanta extraordinariamente todos os demais. Isso é simplesmente a assinatura de tudo o que se disse antes, ou seja, o verdadeiro motivo de todas as qualidades que Davi apresentava, era o fato de que o Senhor era com Ele. Que o Senhor nos ajude a perseguir essas virtudes, de tal maneira que nos apresentemos como cristãos verdadeiros, homens ou mulheres de Deus, obreiros aprovados para toda boa obra.
Em outras passagens de Samuel é narrado a presença de Deus na vida de Davi (cf. 1Sm.18:12,14,28; 2Sm.5:10; 7:3). Um servo de Deus é notado até mesmo pelas pessoas que não são do círculo intimo; o seu testemunho é vibrante e salta aos olhos do observador. Quando ele passa alguém o observa e diz: “...este que passa sempre por nós é um santo homem de Deus” (2Rs.4:9).
“A unção divina torna-nos conscientes de que somos servos e separados para fazer a vontade daquele que nos consagrou. Não é para termos pensamento de grandeza, de que somos alguma coisa, de que a seleção divina aconteceu por sermos os mais perfeitos, e sim porque fomos alcançados pela misericórdia e graça divinas. Por isso, é sempre bom dizer como Paulo: “[...] pela graça de Deus, sou o que sou” (1Co 15.10). É triste dizer isto, mas muitos hoje não querem ser servos, desprezando, assim, o exemplo de Cristo, o qual diz que veio para servir, e não para ser servido (Mc 10.45)” (Pr. Osiel Gomes. O governo divino em mãos humanas).

3. Saul dá testemunho de Davi (1Sm.16:22)

“Então, Saul mandou dizer a Jessé: Deixa estar Davi perante mim, pois achou graça a meus olhos”.
“...achou graças a meus olhos”. Em outras palavras: “estou satisfeito com ele”. Esta expressão é usada em outras passagens em que uma pessoa desfruta da bondade de outra ou é o alvo da bondade dela. Essa bondade é demonstrada voluntariamente, sem implicar obrigação (Gn.19:19; 47:25; Rt.2:2), mas pode ser motivada pelo caráter ou pelas ações de quem a recebe (Gn.6:8,9; 39:3,4; Rt.2:10-12), como é o caso aqui (cf. 1Sm.16:21,23). O texto de 1Samuel 16:22 mostra que Saul testemunhou acerca do caráter de Davi. Isso mostra que, desde o principio, Davi foi um servo fiel, que tentou ajudar o rei.
Na Nova Aliança, o serviço é uma parte indissociável da vida do salvo; logo, todo salvo tem de servir a Deus, tem de lhe prestar um serviço. Cada um na função que foi estabelecida pelo Senhor, temos de servi-lo: pregando o Evangelho; integrando os salvos na igreja local; aperfeiçoando os santos mediante o estudo da Palavra de Deus; adorando a Deus; buscando influenciar o mundo para que ele viva de acordo com a vontade de Deus; dando um bom testemunho para que os homens glorifiquem ao Senhor; lutando pela preservação da sã doutrina e pela manutenção de uma vida avivada na igreja local a que pertencemos. Temos feito isto que o Senhor nos determina? Temos cumprido as tarefas cometidas pelo Senhor?

III. DAVI: O REI QUE ERA GUERREIRO

“Davi, porém, disse ao filisteu: Tu vens a mim com espada, e com lança, e com escudo; porém eu vou a ti em nome do SENHOR dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem tens afrontado”(1Sm 17:45)
Depois de ungido, Davi teve diante de si um grande desafio, o qual foi temido por todo Israel: lutar contra Golias. Davi enfrentou o gigante Golias e foi vitorioso; ele estava certo de sua vitória não porque confiasse simplesmente na sua destreza, mas porque acreditava que o filisteu havia desafiado o Exército do Deus vivo. A luta, portanto, não era simplesmente entre ele o gigante, mas entre o gigante e o Senhor que havia sido desafiado. Essa forma de enxergar as coisas diferenciava Davi de um guerreiro presunçoso.

1. O gigante Golias

“Então, saiu do arraial dos filisteus um homem guerreiro, cujo nome era Golias, de Gate, da altura de seis côvados e um palmo” (1Sm.17:4).
Pelo texto, percebe-se que Golias era enorme. Se levarmos em consideração a medida do côvado de 0,45m, e considerando que 01(um) palmo correspondia 0,20m, podemos afirmar que a altura de Golias era de, aproximadamente, dois metros e noventa centímetros de altura. Presumindo que Golias tinha as proporções da maioria dos homens, ele deveria pesar quase trezentos quilos. Eram trezentos quilos de músculo, não de gordura. Golias era soldado desde a juventude (1Sm.17:33). Era um veterano experiente em duelo. Devia ser assustador encarar um gigante como Golias. A diferença física entre Davi e Golias era tão grande que, aos olhos do gigante, Davi era desprezível - ”E, olhando o filisteu e vendo a Davi, o desprezou”(1Sm.17:42).
Davi respeitou a envergadura do inimigo, mas não se acovardou; dispôs-se a enfrentá-lo e a vencê-lo. Ele não tomou a possibilidade de luta contra Golias como um fato isolado, uma questão sua, mas encarou a batalha como uma coisa de Deus, pois era o exército de Israel, a tropa do Senhor, que estava sendo afrontado por Golias (1Sm.17:26). Por isso Davi enfatizou: “...quem é, pois, este incircunciso filisteu, para afrontar os exércitos do Deus vivo?”.
Quem tem a unção do Espírito Santo e confia no poder Deus não teme o inimigo, por mais feroz e hábil que este se apresente, antes, entra na batalha confiante, sabendo que pode vencê-lo (2Co.1:10; 2Tm.4:17,18).
Uma das justificativas de Davi enfrentar o enorme oponente seria a de mostrar a todos o poder do seu Deus, e não sua coragem ou sua perícia bélica. Ele disse: “... deste modo toda terra saberá que existe um Deus em Israel” (1Sm.17:46). Imbuído dessa certeza de vitória, Davi foi ao encalço do inimigo. Saul e os soldados estavam recuados com medo. A covardia de Saul, o seu medo e a apatia dos soldados eram resultado da ausência do Espírito Santo de Deus em suas vidas. Davi, entretanto, era cheio do Espírito Santo, e quem é cheio do Espírito Santo vence gigantes e o nome de Deus é exaltado.
Na hora do perigo, da adversidade, existe um Deus Todo-poderoso em nossa vida, ao nosso lado. Desta feita, não devemos temer os gigantes que se levantam contra nós, porque somos de Deus e temos vencido o inimigo - “porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo” (1João 4:4).

2. As armas de Davi para enfrentar o gigante

Primeiramente, quais eram as armas do gigante Golias? Ele era um guerreiro; um guerreiro enorme armado até os dentes, com capacete, armadura, lança e espada; sua armadura pesava cerca de sessenta e oito quilos, e a haste de sua lança era como um eixo de tecelão, cuja ponta pesava cerca de nove quilos. Na verdade, Golias era um inimigo temível. Diz assim o texto sagrado (1Sm.17:4-7):
“Então, saiu do arraial dos filisteus um homem guerreiro, cujo nome era Golias, de Gate, que tinha de altura seis côvados e um palmo. Trazia na cabeça um capacete de bronze e vestia uma couraça de escamas; e era o peso da couraça de cinco mil siclos de bronze. E trazia grevas de bronze por cima de seus pés e um escudo de bronze entre os seus ombros. E a haste da sua lança era como eixo de tecelão, e o ferro da sua lança, de seiscentos siclos de ferro; e diante dele ia o escudeiro”.
E Davi, quais eram as suas armas? Um jovem, pastor de ovelhas, armado “apenas” com uma funda (usada para espantar os lobos que rondavam o rebanho) e cinco pedras. Com estas armas, era humanamente impossível Davi derrotar o gigante Golias. Podemos dizer, então, que a principal arma de Davi para enfrentar o gigante era a sua fé e confiança em Deus. A Bíblia declara que “as armas da nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas” (2Co.10:4).
Os soldados de Israel estavam com muito medo de Golias. Olhavam para ele e fugiam (1Sm.17:24); mas, Davi foi lá e o abateu; ele lançou apenas uma pedra com sua funda, acertando o gigante, que caiu atordoado. Prontamente, ele toma a espada do gigante e corta-lhe a cabeça.
Uma coisa a pensar: porque ele pegou 5 pedras? Porque ele não era arrogante. Ele sabia que poderia errar na primeira, segunda, terceira vez; ele sabia que ser eficiente, necessariamente, não é acertar na primeira tentativa, nem acertar sempre. Poderia ser que precisasse de todas as pedras. O importante era acertar o gigante e derrotá-lo.
Davi obteve vitória porque confiou, não no sistema, não na técnica, não nas suas aptidões, não nas suas armas, não nas armas de Saul, mas confiou no poder do seu Deus. Golias confiava na sua experiência e na sua força; Davi, porém, confiava na força do Senhor dos Exércitos. Foi ele mesmo quem disse: “... Tu vens a mim com espada, e com lança, e com escudo; porém eu vou a ti em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem tens afrontado”(1Sm,17:45).
Todos nós temos gigantes em nossas vidas - coisas que parecem grandes em nossas vidas e que temos de encarar, problemas que temos de vencer se quisermos continuar vivendo. Pode ser uma batalha judicial, um impasse com um empregador, um mau hábito, uma tentação irresistível, uma mania incontrolável, uma busca para melhorar um relacionamento difícil; pode envolver pessoas ou pressões; pode resultar em preocupações e medos. Se você ainda não teve de encarar um gigante na vida, garanto que em algum momento isso acontecerá.
Todos nós enfrentamos nossos gigantes, desafios que tomam conta de nossos horizontes, problemas que fazem os nossos joelhos se enfraquecerem. Mas, não importa o tamanho do gigante, ele vai cair. Às vezes somos como os espias da terra prometida (com exceção de Josué e Calebe) que disseram: “Somos como gafanhotos perto daqueles gigantes”. Para vencer gigante não podemos nos sentir como gafanhoto. Devemos dizer de forma confiante: “Tudo posso naquele que me fortalece”(Fp.4:13); “Em todas as coisas somos mais que vencedores em Cristo Jesus”(Rm.8:37). Portanto, o cristão que deseja ser vitorioso contra as forças de Satanás precisa se revestir da armadura de Deus (Ef.6:13-17). 

3. O poder do Senhor é decisivo na batalha e a fé nesse poder pode ser o catalizador para a vitória

A fé de Davi é exemplar. Diante de um inimigo truculento e aparentemente invencível ele se recusou a se fixar naquilo que via e ouvia no campo de batalha. Ele depositou sua fé no Deus vivo, que, como ele sabia por experiência própria, era digno de confiança.
Como seres humanos frágeis, facilmente influenciados pelo que nossos sentidos indicam, temos a tendência de deixar que os desafios do presente século obscureçam aquilo que aprendemos no passado e nos paralisem. A fé de Davi, porém, não permitiu que isso acontecesse. Ele se lembrou de como Deus o livrou de predadores ferozes e tinha certeza de que o passado se repetiria no presente.
Certamente, Davi tinha habilidade com as armas de pastor, incluindo a funda, arma que pode ser mortal; no entanto, não contou vantagem acerca dessa aptidão nem depositou confiança falsa nela. Ele sabia que a capacitação para a batalha vem do Senhor, bem como a coragem e a força para usar seu treinamento e suas armas com eficácia. Para Davi, o Senhor é digno de plena confiança, pois é o Deus vivo e atuante, que determina o resultado das batalhas e dá vitória e salvação a seu povo.
Viver em função do que vemos restringe a fé e causa medo paralisante. Era o que estava ocorrendo com Saul e o exército de Israel. Diante da ameaça do gigante, o que restava a Israel era ficar parado, esperar e estremecer enquanto o filisteu os desafiava e, indiretamente, desafiava o Deus deles. Quando o povo de Deus reage dessa forma, envia uma mensagem equivocada ao mundo acerca de Deus, e de sua graça provedora e protetora. Davi, com sua atitude de fé e confiança em Deus, desejou que todos os observadores reconhecessem a soberania divina e o compromisso de Deus com o seu povo.

CONCLUSÃO

Deus escolheu e ungiu Davi para abençoar a nação de Israel, cujo descendente legítimo, Jesus Cristo, reinará dessa nação toda a humanidade por mil anos (Ap.20:6), um reinado como nunca houve até agora – de Justiça e Paz – “Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte, mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele mil anos”. Pense nisso!