Texto Base: 1Samuel 22:1-5
"Então, Davi se retirou dali e se escapou para a caverna de Adulão; e ouviram-no seus irmãos e toda a casa de seu pai e desceram ali para ele. E ajuntou-se a ele todo homem que se achava em aperto, e todo homem endividado, e todo homem de espírito desgostoso, e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens" (1Sm.22:1,2).
1 Samuel 22:
1. Então, Davi se retirou dali e se escapou para a caverna de Adulão; e ouviram-no seus irmãos e toda a casa de seu pai e desceram ali para ele.
2. E ajuntou-se a ele todo homem que se achava em aperto, e todo homem endividado, e todo homem de espírito desgostoso, e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens.
3. E foi-se Davi dali a Mispa dos moabitas e disse ao rei dos moabitas: Deixa estar meu pai e minha mãe convosco, até que saiba o que Deus há de fazer de mim.
4. E trouxe-os perante o rei dos moabitas, e ficaram com ele todos os dias que Davi esteve no lugar forte.
5. Porém o profeta Gade disse a Davi: Não fiques naquele lugar forte; vai e entra na terra de Judá. Então, Davi foi e veio para o bosque de Herete.Parte inferior do formulário
INTRODUÇÃO
Dando continuidade ao estudo do trimestre sobre liderança do povo de Deus, com base nos livros de Samuel, trataremos nesta Lição do exílio de Davi. Exílio (do latim exilium = banimento, desterro) é o estado de estar longe da própria casa (seja cidade ou nação) e pode ser definido como expatriação, voluntária ou forçada de um indivíduo. Alguns autores utilizam o termo exilado no sentido de refugiado, longe do convívio social, no ostracismo.
Davi, o jovem que o Senhor ungiu para suceder a Saul ao trono de Israel; o valente destemido que venceu o gigante Golias; aquele de quem as mulheres diziam: “Saul feriu os seus milhares, porém Davi, os seus dez milhares”(1Sm.18:7); aquele que comia à mesa do rei; aquele que comandava um grupo de homens da elite do exército de Saul, agora é atingido fortemente pelo medo de morrer e é obrigado a viver no exílio, no ostracismo, no desterro, em cavernas, longe do convívio social, num estado de completa humilhação.
Entretanto, os livros de Samuel deixam transparecer que Deus trabalhava na vida de Davi a fim de prepará-lo para reinar no lugar de Saul. Como bem diz o pr. Osiel Gomes, “nem sempre as vivências marcadas por situações traumáticas podem ser vistas como negativas. Por vezes, elas servem para tirar as cascas das aparências, a infantilidade, o esquecimento de nós mesmos, a fim de levar-nos à essência real da vida”. Temos a certeza de que, nos desertos de nossa vida, Deus caminha conosco, nos conduzindo na direção certa e provendo para nós nos momentos de aflição e necessidades. Devemos, pois, estar no centro da Sua vontade e esperar o momento certo da divina providência, mesmo em tempos bastantes desconfortáveis.
I. AS CARACTERISTICAS DO EXÍLIO DE DAVI
O exílio de Davi foi uma experiência pedagógica para ele, cujos estágios moldaram o seu caráter, que o levaram à maturidade e crescimento na vida espiritual e relacional, e que lhe promoveu à virtude da paciência – “pois a tribulação produz a paciência” (Rm.5:3) -, e que fariam dele um homem resiliente diante das intempéries, vicissitudes, preparando-o para uma missão especial de grande relevância: a liderança do povo de Deus, Israel. Não sabia ele “que a prova de nossa fé produz a paciência” (Tg.1:3).
É certo que houve momentos em que a fé dele demonstrou arrefecimento, que é comum ocorrer com qualquer crente diante de provas inclementes. Um exemplo disso, dentre outros, é quando, numa situação de total desespero, Davi foge para cidade Gate, território inimigo, onde buscou asilo com Áquis, rei filisteu de Gate (1Sm.21:10), e ainda levava consigo a espada de Golias que Aimeleque tinha dado a ele; é como se Davi tivesse se tornado Golias, armado com sua espada e rumando para a cidade natal dele. Fica óbvio que Davi caminhava de acordo com o que via, e não pela fé, e confiava em sua própria capacidade. Mas, cedo ou mais tarde, se perceberia que viver de acordo com o que se vê terminaria em fracasso; e Davi, que anteriormente havia mentido para Aimeleque, dominado pelo medo, é obrigado a encenar outra mentira e fingir-se de louco para não ser morto (1Sm.21:13). O respeito oriental em presença da loucura salvou-o da morte praticamente certa. Davi, ao recorrer à fraude, deixou de entregar sua vida incondicionalmente ao Senhor e à sua proteção. É um erro que não deve ser imitado.
Quando a fé vacila, pode acontecer de o indivíduo perder Deus de vista e agir de forma contrária às suas crenças e às suas experiências pessoais. A despeito desse claro arrefecimento da fé diante das provas, Davi não perdeu a esperança em Deus, ele ainda esperava na providência divina – “até que saiba o que Deus há de fazer de mim” (1Sm.22:3).
As diversas situações difíceis que o seguidor de Cristo passa na caminhada cristã podem servir-lhe de amadurecimento e crescimento na vida espiritual. Em quaisquer circunstâncias devemos esperar em Deus, pois no seu tempo (Kairol) ele cumprirá as suas promessas.
Depois de escapar de Gate, Davi refugiou-se na Caverna de Adulão (1Sm.22:1-5). Era assim chamada devido a uma cidade nas suas proximidades. Vamos explorar esta Caverna e extrair dela lições para a vida.
1. A Caverna de Adulão
Adulão, que significa refúgio, era uma antiga cidade real dos cananeus (Gn.38:1), situada numa região montanhosa, próxima à fronteira filisteia, a vinte quilômetros a leste da cidade de Gate, na fronteira do território de Judá, aproximadamente 26 km de Jerusalém, e a uns vinte quilômetros de Belém, a cidade natal de Davi. Atualmente, Adulão é chamada de “Aid-el-Ma,
Para ficar longe de Saul Davi teve que ir para o exilo à busca de refúgio, e um desses refúgios foi a caverna de Adulão (1Sm.22:1), um sistema de corredores sem fim e passagens transversais.
Davi, o valente que derrotou o gigante Golias, o valente cantado pelas mulheres de Israel em suas músicas - “Sul feriu os seus milhares, porém Davi, os seus dez milhares” (1Sm.18:7) -, agora estava fugindo em direção a uma caverna, tímido e com medo de morrer pelas mãos de Saul.
Num verdadeiro redemoinho de eventos, ele perdeu o emprego, a mulher, a casa, seu conselheiro, seus melhores amigos e, finalmente, sua autoestima. À semelhança de Jó, ele foi golpeado com tanta força que sua cabeça deve ter ficado girando durante horas. Davi chegara ao fundo do poço.
Este foi o pior momento na vida de Davi até então. Se você quiser saber como ele realmente se sentia, leia o Salmo 142, de sua composição. Era assim que Davi se sentia como habitante da caverna:
"Olhei para a minha direita e vi; mas não havia quem me conhecesse; refúgio me faltou; ninguém cuidou da minha alma” (Sl.142:4).
Davi não tinha segurança, alimento, alguém com quem conversar, promessa à qual apegar-se e nem esperança de que as coisas viessem a modificar-se um dia. Estava sozinho numa caverna escura, longe de tudo e de todos que amava. De todos, exceto de Deus.
Podemos sentir a solidão desse lugar tão desolado? A umidade dessa caverna? Podemos sentir o desespero de Davi? As profundezas em que sua alma desceu? Não havia meios de fugir. Nada restou, absolutamente nada!
Em meio a tudo isso, Davi não perdeu Deus de vista. Ele clama ao Senhor para livrá-lo. É aqui que podemos vislumbrar o coração desse jovem-homem, a essência que só Deus vê, a qualidade invisível que Deus viu quando escolheu e ungiu o jovem pastor de Belém.
Davi foi levado a um ponto em que Deus pôde começar realmente a moldá-lo e fazer uso dele. Quando o Deus soberano nos reduz a nada, é para redirecionar nossa vida e não para extingui-la.
A perspectiva humana diz: "Ah, você perdeu isto e aquilo; você causou isto e aquilo; você destruiu isto e aquilo; por que não acaba com a sua vida?". Mas Deus diz: "Não. Você está na caverna, mas isso não significa que é o fim de tudo. Significa tempo para redirecionar sua vida. Está na hora de um novo começo!". Foi exatamente isso que Deus fez com Davi.
Apesar dos séculos existentes entre nós e Davi, esse homem e suas experiências são mais relevantes do que nunca em nossos dias. Às vezes, as provas inclementes, as tribulações impiedosas, as tempestades da vida tremendamente ameaçadoras, nos fazem perder de vista a verdade e nos levam ao fundo do poço. A única solução? Buscar refúgio no único que nos pode socorrer: o Senhor Deus Todo-Poderoso.
“A ti, ó SENHOR, clamei; eu disse: tu és o meu refúgio e a minha porção na terra dos viventes. Atende ao meu clamor, porque estou muito abatido; livra-me dos meus perseguidores, porque são mais fortes do que eu. Tira a minha alma da prisão, para que louve o teu nome; os justos me rodearão, pois me fizeste bem" (Sl.142:4-7).
“O SENHOR dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio” (Sl.46:11).
2. Os proscritos da Caverna de Adulão
Davi estava sozinho na caverna, e veja quem foi juntar-se a ele: a sua família.
"Quando ouviram isso seus irmãos e toda a casa de seu pai, desceram ali para ter com ele" (1Sm.22:1).
Já fazia muito tempo que a família de Davi não lhe dava atenção. Seu pai quase esquecera da sua existência quando Samuel fora procurar em sua casa um possível candidato para reinar sobre Israel. Samuel teve de dizer: "Você só tem esses filhos?". Jessé estalou os dedos e respondeu: "Oh, não, tenho um filho que cuida das ovelhas". Mais tarde, quando foi para a guerra e estava pronto para lutar com Golias, os irmãos o desprezaram, dizendo: "Sabemos porque veio, só para mostrar-se". E agora, os mesmos irmãos e o pai, juntamente com o resto da casa, procuram Davi para ficar com ele, na caverna de Adulão.
Algumas vezes, quando estamos na “caverna”, não queremos ninguém por perto; às vezes, não conseguimos suportar outras pessoas. Não admitimos isso publicamente, claro, mas é verdade; só queremos ficar sozinhos. Na minha concepção, naquele momento da sua vida, Davi não queria ninguém por perto. Em vista de não valer nada para si mesmo, não conseguia ver o seu valor para quem quer que fosse.
Davi não queria seus parentes, mas eles chegaram. Ele não desejava a presença deles, mas Deus os levou assim mesmo. Davi os levou para dentro da caverna em que ele se escondia.
Mas, não foi somente a família de Davi que se juntou a ele; outro grande grupo de homens se juntou a ele. Ajuntaram-se a Davi todos os homens que se achavam em aperto, e todo homem endividado, e todos os amargurados de espírito. Os primeiros eram em sua maioria estrangeiros em dificuldades, homens rudes e problemáticos, no entanto, Davi os recebeu, acolheu-os, ensinou-os e preparou-os, e se fez chefe deles.
"E ajuntou-se a ele todo homem que se achava em aperto, e todo homem endividado, e todo homem de espírito desgostoso, e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens" (1Sm.22:2).
A princípio, eram 400 homens "em aperto", mas logo o número chegou a 600 (1Sm.22:2; 25:13). Esses eram os homens que Deus deu a Davi para liderar. E Davi o fez com maestria. Ele fez com que esses homens tivessem um senso de companheirismo e devoção a Deus. Logicamente, Davi teve de treinar esses “perdedores”, se quisesse formar um exército eficiente, e ele o fez.
Aquela caverna não era mais o refúgio de Davi. A caverna malcheirosa, úmida, se tornara um campo de treinamento para os primeiros soldados que formaram o começo do exército que veio mais tarde a ser chamado de "Os valentes de Davi". É isso mesmo, aquele bando heterogêneo se transformaria em seus poderosos homens de guerra, e mais tarde, quando Davi subiu ao trono, eles viriam a ser os seus ministros de gabinete. Davi modificou completamente a vida deles e incutiu-lhes ordem, disciplina, caráter e direção.
Davi teve de descer derrotado até o fundo do poço, quando não havia outro meio senão olhar para cima. Quando levantou os olhos, Deus estava lá, levando aquele grupo de desconhecidos até ele, aos poucos, até que finalmente provaram ser os homens mais corajosos de Israel.
Quem podia imaginar que o próximo rei de Israel estava treinando suas tropas numa caverna escura onde ninguém conseguia enxergar nada e ninguém se importava? Que atitude pouco usual de Deus para preparar os líderes do seu povo! A pedagogia do Senhor é impressionante!
Davi atraiu homens semelhantes a ele, almas aflitas. Ele também reproduziu homens como ele, guerreiros e conquistadores. Davi era um líder nato.
- Davi atraiu esses homens sem procurá-los.
- Davi extraiu profunda lealdade deles sem nunca tentar obtê-la.
- Davi transformou esses homens proscritos sem desiludi-los quanto ao seu estado inicial.
- Davi lutou lado a lado com esses “perdedores” e transformou-os em vencedores.
- Davi teve o controle de seus liderados. Manter sob controle um grupo de pessoas de bem não é muito complicado; contamos com a boa vontade e o respeito de todos para uma convivência cordial e amável. Mas, liderar um grupo de pessoas atribuladas isso não é fácil. Junte em um ambiente hostil, dentro de uma caverna, 400 homens desgostosos da vida, que fugiram de sua terra por dívidas contraídas e não quitadas e outros assuntos não resolvidos. Esses eram homens que não pensariam duas vezes em puxar uma arma para se defender e matar alguém. Mas, Davi fez com que os seus liderados tivessem um senso de companheirismo e devoção a Deus. Ele os ensinou o que significa esperar o tempo de Deus (ler 1Sm.24:5-7).
3. O simbolismo da Caverna de Adulão
O que Deus quis ensinar a Davi e, também, a nós seguidores de Deus da Nova Aliança? Qual o significado de tudo isso? A caverna de Adulão é a pedagogia de Deus para nos ensinar a confiar sempre nele. Ali, somos desafiados a entender que não somos os melhores, nem super-homens, mas, sim, que dependemos de Deus e de pessoas dispostas, e bem disciplinadas, a lutar por aquilo que Deus propôs para nós. E mais:
a) Adulão nos ensina que em nossa vida podemos estar na planície, mas, de repente, podemos estar numa caverna, em aflição
Como diz o pr. Osiel Gomes, em nossa vida, especialmente quando estamos gozando de boa posição, nome, título, fama, esquecemos quem somos e, por vezes, somos levados a situações conflitantes, perseguições, contrariedades, crises, as quais nos levam às cavernas do recôndito de nossa alma, para que reflitamos e sejamos forjados outra vez para voltarmos ao caminho certo da vida. Na caverna, somos confrontados com nós mesmos; lá somos desafiados a entender que não somos os melhores, nem super-homens, mas, sim, que dependemos de Deus e de outros para avançarmos.
b) Adulão, lugar de sair da superficialidade e buscar profundidade insondável
Na caverna de Adulão, existiam lugares profundos que ainda não tinham sido sondados, lugares onde não se conseguia medir a profundidade. Mas, Davi conhecia em profundidade ao Senhor; ele conhecia o Bom Pastor (Salmo 23), aquele que o havia livrado do urso, do leão e do gigante Golias; aquele que havia entregue o gigante e todos os filisteus em suas mãos. Davi conhecia ao Senhor, e seu conhecimento não era superficial. Às vezes, precisamos entrar em Adulão para conhecermos o Senhor com intimidade.
c) Adulão, lugar de transformar a humilhação em honra
Os homens que procuraram a Davi eram homens que se achavam em aperto, endividados, amargurados de espíritos, humilhados (1Sm.22:2). Mas, na Caverna de Adulão eles foram honrados. Quando o Senhor livrou Davi das mãos de Saul, muitos daqueles endividados, daqueles apertados, amargurados de espírito se tornaram heróis em Israel, porque o nosso Deus é um Deus que exalta o humilde e abate ao soberbo (1Pd.5:5). Adulão é o lugar que aceita os perseguidos e injustiçados e os redime, os transforma, e os torna pessoas honradas.
d) Adulão, o lugar de encontro com o Davi Celestial
Que tipo de pessoas vieram a Davi na caverna? Diz o texto sagrado:
"Ajuntaram-se a ele todos os homens que se achavam em aperto, e todo homem endividado, e todos os amargurados de espírito, e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens" (1Sm.22:2).
Eram pessoas miseráveis, amarguradas, angustiadas, deprimidas, pessoas carregadas de culpa e com um coração atormentado. Mas, na caverna de Adulão, eles encontraram refúgio, porque o rei ungido estava lá para aceitá-los como eles eram.
Em Jesus Cristo, as pessoas em aperto, as pessoas endividadas, as pessoas amarguradas de espírito, encontram refúgio. Diz Jesus, o Ungido de Deus:
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mt.11:28-30).
Em lugar algum estamos mais abrigados e seguros do que em Jesus - "...porque Ele (Jesus Cristo) é a nossa paz" (Ef.2:14). Toda vez que nos humilharmos diante dEle em arrependimento sincero e confessarmos a Ele os nossos pecados poderemos respirar aliviados. Mas será que tomamos tempo suficiente para buscarmos o Ungido Rei na "caverna de Adulão", para termos comunhão com o nosso Davi Celestial?
e) Deus é o nosso Refúgio e Fortaleza na hora da angústia (Sl.46:1)
Para onde voltamo-nos quando o nosso mundo desmorona? A quem procuramos refúgio na hora da angústia? Para quem nos voltamos quando não há ninguém a quem contar as dificuldades? Davi estava nessa situação e ele se voltou para o Deus vivo, e descobriu nele um lugar para descansar e recuperar-se. Encurralado, ferido pela adversidade, lutando contra o desânimo e o desespero, ele escreveu estas palavras em seu diário de lamentos:
“O SENHOR é o meu rochedo, e o meu lugar forte, e o meu libertador; o meu Deus, a minha fortaleza, em quem confio; o meu escudo, a força da minha salvação e o meu alto refúgio” (Sl.18:2).
Precisamos de refúgio, um lugar onde se esconder e sarar. Precisamos de alguém disposto, afetuoso, disponível; um confidente; um companheiro de “armas”. Você não está conseguindo encontrar um? Por que não compartilhar do abrigo de Davi? Aquele que ele chamou de "minha Força, minha Rocha, minha Fortaleza, meu Baluarte, minha Torre Alta"? Nós o conhecemos hoje por outro nome: Jesus Cristo, o Senhor; Ele está sempre disponível, até mesmo para moradores de cavernas, pessoas solitárias que precisam de alguém que se interesse por elas.
“Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” (Sl.46:1).
“O SENHOR dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio” (Sl.46:11).
II. DAVI E O AMOR COM OS PAIS
Os pais e os irmãos de Davi ao saberem onde ele se encontrava, e temendo represálias do rei Saul por causa do seu parentesco com ele, mudaram-se também para Caverna de Adulão - “...e ouviram-no seus irmãos e toda a casa de seu pai e desceram ali para ele” (1Sm.22:1). Este era o momento do apoio da família. Recebendo apoio da família, Davi evidentemente se sentiu fortalecido.
Ao longo das Escrituras, constatamos que a família desfruta de destaque especial nos desígnios de Deus para a humanidade. Além do seu papel de coesão, inclusive social, a família provê também apoio emocional e espiritual para seus membros. Todos nós de alguma forma necessitamos também de nossa "caverna de Adulão", isto é, um local de refúgio, inclusive familiar.
1. Protegendo seus pais
Preocupados com o bem-estar de seus pais, Davi viaja, de Adulão, para Mispa, em Moabe, e pede proteção e abrigo ao rei para eles, enquanto ele estava escondido (1Sm.22:3,4).
“E foi-se Davi dali a Mispa dos moabitas e disse ao rei dos moabitas: Deixa estar meu pai e minha mãe convosco, até que saiba o que Deus há de fazer de mim. E trouxe-os perante o rei dos moabitas, e ficaram com ele todos os dias que Davi esteve no lugar forte” (1Sm.22:3,4).
Nesta circunstância adversa, Davi teve o cuidado todo especial de proteger os seus pais das brutalidades de Saul. É possível que o rei de Moabe tivesse alguma lealdade para com Davi graças aos antepassados dele (por parte de pai, Davi é descendente da moabita Rute). Quando Davi voltou, o profeta Gade o instruiu a deixar Adulão, de modo que ele foi para o bosque de Herete, também em Judá (1Sm.22:5).
“Porém o profeta Gade disse a Davi: Não fiques naquele lugar forte; vai e entra na terra de Judá. Então, Davi foi e veio para o bosque de Herete”.
Nesta fortaleza, Davi encontra segurança, e espera para ver o que Deus faria com ele. O texto não informa por que o profeta disse para Davi voltar a Judá, mas é provável que o Senhor tenha considerado a partida de Davi contrária a seu destino divinamente ordenado. Apesar de ser descendente de Rute, uma moabita (Rt.4:17), foi errado Davi depositar sua confiança num rei que era inimigo do povo de Deus. (Diz a tradição que, mais tarde, os moabitas mataram os pais de Davi).
Um dos deveres dos filhos para com os pais é honrá-los. Só que não podemos honrar os pais sem os amar, e nem os amar sem honrá-los. O amor aos pais inclui todas as responsabilidades que temos perante eles.
Na Lei moral que Deus revelou a Moisés, conhecida como os Dez Mandamentos, vemos a seguinte divisão: os quatro primeiros mandamentos se referem aos deveres para com Deus; os seis seguintes, aos deveres do homem para com a humanidade. O Primeiro Mandamento desta segunda divisão foi escrito para os filhos, e é o único mandamento que tem uma condição ligada a uma promessa de bênção para os que o observarem.
“Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá”(Ex.20.12).
Este Mandamento é ratificado no Novo Testamento. Paulo escreveu aos Efésios: “Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra” (Ef.6:2,3). Em Mateus 15:3-9, Jesus pregou um sermão cujo tema é a honra devida pelos filhos aos pais. Marcos 7:6-13 repete o fato com mais detalhes.
Este mandamento abrange todos os devidos atos de bondade, ajuda material, respeito e obediência aos pais (Ef.6:1-3; Cl.3:20). Abrange, também, não proferir palavras maldosas e agressão física aos pais.
Em Êxodo 21:15,17, Deus estabeleceu a pena de morte para quem ferisse ou amaldiçoasse seu pai ou sua mãe. Assim fica demostrada a grande importância que Deus atribuiu ao respeito pelos pais. Portanto, Davi agiu corretamente engendrando esforços para proteger os seus pais da fúria do inimigo Saul. Apesar que, aparentemente, a escolha do lugar do asilo seja questionável.
2. A recompensa para os filhos obedientes
O assunto da obediência tem sido um problema, desde que nossos primeiros pais praticaram o ato da desobediência. Paulo descreveu os efeitos do pecado nos filhos, em Romanos 1:30,31:
”... desobedientes aos pais e às mães; néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia”.
Muitas famílias pagãs que se convertiam a Cristo nos dias do Novo Testamento eram caracterizadas conforme esse descrito de Paulo.
Em Efésios 6:1-4 e Colossenses 3:20,21 Paulo exorta os filhos concernente às suas atitudes e ações que devem ter para com os seus pais.
”Vós, filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto é agradável ao Senhor”(Cl.3:20).
1.Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo.
2. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa,
3. para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra.
4.E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor (Ef.6:1-4).
· “Porque isto é justo” (Ef.6:1). É um princípio básico da vida familiar que, os ainda imaturos, impulsivos e inexperientes se submetam à autoridade do seus pais, que são mais velhos e mais experientes.
· “Para que te vá bem” (Ef.6:3). O bem-estar dos filhos depende da obediência prestada aos pais. Pense no que aconteceria a um filho que nunca recebeu instrução ou correção dos seus pais. Ele se tornaria insuportável pessoalmente e intolerável socialmente.
· ”Para que vivas muito tempo sobre a terra”(Ef.6:3). A obediência promove uma vida plena. Nos dias do Antigo Testamento o filho que obedecia aos pais desfrutava de uma vida longa. Hoje isso não é mais uma regra sem exceção. De fato, obediência filial nem sempre traz longevidade. Um filho respeitoso pode morrer jovem. Porém, de modo geral é verdade que a vida de disciplina e obediência é mais segura, saudável e longa, enquanto a vida de rebelião de imprudência muitas vezes termina em morte prematura.
Jesus foi um exemplo de obediência e submissão aos Seus pais adotivos - ”E desceu com eles para Nazaré; e era-lhes submisso” (Lc.2:51).
A família de Recabe. A Bíblia diz que todos os filhos de Recabe foram usados por Deus como exemplo para a nação israelita, pelo fato de obedecerem a seu pai. Levados ao templo pelo profeta Jeremias, foram convidados a tomar vinho. Não parecia ser nada de mais, principalmente em se tratando de convite feito pelo profeta de Deus. Mas, os recabitas responderam: ”Não beberemos vinho; porque Jonadabe, filho de Recabe, nosso pai, nos mandou, dizendo: Nunca jamais bebereis vinho, nem vós nem vossos filhos”(Jr.35:1-6). Deus repreendeu o povo de Israel, mostrando-lhe que aqueles filhos obedeciam a seu pai, enquanto a nação era desobediente a seu Deus.
A obediência dos filhos aos pais, portanto, é um dever sagrado. Deus não abre mão em tempo algum dessa exigência. Ele exige isto a ponto de condicionar a felicidade no viver ao seu cumprimento. Infelizmente, no mundo de hoje, onde a maior parte das pessoas só faz o que acha certo aos seus próprios olhos, a obediência não é algo popular.
III. MORRENDO POR CAUSA DE DAVI
1. A inconsistência de Saul
Segundo o dicionário Aulete, inconsistência é a qualidade, caráter ou estado do que ou de quem é inconsistente; é a falta de consistência, de estabilidade ou de firmeza.
Esta era uma característica do perfil da liderança de Saul. Embora ele tenha se tornado rei, principalmente por causa de sua formidável aparência, ele nunca venceu as suas lutas interiores. Externamente, era alto, bonito e de corpo bem constituído (1Sm.9:2); mas, internamente, não passava de um anão. Observe esses aspectos do caráter de Saul:
ü Quando chega o tempo de ser ungido, Saul se esconde entre a bagagem (1Sm.10:22).
ü Quando Samuel pede para Saul liderar, ele apresenta desculpas de incapacidade (1Sm.9:21).
ü Quando os soldados de Saul começam a se dispersar, ele entra em pânico e desobedece às ordens divinas (1Sm.13:1-14).
ü Quando confrontado com o seu pecado, Saul apresenta justificativas (1Sm.15:14-23).
ü Quando Saul ataca os amalequitas, ele está com medo de confiar em Deus e destruir o inimigo (1Sm.15:8).
ü Quando Saul teme perder o apoio do povo, ele constrói uma estátua de si mesmo, a estátua do orgulho (1Sm.15:12).
ü Quando os filisteus enfrentam Israel, o medo impede Saul de negociar (1Sm.17:1-11)).
ü Quando Davi ganha popularidade, a insegurança leva Saul a tentar homicídio (1Sm.18:9-11).
2. O preço de proteger Davi
Proteger Davi, estando Saul ainda no comando da nação, significava pagar um preço alto, e o preço era a morte do indivíduo ou de um grupo de indivíduos, ou até mesmo de uma cidade inteira. Foi o que aconteceu com os sacerdotes e a cidade de Nobe (1Sm.22:6-19). Foi um massacre cruento contra um povo inocente. A suspeita de Saul veio do relato de Doegue, que flagrou Davi em uma conversa com Aimeleque, o sumo sacerdote, e ainda receber comida e uma espada (1Sm.22:9,10).
Esta atitude insana de Saul foi uma demonstração incontestável de que ele estava possuído pelo poder demoníaco e tinha uma mente doentia. Ele não confiava em nada e em ninguém, nem mesmo no próprio filho Jônatas - em duas ocasiões ele procurou matar o próprio filho (1Sm.14:44;20:33); da segunda vez, em virtude da lealdade de Jonatas a Davi.
Por mais que Aimeleque explicasse sua inocência, no sentido de tramar contra o rei, era impossível Saul confiar nas suas palavras, visto que ele estava dominado por poderes demoníacos, de maneira que todos eram acusados de conspiração (1Sm.22:11-23).
O sentimento de ciúme, ódio e inveja que dominava o coração de Saul fez com que de imediato ordenasse a morte de todos os sacerdotes do Senhor na cidade de Nobe. Saul deu a ordem aos soldados para matarem os sacerdotes, mas eles não quiseram de maneira alguma praticar tal massacre e não obedeceram à ordem do rei. Então, entra em cena Doegue para cometer esse crime bárbaro. Oitenta e cinco sacerdotes foram mortos e a cidade foi destruída com seus habitantes. A atitude de Saul demonstrou sua instabilidade mental e emocional e seu distanciamento de Deus.
Por que Deus permitiu que 85 inocentes sacerdotes do Senhor fossem assassinados? Suas mortes serviram para mostrar à nação de Israel como o rei Saul tornara-se um déspota. Onde estavam os conselheiros de Saul? Onde estavam os anciãos de Israel? Às vezes Deus permite que o mal ocorra a fim de nos ensinar que jamais devemos aceitar que os sistemas malignos floresçam.
Servir a Deus não é um ingresso para a riqueza, o sucesso ou a saúde. Servir a Deus não é ser protegido numa redoma de vidro contra as intempéries e vicissitudes da vida. Servir a Deus significa luta renhida e correr risco de vida.
O Senhor não promete proteger as pessoas do mal deste mundo, mas garante que toda a maldade será abolida um Dia. Os que permanecem fiéis nas suas provações receberão grandes recompensas no porvir (Mt.5:11,12; Ap.21:1,7; 22:1-21).
“E vi um novo céu e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Quem vencer herdará todas as coisas, e eu serei seu Deus, e ele será meu filho” (Ap.21:1,7).
“Eis que presto venho. Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro” (Ap.22:7).
3. A sina de Doegue
Quando Davi chegou ao sacerdote Aimeleque, lá estava Doegue, edomita, chefe dos pastores de Saul (1Sm.21:7). Alguns supõem que ele estivesse no tabernáculo para pagar algum tipo de voto, um tipo de purificação, ou para fazer qualquer outro sacrifício, deixando de lado a causa de ele estar ali. Sua presença o fez testemunha do que Davi pediu ao sacerdote. Davi não podia mudar isso, nem impedir a horrível vingança que a ira de Saul trouxe sobre o sumo sacerdote e dezenas de outros sacerdotes, bem como mulheres, crianças e animais em Nobe (1Sm.22:9-19).
Decidido a aproveitar ao máximo a oportunidade de impressionar o rei, Doegue contou a Saul que Aimeleque, sumo sacerdote em Nobe, havia ajudado Davi com provisões e consultado o Senhor a favor dele. Saul convocou de imediato Aimeleque e sua família e o acusou de traição. A ordem de Saul foi inapelável: “...matem os sacerdotes do Senhor...” (1Sm.22:17). Este texto retrata Saul como inclinado a cometer homicídios.
As próprias palavras de Saul o condenaram, pois ele reconheceu que os sacerdotes eram os “sacerdotes do Senhor”. Ao ordenar a execução deles, posicionou-se contra o próprio Senhor.
Mas, os seus servos “se recusaram a levantar as mãos para arremeter contra os sacerdotes do Senhor” (1Sm.22:17). Eles se recusaram a cumprir a ordem do rei porque perceberam que seria uma atrocidade matar os sacerdotes do Senhor. Mas, o desejo do endemoninhado rei não podia deixar de ser realizado; alguém deveria realizar a chacina, e a sina caiu para Doegue (1Sm.22:18).
“Então, disse o rei a Doegue: Vira-te tu e arremete contra os sacerdotes. Então, se virou Doegue, o edomita, e arremeteu contra os sacerdotes, e matou, naquele dia, oitenta e cinco homens que vestiam éfode de linho”.
Para Doegue, homem sem princípio, cometer aquele crime brutal contra os ungidos do Senhor era algo normal, um simples ataque. No mais, seu objetivo era agradar e satisfazer o ímpio rei Saul, que queria apenas manter seu poder. Esse homem matou oitenta e cinco sacerdotes indefesos, desarmados, inocentes. Davi escreveu o Salmo 52 para registrar a maldade de Doegue.
Só escapou um sacerdote, de nome Abiatar, filho de Aimeleque. Davi instou com Abiatar que ficasse com ele, porque confiava na orientação e na proteção de Jeová (1Sm.22:22, 23).
Doegue realizou o massacre, mas o sacerdote Abiatar, filho de Alimeleque, atribuiu o crime corretamente a Saul, pois vieram dele as ordens para que se cometesse essa atrocidade (cf.1Sm.22:18,19). Sem dúvida, Saul era totalmente incapaz de reinar sobre o povo de Deus.
Pode acontecer de um crente estar esperando o tempo de Deus e assim mesmo ocorrerem problemas, fraquezas e dificuldades, como foi o caso ocorrido quando da visita de Davi ao sacerdote Aimeleque (1Sm.21:1-9; 22:6-22). Às vezes o inimigo da Obra de Deus se encontra dentro da própria Casa de Deus, trazendo inúmeros prejuízos e perturbações ao povo de Deus e à sua liderança fiel. Tenhamos cuidado com os “Doegue’s” infiltrados!
CONCLUSÃO
Em todo o seu exílio Davi buscou refúgio, protegendo-se das artimanhas de Saul. Quase sem forças, e como o espirito quebrantado, Davi implora por refúgio. Todos nós, em nossa jornada da vida, precisamos de refúgio. Por que temos necessidade de um refúgio? Primeiro, porque estamos aflitos e sofrendo; segundo, porque somos pecadores e a culpa nos acusa; terceiro, porque estamos cercados por adversários e as incompreensões nos atacam. Não há outro refúgio melhor para nas horas de angústia: Jesus. Ele continua disponível até para os “moradores de cavernas”, pessoas solitárias que precisam de alguém que se interessa por elas. Deus é o refúgio do Seu povo na hora da angústia. O salmista assim se expressou: “Deus é o nosso refúgio e a nossa fortaleza, auxílio sempre presente na adversidade” (Salmo 46:1). Pense nisso!