Texto Base: Efésios 1:4-12
“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em caridade, e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Ef.1:4,5).
Efésios 1:
4.como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em caridade,
5.e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade,
6.para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado.
7.Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça,
8.que Ele tornou abundante para conosco em toda a sabedoria e prudência,
9.descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo,
10.de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra;
11.nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade,
12.com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que primeiro esperamos em Cristo.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos da Eleição e Predestinação, temas sobremodo importantes no estudo da soteriologia (doutrina da salvação da humanidade por Jesus Cristo). A doutrina da Eleição em Cristo é sobremaneira importante e esclarecedora do quanto Deus na Sua preciosa graça nos amou de maneira infinda, ainda nos refolhos da eternidade, dando a nós a gloriosa oportunidade de sermos partícipes do seu povo amado. O Deus Pai, em Seu Filho Jesus Cristo, por meio de sua presciência, nos elegeu para a salvação e nos predestinou “para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Ef.1:5), e nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Ef.1:3).
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES – ELEIÇÃO: CONCEITO
Antes de explorarmos os tópicos propostos da Lição, vamos, inicialmente, procurar entender o que é eleição. Primeiramente, diríamos que eleição é um processo de escolha que envolve duas partes e um objetivo; uma das partes é aquela que faz a escolha, ou que escolhe; a outra parte é a escolhida. O objetivo da eleição será a função, ou o papel que o eleito deverá cumprir.
Para entendermos melhor esse processo, vamos tomar um exemplo material: a eleição para prefeito de uma cidade.
1. O poder para eleger
Todos poderão querer ser prefeito, mas ser prefeito não depende só da vontade de cada um; a vontade maior, ou a vontade primeira, é a de quem tem o poder para escolher, no caso, o eleitor.
-No Plano Espiritual, Deus é quem escolhe; é Ele quem elege, ou escolhe, conforme o Senhor Jesus afirmou aos seus discípulos: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós e vos nomeei...” (João 15:16).
-No processo de Salvação também a escolha é de Deus: “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Ef.1:4).
2. O eleito, ou escolhido, precisa tomar posse do cargo
Voltando ao nosso exemplo - a eleição do prefeito -, ele foi eleito pelo povo, porém, apurada a votação, embora tenha sido eleito, ele não se torna prefeito, não entra no exercício do poder, automaticamente, é preciso tomar posse do cargo. A posse do cargo é uma decisão exclusiva de quem foi eleito, compete a ele tomar posse, ou não; porém, enquanto não tomar posse não entra no exercício de seus direitos.
Nem todos os eleitos tomam posse do cargo para o qual foram eleitos. Na história de nossa República temos dois exemplos: Primeiro - Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848 – 1919); foi eleito pela segunda vez, em 1º de março de 1918; acometido pela gripe espanhola, não pode tomar posse no dia 15 de novembro de 1918; faleceu meses depois, em janeiro de 1919. Segundo - Tancredo Neves; ele foi eleito Presidente da República, mas nunca foi presidente, pois faleceu antes de tomar posse, em 21 de abril de 1985.
No Plano Espiritual, e bíblico, acontece o mesmo com as pessoas: foram eleitos por Deus (Deus elegeu todos os seres humanos para a salvação – 1Tm.2:4-6), porém, muitos morreram sem tomar posse da Salvação.
3. Somente a autoridade constituída pode dar a posse do eleito, e somente no lugar determinado
Não é o eleitor, ou o que escolheu, que dá posse ao eleito. De acordo com a lei existe um lugar e uma autoridade constituída que tem o poder de conferir a posse ao eleito: é o juiz eleitoral; é este que tem a competência para conferir o Diploma que vai garantir a posse e o exercício do poder do cargo.
Assim, quer por ignorância, quer por desobediência voluntária, tomar posse num outro lugar de sua preferência pessoal e perante uma outra autoridade qualquer, embora tenha sido eleito, escolhido, sua posse não terá valor legal; seu Diploma é falso; seus atos administrativos serão nulos. Ele responderá, perante a lei, pelos seus erros. Para tomar posse é preciso entrar pela porta certa.
No Plano espiritual e bíblico, o Eleito precisa tomar posse no lugar certo e perante a Autoridade legalmente constituída.
-O Lugar certo: o Calvário. Deus, na Sua soberania, amor e graça, elegeu todos os seres humanos, sem distinção, para a salvação - “que quer que todos os homens se salvem...” (1Tm.2:4 c/c João 3:16) -, porém, Ele pré-estabeleceu um único lugar onde a pessoa poderia tomar posse de sua Salvação: o Calvário.
-A Autoridade certa: Jesus Cristo; este é o único que tem a competência para conferir ao homem o Diploma de posse da sua Salvação (Atos 4:12).
A posse do eleito não é automática e nem obrigatória, ela exige o exercício e a manifestação da vontade, indo ao lugar determinado, comparecendo perante a autoridade competente. No Plano salvífico, em respeito ao livre arbítrio, Deus deixou ao ser humano, ao eleito, a decisão de ir, ou não, ao Calvário, e ali, aos pés da cruz, receber de Jesus, e este crucificado, o competente Diploma que lhe garantirá a posse de sua Salvação – “quem crer será salvo; mas quem não crer será condenado” (Mc.16:16).
É certo que muita gente, por ignorância, ou mesmo desobediência, está procurando tomar posse em lugares errados e recebendo diplomas falsos de quem não foi credenciado por Deus. Jesus é o único que pode conferir o Diploma verdadeiro. Foi o que disse o apóstolo Pedro: “E em nenhum outro há Salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (Atos 4:12).
4. O eleito recebe o Penhor ou garantia para o exercício do Cargo
Quando o eleito comparece ao lugar determinado e perante a autoridade competente, esta autoridade lhe entrega seu Diploma de posse. Este Diploma é a garantia, ou penhor, de que pode exercer o cargo para qual foi escolhido.
No Plano Espiritual também há um Penhor, ou garantia: o Espírito Santo. O apóstolo Paulo é quem diz: “...e, tendo também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, para a redenção da promessa de Deus, para louvor da sua glória” (Ef.1:14).
5. O objetivo da eleição: o exercício do cargo
No plano político o homem precisa saber para que foi eleito. Assim, não exercendo com dignidade e eficiência o seu cargo, estará traindo a confiança de quem o elegeu.
No Plano Espiritual, ou bíblico, a Palavra de Deus diz: “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Ef.1:4). Ao que parece, está bem claro o objetivo de nossa Eleição e qual é o desejo daquele que nos elegeu.
Sabemos que quando um eleito se corrompe, quando desvia de suas funções, pode ser punido e até perder o cargo. Assim acontece, também, no Plano Espiritual. Exorta o apóstolo Paulo: “Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o Reino de Deus” (1Co.6:9,10).
Tendo sido explicado o que é eleição, trataremos a seguir dos tópicos propostos para esta Aula.
I. ELEITOS PARA UMA VIDA SANTA E IRREPREENSÍVEL
“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em caridade” (Ef.1:4).
1. A Eleição divina
Antes que houvesse o mundo, nos refolhos da eternidade, Deus nos elegeu em Cristo (Ef.1:4) -“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo...” (Ef.1:4). Portanto, Deus planejou a nossa salvação antes de lançar os fundamentos da terra; antes que houvesse céus e Terra, Deus já havia decidido nos eleger em Cristo para a salvação (2Tm.1:9) – “...antes dos tempos eternos” (2Tm.1:9); ”...desde o princípio...” (2Ts.2:13).
- “Nos elegeu”(Ef.1:4). Escolher pecadores para serem salvos em Cristo Jesus, foi um ato misericordioso e soberano de Deus. A inciativa foi toda de Deus: Ele nos tem abençoado (Ef.1:3); Ele nos elegeu (Ef.1:4); Ele nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para louvor e glória da Sua graça (Ef.1:5,6). Este era o Plano de Deus, o qual jamais foi frustrado nem anulado. Mesmo diante da nossa rebeldia e transgressão, o plano de Deus permaneceu intacto e vitorioso.
Nenhum problema neste mundo ou no mundo por vir pode cancelar essa eleição divina. Paulo pergunta: "Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós" (Rm.8:33,34). O apóstolo ainda diz: "Aquele que começou a boa obra em vós irá aperfeiçoá-la até o dia de Cristo Jesus" (Fp.1:6).
Nossa vida está segura nas mãos de Jesus, e das suas mãos ninguém pode nos tirar. Ele mesmo diz: “e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará das minhas mãos” (João 10:28).
2. As condições da eleição
A Eleição é um ato soberano Deus. Pela Sua graça e misericórdia, Ele escolheu todas as pessoas para a salvação. Aquele que tem o poder da eleição, manifestou a Sua vontade de salvar todos os seres humanos; é o que está escrito: “Porque isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade” (1Tm.2:3,4).
Deus não faz acepção de pessoas, conforme Pedro declarou: “...Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo” (Atos 10:34,35). Perceba a expressão usada por Pedro: “aquele que, em qualquer nação...”.
Deus não ficou, apenas, no querer; Ele providenciou, também, os meios pelos quais todos pudessem alcançar a Salvação: “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tito 2:11).
Nós poderíamos até duvidar desse desejo de Deus em salvar todos os seres humanos, se Ele tivesse preparado, de antemão, um lugar na eternidade para aqueles que não viessem a ser salvos; mas, Deus não preparou esse lugar. Na eternidade, Deus preparou para o ser humano um único lugar: o Céu; ou, na expressão usada por Jesus, a “Casa do meu Pai” – “Na casa de meu Pai há muitas moradas...vou preparar-vos lugar” (João 14:2).
O lugar que Deus preparou na eternidade, conhecido como Inferno, segundo afirmou Jesus, foi “para o diabo e seus anjos”. Portanto, não tendo sido preparado um outro lugar para o homem, é para lá que caminham os que rejeitaram e rejeitam a Salvação – “Então, dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mt.25:41).
Todos os ímpios, de todos os tempos, após o Juízo Final perante o “Grande Trono Branco”, infelizmente, serão lançados no mesmo lugar onde Satanás estará por toda eternidade – no lago de Fogo: “E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre...E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo” (Ap.20:10,15).
3. O Agente da Eleição (Ef.1:4)
“...nos elegeu nele [Jesus Cristo]...”. Como se vê, o Agente da nossa Eleição é o nosso Senhor Jesus Cristo. Deus não nos escolheu em nós mesmos, por nossos méritos, mas em Cristo. Como bem diz o Rev. Hernandes Dias Lopes, a eleição não anula a cruz de Cristo; antes, a inclui. Não somos salvos à parte de Cristo e de seu sacrifício vicário, mas através de Sua morte substitutiva. À parte de Cristo não existe eleição para a Salvação. Portanto, a eleição é cristocêntrica. “Deus colocou a nós e a Cristo juntos na Sua mente. Resolveu tornar-nos Seus próprios filhos através da obra redentora de Cristo” (Stott).
4. O propósito da Eleição: vida santa e irrepreensível (Ef.1:4)
Deus nos elegeu em Cristo, e com o propósito de sermos santos e irrepreensíveis diante dEle. Na Nova Aliança, Deus está formando um povo universal para que seja santo (Ef.1:4) e especial (Pd.2:9,10).
-Vida santa. Nenhuma pessoa deve considerar-se eleita de Deus se não vive em santidade. “A santificação não é a causa, mas a prova da nossa eleição. A eleição é a raiz da salvação, não seu fruto; enganam-se aqueles que pensam que a doutrina da eleição promove e estimula uma vida relaxada. Somos eleitos para a santidade, e não para o pecado. Somos salvos do pecado, e não no pecado. Uma pessoa que se diz segura de sua salvação e não vive em santidade está provando que não é eleita. Aqueles que não são santos não podem ter comunhão com Deus nem jamais verão a Deus. No Céu, só entrarão os santos. Uma pessoa que não ama a santidade não suportará o Céu”, afirma o Rev. Hernandes Dias.
-Vida irrepreensível. Além da santidade, Deus nos elegeu para sermos “irrepreensíveis”. No Antigo Testamento, a palavra “irrepressível” é aplicada para um sacrifício imaculado; ela quer dizer “sem qualquer espécie de mancha”; era uma palavra usada para um animal apto para o sacrifício. O Rev. Hernandes Dias Lopes, citando William Barclay, afirma que a palavra “irrepressível” (gr. amomos) concebe toda a vida e todo o homem como uma oferenda a Deus. Cada parte da nossa vida, nosso trabalho, nosso lazer, nossa vida familiar, nossas relações pessoais, deve fazer parte da nossa oferenda a Deus. Esta é a nova vida dos eleitos.
Portanto, a Eleição tem como alvo nos levar a uma vida limpa, pura, santa. Somos a Noiva do Cordeiro que está se adornando para Ele. Não somos escolhidos para viver na lama, mas para viver como sal e como luzeiros do mundo, e apresentar-nos a Jesus como a Noiva pura, santa e sem defeito (Ef.5:27).
“para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”.
II. PREDESTINADOS PARA FILHOS DE ADOÇÃO
“e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Ef.1:5).
A bênção da Eleição, da Predestinação e da Adoção, são bênçãos que nos animam, que nos motivam a louvar a Deus. Um Dia olharemos a face do Senhor, porque Ele nos elegeu para si mesmo, nos predestinou e nos adotou como filhos. A Sua divina graça e infinito amor nos proporcionou isso. Por isso, devemos tributar-lhe toda a glória por esta nossa posição em Cristo.
1. A Predestinação
“e nos predestinou...para si mesmo...”.
A palavra "predestinar" significa “destinar com antecipação”, ou seja, significa determinar o futuro, e se aplica aos propósitos de Deus inclusos na Eleição da Igreja, “em Cristo”. A Predestinação abrange o que acontecerá a todos os que integram a “universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus” (Hb.12:23).
Concordo com o comentarista do estudo sobre “Eleição e Predestinação” na Bíblia de Estudo Pentecostal, o qual afirma que assim como a Eleição, a Predestinação refere-se ao Corpo coletivo de Cristo (isto é, a verdadeira Igreja), e abrange indivíduos somente quando incluso neste Corpo mediante a fé viva em Jesus Cristo (Ef.1:5,7,13; cf. Atos 2:38-41; 16:31). Deus predestina seus eleitos a serem: justificados (Rm.3:24; 8:30); glorificados (Rm.8:30); conformados à imagem do Filho (Rm.8:29); santos e inculpáveis (Ef.1:4); adotados como filhos (Ef.1:5); redimidos (Ef.1:7); participantes de uma herança (Ef.1:14); para louvor da Sua glória (Ef.1:12; 1Pd.2:9); participantes do Espírito Santo (Ef.1:13; Gl.3:14) e; criados em Cristo Jesus para boas obras (Ef.2:10).
2. Filhos por adoção
Deus, nos refolhos da eternidade, elegeu a Sua Igreja (Ef.1:4), e todos aqueles que fazem parte dela foram predestinados para filhos de adoção por Jesus Cristo (Ef.1:5). Aos membros de Sua Eleita (a Igreja) Deus destinou-os a serem membros de Sua própria família. A eleição da graça outorga a nós não apenas um novo nome, um novo status legal e uma nova relação familiar, mas também uma nova imagem, a imagem de Cristo (Rm.8:29). O interesse divino é que sejamos transformados em réplicas, imagens de Jesus Cristo e retratos vivos dEle.
3. Os privilégios da adoção
Ser filho de Deus é um privilégio superlativo, pois dantes éramos apenas escravos, perdidos para sempre, destituídos da glória de Deus (Rm.3:23).
O ser humano foi criado para viver como companheiro de Deus (Gn.1:26), mas por causa da Queda, ele perdeu este status; passou a ser apenas mais um item da criação; não havia nenhum benefício para o ser humano; sua situação era caótica e tenebrosa. Porém, aprouve a Deus nos adotar como Seus filhos e nos tornar partícipes da Sua glória eterna. Através do sacrifício de Cristo, Deus nos trouxe de volta à Sua família e nos tornou seus herdeiros, junto com o Senhor Jesus (Rm.8:17) – “E, se nós somos filhos, somos, logo, herdeiros também, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo...”.
Sob a lei romana, os filhos adotados tinham os mesmos direitos e privilégios dos filhos biológicos. Mesmo que tivessem sido escravos, os filhos adotados tornavam-se herdeiros plenos em suas novas famílias. Paulo usou este termo para mostrar a força e a permanência do relacionamento dos crentes com Deus. Esta adoção ocorre através de Jesus Cristo, pois somente o Seu sacrifício em nosso favor nos permite receber o que Deus pretendia para nós. Somos filhos de Deus. Recebemos um novo nome, uma nova herança. Deus nos escolheu para vivermos como filhos amados. O próprio Espirito Santo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus (Rm.8:16).
“A todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que creem no seu nome” (João 1:12).
Deus nos elegeu em Cristo numa eternidade passada e deu-nos a condição e filhos agora, como um bem presente, mas este bem presente, isto é, a nossa adoção de filhos, implica também responsabilidade, pois o Pai celestial não mima seus filhos. Pelo contrário, Ele “nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade” (Hb.12:10).
Veja que as duas afirmações de Paulo são paralelas - em Efésios 1:4: “nos elegeu nele [...] para que fôssemos santos”; em Efésios 1:5: “ele nos predestinou [...] para filhos de adoção”. Como afirma John Stott, é inconcebível que desfrutemos de um relacionamento com Deus, como filhos, sem aceitarmos a obrigação de imitar o Pai e cultivar a semelhança entre os membros da família. Assim, a adoção como filhos e filhas de Deus traz tanto uma vantagem como uma “desvantagem”, um imenso ganho e uma perda necessária. Ganhamos acesso a Ele, como Pai, mediante a redenção, ou o perdão, mas perdemos o direito de falhar, começando imediatamente pela obra de santificação do Espirito Santo, até que finalmente nos tornemos perfeitos no Céu.
O que parece unir o privilégio e a responsabilidade que nossa adoção implica é a expressão “em sua presença”(Ef.1:4) ou “diante dele”. Pois viver na presença consciente do Pai celestial é tanto um privilégio imensurável quanto um desafio constante de agradar a Ele.
Logo, a verdade da eleição e predestinação divina deve nos levar à justiça, não ao pecado; e a uma sincera gratidão em espírito de adoração, não ao orgulho. Em consequência, devemos ser santos e irrepreensíveis pera Ele (Ef.1:4), e viver “para louvor e glória da Sua graça” (Ef.1:6).
III. A SUBLIMIDADE DO PROPÓSITO DIVINO NA PREDESTINAÇÃO
A Predestinação é um ato resoluto da graça e do amor de Deus; diz respeito apenas à salvação do ser humano, condicionada à fé em Cristo Jesus; jamais à condenação eterna.
1. Predestinação e Salvação
Uma coisa devemos atentar: a Eleição precede a Predestinação. Diz o texto sagrado: “como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo [...] e nos predestinou...para si mesmo ... (Ef.1:4,5). Aqui, mostra que a eleição precede a predestinação; isto é, a Eleição é anterior à Predestinação. Deus Pai nos elegeu em Cristo para que depois fôssemos predestinados.
Quando aceitamos Cristo como Salvador, participamos de um plano que foi elaborado antes da fundação do mundo. Em Cristo, estamos predestinados ao Céu; ou seja, se estivermos em Cristo, iremos para o Céu.
Há uma ilustração na Bíblia de Estudo Pentecostal sobre a Eleição e a Predestinação, que é bastante pedagógica e que nos faz entender, simultaneamente, estes dois elementos:
“Podemos comparar a Igreja eleita a um grande navio viajando para o Céu. Cristo é o Capitão e Piloto desse Navio. Todos os que desejam estar nesse Navio eleito, podem fazê-lo mediante a fé viva em Cristo. Enquanto permanecerem no Navio, acompanhando seu Capitão, estarão entre os eleitos. Caso alguém abandone esse Navio e ao seu Capitão, deixará de ser um dos eleitos. E todos os que estão dentro desse Navio estão predestinados a serem salvos. Deus convida a todos a entrar a bordo do Navio eleito mediante Jesus Cristo. Quem aceitar o convite e entrar será salvo, quem rejeitar será condenado – ‘Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado’ (Mc.16:16)”.
Predestinação fatalista. Esta não tem apoio nas Escrituras Sagradas. O que é isto? É a doutrina que ensina que Deus já fez escolhas antecipadas de quem vai para o Céu ou de quem vai para o Inferno.
Observe que todas as vezes, no Novo Testamento, onde há a palavra predestinação, os pronomes, substantivos e verbos estão no plural. Não iremos encontrar uma passagem no singular. Vejamos alguns exemplos:
-Efésios 1:4,5: “como também nos elegeu [...] e nos predestinou [...]. Fazendo uma análise semântica deste texto, a pergunta que se faz é: para quem o apóstolo Paulo escreveu essa passagem? Para uma pessoa particular ou para a igreja? Certamente, para a igreja. Aqui, o apóstolo não está falando para Timóteo; ele não mandou uma cartinha para Tito; Ele não está dirigindo-se apenas a uma pessoa; os verbos e os pronomes estão no plural - "nos predestinou", "nos elegeu". Portanto, ele está falando para a Igreja. Em Cristo, fomos eleitos. Em Cristo, a Igreja foi eleita para salvação. Mesmo que muitos não permaneçam nela, ela vai para o Céu. A Igreja vai para o Céu e a pessoa que está na igreja irá para o Céu; porém, se essa pessoa sair da igreja, certamente, irá para o inferno.
-1Pedro 2:9,10: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós que, em outro tempo, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus; que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia”.
Veja, aqui, o pronome "vós". Paulo está falando de quem? Claro que é da Igreja. Paulo não está falando de pessoas no singular, ele está falando da Igreja, que é formada por um conjunto de pessoas; e essas pessoas participam dela se quiserem. Se uma pessoa estiver na Igreja, irá para o Céu; se não estiver na Igreja, vai para o inferno. Portanto, para permanecer salvo em Cristo, a pessoa precisa estar na Igreja, é a condição “sine qua non”.
Os ímpios estão determinados ao inferno (Sl.9:17), não porque Deus queira levá-los para lá. Não. O desejo de Deus é que “todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade” (1Tm.2:4). Os ímpios vão para o Inferno por seus próprios meios, deliberações e vontade. Quem faz a escolha de estar dentro ou fora da Igreja (a universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus”– Hb.12:23) é a própria pessoa.
-Romanos 8:29,30: “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou”.
Neste texto, quem vai ser glorificado? A Igreja. Portanto, o apóstolo está falando da Igreja. O emprego está no plural.
Se Paulo fosse o grande teólogo da predestinação fatalista, conforme alguns liberais e os que são adeptos desta falaciosa corrente doutrinária, então quando Paulo fosse tratar dele mesmo, ele teria que se tratar como um já eleito e predestinado. Não é verdade?
Se Paulo fosse mesmo o grande teólogo da predestinação fatalista - de que o homem já nasceu destinado a ir para o céu ou para o inferno - então quando ele tivesse tratado de si próprio, teria falado, conjugando, que já estaria garantido a sua salvação. Certo? Veja o que ele falou de si próprio, em Filipenses 3.13,14: “irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”.
Se Paulo acreditasse numa predestinação fatalista, isto é, que o Céu já estava garantido, ele deveria ter dito assim: "Irmãos, quanto a mim, já alcancei a salvação; prossigo para aquilo que já foi determinado para mim". Era assim que ele deveria ter dito! Mas, observe atentamente que não foi isto que ele disse; ele disse: “quanto a mim, não julgo que o haja alcançado”.
Portanto, não acreditamos é em uma predestinação fatalista, ou seja, que Deus já fez escolhas antecipadas de quem vai para o Céu ou de quem vai para o Inferno. Não. Acreditamos, sim, que a Igreja vai para o Céu e cremos que as pessoas que vivem no pecado vão para o Inferno. Vão por querem, porque rejeitam o único Caminho que pode levar o ser humano ao Céu: Jesus Cristo (João 14:6).
Assim como a Arca de Noé foi eleita para abrigar pessoas justas diante de Deus e livrá-las do juízo divino contra a civilização antediluviana, Deus elegeu a Sua Igreja, constituída de povos de todas as nações, gentios e judeus, salvas pelo sangue de Jesus Cristo, com o fim de abrigar todos aqueles que foram salvas em Cristo Jesus. No dilúvio, todos que adentraram a Arca de Noé estavam predestinados a serem salvas do juízo divino. Assim, também, todos os que fazem parte da Igreja de Cristo estão predestinados à salvação eterna. Porém, todos aqueles que estão fora dela e que dela saírem, escolhendo a apostasia, terão o mesmo destino dos demais ímpios (Sl.9:17).
2. Predestinação e amor
A Predestinação é um ato resoluto do amor de Deus. Ao nos predestinar para filhos de adoção por Jesus Cristo, Deus não fez isto como uma medida de emergência, depois que o pecado subjugou a criação; pelo contrário, esse era o Seu plano imutável, o “beneplácito de sua vontade” (Ef.1:5), desde o princípio. Por isso, quando alguém pergunta por que Deus continuou com a criação se sabia que seria seguida pela Queda, uma resposta que se pode oferecer provisoriamente é que Ele nos predestinou para uma honra maior do que a própria criação nos daria. Ele intentava nos adotar, nos tornar filhos e filhas em sua família. Foi um ato resoluto de amor (Ef.2:4,5).
Um filho natural pode vir quando os pais não esperam ou até mesmo quando não querem ou ainda não se sentem preparados, mas a adoção é um ato consciente, deliberado e resoluto de amor; é uma escolha voluntária.
Portanto, um filho adotado deve sua posição à graça, e não ao direito. Nós nos tornamos filhos de Deus porque Ele generosamente derramou Seu amor e Sua graça sobre nós. Pense nisso!
CONCLUSÃO
Deus, com seu amor infindo e com sua maravilhosa graça, elegeu a Sua Igreja e Predestinou para si mesmo todos aqueles que pertencem a essa Igreja. No refolho da eternidade, Deus determinou o futuro da Igreja - a Igreja vai para o Céu. Poderia mencionar muitas passagens a respeito desse assunto, mas uma delas é 1Tessalonicenses 4:16,17. Neste texto encontramos Paulo falando sobre a vinda de Cristo e o futuro da Igreja: “Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor”.
Deus nos predestinou para Ele, para vivermos diante dEle, e não para vivermos longe dEle, sem intimidade com Ele, sem comunhão com Ele. Fomos eleitos para Deus, para andarmos com Ele, para nos deleitarmos nEle. Ele é a nossa fonte de prazer. Ele é o amado da nossa alma. Na presença dEle é que encontramos plenitude de alegria (Sl.16:11). Glórias, honras e louvores sejam dadas a Ele!