“Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derribando a parede de separação que estava no meio” (Ef.2:14).
Efésios 2:
14.Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derribando a parede de separação que estava no meio,
15.na sua carne, desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz,
16.e, pela cruz, reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades.
17.E, vindo, ele evangelizou a paz a vós que estáveis longe e aos que estavam perto;
18.porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito.
19.Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos Santos e da família de Deus.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos da grande verdade revelada: a nossa reconciliação com Deus, que teve sua consumação no Calvário por meio do sacrifício redentor de Cristo. Na Aula anterior estudamos que a situação dos gentios era deprimente, desoladora e perdida – estavam fora das promessas de Deus, do Céu e não tinham nenhuma esperança quanto ao porvir (cf. Ef.2:11,12). Mas, agora, os gentios foram aproximados de Deus (Ef.2:13) e, por conseguinte, há uma maravilhosa esperança para eles. O preço dessa reconciliação foi “o sangue de Cristo” (Ef.2:13). Ao morrer por todos nós, Jesus agiu como nosso Representante; quando Ele morreu, todos morreram nEle. Assim como o pecado de Adão se tornou o pecado de seus descendentes, também a morte de Cristo se tornou a morte daqueles que nEle creem (Rm.5:12-21; 1Co.15:21,22). Por causa de seu sacrifício vicário somos agora novas criaturas (2Co.5:17), ou seja, temos uma nova posição em relação a Deus e ao mundo. Temos agora uma nova forma de viver, na qual desaparece a vida pregressa e os velhos costumes. Por ocasião da conversão, não apenas viramos uma pagina de nossa vida velha, começamos um novo estilo de vida sob o controle do Espírito Santo. Esse novo estilo de vida é consequência lógica da conversão, pois o amor de Deus pela humanidade (João 3:16) constrange-nos a viver integralmente para Ele.
I. CRISTO DESFEZ A INIMIZADE ENTRE OS HOMENS
“Pois ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um e destruiu a barreira, o muro de inimizade”(Ef.2:14 - NVI).
Paulo descreve aqui a maior missão de paz da história. Jesus não apenas reconciliou judeus e gentios, mas também desfez a inimizade entre eles e os pôs em um corpo: a Igreja (Ef.2:14).
1. A parede de separação entre os homens (Ef.2:14)
“...a parede de separação que estava no meio” (ARC).
Pela morte sacrificial por nossos pecados na cruz, Cristo nos reconciliou com Deus e uns com os outros. Embora os dois grupos – judeus e gentios - estivessem reconciliados em Cristo, havia outro aspecto: “o muro de inimizade”, ou “parede de separação”, que simbolizava que os gentios estavam alienados de Deus, como também de Israel.
Evidentemente não era uma parede física propriamente dito, mas uma barreira invisível criada pela lei de Moisés, como mandamentos na forma de ordenanças. Isso separou o povo de Israel de todas os demais povos. Para ilustrar esse fato, muitos usam como exemplo a parede que existia no Templo judaico e que restringia o acesso de quem não fosse judeu, limitando a permanência dessas pessoas ao Átrio dos gentios. O historiador judeu Flavo Josefo escreveu que nessa parede havia a seguinte inscrição, em grego e latim: “nenhum estrangeiro pode adentrar a barreira que circunda o santuário e a parte interna. Quem for apanhado fazendo isso será culpado de sua própria morte, que se seguirá” (veja Atos 21:28,29). Isto retratava o exclusivismo religioso do judaísmo. Cristo, porém, veio para desfazer tal inimizade e exclusivismo (Ef.2:14).
2. A derrubada da parede da separação (Ef.2:14)
Outro aspecto da obra de Cristo pode ser chamado demolição: “... e, derribando a parede de separação que estava no meio”. Cristo Jesus através da sua morte, destruiu a parede que separava judeus de gentios, estabelecendo a paz entre os dois grupos. Embora a parede que cercava o templo, e ainda excluía os gentios, estivesse de pé quando Paulo escreveu a Epístola aos Efésios, espiritualmente ele já havia sido destruído quando Jesus morreu na cruz. Mais do que estabelecer a paz, Cristo reconciliou a ambos com Deus. Aqueles que criam nEle tornar-se-iam único povo – a Igreja.
Em outras palavras, os crentes, tanto judeus como gentios, antes separados pela parede da inimizade, agora se aproximam, uma vez que Deus fez de “ambos um” em Cristo, a saber, de crentes judeus e gentios. Agora eles não são mais judeus ou gentios, mas cristãos. Rigorosamente falando, não é certo referir-se a eles como cristãos judeus ou cristãos gentios; todas as distinções ligadas ao corpo, como, por exemplo, a nacionalidade, foram cravadas na cruz. Infelizmente, ainda há muros que separam uma pessoa da outra; os muros do preconceito, das ideologias e do racismo.
“A proximidade de Deus que todos os cristãos desfrutam por meio de Cristo é um privilégio que frequentemente tomamos como certo. Deus não mantém distância nem insistem em rituais ou protocolos complicados. Pelo contrário, por meio de Jesus Cristo e pelo Espírito Santo, temos acesso imediato a Ele como nosso Pai (Ef.2:18). Precisamos exortar uns aos outros para que aproveitemos esse privilégio” (Jon Stott. Lendo Efésios).
3. A revogação da lei dos mandamentos (Ef.2:15)
“no seu corpo, desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz”.
A causa da inimizade que existia entre os judeus e os gentios, e também entre o homem e Deus, era “a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças”. Segundo William Macdonald, a Lei de Moisés era um simples código legal, porém consistia de dogmas ou decretos que cobriam quase todas as áreas da vida. A Lei em si era santa, justa e boa (Rm.7:12), porém, a natureza pecaminosa se serviu dela para expressar revolta e ódio. Como a Lei colocava Israel num pedestal, dignificando-o como o povo escolhido de Deus, muitos dentre os judeus se tornaram arrogantes e desprezaram os gentios. Os gentios por sua vez respondiam com profunda hostilidade, hoje conhecida na forma de antissemitismo.
Todavia, na cruz do calvário, Jesus aboliu a Lei da inimizade (Ef.2:15; Hb.7:18). De que modo Cristo removeu essa Lei? Em primeiro lugar, ele morreu para sofrer a penalidade da Lei transgredida; assim, Ele satisfez perfeitamente as justas exigências de Deus. Agora a Lei nada tem para apontar contra os que estão “em Cristo”. A penalidade foi paga completamente em favor deles. Os crentes não estão mais sob a Lei, mas debaixo da graça. Isso não significa que podem viver a seu bel prazer, mas que servem a Lei de Cristo e devem fazer o que lhe agrada.
Alguém pode indagar: “como o apóstolo Paulo pode declarar que Cristo anulou a Lei, quando o próprio Cristo, no Sermão do Monte, declarou especificamente que não tinha vindo para abolir a lei, mas para cumpri-la (Mt.5:17)”? Concordo com John Stott que, no Sermão do Monte, Jesus estava se referindo à Lei moral – o Decálogo. Jesus não aboliu a Lei moral como um padrão de comportamento, mas a aboliu como um meio de salvação.
Portanto, a principal referência de Paulo em Efésios 2:15 é concernente à “lei cerimonial dos mandamentos expressa em ordenanças”, isto é, a circuncisão, os sacrifícios materiais, as leis dietéticas, as regras sobre pureza e impureza, festas, sábado (Cl.2:11,16-21), rituais estes que governavam as relações sociais. Se a vida das pessoas e as relações sociais estão sob essa luz, a Lei só faz dividir, pois não podemos obedecer completamente a ela, por mais que tentemos. Assim, ela nos separa de Deus e uns dos outros. Mas, Jesus eliminou toda essa dimensão cerimonial, e Ele o fez “em seu corpo”, ou seja, através de sua morte física; na cruz Ele cumpriu todo o sistema cerimonial do Antigo Testamento. Jesus obedeceu perfeitamente à Lei em sua vida e, em sua morte, suportou as consequências de nossa desobediência.
II. PELA PAZ, CRISTO FEZ UM “NOVO HOMEM”
“Pois ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um e destruiu a barreira, o muro de inimizade”(Ef.2:14 - NVI).
A Paz aos que estavam longe (os gentios) e aos que estavam perto (os judeus) (Ef.2:13), que tinha sido proclamada por Isaias (Is.57:19), foi estabelecida em Jesus Cristo. É por meio da Paz em Cristo (Rm.5:1) que alcançamos paz com o próximo e abrimos caminho para a amizade cristã (Ef.2:14). Precisamos fazer uso desse privilégio. Assim sendo, fica liberado o nosso acesso a Deus, visto que a parede de separação foi derrubada (Ef.2:14; Hb.10:22; Tg.4:8).
1. O conceito bíblico de Paz
Paz, na língua hebraica (língua em que se escreveu a quase totalidade do Antigo Testamento), é “shalom”, que, muito provavelmente, é a palavra hebraica mais conhecida no mundo. A ideia israelita de “shalom” é diferente da ideia que se disseminou posteriormente entre os povos, principalmente entre os gregos, cuja cultura foi determinante para a formação do pensamento ocidental. Para eles, a paz era chamada de “eirene”, sendo concebida como um estado de ausência de conflitos.
Entre os Judeus, principalmente em Israel, Shalom é usada como cumprimento usual. Embora shalom seja uma palavra plena de significado, é um cumprimento como qualquer outro: olá, adeus e outros tantos entre povos e costumes. No entanto, se esta palavra for tomada pelo seu significado, expressa o melhor desejo que se pode ter em relação a uma pessoa: estima-se a paz, a harmonia - o melhor que se pode desejar a alguém.
A ideia de paz como completude, como integridade, somente veio depois da tradução das Escrituras para o grego (a chamada Septuaginta), quando, então, a “eirene” passou a se dar a ideia de “shalom”, até porque “shalom” foi traduzida por “eirene” naquela versão do Antigo Testamento.
Jesus, ao falar da paz, fez uma distinção entre estes dois conceitos. Nas suas últimas instruções aos discípulos, afirmou que lhes deixava a sua paz, que não era a paz do mundo (João 14:27). A paz do mundo, conforme inferimos dos ensinos do Senhor, era uma paz precária, insegura e sujeita a temores constantes, porque era apenas a ausência de conflitos, uma ausência que não era garantida por coisa alguma. Era a situação vivida pelos contemporâneos de Cristo, que viviam a chamada “pax romana” (paz romana), que era o período de ausência de guerras e de conflitos nas regiões que estavam sob o domínio romano, nos governos dos imperadores César Augusto e Tibério, que logo passaria, pois se tratava de apenas uma acomodação política instável e que dependia, fundamentalmente, da eficiência dos exércitos e dos órgãos de controle do poder romano.
A paz de Cristo é “shalom”, ou seja, o sentimento de comunhão, de estar completo com a habitação divina em nosso espírito, o que se obtém somente se alcançar a salvação em Cristo Jesus; esta é a paz descrita nas Escrituras, vivida pelos crentes e que emana das atitudes do salvo; é a paz como virtude do Fruto do Espírito (Gl.5:22).
Embora o sentido bíblico da paz seja o de integridade, o de completude, as Escrituras nos falam, de três aspectos da paz, a saber:
a) Paz com Deus - “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo”(Rm.5:1) A paz com Deus é a reconciliação entre o homem e Deus, a união de Deus com o homem mediante o perdão dos pecados por intermédio da aceitação de Cristo como único e suficiente Senhor e Salvador.
Esta paz, quebrada lá no Paraíso, por causa do pecado, só se tornaria possível através da morte expiatória de Jesus, na Cruz do Calvário, pela qual alcançamos a nossa Redenção – “Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados... Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus”(Cl.1:14,19,20).
O restabelecimento da paz entre o homem e o seu Criador foi uma obra de Deus. Ele quis que a paz fosse restabelecida. Para nós custou tão pouco, mas, para Ele teve um preço muito elevado. Adão, antes de pecar, tinha paz com Deus; nós, depois da remissão ou perdão de nossos pecados, temos paz com Deus.
A Paz, assim como o Amor, faz parte da própria natureza de Deus. Sendo assim, ela faz parte, também, da natureza de seus filhos - “Pelas quais nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina...”(2Pd.1:4).
b) Paz de Deus. A paz de Deus é diferente da paz que o mundo dá. Jesus disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”(João 14:27).
Cada um só pode dar o que tem, e o mundo só pode dar a sua “paz”, e a sua paz pode ser passageira, é fraca e não resiste diante das adversidades: ela pode durar enquanto dura o efeito das drogas; ela pode durar enquanto o homem está bem empregado; ela pode durar enquanto se goza de uma perfeita saúde; ela pode durar enquanto dura um bom relacionamento amoroso; ela pode durar enquanto dura a glória do poder; ela pode durar enquanto não aparece a primeira ruga como sinal da velhice; ela pode durar enquanto dura o sucesso de uma carreira; ela pode durar enquanto uma crise financeira não bater à porta; ela pode durar enquanto um micro vírus, como o covid-19, não aparece ameaçando vidas independentemente da classe social, econômica ou credo religioso.
A Paz que o Senhor Jesus dá não se abala diante das circunstancias adversas. Conta-se que certo rei ofereceu um prêmio ao artista que pintasse o melhor quadro sobre a paz. Muitos artistas tentaram. O rei examinou todos os quadros, mas havia apenas dois dos quais ele realmente gostou, e teve que escolher entre eles:
-Um quadro era de um lago tranquilo. O lago era um espelho perfeito para pacíficas torres de montanhas ao redor dele. No alto estava um céu azul com nuvens brancas. Todos que viam este quadro consideravam-no um quadro perfeito da paz.
-O outro quadro também tinha montanhas. Mas estas eram acidentadas e nuas. Acima estava um céu irado de onde caía a chuva, e relâmpagos eram vistos. Lá embaixo, ao lado da montanha, caía uma cascata espumante. Isto não parecia de forma alguma um quadro da paz. Só que o rei escolheu este segundo quadro. Sabe por quê? Quando o rei olhou, atrás da cascata viu um minúsculo arbusto crescendo numa rachadura na rocha. No arbusto um pássaro-mãe havia construído seu ninho. Ali, no meio da fúria das águas correntes, deitou-se o pássaro-mãe em seu ninho, em paz perfeita. O rei explicou: "Paz não quer dizer estar num lugar onde não há qualquer barulho, problema, ou trabalho duro. Paz quer dizer estar no meio de todas essas coisas e ainda assim estar tranquilo no seu coração”. Este é o significado da paz de Deus.
Por isso, a Paz de Deus é uma das virtudes do Fruto do Espírito Santo (Gl.5:22), pois ela permanece mesmo em meio ao perigo e circunstâncias contrárias. Isaías declara: “Tu conservarás em perfeita paz aquele cuja mente está firme em Ti; porque ele confia em Ti” (Is.26:3). Portanto, se sua mente e coração estão em Deus, então você desfrutará a genuína Paz do Senhor, mesmo em um mundo de aflições. Na Bíblia está registrada a expressão “não temais” 365 vezes, uma para cada dia do ano, precisamente para que os salvos não tenham medo, não se deixem abalar, mas desfrutem da Paz de Deus.
c) Paz com as pessoas, como o próximo. A paz de Deus é consequência direta e inevitável da paz com Deus. Quem tem paz com Deus, transmite às outras pessoas e a si mesmo a paz de Deus, ou seja, um sentimento de tranquilidade e confiança que é gerado em nós pelo Espírito Santo, mediante o qual, mesmo nas maiores aflições e dificuldades, não somos abalados, não perdemos a nossa confiança em Deus, nem muito menos a direção que devemos seguir.
As igrejas locais dos tempos apostólicos tinham esta paz e era nela que eram edificadas (Ef.2:19,20). Mas, Satanás sempre procurou destruir esta paz entre os irmãos da igreja primitiva e, ainda hoje, este é um dos seus principais trabalhos (Rm.16:17;1Co.11:18). Devemos ter discernimento espiritual e, sabendo que a origem da dissensão nunca é divina, mas carnal e diabólica (1Co.3:3; Gl.5:20; Tg.3:14-16; Jd.19), devemos sempre nos desviar de todo e qualquer movimento contrário à paz na igreja local. A exortação contundente do Espírito Santo é esta: “Segui a paz com todos...” (Hb.12:14).
“Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre, pelo seu bom trato, as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amarga inveja e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica” (Tg.3:14-16).
2. Cristo é o motivo da nossa Paz
“Porque ele é a nossa Paz...”. Aqui é dito que Cristo é a nossa Paz. Ou seja, Cristo não é somente o Autor da nossa paz, mas é literalmente a “nossa paz”. Como o homem Jesus Cristo é a nossa paz? A resposta é a seguinte: quando um judeu crê no Senhor Jesus, ele perde a sua identidade nacional, daí em diante passa a estar em Cristo; o mesmo sucede quando uma pessoa não judia recebe o Salvador, a partir desse momento ela está “em Cristo”. Em outras palavras, os crentes, tanto judeus como gentios, antes separados pela inimizade, agora se aproximam, uma vez que Deus fez de “ambos um” em Cristo. Visto que são unidos com Cristo, forçosamente são unidos uns aos outros; chamamos isso de comunhão espiritual. Se há comunhão espiritual, então há comunhão com Deus, pois está escrito que “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt.18:20). Por isso é coreto dizer que o homem Jesus Cristo “é a paz”, conforme profetizou Miqueias (Mq.5:5) – “E este será a nossa paz... “.
Cristo estabeleceu a paz, pois Ele é a nossa paz (Ef.2:14); Ele fez a paz (Ef.2:15) e Ele proclamou a paz (Ef.2:17). Quando Ele proclamou a Paz? Em primeiro lugar, aconteceu na sua ressurreição. A palavra paz foi a primeira que Jesus falou aos discípulos depois da ressurreição (Lc.24:36; João 20:19,21,26). Em segundo lugar, aconteceu quando capacitou os discípulos com o Espirito Santo. Ele enviou os seus discípulos no poder do Espirito Santo os quais anunciaram o evangelho da paz (Atos 10:36). As boas novas da paz foram apresentadas “a vós outros que estáveis longe” (os gentios) e “aos que estavam perto” (os judeus) em cumprimento gracioso da promessa de Deus em Isaias 57:19.
3. A nova humanidade formada pela Paz
Em Cristo uma nova humanidade foi criada - “Pois ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um...” (Ef.2:14).
Como vimos acima, a “barreira” da inimizade foi desfeita por Cristo através de sua morte vicária, e a paz foi estabelecida entre judeus e gentios. Mais do que estabelecer a paz, Cristo reconciliou ambos os povos com Deus. Em Jesus Cristo, judeus e gentios se tornaram um só povo: a Igreja.
Judeus e gentios estavam alienados e em inimizade uns com os outros, mas uma vez que a Lei que dividia foi posta de lado, não havia nada para manter separadas essas duas partes da humanidade; em vez disso, Cristo criou “um novo homem”, fazendo a paz”. Cristo segura com uma das mãos o povo judeu e com a outra o gentio, e os une em Si mesmo.
Essa nova humanidade vem à existência e cresce somente por meio da união pessoal com Cristo. Enquanto forem incrédulos, continuarão inimigos. Somente unindo-se a Cristo encontrarão a harmonia que o Senhor requer. De fato, Cristo abole qualquer diferença entre os seres humanos (Cl.3:11; Gl.3:28). Nele há uma unidade plena e perfeita. Isso leva os crentes a compartilhar a mesma vida, a mesma glória e a mesma herança que Cristo.
“Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl.3:28).
III. PELA CRUZ, RECONCILIADOS COM DEUS NUM CORPO
“E tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados, e pôs em nós a palavra da reconciliação” (2Co.5:18,19).
Muitos desastres de proporções gigantescas a história já registrou, mas o maior desastre cósmico foi a Queda de nossos primeiros pais; ela afetou toda a criação e jogou toda a raça humana no abismo do pecado.
O pecado divide, desintegra e separa. O pecado provocou um abismo espiritual, pois separou o homem de Deus; provocou um abismo social, pois separou o homem de seu próximo; provocou um abismo psicológico, pois separou o homem de si mesmo; e provocou também um abismo ecológico, pois separou o homem da natureza, fazendo dele um depredador ou um adorador dessa mesma natureza.
Enfim, o ser humano está em guerra com Deus, consigo, com o próximo e com a natureza. Nesse mundo cheio de ódio, ferido pelo pecado e distante de Deus, a reconciliação é uma necessidade imperiosa. A Bíblia não fala de Deus tendo necessidade de reconciliar-se com o ser humano, é o ser humano que precisa se reconciliar com Deus. Nós mudamos, porém, Deus nunca mudou (Ml.3:6); seu amou por nós é eterno e incessante.
A reconciliação é iniciativa divina - “E tudo isso provém de Deus[...]”(2Co.5:18). O homem é o ofensor, e Deus é o ofendido. A reconciliação deveria ter partido de nós, a parte ofensora, mas partiu de Deus, a parte ofendida. É a parte ofendida que toma a iniciativa da reconciliação. Deus restaurou o relacionamento entre si mesmo e nós. O Evangelho não é o homem buscando a Deus, mas Deus buscando o homem. Foi o homem quem caiu, afastou-se e rebelou-se, mas é Deus quem o busca, é Deus quem corre para abraçar - “Com amor eterno eu te amei e com benignidade eu te atraí”(Jr.31:3).
1. Cristo se fez maldição por nós
“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro” (G.3:13).
No Calvário, Jesus foi pendurado na cruz (Atos 5:30; 1Pd.2:24). A lei mosaica ensinava que, quando um criminoso era pendurado numa árvore, esse era sinal de ele estar debaixo da maldição de Deus (Dt.21:23) – “Quando também em alguém houver pecado, digno do juízo de morte, e haja de morrer, e o pendurares num madeiro, o seu cadáver não permanecerá no madeiro, mas certamente o enterrarás no mesmo dia, porquanto o pendurado é maldito de Deus...” (Dt.21:22,23).
Cristo resgatou o ser humano, morrendo em seu lugar, padecendo a terrível ira de Deus contra o pecado. A maldição de Deus caiu sobre Ele como o substituto do ser humano. Não se tornou pecaminoso em si próprio, mas os pecados do ser humano foram lançados sobre Ele. Ao ser pendurado no madeiro (na cruz) o nosso Salvador levou a maldição do ser humano; ficou pendurado entre os céus e a terra como se não fosse digno nem de um nem de outro. Mas, se Jesus não tivesse subido à cruz, certamente, todos nós desceríamos a inferno eternamente, “porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm.3:23).
Na cruz, a ira de Deus contra o pecado caiu sobre Cristo (Is.53:6,10). Todo o juízo e o pagamento do pecado (“o salário do pecado é a morte” – Romanos 6:23) recaíram em Cristo, pois esse foi o plano que Ele criou para nos salvar da condenação. Como bem diz Hernandes Dias Lopes: “Ele morreu a nossa morte, para que vivêssemos a Sua vida”.
Você compreende o grande amor demonstrado na cruz do Calvário? Compreende a grandiosidade do problema do pecado e a maravilha do amor de Deus? Tudo isso descobrimos ao olhar o Personagem maravilhoso da cruz – Jesus Cristo (1João 4:8-10; Fp.2:5-10; 1Pd. 2:22-25). O que devemos fazer hoje? Aceitar o Seu sacrifício na cruz e o Seu convite de salvação (Mt.11:28-30; Pv.23:26).
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mt.11:28-30).
2. Reconciliados pela cruz de Cristo
A cruz faz parte dos desígnios de Deus para a salvação do pecador perdido, para o julgamento do pecado, da morte e do diabo com seus anjos, e para a manifestação de Sua glória. Não havia outra forma de reconciliação do ser humano pecador com Deus senão através da cruz de Cristo.
A cruz de Cristo é atemporal, isto é, ela precede o tempo e tem valor eterno. Há muitos anos antes do advento do Messias prometido, Isaias profetizou acerca do sacrifício do Redentor: “Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos. Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca. Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; pela transgressão do meu povo ele foi atingido” (Is.53:5-8).
A cruz, portanto, não era a derrota, como os inimigos do Senhor imaginavam, mas a chave do plano divino - “A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos”; “Saiba, pois com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” (Atos 2:23; Atos 2:36).
A visão retrospectiva de Pedro também nos remete a essa realidade pretérita, presente e futura - “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós; E por ele credes em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos, e lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus” (1Pd.1:18-21).
O escritor aos Hebreus enfatiza a eficácia eterna do sangue de Cristo que redimiu tanto os santos da Antiga Aliança, quanto os da Nova Aliança. Isto implica que o sacrifício de Cristo na cruz não se repete, mas é perfeito e eficaz para sempre - “Porque, se o sangue dos touros e bodes, e a cinza de uma novilha esparzida sobre os imundos, os santifica, quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo? E por isso é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna” (Hb.9:13-15).
Deus nunca precisou ser reconciliado conosco, pois nunca nos odiou (João 3:16). Nós, porém, precisávamos ser reconciliados com Ele. A cruz de Cristo foi o preço que Deus pagou para nos reconciliar Consigo. A obra do nosso Senhor sobre a cruz criou uma base justa sobre a qual podemos ser apresentados a Deus como amigos e não como inimigos.
A cruz de Cristo é a ponte entre a terra e o Céu. Nenhuma pessoa pode chegar até Deus a não ser por meio dessa ponte. Deus nos amou e nos deu o Seu Filho (João 3:16). Deus nos amou, e Cristo sofreu em nosso lugar. Deus nos amou e Cristo morreu por nós. Na verdade, não foi a cruz de Cristo que gerou o amor de Deus, foi o amor de Deus que gerou a cruz (Rm.5:8;8:32). A cruz é o maior arauto do amor de Deus por nós. A cruz é a prova cabal de que Deus está de braços abertos para nos receber de volta ao lar.
3. Reconciliados na Cruz em um Corpo
A Cruz de Cristo fez a Paz entre o judeu e o gentio; na cruz, Deus removeu a causa da hostilidade, dando uma nova natureza aos nascidos de novo e criando uma nova união. A cruz é a resposta de Deus para a discriminação racial, a segregação, o antissemitismo, a intolerância e todas as demais formas de divisão entre os homens.
Tendo reconciliado o judeu com o gentio, Cristo ainda reconciliou “ambos [...] com Deus”. Paulo diz: ”[...] Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo[...]”(2Co.5:19). A palavra “reconciliação”, do grego katallagē, é caracteristicamente a palavra que expressa a ideia de unir duas partes que estavam em conflito. No Novo Testamento, a palavra katallagē é usada especialmente para descrever o restabelecimento das relações entre o homem e Deus.
Embora fossem amargamente opostos entre si, os judeus e os gentios estavam unidos num aspecto: estavam unidos na sua hostilidade contra Deus. A causa dessa hostilidade era o pecado. Por sua morte na cruz, o Senhor Jesus removeu a inimizade e assim anulou a sua causa. Os que agora O recebem são considerados justos, perdoados, redimidos, resgatados e libertos do poder do pecado. A inimizade desaparece. Agora há paz com Deus. O Senhor Jesus uniu “em um só Corpo” os judeus e os gentios crentes, formando a Igreja e apresentando esse Corpo a Deus, eliminando então todos os vestígios de antagonismo.
Deus poderia ter nos tratado como tratou os anjos rebeldes; eles foram conservados em prisões (Jd.6:13) e em permanente estado de perdição. Mas Deus providenciou, para nós, um caminho de volta para Ele. Cristo é esse caminho (João 14:6). Em resumo, veja o quadro a seguir.
Antes da reconciliação | Bênçãos decorrentes da reconciliação | Referências |
Ruína | Salvação | Rm.5:8,9 |
Pecado | Justiça | Rm.5:12,15,18,21 |
Morte | Vida Eterna | Rm.5:12,16,17,21 |
Separação de Deus | Relacionamento com Deus | Rm.5:11,19 |
Desobediência | Obediência | Rm.5:12,19 |
Morte do corpo e da alma | Corpo incorruptível, vida eterna | 1Co.15:42-52 |
CONCLUSÃO
Deus, através da morte vicária de Jesus Cristo na cruz do calvário, não só reconciliou o mundo consigo mesmo, mas também comissionou mensageiros para proclamar essas boas novas. Todos quantos derem ouvidos ao chamado para o arrependimento e a fé, experimentarão a alegria da reconciliação com Deus. Antes nós éramos inimigos de Deus, agora somos embaixadores da reconciliação. Antes estávamos perdidos, agora buscamos os perdidos.
Neste mundo marcado pelo ódio, pela guerra e por relacionamentos quebrados entre o homem e Deus, e entre o homem e seu próximo, temos um glorioso ministério: o ministério da reconciliação - “[...]e nos deu o ministério da reconciliação; isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados, e pôs em nós a palavra da reconciliação” (2Co.5:18,19).
Por sermos reconciliados com Deus, temos o privilégio de encorajar outros a fazerem o mesmo. Essa incumbência não foi dada aos anjos, mas a pessoas frágeis e insignificantes. Temos o privilégio maravilhoso de levar essa mensagem gloriosa a todas as pessoas, em toda parte.